Adhara – Continente de Andrômeda –110 Depois da Conquista.
Pov. Bella.
Durante os dias que sucederam a minha ida para Oldtown, eu e Rose usamos todas as madeiras finas que tinham nas nossas lareiras, e iluminamos os caminhos. Na verdade, iluminamos três. O primeiro era o que levava do quarto da princesa até o final do túnel que nos deixaria perto do pátio de armas. O segundo, saia do meu quarto até o pátio de armas, e o terceiro, e que era um pouco desnecessário, mas não sabíamos se no futuro seria útil, era o caminho que levava do quarto de Rose até o meu. Esperava eu que mais ninguém usasse aqueles túneis, para que não descobrissem o que havíamos feito.
Meu pai foi organizando tudo o que tinha de pendente, pois demoraria, e muito, para conseguirmos viajar tranquilamente, já que a viagem era bem longa, quase uma semana de viagem, já que teríamos que cruzar todo o território de Andrômeda, seguindo para o sul. Eu havia ouvido boatos de que o rei estava planejando ir até o casamento do meu irmão, mas Rose havia negado tal história, pois segundo ela, o rei não podia deixar Adhara sozinha, como meu pai que era quem cuidava do reino quando havia algum problema com o rei Carlisle, e Edward também não se encontrava, ele não queria deixar o pai de Jéssica, o lorde Strong, tomando conta do reino!
Hoje eu tinha mais uma aula de montaria com o sor. Collin, e dessa vez quem tinha vindo comigo era o manto dourado John, Calleb havia ficado no castelo, e ao voltar para o mesmo, deixando Rose seguir para o seu quarto, eu segui para o meu.
- Perdoe-me senhor, mas eu só recebo ordens do príncipe Edward. – eu ouvi a voz de Calleb, quando eu me aproximei de meu quarto.
- O que está acontecendo aqui? – questionei ao me aproximar da porta e encontrando Calleb e meu pai.
- O vosso pai quer proibir a minha ida a Oldtown com a senhora. – Calleb respondeu e eu encarei o meu pai.
- Como eu disse, soldado, os guardas e soldados de Oldtown são os melhores que tem no continente de Andrômeda. A sua guarda não será necessária enquanto estivermos na cidade! –
- E durante o caminho de ida e de volta, vossa graça? Vossos soldados de Oldtown irão lhe acompanhar? – rebateu. – Além do fato de que eu dei a minha palavra ao príncipe Edward, que eu seguiria todo e qualquer passo que a esposa dele desse! Obviamente não era para ela saber, mas vossa filha é deveras inteligente e percebeu pouquíssimos minutos após a partida do esposo. –
- Então... – meu pai me encarou. – Diga a sua sombra de que não será necessário a ida dele até Hightower. –
- Papai, a ordem dele é me acompanhar para onde eu for! E, perdoe-me, mas as ordens de um príncipe estão acima da vossa, vossa graça. – ironizei e ele me encarou furioso. – Portanto, se as ordens que ele recebeu, é de me acompanhar! Ele vai conosco até Hightower! Ele tem razão, papai, os guardas de Oldtown não nos acompanharão a viagem toda! Agora, eu gostaria de um banho, para tirar esse cheiro de traseiro de cavalo, e de descansar um pouco, e gostaria de fazer isso, sem os dois discutindo na minha porta! –
- Além dele e daquela coisa que você ganhou, mais o que você pretende levar até a nossa casa? –
- Tudo o que eu puder para que me ocupe o máximo de tempo possível, para que eu não seja obrigada a ficar muito tempo próxima ao vosso irmão e cunhada! Eu só não levo a princesa Rose comigo, porque o rei não permitiu. Agora... Com licença, papai! – sem dizer mais nada, eu apenas entrei em meu quarto para me livrar de minhas botas.
As minhas pernas não doíam mais igual as primeiras aulas, mas elas ainda doíam um pouco, eu não estava acostumada a andar a cavalo, e nas vezes que eu havia montado com Edward, eu havia sentado de lado, e não com uma perna de cada lado do animal. Para a minha surpresa, o meu pedido havia sido atendido, e os dois pararam de discutir na minha porta e eu pude descansar um pouco após um bom e longo banho quente.
O último dia que eu ficaria na cidade de Adhara havia chegado, amanhã eu partiria para Oldtown e só deveria voltar daqui a um mês, mais ou menos, a viagem era tão longa, que o meu pai estava disposto a ficar bastante tempo na cidade, apenas para compensar os quase sete dias de viagem. Então as chances era de eu ficar mais de um mês fora de Adhara. Até o momento eu não havia recebido nenhuma resposta da mensagem que havia mandado a Edward através de Calleb, e por um momento eu comecei a desconfiar do fato de que os corvos poderiam realmente ter se perdido.
Segundo meu pai, ele havia mandado uma mensagem a Stepstones a pedido do rei, mais até o momento também não houve nenhuma resposta. Já era de madrugada, era para eu estar dormindo e descansando para a longa viagem que eu enfrentaria a partir de amanhã, mas eu estava mais uma vez sentada na muralha, na Baixada das Pulgas, junto com Rose. Ela havia tentado insistir ao pai para que fosse junto, mas a resposta era a mesma não. Ele queria que ela se desse bem com Jéssica, e achava que esse tempo em que passaríamos separadas ajudassem a Rosalie e Jéssica a se aproximarem!
- Eu realmente não queria ficar aqui sozinha durante tanto tempo! –
- Como eu disse da primeira vez que deixei Adhara. Se eu pudesse eu te levava junto! – ela sorriu de lado, levando a jarra de vinho até os lábios.
- Quem será que vai estar pior? Você em Hightower com os seus tios, que já tem bastante tempo que não os vemos, ou eu aqui com Jéssica, que eu desejava nunca mais ver? –
- Nós duas estaremos ferradas, essa é a pura verdade! Eu gostaria tanto de ver o jeito que eles iriam agir caso Edward estivesse junto. –
- Eles não abririam a boca, sabe disso! Vosso tio tem medo do meu tio! A propósito... Nada ainda na mensagem que enviou através de Calleb? – eu apenas neguei.
- Isso é agoniante e desesperador! Eu não sei como ele está. Tem noção de que ele pode realmente estar morto, e nós não sabemos porque o vosso pai se recusa a receber quaisquer noticias de Stepstones?! –
- Nós sabemos que ele está vivo, Bella, ouviu o que o seu pai disse. O corvo que chegou, chegou no nome do meu tio! Isso significa que ele está vivo! Não fique com essa ideia na cabeça de que ele possa estar morto, será pior ainda! –
- Eu só estou indo nessa viagem por ser o casamento de meu irmão, Rose, caso contrário... – respirei fundo. – Eu mal me lembro de como Hightower é! Quando eu deixei a região de Cygnus, a minha mãe ainda era viva! – ela se aproximou mais de mim, cruzando o seu braço ao meu.
- Eu sei, minha amiga, tem medo de más lembranças surgirem! –
- E eu estarei sozinha! Sem você, sem Edward... Meu irmão estará focado no casamento e... –
- E você pode fazer amizade com a noiva de seu irmão... –
- E daí? Ela também estará focada no casamento. –
- Tem Tessarion, lá não tem nada para prendê-la, ela ficará livre, portanto, deverá ficar com os dois olhos bem presos nela. Lembra do que o meu pai te disse, se fosse levar Tessarion, e qualquer coisa que ela fizesse, a responsabilidade é sua! –
- Eu sei... Eu sei... Infelizmente ela é grande demais, se fosse igual eu estava indo para as Ilhas de Verão, que ela se aninhava em meus ombros ou braços, era mais fácil. Mas de qualquer modo, eu me recuso a deixa-la presa, por mais de um mês no fosso. –
- Eu sei... Bom, vamos beber mais um pouco e voltarmos para o castelo, amanhã começa com uma jornada para você! – ironizou e eu acabei rindo.
Dito e feito. Nós terminamos as jarras de vinho e cerveja que havíamos comprado, e antes de o sol começar a nascer, nós já estávamos em nossos quartos. Eu sabia que não teria como eu me despedir de Rose antes de partir, meu pai queria ir antes de o sol começar a nascer, portanto, eu já havia me despedido dela oficialmente, na noite anterior, após o jantar, mas nada me impediu de lhe dar um abraço apertado, antes de ela continuar seguindo o caminho dentro das entranhas da Fortaleza Vermelha até o seu quarto.
Mal eu troquei de roupa e deitei na cama, na esperança de ainda ter alguns minutos para que pudesse tirar um cochilo, e uma batida soou na porta, a criada estava chegando com água e algo para que eu comesse antes de irmos viajar. Pelo menos, eu iria dentro da carruagem, poderia dormir à vontade, pelo menos o máximo que a Estrada do Rei e os seus buracos, permitisse. Eu havia separado alguns livros que eu levaria comigo dentro da carruagem, além de um pequeno baú, meu pai havia garantido que alguns dias iriamos pernoitar em algumas pousadas e com isso eu poderia tomar um banho e trocar de roupa.
Além dos livros, tinha uma capa e uma capa mais grossa para o caso de o tempo esfriar muito, ou começar a chover. Ao deixarmos o castelo, eu tive que ir na carruagem, sendo escoltada por John e Calleb, já que os dois iriam comigo, até o fosso para soltar Tessarion, eu não a deixaria para trás, eu jamais a deixaria para trás. Com um leve carinho em sua cabeça, eu pedi para que ela fosse seguindo a carruagem e que não se afastasse. Edward já tinha me dito diversas vezes de que um dragão jamais se afastaria tanto do seu montador. Rose havia me confirmado a mesma coisa, e o mestre dos dragões também! Assim que Tessarion alçou voo, eu entrei na carruagem, o mestre dos dragões havia garantido que ela havia se alimentado ontem a noite, portanto ela iria atrás de comida apenas daqui a um ou dois dias, não precisava me preocupar tanto, e por ela já ser mais crescida, ela poderia ir sozinha atrás do próprio alimento, eu deveria apenas ficar de olho, para que ela não machucasse ninguém.
Entrei na carruagem e tentei dormir, sabendo que, até deixarmos os muros de Adhara seria impossível dormir, as ruas eram muito irregulares, fazendo com que a carruagem chacoalhasse demais. Quando as ruas irregulares deram lugar a uma rua mais lisa, com um pequeno buraco ou outro, eu abri a cortina da carruagem e vi que o sol começava a nascer e que os muros de Adhara iam ficando para trás. Eu estava exausta, precisava dormir, portanto eu apenas me livrei dos meus sapatos, colocando os pés em cima do banco e me deitando no mesmo, para que pudesse dormir um pouco.
Eu praticamente só deixei a carruagem quando escureceu e nós paramos a comitiva para acampar, já que não tinha nenhuma pousada por perto para passarmos a noite. Eu havia me sentado no chão, sobre algumas camadas de pano, próximo ao meu pai, que estava sentado em um tronco, para que pudéssemos comer algo, e quando Tessarion pousou no meio do acampamento, todos os soldados e homens que estavam conosco se assustaram, e conforme ela passava para vir se aproximar de mim, eles iam se afastando, com medo dela. O dragão deitou ao meu lado, repousando a cabeça em minhas pernas, me obrigando a tira-las debaixo do meu corpo e estica-las, enquanto encostava as minhas costas contra o tronco ao lado de onde o meu pai estava. Foi impossível não ouvir meu pai bufar quando eu comecei a acariciar a sua cabeça, após eu ter terminado de comer. Eu não sabia o que era pior para o meu pai, eu ter me casado com Edward, ou eu ter ganhado um dragão!
Quando eu me retirei para a minha tenda para dormir, Tessarion deitou ao lado da tenda, do lado de fora, já que ela não cabia dentro daqueles panos.
Na manhã seguinte, eu me aproximei de um lago perto, para que eu pudesse lavar o meu rosto. Tessarion me seguia, andando, para todo o canto que eu fosse, era um ótimo guarda costas, já que todos os homens que estavam conosco, evitavam se aproximar de mim, mesmo que ela estivesse apenas deitada, e aparentemente dormindo.
- Alteza. – ouvi Calleb me chamando enquanto eu terminava de lavar o meu rosto com a água fria do lago.
- Sim? –
- Eu estou com isso aqui comigo desde ontem, mas só agora consegui lhe entregar... – ele tirou um pequeno papel amassado e amarelado do bolso de sua roupa. – O príncipe respondeu o seu corvo! –
- Graças aos deuses! Isso significa que ele está bem! – falei praticamente arrancando a mensagem de suas mãos.
- Pelo que ele disse, a mensagem que ele respondeu a mim, alteza, ele está bem! Mesmo a guerra não indo tão bem quanto ele e o Serpente Marinha desejavam! –
- E a você, ele disse mais alguma coisa? – questionei.
- Eu não sei se a senhora contou a ele que iria para Oldtown, mas eu contei e disse que iria acompanha-la do jeito que ele havia ordenado. Fora isso, ele disse apenas que era para eu continuar com os meus olhos bem presos na senhora, a menos que eu queria que ele o arranque quando voltar! – comentou sorrindo e eu acabei rindo de seu comentário. Era a cara de Edward falar algo desse tipo. – E caso deseje escrever algo, eu posso procurar alguém para enviar o corvo em alguma cidade, pela qual passarmos, ou quando chegarmos em Hightower. –
- Se eu escrever algo, eu lhe aviso. – ele apenas assentiu sorrindo.
- Isabella. – ouvi meu pai me chamando, e eu apenas virei o rosto para encara-lo. – Hora de voltarmos para a estrada. – eu apenas assenti.
- Hora de irmos, senhora. – ele apontou para a carruagem que já estava com a porta aberta.
- Tessarion. – eu atrai a sua atenção, já que ela continuava deitada ao meu lado. – Hora de voar e me seguir, menina! – entendendo a minha ordem, ela se pôs de pé, e dando um rosnado, ela alçou voo e começou a planar por cima da campina onde estávamos parados.
Eu entrei na carruagem, e tratei de me livrar de meus sapatos, eu estava sozinha, não havia motivos para tantas etiquetas e desconforto. Não demorou quase nada e a carruagem deu um solavanco ao voltar a andar, eu não precisava ficar me preocupando com Tessarion, porque eu sabia que ela estava me seguindo, volta e meia ela planava próxima a carruagem, e quando eu olhava para o céu, eu a via voando próximo a nós. Encostei as minhas costas no encosto da carruagem e coloquei os meus pés em cima do banco e desenrolei o pergaminho que Calleb havia me entregado, e senti o meu coração se acalmando ao reconhecer a letra de Edward.
‘Meu amor, acalme o seu coração, eu estou bem! Eu havia mandado alguns corvos, tanto para você, meu amor, quanto para... Não acredito que estou escrevendo isso... Para o seu pai..., mas pelo visto os corvos se perderam, deveria ter desconfiado por ter demorado tanto para ter uma resposta vossa. Do mesmo jeito que estais preocupada comigo, eu também estou preocupado e aflito com você aí, praticamente sozinha, principalmente agora que estais indo a Oldtown, quando chegar me avise. Mas peço que se acalme, eu estou bem e fazendo todo o possível para voltar logo para os seus braços, minha princesa. Eu te amo, Edward.’
Foi impossível segurar o riso ao ler as palavras de Edward, principalmente na parte em que ele mencionava o meu pai, parecia que eu estava ouvindo a sua voz ao meu lado, quando odiava o fato de ter que concordar com algo que o meu pai dizia. Mas o riso durou pouco tempo e eu acabei suspirando, os corvos não se perderam, o rei que havia mandado destruir as cartas por não querer saber noticias de Stepstones, mas eu não poderia dizer isso a ele! Ele já estava cheio de problemas com a guerra, para que ele se irritasse mais ainda com o seu irmão, na realidade, eu não duvidava nada de que no fundo, bem no fundo, Edward sabia que na verdade os corvos chegavam, e seu irmão que se recusava a responder.
Eu li e reli aquelas palavras em uma vaga tentativa de, realmente acalmar o meu coração, e de também me acalmar de sua ausência. Finalmente eu tinha uma noticia dele e sabia que ele estava bem, era o que importava e o que me acalmava. Eu havia perdido as contas de quantas vezes havia bebido aquelas palavras, até acabar adormecendo com o leve sacolejar da carruagem.
Já tinha quatro dias em que estávamos na estrada, eu estava exausta, minha coluna doía miseravelmente por ficar tanto tempo em uma carruagem, mas finalmente havia recebido a boa noticia dada por meu pai de que estávamos chegando em Highgarden, de lá era só mais um dia e meio de viagem até finalmente chegarmos a Oldtown. Eu não sabia se estava mais animada por voltar ao lugar em que eu não pisava há cerca de quinze anos, ou se estava animada por finalmente sair de uma carruagem.
Eu havia decidido não enviar nenhuma carta para Edward no momento, apenas quando chegasse em Oldtown. Eu não lembrava de muita coisa do lugar onde eu havia nascido, sabia apenas o básico que toda Andrômeda sabia. Hightower é a sede da casa Hightower, uma das famílias mais ricas e poderosas de Cygnus e de toda Andrômeda, fica no topo da Battle Isle, com a cidade de Oldtown a cercando. A sua torre é tão grande, que é considerada a estrutura mais alta dos seis reinos, mais alta ainda do que a Muralha, que ficava no norte.
Nós ainda não deveríamos estar chegando quando a carruagem parou, e eu comecei a ouvir o meu pai me chamando de forma afoita do lado de fora. Eu ainda estava meio sonolenta, estava cansada, havia dormido mal noite passada, a estrada da rosa, que saia de Oldtown até Adhara era tranquila de percorrer, pelo menos de Highgarden até Adhara, contudo, de Highgarden até Oldtown, era muito esburacada.
- O que foi Calleb? - perguntei quando o mesmo abriu a porta para mim, enquanto eu coçava os olhos para a claridade do lado de fora. O clima estava um pouco chuvoso, mas mesmo assim estava bem claro.
- Seu pai, quer lhe mostrar uma coisa... E está de um modo tão eufórico... Nunca o vi assim antes! – comentou com as pequenas gotas de chuva, caindo em seus cabelos molhados. Calleb estendeu a mão, para me ajudar a descer os dois degraus da carruagem, e eu puxei o xale, que usava para me aquecer, por cima da minha cabeça, para protege-la da garoa que caia.
- O que foi, pai? – questionei, o vendo parado perto de um penhasco.
- Venha, Isabella... Venha... – disse animado com a chuva caindo-lhe sobre a cabeça, sem se importar com a mesma.
- O que foi? – questionei de novo ao me aproximar, tomando cuidado com o chão levemente lamacento.
- Veja... – ele apontou para frente e para baixo, quando eu aproximei. – Aquela é Hightower... A nossa casa. Se lembra dela? – perguntou apontando para a enorme torre que emergia no topo das falésias de uma pequena ilha. A Battle Isle ficava bem no alargamento do rio Honeywine, onde as águas começavam a se juntar com as águas baía de Whispering Sound, bem no centro de toda Oldtown.
A fortaleza era a das mais distintas que existia em Andrômeda, até porque ela não era um castelo normal. Era uma grande fortaleza quadrada construída com pedra negra. Ela era uma torre escalonada, tendo no topo um farol, o Farol de Hightower, símbolo da minha casa, que era usado para guiar os navios até o porto. Eu sabia, que a cor do farol era mutável, já que a chama verde poderia ser usada para chamar os estandartes da Casa Hightower em tempos de guerra, era um dos melhores jeitos de chamar seus aliados, segundo meu pai, já que, pelo fato de a torre ser tão alta, era possível ver de bem longe.
- Você não deve se lembrar pois deixou Cygnus muito novinha, então peço para tomar cuidado na torre. –
- Por quê? – questionei, eu realmente não me lembrava de nada.
- A nossa fortaleza é quadrada, minha filha, e a base dela é feita de pedra negra e é praticamente um labirinto, sem adornos na fundação, apenas corredores, abóbadas e câmaras sombrias. Lá... – ele apontou para o topo da torre, um pouco abaixo das camas do farol. – Aquelas janelas no topo da torre é onde fica os aposentos do Senhor de Hightower. –
- Vosso irmão. – apontei e ele assentiu.
- Sim. Philip assumiu como senhor de Hightower após eu ter assumido como Mão do Rei. – contou. – Essa, minha filha é a estrutura mais alta de toda Andrômeda, mais alta ainda do que a própria Muralha no Norte, que tem setecentos pés de altura. As pessoas podem saber a hora do dia pela sombra da torre, e os criados que cuidam da chama do farol, dizem que em dias claros é possível ver a Muralha. –
- Achei que Casterly Rock, da Casa Masen, fosse o lugar mais alto de Andrômeda. – apontei.
- Casterly Rock é uma montanha, minha filha. Eu me refiro a coisas feitas por homens. Nas construções feitas por homens, Hightower é a maior estrutura de toda Andrômeda. – explicou.
Meu pai ia divagando sobre a construção da torre e eu me perdi na visão da cidade de Oldtown. A cidade era construída em pedra, do alto do penhasco onde estávamos era possível ver que algumas ruas da cidade eram feitas de paralelepípedos, formando um labirinto de caminhos becos entrecruzados e ruas estreitas e tortuosas. toda a cidade era feita de pedra, até mesmo as pontes, e era cercada por enormes, grossos e altos muros de pedra. Dentro da cidade, no meio do Honeywine, existia diversas ilhas. Nos fundos da cidade, acima de ambos os lados do rio, estava a Cidadela, um complexo de edifícios que serve como sede central da ordem dos meistres, meninos e homens de toda Andrômeda se reúnem lá para aprender, estudar e forjar uma corrente de meistre, sendo considerada como a maior sede de conhecimento do mundo conhecido.
Próximo aos muros da cidade, próximo a muralha que dava para a baía, estava o Septo Estrelado da Fé dos Sete, que durante mais de mil anos foi considerado como o centro da Fé de todo o continente de Andrômeda, algo que mudou após a conquista dos Swan, que fez com que a Fé dos Sete, se mudasse para Adhara.
Quando a chuva começou a apertar, meu pai pediu para que eu voltasse para a carruagem, para chegarmos na proteção da fortaleza de uma vez. Antes de entrar na carruagem, eu olhei para o céu e vi que Tessarion continuava nos sobrevoando. Entrei na carruagem e mal a porta se fechou e ela seguiu para a Battle Isle, e ao adentrarmos Oldtown, eu tive certeza de que todas as ruas eram feitas de paralelepípedos, e eu definitivamente, odiava, paralelepípedos de tanto que chacoalhava.
Nós chegamos ao pequeno pátio da fortaleza, e a primeira coisa que eu vi quando desci da carruagem, foi o meu irmão, e meu tio, parados debaixo da grossa porta que dava para o lado de dentro do castelo. Assim que eu desci, ainda usando o xale para proteger a minha cabeça, meu irmão saiu da proteção da marquise, e veio na minha direção.
- Você chegou! – ele me abraçou forte. – Por um momento temi que não fosse vir por não querer ficar perto dos nossos tios. –
- E eu não quero! – falei próximo ao seu ouvido, vendo por cima do meu ombro, meu tio se aproximando devagar de nós, com os olhos presos em mim. – Eu vim só porque é o seu casamento! Caso contrário, não teria vindo! –
- Agradeço imensamente por ter feito esse esforço. -
- Demoraram... – meu tio reclamou quando Mike me soltou. – Isabella... Quanto tempo não lhe vejo! – comentou. – Desde que enlouquecestes e simplesmente fugiu com aquele homem! – eu apenas respirei fundo.
- Tio. O senhor prometeu para mim que não iria tocar nesse assunto. –
- Eu não prometi nada, Mike, e a sua irmã precisa arcar com as inconsequências dela. – a reclamação de meu tio morreu com um rosnado que vinha de cima, pairou entre nós. Como o céu já estava começando a escurecer, e a chuva dava uma leve apertada, era um pouco difícil ver Tessarion sobrevoando o céu, e do mesmo jeito que eu tinha dificuldade em vê-la, ela provavelmente também tinha dificuldade em me ver, então ela resolveu pousar no chão de pedra molhada ao nosso lado. – Mas que merda é essa, Charlie? – perguntou meu tio ao ver Tessarion se aproximando de mim.
- Esse é o presente de casamento que a princesa Rosalie deu a Isabella. – meu pai respondeu entre os dentes. Eu não sabia ao certo se era por mencionar o meu casamento, ou por mencionar Tessarion.
- Ele é seu? – Mike perguntou meio fascinado ao ver o dragão, que tinha mais ou menos o tamanho de um cavalo parado ao meu lado, ele jamais visto um dragão antes.
- Ela. – corrigi. – Essa é a Tessarion! – respondi passando as pontas dos dedos pela sua cabeça coberta por espinhos.
- Ela é linda! –
- Linda? – meu tio cuspiu. – Esse monstro? Charlie como permitiu que ela trouxesse esse animal para cá? – a voz de meu tio subiu algumas oitavas e Tessarion rosnou para ele.
- Shiu... Calma, menina, está tudo bem! – falei com ela na língua morta, fazendo meu tio olhar incrédulo para o meu pai.
- Nem pergunta como ela fala a língua antiga, provavelmente obra do... Marido dela! Quer saber, Philip... Deixe-a fazer o que quiser... O rei avisou que caso esse animal faça alguma coisa, ela o perde. –
- E o senhor está torcendo para isso, não é, papai? –
- Que ótima educação, em Isabella... Respondendo o seu pai, quando não tem ninguém lhe dirigindo a palavra e... –
- Com licença, senhor Hightower... – Calleb que estava atrás de mim, interrompeu o meu tio. – Mas a senhora Isabella é uma princesa agora, deve trata-la com respeito a posição em que ela está! –
- Quem é você? – cuspiu para o guarda atrás de mim.
- Calleb, da casa Stanley de Dorado, vossa graça, e segundo no comando dos Mantos Dourados, ficando atrás apenas, do próprio príncipe Edward. –
- Como ele pode, depois de tudo o que ele fez, continuar liderando os Mantos Dourados, Charlie? –
- Isso quem decide é o rei, Philip. Sabes bem disso! –
- Papai... – eu o chamei, ignorando meu tio. – Está chovendo, gostaria de sair e de tirar Tessarion da chuva. – pedi e ele assentiu.
- Mike, tem lugar no estábulo? –
- Se ela não comer os cavalos, tem! –
- Ela é pequena demais para isso! – respondi para o meu irmão. – Ela só come porcos e ovelhas. -
- Então cabe! – meu irmão deu de ombros, e eu acabei rindo. – Eu a levo até o estábulo. –
- Ela não vai te seguir, e tampouco te obedecer! – avisei.
- Eu levo Isabella até o estábulo para proteger... – ele apontou para o dragão não lembrando do nome dele. – E depois a deixo no quarto. –
- Certo... Calleb leve as coisas até o quarto de Isabella... Venha comigo, que eu vou deixar uma criada lhe auxiliando. –
- Sim, vossa Graça... John... – ele apenas chamou o outro soldado e apontou para mim.
- Eu vou estar com o meu irmão! – apontei.
- Eu quero manter os meus olhos em meu rosto! – lembrou-me sorrindo e me fazendo rir.
- Vamos! – disse derrotada, apontando para que Mike liderasse o caminho.
- Ali a frente... –
- Venha Tessarion. – eu a chamei, e ela encarou o meu tio, rosnando para ele mais uma vez, mostrando as suas presas. – Tessarion! – eu a repreendi e ela veio na minha direção andando atrás de mim, e eu sabia, que logo atrás do dragão, estava vindo John.
- Quem são esses dois, minha irmã? –
- Meus cães de guarda que Edward colocou com os olhos bem presos em mim! –
- Nenhuma surpresa. – ironizou rindo e eu o acompanhei.
Mike me levou até o estábulo, mas era impossível que ela ficasse ali, já que os cavalos ficavam bastante inquietos com a presença de Tessarion, e não tivéssemos outra escolha a não ser coloca-la em um galpão velho e coberto por feno. Eu não gostava daquilo, mas era uma opção melhor do que o estábulo e do que o fosso dos dragões em Adhara. Eu fiquei alguns minutos sentada no feno, com a cabeça de Tessarion ali, ela já estava seca, já que o seu corpo era completamente quente, e tratei de conversar com ela, que era para ela ficar tranquila e que assim que amanhecesse eu iria ficar com ela, e leva-la para voar e se alimentar.
Tessarion se aninhou entre o feno e eu me levantei, com ajuda da mão de meu irmão, que me acompanhou para dentro do castelo, me acompanhando até o meu quarto, que ficava dois andares abaixo do andar mais alto, onde ficava o quarto de meu tio. Mal eu entrei no quarto, e uma batida soou na mesma, e uma senhora já de idade, entrou nos aposentos com uma grande jarra de água fumegante para um banho. Eu ansiava por aquele banho, eu estava molhada e gelada devido a chuva e sabia muito bem, que um bom banho quente iria me aquecer completamente.
A criada me ajudou a tomar um banho e me vestir, e enquanto eu desembaraçava o meu cabelo, outra criada chegou com uma bandeja com uma tigela de onde saia uma fumaça, que foi posta na mesa de canto, próximo a uma janela. Era o meu jantar, um ensopado de coelho, pelo que falara a criada, e na primeira colherada eu descobri que aquele ensopado era um dos mais deliciosos que eu já comi na minha vida, além de o fato de a quentura que vinha dele, ia descendo pela minha garganta e aquecendo completamente o meu corpo de fora para dentro.
No dia seguinte eu só saí do quarto durante a tarde, eu estava tão cansada que eu havia dormido mais do que o necessário, tanto que quando eu fui almoçar, todos no castelo já o haviam feito primeiro. Eu praticamente engoli o pato que havia me sido servido e tratei de correr para fora, tendo ainda Calleb como a minha sombra, eu precisava alimentar Tessarion, ela deveria estar simplesmente faminta, já que tinha quase dois dias que ela não se alimentava.
E eu estava certa, ela estava faminta, tanto que ela rosnou ao me ver, algo que ela jamais havia feito. Calleb havia questionado alguns criados e funcionários do castelo por onde, por perto, havia alguma campina com animais selvagens, e lhe foi indicado uma enorme campina ao oeste do Honeywine, e sobre o dorso do cavalo de Calleb, já que eu simplesmente não queria chegar perto de uma carruagem tão cedo, nós partimos para a campina, onde eu pude deixar Tessarion solta para que se alimentasse de algumas ovelhas e porcos selvagens que tinham por ali.
Quando eu voltei ao castelo, a noite já tinha caído, e eu estava atrasada para o jantar de noivado do meu irmão, onde meu pai finalmente conheceria a noiva de Mike, e consequentemente a família dela. Eu estava atrasada para o jantar, e precisei correr para o meu quarto, onde a criada já me esperava com água quente, que na verdade, já estava fria, e me encarou com um olhar acusador devido ao meu atraso.
Tomei um banho com aquela água fria e me vesti. A criada havia separado um vestido da cor da minha casa, em momento algum ela havia perguntado qual roupa eu desejava usar, ela simplesmente mexeu em minhas coisas e o separou. Resolvi não falar nada no momento porque eu estava atrasada, mas assim que esse jantar acabasse, eu iria conversar com ela.
- E essa é a minha filha mais nova, Isabella. – meu pai falou, atraindo a minha atenção quando eu tentei entrar de fininho no salão de jantar.
- Que está terrivelmente atrasada! – meu tio reclamou, parado ao lado do casal. – Ela pelo visto acredita que só porque é uma princesa, ela pode fazer todos a esperarem. – ele ironizou.
- Perdoem-me pela demora. É que a primeira vez que eu piso em Hightower desde os meus cinco anos, e eu acabei me perdendo para voltar ao meu quarto. –
- Não se preocupe com isso, senhorita..., mas... – o homem se voltou ao meu tio. – O que quer dizer com princesa sor. Philip? –
- Isabella é casada com o príncipe Edward, senhor Webber. Esse casamento a faz uma princesa. – meu pai respondeu, levando a sua taça de vinho até os lábios.
- Mas não precisa me tratar tão formalmente, prefiro assim. – falei sentindo a mão de meu pai apoiada na base de minha coluna.
- Já que eis a esposa do príncipe Edward, e ele se rebelou indo para a guerra... Tem noticias de lá? –
- Não senhor. Eu não tenho noticias do meu marido há três meses. – respondi. – Mas peço sempre a Mãe, que ele esteja bem! E que volte logo. –
- Difícil ser tão nova e ter um marido que é guerreiro, não é? – a senhora Webber disse e eu apenas assenti meio sem jeito.
- Mas é estranho, pelo que vosso irmão fala, o senhor sempre falou tão mal do príncipe Edward... Como permitiu o casamento? –
- Ele não permitiu... – eu ouvi a voz de minha tia se aproximando, de braços dados com uma dama, que deveria ter a minha idade. – Isabella, é irresponsável e inconsequente, e simplesmente fugiu por debaixo do nariz de meu cunhado, e se casou as escondidas. – eu senti os olhos dos senhores Webber queimando de forma acusatória em cima de mim e eu apenas virei o rosto na direção de meu pai, delicadamente, esperando que ele me defendesse de alguma forma.
- E não desfez esse casamento, Charlie? Sob essas circunstancias... –
- Como ele iria desfazer? Já que os dois fugiram para as Ilhas de Verão e voltaram em pouquíssimos meses, graças aos deuses sem filhos. Se Charlie fosse inteligente desfazia esse casamento agora mesmo. –
- Com licença... – Calleb se aproximou por trás de mim. – Peço licença, mas... Princesa, o vosso irmão está lhe chamando no corredor. –
- Eu peço licença e vou ver o que ele quer. Com licença... – meu pai me soltou e eu me afastei.
- Eu sei que agora, maculada do jeito que ela está será difícil de arrumar um bom casamento, mais acredito que qualquer um seja melhor do que esse agora. – minha tia continuava a falar.
- Isabella quer continuar casada com o príncipe, e bom, de algum modo que me é desconhecido, pois não sabia que ele tinha algum tipo de sentimento, o príncipe também gosta de minha filha. Portanto, ela continuará casada até o momento em que ela não queria mais, ou então, que a morte o leve. – meu pai me “defendeu”, sem muita vontade.
- Espero que isso não demore para acontecer, para que possamos tirar o nome da família Hightower da boca da ralé, que habita Adhara. –
- Eu sei que o meu irmão não está me chamando, Calleb. – falei entre os dentes sentindo os olhos marejando e ardendo, enquanto caminhava para longe de minha tia.
- Se quiser... Arranco a língua dela fora! –
- Será um favor que me faria... – admiti deixando algumas lágrimas rolarem pela minha face. – Mas o prazer será maior se eu permitir que o próprio Edward faça isso quando ele voltar. – falei passando os dedos por baixo de meus olhos. – Faça-me um favor. –
- Todos. –
- Encontre alguém, sem ser o meistre de Hightower, encontre alguém que mande corvos, eu quero mandar um corvo ao meu marido e a princesa Rosalie! –
- Sim senhora. Amanhã mesmo farei isso. –
- Obrigada Calleb. Eu vou para o meu quarto, não tenho animo e tampouco vontade de continuar perto deles... Se alguém perguntar por mim, diz que eu não estava me sentindo bem e me retirei para o meu quarto. – ele apenas assentiu. – Pode continuar na festa com o John ou irem descansar, eu não irei deixar e nem receber mais ninguém em meus aposentos hoje! –
- Sim senhora. – ele apenas assentiu de leve com a cabeça e eu subi para o meu quarto. Era incrível como em pouquíssimos segundos o bem estar que eu estava sentindo se desfez por completo. Minha tia sempre havia sido intragável, e não era de se imaginar que após o meu casamento ela tenha mudado... Na verdade, ela mudou, só que para pior.
Ao entrar em meu quarto eu peguei um papel e um tinteiro, eu já queria deixar as mensagens prontas, para que Calleb as enviasse quando encontrasse alguém, sem ser os meistres de Oldtown, portanto, sentei-me em frente a penteadeira e me pus a escrever, primeiramente, a Edward.
‘Não sei como queres que eu acalme o meu coração ficando durante meses sem uma única notícia vossa? Sem saber se estavas vivo ou não? É impossível acalmar meu coração desse jeito! Eu já estou em Oldtown, e em menos de um dia aqui já me arrependi por ter vindo, vim apenas por ser o casamento de Mike, pelos deuses, como eu desejo nunca mais ver os meus tios depois dessa viagem. Espero que acabe logo e que não demore muito eu esteja em Adhara de novo. É melhor estar em Adhara sem você, do que ficar em Hightower com os meus tios! Eu peço a Mãe todos os dias para que essa guerra acabe logo, para que você volte para mim, o que eu mais anseio, principalmente nesse exato momento em que escrevo está carta, é estar em vossos braços, e que, talvez, você arrancasse a língua da minha tia! Eu te amo, com todo o meu coração, Bella.’
Eu terminei de escrever e reli a mensagem mais algumas vezes, e imaginando que ele ficaria preocupado caso lesse a parte sobre a minha tia, eu apenas risquei para que ela ficasse inelegível. Guardei-a em minha pequena caixa de joias, e apanhei outro papel, esse seria enviado para Rose.
‘Minha querida amiga, já me encontro em Oldtown e já me arrependo por ter vindo! Acredite, estais melhor aí com a cobra da Jéssica, do que eu como os meus tios, acredite em mim! Espero voltar logo para Adhara. A viagem em si foi boa e tranquila, o que não está sendo bom é que ter que aturar meus tios, principalmente minha tia, ela se encontra pior do que ela já era, se é que isso é possível! Estou enviando esse corvo, apenas para saibas que cheguei e que cheguei bem. E também para lhe pedir um favor. Pergunte ao seu pai, se, por um acaso, eu der a minha tia para Tessarion comer, ele ficaria muito chateado e a tiraria de mim. Eu te adoro, Bella.’
Com os dois bilhetes escritos e guardados, eu tentei deitar em minha cama, mas havia sido impossível dormir, a voz e as palavras de minha tia ficavam ressoando pela minha cabeça, impedindo que eu fechasse os olhos. E mais uma vez, aquela maldita sensação de solidão começou a preencher o meu corpo, e com ela, a sensação de que as paredes estavam se fechando em volta de mim e que eu não conseguia respirar. Primeiro, eu desamarrei as amarras de meu vestido, mas isso não aliviou, então tratei de me aproximar das portas que davam para a pequena sacada, o vento fresco foi um alivio, mas não o suficiente. Mesmo durante a noite, os meus olhos foram atraídos para o pequeno celeiro que estava Tessarion, não me restava duvidas de que ela seria a melhor companhia que eu poderia ter durante essa viagem!
Peguei uma capa em meu baú e saí do quarto. Obedecendo a minha ordem, Calleb e nem John estavam a postos. E eu tratei de deixar o quarto, torcendo para não me perder, ou esbarrar em ninguém, enquanto fazia o caminho até o pequeno celeiro. Contudo, não tive outra escolha a não ser passar pelo salão onde estava ocorrendo o jantar de noivado de meu irmão. Eu dei uma espiadinha dentro e tudo estava nos conformes, ninguém sentia a minha falta, e eu não duvidava nada de que os meus tios agradeciam por eu não estar ali, para eles seria melhor se eu nem tivesse vindo. A única pessoa que, aparentemente, sentia a minha falta, era Mike, ele não estava tão feliz quanto estava antes, e eu sabia que era porque eu não estava presente, ele fez questão que eu viesse e estava tão feliz com o seu casamento. Meu coração pesou por não estar ali ao lado do meu irmão, mas eu simplesmente não tinha condições de aguentar a minha tia!
Fazendo todo o possível para passar pelas portas do salão sem que ninguém me visse, eu tratei de correr para o lado de fora, e ao me encontrar no pequeno pátio de armas, corri para chegar logo perto de Tessarion.
- Oi minha menina... – ela silvou feliz para mim. – Se importa em dividir esse feno comigo? Eu não quero ficar sozinha... – comentei me sentando ao lado dela, na verdade deitando no feno ao seu lado, e apoiando as minhas costas e a minha cabeça contra o seu corpo quente. – Se você fosse menorzinha iria estar no quarto comigo que é mais confortável. – falei quando ela passou a sua asa por cima do meu corpo, como em um gesto protetor. – Acho que essa noite vou passar aqui com você... Você é tão quentinha... – falei bobamente e ela silvou para mim de novo, me fazendo rir.