domingo, 5 de janeiro de 2025

Capítulo 06 - Dimitri

 Transilvânia – Romênia.

Inverno de 1579.

Narrador.

 Isabella ergueu os olhos do retrato para o homem que tinha voltado a se sentar a sua frente. Ela não entendia como isso era possível, mas de qualquer forma ela sabia que o que o homem sentado a sua frente também não era possível de existir. Edward não falou nada e ela desviou os olhos de novo para o retrato.

Parecia ter sido pintado talvez no século passado, as roupas não eram recentes, pelo contrário, eram antigas, a paisagem do fundo do quadro também, sem contar que a moldura parecia antiga e desgastada. Mil e uma perguntas apareciam na cabeça. Há quanto tempo ele estava vivo? Como a sua ex-noiva era praticamente idêntica a ela própria? Ele “protegeu” Isabella por que ela se parecia com a ex-noiva dele? Por que era apenas ex-noiva? O que aconteceu para o casamento não ter se concretizado?

- Quando o senhor nasceu? –

- 1428. – respondeu, ele tinha cento e cinquenta e um anos. – Fui transformado, por assim dizer aos trinta e sete em 1465, mesmo ano que a Mirena morreu. – apontou ele para o quadro na mão dela.

- Como? –

- Como o que? Como ela morreu ou como eu fui transformado? –

- Os dois! –

- Com licença. – Esme abriu a porta da biblioteca. – Eu preciso falar com o senhor, é urgente! –

- Vai descansar, já foi muita coisa para a senhorita absorver… depois nós conversamos mais e eu te conto a minha história. – Bella apenas assentiu. – Sabe voltar ao seu quarto? – ela assentiu de novo. – Com licença. – ele se levantou e saiu da biblioteca, encontrando com Esme que estava o aguardando do outro lado, apreensiva e apertando os dedos uns contra os outros. – O que houve? –

- Dimitri. –

- O que ele quer? Ele sabe que não pode vir até aqui. –

- Ele não veio. Ele mandou um mensageiro. Ele quer encontrar o senhor na campina quando a noite cair. Preciso dizer que não acho seguro, sabe que nos últimos anos, ele não tem cumprido o acordo, principalmente depois que alguns debandaram para o lado dele. –

- Qualquer coisa, se for necessário, Esme, nós saímos daqui. Do mesmo jeito que eu encontrei este castelo, eu posso encontrar outro. Não tem mais nada que me prenda aqui. –

- E o que vai fazer com ela? Vai transforma-la? –

- Eu não vou fazer nada que ela não queira! –

- Ela não é para onde ir e tampouco tem família. – apontou enquanto os dois caminhavam pelo corredor. – E sabe que há três dias eu precisei prender a grande maioria dos moradores do castelo devido ao sangue dela, e as chances de ela acabar se machucando. –

- Eu sei disso. Eu nunca obriguei nenhum de vocês a aceitarem esse estilo e viva e expliquei mais um mil vezes as consequências desse modo de vida, se é que podemos chamar assim! – ele respirou fundo. – Alias, ela já sabe sobre a Mirena. –

- Contou tudo a ela? –

- Na verdade, ela só sabe que é parecida com a Mirena, ainda não contei essa parte da história! – ele se lembrou do tumulo. – Lembra de Renée? A mulher que foi enviada a sacrifício há vinte e quatro anos? –

- A que não resistiu a hipotermia? – ele assentiu. – O que tem? –

- É a mãe da Bella. –

- Oh meu Deus… quer que eu limpe o tumulo antes de leva-la lá? –

- Por favor. Mas seu não vou leva-la agora. Só quando a primavera estiver chegando, ela ainda não se recuperou completamente da quase hipotermia, não quero que ela sinta frio de novo. –

- Sim senhor. – ela assentiu. – O que eu aviso ao mensageiro? –

- Eu vou encontra-lo na campina a noite. Eu imagino que eu saiba o que ele quer! Veja se Isabella já voltou ao quarto e se ela está bem e aquecida. E outra. Ela sabe o somos! –

- Como reagiu? –

- Melhor do que eu pensei que reagiria. Pelo menos não fugiu correndo como eu temi que fosse fazer. –

- Eu vou ver como ela está. –

Edward seguiu o caminho até o seu quarto e Esme voltou a biblioteca. Bella ainda estava ali na cadeira, com o retrato de Mirena em mãos, ela não conseguia desviar os olhos do mesmo. Estava tão absorta em olhar para o retrato que acabou se assustando com a mão fria de Esme repousando em seu ombro.

- Você está bem? – ela apenas assentiu, colocando o retrato em cima da mesa ao seu lado.

- Se importa, caso eu pergunte, como chegou aqui? –

- Não. Eu não me importo! – Esme se sentou no banco, onde Edward estava sentado a pouco. – Eu fui a primeira que ele transformou. O príncipe chegou na região… acredito que tenha sido por volta de 1480. –

- A senhora vai fazer cem anos? –

- Quase… Tenho oitenta e sete anos de transformada, mas eu fui sacrificada aos quatorze anos Eu fui a primeira, minha madrasta me entregou ao sacrifício, minha mãe tinha falecido durante a minha infância e meu pai se casou de novo e ela não gostava de mim. Quando os anciões surgiram com a ideia do sacrifício, meu pai tinha feito uma viagem e quando ele voltou, ela já tinha me entregado. – contou.

- E o que aconteceu com ela? –

- Eu não sei! Decidi que não valia a pena voltar atrás e saber o que tinha acontecido, e eu estava bem aqui. O início é algo difícil, aprender a se controlar, mas é melhor do que a antiga vida que eu tinha. – deu de ombros.

- Você aparenta ter quase a minha idade. –

- É porque eu não fui transformada aos quatorze. – explicou. – O príncipe me resgatou aos quatorze, mas eu só pedi a transformação aos vinte e seis! –

- Você pediu? –

- Todos os que estão nesse castelo pediram pela transformação, Isabella. Não tínhamos para onde ir, ninguém jamais voltaria para a família que entregou… não tínhamos muitas escolhas e essa era a melhor das poucas que tínhamos. –

- Isso é um conselho ou um aviso do que eu vou acabar fazendo? –

- Você não tem que fazer nada, você não tem que escolher nada ainda. – se apressou em dizer. – Eu apenas respondi o que você me perguntou, querida. Quer que eu te acompanhe até o quarto? –

- Não precisa. Eu sei voltar sozinha. –

- Então eu vou até a cozinha pegar algo para você jantar. –

- Jantar? Já anoiteceu? – ela olhou confusa para a única janela aberta.

- A noite já está caindo. – avisou. – Eu sei que durante o inverno é difícil de perceber isso, mas quando você consegue controlar a noite e as suas criaturas, você percebe quando o sol nasce e se põe. –

- E como é viver na escuridão? –

- Como disse, no início é difícil para se acostumar tanto com a noite quanto com a sede, mas aos poucos você vai se acostumando e depois de um tempo, você não sente mais falta do sol. – deu de ombros. – Eu vou buscar e levar algo para a senhorita comer. –

- Eu sou a única… humana aqui? – questionou sem saber ao certo se tinha usado o termo certo.

- Sim! Alias, gostaria de pedir que tomasse um pouco de cuidado para não se machucar. Tem gente que é novo ainda e não sabe se controlar muito bem como cheiro de sangue. –

- Não se preocupe. Com o pai que eu tive, eu sempre fui bem cuidadosa. –

Com apenas um sorriso, Esme saiu do quarto e foi caminhando calmamente até o a cozinha em busca de algo para que a jovem pudesse comer. Bella deixou o retrato em cima da mesa e deixou a biblioteca e voltando na direção de seu quarto. Depois de comer e se limpar, Bella foi para debaixo das cobertas, a neve tinha voltado a cair forte e estava bem frio, mesmo com a lareira acessa.

Quando a noite caiu por completo, Edward, mesmo debaixo da tempestade de neve, foi até a campina se encontrar com Dimitri. Ele estava sozinho, o outro não tinha chegado ainda, mas a audição de Edward estava bem aguçada, ele conseguia ouvir através de todos os animais noturnos que estavam na floresta para se certificar que ele estava vindo sozinho.

Não demorou muito e um grande lobo negro apareceu do outro lado da campina. O animal rosnou ao ver Edward, mas ele apenas ficou sobre as pernas traseiras e logo se transmutou em um humano de novo.

- O que você quer? –

- Sabe o que eu quero! Aquele sacrifício é meu! –

- Ela você não pega. – Edward simplesmente como se fosse obvio. – Sabe o acordo, quem pegar primeiro faz o que quiser! Ela é minha! –

- Você me atrasou para que eu não chegasse. Acha que eu não sei que mandou aqueles dois lobos para me atrasar. –

- Ela você não vai pegar, Dimitri e isso não é negociável. –

- Ou você me entrega o sacrifício… ou eu mato cada um daquela aldeia. – ameaçou e Edward apenas sorriu.

- Eu não ligo! – respondeu ao se lembrar do que aquelas pessoas tinham feito com Isabella, e agora, que ele sabia que Renée era mãe da mesma, lembrando o que eles tinham feito com ela também. – Fique á vontade, mas ela você chega perto! Já tinha te avisado. – foi quando Dimitri entendeu quem ela era.

- Oh… Ela é aquela garota que você protegia! – apontou. – Por que? –

- Não é da sua conta! Era isso o que você queria? Me avisar que irá atrás da aldeia caso eu não a entregue?! Já tem a sua resposta ou permissão se era isso o que veio atrás. –

- Ela sabe quem é você? –

- Ela sabe o que todos naquele castelo são! –

- Não foi a isso o que eu me referi. Ela sabe sobre o Lorde Empalador?  -

- Longe dela! Não vou dizer de novo! Quer ir atrás de todos daquela aldeia? Vá! Mas fique longe dela! – disse entre os dentes e com um simples movimento, ele se transformou na nuvem de morcegos e voltou ao castelo, indo embora, sem ver o sorriso malicioso que Dimitri lançou.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

Capítulo 05 - Vampiro.

Transilvânia – Romênia.

Inverno de 1579.

Narrador.

Já tinha se passado dois dias desde que Bella tinha chegado naquele castelo e ela não tinha voltado a ver Edward. Ela praticamente tinha ficado no quarto esses dois dias, os machucados estavam feios e no dia seguinte a sua chegada ainda saia um pouco de sangue, algo que foi prontamente limpo e refeito o curativo por Esme.

No primeiro dia de Bella no castelo, ainda sentindo dores ao andar, ela conseguiu dar uma pequena explorada no quarto. Era maior que o seu, isso era óbvio, aquele era um quarto de um castelo e não de uma cabana as margens da floresta. O chão era todo coberto por tapetes quentes e macios, a cama era quase três vezes maior do que sua anterior e o armário também, e o mesmo estava cheio com vestidos de tecidos e cores que ela não conhecia, mas eram de aparência macia e delicada.

No terceiro dia ela já sentia melhor e menos dores ao andar e achou que era um bom dia para sair do quarto. Como se tivessem sido feitos e comprados sobre medida, as roupas lhe serviram muito bem e os sapatos lhe cabiam perfeitamente. E ela saiu do quarto.

O castelo estava quente, nem parecia que era feito de pedra e que uma tempestade caía do lado de fora. Isabella estava extasiada, era a primeira vez dela em um castelo, na verdade era a primeira vez dela em algum lugar fora daquela aldeia. Ela olhava cada nuance e cada pedaço do castelo, era magnifico, ela estava distraída e nem havia percebido que estava andando de costas para ver as abobadas do teto e acabou esbarrando em alguém.

- Perdão. – pediu ao se virar e ver Edward parado calmamente e com um sorriso calmo nos lábios.

- Está tudo bem. Como você está? –

- Bem. Obrigada! – ele sorriu mais. – As perguntas serão feitas agora ou depois? –

- Depende. Eu acho melhor esperar a primavera. Assim caso você fuja correndo não morrerá por hipotermia, pelo menos. – brincou.

- Eu estou aqui há três dias depois que o senhor disse que é a besta da floresta, e eu não fugi… mal conseguia andar, mas isso são apenas detalhes! – ela também brincou e ele acabou rindo. – Sem falar que eu sequer tenho para onde ir! – deu de ombros e o tom de brincadeira sumiu.

- Eu já soube o que aconteceu. – suspirou. - Vem comigo! – ele se virou para seguir o mesmo caminho que ela estava fazendo. – Já comeu? – ela apenas assentiu. – Então venha. Em primeiro lugar, quero deixar bem claro que os sacrifícios nunca foram para mim! –

- Então? –

- Conhece o monte oposto ao desse castelo? –

- Eu nunca me afastei tanto da aldeia. – lembrou.

- Mas já o viu, é o monte mais alto da região. –

- Talvez. – ela deu de ombros.

- Sinceramente, Bella, eu não sei quem foi que começou com essa história de sacrifícios, eu nunca tinha sequer chegado perto daquela aldeia, e nunca ataquei ninguém na floresta. Eu sempre procurei longe, justamente para evitar isso. –

- Mas o que você é? –

- Não tem uma especificação certa, então eu nem sei direito! Besta bebedora de sangue, demônio bebedor de sangue… Certa vez um monge disse que o termo certo é vampiro, mas eu não sei! –

- E o que isso significa? –

- Entre aqui. – pediu abrindo uma porta e quando Isabella entrou, ela viu que era uma grande biblioteca. – Bom, respondendo a sua pergunta. – ele pegou um grosso livro antigo e colocou a sua frente, o abrindo. - O monge me contou que a criatura que me transformou, outrora era um mortal e general das legiões romanas, ganancioso, que conjurou um demônio das profundezas do inferno para obter o seu poder sombrio. – contou mostrando a ela os desenhos do mesmo livro que o monge tinha lhe mostrado há quase um século. – Contudo, o demônio enganou o homem, lhe garantindo o desejo, mas o preço era uma eternidade condenada às trevas da caverna, no monte próximo onde eu nasci, e onde ele permaneceria até achar aquele que o libertaria. – contou. – De qualquer forma, um vampiro, um demônio bebedor de sangue, uma besta bebedora de sangue, como quiser chamar, é uma coisa viva que tem a força de cem homens, a velocidade de uma estrela cadente, domínio sobre a noite e as criaturas dela, vendo e ouvindo através delas, feridas se curam, praticamente imortal, que sobrevive se alimentando da essência vital de criaturas vivas, ou seja, sangue! – ele parou e olhou para Isabella, para ver se ela iria fugir, mas não, ela olhava de forma atenta e curiosa para as imagens desenhadas.

- Esme também é uma… vampira? – perguntou sem jeito.

- Todos nesse castelo, com exceção de você, são! E quase todos, principalmente as mulheres, foram salvas dos sacrifícios que a sua aldeia fazia. –

- Minha… Minha mãe? –

- A sua mãe não tinha falecido no seu parto? –

- Bom, era o que meu pai tinha me contado quando eu era criança, mas depois que eu cresci, ele contou a verdade, que como todos estavam casando as filhas cedo para evitar serem as escolhidas, os anciões foram atrás da minha mãe, alegando que por ela ter… praticamente acabado de dar à luz a mim… -

- Qual era o nome dela? –

- Renée. Renée Swan. – Bella levou a mão ao pescoço, ao colar que havia ganhado do pai há alguns anos, onde tinha uma pequena pintura de sua mãe dentro do camafeu. Bella abriu o mesmo e lhe mostrou a pintura de sua mãe, feita alguns meses antes do casamento.

- Oh… Eu… Eu a conheci. Eu sinto muito… - suspirou. – Ela foi uma das não sobreviveu. –

- Não sobreviveu a que? –

- Todas as pessoas que estão aqui, Isabella, todas as mulheres no caso, elas passaram pelo mesmo que você. Só que não era sempre que eu conseguia tira-las daquela campina a tempo de elas não morrerem por hipotermia. Algumas escolheram se transformar, outras se recuperaram e resolveram ir embora para outro lugar longe da vila, e algumas, como é o caso da sua mãe, eu as trouxe, mas devido ao frio e a grande perda de sangue, não sobreviveu. – Bella olhou para a mesa de madeira a sua frente, por um momento ela sentiu esperanças. – Quando o inverno passar e se você quiser continuar aqui, eu te levo até o túmulo dela. –

- Eu sequer tenho para onde ir, e tampouco tenho para quem ir! – suspirou. – Mas eu não entendo. Se os sacrifícios não eram para o senhor… para quem eram? – questionou mudando de assunto.

- Eu não sei como começou esse boato de ter um vampiro pela região. Na verdade, no início parecia mais que eles estavam fazendo sacrifícios a um deus pagão, como se esperassem algo em troca do sacrifício, que o inverno passasse ou aliviasse e essas coisas. E quando as virgens não estavam tendo o efeito desejado, eles sacrificaram um homem. Foi o primeiro homem que eu transformei. Ensinei a ele a conviver e a controlar a sede, do mesmo jeito que eu fiz com todos nesse castelo, porém ele tinha ficado furioso com o ocorrido, ele queria vingança e eu disse que caso ele fosse atrás de vingança ele não seria bem vindo aqui. Então ele passou a habitar o monte Moldoveanu, o monte oposto a este. –

- Os sacrifícios são para ele? – Edward assentiu.

- Ele matou todos os aldeões e os que tinham ajudado a prendê-lo na campina e como eles apareceram com mordidas e sem sangue, o deus pagão se tornou um monstro que bebe sangue. Nós fizemos um acordo. A pedra do sacrifício delimita o território, ele não pisa da pedra para cá, e eu não piso da pedra para lá e quem pegar a mulher primeiro, faz o que quiser com ela. Não preciso dizer o que ele faz com elas… - sua voz morreu por alguns segundos. – Só que, eu passei, meio que a vigiar, quando eles faziam um sacrifício e salvava as mulheres antes e com raiva de mim, ele foi pegar quem ele queria na aldeia. – Imediatamente ela lembrou de Alexis, Cassandra e Donna, e das várias outras que sumiram durante esses anos. – Lembra que o seu pai ficou uns dias sumido? –

- Era o senhor no meu quarto, mandando eu voltar para cama. – ele apenas assentiu. – Como eu não via? –

- Domínio sobre a noite e todas as suas criaturas. – lembrou-a.

- Por quê? -

– Comigo dentro do seu quarto ele não iria atrás de você! – deu de ombros.

- Ele era o lobo que quase matou o meu pai. – Bella apontou entendendo a ligação. – Foi aqui que meu pai ficou. –

- Exatamente. –

- Por que no inverno? – ela questionou se sentando na cadeira ao seu lado, temendo que suas pernas falhassem. – Quer dizer, eu entendi o motivo dos sacrifícios serem feitos durante o inverno, mas porque ele só invadia a vila no inverno? – questionou quando ele se sentou na cadeira próxima a ela.

- Lembra que eu disse que nós somos praticamente imortais? – ela assentiu. – O sol nos mata. Nos queima até a morte. Inverno é a estação mais segura para sairmos a qualquer horário. Geralmente uma pessoa adulta nos deixa saciados por quase um mês, dependendo do tamanho dela e obviamente, não indo se alimentar logo no primeiro sinal de sede. Quem mora aqui, bebe para sobreviver, podendo controlar a sede por mais tempo e com alguns tentando experimentos e se alimentando mais de animais do que de pessoas. Dimitri, o outro vampiro, mata e bebe por prazer e não por sede. Só que durante todo o ano ele pega as pessoas que se embrenham na floresta e se perdem, são poucos já que tem apenas a noite para ir atrás delas, e durante o inverno, ele cai na esbornia. –

Bella ficou um pouco em silêncio tentando absorver tudo o que havia sido jogado em cima dela, ou melhor, tudo o que ela havia perguntado a ele, além de estar ainda tentando absorver o fato de que Edward tinha chegado a salvar a sua mãe e não tinha se recuperado. Mas por um momento, ela se pegava pensando, por que ele nunca mais voltou? Por que ele não disse quem ele era desde o início ou quando apareceu em seu quarto há quinze anos?

- Muita informação? –

- Por que não voltou? –

- Como assim? –

- O senhor apareceu em meu quarto no inverno de 64, apareceu de no de 65 e 66, por que não voltou? –

- Eu voltei. Só que você tinha entendido que quando ouvisse um grito era para continuar quieta na cama, em segurança, então eu não precisei falar mais nada. A última vez que eu passei as noites de inverno no seu quarto foi em 70, você já tinha quinze anos, era praticamente com essa idade que as garotas da aldeia estavam se casando, então achei melhor… não voltar! Dimitri também tinha entendido que não era para mexer com você. Pensei que estaria segura. Claro que, agora sabendo da morte precoce de seu pai e do que eles fizeram com você, vejo que eu me enganei! –

- Por que a mim? Por que não qualquer outra garota da aldeia? –

- Porque você é diferente. –

- Por que? – insistiu.

Ele não respondeu de imediato, não sabia ao certo como responder. Ele temia que ela estivesse ainda assustada devido o incêndio, devido aos ferimentos que os seus vizinhos cometeram e principalmente com uma parte da história que ele tinha contado. Edward levantou a cabeça e viu em seus olhos que ela estava ansiosa por essa resposta. E no fundo ele temia que aquela resposta a faria fugir.

Edward não respondeu, apenas se levantou e com um gesto simples com a mão pediu para que ela esperasse. Em segundos o seu corpo foi tomado por uma nuvem de morcegos, o que fez com que a Bella se sobressaltasse, e logo a nuvem preta saiu pela janela aberta, circundando o castelo até chegar ao seu quarto, voltando a sua forma humana e pegando o quadro na parede, se transmutando novamente em morcegos e voltou para a biblioteca.

- Por isso! – respondeu simplesmente entregando o retrato a ela, e como ele suspeitava, ela se assustou.

- Sou eu! –

- Tecnicamente, é a minha ex-noiva! – 

domingo, 3 de novembro de 2024

Capítulo 38

      Adhara – Continente de Andrômeda –127 Depois da Conquista.

Pov. Edward.

A voz de Arthur me fez entrar em transe. Como assim Isabella estava sangrando, eu a tinha visto a pouco tempo e ela estava ótima, não reclamava nem do peso da barriga e nada. Ela estava ótima. A voz de Arthur soou de novo, só que dessa vez eu não ouvi, e nem prestei atenção, no que ele tinha dito, eu apenas me levantei de supetão, o que fez com que a cadeira caísse em um barulho alto no chão e saí da sala do pequeno conselho correndo.

Eu subi as escadas até a minha torre pulando os degraus enquanto ouvia passos atrás de mim, mas nem prestei atenção para ver quem vinha atrás de mim. Eu abri a porta do quarto e a encontrei a encontrei com a saia do vestido cheia de sangue.

- Edward… - ela choramingou com as mãos ensanguentas na barriga.

- O que houve? – eu me aproximei.

- Eu não sei! Está doendo! Muito! – ela gemeu de dor de novo enquanto apertava a minha mão com força.

- Calma… - pedi, tentando manter a minha calma. Olhei por sobre o ombro e vi que Arthur tinha me seguido e estava parado na porta. – Arthur, vai chamar o meistre! – mandei, mas ele continuava estático. – Vai Arthur! – gritei, como eu nunca tinha gritado antes com nenhum deles e isso o fez sair do meu transe e correu pelo corredor.

- Não grita com o menino! –

- Isabella, essa não é a hora de você se preocupar se eu estou gritando com alguém ou não! – avisei. – O que você está sentindo? –

- Dor! Muita dor! –

- Igual as contrações? – ela negou com as lágrimas escorrendo de seus olhos.

- Pior! – choramingou de novo.

- O que houve? – eu olhei por sobre meus ombros e Charlie estava li.

- Alguém trás logo a porra do meistre! –

- Com licença, lorde Hightower… - o meistre entrou. – O que houve? A Lady Anna já tinha ido me chamar… pelos deuses! – exclamou ao ver a pequena poça de sangue que começou a se formar sobre os pés da Bella. – Me dá licença, alteza. – ele pediu fazendo com que eu me afastasse dela.

- Edward… - Bella me chamou e mexeu com a cabeça na direção da porta.

- Eu não vou sair daqui! – ela negou e apontou com a cabeça para a porta de novo e ao virar a cabeça eu vi que junto com o Hightower estava a Anna e o Arthur. – Entendi… Charlie… - ele apenas assentiu

-  Venham os dois! – ele apoiou as mãos nos ombros dos dois e tentou tira-los dali, mas a o Arthur se desvencilhou do avô e voltou para perto da porta.

- A mamãe vai ficar bem? –

- Vai! – garanti sabendo que não devia prometer isso e me aproximando dos três. – Vai, mas eu preciso que vocês façam algo muito importante… Como vocês dois são os mais velhos, eu preciso que vocês fiquem com os mais novos e obedeçam ao Hightower. Eu não quero vocês aqui antes que eu chame vocês! –

- Pai. –

- Faz o que eu estou mandando, Arthur! A sua mãe vai ficar bem! – falei firme, sem saber se estava convencendo a ele ou a mim. E como há quase treze anos eu estava ficando desesperado de novo e não podia deixar transparecer, principalmente na frente dos meninos. – Agora faz o que eu estou mandando e vai! –

- Edward… -

- Eu aviso! – Charlie assentiu.

- Vamos, os dois! – eu voltei para dentro do carro e fechei a porta, antes que Arthur voltasse.

- Alteza… - o meistre disse se aproximando de mim e com as mãos e a bata que usava manchada de sangue. – Acredito que ela está em trabalho de parto! –

- Nunca foi desse jeito… -

- Sim, porque acredito que não seja apenas um bebê! –

- Gêmeos? –

- Ao que tudo indica sim! E parece que os dois querem sair ao mesmo tempo e ou está apertado demais, ou eles não estão posicionados ou… Eu não sei, alteza! –

- Não sabe?! – perguntei entre os dentes. – Sabe pelo menos o que pretende fazer? –

- Sinceramente? Tentar um parto e rezar para tudo dar certo e para que a princesa e os bebês ficarem bem! –

- É melhor para você que todos eles fiquem bem! – falei sério e ele assentiu.

- Eu vou chamar as criadas. – ele saiu do quarto.

- O que ele disse? – Bella questionou quando eu voltei para perto dela, e notando que a sua camisola estava mais suja de sangue ainda.

- Ele… Ele desconfia que na verdade são dois bebês e que talvez eles não tenham espaço para sair ou então que estão tentando sair os dois ao mesmo tempo! – ela fechou os olhos respirando fundo. – Mas vai ficar tudo bem! – garanti. – Eu não vou sair daqui! –

- Cadê os meninos? –

- Isso não é hora de você se preocupar com eles! –

- Cadê… os meus… filhos? – perguntou entre alguns gemidos de dor enquanto apertava a lateral do colchão entre as mãos.

- Com seu pai! –

- Ótimo! – ela agora apertou a minha mão com força, quando mais uma contração veio e que com isso escorreu mais sangue pelas suas pernas.

- Calma… Vai ficar tudo bem, eu estou aqui e não vou sair daqui! –

- Nem você acredita nisso! – a porta foi aberta, pelo meistre que voltou para dentro do carro.

- Eu preciso acreditar, eu não posso perder você! –

- Pronta alteza? – o mestre questionou e ela apenas negou. – Coloque-a deitada, por favor. – pediu a mim.

- Vem, meu amor. – eu passei o braço por baixo de suas pernas, sujando a manga da minha camisa com o seu sangue, e a colocando deitada na cama.

- Vamos alteza, agora somos apenas eu e a senhora. – a parteira disse com as mãos tremendo enquanto se ajeitava entre as suas pernas.

A cada contração que vinha, mais firme ela apertava as minhas mãos, enquanto seguia os pedidos da parteira de continuar empurrando e fazendo força, porém a única coisa que continuava saindo era sangue, mais sangue e mais sangue.

As horas foram passando e a única coisa que continuava saindo era sangue, eu já não conseguia mais falar a Bella que as coisas ficariam bem, principalmente conforme eu via a expressão de desespero do meistre e da parteira. Isabella, a cada minuto que passava, ficava mais pálida, mais fraca e mais gelada, principalmente devido a quantidade de sangue que perdia.

- Eu não aguento mais. – ela puxou a mão da minha, cobrindo o rosto, com os seus dedos tremendo e com o sangue seco. – Eu não aguento mais! –

- Vai pegar um pouco de leite de papoula. – o mestre mandou a uma das criadas, que prontamente correu para fora do quarto. – Dê uns minutos a ela. – pediu a parteira. – Alteza. – ele me chamou para o canto do quarto. – Infelizmente as noticias não são boas! Ela está sangrando muito e o bebê não saí. A única coisa que eu consigo pensar para salvar o bebê… seria uma cesárea. –

- Não. – falei sem nem o deixar terminar de falar.

- Alteza, se não tentarmos o bebê morre… -

- E se tentar, minha esposa morre! –

- Alteza… -

- Escuta bem, porque eu só vou dizer uma vez. – eu o segurei pelo colarinho de sua bata. – Eu não sou o imbecil do meu irmão, eu nunca vou escolher um filho no lugar da minha esposa. Então, se você não quiser que eu enfie uma estaca no seu rabo e que ela saía pela sua garganta… dê um jeito que ela saía viva! –

- Alteza… - a parteira me chamou com um pouco mais de calma. – Talvez tenha um outro jeito, mas eu não posso garantir nada. – eu soltei o colarinho do meistre e olhei para a parteira. – Ela dormiu, podíamos acorda-la dar uma quantidade maior de leite de papoula para que ela possa dormir mais e eu tento sentir o jeito que os três bebes estão e tentar ajeita-los para ele sair… -

- Três? –

- Eu senti três, alteza! –

- Isso não é nem um pouco recomendado. – o meistre a interrompeu. – Isso pode causar diversos problemas tanto para a mãe quanto para o bebê além de causar uma dor desnecessária… -

- Dor desnecessária? Você sugere abrir a barriga da minha esposa com uma adaga e vem me falar de causar uma dor desnecessária? – questionei entre os dentes. – Como isso funciona? –

- Eu iria colocar a minha mão dentro da princesa e ajeitar o encaixar o primeiro bebê, é ele quem está de certa forma bloqueando a saída… Mas o meistre tem razão, vai causar dor na princesa e ela já perdeu muito sangue, ela pode perder um pouco mais… Porém qualquer coisa que fizer ou no caso, não fizer… -

- Faz! –

- Alteza, preciso dizer que isso não é seguro! –

- Não venha me dizer o que é seguro ou não! Você sugeriu abrir a minha esposa! –

- E talvez salvaria o bebê! O jeito que ela quer fazer pode causar a morte tanto do bebê quanto a vossa esposa e… sem falar que eu tenho mais de cinquenta anos de estudos e… -

- E eu já ajudei no parto de mais de cem bebês, sem falar com o fato de que eu já pari uns cinco, meistre, não é só porque o senhor é um estudado da Cidadela, que seja o único nesse cômodo que saiba realizar um parto! –

- Chega! Briguem fora daqui! – falei entre os dentes. – Faça o que tem que fazer e eu quero a minha esposa viva… -

- Farei o melhor que eu puder, alteza. –

- E você saía daqui! Se não for ajudar, suma! – me dirigi para o meistre. – Eu quero todo mundo que esteja parado para fora! –

- Nós vamos precisar de muitos mais panos e água quente! – a parteira disse para a criada ao seu lado. – E traga mais leite de papoula, ela vai precisar! –

Eu me aproximei de Bella, que se não fosse pelo seu peito que subia e descia, qualquer um poderia pensar que ela não estaria viva de tão pálida que ela estava. Ela dormia devido o leite de papoula, mas mesmo assim eu me agachei ao lado da cama e segurei a sua mão firme. A parteira olhou para mim, após se ajeitar entre as pernas de Bella, como se pedisse a minha permissão para continuar e eu apenas assenti. O sono tranquilo de Bella sumiu, conforme expressões de dor começaram a aparecer em seu rosto e ela apertava a minha mão contra a sua.

- Calma. – pedi quando ela acordou assustada. – Calma, está tudo bem… vai ficar tudo bem. – ela apertou os olhos com força com lágrimas escorrendo de seus olhos. – Calma. –

- Encaixei! – a parteira disse animada. – Eu preciso apenas que ela faça força agora. –

- Eu não aguento! – a mão de Bella tremia entre a minha.

- Não precisa ter pressa, princesa, agora será um pouco mais rápido e vai sangrar menos, quando tiver pronta! –

Demorou um dia e meio desde que Isabella começou a sangrar até os três bebês terem nascido. Todo mundo estava exausto, porém não tanto quanto a própria Isabella. Para que ela pudesse descansar e dormir limpa e confortável, eu a peguei no colo, ganhando um gemido alto e sôfrego de dor. Enquanto limpavam o quarto e cuidavam das três crianças que choravam no quarto adjacente, enquanto o meistre fazia algo de útil e as examinava, eu ajudei Isabella a se lavar, tirando todo o sangue fresco e seco dela, enquanto eu tentava mantê-la acordada. Ela estava completamente pálida, quase que transparente, eu sabia que principalmente nessas circunstancias ela precisava comer algo, mas eu sabia que ela não tinha forças para isso.

Eu só tirei Bella da tina quando me avisaram que o quarto estava completamente limpo, e ao ajuda-la a se secar e a vesti-la, eu a coloquei na cama e quase que no mesmo segundo ela dormiu.

Bella havia parido três crianças, como a parteira havia desconfiado. Duas meninas e um menino, e segundo o meistre, eles estavam bem, eram um pouco pequenos e magros demais, por terem nascido quase duas luas antes do tempo, e também por serem três comprimidos em um espaço pequeno, mas fora isso eles estavam ótimos. A maior preocupação agora era Isabella, que havia perdido bastante sangue e que estava completamente debilitada.

Charlie havia sido o primeiro, e praticamente o único a ser chamado para ver a filha, pela hora eu suspeitava que as crianças estivessem dormido, mas quando a porta foi aberta e Arthur entrou quase que desesperado me fez perceber que era capaz de todos os três, e a Anna, estarem acordados.

- Deixa a sua mãe dormir. – falei sério e cansado quando ele subiu na cama ao lado dela. – Devagar. O que ele está fazendo acordado? – questionei sem nem me levantar da cadeira, eu não tinha mais forças para ficar de pé.

- Ele praticamente não dormiu, estava preocupado com a mãe. – deu de ombros. – Em cinco minutos ele dorme. – apontou com a cabeça para a cama e eu vi que ele tinha deitado a cabeça ao lado da de Bella. – Como ela está? – eu dei de ombros. – Está dormindo desde o inicio da noite e perdeu muito sangue. Ninguém sabe como ela vai ficar, mas as chances de ela ficar bem são grandes! Só temos que torcer para não ter febre! – contei. – Seus netos estão com as amas de leite no quarto ao lado! – avisei.

- Dois? – eu apenas fiz um número três com os dedos. – Três? –

- Duas meninas e um menino. – respondi apoiando a cabeça contra o encosto da cadeira.

- Quer que eu peça algo para você? – eu apenas neguei com os olhos fechados.

- Eu só preciso dormir, mas eu tenho que ficar de olho nela. –

- Seu irmão quer saber como ela está. –

- Responde! – dei de ombros. – E avisa, por favor, a Rosalie. Eu vou tentar dormir um pouco e qualquer coisa eu aviso! –

- Tudo bem! Não disse, já dormiu. – eu abri os olhos de novo e vi que Arthur dormia profundamente. – Harry e Liam também dormiu, a Anna está esperando alguma noticia, mas segundo ela, ela tem bom senso de não vir perturbar agora. Eu vou avisa-la e dar uma olhada nos meninos. – eu apenas assenti.

- Hightower. – o chamei quando ouvi a porta abrindo. – Obrigado por cuidar dos garotos! –

- São meus netos! E você está cuidando da minha filha! Vai dormir, está tão mal fisicamente quando ela! Isabella pelo menos tem um motivo para ficar assim! – ironizou e eu ouvi a porta do quarto se fechando.

- Pai… Pai… - eu me sobressaltei ao alguém me cutucando e ao abri os olhos eu senti meu corpo chiar. Eu tinha adormecido na cadeira e o quarto estava escuro, eu só não sabia se era pelas cortinas estarem fechadas ou por ter anoitecido mais uma vez. – Pai… -

- Oi Arthur! O que houve? –

- A mamãe está muito quente. – contou e eu me levantei de supetão da cama. Bella ainda dormia, mas ela tremia e tinha gotas escorrendo pelo rosto. Eu levei a mão até a sua testa, ela estava queimando de febre,

- Chama o meistre! Diz que é para ele vir imediatamente se ele não quiser que a última ameaça que eu fiz a ele se conclua! – ele assentiu e saiu do quarto correndo.

Eu peguei um pano e molhei na bacia que estava ao lado da cama e limpei todo o rosto da Bella. Ela deveria estar suando e com febre a muito tempo, porque toda a roupa de cama e a sua camisola estavam molhados. Como Arthur tinha deixado a porta entreaberta ao sair desesperado atrás do meistre, eu chamei por Criston, o valete e mandei que ele chamasse algumas criadas e que trouxessem roupa de cama limpa e seca.

Elas chegaram primeiro que o meistre e além do suor, Isabella tinha sangrado um pouco durante o tempo em que havíamos dormido, mas quanto a isso já tinham me certificado que de com certeza iria acontecer, enquanto a febre todas esperavam que não surgisse. Bella continuou adormecida enquanto trocaram a roupa de cama e a sua roupa, mas ela continuava a tremer.

Isabella teve febre por uma semana e por uma semana eu mal coloquei os pés para fora do quarto. Ela ficava acordada poucas horas do dia e nessas horas que ela ficava acordada, eu precisava quase que obriga-la a comer alguma coisa, para que ela pudesse recuperar um pouco de força.

Eu jamais havia sido um homem devoto e na maior parte dos meus anos eu não acreditava nos deuses, principalmente como meu irmão acreditava, mas durante aqueles sete dias infernais onde ela queimava de febre eu me peguei rezando e quase implorando para que ela melhorasse, chegando até a ameaçar de fazer uma carnificina caso eu a perdesse, e depois longos sete e infernais dias, a febre dela começou a diminuir e ela passou a comer um pouco mais do que tinha comido naquela semana.

Um mês tinha se passado, Bella continuava de cama, ainda se recuperado da grande quantidade de sangue que havia perdido, mas estava muito melhor. A cor já estava voltado para o corpo, principalmente para o rosto e ela já tinha um pouco mais de força principalmente para segurar os bebês no colo, mas mesmo assim eu fazia o máximo que eu conseguisse para impedir que ela colocasse os pés para fora da cama sozinha e sem motivos.

A noite já tinha caído mais uma vez, e mais uma vez, igual a quase todos os dias desse último mês, eu estava sentado na cadeira e o meu lado da cama estava tomado pelos três meninos que não queriam sair de perto da mãe. Eu acabei me sobressaltando ao sentir uma mão em meu ombro e ao me virar a cabeça, vi que meu irmão tinha entrado no quarto e estava escorado na cadeira, enquanto chamava a minha atenção e logo voltou a se apoiar em sua bengala.

- Deseja algo? –

- Tem um mês que eu não vejo você ou os meninos. – comentou e colocando todo o seu peso na bengala e se sentou na poltrona ao meu lado. – Como ela está? –

- O meistre disse que ela está melhor, mas eu vou ficar de olho nela até eu ter cem por cento de certeza disso! –

- Por falar no meistre… ele comentou que você ameaçou empala-lo… - eu sorri de forma debochada.

- Ele sugeriu abrir o ventre da minha esposa… ele tem que agradecer por eu ter apenas ameaçado e não o ter empalado de fato! –

- Talvez se tivesse essa parteira no parto da Esme… talvez ela pudesse ter ficado viva! –

- Talvez se você não tivesse insistido tanto em ter um filho homem, talvez ela pudesse ter ficado viva! – provoquei e eu o ouvi respirando fundo.

- Diz isso porque o primeiro filho que você teve foi um menino. Alias, quatro dos seus seis filhos são meninos! –

- Não faz diferença nenhuma. Se fossem seis meninos ou seis meninas, não faria diferença para mim! A única coisa que faz diferença para mim é ela… - apontei para Isabella que dormia com a cabeça de Liam contra o ombro. – Tendo ela, não faz diferença no que as crianças são! –

- Eu vim aqui te perguntar uma coisa mais importante do que falar com você sobre as decisões que eu tomei! Você ou a sua esposa receberam algum corvo de Rosalie recentemente? Porque eu já mandei alguns corvos e ela não me responde. –

- Não! –

- Ela… - ele parou de falar ao tossir. – Ela foi avisada do que aconteceu com a sua esposa? –

- Foi! – respondi simplesmente ajeitando a minha cabeça contra o encosto da poltrona onde estava e fechando os olhos.

- E não mandou um corvo e tampouco veio aqui ver a amiga? – questionou assombrado.

- Para você ver, Carlisle… Chama Isabella de melhor amiga, mas sequer mandou um corvo quando soube que a “melhor amiga” quase morreu… - debochei. – Esperar o que? Rosalie já conseguiu o que queria, para que ela vai se lembrar de quem sempre esteve ao lado dela? –

- O que quer dizer com isso? –

- Nada! Nada! – disse simplesmente. Ele não podia saber o que a sua filha tinha feito nos últimos anos, ou melhor ainda, ele não merecia saber o que ela tinha feito. – Irmão, eu preciso dormir um pouco! –

- Dormir? Onde se as crianças estão na cama? –

- A minha cama está sendo essa no último mês! – respondi simplesmente apontando para a poltrona. – Do mesmo jeito que eu estou preocupado com a minha esposa, eles estão preocupados com a mãe! –

- Não é mais nenhum jovem para ficar dormindo em uma cadeira todo torto! – ironizou apoiando todo o seu peso na bengala para ficar de pé. – Se importaria caso, obviamente quando ela melhorasse, fazer um torneio pelo nascimento das crianças. –

- Quer que eu realmente responda? – na escuridão do quarto eu apenas o ouvi bufar.

- A proposito, qual será os nomes? Ou ainda não decidiram? –

- Sulpicia, Didyme e Peter. –

- Nosso tio e duas de três conquistadores! Eu vou falar para os guardiões dos dragões trazerem três ovos. Da ninhada de Tessarion? –

- Sim! –

- Bom, eu vou descansar e vou te deixar descansar! Se ela melhorar ou piorar você me avisa! –

- Não se preocupe. E tome cuidado por esses corredores escuros! Ninguém quer acordar com o rei sendo encontrado caído e com o pescoço quebrado por essas escadarias! –

- Você é insuportável, às vezes, Edward, sabia? –

- Mesmo? Segundo a minha esposa eu estou apenas exercendo o meu papel de irmão mais novo! –

- Idiota! – xingou rindo e isso me fez sorrir também.

Quando a porta se fechou o quarto voltou a ficar no quase completo silencio, os únicos sons ouvidos eram as respirações das três crianças e de Isabella, os quatro dormiam profunda e tranquilamente. Ajeitei-me mais uma vez contra a cadeira dura e após dar apenas mais uma conferida nos quatro, eu me permitir fechar os olhos e voltar a dormir.

Ao despertar no dia seguinte, sem saber ao certo quantas horas eu tinha conseguido dormir, já que dormir nessa cadeira era extremamente desconfortável, eu encontrei a cama ainda ocupada do mesmo jeito que na noite passada, com uma única diferença, Isabella já estava acordada e havia se sentado na cama e a cabeça de Harry, que agora estava deitado todo torto na mesma, estava sobre as pernas da mãe, que mexia em seus cabelos loiros e que começavam a ficar compridos.

- Você vai ficar dormindo nessa cadeira mais quanto tempo? –

- Até eles voltarem aos devidos quartos! – respondi simplesmente me levantando da cama e deixando escapar uma careta ao sentir a coluna reclamar.

- Você não tem mais idade para ficar dormindo em cadeiras! –

- O que é isso? Um complô seu e do meu irmão? – reclamei e ela sorriu, com os lábios ainda um pouco pálidos. – Como está? – questionei levando a mão até a sua testa, por mais que já tivesse muitos dias sem febre, eu confirmava a cada minuto e isso irritava Isabella.

- Bem! – ela empurrou a minha mão de sua testa. – Eu estou ótima, já disse! O próprio medico já tinha dito que eu poderia voltar a minha vida de novo normalmente! –

- Tem só um mês, Bella. – lembrei-a. – E você teve febre por quase duas semanas! –

- Mas eu estou bem! Muito melhor! De verdade! Não estou dizendo isso apenas porque eu não aguento mais ficar trancada nesse quarto e entrevada nessa cama, é verdade! –

- Até a cor voltar por completo para o seu rosto. Você continua nessa cama, e seu pai concorda comigo! – disse simplesmente e abaixei a minha coluna que doía. – Bom dia. –

- Bom dia. – eu lhe beijei os lábios e ela prontamente retribuiu. – E a Anna? Tem dias que não a vejo. –

- Está bem. Ela fica uma boa parte do tempo ajudando a cuidar dos bebês… talvez… provavelmente na verdade, sinta falta do irmão que não nasceu! – dei de ombros e voltei a me sentar na poltrona de novo. – E a Gianna mandou um corvo recentemente, pedindo noticias suas e mandando notícias… parece que Emma está sentindo falta da irmã, e como a Anna não quer voltar a Driftmark, Gianna pediu para que quando você estivesse melhor avisasse, para que Emma viesse passar uns dias com a irmã! –

- O ovo dela chocou? –

- Petrificou de novo. E desde que ela chegou em Driftmark, ela deu um ou dois ovos da Meleys e todos petrificaram… -

- Isso é normal? – dei de ombros, eu não sabia, nunca tinha ouvido falar de um Swan, ou no caso meio Swan, ter tanto azar para domar um dragão. – E Rose? – suspirei.

- Nada. Não respondeu o corvo que o seu pai mandou! –

- Hum… - disse simplesmente como se não se importava com isso. – Eu estou com fome! – falou por fim, me encarando, enquanto continuava a deslizar os dedos pelos cabelos do filho.

- Fico feliz em ouvir isso! Significa que não vou mais ter que te fazer comer a força. – ela riu.

- Mamãe… - ela parou de rir quando ouviu a voz do Liam.

- Oi meu principezinho… -

- Não sobe no colo da sua mãe. – avisei quando ele tentou, mas ele se contou apenas em ficar de joelhos na cama e abraçou o pescoço da mesma.

- Bom dia crianças… - falou ao ver que os outros dois também já estavam acordando.

- Bom dia, mãe… Bom dia, pai. –

- Bom dia, garotos. –

- Dormiram bem? – questionou e ela assentiu. – Ótimo! Hoje a noite eu quero os três em seus respectivos quartos e camas, já são grandinhos para dormirem comigo! –

- O papai também é! – Harry respondeu.

- Anda respondendo demais nos últimos tempos, não acha não, Harry? –

- Desculpa pai. –

- Bora… Os três para o quarto para se lavarem para o desjejum. – mandei. Um a um, eles foram levantando da cama e ao se espreguiçarem deixaram o quarto.

- Isso é influencia dos seus sobrinhos! – Bella reclamou se ajeitando na cama agora vazia. – Já falei que eu não os quero perto de Henry e do Jasper! –

- E eu já falei isso! Só que enquanto morarmos aqui, não tem o que fazer, eles vão se esbarrar em algum momento! E infelizmente, as aulas de cariano com os dragões, são feitos todos juntos, mesmo eu não gostando disso! – reclamei também. – E sinto em dizer, mas já soube por uns criados que seu filho fica debochando do que aconteceu há dois anos, de ter tirado o olho do Jasper! Já mandei parar e disse que se ouvir essa história de novo eu tiro o dragão dele, mas ele é seu filho, só vai acreditar quando eu fizer isso! –

- Perdão? –

- Mas como ele é meu filho… -

- Ah sim… achei que tinha ouvido errado! – debochou e isso me fez rir. – E eu já disse, era para termos ficado em Rosby! Como pelo visto eu não vou sair dessa cama e desse quarto tão cedo, depois eu converso com o Harry sobre isso. E meu pai? –

- O que tem? –

- Como ele está? –

- Bem! Não duvido nada de que daqui a pouco ele apareça aí para ver como você está! Alias, Carlisle veio aqui ontem a noite, queria saber se nos importaríamos por ele fazer algo em comemoração ao nascimento das crianças, quando você melhorar… -

- Preciso responder? –

- Foi o que eu disse a ele! Só que infelizmente conhece meu irmão e sabe que ele vai dar um jeito de fazer algo caso queiramos ou não! –

- Por isso você quer me manter presa nessa cama! –

- Um dos motivos. – brinquei e ela jogou o meu travesseiro em mim.

- Idiota! – eu a ouvi rindo enquanto me levantei da cama e me sentei ao seu lado.

- Não se chateei por eu ficar preocupado! – pedi. – Meu coração quase parou de bater naquele dia, achei que eu fosse perder você com toda aquela quantidade de sangue e com o meistre querendo abrir você! –

- E o meistre sugeriu isso e permaneceu vivo? –

- Ameacei empala-lo e ele calou a boca! – admiti e ela sorriu. – Queria dar um jeito de agradecer aquela parteira por ter feito o que fez e salvado vocês quatro, mas nada do que eu ofereci, ela aceitou! – ela afastou as costas do encosto da cama e aproximou a cabeça da minha me dando um beijo nos lábios.

- Eu te amo! –

- Eu também te amo! –

- Eu te amo e sabe que eu não me chateio por você se preocupar. Eu me chateio por você não me ouvir, eu estou bem, não tem necessidade de me manter presa nessa cama o dia inteiro! Daqui a pouco eu ficarei doente por eu ficar o dia inteiro presa aqui dentro! Aí eu vou amar você um pouquinho menos! –

- O meistre ficou de voltar hoje e dependendo do que ele dizer, eu posso cogitar a ideia de deixar você passar umas horinhas, obviamente, acompanhada fora do quarto! –

- E longe da Jéssica! –

- Bem longe da Jéssica! – concordei.

- Agora seja um bom marido e peça para trazerem algo para eu comer e os meus filhos, por favor! –

- Sim senhora. – eu aproximei a minha cabeça da dela e lhe beijei os lábios.

- E Tessarion? – perguntou quando eu me levantei.

- Daqui a pouco você perde aquele dragão, segundo os meistres precisaram solta-la, ela estava importunando todos os outros e dois tentaram ataca-la. –

- E cadê ela? –

- Passa a maior parte do tempo sobrevoando a torre. Ela está bem e está por perto, se acalmou mais nos últimos dias, mas ela está bem! – eu abri a porta do quarto.

- Bom dia, alteza. – Criston se postou a frente do quarto. – O de sempre, o meistre ou o lorde Mão? –

- O de sempre! – respondi e ele assentiu se afastando e eu voltei a fechar a porta. – Isso me faz cogitar realmente a ideia de voltar a Rosby, os dragões ficam muito mais calmos quando estão soltos! – comentei me deitando na cama ao seu lado e sentindo como se a minha coluna tivesse agradecido depois de um mês.

- Se quiser, não vou me opor! –

- E nem as crianças! Eu vou fermentar um pouco mais essa ideia! Se Harry continuar com esse comportamento, sair daqui será quase que uma obrigação! –

- Por que você não aproveita, que a cama está metade vazia e tenta descansar e relaxar de verdade? Daqui a pouco ficaremos os dois doentes e você com problema na coluna! –

- Pode parar de reclamar da minha idade? –

- Eu não estou reclamando da sua idade! Eu estou reclamando por você ter deixado as crianças dormirem comigo por um mês enquanto você dormia em uma cadeira. Eles estavam preocupados! Eu entendo isso, mas tem mais um mês que eu acordo com os três dormindo comigo e você dormindo todo torto! Se é que você consegue dormir ali! – assim que ela terminou de falar, uma batida soou na porta.

- Entra. – mandei e Criston abriu a porta e entrou com uma caixa em mãos. – O que foi? –

- O desjejum chega em menos de cinco minutos, alteza, mas os guardiões chegaram com três ovos, falaram que é ordem do rei para os três bebês. –

- Fala que eu mandei colocar debaixo dos berços deles! – ele assentiu.

- O que é isso, Criston? – Bella perguntou olhando para a caixa.

- Uma criada acabou de trazer. Disse que é da rainha, para a senhora! –

- Joga fora! – Isabella respondeu mal ele terminou de falar.

- Devolve! – falei simplesmente. – Diga que não queremos nada que venha dela! –

- Sim senhor, com licença! – ele saiu e fechou a porta atrás de si.

- O que ali? Uma serpente dessa vez? –

- Eu enforco aquela lá com o animal morto, tenha certeza disso! –

- Vai descansar um pouco! Vai. – mandou se ajeitando na cama, virando de lado, na minha direção, e começou a mexer em meus cabelos e como sempre quando ela fazia cafuné, eu acabei adormecendo em poucos segundos.