Algumas
vezes na vida, nós temos o mórbido desejo de morte, seja porque alguém morreu,
seja porque você perdeu algo importante, alguma violência, uma magoa, uma
deficiência que te abateu sem que você esperasse. Nesses momentos a dor é tão
grande, que você só quer acabar com o sofrimento, é como se um buraco negro se
abrisse dentro de você, e vai te sugando por dentro, te falta o ar, adormece a
língua, o pensamento some, a pulsação sobe, dá calafrio, um arrepio agourento e
você vai pra outra dimensão. Normalmente, essa dimensão é sua cama, um canto
escuro, cada um tem o seu lugar, tem aqueles que gostão de escutar música, para
não ouvir vozes, porém, tem aqueles que gostam do silencio para ouvir o seu
próprio barulho interno. Temos limites do que podemos aguentar, quando esse
limite é quebrado, não sabemos o que fazer, ficamos perdidos, desiludidos e sem
chão. Aprendemos coisas desde pequenos que levamos para o resto da visa,
amarrar um cadarço, pentear um cabelo, como segurar um copo, o lado certo da
blusa, para nós, na infância, tudo é à base da lógica, sim é sim, não é não,
2+2 = 4, e morremos quando nosso coração para de bater.
Só
que se esqueceram de nos ensinar, que depois da vida adulta, a vida deixa de
ser logica.
-
Sra Cullen, consegue me ouvir? - a voz veio de longe, parecia que eu estava em
um túnel.
Esqueceram-se
de nos ensinar, que os monstros escondidos no escuro debaixo da cama, na
realidade, somos nós mesmos.
-
Isabella amor, acorda, por favor, acorda. – as vozes ficavam cada vez mais próximas,
cada vez mais nítidas.
Esqueceram-se
de nos contar, a verdadeira origem dos tão ilusórios contos de fada da Disney,
que na realidade são contos de terror escritos pelos irmãos Grimm, onde neles,
os príncipes, não passam de demônios.
-
Sr. Cullen, quando ela estiver pronta para acordar, ela irá acordar, ela
realmente precisa desse tempo, o sedativo foi necessário e logo menos o efeito
irá passar, só de o tempo que a sua esposa precisa, quando ela acordar, não
serão fáceis às coisas, principalmente pra ela. -
Esqueceram
de nos contar, que as pessoas em que nos mais confiamos, geralmente serão
aquelas que mais iram nos magoar.
-
Eu entendo Doutor, é só que, eu não sei o que fazer, eu não sei o que
aconteceu, eu estou perdido. - eu já conseguia identificar as vozes
perfeitamente, e aquela, era a última voz que eu gostaria de escutar naquele
momento.
Esqueceram-se
de nos explicar, que apesar de sermos perfeitos, terão momentos em que
desejaremos ser surdos, mudos e muitas vezes, cegos.
-
Ela vai precisar de toda a ajuda necessária Sr Cullen, um aborto já é uma
situação complicada, e nessa situação dela, é muito pior, ela irá precisar da
ajuda de um profissional, eu sugiro que o senhor procure um psiquiatra, logo
quando saírem daqui. -
Esqueceram
de nos ensinar, que a loucura não é uma doença, ela é um estágio da vida, um
estágio de inconsciência dos sentidos, um estado aonde nós, não somos nós
mesmos, aonde estamos abandonados e perdidos dentro da nossa própria mente.
-
Eu já imaginava isso, eu só não consigo entender, ela nunca bebeu, pelo menos
não dessa forma, ela não é dessa forma, eu só não consigo entender o que
aconteceu. -
Esqueceram-se
de nós contar, que mesmos depois de adultos, alguém sempre vai querer nos
controlar.
-
Essa explicação só ela pode nos dar Sr. Cullen, e pra isso acontecer, ela tem
que acordar, ela terá que nos dizer, porque ela consumiu essa quantidade
absurda de álcool. -
Esqueceram-se
de nos dizer, que mesmo um coração morto, ainda pode continuar batendo, que a
morte vai além de físico, ela é espiritual.
Lentamente
eu abri meus olhos, cansada daquela conversa entre os dois, eu não os queria
ali, na realidade não queria ninguém, eu queria ficar sozinha. Eles já estavam próximos
à porta quando Edward olhou pra mim uma última vez com a mão em direção à
maçaneta.
-
Oh meu Deus, ela acordou. – e como se eu
fosse a coisa mais importante na vida dele, ele veio correndo pro meu lado. Quando
ele levantou a mão em direção a minha cabeça eu me encolhi pra longe dele.
-
Va... Vai... - limpei a garganta e tentei dizer alto o suficiente pra ele
escutar- vai embora, eu não te quero aqui. - sem esperar qualquer resposta eu
virei para o outro lado da cama onde estava parado um homem com um jaleco
branco que eu presumia ser meu médico.
-
Bella amor, o que está ac... - aquilo foi demais, e eu rompi em um choro, o
choro que estava guardado desde quando foi me dado o sedativo.
-
Sr. Cullen, eu acho melhor o senhor sair agora, o estado dela é delicado e ela
não pode se estressar. - o médico disse com uma voz baixa, porém clara e limpa,
eu podia através das lágrimas, ver como os punhos dele estavam cerrados.
-
Não, claro que não, ela é minha esposa e eu só vou sair daqui quando... -
-
Quando ela quiser. - o médico foi enfático e o cortou. - Ela é minha paciente,
e como responsável pelo estado de saúde dela nesse momento, eu afirmo que a sua
presença aqui não é benéfica, eu preciso que o senhor se retire ou eu terei que
chamar a segurança, o que nesse momento seria imprudente da sua parte para com
a sua esposa, além de um grande escândalo claro. - ele disse aquilo com um
olhar frio e mortal.
-
Você por um acaso sabe quem eu sou... -
-
Sim, eu sei... O senhor é o esposo da minha paciente, que nesse momento não te
quer no quarto dela, então ou o senhor sai por bem, ou sair por mal, o senhor
decide Sr. Cullen, vai querer armar um circo com a sua esposa nesse estado? -
-
Isso não vai ficar assim – foi à última coisa que eu ouvi antes de da porta do
quarto ser fechada com certa violência, e choro veio ainda mais forte.
-
Sra. Cullen eu realmente preciso que a senhora se acalme nesse minuto, o seu
marido já não esta mais dentro do quarto, nós precisamos conversar e esse
estado não faz bem para a senhora e muito menos para o bebê, então, por favor,
se acalme e converse comigo sim – ele disse segurando minha mão e olhando nos
meus olhos, ou pelo menos tentando, já que pelo choro eu não conseguia enxergar
um palmo diante do nariz. Eu fechei os olhos e assenti com a cabeça, e tentei
respirar fundo, nas primeiras vezes não fez efeito nenhum, porem depois da
quarta ou quinta tentativa eu já conseguia respirar com mais facilidade e os
soluços que até aquele momento eu não tinha notado, se enfraqueceu. - Isso,
assim mesmo, respira mais um pouco- ele fez um carinho de leve na minha mão
direita que só naquele momento eu percebi que tinha um acesso para um soro,
depois de mais algumas tentativas o choro cedeu e os soluços eram apenas leves
tremores no meu corpo, o Dr. Pegou uma cadeira no canto do quarto e colocou do
lado da minha cabeceira, ele se sentou, juntou uma mão na outra e respirou
fundo - Srª Cullen... -
-
Bella - eu falei com a voz rouca.
-
O que... -
-
Pode... - eu limpei a garganta e tentei falar novamente - Pode me chamar de
Bella. -
-
Certo, então, Bella - ele puxou outra respiração funda e soltou devagar – Eu
infelizmente não sei como começar esse assunto com você, eu realmente só
preciso que você se mantenha o mais calma possível para que eu não tenha que te
sedar novamente tudo bem? - eu lentamente assenti com a cabeça - Okay, então,
no momento você esta sentindo alguma dor? - eu neguei com a cabeça
-
Só sede - eu disse ainda com dificuldade, pois minha garganta estava seca.
-
Me perdoe, eu esqueci completamente de te dar água - ele se levantou e foi
novamente até a mesma mesinha no canto e pegou um copo de água trazendo até mim
– Eu vou subir sua cama para que você possa se sentar - ele pegou um controle
remoto que tinha ao lado da cama e apertou algum botão, devagar eu senti a
parte superior da cama se levantar, até que eu estava "sentada", ele
deu o copo na minha mão e sentou novamente na cadeira. - Beba devagar tudo bem?
- Eu assenti com a cabeça e dei pequenos goles na água. Minha boca estava seca,
e minha garganta ardia, parecia que eu tinha engolido areia. Bebi até não
restar mais nada no copo.
Às
vezes a gente passa por traumas na vida, e só nos damos conta do tanto da sorte
que tivemos quando cai a ficha, até aquele momento, bebendo agua, sentada, eu
me neguei a pensar em tudo o que eu passei antes de me sedarem, eu me neguei a
lembrar de cada maldito segundo do tormento que eu passei, mas ali, com aquele médico
que sabia da minha perda, ali eu não aguentei.
-
Oh meu Deus. – o soluço veio forte e o
copo caiu no chão. - Oh meu Deus, eu... Eu... eee-eeu.... - e sem mais eu dei
vasão ao choro, e espasmos consumiram o meu corpo.
"eu
perdi um filho" era a única coisa que eu conseguia pensar
-
Bella, eu preciso que você se acalme – o médico levantou e segurou minha mão, e
sem pensar no que eu estava fazendo, simplesmente porque eu precisava de um
abraço, ou de um amparo, eu passei um braço em torno dele e o apertei em um
meio abraço - shiiiii, eu sei que dói, mas você precisa se acalmar- ele disse
passando uma mão no meu cabelo e a outra em volta da minha cintura.
Mas
o que eu não queria era me acalmar, eu queria continuar chorando, colocando
minha dor pra fora, eu precisava, e quanto mais o choro vinha, mais forte
ficava o meu enlace na cintura do médico.
-
Bella, eu sei que faz bem chorar, mas você precisa se acalmar, seu coração
acabou de passar por um esforço muito grande, então tenta respirar melhor,
ofegar desse jeito só vai piorar seu estado – ele me afastou, segurou minhas
mãos e olhou dentro dos meus olhos. – Eu sei que esse momento é difícil, e sei
que você queria poder pelo menos sentir a sua dor como qualquer outra mãe, mas
você precisa saber de algumas coisas tudo bem? Eu preciso te atualizar sobre
seu estado clinico e eu preciso que você preste muita atenção tudo bem? - eu
balancei a cabeça, os soluços não diminuíram, e as lágrimas corriam
silenciosas, eu simplesmente tinha perdido o controle, fechei meus olhos com
força e tentei respirar fundo, eu precisava saber o que tinha acontecido, mas o
principal, eu precisava saber o que iria acontecer, eu estava me sentindo em
algum episódio de uma série de tv, bizarra e mal feita, não me lembrava de
nada, e tinha recebido a pior notícia da minha vida, aos poucos os soluços
diminuíram, porém as lágrimas não, elas estavam ali, presentes como se fosse um
lembrete silencioso de que a partir daquele momento, tudo na minha vida, seria
dor, ele sentou novamente na cadeira na lateral da minha cama, respirou fundo e
apoiou os cotovelos no joelho, sustentando a cabeça - Certo, então vamos pelo
início okay? - ele disse olhando nos meus olhos. – Eu preciso que você me diga
exatamente o que você se lembra. -
Eu
me encostei-me à cama, respirei fundo algumas vezes e puxei tudo aquilo que eu
tinha passado naquela manhã ou seria no dia anterior? Eu olhei no relógio
próximo a porta e já eram quase 17:00 horas?
-
Quanto tempo eu apaguei? - foi à primeira coisa que eu consegui perguntar
depois de alguns minutos em silencio
-
Estamos a 15 minutos de completar 24 horas – ele disse olhando em seu relógio
de pulso. - O que de certa forma me surpreende, eu achei que você iria dormir
até amanha. – ele suspirou e passou a mão no cabelo, se levantou e sentou no pé
na minha cama próximo a minha perna. –
Bella, eu sei que é difícil e talvez você nesse momento não queira, mas eu
preciso que você me conte. -Fechei meus olhos tentando puxar o que exatamente
eu me lembrava, minha cabeça ainda era confusão total, minha língua estava
pesada e tinha gosto de metal na boca.
-
Eu me senti mal de manhã, lembro-me de sentir algumas dores fortes, como se
fossem cólicas, e muita dor de cabeça, só me lembro de chamar um transporte, e
a partir dai a cosia fica bem confusa. - sim eu me lembrava de entrar no carro
com ajuda, e me lembrava de sangue, mas era só.
-
Certo. - ele respirou fundo mais algumas vezes, entrelaçou os dedos das próprias
mãos, e ficou batendo o polegar na coxa por alguns segundos, olhando para um
ponto fixo no chão - Nos seus exames foram encontradas taxas elevadas de álcool
no seu sangue, eu como profissional devo te perguntar se você consumiu isso de
livre e espontânea vontade, ciente do seu estado, ciente de que estava grávida?
- ele terminou de perguntar e olhou nos meus olhos
"Ciente
de que estava grávida"
"Ciente
de que estava grávida"
"Ciente
de que estava grávida"
"Ciente
de que estava grávida"
"Ciente
de que estava grávida"
Novamente
aquela sensação de esmagamento voltou com força, assim como as lágrimas, que
antes que escorriam de uma forma lenta, agora estavam correndo sem que eu
pudesse manter os olhos abertos. Eu estava grávida. Estava grávida e não sabia.
Estava grávida e tinha ingerido bebida alcoólica. Eu estava grávida, e agora
tinha sofrido um aborto, perdi um filho antes mesmo de saber se quer que ele
existia. Com vergonha de mim mesma, abaixei a cabeça e apertei uma mão na outra.
-
Eu não sabia que estava grávida. – a minha voz não passava de um sussurro
tremido. - Eu bebi de livre e espontânea vontade, mas não sabia que estava grávida...
- levantei a cabeça e perguntei aquilo o que estava me incomodando. – Eu estava grávida de quanto tempo? - e como
se a resposta dele fosse me machucar ainda mais, eu abaixei novamente a cabeça
e cravei as unhas nas palmas da minha mão, mordendo a parte interna da minha
bochecha.
-
Você está grávida de nove semanas Bella. – ele falou de forma lenta e calma.
"Você
está grávida de nove semanas"
"Você
está grávida de nove semanas"
"Você
está grávida de nove semanas"
Eu
estava grávida há três meses e não tinha percebido. Como uma mulher fica
grávida por três meses e não se dá conta?
-
Estava grávida de três meses e não percebi, como eu consigo ser tão burra? -
perguntei pra mim mesma em voz baixa.
-
Olha, é normal isso acontecer, algumas mulheres não prestam atenção ou não tem
os sintomas comuns de gravidez, apesar de não ser tão comum, não compromete o
andamento da sua gestação. - Não
compromete o andamento, dei uma risada sarcástica, claro que não, eu era um
perigo pra mim mesma, eu tinha matado meu próprio filho, por conta de uma
bebida, eu era tão ridícula, que nem isso eu conseguia, ter uma gestação
normal.
-
Certo, não foi isso o que comprometeu a minha gestação, eu entendi, não muda o
fato de que eu perdi meu filho, Deus, eu sou tão ridícula, nem uma gravidez eu
consigo levar a diante – a magoa contra mim mesma era gritante na minha voz,
mas eu precisava extravasar, eu queria gritar, eu queria chorar, eu queria
morrer.
-
Ham... Bella, eu acho que eu não fui muito claro com você, me perdoe por isso,
você estava grávida de gêmeos. - nessa hora eu ofeguei... Senhor, eu não perdi
um só, eu tinha perdido dois, era isso mesmo? Eu era um monstro, eu tinha
perdido dois – Antes de você continuar qualquer pensamento, eu preciso que você
se acalme, e me escute, você não perdeu os dois, perdeu apenas um – nesse
momento ele levantou e foi até a máquina que monitorava os meus batimentos
cardíacos, que só naquele segundo eu vi que tinha aumentado drasticamente - Nós
precisamos levar essa conversa adiante então por favor, não me faça te sedar,
se acalme. - Eu estava congelada, as lágrimas ainda corriam soltas, eu estava grávida
ainda? Era sério? Eu não tinha perdido os dois? Ainda tinha um serzinho dentro
de mim?
-
O... O senh... oor, está me dizen...do, que eu... ainda... to gra...gravi... grávida?
- eu tentei falar, mas o bolo na minha garganta não permitiu que a frase saísse
tão coerente, mas por incrível que pareça ele me entendeu e acenou com a cabeça
de forma positiva – oh meu Deus – eu ofeguei e levei uma mão até a minha
barriga, eu estava grávida, eu ainda estava grávida – Mas..... Como é possível?
Quero dizer, como eu perdi um e o outro não? Ele vai ser saudável? Ele vai – eu
comecei a falar freneticamente e antes que eu desse por mim já estava inclinada
em direção a ele e segurando na sua mão
-
Primeiro de tudo eu já pedi, mas vou ter que pedir novamente, se acalme
Isabella, eu vou te explicar tudo, mas só se você permanecer calma, eu sei que
essa é uma situação difícil de manter a calma, mas eu vou te falar tudo o que
você precisa saber, okay? - ele apertou minha mão de uma forma reconfortante e
se sentou novamente próximo a minha perna – Antes de qualquer coisa você
precisa entender que foi um milagre você não ter sofrido um aborto dos dois
bebes, A morte fetal única, em gestação gemelar, é uma complicação rara,
variando a taxa de incidência entre 0,5% e 7%. Dados da literatura referem uma
taxa de incidência entre 2,6% e 6,8%, quando referida ao segundo e terceiro
trimestres. Apesar de ser raro, não afetou em nada o crescimento do outro bebe,
você estava grávida de gêmeos bi vitelinos, quando eles são gerados
separadamente, o que nesse caso foi o que ajudou, eu tentei fazer de tudo para
salvar os dois, mas infelizmente você já deu entrada no hospital em um estágio
avançado do aborto, me desculpe por não ter conseguido fazer mais. - Eu não
conseguia pensar em nada, minha mente estava vazia, e em um ato de desespero eu
me joguei nos braços dele e o apertei bem forte.
-
Obrigada, muito obrigada, muito obrigada- era a única coisa que eu conseguia
ficar repetindo, eu ainda teria um dos meus bebes comigo, apesar da minha
imprudência, um dentro de mim ainda estava a salvo.
-
Não precisa me agradecer nada, mas as coisas se complicam um pouco mais a
partir daqui – ele me separou dele e se sentou reto - Você tem uma gravidez de
risco, não por conta do aborto, mas sim porque você tem pré eclampsia Bella,
sua pressão estava em níveis alarmantes quando você deu entrada, foi isso que
ocasionou o início do aborto, como eu já tinha te explicado antes, mas acho que
devido ao choque a senhora se esquecei da nossa conversa, eu vou ter que te
explicar tudo de novo, você teve uma parada cardiorrespiratória e um começo de
infarto, o que na sua idade é algo totalmente complicado, que foi agravado pelo
álcool e pela eclampsia , nós quase a
perdemos – ele finalizou segurando novamente a minha mão - Quando eu peço pra
você se acalmar toda hora, pode parecer chato e repetitivo, mas é porque você
está em um quadro complicado agora. Você entende que daqui, até o final dessa
gestação a senhora não pode de forma nenhuma se estressar? Entende que qualquer
nervoso pode te levar a morte ou a morte do bebe? - Por mais louco que pudesse
parecer, eu não estava nem ai por ter tido uma parada, não estava nem ai por
ter tido um começo de infarto, eu queria saber do meu filho, somente dele.
-
Certo, eu entendi, mas Dr... - naquele momento eu vi que nem o seu nome eu
sabia – me perdoe mas eu esqueci seu nome. -
-
Paul, Paul Lancaster – ele disse dando um sorriso bonito.
-
Okay Dr Paul, e o meu estado de saúde, afeta diretamente a minha gestação? Eu
quero dizer, o fato de eu estar com um coração mais fraco, compromete no que a
minha gestação? - eu só queria que ele me disse-se que nada, eu queria que ele
me disse-se que eu teria apesar de tudo, uma gestação tranquila e calma.
-
Olha Bella, vou ser sincero okay? Você precisa se cuidar e muito, do que jeito
que as cosias estão, o seu corpo pode não aguentar a gestação e você pode vir a
falecer, eu sei que é difícil o que eu vou dizer agora, mas, você precisa
pensar em você também, mesmo que você não tenha nada agora, no momento do parto
pode haver alguma complicação e a senhor vir a falecer, então eu sou obrigado a
perguntar, se a senhora falecer, quem vai cuidar do seu filho? - ele terminou
olhando dentro dos meus olhos e se levantando da cama – Bem, ficou mais alguma
dúvida que a senhora tenha? - Eu só consegui negar com a cabeça.
-
Certo, eu preciso chamar uma enfermeira pra te dar seus remédios, fazer um
ultrassom e te dar um banho, sem contar que o seu marido quer te ver e...
-
Eu não quero vê-lo. - era a única coisa que eu conseguia pensar, se eu cheguei
até aqui, a culpa era dele, se ele fosse um bom marido nada daquilo teria
acontecido, se ele fosse um bom marido ele teria visto que eu não estava bem de
saúde há alguns dias, se ele fosse um bom marido, nesse momento nos estaríamos
comemorando uma gestação de gêmeos, e não se preocupando com a minha quase
morte, e a perda de um dos bebes, não, eu não queria ele perto de mim nesse
momento, ele representava tudo aquilo o que me fazia mal, e nesse momento eu precisava
de tudo o que me fizesse mal, longe de mim. - O Senhor disse que eu preciso
ficar calma, que não posso me estressar nesse momento, que é perigoso pra mim e
para o bebê, certo?- ele acenou positivamente com a cabeça - Então o mantenha o
mais longe possível de mim, se ele entrar nesse quarto, eu vou me estressar, eu
vou chorar, e vai me fazer mal, então, por favor, Dr, não me deixa perder mais
um filho? Eu não vou suportar – ele estava em pé, em frente à minha cama com
uma cara de assustado.
-
Certo... Eu entendi, mas não vai ser uma coisa fácil, o seu mar...
-
O meu marido pode ser uma troglodita quando ele quer, sim eu sei disso, mas eu
preciso que você o mantenha longe de mim nesse momento, fala que eu estou
sedada, que ele não pode entrar, invente qualquer desculpas, ou fale a verdade,
que eu não quero ver a cara dele, mas não o deixa entrar aqui, quando eu
estiver de alta, ai sim eu irei conversar com ele, antes disso não, preciso de
um tempo pra saber o que eu vou fazer da minha vida a partir de agora- a única
coisa que eu conseguia pensar nesse momento, era que eu iria ter que escolher
entre a vida do meu filho e a minha, ou
o meu casamento falido, e não era muito difícil imaginar qual estava
ganhando nesse momento.
-
Irei fazer o possível, eu prometo, agora descanse. - sem mais uma palavra ele
saiu do quarto. - Eu encostei a cabeça no colchão que ainda estava inclinado me
mantendo sentada, levei minha mão até a minha barriga e fiz uma prece baixinha.
"Senhor,
por favor, me permita levar essa gestação até o fim sem mais problemas, amém”. Eu
queria esse filho, queria mais que tudo, ele iria ser a minha companhia de
agora em diante, não deixaria a família doente de Edward chegar perto dele,
muito menos aquela megera maldita da mãe dele, não, isso nunca. Peguei o
controle da cama que estava próximo a minha cabeceira e deitei a cama, fechei
os olhos e virei de lado na cama, fiz um carinho na minha barriga e uma
promessa ao meu filho.
"Ninguém
vai te machucar bebê, eu prometo isso”. E sem que eu percebesse estava
novamente chorando baixinho pela perda do outro bebe, isso seria algo que eu
iria levar para o resto da minha vida, pode ser que a pré eclampsia tenha
influenciado, mas se eu não tivesse bebido nada disso teria acontecido, e ali
eu deixei a dor se fazer presente e chorei até pegar no sono, com uma mão na
barriga e a outra no peito.
Sete dias depois
E
assim se passou uma semana entre exames, banhos na cama e conversas com o Dr
Paul Lancaster e claro, a companhia permanente de Alice. Ela estava sendo
naquele momento uma irmã pra mim. Quando o Dr voltou com a enfermeira, me
informou que já tinha conversado com o meu digníssimo marido e que a orientação
tinha sido clara, ele deveria ficar longe de mim, por exigência minha e dele,
se ele insistisse em usar de força, iria comunicar a segurança do hospital e a
imprensa se fosse necessária, bom, com medo de um escândalo obvio, nesses
últimos sete dias não tive notícias suas. Assim que fui liberada para o horário
de visitas fui informada que tinham duas visitas para mim, e queriam saber se
eu autorizava a entrada. Essas visitas eram: Alice, e Jacob, que eu descobri
depois, foi quem me trouxe ao hospital e vinha todo dia até aqui para saber do
meu estado. Era claro que o médico passou meu quadro para eles, em nenhum
momento eles fizeram perguntas difíceis, mas claro, não posso deixar de dizer
que sim, teve episódios de choro aonde no fim eu acabei sedada.
E
hoje, graças a Deus, depois de uma semana, sem poder andar mais que uma ida ao
banheiro, eu estava finalmente de alta. Sim, eu estava liberada para voltar
para casa, mas a questão era, eu queria voltar para casa?
Não,
eu não queria, nessa última semana eu tive muito tempo para poder amadurecer a
ideia do que faze, e tive mais certeza ainda quando ouvi o coraçãozinho dele
batendo forte em uma das ultras, ali eu tive toda a força que eu precisava.
-
Certo, já está tudo dentro das bolsas, agora eu vou arrumar esse seu cabelo que
esta uma tragédia, sabe, eu ainda não entendi o porquê você pintou de loiro,
não que não tenha ficado bom, mas ainda te prefiro morena - Alice tagarelava
sem parar enquanto terminava de arrumar minhas malas, malas essas que ela fez
questão de trazer no dia seguinte em que eu pedi pra ela ficar comigo aqui.
Terminei de colocar a roupa, uma calça jeans, uma camiseta, e uma bota. Ainda
não tinha traços de quem eu fui um dia, não conseguia me achar no reflexo que
eu via no espelho, mas já tinha tomado a minha decisão, eu iria atrás daquela
Bella, iria atrás daquela que eu fui um dia, iria pelo meu filho, ele merecia ,
merecia mais que uma mãe vivendo de aparências e bebendo quando não tinha
ninguém olhando, merecia mais que competições diárias de quem era melhor que
quem, quem tinha mais nome, quem tinha mais poder, não, meu filho merecia ter
uma vida como aquela que eu tinha quando vovô ainda era vivo e me garantia meus
momentos como criança normal, seriam momentos como aqueles que u queria que meu
filho tivesse, e assim, como a Outra que eu me tornei seria impossível. A
partir daquele momento eu não era mais única na minha vida, mas dessa vez era
de uma forma boa, era eu e o meu bebe, contra tudo e todos. Terminei de prender
o cabelo e sai do banheiro.
-
Bem, então somos duas que preferem o meu cabelo na cor natural, vou falar com o
Dr Paul e ver se eu teria como pintar o meu cabelo. -
-
Você está incrível, nem parece que ficou uma semana sem ver a luz do sol
trancafiada nesse quarto, quando sairmos daqui, eu vou te levar pra comer e nós
iremos para... -
Antes
que ela pudesse completar a frase ouvimos uma batida na porta. Toda vez que
alguém batia na porta meus pelos se arrepiavam com medo de que fosse o Edward,
medo que tivesse chegado o momento em que eu iria enfrentar ele de frente, sem
mais mentiras, sem sorrisos falsos, sem mascaras, só o Edward e a Bella.
-
Pode entrar – eu falei alto sem me mover um só centímetro.
-
Como vai a minha paciente favorita? - o Dr Paul entrou no quarto com um sorriso
no rosto e alguns papéis em suas mãos- Eu espero que bem, porque aqui estão os
papeis da sua liberdade. Eu sorri e balancei a cabeça
-
Estou ótima, mas não me mime tanto, irei sentir falta dessa mordomia toda que
eu tenho aqui, e apesar de gostar muito do atendimento, não vejo hora de ir
embora.
-
Uau, desse jeito eu vou começar a achar que não fui um bom médico – ele disse
rindo no final e indo até a mesinha que tinha ali próximo a cama.
-
Você sabe que foi incrível e eu terei uma dívida eterna com você Dr- fui ate
onde ele estava e dei um abraço nele. Sim, nós tínhamos nos tornados amigos,
ele era uma pessoa incrível e me fez companhia quando Alice não podia.
-
Você sabe que não precisa me agradecer, eu só fiz o que eu tinha que fazer.
Certo, então vamos lá. Aqui está a receita com o s medicamentos que você vai
precisar tomar até você começar o seu pré natal, aqui estão os exames que você
precisa levar para o seu obstetra, eu até me indicaria para fazer o seu pré
natal, mas eu estou voltando para os Estados Unidos dentro de 2 semanas, então
vai ficar difícil acompanhar sua gestação.
-
Bem, não seja por isso, eu estou me mudando para lá até no máximo semana que
vem, você vai poder....
-
VOCÊ O QUE? - eu ouvi a voz atrás de mim, na porta do quarto, aquela voz que um
dia era o som que eu mais amava ouvir, e hoje, bem, hoje eu queria o máximo de
distância possível. - Como assim se mudar para os Estados Unidos? Ficou louca
Bella? Você sabe que a gente não tem como se mudar pra lá. -
Eu
ainda estava de costas quando ele terminou de falar, me virei devagar pra ele e
o vi na metade do quarto já, totalmente alinhado, barba bem-feita, terno com
corte impecável, a única coisa que estava na desordem era o seu cabelo, mas
isso sempre foi. Ali foi bem aparente que nessa semana, não fiz nenhuma
diferença pra ele, dava pra perceber que ele tinha dormido bem, que tinha descansado,
e pensar que se fosse o contrário eu estaria um lixo nesse momento, preocupada
com ele, sem dormir, sem comer, sem viver.
-
Será que vocês poderiam nos dar licença? Eu Preciso conversar com ele a sós. -
-
Certo, qualquer coisa pode nos chamar – O Dr disse ao passar por mim e me
entregar os papeis que estavam antes em suas mãos.
-
Bem, melhor eu ir levando essas malas para o carro – Alice foi até a cama e
pegou as duas malas que estavam ali.
-
Alice, o Jacob já chegou? - eu perguntei sem olhar pra ela, ainda encarando meu
futuro ex marido.
-
Sim, ele esta lá fora. -
-
Ótimo, pode levar as malas para o carro dele. -
-
Isabella o que. - ele tentou falar. Virei a cabeça pra ela e dei um sorriso sem
graça.
-
Eu preciso somente ter essa conversa e nós já vamos okay? -
-
Okay – ela disse e saiu do quarto fechando a porta
-
Será que você poderia, por favor, me explicar o que está acontecendo? Como
assim mudança e porque levar as malas no carro do Jacob, eu vim com o meu, eu
não... - Eu fui até a cama, abrindo o máximo de distância possível dele, e me
encostando respirei fundo, fechei os olhos e contei até 10 mentalmente.
-
O que foi? Você ta passan... -
-
Eu estou indo embora . – abri os olhos e olhei pra ele que me encarava confuso.
-
Sim, eu sei, você já está de alta, foi só por isso que me deixaram entrar, o
que aliás até agora eu não
entendi, porque você proib... -
-
Não, Edward, eu estou indo embora da sua vida, vou embora para os Estados
Unidos, sozinha. -
Ele
ficou mudo quando eu disse isso, a cor do rosto dele sumiu, e ele congelou no
lugar, depois de algum tempo que eu não sei dizer qual, em que eu fiquei
encarando ele, ele passou as mãos no cabelo e foi até a janela.
-
Como assim indo embora Isabella? - ele perguntou depois de um tempo.
-
Eu quero o divórcio Edward - soltei por fim em um fôlego só.
-
Como é? - ele virou rapidamente na minha direção - Eu escutei certo? Você falou
divórcio? -
-
Sim, você não está ficando surdo Edward, eu quero o divórcio, quero ir embora,
vou cuidar da minha vida – disse firme e mantendo o contato visual com ele.
-
Você só pode estar brincando comigo certo? - ele travou o maxilar e manteve os
lábios em uma linha fina.
-
Não Edward, eu não estou brincando, aliás, nunca falei tão sério na minha vida
- cruzei os braços e me apertei o máximo possível.
-
Você não pode simplesmente jogar nosso casamento no lixo - ele tinha as mãos
apertadas em punho próximo ao corpo
-
Não, eu realmente não posso. - engoli em seco - Não posso, porque você já fez
isso. -
-
Do que você est... -
-
Por favor, não se faça de burro, eu estou falando da sua amante, da Tanya. - E
novamente eu vi a cor sumir do rosto dele.
-
O que... Como... Do que... -
-
Não me venha com essa conversa fiada Edward, eu sei que vocês já são amantes há
algum tempo. -
-
Eu não sei do que... -
-
NÃO TENTA ME FAZER DE IDIOTA EDWARD. - eu perdi a paciência e gritei. - VOCÊ
ESTA TENDO UM CASO COM A PORRA DA TUA COLEGA DE TRABALHO, SIM EU SEI DISSO. E
NÃO, NÃO É DE HOJE. - fechei os olhos e respirei fundo, eu não podia me
estressar, pelo bem do meu filho.
-
Olha, eu não sei de onde você... - ele começou a passar as mãos nos cabelos
freneticamente, não o deixei terminar de falar.
-
Eu tirei isso da boca dela, tirei isso das suas roupas com o cheiro dela, tirei
isso das suas mentiras, tirei isso dos compromissos intermináveis que você tem,
tirei isso do fato de você mal me tocar – eu falei segurando as lágrimas que
queriam escorrer pelo meu rosto, não, eu não choraria por ele, mais nenhuma
vez, principalmente na frente dele.
-
Quem te falou isso Bella? A Tanya? Você não pode simples... - ele veio andando
em minha direção e eu me afastei do toque das mãos dele
-
Ninguém me falou nada, fique tranquilo que ela não fez de proposito – eu
abaixei a cabeça e olhei para os meus sapatos, o bolo na garganta veio com
força - Eu li uma mensagem no seu celular que ela te mandou, dizendo o quanto a
noite de vocês tinha sido boa e o quanto ela estava sentindo a sua falta dentro
dela. - minha voz no final parecia fria e vazia, mordi os lábios pra tentar
ajudar a controlar o choro.
-
Você mexeu no meu celular Isabella? Quando foi que chegamos ao ponto de... - Levantei
a cabeça com raiva, ele iria jogar a culpa pra cima de mim? Ele não iria fazer
eu me sentir a culpada, não dessa vez.
-
Não me venha com chegamos ao ponto, eu sou sua Esposa, a partir do momento em
que eu não tenho o direito de se quer olhar o seu celular é porque alguma coisa
vai realmente mal – fui para perto da janela, e soltei o ar audivelmente –
Edward, vamos ser sensatos, você negar não vai ajudar em nada. Seja o homem que
eu conheci e assume os seus erros, assuma os seus atos, o nosso casamento está
falido. Acabou. - Eu olhava fixamente para a vista do jardim que tinha logo
abaixo, na entrada do hospital, passaram vários minutos sem que ninguém
dissesse mais nada.
-
Eu não queria que você soubesse assim – ele disse por fim em uma voz baixa.
-
Não? E como você queria que soubesse Edward? - eu me virei pra ele e ele estava
com a cabeça baixa – Eu iria receber um memorando? Algo escrito "A partir
desse momento torno oficial meu relacionamento extraconjugal? Ou melhor, já sei
que tal, um e-mail me informando as datas e horários de escala entre mim e
ela?" - sim, eu estava sendo debochada, mas preferia agir assim a chorar e
me mostrar fraca, não, nunca mais eu seria a fraca da história.
-
Bella, também não é assim – ele disse se aproximando de mim novamente querendo
me tocar.
-
É assim sim Edward – eu disse me afastando dele novamente e levantando as mãos
de modo defensivo, caminhei para perto da porta - Você nunca nem fez questão de
esconder, não direito pelo menos. -
-
Não foi de propósito Bella, eu não previ que isso iria acontecer, você acha que
era isso o que eu queria pra gente? Acha que estava nos meus planos arrumar uma
amante como... -
-
Como minha mãe disse que faria? Como o seu pai fez? Hem?- eu cheguei mais
próximo dele, a raiva, a magoa, o rancor, tudo fluía por mim, eu sabia que a
partir daquele momento, não teria mais volta, a partir daquele momento, seriam
ditas palavras que machucariam, tinha sido aberta uma comporta, e por ela,
passariam anos de magoas - A MINHA MÃE ESTAVA CERTA EDWARD, ELA ME AVISOU QUE
TUDO ISSO IRIA ACONTECER, ELA PREVIU CADA MALDITO PASSO SEU, CADA PORRA DE
ATITUDE, ELA SABIA QUE VOCÊ IRIA SE TRANSFORMAR NESSE CRETINO IMBECIL, SEU BABACA
DE MERDA – eu gritei, gritei sem me importar com quem estaria escutando, sem me
importar com o ar que começou a faltar no meu peito – Eu larguei minha
faculdade Edward, larguei meus pais, meu país, meus amigos, A PORRA DA MINHA
VIDA TODA, pra que? Pra na primeira oportunidade você enfeitar minha cabeça com
um par de chifres? Era assim que você dizia que me amava? ISSO QUE É AMOR PRA
VOCÊ PORRA? Por que, se é, você é um doente. - Eu não estava me sentindo bem e
isso era um fato, me aproximei da cama novamente e me apoiei nela, eu já tinha
começado, e iria até o fim daquilo, chega de sofre, chega de ser pisada, chega
de não se eu mesma, chega de não ser a única.
-
Eu te pedi? - ele se virou pra mim com raiva nos olhos - Em? Pedi qualquer uma
dessas coisas? Pedi pra você anular toda a sua vida por mim?- balançou a cabeça
freneticamente negando sua própria pergunta - Não Isabella. Eu não pedi, a
única coisa que eu te pedi, foi pra vir pra Londres, o resto, você tomou a
decisão sozinha. Você se tornou outra pessoa Bella, alguém que eu não
reconheço, alguém fútil, alguém que só quer saber de eventos, roupas e cabelos,
você nunca foi assim, olha as nossa conversas, sobre eventos, festas, fulano ou
ciclano, você se tornou um espelho da minha mãe Bella, você se tornou aquilo o
que eu pedi pra você não se tornar. - ele terminou de falar passando a mão no
cabelo como se fosse arrancar e com a cara distorcida de raiva ou ódio.
Sim,
eu sabia daquilo, eu já tinha pensado naquilo, mas ouvir da boca dele, não
tornou a coisa melhor, eu tinha me tornado aquilo o que eu mais odiava, mas
será que eu tinha tido escolha? Será que com ele se tornando o espelho do pai
dele eu teria alternativa?
-
Então realmente tivemos um ótimo exemplo, porque no fim das contas, você é a
cópia perfeita do seu pai Edward. - a minha voz era baixa e rouca, eu já estava
começando a sentir um incomodo no peito e dor de cabeça - Nós nos tornamos
aquilo o que dissemos nunca nos tornarmos. -
Nesse
momento o rosto dele se contorceu em dor, sim, eu sabia que ele nunca, jamais,
gostaria de ser comparado com o pai dele, ele o odiava, odiava o que ele foi à
infância, odiava o pai que ele tinha sido, e eu sabia disso, sabia que se olhar
e ver o pai dele o machucaria.
-
Eu... Não... Ele... É... Eu... Sou... - ele gaguejou tentando falar algo que
nem ele acreditava
-
Vocês são iguais, não só na aparência claro, mas em tudo, você se tornou aquilo
o que você mais odiava Edward, queria que eu fizesse o que, só tentei evitar
uma coisa inevitável, eu mudei porque você mudou, você veio pra cá e nosso
inferno começou. Eu nunca deveria ter saído dos Estados Unidos, eu nunca
deveria ter largado a minha faculdade, eu nunca deveria ter largado a minha
vida por você, não valeu a pena. - Nós ficamos nos encarando por um determinado
momento sem pronunciar nenhuma palavra.
-
Bella, talvez se nós tentarmos... - ele veio novamente para perto de mim e
novamente eu me afastei dele, indo para perto da mesa onde tinha garrafa de
água.
-
Nós não vamos tentar mais nada Edward. - peguei a garrada de água e enchi um
copo pra mim, e comecei a beber lentamente. - Você consegue se lembrar do dia
do nosso casamento Edward? - minha voz era baixa, mas clara e audível - Você
consegue se lembrar de se ali você foi verdadeiramente feliz? Você se lembra da
porra dos votos que você me fez? E o que você disse no fim? - ele abriu a boca
para falar, mas eu não deixei ele continuar - Pois eu te lembro, " se um
dia nosso amor enfraquecer e tudo começar a dar errado, eu prometo a você que
irei me lembrar dos motivos que me fizeram te amar" então eu te pergunto
Edward, enquanto você fodia com aquela loira, você pensou nesses motivos alguma
vez? Em cada vez que você me magoou por chegar fedendo a ela, e de madruga,
você pensou em mim? - minha voz no fim já estava embargada. Ele novamente
abaixou a cabeça e olhou para o chão. - Olha Edward, essa conversa já deu o que
tinha que dar, eu estou deixando o caminho livre para você viver com a sua
amante em paz, eu tenho certeza que você não pensou em levar essa relação
escondida para sempre, então chega, acabou por aqui, vai ser feliz com ela –
doía como o inferno mandar o homem que eu tanto amei para os braços de outra
mulher, mas não tinha jeito, ele já não era mais meu.
-
Bella, eu não concordo com isso, sem contar que seria um escândalo enorme fazer
isso agora, deixa só eu fechar o contrato com os... -
-
Meu Deus do céu, cala a porra da sua boca. - eu fui até a porta do quarto e
abri com certa violência, já estava começando a sentir um incomodo no pé da
barriga, coloquei a mão ali num pedido silencioso para que nada acontecesse ao
bebe. - Saia da minha vida, você já causou estragos de mais, eu entreguei minha
vida pra você, mudei o meu jeito de vestir, o meu jeito de falar, de andar, até
a porra da cor do meu cabelo eu mudei por você caralho, e o que eu ganhei em
troca? FALA! Nada, nem respeito da sua parte, você quer que eu fique aqui, e
aguente essa nojeira toda grávida, para você poder fechar acordo com um bando
de advogados de merda engravatados iguais a você? - eu apontei para fora da
porta do quarto – Adeus Edward! -
-
Grávida? - ele perguntou num sopro de voz, totalmente pálido - Voc... Você... Está
grávida? - ele parecia em choque.
-
Inferno Edward, você nem se preocupou em saber do meu estado de saúde? É sério?
- se antes eu já estava com raiva, agora então, estava com ódio. - Só vai
embora, VAI EMBORA, por favor – minha cabeça que antes já estava doendo, agora
latejava. Eu me encolhi e encostei a cabeça na parede, merda, eu não podia
passar mal, não de novo, eu iria embora para casa hoje. Ele veio em minha
direção e antes que eu pudesse mandar se afastar, Dr. Paul Lancaster entrou no
quarto.
-
Desculpe interromper, mas os gritos de vocês já estão incomodando pacientes nos
quartos aos lados. - ele olhou para o meu rosto e deve ter visto algo que não
gostou – Isabella, você está se sentindo bem? - eu neguei com a cabeça - Droga
Bella, eu avisei que não podia se estressar, desse jeito o seu coração não vai
aguentar – sem que eu pudesse falar mais nada ele veio para perto de mim, me
pegou no colo e me levou até a cama, tirou o estetoscópio do pescoço e colocou
no meu peito, depois de alguns segundos ouvindo algo que eu presumi serem meus
batimentos cardíacos, ele colocou de volta no pescoço, pegou meu pulso e tentou
aferir minha pressão daquele jeito que só os médicos conseguem, usando um
relógio de pulso e os dedos – Droga, sua pressão está alta de novo, vou ter que
suspender a sua alta Bella, nada de viajar hoje assim, você perdeu um bebê, e
seu coração está fraco, já chega de extremos por hoje . -
-
Espera, aborto, coração fraco? Alguém pode me explicar o que está acontecendo
aqui? Eu estou perdido eu quero... -
-
Sr. Cullen eu preciso que o senhor espere do lado de fora, eu em alguns minutos
já irei falar com você. - ele apertou um botão perto da minha cabeceira e tirou
algo que parecia ser um interfone da parede. – Aqui é o Dr Paul Lancaster, preciso que
alguém venha até o quarto 315 nesse momento, a alta da paciente Isabella Marie
Cullen está sendo suspensa, preciso de material para fazer acesso IV e
aparelhagem de ecocardiograma fetal – ele escutou algo do outro lado da linha
balançou a cabeça - Okay, estou no aguardo – e desligou.
-
Olha, eu não vou sair daqui enquanto eu não souber o que está acontecendo –
Edward veio até próximo a minha cama – O que exatamente minha esposa tem? Ela
está grávida ou sofreu um aborto? Porque ninguém me fala porra nenhuma nesse
caralho de hospital? - ele já estava nervoso e elevando o tom de voz. - Eu
tenho o direito de saber o que está acontecendo com ela. -
-
Certo, Sr Cullen, sua esposa deu entrada no hospital sofrendo um aborto
espontâneo de uma gravidez de gêmeos, no meio do procedimento ela teve uma
parada cardiorrespiratória e um começo de Infarto – ele olhou para o Edward e
continuou - Sua esposa perdeu um dos
bebês e quase faleceu Sr Cullen, e no momento como médico a minha única
exigência foi que ela não se estressasse ou passasse por fortes emoções, e toda
vez que ela está próxima ao Sr é exatamente isso o que acontece, então se o
senhor não passar por aquela porta agora, eu serei obrigado a chamar a
segurança. - ele cruzou os braços e franziu a testa- então Sr Cullen, eu te
pergunto, o senhor vai sair por bem ou por mal? -
-
Já é a segunda maldita vez que você me afasta da minha esposa, isso não vai
ficar assim. – ele se virou para mim - Nós iremos conversar Isabella, você não
pode simplesmente me dar à notícia de que esta grávida e que vai embora, eu não
aceito isso, mas agora não é o momento – ele veio até mim, foi tentar dar um
beijo na minha testa e eu virei a cabeça para o outro lado.
Alguns
segundos depois que ele passou pela porta uma equipe de enfermeiros entraram no
quarto e em meio aos procedimentos que eu não prestei atenção em quais foram,
eu me perdi em pensamentos. Eu tinha certeza de três coisas.
1º
Eu seria mãe, e teria que dar a melhor vida possível para essa criança.
2º
Eu estava doente, e meu estado de saúde colocava em risco minha gestação.
3º
Me separar do Edward não seria tão fácil como eu pensei que seria.
Foi
o último pensamento que eu tive antes de sentir uma picada no meu braço direito
-
Eu vou te administrar um calmante Bella, pode descansar agora. - Dr Paul falou
pra mim.
Eu
não poderia estar mais certa...