terça-feira, 1 de agosto de 2023

Capítulo 14

                                                                 Adhara – Continente de Andrômeda –110 Depois da Conquista.

Pov. Bella.

Eu deixei a sala de meu pai e fui para o lado de fora, Rose já estava me esperando na escadaria do castelo, onde os guardas já estavam a postos e a carruagem também estava nos esperando. Ela não falou nada, e nem perguntou o motivo da minha demora, apenas enlaçou o braço ao meu e seguiu para dentro da carruagem, comigo ao seu lado. O caminho havia sido todo em silêncio, pelo menos da minha parte, enquanto eu a ouvia comentando animada sobre como parecia que tínhamos voltado três anos no tempo em que deixávamos o castelo para que ela pudesse ir até o Fosso, mas nesse caso não seria apenas o dragão dela que seria solto.

- Bom dia princesas. Desejam algo? – o meistre do fosso questionou se aproximando de nós.

- Viemos soltar um pouco a Tessarion. – ele suspirou com a resposta de Rose. – O que houve? –

- O dragão está deveras nervoso, princesa, não sei se é uma boa ideia tira-la do fosso no estado que ela está. –

- Tessarion está nervosa pois ela não é acostumada a ficar presa. – eu falei. – Ela ficou dois anos completamente solta, não dá para querer que ela se adapte tão bem e tão rápido a um fosso gelado e escuro. –

- Eu entendo, princesa, mas ela pode acabar sendo um pouco agressiva. Dragões não costumam machucar os seus montadores, mas no jeito em que ela está... –

- Solte-a, por favor. – falei simplesmente. – Ela não vai me machucar! – ele apenas virou os olhos para Rose.

- Solte-a, não ouviu? – Ele assentiu e caminhou para dentro do fosso. – O que houve? Você está meio estranha desde que deixou o castelo. – eu apenas olhei por sobre o meu ombro e vi que guarda dos mantos dourados e o guarda dos mantos brancos, estavam bem perto de nós.

- Depois nós conversamos sobre isso! – falei simplesmente. – Eu não quero que a fofoca se espalhe pelo castelo. – Rose apenas balançou a cabeça assentindo.

Nenhuma das duas falaram mais nada quando ouvimos o rosnado irritado de Tessarion, os guardiões começaram a sair com ela do fosso, eles estavam com medo dela, ela estava nervosa e tentava puxar a corrente que estava em volta de seu pescoço para se soltar. Deixei Rosalie e me aproximei do dragão, mesmo com os protestos de Rosalie, do guarda do manto dourado e dos guardiões do fosso, que não achavam uma boa ideia eu me aproximar, e eu me aproximei do mesmo jeito, eu sabia como acalmar Tessarion, mesmo que eu nunca tenha precisado acalma-la dessa forma.

- Hey menina... – com cuidado eu apoiei as minhas mãos em seu rosto, ela rosnava e tinha os dentes a mostra. – Eu não queria te deixar presa, mas é a ordem, eu não posso fazer nada! – eu falava na língua antiga com ela, baixo para que apenas ela ouvisse, e fazia um carinho em sua cabeça com a ponta dos meus dedos, com cuidado para não me machucar em seus espinhos que estavam começando a ficar pontudos e afiados. – Mas eu vou tentar te soltar mais vezes para que você não fique naquele lugar escuro todo dia. – conforme eu falava, e parecendo que ela estava me entendendo, ela ia se acalmando e o seu rosnado ia diminuindo. – Hoje nós vamos ficar a manhã inteira solta e voando. – ela parou de rosnar. – Muito bem, minha menina. – eu olhei para o guardião. – Pode solta-la, ela não vai fazer nada. –

Ele apenas assentiu e se aproximou do dragão, que apenas virou a cabeça na direção do homem, e ele se assustou dando um passo para trás, mas ao ver que ela não fez nada, ele se aproximou e tirou a corrente de seu pescoço, e a mesma caiu no chão em um banque alto. Eu me afastei e deixei Tessarion alçar voo enquanto o guardião ia buscar por Syrax, que saiu calmamente, até porque ela já estava completamente acostumada com essa vida presa dentro do fosso.

Com os dois dragões no céu, nós voltamos para a carruagem, e Rosalie pediu para nos levarmos para a campina do lado de fora da muralha para que os dragões pudessem ficarem soltar e voando sobre a baía da água negra.

- Então... Estamos só nós duas, o que houve? – ela perguntou depois que nós duas nos sentamos na relva, os dragões voavam no céu azul, e os guardas estavam bem afastados de nós, nos dando privacidade.

- Eu te contei o que houve com a Jessica há uns dias? –

- Não. O que ela falou? –

- Ela veio me perguntar o motivo de eu ter voltado a Adhara. – contei me deitando na grama e ela virou a cabeça na minha direção. – Disse que eu voltei para terminar de chafurdar o nome da minha família na lama, que eu me casei com um homem de caráter duvidoso, que a nossa amizade é uma amizade de interesse da minha parte, e que não entende o motivo do fascínio que o rei e a Andrômeda têm pela minha família, e que não passa de uma relação a base de interesse. E melhorou mais ainda a situação ao falar que assim que se casar irá convencer o rei a tirar o meu pai do cargo de Mão do Rei, para colocar o pai dela, pois o seu pai irá dar mais ouvidos a ela do que a qualquer outra pessoa. –

- Filha da... – ela respirou fundo e não terminou a sua sentença. – Sabe que a minha mãe nunca gostou dos Strong. - 

- E errada ela nunca esteve! –

- Fala para o meu pai! –

- E ele vai acreditar e mim? Claro que não! –

- Você jamais mentiu para o meu pai, Bella, óbvio que ele vai acreditar. E de qualquer forma, você sabe que o meu pai tem uma enorme amizade e estima pelos Hightower e que jamais permitiu que alguém falasse mal de meu tio, independentemente do que ele faz! – eu apenas suspirei. – Se você não falar, eu vou falar! –

- Você nem estava perto da conversa, Rosalie! –

- Não importa! Acha que eu vou deixar aquela lá falar do meu tio e da minha única amiga e não fazer nada? –

- Eu já falei para o meu pai, e sabe que ele jamais vai deixar alguém falar da família sem fazer nada! Eu conheço o meu pai, e ao mesmo tempo em que eu não queria ir ao almoço no salão de jantar, eu queria ir só para ver o que eu o meu pai fazer. –

- Eu queria só que o meu pai acabasse com essa ideia absurda de se casar de novo! – ela suspirou. – Não faz o menor sentido, Bella. Se ele quer que eu seja a sua herdeira, por qual motivo ele vai se casar? –

- Eu não entendo uma boa parte dos homens, Rosalie. – admiti. – E ainda sou obrigada a ouvir que nós mulheres somos confusas. – suspirei.

- O seu pai nunca se casou de novo, não há a menor necessidade dele se casar de novo. –

- Aí Rosalie... Eu realmente não sei o que falar. – suspirei de novo. – Eu sei que, eu já me arrependi de ter voltado! Tessarion está estressada e pode acabar se machucando. Seu pai fica me olhando com raiva porque o Edward não obedeceu a ordem dele, todo mundo fica me encarando com o mesmo pensamento de Jéssica, que eu voltei para me terminar de chafurdar o nome dos Hightower na lama por ter me casado com alguém de caráter duvidoso! Eu sempre soube que isso iria acontecer quando eu voltasse. Mas de qualquer forma, eu não esperava estar sozinha quando essa hora chegasse. Eu não esperava voltar a Adhara e ver o meu marido partindo no dia seguinte! – eu virei a cabeça para olha-la. – Isso só me faz pensar, que a melhor coisa que me aconteceu foi ter perdido aquele bebê. –

- Não diz isso, Isabella. –

- Rose, imagina como seria comigo aqui sozinha com um bebê! – ela suspirou sabendo onde eu queria chegar. – Acha mesmo que iriam tratar o meu filho bem? Eles não estão me tratando bem, imagine um bebê que não tem nada a ver com as decisões que eu tomei! –

- Só que se tivesse um bebê no meio, Bella, com certeza, meu tio não teria ido embora! Ele já não queria te deixar sozinha, imagina te deixar sozinha com uma criança. – apontou. – Mas eu entendendo o que você quer dizer. –

- Princesa... – um guarda dos mantos brancos se aproximou. – Está na hora de voltar ao castelo. O almoço será servido daqui a pouco! - 

- Amanhã nós as soltamos de novo! – Rose falou para mim e eu apenas balancei a cabeça assentindo.

Syrax obedeceu Rose de imediato quando ela chamou para voltarmos ao fosso, Tessarion já foi mais difícil, só se acalmou quando eu havia prometido voltar no dia seguinte para solta-la de novo, mas de qualquer forma foi difícil coloca-la dentro do fosso de novo, eu não queria que ela ficasse presa, eu queria que ela continuasse solta, como sempre havia sido durante o nosso tempo em Walano, mas, regras eram regras, e as regras eram que os dragões, independentemente do tamanho deveriam ficar no fosso!

Ao chegar no castelo, nós fomos direto para o salão de jantar, na porta de entrada, tinha uma bacia com uma jarra de água fresca para que pudéssemos limpar as mãos. Muita gente já tinha chegado, na verdade faltava apenas o meu pai e o rei, eu não sabia se o meu pai já tinha levado o assunto que eu tinha lhe dito ao rei. Eu me sentei no lugar de Rose como sempre e todo mundo só esperava a chegada do rei Carlisle para que o almoço pudesse ser servido. Eu via Jéssica, que estava sentada, nas cadeiras a nossa frente, e ela me olhava com raiva, nós não tínhamos nos esbarrado de novo, até porque eu evitava ficar perto dela, pois eu já havia deixado bem claro ao meu pai, que caso ela repetisse o que ela tinha dito, eu não iria mais responder por mim.

Uma pequena trombeta foi tocada anunciando a entrada do rei no salão de jantar, e todo mundo ficou de pé. O rei entrou, com meu pai ao seu lado, e ao subir para a sua cadeira, no meio da enorme mesa de jantar, todo mundo se sentou, eu não sabia o que tinha chamado a atenção de meu pai, mas eu o vi olhando para a mesa onde Jéssica e seu pai estavam. Meu pai ficou encarando-a por uns segundos até ter se levantado, fazendo barulho com os pés de sua cadeira.

- Com licença, majestade! – ele disse simplesmente ajeitando a jaqueta que usava. – Vem Isabella, vamos! – falou ao passar por trás da minha cadeira, ao lado da cadeira de Rose.

- O que houve Charlie? – o rei perguntou.

- Perdi o apetite ao olhar para certas pessoas! – ele disse simplesmente. – Vem Isabella. – eu apenas me levantei.

- Charlie, sente-se! – o rei mandou.

- Sugiro que o senhor não se meta, papai! – Rose comentou baixo também encarando a Jéssica. – Não é assunto nosso! Na verdade, é assunto meu, já que colocaram o meu nome no meio! – seguindo os olhos da filha, ele viu que tanto Rose quanto o meu pai, encaravam Jéssica.

- Os três para o corredor agora! –

- Majestade, não é necessário atrapalhar a vossa refeição com isso! –

- Corredor! – ele disse simplesmente se levantando. Meu pai apoiou a mão da base da minha coluna, enquanto Rose se levantava e me guiou para o corredor, pelo mesmo caminho que o rei tinha acabado de fazer. – Todo mundo fora! – ele mandou aos guardas, quando as portas grossas foram fechadas. – O que houve? – questionou cruzando os braços, e meu pai me encarou e eu apenas olhei para o chão. – O que houve Isabella? – o rei já tinha percebido que tinha haver comigo.

- Jéssica falou um monte de besteiras para a Isabella, pai! – Rose respondeu por mim. – Coisas que envolvem o vosso irmão, a família de Bella, a minha amizade com a Bella, e a vossa amizade com o lorde Hightower! Incluindo ainda o cargo de Mão do Rei. –

- O que ela falou? – perguntou para mim e eu apenas olhei para o meu pai.

- Pode responder! –

- Ela disse que eu voltei para terminar de chafurdar o nome da minha família na lama, que eu me casei com um homem de caráter duvidoso, que a minha amizade com a princesa é apenas interesse da minha parte. Que não entende o motivo para o reino ou o senhor gostarem do Hightower, e que também não passa de uma relação de interesse pela minha família ser uma das mais ricas de Andrômeda. –

- E quanto ao cargo do vosso pai? – insistiu ele.

- Que depois do casamento ela iria convencer o senhor ao tirar o cargo do meu pai e dar ao pai dela. Pois com certeza o senhor dará mais ouvidos a vossa esposa do que ao meu pai! – ele apenas fechou os olhos respirando fundo. – E, permita-me dizer, majestade, da próxima vez que ela repetir isso ou algo desse tipo para mim, eu não irei responder de forma educada, como fiz da primeira vez! Ela já sendo casada com o senhor ou não! –

- Eu vou resolver isso! Mas caso ela faça de novo, resolva do jeito que a bem entender! – ele se voltou ao meu pai. – Você não sai daqui. – ele nos deu as costas e voltou para dentro do salão de jantar.

- Por que você falou para ele, Rosalie? –

- Porque você não iria falar, até parece que eu não te conheço! – resmungou.

- E por que o senhor simplesmente não me liberou e inventou outra desculpa ao invés dessa cena toda? – questionei olhando para o meu pai.

- Porque ele iria saber de qualquer jeito, acha mesmo que eu ia deixar qualquer uma falar da minha família? –

- Qual é o problema? – eu ouvi a voz de Jéssica, já tinha um tempo que eu não a via ou ouvia a sua voz e isso era algo divino. Ao contrário da primeira vez que eu a havia visto, desde a minha volta, a sua voz agora era algo doce e suave, como a dama requintada e calma que ela fingia ser e a única pessoa que ela conseguia enganar era o rei.

- Me explica que história é essa de você falar mal do meu irmão, da amizade das duas e da família do meu único amigo? – ele questionou a Jéssica que o encarou fingindo confusão e eu notei que antes de a porta ser fechada, o lorde Strong deixou o salão de jantar.

- Quem... Quem disse isso, majestade? -  ele apenas apontou para mim. – Eu jamais disse uma coisa dessas, majestade! – Jéssica disse fingindo espanto.

- Está chamando a minha filha de mentirosa? –

- Não seria a primeira vez que ela estaria mentindo não é mesmo, lorde Hightower? – lorde Strong comentou parado logo ao lado da filha. – Ou já se esqueceu de todas as mentiras que ela contou há dois anos! –

- Não abre a boca para falar da minha filha! – meu pai falou furioso.

- Podem parar os dois! – o rei falou firme. – Larry, não se meta onde ninguém lhe chamou! O que Isabella faz ou deixa de fazer não lhe diz respeito. E Isabella jamais mentiu para mim, então, não fale o que não sabe! – ele se voltou a Jéssica. – Estou esperando a vossa resposta. –

- Mas eu não disse nada, majestade. Elas estão de novo fazendo o que sempre fizeram, me afastando, eu tentei me aproximar das duas e elas continuam me afastando com mentiras e intrigas e... –

- Jamais... – o rei a interrompeu, se aproximando dela. – Me escute bem! Jamais fale algo sobre o meu irmão de novo! Jamais fale algo sobre a família de alguém de novo, principalmente sobre a família do meu melhor amigo! Os Hightower é a família mais antiga de Andrômeda, tenha respeito! Se o seu pai não lhe ensinou a ter respeito pelas outras casas de Andrômeda, principalmente as mais antigas, eu vou te ensinar a ter respeito! –

- E jamais fale novo da minha amizade com a Isabella! – Rose falou ao meu lado. – Você nem sabe o que amizade significa para falar que a nossa é uma amizade de interesse! E lembre-se, que até você se casar, Isabella está em uma posição social maior do que a sua, pois o homem de caráter duvidoso com quem ela se casou, é o seu príncipe. –

- E por último. Não há motivos para eu tirar o Charlie do cargo onde ele está, principalmente para colocar o seu pai no lugar. – ao ouvia a última frase do rei, o lorde Strong virou a cabeça olhando confuso para a filha, a sua expressão era bem clara, ele sabia da pequena “discussão” que eu e a sua filha tivemos, mas com certeza, quanto a parte de ela ter de influenciar o rei, ele não sabia! Ou então o plano era dele e ele não conseguia acreditar que a filha havia sido tão burra a ponto de explanar isso para alguém. – Você me entendeu? – ela apenas assentiu. – As palavras de Isabella foram que caso isso se repita ela não irá responder por ela, você estando casada comigo ou não, e eu já lhe deixo avisada, se isso acontecer de novo, e ela responder do jeito que eu imagino que seja, eu vou ficar do lado dela! -

- Isso jamais irá acontecer de novo, majestade. – lorde Strong falou. - Irei conversar sobre isso com Jéssica, e se caso essa história aconteceu, não se preocupe, que não irá acontecer de novo. –

- Ótimo! Agora vamos todos voltar para os nossos lugares e almoçarmos como se nada tivesse acontecido! Eu não quero que essa conversa saía daqui. – ele simplesmente encarou os dois Strong, que apenas assentiram, e ao pedirem licença, eles voltaram para dentro do salão de jantar. – E por falar em homem de caráter duvidoso... Tem noticias do meu irmão? – questionou ao meu pai.

- Depende, o senhor quer saber se ele está vivo ou como anda a guerra? – o rei apenas ergueu a sobrancelha. – O príncipe mandou um corvo a Isabella e chegou ontem à noite. Ele está vivo e bem! –

- Então vamos almoçar. – ele nos deu as costas e entrou no salão de jantar, e eu apenas olhei para o meu pai.

- Vamos, ouviu o rei! –

- Eu gostaria que o ocorrido fizesse o meu pai cancelar esse casamento! – Rose comentou.

- A pressão que ele está sofrendo para se casar é muito maior do que esse incidente, princesa! Sinto em lhe informar! – meu pai suspirou. – Mas eu também preferiria que ele arrumasse outra esposa, mesmo sabendo que será algo impossível! –

Três meses haviam se passado desde o ocorrido com Jéssica e depois disso nós não havíamos nos trombado de novo pelo castelo, e nos víamos apenas nas refeições e festas que o rei fazia. Para o azar de Rose, o pai não mudou de ideia e manteve o casamento marcado. Nenhum problema havia acontecido de novo. Desde a última noticia de Edward, avisando que estava em Cetus e indo para Stepstones, eu não havia recebido mais noticias nenhuma, Rose contou, e meu pai confirmou depois, que o rei havia proibido toda e qualquer noticia que viesse da guerra conforme o seu casamento se aproximava.

Eu tinha ido ao fosso algumas vezes, tentava ir com o máximo de frequência possível, nem que fosse para ficar sentada nas pedras enquanto ela sobrevoava o fosso, mesmo após quatro meses, ela ainda não havia se acostumado a ficar presa no fosso, e enquanto eu não estava do lado de fora, com Tessarion solta, eu estava no quarto ou na biblioteca com Rose, enquanto ela estudava sobre a história do reino de Andrômeda, um livro enorme e grosso, que seu pai havia dado para que ela se preparasse para assumir o trono, mesmo eu achando que não era através de um livro que ela iria aprender a governa um reino, principalmente um reino do tamanho de Andrômeda.

- Chega! – ela fechou o livro fechado e com força. Nós estávamos na biblioteca do castelo, ela estudava e eu apenas lhe fazia companhia lendo alguma coisa. – Eu não aguento mais, parece que a minha cabeça vai explodir. – ela deitou a testa contra a capa do livro, esparramado os seus cabelos loiros, quase brancos, pela mesa.

- Que tal nós... Irmos ver as meninas? – perguntei baixo antes que o meistre brigasse conosco por estarmos fazendo tanto barulho na biblioteca e ela levantou a cabeça com animação nos olhos, já tinha quase duas semanas que nenhuma das duas eram soltas devido as chuvas que caiam em Adhara e meu pai não me deixou sair do castelo.

- Podemos ir até a campina próxima a floresta do rei de novo. –

- Vou pegar a minha capa. – eu fechei o meu livro e nós nos levantamos da mesa ao mesmo tempo.

Ao deixarmos a biblioteca, cada uma seguiu para o seu quarto, mesmo que durante esses meses eu tenha passado a maior parte das minhas noites no quarto de Rose, tanto que o guarda que ficava a minha porta, passou a “revezar” as noites com o escudo juramentado de Rose a sua porta, ou então ficavam os dois a postos, eu ainda ia ao meu quarto para pegar roupa e ficar por lá enquanto Rose e meu pai estavam ocupados. Ao adentrar em meu quarto, eu deixei o livro que eu estava lendo em cima da cômoda e peguei uma capa em meu baú, um pio chamou a minha atenção para a ave branca que estava em sua gaiola grande, não tão grande quanto a quela tinha em Walano, mas para o tamanho do quarto, era a que cabia, próxima a janela. Ela estava se alimentando e piou ao me ver, aproximei-me da gaiola, e passando um dedo por entre as grades, eu acariciei a sua cabeça pequena, sentindo a macies de suas penas brancas.

Quando ela voltou a comer, eu deixei o quarto, fechando a porta logo atrás de mim, e repousando a capa sobre os meus ombros. Eu estava fechando o laço enquanto descia as escadas, já que eu fiquei de esperar por Rose na porta do castelo, quando acabei esbarrando em meu pai, falando com o lorde Strong, e das duas uma, ou eles estavam discutindo, pois soube por fofocas, que eles passaram a discutir com bastante frequência de repente, e eu sabia que esse “de repente” era desde a confusão que Jéssica havia criado, ou então era sobre algo relacionado ao reino.

- Isabella. – ele parou de falar com o pai de Jéssica ao me ver me aproximando dele. – Vai para onde? – questionou quando eu fiquei na ponta dos pés e dei um beijo em sua bochecha.

- Eu vou sair com a princesa, pai. – expliquei. – Nós vamos até o fosso soltar Syrax e Tessarion, e depois vamos até a campina. – expliquei, ele sabia quando era a campina que ele estava falando.

- Os guardas vão juntos? –

- E ela e eu conseguimos deixar a fortaleza sem que eles vão junto? – questionei. – Edward colocou todos os mantos dourados com os dois olhos bem presos em mim! – resmunguei e ele sorriu.

- Tudo bem, vai lá. Não demore, porque o meistre acha que vai chover hoje a noite de novo! –

- Sim senhor! – eu fiquei na ponta dos pés de novo para lhe dar outro beijo em sua bochecha. – Tem alguma carta de Edward? – perguntei em seu ouvido, e discretamente ele negou. – Tudo bem, eu já vou, daqui a pouco eu volto. – ele deu um beijo no topo da minha cabeça, e eu segui pelo corredor, para terminar de descer o último lance de escadas.

A princesa já havia avisado a sua guarda que iriamos sair, e ao deixar o castelo, eu vi a carruagem e uma pequena comitiva de uns dez guardas, tanto guardas dos mantos dourados quanto dos mantos brancos, nos esperando no guarda do castelo.

Rose mal chegou e já saiu me puxando para dentro da carruagem que nos levaria para o fosso. Por mais que fosse necessário seguir apenas duas ruas retas para chegarmos até o fosso, nós cruzamos toda a cidade, e voltaríamos a cruza-la para sair da cidade até a campina, já que o fosso e a campina ficavam em cantos opostos de Adhara. A carruagem parou próxima aos degraus que davam para a entrada da caverna, e nós duas descemos. Quando os guardiões nos viram, foram imediatamente buscar os dois dragões. Syrax saia comportada, já Tessarion era bem rebelde e tentava a todo custo se livrar dos guardas e da caverna.

- Hey... – eu me aproximei de Tessarion agitada para acalma-la, antes que ela acabasse machucando alguém ou se machucando. Ela não havia crescido quase nada desde que deixamos a ilha, portanto ela continua um pouco maior que um cavalo adulto. – Está tudo bem, menina, eu estou aqui. – eu segurava a sua cabeça enquanto falava na língua cariana com ela. – Desculpa ter que te deixar pressa, mas eu não tenho escolha, já te expliquei. – ela sibilou para mim. – E na última semana estava chovendo muito, não tinha como deixar o castelo para vir te soltar. Se eu pudesse você seria livre como sempre foi! - eu ia falando e aos poucos ela ia se acalmando. – Hoje vamos voar um pouco, está bem?! – ela soltou um silvo que pareceu ser um silvo de felicidade, me acabando rir.

- Princesa. – eu ouvi o guardião chamando a Rosalie e continuei com a minha testa apoiada na cabeça de Tessarion, acariciando as suas escamas. – Princesa... –

- Isabella é com você! – eu ouvi a voz de Rosalie rindo e eu afastei a minha cabeça do dragão e olhei para o lado, vendo o guardião parado próximo a mim.

- Perdoe-me... Eu ainda não me acostumei com isso! – o riso de Rose virou uma gargalhada.

- Perdoe-me por ter ouvido, mas... Eu ouvi a senhora falando que voar hoje... A Tessarion ainda é pequena demais para colocar uma sela nela e... –

- Não... – eu o interrompi. – Quando eu disse que vamos voar, eu me referi apenas a ela. Só ela vai voar! Eu não vou tirar os meus pés do chão! – garanti sorrindo e ele assentiu mais aliviado. – Ela ainda é muito pequena para aguentar alguém ou uma sela, isso sem falar que eu sequer sei montar. –

- Em tese, é igual a montar um cavalo. – Rose comentou vindo para perto de mim, quando o guardião se afastou. Ela montaria em Syrax, portanto havia trocado o seu vestido pela sua roupa de montaria.

- Sabes melhor do que ninguém que eu não sei montar um cavalo, Rosalie! – lembrei-a.

- Simples de resolver. – deu de ombros. – Elas se alimentaram recentemente? – ela perguntou ao guardião.

- Elas seriam alimentadas hoje a noite, alteza. –

- Certo. Iremos alimenta-las lá fora, não se preocupe! – ele apenas assentiu. – Peça a Tessarion seguir a Syrax e nos encontramos na campina. – falou para mim, e eu apenas assenti, e calçando as duas luvas, ela caminhou de volta para perto do seu dragão.

- Vamos voar menina? – ela silvou de felicidade de novo. – Segue a Syrax. – mandei e ela começou a agitar as suas asas querendo levantar logo voo, mesmo que eu não tinha me afastando ainda e mesmo que Rosalie nem tivesse terminado de montar.

Eu me afastei para que ela pudesse voar e apressada, ela alçou voo primeiro, tocando no céu azul claro, ficando quase que camuflada. Enquanto eu ouvia Syrax alçar voo logo em seguida, eu me reaproximei da carruagem, que tinha a porta aberta me esperando. Sentei-me bem perto da janela, enquanto a carruagem, com os guardas, percorria a cidade para a campina, para que pudesse ficar olhando para o céu. Syrax eu conseguia ver com clareza, mesmo com a altura, era quase impossível não ver um dragão dourado contra o céu limpo, já Tessarion, volta e meia eu a perdia de vista, já que ela era um dragão azul, contra o céu azul, mas eu sabia que ela estaria seguindo Rose, ela sempre obedeceu quando eu a mandava seguir Caraxes, e mesmo que ela estivesse animada para voar, eu sentia que ela estava seguindo as duas.

Demorou um pouco até chegarmos à campina, quando eu desci da carruagem, Rose já estava sentada na relva, próxima ao penhasco, enquanto observava os dois dragões sobrevoando acima da baia da água negra. Deixei a carruagem e praticamente me joguei no chão, deitando ao seu lado, sentindo a grama macia debaixo do meu corpo.

- Quer que eu te ensine a montar? – ela perguntou de repente e eu apenas virei o rosto da direção dos dragões, olhando confusa para ela.

- É o que? –

- Quer que eu te ensine a montar um cavalo? – perguntou virando a cabeça para mim. – Eu sei que o seu pai jamais te ensinou a montar, mas você precisa aprender para poder montar em Tessarion. –

- E será justamente você quem irá me ensinar a montar? – ela deu de ombros rindo. – Não, muito obrigada. E de qualquer forma, o seu cavalo nem está aqui! –

- Venha... – ela se levantou e eu apenas me sentei, a encarando. – Vem Isabella. – eu me levantei e a segui. Ela ia andando a uns bons passos a minha frente, e seguiu esse caminho até se aproximar dos guardas, que estavam parados bem afastados para nos dar privacidade, mas não tão afastados para não verem caso algo de errado fosse acontecer.

- Princesa. – Calleb, o guarda dos mantos dourados, que me seguia para tudo quanto é canto, a ordens do próprio Edward, se aproximou com o seu elmo em mãos. – O que eu posso fazer por vossa alteza? –

- Eu quero um cavalo emprestado. – respondeu simplesmente.

- Eu posso perguntar o motivo? –

- Eu quero ensinar a Isabella a montar. – ele levantou a cabeça, me vendo parada a alguns passos atrás de Rose, e eu apenas balancei com a cabeça negando, quando ela notou que ele tinha os olhos em mim, por tempo demais, ela se virou e eu virei rapidamente a cabeça para o céu, fingindo observar o voo dos dragões.

- Perdoe-me alteza, mas qual é o grau de intimidade da princesa Isabella com um cavalo? –

- Nulo! – respondi por ela ainda fingindo olhar para cima.

- Serei obrigado a recusar. Eu respeito a senhorita, mas eu tenho medo do marido dela. – falou baixo para os outros guardas não ouvirem. – E se algo acontecer com ela, eu estando perto ou não, o príncipe Edward me mata, lenta e muito dolorosamente. – ele falava brincando, mas no fundo nós três sabíamos que ele falava a verdade. – Além do fato de a princesa Isabella não estar vestida apropriadamente para montar em um cavalo. – apontou. – Contudo, nos próximos dias receberemos uma nova remeça de cavalos, mais baixos e mais calmos. Poderá chamar o seu instrutor de montaria, e com a senhora Isabella usando uma roupa mais apropriada, ela poderá aprender a montar em um cavalo. – ele falou com calma. – Além do fato de esses cavalos serem cavalos de batalha, eles são muito rápidos, e se eles a estranharem, ou algo errado que ela possa fazer, ele pode se assustar e acabar caindo e... –

- Eu já entendi sor Calleb. Já entendi. – resmungou. – Tudo bem, eu chamarei por Collin, para que ele ensine Isabella a montar. –

- Obrigada. – mexi os lábios sem sair voz nenhuma da minha boca e ele fez um leve aceno com a cabeça.

- Eu vi isso, em... – reclamou comigo, andando de volta para perto do penhasco.

- Mas eu não fiz nada. – comentei rindo e vi Calleb sorrindo enquanto voltava para a sua posição.

Eu voltei a me deitar ao seu lado e ficamos ali por um tempo, um bom tempo, ali deitadas, sentindo o sol em nossas peles e a brisa do mar tocando em nossos rostos. Depois de um tempo voando, Tessarion foi a primeira a pousar na campina, deitando perto de mim, ela cutucou a minha cabeça com a dela. Eu me levantei, me sentando, e ela deitou atras de mim, e eu voltei a me deitar, apoiando a minha cabeça em seu dorso, não era muito confortável, mas eu gostava, era quentinho e confortável. Um tempo depois, Syrax pousou e deitou perto de Rosalie também.

Eu não sabia ao certo se eu tinha acabado tirando um cochilo, mas eu só percebi que o sol começava a se por quando Calleb nos chamou, perguntando se desejávamos voltar logo para casa. Rosalie realmente havia adormecido ao meu lado, e só acordou quando eu a cutuquei, ela deveria estar mesmo cansada, já que ficava o dia inteiro com os livros, que o seu pai lhe havia dado, em mãos. Depois que Rose despertou e espantou o sono, ela lembrou que ficou de alimentar os dragões, e para a nossa sorte, para que não tivéssemos que ficar procurando por alimento, um pequeno grupo de ovelhas selvagens estavam pastando próximas a nós, Tessarion ainda não comia muito, mas Syrax quando acabou de comer, tinha acabado com quase todo o rebanho.

Nós duas devolvemos os dragões ao fosso depois de o sol ter se posto, e como meu pai tinha dito, a chuva chegara em Adhara junto com a lua, durante metade do caminho do fosso até a Fortaleza Vermelha a chuva começou a cair com força sobre a carruagem, e mesmo subindo as escadas correndo, nós duas ficamos ensopadas. Atrás de nós, enquanto íamos para o quarto, ia se formando uma trilha de água que escorria de nossas roupas e cabelos, pelo menos, o castelo estava bem quente com lareiras, fogueiras e tochas acessas, o que incluía a de meu quarto, portanto frio eu não sentia.

Eu esperava que Rose desistisse da ideia de me ensinar a montar, mas pelo contrário, a cada dia que passava ela perguntava a todo mundo se os cavalos já tinham chegado, e a resposta era sempre não! Ela só não sabia se realmente não tinha chegado ou então se era apenas uma desculpa, já que o casamento do rei estava mais perto do que imaginávamos, ou queríamos.

Passou mais algumas semanas e o dia do casamento, infelizmente, chegou, e iria ocorrer essa noite no salão da sala do trono. Eu já estava pronta, e estava terminando de ajudar Rose a amarrar o vestido, ela tinha praticamente fugido para o meu quarto quando uma criada foi até ela, dizendo que Jéssica pedida ajuda da princesa para se arrumar. Uma batia soou na porta e eu permiti a entrada, era John, quem estava de guarda essa noite, e disse que meu pai havia pedido para que eu fosse me encontrar com ele, imediatamente, em sua sala.

Terminei de amarrar o vestido de Rose e a deixei sozinha para terminar de se arrumar ali mesmo em meu quarto, e fui até onde estava sendo chamada. Todo o caminho que eu fazia, John ia andando atras de mim, deixando o guarda juramentado de Rose parado em minha porta. Ao me ver, chegando pelo corredor, o valete de meu pai bateu a porta e a mesma prontamente fora aberta.

- Mandou me chamar, papai? – questionei.

- Vieram te ver! – respondeu simplesmente.

- Quem? –

- Oi irmãzinha. – eu ouvi a voz de Mike vindo de trás de mim, e ao me virar, o encontrei parado a menos de dois passos de mim.

- Mike. – eu estava feliz, tinha muitos anos que eu não via o meu irmão, já que antes mesmo de eu fugir com Edward para Dragonstone, o meu irmão tinha ido para Oldtown, na verdade, ele seguiu para lá com o meu tio, logo após o período de luto da rainha Esme passar. – Quanto tempo! – eu o abracei e ele e ele retribuiu o abraço com força.

- Eu que o diga. Antes de eu ir embora você ainda era um pouco sensata quanto ao fato de fugir com alguém. – comentou rindo ao me soltar.

- Até onde eu saiba você me apoiou! –

- Nunca apoiei a sua fuga, eu só falei para o papai que era para ele ficar calmo, pois eu sentia que o Edward iria cuidar bem de você! E como posso ver, ele cuidou! -

- É a mesma coisa! – dei de ombros e ele riu.

- Ele disse que tem uma novidade para contar, mas queria contar para nós dois juntos. Pois então, pode falar! –

- Agora? Não iremos nos atrasar para o casamento do rei?! –

- Ninguém quer ir a esse casamento, Mike! –

- Isabella! – meu pai me recriminou. – Pode falar, Mike, não irás ler nenhum livro, então acredito que dê tempo antes do casamento começar. –

- Tudo bem... – ele respirou fundo. – Meu tio arrumou um casamento para mim. E pai, antes que o senhor fale, que é o senhor quem tinha que fazer isso, eu... Eu realmente gostei da dama e eu queria muito que o senhor aceitasse. –

- Com quem? –

- Ângela da família Webber. De Cygnus mesmo! – explicou. - Se o senhor concordar... Meu tio já quer marcar o casamento para o próximo mês! Na verdade, ele só não me casou ainda, porque adoeceu. – respondeu.

- Acredito que no próximo mês podemos ir até Cygnus e se eu gostar dos pais, vocês se casam! – mal o meu pai terminou de falar e uma batia soou na porta. – Entre. –

- Com licença vossa graça. – o valete do rei entrou no quarto. - O rei o chama em seu aposento! –

- Estou indo! – o valete assentiu e ele saiu. – Eu vejo vocês dois no salão. Não se atrasem! – nós dois apenas assentimos e ele saiu nos deixando sozinhos.

- Conte-me dela. – pedi me aproximando mais um pouco de Mike, e enlaçando o seu braço ao dele para que deixássemos a sala de meu pai.

- Ela me lembra um pouco você! – começou. – Adorável, educada, um pouco louca, você vai gostar dela também! –

- Acha que eu deveria ir? –

- É o casamento do seu irmão, é obvio! –

- Do mesmo jeito que é óbvio o jeito que nossos tios irão me tratar. – ele suspirou.

- Nenhum deles estão felizes com o seu casamento, e o que deixa pior ainda a situação é o fato de o nosso pai estar bem tranquilo quanto a isso! –

- E isso me deixa bem assustada. Ele está levando essa situação de uma forma bem tranquila. –

- Ele viu que o que todos nós dissemos era verdade, ele cuidou de você. Você está bem, viva e inteira... –

- E pelas palavras de nosso pai, infelizmente eu estou feliz! – ele soltou os nossos braços, e passou o mesmo por sobre os meus ombros, puxando o meu corpo para perto do dele, e me dando um beijo em minha testa.

- Ele não gostou do casamento, então na cabeça dele, se você estivesse infeliz ele tentaria te livrar desse casamento, mas como você não está! – eu apenas suspirei. – Será que quando ele voltar ele paga a minha revanche? –

- Do que você está falando? – questionei confusa.

- No último torneio que ele estava, no caso, que vocês estavam, ele me derrubou do cavalo de cara no chão. – lembrou-me e eu apenas bufei. – Ele prometeu uma revanche. Eu quero a minha revanche! Será que agora com ele casado com você, ele me deixa ganhar?! –

- Claro... Você sabe o quanto ele adora perder! – ironizei e ele riu.

- Pelos deuses, o quanto eu senti a sua falta... – ele me abraçou com força, me fazendo rir.

Enquanto íamos andando para o salão do trono, onde ocorreria o casamento, ele ia comentando sobre a tal de Ângela, por quem, era notável, que ele estava bem interessado, se não, apaixonado. Nós chegamos na sala do trono, onde todos os convidados, que não eram muitos, muitos lordes não tinham vindo para o casamento do rei, e eu me prostei ao lado do meu irmão, na primeira fila, onde seria o lugar do meu pai. Sem o Edward aqui, eu era apenas a filha da Mão do Rei, portanto eu ficaria próximo ao meu pai, mesmo eu querendo e muito estar ao lado de Rose, que já estava ali, e era palpável que ela não estava se sentindo bem com o casamento.

O rei chegou um tempo depois, junto ao meu pai, que prontamente veio para perto de mim e de meu irmão. Com o rei em seu lugar, ao lado do alto septão, o casamento se deu início, e conforme o mesmo ocorria, eu notava que o rei estava feliz, quase que eufórico, o mesmo não podia ser dito sobre Jéssica, como eu mesma havia dito diversas vezes, o rei poderia estar até apaixonado, Jéssica era apenas interesse ou estava sendo obrigada pelo pai. Durante toda a cerimônia, eu ficava com os meus olhos presos em Rose, ela não estava nada bem, e eu só não sabia dizer ao certo se era pelo casamento ou por ver o pai feliz após a morte de sua mãe.

- Você está bem? – perguntei baixo a ela quando o casamento acabou e todos seguiram para o salão de jantar para o banquete.

- Não! – respondeu entre os dentes, e ao olhar para baixo, para segurar a sua mão, eu vi que as pontas de seus dedos estavam bem vermelhas, ela estava arrancando pequenas e finas peles ao redor de suas unhas, causando machucados em si própria e eu apenas suspirei, aproximando a minha cabeça da dela.

- Finge que está passando mal, que vai vomitar ou desmaiar. – falei baixíssimo quando vi meu pai se aproximando de nós, com meu irmão, o rei e a nova rainha, eu prontamente passei a mão pela cintura de Rosalie, como se fosse ampara-la.

- Eu fico muito feliz pelo vosso noivado, Mike, os Webber são uma boa família e... – o rei viu o guarda juramentado de Rose se aproximado para ampara-la também e tirar o seu peso de cima do meu corpo. – Filha o que houve? – ele perguntou sem fazer muito alarde.

- Ela não está se sentindo muito bem, majestade... Deve ter sido algo que ela comeu. – comentei e virei o rosto para olha-la. – Eu te falei que não era para comer aquela gruta, você nem sabia que fruta era aquela. – ralhei com ela, e ela entrou no fingimento fingindo segurar o vômito. – Nós saímos mais cedo para soltar um pouco os dragões e... Essa teimosa viu uma fruta numa árvore e cismou que era uma maçã verde e comeu, ao invés de me ouvir. Deve estar se sentindo um pouco mal por causa disso, majestade. O senhor se importa, caso eu a leve para o quarto? Antes que ela... – ela fingiu segurar o vomito de novo. – Vomite?! –

- Não... Pode levar. Por favor... Eu vou mandar o meistre lá com um chá que vai melhorar esse enjoo. –

- O senhor me ajuda, sor Félix? É mais fácil nós duas rolarmos as escadas do que eu conseguir leva-la até o quarto. –

- Claro princesa! – ele apenas assentiu.

- Eu vejo você amanhã, Mike. Até amanhã, papai... – eu me aproximei dele para lhe dar um beijo na bochecha.

- Vocês são duas péssimas atrizes! Não sei como ele acreditou nisso! – ele falou baixo em meu ouvido e dando um beijo em minha testa.

- Eu também te amo! – falei simplesmente e sorrindo para ele.

Com sor. Félix carregando todo o peso de Rosalie, e ela fingindo durante todo o caminho que estava passando mal e que iria vomitar a qualquer momento, e continuou assim até chegarmos a segurança do seu quarto, onde ninguém entrava sem a autorização dela. Os convidados estavam tão absortos com o casamento e em irem para o salão de jantar, que sequer notaram o mal de estar da princesa. Eu apenas abri a porta do quarto e sor. Félix ajudou-a a se deitar na cama, nos deixando sozinha, mas avisando que estaria do outro lado da porta, e que caso precisássemos de algo, era só chamar!

- Obrigada. – ela falou baixo, quando eu me sentei ao seu lado, e segurando a minha mão.

- Não precisa agradecer! Eu iria querer que alguém fizesse o mesmo por mim se fosse o meu pai se casando. –

- Eu não vejo problema nenhum no casamento... – suspirou. – Eu só não gosto que ele tenha se casado justamente com a Jéssica... Nós dois sabemos como ela é! Nós contamos ao meu pai o que ela fez e... –

- Eu sei, Rose, eu sei! Mas o seu pai está apaixonado, ele não vai ver nenhum ponto negativo que falarmos para ele. E ele acha que resolveu aquele problema, e como ela nunca mais voltou a mencionar aquilo, ficou por isso mesmo! – dei de ombros.

- Eu... – ela suspirou. – Eu não sei explicar o que houve, mas parecia que as paredes estavam se fechando em volta de mim, e o ar não entrava em meus pulmões e... – eu apenas suspirei também me lembrando da vez que tinha dito a mesma coisa para Edward há alguns anos atrás, e acabei sorrindo ao me levar do que ele havia sugerido.

- Você quer ser livre por uma noite? – ela virou a cabeça na minha direção, me olhando confusa. – Como Edward me disse, Adhara não tem as melhores distrações noturnas, mas é melhor do que nada! –

- Não tem como sairmos do castelo a essa hora, principalmente sozinhas e... – ela foi interrompida por uma batida na porta.

- Apenas confie em mim! – falei baixo e piscando para ela. – Pode entrar. – a porta fora aberta.

- Com licença, princesas... Princesa, o seu pai pediu para que eu lhe trouxesse este chá, fará bem ao seu enjoo. –

- Obrigada meistre. – ela fez uma atuação, um pouco exagerada de mais, para se sentar na cama e pegar a xícara das mãos do ancião.

- Tome-o enquanto está quente, o efeito será melhor. –

- Meistre, o senhor pode me fazer um favor? – ele apenas assentiu. – Pode ficar de olho nela enquanto eu pego uma troca de roupa em meu quarto? Eu acho melhor eu passar a noite aqui com ela, para o caso de ela sentir algo durante a madrugada, ela não estar sozinha! –

- Claro princesa, não precisa se apressar. –

- Muito obrigada, meistre! – eu me levantei da cama. – Quando eu voltar eu quero essa xícara vazia, mocinha. – comentei e ela me olhou com raiva, ela tinha esperanças de fugir daquele chá, ela odiava chá!

Eu deixei o quarto de Rose e segui para o meu, mal eu deixei o corredor de onde ficava o aposento da princesa e ouvi passos atrás de mim, e ao olhar por sobre o meu ombro e vi que era Calleb que vinha atrás de mim, como sempre! Entrei em meu quarto e fechei a porta, não queria que ninguém do lado de fora visse o que eu estava fazendo aqui dentro!

Um dos principais motivos de eu não querer que ninguém mexesse em minhas roupas, era porque eu ainda tinha escondida as roupas de pajem que Edward havia me dado para a primeira vez e que nós tínhamos saído pelas ruas de Adhara a noite. Na verdade, eu tinha duas roupas de pajem, e eu nunca soube o motivo de eu continuar guardando-as, mas de qualquer forma, elas seriam completamente úteis hoje! Eu as peguei e as dobrei, o máximo possível, escondendo-as no meio de uma manta, por cima da manta dobrada, eu coloquei um vestido limpo e uma camisola, eu tinha noção de que alguém viria ver a princesa antes de dormir, portanto eu teria que estar pronta para adormecer, ao tempo em que eu deveria estar trocada no dia seguinte. Com tudo separado, eu saí do quarto e voltei para o quarto da princesa, com Calleb me seguindo mais uma vez!

- Muito obrigada, meistre, e me perdoe por atrasar o vosso jantar. – comentei me fazendo presente ao adentrar ao quarto.

- Não se preocupe com isso, princesa! –

- De qualquer forma, muito obrigado, eu assumo os cuidados de Rosalie a partir de agora. – garanti e ele apenas assentiu.

- Daqui a pouco estão trazendo os vossos jantares, altezas. Com licença. –

- Toda... E mais uma vez, muito obrigada, qualquer coisa que a princesa sentir eu mando avisarem ao senhor imediatamente. Boa noite. –

- Boa noite! – ele saiu do quarto, nos deixando sozinhas.

- Estou surpresa com o quanto eu aprendi a mentir nesses dois anos casada com o seu tio! – comentei me sentando na cama, e colocando as coisas que eu havia trazido ao meu lado, próximo aos pés de Rose. – Presta atenção. Depois que a sua mãe morreu, o seu tio me levou para dar umas voltas pela cidade durante a madrugada, e em algumas dessas voltas, você estava dormindo em meu quarto e nem percebeu quando eu entrei ou saí do mesmo! – eu falava baixo para que sor. Félix e nem Calleb nos ouvisse.

- E como você saiu do castelo sem ninguém te ver ou reconhecer? –

- Do mesmo jeito que eu saí quando fugi com ele! O castelo está cheio de passagens secretas, já conheço uma boa parte delas, graças ao seu tio! – respondi. – E o jeito que eu usei para ninguém me reconhecer foi me vestir de pajem! – eu comecei a tirando as roupas do meio da manta. – Caso queira, eu tenho roupa para dois! – ela sorriu para mim. – Com os cabelos presos ninguém vai nos reconhecer, evitaremos os lugares vazios e voltaremos rápido, apenas para que possa respirar um pouco! –

- Eu quero! – falou rapidamente.

- Então veja bem o plano! Troque de roupa e coloque uma camisola. Quando a criada vier trazer o jantar, ela tem que te ver trocada ou se trocando, porque eu sei que antes de irem dormir, o seu pai, ou o meu pai, ou então o próprio meistre vai passar aqui para ver como você está! O rei deve se retirar cedo do salão de jantar para consumar o casamento, mas isso não significa que a festa vai acabar cedo, o que é melhor ainda, a maioria dos guardas vão estar no salão para conter os bêbados e encrenqueiros. Assim que nos vierem nos ver, e ver que estamos dormindo, nós nos trocamos e saímos. E voltaremos antes do sol nascer! As chances de alguém vir aqui durante a madrugada é quase nula! –

- Você passou tempo demais com o meu tio. – acusou.

- Querida, eu sou casada com o seu tio! – lembrei-a e ela riu. – Agora se troque, que eu vou tentar encontrar a passagem desse quarto.

Rosalie se levantou da cama para se trocar, e eu comecei a procurar as paredes, geralmente todas as passagens que eu conhecia, ficavam na parede mais fina, e nesse caso, a parede mais fina que eu havia encontrado, ficava justamente atrás da cama da princesa, mas antes que eu pudesse ter certeza e conseguir afastar um pouco a cama, bateram a porta. E antes mesmo que o sor. Félix abriu a porta, anunciando o jantar, eu corri para perto de Rose, para ajuda-la a se trocar.

As criadas deixaram o jantar na mesa de centro do quarto e foram embora, eu me troquei rapidamente, colocando a minha camisola, antes que alguém voltasse para cá. Nós duas jantamos, até porque, volta e meia, o sor. Félix pedia permissão para entrar para confirmar se a princesa estava se alimentando ou não, e ao vê-la comendo, ele ia embora. Depois das criadas terem recolhido a mesa, Rose se sentou na cama e eu me sentei ao seu lado. Com os olhos presos nas criadas, que vieram retirar a mesa, eu, discretamente, levei os meus dedos para a parede atrás de mim e consegui sentir, mesmo que fina, uma fissura na parede, de onde passava um leve vento úmido e gelado.

Quando as empregadas saíram, apagando a maioria das velas atrás de si, nós nos deitamos para dormir, ou melhor, fingir dormir. E não demorou quase nada e aporta foi aberta, como o quarto estava bem escuro, e a claridade do corredor adentrou o quarto, nós fingimos estar dormindo, mas ambas escutamos os guardas cumprimentarem o rei. Ele ficou poucos segundos no quarto, mas eu conseguia sentir a presença dele próxima a cama e depois sumindo, ouvindo a porta sendo fechada e a claridade ir embora também. Devagar abri os olhos e percorri o quarto com os mesmos, confirmando que estávamos sozinhas.

E nós passamos a agir com o máximo de silêncio possível. Nas pontas dos pés, nós nos trocamos, colocando as roupas de padre, e escondendo os cabelos debaixo das toucas. Com uma de cada lado da cama, nós empurramos um pouco a cama para frente, tomando todo o cuidado para os pés não roçarem no chão de pedra e usando alguns travesseiros, os colocamos na cama, cobrindo-os por completo para fingir serem dois corpos dormindo. Passei a ponta dos dedos pela lateral da parede, até encontrar a fissura de novo e com força, eu a puxei para fora, para dentro do quarto, bem pouco, o máximo para que eu e Rose passássemos, só um olho muito bom notaria que a cama tinha sido posta mais para a frente.

- Pronta? – perguntei estendendo a minha mão para ela.

- Pronta! – ela assentiu pegando a minha mão e nós entramos na escuridão daquele corredor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário