terça-feira, 1 de agosto de 2023

Capítulo 9

 Isabella ficou mais alguns segundos ali abraçada a Anastásia, mexendo delicadamente em seus cabelos em uma tentativa de acalma-la. Bella sabia que o quanto a menina estava apavorada e assustada, era algo novo para ela, e ela sequer havia visto a magia da mãe, jamais iria pensar nisso. Com a voz tranquila e suave, ela começou a pedir, próximo ao ouvido da primogênita, para que se acalmasse. Que fechasse os olhos e respirasse fundo que tudo iria ficar bem. E ela começou a ouvir a respiração de Anastásia, que começou a respirar fundo, puxando e logo em seguida soltando o ar pela boca.

- Deixa eu ver, meu amor. – Bella afastou um pouco a cabeça da filha e viu que os seus olhos haviam voltando a cor original. – Pronto, passou! –

- O que foi isso, mamãe? –

- Depois a gente conversa sobre isso, pode ser? – Isabella abraçou a filha mais forte de novo, antes de lhe solta-la.

- Vem cá, minha princesa. – Edward chamou a filha, ele havia se agachado ao lado da esposa.

- Está chateado, papai? – perguntou receosa ao se aproximar dele devagar.

- Chateado? Claro que não, meu amor, eu estou bem feliz! – ele passou os braços pela cintura da filha, puxando-a para o seu peito. – Vou ter mais uma para dividir o posto de minha bruxinha temperamental! – comentou dando um beijo em sua bochecha.

- Que? – a pequena princesa perguntou confusa.

- Para com isso, Edward! – Isabella ralhou com o marido que riu. – Ignore o seu pai, depois nós conversamos sobre isso, pode ser? – Anastásia apenas assentiu. – Muito bem. Volte para a festa e vá brincar com as suas irmãs e qualquer coisa você procura a mamãe correndo, tá bom? –

- Tá mamãe! – Edward deu um beijo demorado na bochecha da filha antes de solta-la para que voltasse para o salão de festas.

- Você foi rápido, Jasper. – Bella comentou após Edward ter se posto de pé e estendido a mão para que a esposa se apoiasse para levantar.

- Alice me deu uma tapa quando viu, eu levei um susto! – admitiu fazendo Bella sorrir. – Já que está tudo bem, vou ver se as crianças ainda estão acordadas. – ele mal esperou uma resposta dos dois e voltou para dentro do salão.

- E agora? – Edward perguntou passando um dos braços pela cintura da esposa e puxando-a para mais perto dela.

- Eu vou deixar Anastásia se divertir na festa da irmã, e depois, amanhã, eu converso com ela. E agora começam os nossos problemas! –

- Quais? –

- Teremos uma criança de cinco anos aprendendo sobre magia e qualquer coisa que a assustar ou estressar, alguma coisa irá acontecer, sem falar que as outras três vão descobrir e querer que a magia apareça para elas também, e... Vem o maior problema, que foi o que causou uma tremenda separação entre eu e Jane. –

- O fato de ela não ter herdado a magia? – questionou e ela apenas assentiu.

- Eu nunca entendi exatamente o motivo de Jane não ter herdado a magia, do mesmo jeito que a sua mãe não herdou! Se são filhas da mesma mãe... – Bella suspirou. – Só que no meu caso com Jane, ela não teve a minha mãe para explicar as coisas para ela, teve apenas o meu pai, e ele a colocou contra mim... –

- E nós não iremos deixar isso acontecer, não vamos deixar ninguém ficar contra ninguém. –

- Teremos que mudar os horários de Anastásia, ela vai ter que passar um bom tempo comigo agora, principalmente no início! –

- Podemos... O que acha... Depois que Alice voltar a França e eu resolver os problemas da Webber e etc, podemos pegar as garotas e passar uns dias no campo, é mais vazio do que a corte. –

- É uma boa ideia. Não vamos lá desde que as gêmeas foram geradas! – comentou ela.

- Podemos também... Quem sabe... –

- Chega de filhos! – ela nem lhe deu oportunidade de continuar, e ele apenas riu. – Venha, homem, vamos voltar para dentro da festa. –

Os dois voltaram para dentro festa, e não demorou muito e as duas mais novas vieram, pedindo colo para os pais, com sono. Uma grande parte das crianças já estavam cansadas e com sono, elas haviam brincando desde o início da festa. Mal os dois colocaram as duas mais novas na cama, e as duas mais velhas chegaram querendo dormir também.

Já era bem tarde, as crianças estavam dormindo profundamente. Ao contrário do que Edward havia dito, de que, assim que a festa acabasse, eles iriam conversar sobre as visões que Bella havia dito. Eles estavam acordados, bem acordados, Edward estava sentado na cama e Isabella sentada em seu colo, de frente para ele, com uma perna de cada lado de seu quadril, e com o pênis de seu marido, duro, dentro dela. Ela tinha as mãos apoiadas nos ombros do marido, em busca de apoio para que ela pudesse se mexer contra o seu colo, já Edward, tinha um dos braços em volta do quadril de Isabella, e a sua outra mão estava apoiada em sua cabeça, com os seus dedos infiltrados entre os fios do cabelo da esposa.

Os lábios dos dois roçavam um contra o outro, já que eles não conseguiram se beijar, os gemidos dos dois atrapalhavam. Foram necessárias só mais algumas movimentadas dos quadris de Isabella contra o do marido, e ela gozou sendo seguida pelo marido.

- Eu te amo, minha bruxinha. – ele falou com a voz baixa e um pouco arfante e Bella apenas sorriu, lhe dando um beijo em seus lábios.

- Eu te amo, meu rei. – Abraçando o corpo da esposa mais forte contra o próprio, Edward deitou para trás na cama, trazendo o corpo da esposa consigo, unindo seus lábios aos dela, em um beijo calmo.

Na manhã seguinte, antes de os reis deixarem os quartos, Edward revolveu descobrir qual era o “problema” que a esposa tinha visto, ele esperou apenas que as criadas fossem embora, e se aproximou da esposa, que estava penteando o cabelo em sua penteadeira e ficou parado atrás dela, com os braços cruzados.

- O que foi? – questionou deslizando a escova pelos cabelos soltos.

- Eu quero saber qual é o problema que está se aproximando. – Bella suspirou. – O aniversário da Victoria já passou! – lembrou-a.

- Lembra de que eu disse que eu não vi ao certo qual eram os problemas, não lembra? – ele assentiu. – Pode ser qualquer coisa, desde uma seca até... –

- Até uma guerra, portanto, me diz o que você viu. – pediu.

- Eu vi discussões, basicamente isso, discussões bem calorosas. – apontou. – Não ouvi sobre o que, apenas vi. Vi sua mãe, você, alguns ministros e um homem que eu nunca vi na minha vida! – comentou. – Não há nenhuma menção sobre o que poderia ser a discussão ou em qual época iria ocorrer! –

- Como era esse homem que você nunca viu? –

- Um homem alto, com a pele morena... Eu tenho certeza que nunca vi esse homem na minha vida! – explicou. – De início foi só isso que eu vi, qualquer coisa diferente que eu veja, eu te falo. – suspirando, ele apenas assentiu. – Vais fazer o que agora? –

- Resolver o problema que a Webber criou. –

- Vou poder cortar a língua dela? – questionou e ele sorriu.

- Não, meu amor, eu não vou deixar você sujar as suas mãos. Irei conversar com ela e resolver esses problemas, e se por acaso ela continuar, você poderá arrancar a língua dela com todo o prazer do mundo. – ele garantiu se aproximando dela, e deu um beijo no topo de sua cabeça. – Eu vou resolver esse problema e daqui a pouco eu lhe procuro. –

- Tá bom. –

- Eu te amo.  –

- Eu te amo. – ele beijou o topo da cabeça de Isabella, e deixou o quarto que dividia com a esposa.

Mal a porta havia se fechado e ele pediu para o seu valete ir até os aposentos dos Webber e leva-los até o escritório de Edward, onde ele resolveria esse problema, ele sabia muito bem quem era a “panelinha” a quem Isabella se referia, do mesmo jeito que sabia que a líder dessa “panela” era a própria Webber, então ela iria começar a cortar o mal pela raiz. Ele chegou ao seu escritório, ele tinha alguns papeis para assinar ao longo do dia, e começar a resolver o que ele pretendia fazer com Anastásia. Seus dois valetes estavam parados atrás de sua mesa, esperando apenas pelas ordens que o rei lhe daria. A um, ele entregou um pergaminho que levassem até o joalheiro e o outro foi levar alguns papeis assinados aos seus ministros, e mal o segundo valete deixou a sala, e um guarda adentrou, após pedir permissão e anunciou que os Webber haviam chegado.

- Bom dia, majestade. – o lorde Webber atraiu a atenção do rei, que assinava outro papel.

- Eric. Bom dia... Bom dia lady Webber. –

- Bom dia majestade. –

- Desejava falar conosco? –

- Sim, Eric, sentem-se. – mandou pegando um papel dentro de sua gaveta.

- Antes que comece, majestade, eu gostaria de pedir desculpas. Eu conversei com a minha esposa e queria já pedir desculpas antecipadas pelos boatos que inventaram sobre ela e... –

- Está dizendo que a minha esposa e a minha filha são mentirosas, Eric? –

- Claro que não, majestade, longe disso. – ele se apressou em dizer. – Eu quis dizer que talvez alguém tenha inventado e levado tais mentiras vis até a rainha, e um mal entendido aconteceu! –

- No caso, Eric, quem “inventou” tais mentiras vis, foi a sua própria esposa, pois a minha esposa diz que ouviu da boca da própria lady Webber. – Edward apoiou as mãos em cima do papel que ele havia acabado de assinar e encarou o seu ministro e a sua esposa. Ângela Webber tinha os olhos presos em suas mãos, apoiadas em seu colo, sem conseguir encarar o rei, e Eric apenas desviou, discretamente os olhos para a esposa. – Então, eu resolvi resolver esse problema de outro jeito. Como, pelo que eu descobri, essa não é a primeira vez que a vossa esposa arruma algum atrito com a rainha... E me controlando para recusar o pedido feito pela minha esposa... – ele apenas pegou o papel, que havia acabado de assinar, e entregou a Eric. Ao ler o papel, as sobrancelhas de Eric se arquearam e a sua boca se entreabriu. – Acredite que isso é mil vezes melhor do que a minha esposa desejava fazer! –

- Mas... O senhor está me destituindo do meu cargo?! – questionou.

- Ou você se separa da sua esposa! Mas quem sou eu para querer divorciar alguém, longe de mim! Você continua com o seu condado, só vai deixar de ser meu ministro. – Eric abriu e fechou a boca algumas vezes.

- Eu... Eu não entendo exatamente o quão ruim pode ter sido o que a minha esposa falou para algo desse tipo ser necessário e... –

- Não entende o quão ruim pode ter sido o que a vossa esposa disse? Eric, o que a sua esposa te falou? Pois o que chegou aos meus ouvidos, foi que a senhora, vossa esposa, disse que as minhas filhas não deveriam existir! Na verdade, pelo que eu soube as palavras dela, foram elas são um erro! – Edward virou o rosto para Ângela Webber. – Permita-me deixar uma coisa bem claro, lady Webber, as minhas filhas não são um erro! Na verdade, são um dos melhores acertos que eu tenho na minha vida, a senhora gostando ou não... –

- Majestade, eu só quis dizer que... –

- Eu sei, exatamente, o que você quis dizer. Você quis dizer que uma garota não serve para assumir o trono no meu lugar e que eu deveria ter um filho homem para isso! – Edward falava calmamente. – Eu não julgo o vosso jeito de pensar, muita gente pensa igual a você, mas nenhuma tem a indecência de falar isso para uma menina de cinco anos, mesmo que dito de forma indireta! Você fez a minha filha pensar que eu não gosto dela, que eu não a amo, que eu só a amaria e seria feliz com ela, se ela fosse um menino! Do mesmo jeito que fez a minha esposa se sentir mal, quando a senhora disse que ela não teve a capacidade de me dar um filho homem! Deveriam agradecer por eu estar sendo calmo e bem benevolente ao afasta-los da corte, pois se eu seguisse os desejos de minha esposa e de minha mãe, a senhora não continuaria respirando! – Edward viu com o canto dos olhos, que Eric apenas passou as mãos pelo rosto. – O que a senhora fez é passível de traição, e a senhora sabe disso! Então agradeça por eu lhes manter o condado, pois o certo era os dois saírem daqui direito para as masmorras! –

- Majestade, ontem eu tinha dito que... –

- Eu não quero saber o que você viu nos olhos da minha esposa, lady Webber! Eu não quero saber de mais nada que venha de vocês. –

- Mas é importante. Eu vi os olhos da rainha mudarem de cor do nada e... –

- Sabes que isso é impossível, lady Webber, ninguém tem a capacidade ou poder de mudar a cor dos olhos! –

- Bruxas podem, majestade, ou pelo menos é o que os inquisidores falam! –

- Ângela, cale-se. – Eric a repreendeu com a voz baixa.

- Deixa eu ver se entendi. Além de dizer que as minhas filhas são um erro e que não deveriam existir, e que a minha esposa não tinha competência para me dar um filho homem, a senhora, ainda quer piorar ainda mais a situação, e acusar, sem provas, de que a minha esposa é uma bruxa?! Acho que realmente a senhora quer passar uns dias nas masmorras e conhecer o carrasco, pois não é possível! –

- Sem provas, majestade? Eu vi! –

- Do mesmo jeito que inventou sobre os meus sentimentos para com as minhas filhas e para com a minha esposa, queres inventar isso também? –

- Mas majestade. –

- Chega Ângela. Pare antes que eu mesmo lhe leve até as masmorras! – Eric repreendeu a esposa com a voz alta. – Perdoe-me por isso, majestade, não irá acontecer de novo, ela jamais irá inventar tal calúnia sobre a nossa rainha novamente! Tens a minha palavra. – garantiu. – Vamos... Vamos arrumar as nossas coisas para irmos embora logo. –

- Não, não... – Edward o interrompeu. – Vocês só irão deixar o castelo na próxima semana. – Edward pegou o seu cálice de vinho e bebeu um gole do líquido arroxeado. – No próximo final de semana eu iria fazer com que todos os meus lordes jurem fidelidade a Anastásia, para que assim que não fique nenhuma duvida de quem irá me substituir! E eu quero todos aqui! –

- Sim senhor. Entendido. –

- Agora podem ir! –

- Com licença, majestade. – Eric mal esperou a esposa se despedir do rei e tratou de puxa-la para fora do escritório, reclamando com ela, como ela teve a audácia de acusar a rainha de bruxaria, enquanto Ângela continuava firme em seus argumentos de que ela havia visto os olhos de Isabella mudarem de cor.

Depois de ter ficado sozinha no quarto, Isabella suspirou, desde o dia que conheceu o seu marido ela havia sido sincera com ele, mesmo que na primeira sinceridade foi torcendo pela morte chegar, e acabou ficando surpresa quando viu que ele ia contra tudo o que ela pensava ou esperava, e agora ela se sentia completamente culpada por não estar sendo completamente sincera com Edward, mas ela já havia visto os dois futuros, o qual ela contava a ele, e ao qual ela não contava, e não sabia qual era o pior.

Isabella deixou o quarto em caminho a única pessoa que ela pensava que pudesse lhe aconselhar quanto a isso, ela ainda queria ir conversar com a filha antes do horário do almoço, mas agora ela estava em sua aula, e ela não queria atrapalhar. Perguntando aos guardas, ela descobriu onde a sogra estava e tratou de caminhar para lá. Esme estava no jardim, sentada debaixo de um enorme carvalho, na mesa a sua frente tinha uma bandeja de prata com um bule de chá e algumas xicaras, e algumas damas de companhia de Esme, estavam sentadas ao lado da rainha-mãe, enquanto ela lia um livro, as outras se dividiam entre aproveitar o sol, que Isabella sabia que iria embora em alguns dias e demoraria para voltar, e as outras costuravam ou bordavam algo.

- Posso falar com a senhora? – Bella atraiu a atenção da sogra, que desviou os olhos do livro e virou a cabeça na direção de Isabella.

- Oi meu bem, claro que pode, sente-se... – Esme fechou o livro e apontou para a cadeira vaga ao seu lado. – O que deseja? –

- Em particular. – pediu e com um leve aceno de cabeça, ela pediu para as outras irem embora, que em silêncio foram embora. – Eu fiz uma coisa muito ruim e queria um conselho. –

- Fale. –

- Eu não fui totalmente sincera com o Edward sobre os problemas que estão por vir. – Esme apenas suspirou. – Eu vi dois futuros. Onde uma coisa muito ruim vai acontecer se eu contar a ele, e uma coisa ruim, porém, menos ruim caso eu não conte a ele. –

- Bom... Por essa lógica é melhor ele não saber! –

- Então por que eu estou me sentindo mal e culpada? –

- Você sabe que o meu filho é bem emocional com algumas coisas, Bella, e se a sua intuição ou se o futuro que vistes diz que é melhor ele não saber com antecedência é melhor. Mas preciso perguntar, e algo muito sério? –

- Digamos que alguém que todo mundo esperava que não fosse voltar... Vai voltar. – Bella disse simplesmente olhando para a pintura da xícara que a rainha-mãe bebia o seu chá.

- Não! -  Esme disse quando entendeu o que ela quis dizer. – Ai meu Deus... –

- E ele vai aparecer um tempo depois de o Edward fizer esse tal desse juramento de lealdade a Anastásia. –

- Por isso você dizia que essa ideia dele de insistir que a Anastásia seja a próxima rainha... –

- Não. – Isabella a interrompeu. – Eu já vi que a Anastásia vai ascender ao trono depois de Edward, mas eu tentei o máximo possível evitar que ele fizesse algo desse tipo, pois sempre que esse assunto vinha à tona, eu tinha mais umas a visão dele voltando. –

- Mas por que? Ele não tem nada a ver com a sucessão do trono! –

- Sinceramente eu não sei! – Bella admitiu. – Eu... – ela suspirou. – Eu só consigo pensar que ele possa voltar para me denunciar. – ela falou com a voz baixíssima baixa.

- Edward e tampouco eu, vamos permitir que alguém faça algo desse tipo. – ela apoiou a mão sobre a mão de Isabella, afagando-a. – Não se preocupe com isso. Ele não tem provas! – Esme afagou de novo as costas da mão de Isabella.

- Então, acha melhor eu não falar nada para o Edward? –

- Se ele souber ele vai ficar se remoendo por dias, se ele descobrir no dia, ele estoura e se acalma logo em seguida, penso eu que ele irá agir de uma maneira mais calma e compreensiva se ele souber apenas na hora. –

- Tá bom... – Bella respirou fundo, um pouco mais calma. – Preciso ir... Preciso ir conversa com a Anastásia. –

- Está tudo bem com a minha neta? –

- A vossa neta é uma bruxa! – respondeu com a voz baixa e sorrindo. – Apareceu ontem! –

- Imagino o quanto ela deve estar assustada. –

- Sim, vou conversar com ela agora! Vejo a senhora depois! –

- Qualquer coisa me chama. – Bella apenas assentiu ao se levantar de sua cadeira.

A passos calmos e curtos, Isabella caminhou para dentro do castelo e direito para a sala onde a sua filha estava estudando, se ela não estivesse equivocada, até ela subir a torre onde Anastásia estudava era o tempo necessário até que a aula acabasse, sendo assim, ela não iria interromper nada. E dito e feito, mal ela abriu a porta e ela viu o professor fechar os livros para liberar as duas mais velhas.

- Majestade. – o professor fez uma reverência a rainha. – Deseja algo? –

- Não, vim apenas buscar as meninas, já acabou a aula? –

- Sim senhora. Altezas, as senhoritas estão liberadas. Ate amanhã. –

- Até amanhã sr. Willians. – elas falavam juntas e foram para perto da mãe. – Oi mamãe... –

- Oi meus amores. – ela se agachou um pouco apenas para lhes dar um beijo nas testas. – Victoria, a mamãe precisa conversar com a sua irmã, por que enquanto isso você não vai brincar com os bebês? –

- Tá bom, mamãe... – a babá delas apareceu saindo da sala e Bella pediu que a levasse até o quarto de brinquedos para que ela pudesse brincar com as gêmeas, e assim que as duas seguiram pelo corredor, e Isabella pegou Anastásia no colo, e segurando a saia do vestido, ela caminhou para a sua torre.

- Aconteceu algo mamãe? –

- Não meu amor, a mamãe só quer conversar com você sobre o que aconteceu ontem! – respondeu. – Não precisa ficar com medo ou se assustar, está tudo bem, eu só quero conversar com você sobre o que aconteceu e o que vai acontecer daqui para a frente. Mas vamos ficar sozinhas para conversar primeiro, tudo bem?! –

- Tá bom, mamãe. –

Isabella seguiu o caminho até o seu quarto na torre, e ao adentrar ao aposento, ela fechou a porta e sentou Anastásia em cima da mesa de madeira, deixando a primogênita ali, ela foi até a janela, para abri-la e deixa-la um pouco menos abafada ao fazer o ar circular um pouco. E antes de voltar para a mesa, ela pegou dentro de uma das estantes, dentro de uma gaveta, dois livros, um já bem surrado e outro novo e completamente intacto.

- Bom, eu não sei ao certo como começar isso, então farei do jeito que a minha mãe fez comigo. – Bella apoiou os dois livros na mesa, ao lado do quadril da filha, e ajeitou o seu cabelo, colando algumas mexas de seu cabelo atrás de sua orelha. – Filha, o que eu vou te falar, você não pode falar para mais ninguém, apenas para quem você tem certeza absoluta em que pode confiar, e enquanto você for criança, as únicas pessoas com quem você pode falar sobre isso é com o seu pai e com a sua avó. – explicou. – Entende isso? – Anastásia apenas assentiu. – Filha, você é uma bruxa, você vem de uma grande linhagem de bruxas que descendiam dos Celtas, que habitaram a Escócia antes de Cristo. – contou sabendo que ela não entenderia completamente o que ela estava falando. - Eu sou, sua avó era, a sua bisavó era e assim por diante, talvez as suas irmãs talvez sejam, e consequentemente, talvez, caso você tenha filhas, elas também sejam. –

- Por isso aconteceu aquilo com os meus olhos? -

- Sim, meu amor. Os nossos olhos sempre mudam de cor quando fazemos alguma magia ou quando não controlamos as nossas emoções. Sejam emoções boas ou emoções ruins, elas podem se transparecer pelos olhos. Mas há um problema, mesmo em cinco anos o seu pai tentando acabar com isso, ainda tem pessoas ignorantes que não entende o que somos e que nós só queremos ajudar e fazer o bem as pessoas. Existem sim, bruxas que fazem o mal, mas não é o nosso caso, nunca foi o caso das bruxas da minha família e eu sei que também não será o seu caso. Mas, essas pessoas ignorantes elas não entendem isso, e é por causa delas que nós temos que nos esconder, esconder o que nós somos. Coisas ruins podem acontecer conosco e com quem nós amamos caso alguém saiba o que nós somos. – ela apenas suspirou. – Eu sei que tudo isso é um pouco complicado para a sua cabecinha entender, mas eu quero que a senhorita entenda e me prometa duas coisas. –

- Quais mamãe? –

- Primeira, não deixe ninguém, ninguém ver os seus olhos caso eles mudem de cor, caso isso aconteça e você esteja longe de mim, do seu pai ou da sua avó, cubra os olhos e mande alguém te levar até algum de nós três. – ela apenas assentiu. – Segunda, não comente nada do que eu falei ou do que você é com ninguém, sem ser eu, sua avó e o seu pai, nem converse com as suas irmãs sobre isso, elas ainda são novas demais para entender. –

- Tá bom, mamãe... –

- E agora, acho que isso aqui possa te ajudar mais do que qualquer coisa que eu falar... – Isabella pegou o livro um pouco surrado. – Eu ganhei isso aqui da minha mãe, quando eu descobri a magia, se chama Diário das Sombras, o ideal e você escrever aqui tudo o que você sente em relação a magia e ao seu desenvolvimento, e esse aqui era o meu. Ele está velho e meio surrado, mas acho que vai tirar muitas dúvidas que você possa ter. – Isabella entregou o livro surrado a ela. – Eu o ganhei com a sua idade também, então acredito que as suas dúvidas serão respondidas de uma forma melhor por aí, pelas palavras de uma menina de cinco anos, do que por mim. – ela pegou o livro novo. – E esse aqui é para você escrever as suas experiencias, escrever desenhar, o que você quiser, para se expressar sobre os sentimentos que você tiver nessa fase de descobertas. – Anastásia segurou os dois livros, abraçando-os contra o peito. – Eu já conversei com o seu pai, que agora que a magia começou a aparecer para você, você vai passar mais tempo aqui em cima comigo, primeiro você precisa aprender a se controlar, antes de aprender a fazer alguma coisa. –

- Tá bom mamãe... –

- Minha bruxinha mais linda! – Bella segurou o rosto da filha entre as mãos, e aproximando a sua cabeça da dela, a rainha roçou a ponta do nariz contra o nariz da filha, a fazendo rir, antes de dar um beijo em sua testa. – Venha, mesmo a senhorita sendo a herdeira do trono e uma bruxinha linda, ainda é uma criança que vai brincar com as irmãs até o horário do almoço. – Bella pegou a filha no colo e deixou o quarto da torre, sem fechar as janelas, pois ela sabia muito bem que não demoraria muito e ela voltaria para aquele quarto.

Isabella deixou a filha no quarto de brinquedos e pegou os dois livros de sua mãe, deixando-os no quarto da princesa e voltando para o quarto na torre, ela sabia que não demoraria muito e uma chuva muito forte iria tomar conta de Castela, e ela queria achar um jeito de essa chuva não afetar tanto nas áreas agrícolas do reino.

Durante toda a semana Isabella dividiu o seu tempo entre resolver o problema das chuvas, que ainda não havia chegado, e ensinar a filha a controlar as suas emoções para que elas não transparecessem sobre os seus olhos. Já Edward estava dando os “recados” a quem ele estaria mandando embora do castelo, ninguém havia falado nada igual a lady Webber, todos apenas acatavam as ordens em silêncio, e na outra parte do tempo ele terminava de ajeitar a pequena cerimônia que ele iria fazer para a sua filha mais velha.

Sábado chegou e com ele a cerimônia que Edward havia planejado e tudo tinha que ocorrer de forma direita. Ele tinha se arrumado, estava pronto, a coroa repousava sobre a sua cabeça, Isabella estava terminando de ajeitar a sua coroa, a pedido do marido, contra a sua cabeça, e depois de os dois estarem prontos, o rei pegou uma pequena caixa de madeira e seguiu, junto a esposa, até o quarto da filha, lhe dando, o que ele chamou de uma coroa digna para a ocasião, que havia sido feita com agua marinha, pedra que chegava perto da cor que havia aparecido em seus olhos, com a coroa repousada em sua cabeça, eles desceram para a sala do trono, onde todos os moradores do castelo, e uma grande parte dos lordes do reino de Castela haviam vindo jurar fidelidade a princesa Anastásia.

- Estamos aqui, reunidos essa noite, para decretar, de uma vez por todas quem irá subir ao trono! – Edward falava. Sua mãe estava parada de seu lado esquerdo e sua esposa do lado direito, as outras três princesas estavam perto da avó, e Anastásia parada entre os pais. – Para acabar de uma vez por todas com todas as duvidas e perguntas que possam surgir! Para quem é mais antigo no castelo, deve se lembrar do que meu bisavô fez quando teve gêmeos como primogênitos, e para quem se lembra, é exatamente aquilo que iremos realizar hoje. – Isabella, enquanto ouvia, o seu marido, olhou para a filha e via que as suas pequenas mãos tremerem, ela se agachou ao seu lado, pouco se importando com as pessoas a sua frente.

- Calma, minha princesa, a mamãe está aqui com você! – Bella falou baixo para ela ouvir enquanto acariciava os seus cabelos soltos.

- Para deixar claro de uma vez por todas, a minha herdeira é ninguém mais e ninguém menos que Anastásia, algo que deveria ser algo muito óbvio, mas por boatos que eu ouvi no castelo, não é! Agora vai passar a ser! – o rei olhou para o padre, que estava perto de sua mãe. – O senhor pode continuar. –

- Obrigado majestade. – o padre andou, se postando na frente dos reis. – Boa noite. Está noite iremos, todos os lordes e lideres de casas, reunidos sobre esse teto, irão se prostrar frente ao trono e jurar fidelidade a próxima herdeira do trono, Anastásia Cullen, princesa e futura rainha de Castela e a nova duquesa de Granada. – mal o padre terminou de falar e Isabella e Esme encararam Edward, nenhuma das duas haviam sido informadas quanto a essa última parte.

- Que história é essa de duquesa de Granada? – Isabella perguntou baixo ao marido, quando um a um, os lordes começaram a repetir as palavras do padre ao jurar fidelidade a Anastásia.

- Granada está praticamente abandonada a cinco anos. – Edward respondeu baixo, no mesmo tom de voz da esposa. – E você sempre soube que mais cedo ou mais tarde eu colocaria Granada sobre os cuidados dos meus filhos, e é o que eu estou fazendo. Anastásia e os filhos delas herdarão Granada, e eu estou arrumando e escolhendo as melhores regiões para dá-las as outras meninas também. Eu demorei para fazer isso porque eu estava reformando a sua antiga casa, ela estava caindo aos pedaços. – comentou simplesmente e Isabella olhou para a sogra, que também a olhava. Era capaz de esse ser o motivo para a volta de quem não devia.

Capítulo 14

                                                                 Adhara – Continente de Andrômeda –110 Depois da Conquista.

Pov. Bella.

Eu deixei a sala de meu pai e fui para o lado de fora, Rose já estava me esperando na escadaria do castelo, onde os guardas já estavam a postos e a carruagem também estava nos esperando. Ela não falou nada, e nem perguntou o motivo da minha demora, apenas enlaçou o braço ao meu e seguiu para dentro da carruagem, comigo ao seu lado. O caminho havia sido todo em silêncio, pelo menos da minha parte, enquanto eu a ouvia comentando animada sobre como parecia que tínhamos voltado três anos no tempo em que deixávamos o castelo para que ela pudesse ir até o Fosso, mas nesse caso não seria apenas o dragão dela que seria solto.

- Bom dia princesas. Desejam algo? – o meistre do fosso questionou se aproximando de nós.

- Viemos soltar um pouco a Tessarion. – ele suspirou com a resposta de Rose. – O que houve? –

- O dragão está deveras nervoso, princesa, não sei se é uma boa ideia tira-la do fosso no estado que ela está. –

- Tessarion está nervosa pois ela não é acostumada a ficar presa. – eu falei. – Ela ficou dois anos completamente solta, não dá para querer que ela se adapte tão bem e tão rápido a um fosso gelado e escuro. –

- Eu entendo, princesa, mas ela pode acabar sendo um pouco agressiva. Dragões não costumam machucar os seus montadores, mas no jeito em que ela está... –

- Solte-a, por favor. – falei simplesmente. – Ela não vai me machucar! – ele apenas virou os olhos para Rose.

- Solte-a, não ouviu? – Ele assentiu e caminhou para dentro do fosso. – O que houve? Você está meio estranha desde que deixou o castelo. – eu apenas olhei por sobre o meu ombro e vi que guarda dos mantos dourados e o guarda dos mantos brancos, estavam bem perto de nós.

- Depois nós conversamos sobre isso! – falei simplesmente. – Eu não quero que a fofoca se espalhe pelo castelo. – Rose apenas balançou a cabeça assentindo.

Nenhuma das duas falaram mais nada quando ouvimos o rosnado irritado de Tessarion, os guardiões começaram a sair com ela do fosso, eles estavam com medo dela, ela estava nervosa e tentava puxar a corrente que estava em volta de seu pescoço para se soltar. Deixei Rosalie e me aproximei do dragão, mesmo com os protestos de Rosalie, do guarda do manto dourado e dos guardiões do fosso, que não achavam uma boa ideia eu me aproximar, e eu me aproximei do mesmo jeito, eu sabia como acalmar Tessarion, mesmo que eu nunca tenha precisado acalma-la dessa forma.

- Hey menina... – com cuidado eu apoiei as minhas mãos em seu rosto, ela rosnava e tinha os dentes a mostra. – Eu não queria te deixar presa, mas é a ordem, eu não posso fazer nada! – eu falava na língua antiga com ela, baixo para que apenas ela ouvisse, e fazia um carinho em sua cabeça com a ponta dos meus dedos, com cuidado para não me machucar em seus espinhos que estavam começando a ficar pontudos e afiados. – Mas eu vou tentar te soltar mais vezes para que você não fique naquele lugar escuro todo dia. – conforme eu falava, e parecendo que ela estava me entendendo, ela ia se acalmando e o seu rosnado ia diminuindo. – Hoje nós vamos ficar a manhã inteira solta e voando. – ela parou de rosnar. – Muito bem, minha menina. – eu olhei para o guardião. – Pode solta-la, ela não vai fazer nada. –

Ele apenas assentiu e se aproximou do dragão, que apenas virou a cabeça na direção do homem, e ele se assustou dando um passo para trás, mas ao ver que ela não fez nada, ele se aproximou e tirou a corrente de seu pescoço, e a mesma caiu no chão em um banque alto. Eu me afastei e deixei Tessarion alçar voo enquanto o guardião ia buscar por Syrax, que saiu calmamente, até porque ela já estava completamente acostumada com essa vida presa dentro do fosso.

Com os dois dragões no céu, nós voltamos para a carruagem, e Rosalie pediu para nos levarmos para a campina do lado de fora da muralha para que os dragões pudessem ficarem soltar e voando sobre a baía da água negra.

- Então... Estamos só nós duas, o que houve? – ela perguntou depois que nós duas nos sentamos na relva, os dragões voavam no céu azul, e os guardas estavam bem afastados de nós, nos dando privacidade.

- Eu te contei o que houve com a Jessica há uns dias? –

- Não. O que ela falou? –

- Ela veio me perguntar o motivo de eu ter voltado a Adhara. – contei me deitando na grama e ela virou a cabeça na minha direção. – Disse que eu voltei para terminar de chafurdar o nome da minha família na lama, que eu me casei com um homem de caráter duvidoso, que a nossa amizade é uma amizade de interesse da minha parte, e que não entende o motivo do fascínio que o rei e a Andrômeda têm pela minha família, e que não passa de uma relação a base de interesse. E melhorou mais ainda a situação ao falar que assim que se casar irá convencer o rei a tirar o meu pai do cargo de Mão do Rei, para colocar o pai dela, pois o seu pai irá dar mais ouvidos a ela do que a qualquer outra pessoa. –

- Filha da... – ela respirou fundo e não terminou a sua sentença. – Sabe que a minha mãe nunca gostou dos Strong. - 

- E errada ela nunca esteve! –

- Fala para o meu pai! –

- E ele vai acreditar e mim? Claro que não! –

- Você jamais mentiu para o meu pai, Bella, óbvio que ele vai acreditar. E de qualquer forma, você sabe que o meu pai tem uma enorme amizade e estima pelos Hightower e que jamais permitiu que alguém falasse mal de meu tio, independentemente do que ele faz! – eu apenas suspirei. – Se você não falar, eu vou falar! –

- Você nem estava perto da conversa, Rosalie! –

- Não importa! Acha que eu vou deixar aquela lá falar do meu tio e da minha única amiga e não fazer nada? –

- Eu já falei para o meu pai, e sabe que ele jamais vai deixar alguém falar da família sem fazer nada! Eu conheço o meu pai, e ao mesmo tempo em que eu não queria ir ao almoço no salão de jantar, eu queria ir só para ver o que eu o meu pai fazer. –

- Eu queria só que o meu pai acabasse com essa ideia absurda de se casar de novo! – ela suspirou. – Não faz o menor sentido, Bella. Se ele quer que eu seja a sua herdeira, por qual motivo ele vai se casar? –

- Eu não entendo uma boa parte dos homens, Rosalie. – admiti. – E ainda sou obrigada a ouvir que nós mulheres somos confusas. – suspirei.

- O seu pai nunca se casou de novo, não há a menor necessidade dele se casar de novo. –

- Aí Rosalie... Eu realmente não sei o que falar. – suspirei de novo. – Eu sei que, eu já me arrependi de ter voltado! Tessarion está estressada e pode acabar se machucando. Seu pai fica me olhando com raiva porque o Edward não obedeceu a ordem dele, todo mundo fica me encarando com o mesmo pensamento de Jéssica, que eu voltei para me terminar de chafurdar o nome dos Hightower na lama por ter me casado com alguém de caráter duvidoso! Eu sempre soube que isso iria acontecer quando eu voltasse. Mas de qualquer forma, eu não esperava estar sozinha quando essa hora chegasse. Eu não esperava voltar a Adhara e ver o meu marido partindo no dia seguinte! – eu virei a cabeça para olha-la. – Isso só me faz pensar, que a melhor coisa que me aconteceu foi ter perdido aquele bebê. –

- Não diz isso, Isabella. –

- Rose, imagina como seria comigo aqui sozinha com um bebê! – ela suspirou sabendo onde eu queria chegar. – Acha mesmo que iriam tratar o meu filho bem? Eles não estão me tratando bem, imagine um bebê que não tem nada a ver com as decisões que eu tomei! –

- Só que se tivesse um bebê no meio, Bella, com certeza, meu tio não teria ido embora! Ele já não queria te deixar sozinha, imagina te deixar sozinha com uma criança. – apontou. – Mas eu entendendo o que você quer dizer. –

- Princesa... – um guarda dos mantos brancos se aproximou. – Está na hora de voltar ao castelo. O almoço será servido daqui a pouco! - 

- Amanhã nós as soltamos de novo! – Rose falou para mim e eu apenas balancei a cabeça assentindo.

Syrax obedeceu Rose de imediato quando ela chamou para voltarmos ao fosso, Tessarion já foi mais difícil, só se acalmou quando eu havia prometido voltar no dia seguinte para solta-la de novo, mas de qualquer forma foi difícil coloca-la dentro do fosso de novo, eu não queria que ela ficasse presa, eu queria que ela continuasse solta, como sempre havia sido durante o nosso tempo em Walano, mas, regras eram regras, e as regras eram que os dragões, independentemente do tamanho deveriam ficar no fosso!

Ao chegar no castelo, nós fomos direto para o salão de jantar, na porta de entrada, tinha uma bacia com uma jarra de água fresca para que pudéssemos limpar as mãos. Muita gente já tinha chegado, na verdade faltava apenas o meu pai e o rei, eu não sabia se o meu pai já tinha levado o assunto que eu tinha lhe dito ao rei. Eu me sentei no lugar de Rose como sempre e todo mundo só esperava a chegada do rei Carlisle para que o almoço pudesse ser servido. Eu via Jéssica, que estava sentada, nas cadeiras a nossa frente, e ela me olhava com raiva, nós não tínhamos nos esbarrado de novo, até porque eu evitava ficar perto dela, pois eu já havia deixado bem claro ao meu pai, que caso ela repetisse o que ela tinha dito, eu não iria mais responder por mim.

Uma pequena trombeta foi tocada anunciando a entrada do rei no salão de jantar, e todo mundo ficou de pé. O rei entrou, com meu pai ao seu lado, e ao subir para a sua cadeira, no meio da enorme mesa de jantar, todo mundo se sentou, eu não sabia o que tinha chamado a atenção de meu pai, mas eu o vi olhando para a mesa onde Jéssica e seu pai estavam. Meu pai ficou encarando-a por uns segundos até ter se levantado, fazendo barulho com os pés de sua cadeira.

- Com licença, majestade! – ele disse simplesmente ajeitando a jaqueta que usava. – Vem Isabella, vamos! – falou ao passar por trás da minha cadeira, ao lado da cadeira de Rose.

- O que houve Charlie? – o rei perguntou.

- Perdi o apetite ao olhar para certas pessoas! – ele disse simplesmente. – Vem Isabella. – eu apenas me levantei.

- Charlie, sente-se! – o rei mandou.

- Sugiro que o senhor não se meta, papai! – Rose comentou baixo também encarando a Jéssica. – Não é assunto nosso! Na verdade, é assunto meu, já que colocaram o meu nome no meio! – seguindo os olhos da filha, ele viu que tanto Rose quanto o meu pai, encaravam Jéssica.

- Os três para o corredor agora! –

- Majestade, não é necessário atrapalhar a vossa refeição com isso! –

- Corredor! – ele disse simplesmente se levantando. Meu pai apoiou a mão da base da minha coluna, enquanto Rose se levantava e me guiou para o corredor, pelo mesmo caminho que o rei tinha acabado de fazer. – Todo mundo fora! – ele mandou aos guardas, quando as portas grossas foram fechadas. – O que houve? – questionou cruzando os braços, e meu pai me encarou e eu apenas olhei para o chão. – O que houve Isabella? – o rei já tinha percebido que tinha haver comigo.

- Jéssica falou um monte de besteiras para a Isabella, pai! – Rose respondeu por mim. – Coisas que envolvem o vosso irmão, a família de Bella, a minha amizade com a Bella, e a vossa amizade com o lorde Hightower! Incluindo ainda o cargo de Mão do Rei. –

- O que ela falou? – perguntou para mim e eu apenas olhei para o meu pai.

- Pode responder! –

- Ela disse que eu voltei para terminar de chafurdar o nome da minha família na lama, que eu me casei com um homem de caráter duvidoso, que a minha amizade com a princesa é apenas interesse da minha parte. Que não entende o motivo para o reino ou o senhor gostarem do Hightower, e que também não passa de uma relação de interesse pela minha família ser uma das mais ricas de Andrômeda. –

- E quanto ao cargo do vosso pai? – insistiu ele.

- Que depois do casamento ela iria convencer o senhor ao tirar o cargo do meu pai e dar ao pai dela. Pois com certeza o senhor dará mais ouvidos a vossa esposa do que ao meu pai! – ele apenas fechou os olhos respirando fundo. – E, permita-me dizer, majestade, da próxima vez que ela repetir isso ou algo desse tipo para mim, eu não irei responder de forma educada, como fiz da primeira vez! Ela já sendo casada com o senhor ou não! –

- Eu vou resolver isso! Mas caso ela faça de novo, resolva do jeito que a bem entender! – ele se voltou ao meu pai. – Você não sai daqui. – ele nos deu as costas e voltou para dentro do salão de jantar.

- Por que você falou para ele, Rosalie? –

- Porque você não iria falar, até parece que eu não te conheço! – resmungou.

- E por que o senhor simplesmente não me liberou e inventou outra desculpa ao invés dessa cena toda? – questionei olhando para o meu pai.

- Porque ele iria saber de qualquer jeito, acha mesmo que eu ia deixar qualquer uma falar da minha família? –

- Qual é o problema? – eu ouvi a voz de Jéssica, já tinha um tempo que eu não a via ou ouvia a sua voz e isso era algo divino. Ao contrário da primeira vez que eu a havia visto, desde a minha volta, a sua voz agora era algo doce e suave, como a dama requintada e calma que ela fingia ser e a única pessoa que ela conseguia enganar era o rei.

- Me explica que história é essa de você falar mal do meu irmão, da amizade das duas e da família do meu único amigo? – ele questionou a Jéssica que o encarou fingindo confusão e eu notei que antes de a porta ser fechada, o lorde Strong deixou o salão de jantar.

- Quem... Quem disse isso, majestade? -  ele apenas apontou para mim. – Eu jamais disse uma coisa dessas, majestade! – Jéssica disse fingindo espanto.

- Está chamando a minha filha de mentirosa? –

- Não seria a primeira vez que ela estaria mentindo não é mesmo, lorde Hightower? – lorde Strong comentou parado logo ao lado da filha. – Ou já se esqueceu de todas as mentiras que ela contou há dois anos! –

- Não abre a boca para falar da minha filha! – meu pai falou furioso.

- Podem parar os dois! – o rei falou firme. – Larry, não se meta onde ninguém lhe chamou! O que Isabella faz ou deixa de fazer não lhe diz respeito. E Isabella jamais mentiu para mim, então, não fale o que não sabe! – ele se voltou a Jéssica. – Estou esperando a vossa resposta. –

- Mas eu não disse nada, majestade. Elas estão de novo fazendo o que sempre fizeram, me afastando, eu tentei me aproximar das duas e elas continuam me afastando com mentiras e intrigas e... –

- Jamais... – o rei a interrompeu, se aproximando dela. – Me escute bem! Jamais fale algo sobre o meu irmão de novo! Jamais fale algo sobre a família de alguém de novo, principalmente sobre a família do meu melhor amigo! Os Hightower é a família mais antiga de Andrômeda, tenha respeito! Se o seu pai não lhe ensinou a ter respeito pelas outras casas de Andrômeda, principalmente as mais antigas, eu vou te ensinar a ter respeito! –

- E jamais fale novo da minha amizade com a Isabella! – Rose falou ao meu lado. – Você nem sabe o que amizade significa para falar que a nossa é uma amizade de interesse! E lembre-se, que até você se casar, Isabella está em uma posição social maior do que a sua, pois o homem de caráter duvidoso com quem ela se casou, é o seu príncipe. –

- E por último. Não há motivos para eu tirar o Charlie do cargo onde ele está, principalmente para colocar o seu pai no lugar. – ao ouvia a última frase do rei, o lorde Strong virou a cabeça olhando confuso para a filha, a sua expressão era bem clara, ele sabia da pequena “discussão” que eu e a sua filha tivemos, mas com certeza, quanto a parte de ela ter de influenciar o rei, ele não sabia! Ou então o plano era dele e ele não conseguia acreditar que a filha havia sido tão burra a ponto de explanar isso para alguém. – Você me entendeu? – ela apenas assentiu. – As palavras de Isabella foram que caso isso se repita ela não irá responder por ela, você estando casada comigo ou não, e eu já lhe deixo avisada, se isso acontecer de novo, e ela responder do jeito que eu imagino que seja, eu vou ficar do lado dela! -

- Isso jamais irá acontecer de novo, majestade. – lorde Strong falou. - Irei conversar sobre isso com Jéssica, e se caso essa história aconteceu, não se preocupe, que não irá acontecer de novo. –

- Ótimo! Agora vamos todos voltar para os nossos lugares e almoçarmos como se nada tivesse acontecido! Eu não quero que essa conversa saía daqui. – ele simplesmente encarou os dois Strong, que apenas assentiram, e ao pedirem licença, eles voltaram para dentro do salão de jantar. – E por falar em homem de caráter duvidoso... Tem noticias do meu irmão? – questionou ao meu pai.

- Depende, o senhor quer saber se ele está vivo ou como anda a guerra? – o rei apenas ergueu a sobrancelha. – O príncipe mandou um corvo a Isabella e chegou ontem à noite. Ele está vivo e bem! –

- Então vamos almoçar. – ele nos deu as costas e entrou no salão de jantar, e eu apenas olhei para o meu pai.

- Vamos, ouviu o rei! –

- Eu gostaria que o ocorrido fizesse o meu pai cancelar esse casamento! – Rose comentou.

- A pressão que ele está sofrendo para se casar é muito maior do que esse incidente, princesa! Sinto em lhe informar! – meu pai suspirou. – Mas eu também preferiria que ele arrumasse outra esposa, mesmo sabendo que será algo impossível! –

Três meses haviam se passado desde o ocorrido com Jéssica e depois disso nós não havíamos nos trombado de novo pelo castelo, e nos víamos apenas nas refeições e festas que o rei fazia. Para o azar de Rose, o pai não mudou de ideia e manteve o casamento marcado. Nenhum problema havia acontecido de novo. Desde a última noticia de Edward, avisando que estava em Cetus e indo para Stepstones, eu não havia recebido mais noticias nenhuma, Rose contou, e meu pai confirmou depois, que o rei havia proibido toda e qualquer noticia que viesse da guerra conforme o seu casamento se aproximava.

Eu tinha ido ao fosso algumas vezes, tentava ir com o máximo de frequência possível, nem que fosse para ficar sentada nas pedras enquanto ela sobrevoava o fosso, mesmo após quatro meses, ela ainda não havia se acostumado a ficar presa no fosso, e enquanto eu não estava do lado de fora, com Tessarion solta, eu estava no quarto ou na biblioteca com Rose, enquanto ela estudava sobre a história do reino de Andrômeda, um livro enorme e grosso, que seu pai havia dado para que ela se preparasse para assumir o trono, mesmo eu achando que não era através de um livro que ela iria aprender a governa um reino, principalmente um reino do tamanho de Andrômeda.

- Chega! – ela fechou o livro fechado e com força. Nós estávamos na biblioteca do castelo, ela estudava e eu apenas lhe fazia companhia lendo alguma coisa. – Eu não aguento mais, parece que a minha cabeça vai explodir. – ela deitou a testa contra a capa do livro, esparramado os seus cabelos loiros, quase brancos, pela mesa.

- Que tal nós... Irmos ver as meninas? – perguntei baixo antes que o meistre brigasse conosco por estarmos fazendo tanto barulho na biblioteca e ela levantou a cabeça com animação nos olhos, já tinha quase duas semanas que nenhuma das duas eram soltas devido as chuvas que caiam em Adhara e meu pai não me deixou sair do castelo.

- Podemos ir até a campina próxima a floresta do rei de novo. –

- Vou pegar a minha capa. – eu fechei o meu livro e nós nos levantamos da mesa ao mesmo tempo.

Ao deixarmos a biblioteca, cada uma seguiu para o seu quarto, mesmo que durante esses meses eu tenha passado a maior parte das minhas noites no quarto de Rose, tanto que o guarda que ficava a minha porta, passou a “revezar” as noites com o escudo juramentado de Rose a sua porta, ou então ficavam os dois a postos, eu ainda ia ao meu quarto para pegar roupa e ficar por lá enquanto Rose e meu pai estavam ocupados. Ao adentrar em meu quarto, eu deixei o livro que eu estava lendo em cima da cômoda e peguei uma capa em meu baú, um pio chamou a minha atenção para a ave branca que estava em sua gaiola grande, não tão grande quanto a quela tinha em Walano, mas para o tamanho do quarto, era a que cabia, próxima a janela. Ela estava se alimentando e piou ao me ver, aproximei-me da gaiola, e passando um dedo por entre as grades, eu acariciei a sua cabeça pequena, sentindo a macies de suas penas brancas.

Quando ela voltou a comer, eu deixei o quarto, fechando a porta logo atrás de mim, e repousando a capa sobre os meus ombros. Eu estava fechando o laço enquanto descia as escadas, já que eu fiquei de esperar por Rose na porta do castelo, quando acabei esbarrando em meu pai, falando com o lorde Strong, e das duas uma, ou eles estavam discutindo, pois soube por fofocas, que eles passaram a discutir com bastante frequência de repente, e eu sabia que esse “de repente” era desde a confusão que Jéssica havia criado, ou então era sobre algo relacionado ao reino.

- Isabella. – ele parou de falar com o pai de Jéssica ao me ver me aproximando dele. – Vai para onde? – questionou quando eu fiquei na ponta dos pés e dei um beijo em sua bochecha.

- Eu vou sair com a princesa, pai. – expliquei. – Nós vamos até o fosso soltar Syrax e Tessarion, e depois vamos até a campina. – expliquei, ele sabia quando era a campina que ele estava falando.

- Os guardas vão juntos? –

- E ela e eu conseguimos deixar a fortaleza sem que eles vão junto? – questionei. – Edward colocou todos os mantos dourados com os dois olhos bem presos em mim! – resmunguei e ele sorriu.

- Tudo bem, vai lá. Não demore, porque o meistre acha que vai chover hoje a noite de novo! –

- Sim senhor! – eu fiquei na ponta dos pés de novo para lhe dar outro beijo em sua bochecha. – Tem alguma carta de Edward? – perguntei em seu ouvido, e discretamente ele negou. – Tudo bem, eu já vou, daqui a pouco eu volto. – ele deu um beijo no topo da minha cabeça, e eu segui pelo corredor, para terminar de descer o último lance de escadas.

A princesa já havia avisado a sua guarda que iriamos sair, e ao deixar o castelo, eu vi a carruagem e uma pequena comitiva de uns dez guardas, tanto guardas dos mantos dourados quanto dos mantos brancos, nos esperando no guarda do castelo.

Rose mal chegou e já saiu me puxando para dentro da carruagem que nos levaria para o fosso. Por mais que fosse necessário seguir apenas duas ruas retas para chegarmos até o fosso, nós cruzamos toda a cidade, e voltaríamos a cruza-la para sair da cidade até a campina, já que o fosso e a campina ficavam em cantos opostos de Adhara. A carruagem parou próxima aos degraus que davam para a entrada da caverna, e nós duas descemos. Quando os guardiões nos viram, foram imediatamente buscar os dois dragões. Syrax saia comportada, já Tessarion era bem rebelde e tentava a todo custo se livrar dos guardas e da caverna.

- Hey... – eu me aproximei de Tessarion agitada para acalma-la, antes que ela acabasse machucando alguém ou se machucando. Ela não havia crescido quase nada desde que deixamos a ilha, portanto ela continua um pouco maior que um cavalo adulto. – Está tudo bem, menina, eu estou aqui. – eu segurava a sua cabeça enquanto falava na língua cariana com ela. – Desculpa ter que te deixar pressa, mas eu não tenho escolha, já te expliquei. – ela sibilou para mim. – E na última semana estava chovendo muito, não tinha como deixar o castelo para vir te soltar. Se eu pudesse você seria livre como sempre foi! - eu ia falando e aos poucos ela ia se acalmando. – Hoje vamos voar um pouco, está bem?! – ela soltou um silvo que pareceu ser um silvo de felicidade, me acabando rir.

- Princesa. – eu ouvi o guardião chamando a Rosalie e continuei com a minha testa apoiada na cabeça de Tessarion, acariciando as suas escamas. – Princesa... –

- Isabella é com você! – eu ouvi a voz de Rosalie rindo e eu afastei a minha cabeça do dragão e olhei para o lado, vendo o guardião parado próximo a mim.

- Perdoe-me... Eu ainda não me acostumei com isso! – o riso de Rose virou uma gargalhada.

- Perdoe-me por ter ouvido, mas... Eu ouvi a senhora falando que voar hoje... A Tessarion ainda é pequena demais para colocar uma sela nela e... –

- Não... – eu o interrompi. – Quando eu disse que vamos voar, eu me referi apenas a ela. Só ela vai voar! Eu não vou tirar os meus pés do chão! – garanti sorrindo e ele assentiu mais aliviado. – Ela ainda é muito pequena para aguentar alguém ou uma sela, isso sem falar que eu sequer sei montar. –

- Em tese, é igual a montar um cavalo. – Rose comentou vindo para perto de mim, quando o guardião se afastou. Ela montaria em Syrax, portanto havia trocado o seu vestido pela sua roupa de montaria.

- Sabes melhor do que ninguém que eu não sei montar um cavalo, Rosalie! – lembrei-a.

- Simples de resolver. – deu de ombros. – Elas se alimentaram recentemente? – ela perguntou ao guardião.

- Elas seriam alimentadas hoje a noite, alteza. –

- Certo. Iremos alimenta-las lá fora, não se preocupe! – ele apenas assentiu. – Peça a Tessarion seguir a Syrax e nos encontramos na campina. – falou para mim, e eu apenas assenti, e calçando as duas luvas, ela caminhou de volta para perto do seu dragão.

- Vamos voar menina? – ela silvou de felicidade de novo. – Segue a Syrax. – mandei e ela começou a agitar as suas asas querendo levantar logo voo, mesmo que eu não tinha me afastando ainda e mesmo que Rosalie nem tivesse terminado de montar.

Eu me afastei para que ela pudesse voar e apressada, ela alçou voo primeiro, tocando no céu azul claro, ficando quase que camuflada. Enquanto eu ouvia Syrax alçar voo logo em seguida, eu me reaproximei da carruagem, que tinha a porta aberta me esperando. Sentei-me bem perto da janela, enquanto a carruagem, com os guardas, percorria a cidade para a campina, para que pudesse ficar olhando para o céu. Syrax eu conseguia ver com clareza, mesmo com a altura, era quase impossível não ver um dragão dourado contra o céu limpo, já Tessarion, volta e meia eu a perdia de vista, já que ela era um dragão azul, contra o céu azul, mas eu sabia que ela estaria seguindo Rose, ela sempre obedeceu quando eu a mandava seguir Caraxes, e mesmo que ela estivesse animada para voar, eu sentia que ela estava seguindo as duas.

Demorou um pouco até chegarmos à campina, quando eu desci da carruagem, Rose já estava sentada na relva, próxima ao penhasco, enquanto observava os dois dragões sobrevoando acima da baia da água negra. Deixei a carruagem e praticamente me joguei no chão, deitando ao seu lado, sentindo a grama macia debaixo do meu corpo.

- Quer que eu te ensine a montar? – ela perguntou de repente e eu apenas virei o rosto da direção dos dragões, olhando confusa para ela.

- É o que? –

- Quer que eu te ensine a montar um cavalo? – perguntou virando a cabeça para mim. – Eu sei que o seu pai jamais te ensinou a montar, mas você precisa aprender para poder montar em Tessarion. –

- E será justamente você quem irá me ensinar a montar? – ela deu de ombros rindo. – Não, muito obrigada. E de qualquer forma, o seu cavalo nem está aqui! –

- Venha... – ela se levantou e eu apenas me sentei, a encarando. – Vem Isabella. – eu me levantei e a segui. Ela ia andando a uns bons passos a minha frente, e seguiu esse caminho até se aproximar dos guardas, que estavam parados bem afastados para nos dar privacidade, mas não tão afastados para não verem caso algo de errado fosse acontecer.

- Princesa. – Calleb, o guarda dos mantos dourados, que me seguia para tudo quanto é canto, a ordens do próprio Edward, se aproximou com o seu elmo em mãos. – O que eu posso fazer por vossa alteza? –

- Eu quero um cavalo emprestado. – respondeu simplesmente.

- Eu posso perguntar o motivo? –

- Eu quero ensinar a Isabella a montar. – ele levantou a cabeça, me vendo parada a alguns passos atrás de Rose, e eu apenas balancei com a cabeça negando, quando ela notou que ele tinha os olhos em mim, por tempo demais, ela se virou e eu virei rapidamente a cabeça para o céu, fingindo observar o voo dos dragões.

- Perdoe-me alteza, mas qual é o grau de intimidade da princesa Isabella com um cavalo? –

- Nulo! – respondi por ela ainda fingindo olhar para cima.

- Serei obrigado a recusar. Eu respeito a senhorita, mas eu tenho medo do marido dela. – falou baixo para os outros guardas não ouvirem. – E se algo acontecer com ela, eu estando perto ou não, o príncipe Edward me mata, lenta e muito dolorosamente. – ele falava brincando, mas no fundo nós três sabíamos que ele falava a verdade. – Além do fato de a princesa Isabella não estar vestida apropriadamente para montar em um cavalo. – apontou. – Contudo, nos próximos dias receberemos uma nova remeça de cavalos, mais baixos e mais calmos. Poderá chamar o seu instrutor de montaria, e com a senhora Isabella usando uma roupa mais apropriada, ela poderá aprender a montar em um cavalo. – ele falou com calma. – Além do fato de esses cavalos serem cavalos de batalha, eles são muito rápidos, e se eles a estranharem, ou algo errado que ela possa fazer, ele pode se assustar e acabar caindo e... –

- Eu já entendi sor Calleb. Já entendi. – resmungou. – Tudo bem, eu chamarei por Collin, para que ele ensine Isabella a montar. –

- Obrigada. – mexi os lábios sem sair voz nenhuma da minha boca e ele fez um leve aceno com a cabeça.

- Eu vi isso, em... – reclamou comigo, andando de volta para perto do penhasco.

- Mas eu não fiz nada. – comentei rindo e vi Calleb sorrindo enquanto voltava para a sua posição.

Eu voltei a me deitar ao seu lado e ficamos ali por um tempo, um bom tempo, ali deitadas, sentindo o sol em nossas peles e a brisa do mar tocando em nossos rostos. Depois de um tempo voando, Tessarion foi a primeira a pousar na campina, deitando perto de mim, ela cutucou a minha cabeça com a dela. Eu me levantei, me sentando, e ela deitou atras de mim, e eu voltei a me deitar, apoiando a minha cabeça em seu dorso, não era muito confortável, mas eu gostava, era quentinho e confortável. Um tempo depois, Syrax pousou e deitou perto de Rosalie também.

Eu não sabia ao certo se eu tinha acabado tirando um cochilo, mas eu só percebi que o sol começava a se por quando Calleb nos chamou, perguntando se desejávamos voltar logo para casa. Rosalie realmente havia adormecido ao meu lado, e só acordou quando eu a cutuquei, ela deveria estar mesmo cansada, já que ficava o dia inteiro com os livros, que o seu pai lhe havia dado, em mãos. Depois que Rose despertou e espantou o sono, ela lembrou que ficou de alimentar os dragões, e para a nossa sorte, para que não tivéssemos que ficar procurando por alimento, um pequeno grupo de ovelhas selvagens estavam pastando próximas a nós, Tessarion ainda não comia muito, mas Syrax quando acabou de comer, tinha acabado com quase todo o rebanho.

Nós duas devolvemos os dragões ao fosso depois de o sol ter se posto, e como meu pai tinha dito, a chuva chegara em Adhara junto com a lua, durante metade do caminho do fosso até a Fortaleza Vermelha a chuva começou a cair com força sobre a carruagem, e mesmo subindo as escadas correndo, nós duas ficamos ensopadas. Atrás de nós, enquanto íamos para o quarto, ia se formando uma trilha de água que escorria de nossas roupas e cabelos, pelo menos, o castelo estava bem quente com lareiras, fogueiras e tochas acessas, o que incluía a de meu quarto, portanto frio eu não sentia.

Eu esperava que Rose desistisse da ideia de me ensinar a montar, mas pelo contrário, a cada dia que passava ela perguntava a todo mundo se os cavalos já tinham chegado, e a resposta era sempre não! Ela só não sabia se realmente não tinha chegado ou então se era apenas uma desculpa, já que o casamento do rei estava mais perto do que imaginávamos, ou queríamos.

Passou mais algumas semanas e o dia do casamento, infelizmente, chegou, e iria ocorrer essa noite no salão da sala do trono. Eu já estava pronta, e estava terminando de ajudar Rose a amarrar o vestido, ela tinha praticamente fugido para o meu quarto quando uma criada foi até ela, dizendo que Jéssica pedida ajuda da princesa para se arrumar. Uma batia soou na porta e eu permiti a entrada, era John, quem estava de guarda essa noite, e disse que meu pai havia pedido para que eu fosse me encontrar com ele, imediatamente, em sua sala.

Terminei de amarrar o vestido de Rose e a deixei sozinha para terminar de se arrumar ali mesmo em meu quarto, e fui até onde estava sendo chamada. Todo o caminho que eu fazia, John ia andando atras de mim, deixando o guarda juramentado de Rose parado em minha porta. Ao me ver, chegando pelo corredor, o valete de meu pai bateu a porta e a mesma prontamente fora aberta.

- Mandou me chamar, papai? – questionei.

- Vieram te ver! – respondeu simplesmente.

- Quem? –

- Oi irmãzinha. – eu ouvi a voz de Mike vindo de trás de mim, e ao me virar, o encontrei parado a menos de dois passos de mim.

- Mike. – eu estava feliz, tinha muitos anos que eu não via o meu irmão, já que antes mesmo de eu fugir com Edward para Dragonstone, o meu irmão tinha ido para Oldtown, na verdade, ele seguiu para lá com o meu tio, logo após o período de luto da rainha Esme passar. – Quanto tempo! – eu o abracei e ele e ele retribuiu o abraço com força.

- Eu que o diga. Antes de eu ir embora você ainda era um pouco sensata quanto ao fato de fugir com alguém. – comentou rindo ao me soltar.

- Até onde eu saiba você me apoiou! –

- Nunca apoiei a sua fuga, eu só falei para o papai que era para ele ficar calmo, pois eu sentia que o Edward iria cuidar bem de você! E como posso ver, ele cuidou! -

- É a mesma coisa! – dei de ombros e ele riu.

- Ele disse que tem uma novidade para contar, mas queria contar para nós dois juntos. Pois então, pode falar! –

- Agora? Não iremos nos atrasar para o casamento do rei?! –

- Ninguém quer ir a esse casamento, Mike! –

- Isabella! – meu pai me recriminou. – Pode falar, Mike, não irás ler nenhum livro, então acredito que dê tempo antes do casamento começar. –

- Tudo bem... – ele respirou fundo. – Meu tio arrumou um casamento para mim. E pai, antes que o senhor fale, que é o senhor quem tinha que fazer isso, eu... Eu realmente gostei da dama e eu queria muito que o senhor aceitasse. –

- Com quem? –

- Ângela da família Webber. De Cygnus mesmo! – explicou. - Se o senhor concordar... Meu tio já quer marcar o casamento para o próximo mês! Na verdade, ele só não me casou ainda, porque adoeceu. – respondeu.

- Acredito que no próximo mês podemos ir até Cygnus e se eu gostar dos pais, vocês se casam! – mal o meu pai terminou de falar e uma batia soou na porta. – Entre. –

- Com licença vossa graça. – o valete do rei entrou no quarto. - O rei o chama em seu aposento! –

- Estou indo! – o valete assentiu e ele saiu. – Eu vejo vocês dois no salão. Não se atrasem! – nós dois apenas assentimos e ele saiu nos deixando sozinhos.

- Conte-me dela. – pedi me aproximando mais um pouco de Mike, e enlaçando o seu braço ao dele para que deixássemos a sala de meu pai.

- Ela me lembra um pouco você! – começou. – Adorável, educada, um pouco louca, você vai gostar dela também! –

- Acha que eu deveria ir? –

- É o casamento do seu irmão, é obvio! –

- Do mesmo jeito que é óbvio o jeito que nossos tios irão me tratar. – ele suspirou.

- Nenhum deles estão felizes com o seu casamento, e o que deixa pior ainda a situação é o fato de o nosso pai estar bem tranquilo quanto a isso! –

- E isso me deixa bem assustada. Ele está levando essa situação de uma forma bem tranquila. –

- Ele viu que o que todos nós dissemos era verdade, ele cuidou de você. Você está bem, viva e inteira... –

- E pelas palavras de nosso pai, infelizmente eu estou feliz! – ele soltou os nossos braços, e passou o mesmo por sobre os meus ombros, puxando o meu corpo para perto do dele, e me dando um beijo em minha testa.

- Ele não gostou do casamento, então na cabeça dele, se você estivesse infeliz ele tentaria te livrar desse casamento, mas como você não está! – eu apenas suspirei. – Será que quando ele voltar ele paga a minha revanche? –

- Do que você está falando? – questionei confusa.

- No último torneio que ele estava, no caso, que vocês estavam, ele me derrubou do cavalo de cara no chão. – lembrou-me e eu apenas bufei. – Ele prometeu uma revanche. Eu quero a minha revanche! Será que agora com ele casado com você, ele me deixa ganhar?! –

- Claro... Você sabe o quanto ele adora perder! – ironizei e ele riu.

- Pelos deuses, o quanto eu senti a sua falta... – ele me abraçou com força, me fazendo rir.

Enquanto íamos andando para o salão do trono, onde ocorreria o casamento, ele ia comentando sobre a tal de Ângela, por quem, era notável, que ele estava bem interessado, se não, apaixonado. Nós chegamos na sala do trono, onde todos os convidados, que não eram muitos, muitos lordes não tinham vindo para o casamento do rei, e eu me prostei ao lado do meu irmão, na primeira fila, onde seria o lugar do meu pai. Sem o Edward aqui, eu era apenas a filha da Mão do Rei, portanto eu ficaria próximo ao meu pai, mesmo eu querendo e muito estar ao lado de Rose, que já estava ali, e era palpável que ela não estava se sentindo bem com o casamento.

O rei chegou um tempo depois, junto ao meu pai, que prontamente veio para perto de mim e de meu irmão. Com o rei em seu lugar, ao lado do alto septão, o casamento se deu início, e conforme o mesmo ocorria, eu notava que o rei estava feliz, quase que eufórico, o mesmo não podia ser dito sobre Jéssica, como eu mesma havia dito diversas vezes, o rei poderia estar até apaixonado, Jéssica era apenas interesse ou estava sendo obrigada pelo pai. Durante toda a cerimônia, eu ficava com os meus olhos presos em Rose, ela não estava nada bem, e eu só não sabia dizer ao certo se era pelo casamento ou por ver o pai feliz após a morte de sua mãe.

- Você está bem? – perguntei baixo a ela quando o casamento acabou e todos seguiram para o salão de jantar para o banquete.

- Não! – respondeu entre os dentes, e ao olhar para baixo, para segurar a sua mão, eu vi que as pontas de seus dedos estavam bem vermelhas, ela estava arrancando pequenas e finas peles ao redor de suas unhas, causando machucados em si própria e eu apenas suspirei, aproximando a minha cabeça da dela.

- Finge que está passando mal, que vai vomitar ou desmaiar. – falei baixíssimo quando vi meu pai se aproximando de nós, com meu irmão, o rei e a nova rainha, eu prontamente passei a mão pela cintura de Rosalie, como se fosse ampara-la.

- Eu fico muito feliz pelo vosso noivado, Mike, os Webber são uma boa família e... – o rei viu o guarda juramentado de Rose se aproximado para ampara-la também e tirar o seu peso de cima do meu corpo. – Filha o que houve? – ele perguntou sem fazer muito alarde.

- Ela não está se sentindo muito bem, majestade... Deve ter sido algo que ela comeu. – comentei e virei o rosto para olha-la. – Eu te falei que não era para comer aquela gruta, você nem sabia que fruta era aquela. – ralhei com ela, e ela entrou no fingimento fingindo segurar o vômito. – Nós saímos mais cedo para soltar um pouco os dragões e... Essa teimosa viu uma fruta numa árvore e cismou que era uma maçã verde e comeu, ao invés de me ouvir. Deve estar se sentindo um pouco mal por causa disso, majestade. O senhor se importa, caso eu a leve para o quarto? Antes que ela... – ela fingiu segurar o vomito de novo. – Vomite?! –

- Não... Pode levar. Por favor... Eu vou mandar o meistre lá com um chá que vai melhorar esse enjoo. –

- O senhor me ajuda, sor Félix? É mais fácil nós duas rolarmos as escadas do que eu conseguir leva-la até o quarto. –

- Claro princesa! – ele apenas assentiu.

- Eu vejo você amanhã, Mike. Até amanhã, papai... – eu me aproximei dele para lhe dar um beijo na bochecha.

- Vocês são duas péssimas atrizes! Não sei como ele acreditou nisso! – ele falou baixo em meu ouvido e dando um beijo em minha testa.

- Eu também te amo! – falei simplesmente e sorrindo para ele.

Com sor. Félix carregando todo o peso de Rosalie, e ela fingindo durante todo o caminho que estava passando mal e que iria vomitar a qualquer momento, e continuou assim até chegarmos a segurança do seu quarto, onde ninguém entrava sem a autorização dela. Os convidados estavam tão absortos com o casamento e em irem para o salão de jantar, que sequer notaram o mal de estar da princesa. Eu apenas abri a porta do quarto e sor. Félix ajudou-a a se deitar na cama, nos deixando sozinha, mas avisando que estaria do outro lado da porta, e que caso precisássemos de algo, era só chamar!

- Obrigada. – ela falou baixo, quando eu me sentei ao seu lado, e segurando a minha mão.

- Não precisa agradecer! Eu iria querer que alguém fizesse o mesmo por mim se fosse o meu pai se casando. –

- Eu não vejo problema nenhum no casamento... – suspirou. – Eu só não gosto que ele tenha se casado justamente com a Jéssica... Nós dois sabemos como ela é! Nós contamos ao meu pai o que ela fez e... –

- Eu sei, Rose, eu sei! Mas o seu pai está apaixonado, ele não vai ver nenhum ponto negativo que falarmos para ele. E ele acha que resolveu aquele problema, e como ela nunca mais voltou a mencionar aquilo, ficou por isso mesmo! – dei de ombros.

- Eu... – ela suspirou. – Eu não sei explicar o que houve, mas parecia que as paredes estavam se fechando em volta de mim, e o ar não entrava em meus pulmões e... – eu apenas suspirei também me lembrando da vez que tinha dito a mesma coisa para Edward há alguns anos atrás, e acabei sorrindo ao me levar do que ele havia sugerido.

- Você quer ser livre por uma noite? – ela virou a cabeça na minha direção, me olhando confusa. – Como Edward me disse, Adhara não tem as melhores distrações noturnas, mas é melhor do que nada! –

- Não tem como sairmos do castelo a essa hora, principalmente sozinhas e... – ela foi interrompida por uma batida na porta.

- Apenas confie em mim! – falei baixo e piscando para ela. – Pode entrar. – a porta fora aberta.

- Com licença, princesas... Princesa, o seu pai pediu para que eu lhe trouxesse este chá, fará bem ao seu enjoo. –

- Obrigada meistre. – ela fez uma atuação, um pouco exagerada de mais, para se sentar na cama e pegar a xícara das mãos do ancião.

- Tome-o enquanto está quente, o efeito será melhor. –

- Meistre, o senhor pode me fazer um favor? – ele apenas assentiu. – Pode ficar de olho nela enquanto eu pego uma troca de roupa em meu quarto? Eu acho melhor eu passar a noite aqui com ela, para o caso de ela sentir algo durante a madrugada, ela não estar sozinha! –

- Claro princesa, não precisa se apressar. –

- Muito obrigada, meistre! – eu me levantei da cama. – Quando eu voltar eu quero essa xícara vazia, mocinha. – comentei e ela me olhou com raiva, ela tinha esperanças de fugir daquele chá, ela odiava chá!

Eu deixei o quarto de Rose e segui para o meu, mal eu deixei o corredor de onde ficava o aposento da princesa e ouvi passos atrás de mim, e ao olhar por sobre o meu ombro e vi que era Calleb que vinha atrás de mim, como sempre! Entrei em meu quarto e fechei a porta, não queria que ninguém do lado de fora visse o que eu estava fazendo aqui dentro!

Um dos principais motivos de eu não querer que ninguém mexesse em minhas roupas, era porque eu ainda tinha escondida as roupas de pajem que Edward havia me dado para a primeira vez e que nós tínhamos saído pelas ruas de Adhara a noite. Na verdade, eu tinha duas roupas de pajem, e eu nunca soube o motivo de eu continuar guardando-as, mas de qualquer forma, elas seriam completamente úteis hoje! Eu as peguei e as dobrei, o máximo possível, escondendo-as no meio de uma manta, por cima da manta dobrada, eu coloquei um vestido limpo e uma camisola, eu tinha noção de que alguém viria ver a princesa antes de dormir, portanto eu teria que estar pronta para adormecer, ao tempo em que eu deveria estar trocada no dia seguinte. Com tudo separado, eu saí do quarto e voltei para o quarto da princesa, com Calleb me seguindo mais uma vez!

- Muito obrigada, meistre, e me perdoe por atrasar o vosso jantar. – comentei me fazendo presente ao adentrar ao quarto.

- Não se preocupe com isso, princesa! –

- De qualquer forma, muito obrigado, eu assumo os cuidados de Rosalie a partir de agora. – garanti e ele apenas assentiu.

- Daqui a pouco estão trazendo os vossos jantares, altezas. Com licença. –

- Toda... E mais uma vez, muito obrigada, qualquer coisa que a princesa sentir eu mando avisarem ao senhor imediatamente. Boa noite. –

- Boa noite! – ele saiu do quarto, nos deixando sozinhas.

- Estou surpresa com o quanto eu aprendi a mentir nesses dois anos casada com o seu tio! – comentei me sentando na cama, e colocando as coisas que eu havia trazido ao meu lado, próximo aos pés de Rose. – Presta atenção. Depois que a sua mãe morreu, o seu tio me levou para dar umas voltas pela cidade durante a madrugada, e em algumas dessas voltas, você estava dormindo em meu quarto e nem percebeu quando eu entrei ou saí do mesmo! – eu falava baixo para que sor. Félix e nem Calleb nos ouvisse.

- E como você saiu do castelo sem ninguém te ver ou reconhecer? –

- Do mesmo jeito que eu saí quando fugi com ele! O castelo está cheio de passagens secretas, já conheço uma boa parte delas, graças ao seu tio! – respondi. – E o jeito que eu usei para ninguém me reconhecer foi me vestir de pajem! – eu comecei a tirando as roupas do meio da manta. – Caso queira, eu tenho roupa para dois! – ela sorriu para mim. – Com os cabelos presos ninguém vai nos reconhecer, evitaremos os lugares vazios e voltaremos rápido, apenas para que possa respirar um pouco! –

- Eu quero! – falou rapidamente.

- Então veja bem o plano! Troque de roupa e coloque uma camisola. Quando a criada vier trazer o jantar, ela tem que te ver trocada ou se trocando, porque eu sei que antes de irem dormir, o seu pai, ou o meu pai, ou então o próprio meistre vai passar aqui para ver como você está! O rei deve se retirar cedo do salão de jantar para consumar o casamento, mas isso não significa que a festa vai acabar cedo, o que é melhor ainda, a maioria dos guardas vão estar no salão para conter os bêbados e encrenqueiros. Assim que nos vierem nos ver, e ver que estamos dormindo, nós nos trocamos e saímos. E voltaremos antes do sol nascer! As chances de alguém vir aqui durante a madrugada é quase nula! –

- Você passou tempo demais com o meu tio. – acusou.

- Querida, eu sou casada com o seu tio! – lembrei-a e ela riu. – Agora se troque, que eu vou tentar encontrar a passagem desse quarto.

Rosalie se levantou da cama para se trocar, e eu comecei a procurar as paredes, geralmente todas as passagens que eu conhecia, ficavam na parede mais fina, e nesse caso, a parede mais fina que eu havia encontrado, ficava justamente atrás da cama da princesa, mas antes que eu pudesse ter certeza e conseguir afastar um pouco a cama, bateram a porta. E antes mesmo que o sor. Félix abriu a porta, anunciando o jantar, eu corri para perto de Rose, para ajuda-la a se trocar.

As criadas deixaram o jantar na mesa de centro do quarto e foram embora, eu me troquei rapidamente, colocando a minha camisola, antes que alguém voltasse para cá. Nós duas jantamos, até porque, volta e meia, o sor. Félix pedia permissão para entrar para confirmar se a princesa estava se alimentando ou não, e ao vê-la comendo, ele ia embora. Depois das criadas terem recolhido a mesa, Rose se sentou na cama e eu me sentei ao seu lado. Com os olhos presos nas criadas, que vieram retirar a mesa, eu, discretamente, levei os meus dedos para a parede atrás de mim e consegui sentir, mesmo que fina, uma fissura na parede, de onde passava um leve vento úmido e gelado.

Quando as empregadas saíram, apagando a maioria das velas atrás de si, nós nos deitamos para dormir, ou melhor, fingir dormir. E não demorou quase nada e aporta foi aberta, como o quarto estava bem escuro, e a claridade do corredor adentrou o quarto, nós fingimos estar dormindo, mas ambas escutamos os guardas cumprimentarem o rei. Ele ficou poucos segundos no quarto, mas eu conseguia sentir a presença dele próxima a cama e depois sumindo, ouvindo a porta sendo fechada e a claridade ir embora também. Devagar abri os olhos e percorri o quarto com os mesmos, confirmando que estávamos sozinhas.

E nós passamos a agir com o máximo de silêncio possível. Nas pontas dos pés, nós nos trocamos, colocando as roupas de padre, e escondendo os cabelos debaixo das toucas. Com uma de cada lado da cama, nós empurramos um pouco a cama para frente, tomando todo o cuidado para os pés não roçarem no chão de pedra e usando alguns travesseiros, os colocamos na cama, cobrindo-os por completo para fingir serem dois corpos dormindo. Passei a ponta dos dedos pela lateral da parede, até encontrar a fissura de novo e com força, eu a puxei para fora, para dentro do quarto, bem pouco, o máximo para que eu e Rose passássemos, só um olho muito bom notaria que a cama tinha sido posta mais para a frente.

- Pronta? – perguntei estendendo a minha mão para ela.

- Pronta! – ela assentiu pegando a minha mão e nós entramos na escuridão daquele corredor.