Transilvânia – Romênia.
Inverno de 1579.
Narrador.
Já tinha se passado dois dias desde que Bella tinha chegado naquele castelo e ela não tinha voltado a ver Edward. Ela praticamente tinha ficado no quarto esses dois dias, os machucados estavam feios e no dia seguinte a sua chegada ainda saia um pouco de sangue, algo que foi prontamente limpo e refeito o curativo por Esme.
No primeiro dia de Bella no castelo, ainda sentindo dores ao andar, ela conseguiu dar uma pequena explorada no quarto. Era maior que o seu, isso era óbvio, aquele era um quarto de um castelo e não de uma cabana as margens da floresta. O chão era todo coberto por tapetes quentes e macios, a cama era quase três vezes maior do que sua anterior e o armário também, e o mesmo estava cheio com vestidos de tecidos e cores que ela não conhecia, mas eram de aparência macia e delicada.
No terceiro dia ela já sentia melhor e menos dores ao andar e achou que era um bom dia para sair do quarto. Como se tivessem sido feitos e comprados sobre medida, as roupas lhe serviram muito bem e os sapatos lhe cabiam perfeitamente. E ela saiu do quarto.
O castelo estava quente, nem parecia que era feito de pedra e que uma tempestade caía do lado de fora. Isabella estava extasiada, era a primeira vez dela em um castelo, na verdade era a primeira vez dela em algum lugar fora daquela aldeia. Ela olhava cada nuance e cada pedaço do castelo, era magnifico, ela estava distraída e nem havia percebido que estava andando de costas para ver as abobadas do teto e acabou esbarrando em alguém.
- Perdão. – pediu ao se virar e ver Edward parado calmamente e com um sorriso calmo nos lábios.
- Está tudo bem. Como você está? –
- Bem. Obrigada! – ele sorriu mais. – As perguntas serão feitas agora ou depois? –
- Depende. Eu acho melhor esperar a primavera. Assim caso você fuja correndo não morrerá por hipotermia, pelo menos. – brincou.
- Eu estou aqui há três dias depois que o senhor disse que é a besta da floresta, e eu não fugi… mal conseguia andar, mas isso são apenas detalhes! – ela também brincou e ele acabou rindo. – Sem falar que eu sequer tenho para onde ir! – deu de ombros e o tom de brincadeira sumiu.
- Eu já soube o que aconteceu. – suspirou. - Vem comigo! – ele se virou para seguir o mesmo caminho que ela estava fazendo. – Já comeu? – ela apenas assentiu. – Então venha. Em primeiro lugar, quero deixar bem claro que os sacrifícios nunca foram para mim! –
- Então? –
- Conhece o monte oposto ao desse castelo? –
- Eu nunca me afastei tanto da aldeia. – lembrou.
- Mas já o viu, é o monte mais alto da região. –
- Talvez. – ela deu de ombros.
- Sinceramente, Bella, eu não sei quem foi que começou com essa história de sacrifícios, eu nunca tinha sequer chegado perto daquela aldeia, e nunca ataquei ninguém na floresta. Eu sempre procurei longe, justamente para evitar isso. –
- Mas o que você é? –
- Não tem uma especificação certa, então eu nem sei direito! Besta bebedora de sangue, demônio bebedor de sangue… Certa vez um monge disse que o termo certo é vampiro, mas eu não sei! –
- E o que isso significa? –
- Entre aqui. – pediu abrindo uma porta e quando Isabella entrou, ela viu que era uma grande biblioteca. – Bom, respondendo a sua pergunta. – ele pegou um grosso livro antigo e colocou a sua frente, o abrindo. - O monge me contou que a criatura que me transformou, outrora era um mortal e general das legiões romanas, ganancioso, que conjurou um demônio das profundezas do inferno para obter o seu poder sombrio. – contou mostrando a ela os desenhos do mesmo livro que o monge tinha lhe mostrado há quase um século. – Contudo, o demônio enganou o homem, lhe garantindo o desejo, mas o preço era uma eternidade condenada às trevas da caverna, no monte próximo onde eu nasci, e onde ele permaneceria até achar aquele que o libertaria. – contou. – De qualquer forma, um vampiro, um demônio bebedor de sangue, uma besta bebedora de sangue, como quiser chamar, é uma coisa viva que tem a força de cem homens, a velocidade de uma estrela cadente, domínio sobre a noite e as criaturas dela, vendo e ouvindo através delas, feridas se curam, praticamente imortal, que sobrevive se alimentando da essência vital de criaturas vivas, ou seja, sangue! – ele parou e olhou para Isabella, para ver se ela iria fugir, mas não, ela olhava de forma atenta e curiosa para as imagens desenhadas.
- Esme também é uma… vampira? – perguntou sem jeito.
- Todos nesse castelo, com exceção de você, são! E quase todos, principalmente as mulheres, foram salvas dos sacrifícios que a sua aldeia fazia. –
- Minha… Minha mãe? –
- A sua mãe não tinha falecido no seu parto? –
- Bom, era o que meu pai tinha me contado quando eu era criança, mas depois que eu cresci, ele contou a verdade, que como todos estavam casando as filhas cedo para evitar serem as escolhidas, os anciões foram atrás da minha mãe, alegando que por ela ter… praticamente acabado de dar à luz a mim… -
- Qual era o nome dela? –
- Renée. Renée Swan. – Bella levou a mão ao pescoço, ao colar que havia ganhado do pai há alguns anos, onde tinha uma pequena pintura de sua mãe dentro do camafeu. Bella abriu o mesmo e lhe mostrou a pintura de sua mãe, feita alguns meses antes do casamento.
- Oh… Eu… Eu a conheci. Eu sinto muito… - suspirou. – Ela foi uma das não sobreviveu. –
- Não sobreviveu a que? –
- Todas as pessoas que estão aqui, Isabella, todas as mulheres no caso, elas passaram pelo mesmo que você. Só que não era sempre que eu conseguia tira-las daquela campina a tempo de elas não morrerem por hipotermia. Algumas escolheram se transformar, outras se recuperaram e resolveram ir embora para outro lugar longe da vila, e algumas, como é o caso da sua mãe, eu as trouxe, mas devido ao frio e a grande perda de sangue, não sobreviveu. – Bella olhou para a mesa de madeira a sua frente, por um momento ela sentiu esperanças. – Quando o inverno passar e se você quiser continuar aqui, eu te levo até o túmulo dela. –
- Eu sequer tenho para onde ir, e tampouco tenho para quem ir! – suspirou. – Mas eu não entendo. Se os sacrifícios não eram para o senhor… para quem eram? – questionou mudando de assunto.
- Eu não sei como começou esse boato de ter um vampiro pela região. Na verdade, no início parecia mais que eles estavam fazendo sacrifícios a um deus pagão, como se esperassem algo em troca do sacrifício, que o inverno passasse ou aliviasse e essas coisas. E quando as virgens não estavam tendo o efeito desejado, eles sacrificaram um homem. Foi o primeiro homem que eu transformei. Ensinei a ele a conviver e a controlar a sede, do mesmo jeito que eu fiz com todos nesse castelo, porém ele tinha ficado furioso com o ocorrido, ele queria vingança e eu disse que caso ele fosse atrás de vingança ele não seria bem vindo aqui. Então ele passou a habitar o monte Moldoveanu, o monte oposto a este. –
- Os sacrifícios são para ele? – Edward assentiu.
- Ele matou todos os aldeões e os que tinham ajudado a prendê-lo na campina e como eles apareceram com mordidas e sem sangue, o deus pagão se tornou um monstro que bebe sangue. Nós fizemos um acordo. A pedra do sacrifício delimita o território, ele não pisa da pedra para cá, e eu não piso da pedra para lá e quem pegar a mulher primeiro, faz o que quiser com ela. Não preciso dizer o que ele faz com elas… - sua voz morreu por alguns segundos. – Só que, eu passei, meio que a vigiar, quando eles faziam um sacrifício e salvava as mulheres antes e com raiva de mim, ele foi pegar quem ele queria na aldeia. – Imediatamente ela lembrou de Alexis, Cassandra e Donna, e das várias outras que sumiram durante esses anos. – Lembra que o seu pai ficou uns dias sumido? –
- Era o senhor no meu quarto, mandando eu voltar para cama. – ele apenas assentiu. – Como eu não via? –
- Domínio sobre a noite e todas as suas criaturas. – lembrou-a.
- Por quê? -
– Comigo dentro do seu quarto ele não iria atrás de você! – deu de ombros.
- Ele era o lobo que quase matou o meu pai. – Bella apontou entendendo a ligação. – Foi aqui que meu pai ficou. –
- Exatamente. –
- Por que no inverno? – ela questionou se sentando na cadeira ao seu lado, temendo que suas pernas falhassem. – Quer dizer, eu entendi o motivo dos sacrifícios serem feitos durante o inverno, mas porque ele só invadia a vila no inverno? – questionou quando ele se sentou na cadeira próxima a ela.
- Lembra que eu disse que nós somos praticamente imortais? – ela assentiu. – O sol nos mata. Nos queima até a morte. Inverno é a estação mais segura para sairmos a qualquer horário. Geralmente uma pessoa adulta nos deixa saciados por quase um mês, dependendo do tamanho dela e obviamente, não indo se alimentar logo no primeiro sinal de sede. Quem mora aqui, bebe para sobreviver, podendo controlar a sede por mais tempo e com alguns tentando experimentos e se alimentando mais de animais do que de pessoas. Dimitri, o outro vampiro, mata e bebe por prazer e não por sede. Só que durante todo o ano ele pega as pessoas que se embrenham na floresta e se perdem, são poucos já que tem apenas a noite para ir atrás delas, e durante o inverno, ele cai na esbornia. –
Bella ficou um pouco em silêncio tentando absorver tudo o que havia sido jogado em cima dela, ou melhor, tudo o que ela havia perguntado a ele, além de estar ainda tentando absorver o fato de que Edward tinha chegado a salvar a sua mãe e não tinha se recuperado. Mas por um momento, ela se pegava pensando, por que ele nunca mais voltou? Por que ele não disse quem ele era desde o início ou quando apareceu em seu quarto há quinze anos?
- Muita informação? –
- Por que não voltou? –
- Como assim? –
- O senhor apareceu em meu quarto no inverno de 64, apareceu de no de 65 e 66, por que não voltou? –
- Eu voltei. Só que você tinha entendido que quando ouvisse um grito era para continuar quieta na cama, em segurança, então eu não precisei falar mais nada. A última vez que eu passei as noites de inverno no seu quarto foi em 70, você já tinha quinze anos, era praticamente com essa idade que as garotas da aldeia estavam se casando, então achei melhor… não voltar! Dimitri também tinha entendido que não era para mexer com você. Pensei que estaria segura. Claro que, agora sabendo da morte precoce de seu pai e do que eles fizeram com você, vejo que eu me enganei! –
- Por que a mim? Por que não qualquer outra garota da aldeia? –
- Porque você é diferente. –
- Por que? – insistiu.
Ele não respondeu de imediato, não sabia ao certo como responder. Ele temia que ela estivesse ainda assustada devido o incêndio, devido aos ferimentos que os seus vizinhos cometeram e principalmente com uma parte da história que ele tinha contado. Edward levantou a cabeça e viu em seus olhos que ela estava ansiosa por essa resposta. E no fundo ele temia que aquela resposta a faria fugir.
Edward não respondeu, apenas se levantou e com um gesto simples com a mão pediu para que ela esperasse. Em segundos o seu corpo foi tomado por uma nuvem de morcegos, o que fez com que a Bella se sobressaltasse, e logo a nuvem preta saiu pela janela aberta, circundando o castelo até chegar ao seu quarto, voltando a sua forma humana e pegando o quadro na parede, se transmutando novamente em morcegos e voltou para a biblioteca.
- Por isso! – respondeu simplesmente entregando o retrato a ela, e como ele suspeitava, ela se assustou.
- Sou eu! –
- Tecnicamente, é a minha ex-noiva! –