sábado, 21 de maio de 2022

Capítulo 21.

                                                                           Grécia. - a.C.

Narrador.

Um silêncio sepulcral tomou conta das três pessoas na conversa. Zeus encarava Hades, que desconfiado, não tirava os olhos de Afrodite, que via em sua mente diversos fios do destino tanto de Hades quanto da pequena Perséfone, e sempre em algum momento os dois fios se entrelaçavam, mas acabavam sendo rompidos e Afrodite não conseguia ver o motivo do rompimento.

- Você só pode estar me tomando por um idiota, Afrodite. – resmungou Hades para a deusa da beleza, que balançou a cabeça saindo de suas visões e encarando o deus dos mortos.

- Eu não estou lhe tomando por um idiota, Hades. Estou lhe contando o que eu vi. Já vi diversos destinos amorosos seus e de Perséfone, e por mais que ambos possam arrumar outros pretendentes, no final vocês ficam juntos. – ela não contou sobre nenhum dos milhares dos rompimentos.

- Guarde suas maldições amorosas para os mortais! – rebateu entre os dentes, e bateu seu cetro no chão de mármore e uma nuvem negra cobriu seu corpo e ele foi teletransportado para a entrada no mundo inferior.

- Pare de agir como um idiota! – gritou Afrodite vindo atrás dele, antes que Hades tivesse a chance de se esconder nas profundezas do mundo inferior. – A eras você resmunga que ninguém se interessaria por você, e quando surge alguém é assim que você reage?! –

- Ela é uma criança, Afrodite! Não é só porque ela me deu a porcaria de uma flor aos seis anos, que isso signifique que ela se interessaria por mim quando adulta. – rosnou para ela. – E de qualquer forma, jamais condenaria qualquer mulher a este inferno! –

- Você, Hades, vive dizendo que eu amaldiçoou os mortais com o amor... – Afrodite riu. – O Amor não é uma maldição, é uma benção. Mas como é dessa forma que você enxerga... Sinto muito em lhe dizer Hades, deus dos mortos, mas você será amaldiçoado da próxima vez que por os olhos em Perséfone. E eu e nem Eros faremos nada, você irá fazer isso por conta própria. –

- Então eu jamais colocarei meus olhos em Perséfone, novamente! –

- Boa sorte! – e ainda rindo, Afrodite voltou para o monte Olimpo.

Anos se passaram sem que Hades colocasse os pés para fora do mundo dos mortos mais uma vez, não havia um único deus que chegasse próximo a sua morada, sem que lhe provocassem sobre Perséfone, de que ele evitava sair de seu “esconderijo” temendo encontrá-la. Contudo, ninguém é de ferro e ele não conseguiu ficar muito tempo no mundo inferior, e sentia que o último lugar em que tombaria com alguém seria em uma aldeia longínqua, a qual havia sido dizimada pelo fogo, quase que por completo, ele aproveitaria e colheria as almas dos mortos.

Hades andava pelos campos queimados, alguns lugares ainda tinham focos de fogo e os mortais que haviam sobrado corriam com baldes d’água para apaga-los. Não havia sobrevivido quase ninguém, e ele sabia que dos sobreviventes alguns morreriam em poucos dias devido a quantidade de fumaça que respiravam. Ele andava pelos campos, desviando dos cadáveres e vendo como suas almas estavam, algumas sentadas resignadas próximos aos seus corpos, outras não haviam compreendido que tinham falecido e tentavam gritar com os vivos sem sucesso. E no final da aldeia, Hades viu um ser iluminado, não era uma alma desencarnada e tampouco era um sobrevivente do fogo, suas vestes brancas estavam impecáveis e não havia nenhum misero vestígio de fuligem em seu corpo, mas Hades sabia que aquela mulher não era uma mortal qualquer, muitos passavam por ela, sem nem ao menos a vê-la.

- Quem é você? E o que faz aqui? – perguntou ao se aproximar dela, que se virou para ele com um sorriso fraco em seus lábios.

Quando a jovem se virou de frente para o deus dos mortos, o homem sentiu como se um soco fosse dado em seu estomago e o deixasse com falta de ar, isso quer dizer, se um deus pudesse sentir falta de ar. Suas mãos suavam um pouco e se ele não segurasse com força o seu cetro ele já teria ido ao chão. Ele não conseguia entender o motivo de ele estar tendo essas emoções de mortais.

- Oh... O senhor é Hades, deus dos mortos! – comentou, sem responder-lhe nenhuma das duas perguntas.

- Sou. E você? Quem é e o que faz aqui? – questionou já impaciente e sem compreender o porque das novas emoções que sentia se aflorarem cada segundo mais.

- Sou Perséfone. – respondeu e ele engoliu em seco, sentindo seu coração perder uma batida e logo em seguida começar a bater com força. – Eu... Eu soube do incêndio e... – suspirou olhando em volta com um semblante de tristeza em seus olhos. – E eu vim tentar ajudar de algum jeito, já que mais ninguém lá em cima se mexeu. –

- Sabes que caso quiseres ajudar, podes usar sua forma mortal e... –

- Eu sei. – interrompeu-o. – Mas não sou muito boa com trabalhos manuais. – brincou. – Pensei que ajudaria melhor com comida... –

- És a deusa da primavera, perdoe-me, mas flores não serão uteis. –

- Eu sei... – disse meio que sem jeito. – Por isso que eu peguei algumas sementes de cereais da cornucópia de minha mãe... Sem ela saber! – comentou olhando para o chão, ela sabia perfeitamente bem que aquele homem à sua frente era irmão de seus pais, além de ser um dos originais, mesmo ele não ocupando um trono do olimpo, ele podia entregar a jovem a mãe.

- Então, sugiro que ou plante rápido ou assuma sua forma mortal antes que sua mãe lhe ache. Ela não ficará muito feliz ao descobrir que a própria filha surrupiou sementes de sua cornucópia. – ironizou e Perséfone bufou.

- Como se o fato de sumirem algumas sementes mudaria o fio da vida das moiras. – resmungou. – Bom, então, acredito que o senhor tenha coisas mais importantes para fazer e eu preciso fazer o que eu vim fazer antes de minha mãe descubra que eu deixei o olimpo. – suspirou a jovem deusa. – Eu não sei o motivo dela não gostar que eu desça. – ela levantou os olhos do chão queimado e olhou para o deus da morte. – Bom, com licença. – e sorrindo ela se afastou na direção de um pequeno campo onde o fogo não tinha queimado e se pôs a plantar as sementes que havia roubado da mãe.

Hades voltou a recolher as almas, mas a cada meio segundo ele desviava os olhos para a deusa que mexia na terra, ele estava mais interessado no que ela fazia do que no seu próprio trabalho. A vontade que ele sentia era de caminhar até onde Perséfone estava e ficar próximo a ela, sem falar nada, ele sentia que não precisaria falar nada, ele só queria ficar perto dela, ficar próximo a luz que ela irradiava.

Ele não sabia em qual momento tinha sido, mas ao olhar para o campo novamente pela milionésima vez, ele o encontrou vazio, contudo, cheio de trigos crescidos. Quando notou que Perséfone não estava mais ali ele sentiu um vazio em seu peito, como se algo tivesse sido arrancado de dentro dele. Hades nem terminou de recolher as almas e voltou em um rompante para o seu castelo no submundo, agarrando-se no beiral da janela de seu quarto que tinha uma vista terrível para o campo de Asfódelos.

Mesmo não lhe fazendo falta, ele buscava o ar apressado, de forma arfante, e mesmo assim sentia que o ar não entrava em seus pulmões. Ele não entendia, ele não conseguia compreender como isso poderia estar acontecendo, o tanto que ele havia repudiado a ideia de colocar os olhos em Perséfone, e agora, o que ele mais queria era vê-la, mesmo que de longe.

- Doí, não é? – dando um sobressalto, assustou-se ele ao ouvir a voz de Afrodite bem próxima dele, bem próxima até, já que ela estava sentada no beiral da janela ao lado dele.

- Como ousa? – ele queria soar irritado como sempre, mas ele não conseguiu. – Como se atreve a entrar em meus aposentos sem minha permissão? –

- Queria ver a sua cara ao sentir que está apaixonado. – respondeu sorrindo. – Doí não doí? – perguntou sorrindo amplamente.

- Por que fez isso comigo? – questionou desesperado.

- Eu? – ela riu balançando seu longo e loiro cabelo cacheado. – Eu lhe disse que você faria isso sozinho. Eu e nem Eros fizemos nada, vocês se encontraram no completo acaso. –

- Como ousa falar que não fez nada? És a deusa do amor, como ousa falar que você não fez nada? As pessoas só se apaixonam por sua causa. –

- Não necessariamente. – respondeu dando um pequeno salto na direção do chão e apoiou os braços no beiral da janela, onde estava sentada a poucos segundos e parando ao lado de Hades. – Eu ajudo algumas pessoas a ficarem juntas, almas destinadas a ficarem juntas é por conta das moiras, mesmo eu levando o crédito. –

- Almas destinadas a ficarem juntas? – perguntou ele.

- Eu lhe disse. Você e Perséfone ficarão juntos até o fim dos tempos, e se bobear até mesmo depois. Não vai ser fácil, e será bem doloroso, mas vocês sempre estarão ligados um ao outro. –

- Como assim não será fácil e será doloroso? –

- Achas mesmo que Deméter permitirá de bom grado? – questionou com a sobrancelha arqueada. – Mas não ache que ela implicará com você por ser o deus da morte. Deméter implica com qualquer homem que se aproxime da filha. Apolo, Ares, Dionísio e Hermes já a cortejaram e Deméter praticamente colocou todos para correr. E ela sabe do que eu vi sobre vocês dois e sabe que Zeus abençou essa união que nem existir existe. E não ficou nem um pouco feliz. –

- Não imagino o contrário. Olha o lugar para onde ela viria. – Afrodite olhou para frente para o campo de Asfódelos.

- Bom, sou obrigada a concordar, não é uma vista bonita. Talvez se tivesse vista para os campos Elísios seria melhor. Ou então, pensando melhor, crie um jardim para ela. –

- Estamos no mundo inferior, Afrodite, nenhuma planta brota aqui. –

- Você é o deus do submundo, você dá a vida e tira de quem você quiser. Não apenas de pessoas. Sabes disso. Aqui você domina tudo! –

- Mesmo se eu transformasse esse lugar todo em um jardim, ela aceitaria vir para cá. Não vou raptá-la ou algo do tipo, se é o que está passando pela sua cabeça. Ela teria que vir por livre e espontânea vontade. E nós sabemos que ela jamais faria. Ela jamais trocaria o Olimpo por esse inferno. –

- Ela odeia o Olimpo! – Hades virou o rosto para encarar a sobrinha, que já tinha os olhos azuis presos no tio. – Deméter não a deixa dar meio passo sem perguntar para onde ela vai. Ela odeia aquele lugar. Já cansei de encobri-la para que ela pudesse respirar no mundo dos mortais. –

- E Zeus? – Afrodite bufou.

- Você está tempo demais aqui embaixo, tio. – ela balançou a cabeça rindo. – Zeus está se fantasiando de um velho para treinar o novo semideus favorito dele. Hera está furiosa. Ele passa muitas luas sem pisar no Olimpo. –

- Por que isso dói tanto, Afrodite? –

- Porque vocês dois estão predestinados a ficarem juntos e não estão. Essa dor só vai passar quando vocês ficarem juntos de vez. Já disse. A sua linha da vida está completamente enroscada com a de Perséfone, pelo fim dos tempos. As moiras podem confirmar isso, caso não acredite em mim. – ela suspirou. – Preciso subir. Deméter não é minha mãe, mas se ela descobrir que estou apoiando os dois, ela me mata! – brincou rindo enquanto se afastava da janela.

- Afrodite. – ele a chamou antes que ela tivesse a chance de se teletransportar para o Olimpo.

- Sim? –

- Da próxima vez que aparecer em meu quarto sem permissão quem vai lhe matar sou eu! –

- Até parece! – ela riu. – A partir de hoje você não será o mesmo Hades de sempre de quem o povo tem medo. Ela nem sabe, mas já lhe colocou as rédeas! – ainda rindo ela deixou o quarto de Hades.

Parado alguns minutos no mesmo lugar para o campo dos Asfódelos, ele tamborilou os dedos no beiral da janela pensando se iria ou não tirar satisfação com as moiras, perdido olhando para os dedos longos e branco batendo na pedra preta de seu castelo, ao se dar por si estava no tempo das moiras, com um de seus servos dando um pulo para trás ao se ver frente a frente com o deus da morte. Hades não teve tempo de falar nada antes dele sair correndo gritando pelo templo que o deus da morte estava no recinto.

Hades não esperou pela resposta das três mulheres e simplesmente caminhou até onde elas ficavam tecendo o fio da vida. A sala onde elas ficavam parecia como a toca de uma aranha gigante, com fios soltos para cima e para baixo, alguns novelos no chão com a ponta já cortada representava a vida dos mortais mortos. Cada um estava em seus intermináveis afazeres, elas jamais tiravam as mãos dos fios. Cloto estava sentada em frente a uma roca com seu fuso na mão, girando o fio da vida de quem nascia, era um trabalho muito rápido para dar conta de cada recém-nascido no território grego, cada um com seu próprio fuso. Láquesis media o fio, e por mais que o mortal ou o deus tivesse apenas meio minuto de vida, ela já sabia o tamanho do fio, quanto maior o fio, maior seriam os anos de vida. E Átropos, sentada em um banquinho, com uma tesoura em mãos, era ela quem cortava o fio da vida, era ela quem decidia a morte de cada pessoa.

- O que quer Hades? – Átropos, a mais velha, a anciã, perguntou com a voz falhada. – Já tem muitas eras que um olimpiano pisa aqui. –

- Tecnicamente eu não sou um olimpiano. – respondeu ele caminhando para perto delas, andando com cuidado para não pisar em nenhum dos fios que tinha no chão.

- De qualquer forma, o que quer? –

- Nós sabemos o que ele quer, Átropos. – Láquesis comentou rindo. – Nós sabíamos que ele viria aqui saber sobre sua vida com Perséfone. –

- Então o que Afrodite me disse é real? –

- O que? Que você e Perséfone estão predestinados? – Láquesis, a do meio perguntou.

- Não brinque com a cabeça desse pobre homem, Láquesis. – Cloto entrou na conversa. – Ele pode ser um deus, mas continua sendo um homem, e como todo homem, tem alguém predestinado. A sua alma gêmea. Todo mortal e todo deus têm uma, infelizmente, não são todos que irão se encontrar. -  

- Por quê? –

- Por que nascem em épocas diferentes, lugares diferentes, o fio da vida é cortado antes de se encontrarem, e as vezes, por mais que sejam almas gêmeas, pode ser que elas estejam predestinadas a nunca se encontrarem. – Cloto contava enquanto continuava a tecer os fios. – Contudo, essa não é a sua história. A sua história é se encontrar com a sua alma gêmea, vocês ficaram juntos por um tempo e depois serão necessárias se passar diversas eras antes de conseguirem ficar juntos novamente. E você sofrerá durante todas essas eras. –

- Por que? –

- Deméter! Irá fazer o possível e o impossível para deixar vocês separados. –

- Como e por que? – Láquesis riu com o desespero na voz de Hades.

- O deus dos mortos está desesperado? – brincou e Cloto lhe acompanhou no riso e Hades sentiu a ira tomando conta de seu corpo.

- Parem com isso. Vocês duas parecem duas crianças. – Átropos cortou as duas, tentando aplacar a ira de Hades. – E você, Hades, sabe muito bem que nós não revelamos o futuro das pessoas. –

- Eu posso... –

- Você não pode nada. – ela o cortou. – Lembre-se todos os deuses estão abaixo de nós. – ele respirou fundo tentando se acalmar, ele sabia muito bem disso, passou a vida ouvindo Zeus reclamar disso. – Não pense em crescer aqui dentro, ainda mais quando eu estou com o seu fio em mãos. – ameaçou erguendo um fio e Hades viu que no fio de sua vida se enrolava outro. Ele sabia que aquele fio que se enrolava, como uma serpente, ao seu, era o fio da vida de Perséfone, e acabou dando uma arfada ao ver que do fio dos dois surgiam mais dois, ele sabia o que aquilo significava. – Você já teve a sua resposta. Até mais do que merecia descobrir se soube ler direito, agora, fora! –

Ele olhou mais uma vez para aqueles quatro fios antes de se virar e ir embora. Ele não havia gostado nem um pouco do fato do que Afrodite ter dito ser verdade. Ele não queria que Perséfone ficasse com ele apenas porque três mulheres haviam decido isso, não eram nenhumas das três quem deveriam escolher isso e sim a própria Perséfone. Ele se afastaria de novo, era isso o que ela achava que era o certo

Mas ele não conseguiu ficar longe por muito tempo. Na verdade, não conseguiu ficar longe nem por dois dias, era doloroso demais não saber onde ela estava ou como ela estava. E como um perfeito louco, ele passou a “perseguir” Perséfone, sempre longe, ninguém conseguia vê-lo e ele apenas olhava, a dor continuava ali, mas era mais fraca. Perséfone sempre estava sozinha, algumas vezes outras deusas ou ninfas estavam por perto, mas nenhuma sentiu a presença do deus da morte, ou então nenhuma delas ligou para a presença do mesmo.

Hades sentia seu coração se aquecer a cada sorriso de Perséfone, ou a cada vez que ela enchia um campo de flores, ele que jamais gostou de flores, passou a amar ver a jovem deusa plantando e florindo. Ele faria qualquer coisa para vê-la sorrindo, e a cada dia que passava sentia mais ainda em seu amago que não poderia condena-la a uma eternidade no inferno.

Varias luas haviam se passado, alguns anos haviam se passado, e ele continuava apenas a observa-la, e chegou até a trocar algumas poucas palavras com a mesma em umas confraternizações no Olimpo, já que ele passou a comparecer a todos os convites dos seus irmãos, ele odiava essas confraternizações, mas ele queria apenas ficar perto de Perséfone.

Hoje era mais um dia que ele a observava de longe em um campo, dessa vez ela estava próxima a um lago junto com as ninfas da água e Hades escondido entre as sombras das árvores. Um barulho alto de um cervo vindo da floresta atrás dele, lhe fez desviar a atenção da bela morena e ao olhar para frente novamente, onde ela estava, encontrou com a mesma a poucos passos a sua frente com um sorriso divertido nos lábios. Hades sentiu o estomago revirar e o coração acelerar, ao mesmo tempo em que as mãos suavam e tremiam e ele precisou escondê-las atrás do próprio corpo. Hades achou que fosse ver um olhar de repulsa nos olhos castanhos da deusa, mas pelo contrário, tinha uma expressão amorosa e carinhosa neles, e o sorriso divertido de seus lábios levemente carnudos e avermelhados estava estampado em seus olhos.

- Perdeu algo? – perguntou ela sorrindo amplamente. Mil e uma respostas passaram pela cabeça do deus, todavia, ele não sabia ao certo o que tinha visto nos olhos de Perséfone que fez perguntar a coisa menos óbvia.

- Afrodite? – ela riu.

- Sim. Afrodite me contou que o senhor fica me observado. Queria saber o porquê. – por um momento ele temeu ter ficado corado igual a um mortal quando ficava constrangido.

- É complicado. – respondeu ele simplesmente.

- O que é complicado? Que os nossos fios da vida estão entrelaçados? –

- Como você sabe? –

- Afrodite! – respondeu como se fosse o óbvio. – Ela me levou até as moiras. – Perséfone fez uma careta. – Acho que Láquesis não gostou muito de mim. – deu de ombros. – Qualquer coisa que o senhor tenha para me falar, Afrodite já disse. –

- Então concorda que eu deveria ficar longe. –

- Não. – ele piscou os olhos confuso. – O senhor disse a Afrodite que quem teria que escolher era eu. – ele assentiu. – Mas como eu posso escolher, se eu não tenho opções? Para eu escolher ficar com o senhor ou não, eu deveria ter o mínimo de contato possível, não? – ela não esperou que ele respondesse. – E bom, não é com o senhor escondido na escuridão que isso vai acontecer. –

- Quer a minha companhia? – perguntou ele sem entender e ela riu.

- Suponho que seja melhor do que as ninfas. –

- E a sua mãe? –

- Eu não sei onde está minha mãe. – ela deu de ombros. – Minha mãe disse algo como semear em Creta ou algo desse tipo. Admito que não prestei a devida atenção. – ele riu. – Deverias sorrir mais. –

- Acho que a primeira vez que esbocei um sorriso foi quando me destes uma flor. – admitiu. – Não sei se você se lembra. –

- Lembro! Foi um jacinto. – ele concordou. – Então, para que sorrias mais... – ela estalou os dedos da mão direita e um ramo de acônito surgiu e ela esticou a ele. – Espero que isso não pareça estranho. – ela ficou levemente constrangida.

- Nem um pouco. – respondeu ele pegando a flor de sua mão e fazendo seu sorriso se abrir mais ainda.

Os dias foram se passado e quase todos os dias os dois se encontravam e em cada encontro Perséfone lhe entregava uma flor, apenas para lhe fazê-lo sorrir. Eles não faziam nada, apenas ficavam deitados na relva da entrada da floresta, quer dizer, Perséfone deitava na relva debaixo do sol, enquanto ele ficava sentado debaixo das sombras. Eles conversavam sobre tudo e nada ao mesmo tempo, em nenhum momento eles tocavam no assunto deles dois juntos.

- Eu estive pensando em uma coisa. – começou ela após meses de conversas. Ela deitou-se de bruços, e apoiando a cabeça na mão, que tinha o cotovelo apoiado no chão. O vestido fino e branco de Perséfone havia se levantado um pouco e uma parte de suas pernas estavam descobertas e Hades evitava olhar para lá, mesmo seus olhos o traindo volta e meia.

- No que? – ele agora deitava no chão ao lado dela, contudo ainda na sombra, ele passou a fazer isso ao sentir o cheiro de flores que emanava dela.

- Você diz que não quer me condenar a vida no submundo. – ele assentiu. – Mas eu não conheço o submundo. –

- Nem queira. – respondeu ele.

- Mas e se eu escolher ficar com você? – perguntou e ele a encarou em choque. – Eu viverei no Olimpo e você no submundo e nos veremos poucas horas por dia igual está sendo agora? –

- Perséfone... – disse carinhosamente, ele adorava o jeito que o nome dela saia de sua boca. – Sua mãe me mata se eu te levar ao inferno. –

- Ela não precisa saber! Ela ainda não voltou de Creta. E de qualquer forma, Afrodite me cobre. – deu de ombros.

- Serei bem sincero com você, Perséfone. Eu não consigo te imaginar lá. Imaginar alguém cheia de vida naquele lugar morto. –

- Quem tem que decidir sou eu e não você. –

- Tem certeza? Até onde eu saiba só entra em meus domínios quem eu permitir. – respondeu e ela bufou audivelmente, e ignorando-o ela virou-se de barriga para cima de novo e fechou os olhos sentindo o toque quente do sol em seu rosto. - Não vai se estressar por causa disso não, não é? – perguntou ele e ela não o respondeu. Continuou deitada com o rosto sereno e com as mãos apoiadas sobre a barriga. Ele deitou de lado vendo-a tão tranquila e relaxada naquela relva verde, ele nunca conseguiria imagina-la assim no submundo, e ele também sabia, que caso ela o escolhesse, ela não pisaria novamente aqui em cima.

Pelos deuses como aquela mulher é bonita, era a única coisa que ele conseguia pensar enquanto a observava, tão serena naquela relva verde, o tecido de linho fino se moldava perfeitamente em seu corpo, emoldurando cada misero pedaço de seu corpo, que havia sido delicadamente desenhado pelo melhor dos artistas. Por um impulso, ele saiu das sombras e se sentou ao lado do corpo de Perséfone, ela parecia estar dormindo profundamente, ela não havia mexido um único musculo quando o corpo do deus da morte criou uma sobra em seu rosto, tampando o sol.

Hades hesitou algumas vezes até tocar no rosto delicado da deusa da primavera, ele sentia o calor irradiando do corpo dela e não queria toca-la com sua mão fria. As pontas de seus dedos estavam a pouquíssimos milímetros de distância do rosto de Perséfone, e ele continuava hesitando em toca-la, ele estava em uma luta interna de se deveria toca-la ou não, e como ele não decidia se iria toca-la ou não, quem decidiu foi ela, que sentia a mão de Hades pairando próxima ao seu rosto, e virou o mesmo deitando na mão do homem.

Hades sentiu sua mão queimando quando o rosto de Perséfone repousou ali. A palma de sua mão queimava e formigava, e mesmo assim, era uma sensação gostosa. Ele se permitiu acariciar a bochecha da jovem com seu polegar, intensificando mais ainda o formigamento em sua mão. Perséfone continuava com os olhos fechados, apenas sentindo o carinho feito por Hades.

Ele continuava hesitando, ele não sabia se deveria ou não fazer o que mais desejava, e munindo-se de coragem, ele abaixou a coluna sobre o corpo da jovem e roçou seus lábios ao dela. Ele queria beija-la, mas não sabia se deveria ou não, e principalmente se ela queria ou não, portanto apenas encostou o nariz ao dela inalando o cheiro de flores, que antes ele odiava e agora ele ansiava cada vez mais para sentir esse cheiro. Como ele não a beijou novamente, Perséfone levantou um pouco a cabeça e uniu seus lábios aos dele enquanto sua mão ia até a nuca dele puxando-o para perto dela.

Perséfone entreabriu um pouco os lábios e roçou a ponta da língua pelos lábios frios de Hades, que não conseguiu mais se conter e aprofundou o beijo sentindo sua língua se entrelaçando a dela. Os dedos de Perséfone se enrolavam nos cabelos negros do homem que estava com a metade do corpo sobre o dela, ao mesmo tempo em que Hades subiu com a mão, que estava repousada no rosto dela, para os longos e ondulados cabelos castanhos dela, sentindo o cheiro de flores saindo mais forte deles.

O corpo de Hades estava quase todo deitando sobre o corpo de Perséfone, que usando a pouca força que tinha, e se aproveitando do fato de que ele estava a sua completa mercê, ela o virou, deitando-o de costas no chão e deitando-se sobre ele. Com o braço livre, Hades abraçou a fina e delgada cintura da moça, abraçando-a fortemente contra si, prendendo-a naquele abraço e não querendo solta-la nunca mais. Ele havia experimentado a sensação de ter Perséfone em seus braços e não queria mais solta-la.

Um raio rasgou o céu azul fazendo com que os dois se assustassem e que, principalmente, Perséfone se afastar e se sentar na relva olhando para cima enquanto buscava o ar pela boca. Ela olhou por alguns segundos para o céu azul antes de virar o rosto para Hades que continuava deitado no chão, tão arfante quanto ela e com o rosto levemente corado, que a fez rir sem motivo, e ele também a acompanhou no riso, que foi rapidamente interrompido, com ela deitando em cima dele e unindo os lábios aos dele de novo.

- Eu preciso ir. – ela falou contra os seus lábios. – Nos vemos na próxima lua? –

- Tanto tempo assim, por quê? – ela riu.

- Meu pai diz que eu estou lhe atrapalhando em seu trabalho e que caso o submundo vire um pandemônio a culpa será toda minha. –

- Zeus sabe que você está aqui comigo? – ela assentiu. – Achei que ele ainda estivesse com o tal de Perseu. –

- Bom, está. Mas está dividindo o tempo com o semideus e em manter minha mãe em Creta. – admitiu rindo e ele a acompanhou. – Eu preciso ir. Lhe espero aqui na próxima lua. – ela uniu seus lábios aos dele mais uma vez antes de desaparecer.

Um sorriso bobo e idiota se encontrava no rosto de Hades quando o mesmo se encontrou sozinho. Ele ainda sentia um cheiro forte de flores perto dele, ele não sabia se o cheiro havia impregnado em sua roupa ou... Ele descobriu de onde vinha o cheiro forte de flores, antes o campo onde ele estava deitado que era pura relva, agora se encontrava cheio de pequenas flores alaranjadas em formato de estrela, ele não lembrava de ter visto aquela flor antes.

- Oh que bonitinho, os dois estão tão apaixonados. – Afrodite apareceu a alguns passos a sua frente.

- Você sempre aparece quando ninguém te chama, não é mesmo? –

- Admiti que está apaixonado, porque eu sei que ela está. – respondeu sentando-se na relva algo florida. –

- Por que acha que ela está apaixonada? –

- Olhe ao seu redor. Olhe as flores que brotaram. –

- O que tem? –

- São Ásteres. – Hades ergueu a sobrancelha sem entender nada. – Homens. – bufou. – A flor Áster é um símbolo meu, ou seja, um símbolo do amor! Os mortais consideram dar uma flor de áster como uma prova de amor. E bom, ela floriu um campo para você. Quer uma prova melhor do que essa? –

Deixando essa ideia no ar, Afrodite sumiu deixando Hades sozinho. Com aquilo em mente, ele permaneceu mais um tempo naquele pequeno pedaço de campo, agora florido, pelo menos até escurecer, quando ele voltou para a escuridão de seu castelo no mundo inferior. Ele não conseguia parar de pensar em Perséfone, no beijo e principalmente no que Afrodite havia dito sobre ela estar apaixonada. O cheiro de flores estava preso em sua cabeça, e ele sabia dentro de si de não conseguiria e tão pouco queria passar mais um único dia sem ter Perséfone ao seu lado e em seus braços.

Os dias se passaram e finalmente chegou o dia em que ele havia combinado de se reencontrar com Perséfone. Quando ele chegou no lugar marcado de sempre, no meio das sombras, ela já estava ali, de costas para a escuridão da floresta, ela estava distraída enquanto acariciava a cabeça de um coelho cinza, deixando seu cetro apoiado em uma árvore, ele tentou se aproximar pé ante pé dela, em completo silêncio.

- Eu sei que você está aí. – falou ela enquanto continuava a acariciar a cabeça do coelho.

- Como sabia que eu estava aqui? – perguntou se sentando atrás da jovem.

- Eu senti o seu cheiro. – respondeu virando a cabeça na direção de Hades.

- E qual é o meu cheiro? –

- Enxofre. – respondeu rindo. – Eu gosto! – deu de ombros e aproximou um pouco mais o corpo do dele e beijou-lhe delicadamente os lábios. – Para não perder o costume. – brincou esticando um áster rosa na direção do deus da morte que prontamente aceitou, ele não sabia se Afrodite havia contado a ela o fato de que ele sabia da intenção de tal flor, contudo, ele também não falou nada e apenas aceitou a flor, e como sempre, prendia-a na orelha da jovem que sorria amorosamente para ele.

- O que você vai fazer amanhã? – perguntou ele quando ela soltou o coelho que deitou próximo aos pés da deusa.

- Nada. Por quê? – ele suspirou.

- Quer conhecer o submundo? – ela piscou os olhos castanhos algumas vezes sem acreditar muito no que ele havia dito.

- Perdão? –

- Eu perguntei se quer conhecer o submundo. –

- Achei que não me queria lá embaixo. – comentou virando o corpo um pouco na direção dele.

- Eu disse que eu não conseguia ver um ser de luz lá embaixo. –

- E o que lhe fez mudar de ideia? – retrucou e ele simplesmente lhe acariciou a bochecha.

- Eu não aguento mais ficar longe de você! – admitiu e aproximou mais ainda o corpo do dela. – Odeio ter que admitir, mas Afrodite estava certa. – prevendo o que ele diria, Perséfone sorriu amplamente mais uma vez. – Eu não sei como, mas eu estou completamente apaixonado por você. – ele segurou o delicado rosto da jovem com as duas mãos. – Como a morte pode amar alguém? – suspirou roçando o nariz ao dela.

- Eu te amo. – sussurrou ela, fazendo com que o coração de Hades batesse rápido e animado antes de unir os lábios aos dela.

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Capítulo 20.

Tulsa – Oklahoma.

2019.

Bella.

Eu me arrastei até a minha porta e para confirmar. Eu estava trancada! E para piorar a minha situação sem o celular que havia deixado jogado na loja quando eu corri até onde minha mãe estava com Edward. Que merda eu iria fazer agora? Como eu iria sair daqui? Edward provavelmente desconfiava para onde minha mãe tinha me trazido, será que ele tentaria vir aqui e causaria a terceira guerra mundial? Pois eu não duvidava nada de que ela fizesse isso. Ou será então que ele mandaria Alice em clima mais apaziguador?

E que merda de história é essa de que eu sou cabeça dura igual ao meu pai? Que tom de nojo foi aquele? Como assim eu sempre fazia isso? Porque ela falava como se isso tivesse acontecido diversas vezes? Eram milhares de perguntas que rondavam a minha mente, eu não conseguia pensar direito, as perguntas se infiltravam em meu cérebro e doía, minha mente latejava, parecia que ia explodir.

- Vai ficar aí sentada e não vai se mexer? – eu ouvi uma voz masculina vindo de trás de mim, uma voz familiar, me assustando e ao me virar para onde vinha a voz encontrei um homem parado próximo a minha janela. – É... Dessa vez ela foi longe demais! -

- Quem é você e como entrou aqui? – perguntei encostando minhas costas na parede, me afastando mais dele. A sobrancelha de seu olho direito se levantou como em um tom debochado, mas seu rosto continuava frio como mármore, e ele me era completamente familiar. – Eu sei quem é você! – comentei em um fio de voz me permitindo olhar em seu rosto. Ele era um homem alto, cabelos curtos e loiros e com profundos olhos pretos e... – Você é o irmão mais novo do Edward. –

- Exatamente! –

- Como você entrou aqui? –

- Como eu ainda não posso te responder verdadeiramente isso. Digamos apenas que eu entrei pela janela. –

- Como sabia onde eu moro e? –

- Para! Só para de fazer perguntas as quais eu não posso responder. –

- E quem vai responder as minhas perguntas? – eu gritei para ele ainda sentada no chão e sentindo algumas gotas salgadas escorrendo dos meus olhos, não eram lágrimas de dor, eram de raiva. – Ninguém me responde nada. –

- Se a sua mãe não lhe respondeu. Só tem uma única outra pessoa que possa responder. –

- Edward? – perguntei e ele assentiu. – E como eu vou falar com ele? Caso não tenha percebido eu estou presa! –

- Isso aqui é o que? – ele apontou para a janela aberta ao seu lado. Eu me levantei do chão, tropeçando em meus próprios pés e tendo que me apoiar na cama, antes de finalmente conseguir chegar à janela.

- É muito alto! – comentei em voz baixa. – Se eu pular daqui e não quebrar alguma parte do meu corpo, a minha mãe vai ouvir. –

- Não vai não. A chuva vai abafar. –

- Que chuva? Não está chovendo! –

- Tem certeza? – rebateu e em menos de cinco segundos um trovão rompeu o céu e uma tempestade começou a cair, e no transformador do poste em frente à minha casa, deu um curto circuito e as luzes de toda a rua apagou. Boquiaberta, virei o rosto para Carlisle. – Não pergunta. –

- E como eu vou descer? – perguntei olhando para baixo e vendo um breu.

- Eu te seguro lá embaixo. –

- Como assim, me segura... – ao me virar para olhar para Carlisle eu me encontrei sozinha no meu quarto, por mais que estivesse escuro e mal conseguisse ver um palmo a frente do meu nariz eu sabia que ele não estava ali.

– Desce logo. – sua voz veio de baixo, passando por cima do barulho da chuva. Eu respirei fundo antes de poder descer.

Isabella, você quer respostas, não quer? Quero! Respondi mentalmente a minha própria pergunta. Então desce e vai atrás das suas respostas, e se elas doerem. Que doam! Respirei fundo e soltei o ar. Eu passei uma das minhas pernas por cima do beiral da janela, e me sentei nela, com uma perna do lado de dentro do quarto e a outra pendendo para fora, e eu sentia a chuva forte e fria batendo em minha perna, me segurando forte no beiral da janela, coloquei a minha outra perna para fora, me apoiando no pequeno beiral que marcava a divisão do andar de baixo para o de cima. Agora eu só dois jeitos de descer. Ou eu me jogava ou tentava descer pela trepadeira que tinha a alguns passos a minha frente.

Obviamente eu não iria me jogar, então eu só tinha a opção de descer pela trepadeira e torcer para que ela não despencasse com o meu peso. Antes de tentar ir até a trepadeira, olhei para a porta e andando a microscópicos passos até a planta. Ao sair do quadrado da minha janela, eu não tinha mais onde me apoiar, e me obriguei a grudar meu peito na parede da casa e prendi minha respiração até conseguir segurar um dos galhos mais grossos da trepadeira com uma das mãos, e usando-a como apoio, andei até colocar todo o meu corpo de frente para a planta.

Usei a ponta de um dos pés para ver o próximo degrau, tinha um buraco do pergolado onde a planta estava enrolado os galhos. Firmei meu pé nesse buraco, e uma de cada vez apoiei minha mão no pergolado, me segurando bem forte para que pudesse descer com o outro pé. E pé a pé eu fui descendo, sentindo a madeira do pergolado e toda a trepadeira se encharcar cada vez mais devido a chuva forte. Eu estava na altura da janela do andar de baixo quando meu pé escorregou e antes que terminasse de despencar no chão senti uma das mãos de Carlisle encostaram próxima a minha cintura para me impedir de cair, e com seu apoio eu terminei de descer as escadas. Eu estava completamente encharcada, cada centímetro do meu corpo, cada fio do meu cabelo e dos meus cílios pingavam e eu mal conseguia ver um palmo a minha frente devido à chuva forte.

- Vai atrás das suas respostas. Vai doer, mas será muito melhor do que continuar vivendo assim. – ele continuava falando tranquilamente, com a voz calma, ele não precisava gritar para que eu pudesse escutar, era como se a tempestade diminuísse seu som para que ele pudesse falar.

- E quanto a minha mãe? – perguntei gritando e mesmo assim não tinha certeza de se ele tinha me ouvido. – Se ela aparecer no meu quarto? Ela vai ver que eu sumi e... – ele apoiou as mãos em meus ombros.

- Vai. Que da sua mãe cuido eu! – garantiu. – Vai logo! – ele balançou a cabeça na direção da rua, e dando um olhar rápido para a minha casa escura e para a janela do meu quarto, notei um vulto la dentro e ao que parecia a janela se fechado, contudo Carlisle, que pelo visto se teletransportava, ainda estava parado no meu lado no quintal. – Vai logo. Não perde tempo. – como um pai autoritário, ele mandou mais uma vez e eu tratei em correr na direção da rua escura antes que minha mãe pudesse chegar na sala e ver alguma coisa.

Eu sabia o caminho até a casa de Edward, sabia todo o trajeto de cabeça, mas aquelas ruas escuras e a tempestade torrencial dificultava muito. As ruas estavam cheias, a cada pisada no chão era uma poça de água, algumas fundas outras mais rasas e por uma sorte divina eu não acabei pisando em nenhum buraco e quebrando algum pé. Conforme eu ia seguindo as ruas até a casa de Edward eu ia notando que tudo estava no maior breu, pelo visto o apagão tinha sido em toda a cidade.

A chuva fria caia em meu corpo, que estava coberto apenas por um vestido fino de verão, não havia sequer uma única parte do meu corpo seca. Eu estava tremendo de frio, literalmente, eu sentia meus dentes batendo um no outro e a chuva parecia como pequenas e finas agulhas penetrando em minha pele.

Finalmente, após um grande sacrifício e tremendo de frio, eu consegui chegar a casa de Edward, a única que tinha luz na região, e eu me lembrava muito bem de quando ele havia dito que tinha um gerador de emergência em casa. Ao subir os degraus que davam até a sua porta de entrada, e eu subia bem devagar para poder firmar bem os meus pés no chão para não acabar escorregando, eu conseguia ouvir três vozes vindas de dentro da casa. Eram três vozes falando alto e de modo desesperado.

- Alguém precisa fazer alguma coisa. – eu ouvi a voz de Edward ao chegar no último degrau que levava a sua varanda, e tendo o som da chuva um pouco abafado devido ao telhado. – Alice pelo amor de Deus, liga para ela de novo. –

- Eu já liguei Edward! – a voz de Alice também parecia desesperada. – Tia Renée não me atende e o telefone da Bella só dá ocupado. Espera, pelo amor de Deus, essa chuva passar que eu mesma vou lá. – eu ia me aproximando da porta abraçando meus braços, tentando me esquentar um pouco, algo que era completamente impossível de acontecer devido ao estado ao qual eu me encontrava.

- Eu duvido que ela vá receber a Alice! – a última voz que eu ouvi foi a de Jasper. – Ela sabe que Alice encobriu vocês dois! – disse o óbvio. – Ela nem vai abrir a porta e... – ele foi interrompido com um latido de Cerberus, e eu consegui ouvir sua corrida até a porta e começar a farejar por debaixo dela e um silêncio reinou pela casa quando eu dei duas batidas na porta.

Demorou poucos segundos até que a porta abriu, na verdade, até que Edward tenha aberto a porta e os três ficaram me encarando sem falar nada, eu provavelmente me encontrava em um estado mais do que deplorável. Cerberus saiu para a varanda e deu uma choradinha ao se sentar próximo aos meus pés.

- Bella. – Alice saiu na frente de todo mundo e se chocou contra mim, me abraçado forte. – Amiga! Você está bem? – eu retribuí seu abraço tentando adquirir um pouco de calor corporal, mas o que eu havia conseguido era apenas molhar Alice.

- Estou. – respondi em um fio de voz.

- Entra as duas. – Edward mandou. – Jasper pega uma toalha para ela, por tudo o que é sagrado. – pediu e Alice me soltou e andou ao meu lado para dentro da casa de Edward. – Entra Cerberus. – ao mesmo tempo em que Cerberus entrou atras de mim e de Alice, Edward fechou a casa e Jasper chegou com três toalhas em mãos, jogando uma delas para Edward. – Olha o seu estado! – comentou baixo ao se aproximar e levar a toalha aos meus cabelos, tentando seca-los. – Você é maluca de sair de casa debaixo desse temporal? – me recriminou, mas sua voz transbordava de desespero e preocupação.

- Nós temos que conversar! – falei baixo apenas para ele me ouvir.

- Eu sei. Temos muita coisa para conversar e... –

- Eu quero respostas! Agora! – eu continuava falando baixo, mas falei firme. Eu não sabia o que ele tinha visto dentro meus olhos, mas ele apenas suspirou.

- Todas as respostas que você quiser! Prometo. Mas se troca primeiro, se esquenta e... –

- Não. – eu empurrei a sua mão que secava o meu cabelo. – Eu quero respostas agora! –

- Tudo bem! Eu falo e você se seca! – eu apenas concordei e ele saiu da minha frente.

- Eu vou fazer alguma coisa quente para ela comer e se aquecer. – Jasper falou, e antes que ele pudesse sair da sala Edward o puxo e falou algo em seu ouvido e ele apenas assentiu. – Alice, me ajuda! – ela assentiu e foi com ele para a piscina.

- Como você está? – perguntou colocando a tolha sobre a minha cabeça mais uma vez para secar os meus cabelos.

- Estarei melhor quando tiver as minhas respostas! –

- Como você saiu de casa? –

- Sem enrolação, Edward! –

- Por favor, eu não estou enrolando. Eu vou responder todas as suas perguntas. Mas eu quero saber como você está, como você conseguiu burlar a sua mãe e sair de casa. –

- Isso não importa. Eu saí, não saí? Estou aqui e já que a minha mãe não vai me dar respostas nenhuma, você vai! –

- Vem. – ele me segurou pela mão e me guiou até o seu escritório e Cerberus veio atrás de nós.

Eu entrei em seu escritório e ele logo atrás fechando a porta quando o Cerberus passou e deitou debaixo da mesa. Edward pegou o controle do ar condicionado e ligou no modo aquecimento, deixando a sala bem quentinha enquanto eu enrolava meu cabelo na toalha para e tentava me secar com a outra que ele tinha me entregado.

- Senta aí. – apontou para a poltrona de couro na frente da mesa.

- Não precisa. Estou toda molhada e não vou estranhar a poltrona. –

- Por favor Isabella. É só uma cadeira. Senta! – mandou se sentando a sua do outro lado da mesa de escritório debaixo daquele cetro bizarro que ele tinha preso dentro de uma caixa de vidro pendurado na parede. E eu me sentei, coloquei a toalha em cima do estofamento e me sentei na toalha, talvez não estragasse tanto assim o couro. – O que você quer saber? –

- Tudo! – respondi o óbvio.

- Por onde você quer que eu comece? – rebateu também com o óbvio.

Por onde ele deveria começar? Eu não sabia! Eram tantas perguntas que eu não sabia nem por onde eu deveria começar! Uma batia soou na porta do escritório e Jasper entrou, ele apenas colocou uma xícara de café fumegante a minha frente e saiu do escritório sem falar nada. Será que eu podia beber isso? Ele não estaria tentando me drogar igual a minha mãe, né? Não! Eu podia confiar no Edward, não é?

- Pode beber, não tem nada aí além de café e açúcar! – como se lesse minha mente ele respondeu. Eu não falei nada, e levei minhas mãos até a xícara de cerâmica na minha frente, notando as pontas dos meus dedos meio azulados. – Seus lábios estão piores que as pontas de seus dedos, portanto, por favor, beba o café. – pediu delicadamente e eu segurei a xícara sentindo o calor do café passando pela cerâmica e aquecendo meus dedos. Levei-a até os meus lábios, inalando o cheiro de café quente e bebi um gole do café, sentindo o líquido descendo pelo meu esôfago e me esquentando de dentro para fora. – Qual é a sua primeira pergunta? – questionou dobrando os braços em cima da mesa.

- Você vai me contar toda a verdade? –

- Toda. E por mais que eu odeie e não possa jurar. Eu juro que vou te contar toda a verdade. –

- De onde você conhece a minha mãe? –

- Lógico que você iria começar por uma das mais difíceis. Se bem que penso eu não haver nenhuma fácil. – respirou fundo. – Você quer a verdade, não é? – assenti bebendo mais um gole do café. Ele não respondeu, ele apenas esperou que eu engolisse o líquido e repousar a xícara em cima da mesa. – Somos irmãos! –

- É o que? – perguntei olhando-o incrédula. – Não! Impossível. Minha mãe não tem irmãos e... –

- Você pediu a verdade. Somos irmãos. Eu. Sua mãe, Carlisle, Eleazar, Esme e Kate somos irmãos! –

- Impossível! – eu me levantei da cadeira transtornada. – Então minha mãe tinha razão em não querer que eu me envolvesse com você! Você é meu tio! – ele abriu a boca. – Isso é nojento. Eu transei com o meu tio e você sabia e não me disse nada. Tem noção de como isso é repulsivo e... Espera... Você disse que Carlisle e Esme são irmãos? – ele assentiu. – E eles são casados? – ele assentiu mais uma vez. – Eu vou vomitar. –

- Parando para pensar é um pouco nojento sim o fato de Esme e Carlisle serem casados e terem filhos sendo irmãos... Mas de onde nós vimos é normal! Quer dizer. Era normal. E tecnicamente nós dois não somos tio e sobrinha. –

- Eu sou adotada? –

- Mais ou menos! –

- Explique-se. –

- Se você já quase surtou ao saber dessa parte. Nem cheguei na pior. – suspirou se levantando da cadeira. – Eu realmente não sei como falar isso e eu nunca fui a melhor pessoa eloquente da família. Na verdade, eu falava bem pouco. – ele se sentou na ponta da mesa ao lado da minha xicara de café. – Isabella você é a reencarnação da deusa Perséfone. – ele respondeu me encarando sério e eu não tive alternativa a não ser rir, na verdade gargalhar. – Eu não estou brincando! –

- Isso é loucura. Achei que eu estava ficando louca, mas pelo visto você é pior do que eu. – rebati rindo. – Se eu sou a reencarnação de Perséfone, você é quem? Hades? Deus do submundo? –

- Você só vai acreditar se vê com os próprios olhos, não é? –

- Eu pedi que me contasse a verdade, Edward. Podia inventar algo menos fantasioso e... – conforme eu ia falando e rindo, um cheiro ruim, podre, muito ruim começou a preencher as minhas narinas, e eu sabia muito bem que cheiro era aquele, parecia com centenas de ovos podres. – Que cheiro de enxofre é esse? – perguntei me virando para onde Edward estava sentado antes e... – O que? – ele não estava mais ali. Em seu lugar tinha outro homem, que por mais que ainda lembrasse o Edward, era bem diferente dele, parecia um pouco mais alto do que a poucos minutos, a pele clara estava mais clara ainda e os olhos verdes esmeraldas, agora eram de um verde denso e bem escuro, quase pretos. Os cabelos ruivos eram quase pretos. As roupas casuais que ele usava mudaram para uma espécie de calça de couro preta com uma túnica da mesma cor por cima, e o cetro, que antes estava pendurado em sua parede, estava em suas mãos. Eu abria e fechava a minha boca e não sabia o que dizer, o que diabos eu poderia falar após ter praticamente visto essa transformação a minha frente. – Eu estou ficando louca! – foi a única coisa que eu consegui falar antes dos meus joelhos cederem e eu deixar meu corpo cair em cima do sofá que tinha próximo a porta de saída do escritório.

- Você não está ficando louca, Bella. – até a sua voz tinha mudado, era mais grossa e áspera, não tinha aquele tom suave de antes.

- Então... Se eu não estou ficando louca e tudo o que... Tudo o que eu estou vendo não é fruto da minha imaginação... – eu falava devagar, para tentar colocar as ideias de ordem dentro da minha cabeça. – Significa que aqueles sonhos... –

- São lembranças da sua vida passada. – respondeu ele me interrompendo.

- Não era assim que você parecia no sonho. Mesmo eu não conseguindo ver seu rosto! – apontei.

- Simples. No sonho você lembra da minha versão divina. Essa é a versão que os mortais veem. –

- Por que? –

- Porque se um mortal ver a versão divina de um deus ele morre queimado! Sou o deus da morte, mas de qualquer forma não acho essa uma morte boa de se presenciar. –

- Eu não estou entendendo nada! –

- Faça as perguntas que você quer saber das respostas. – respondeu simplesmente se sentando ao meu lado e dessa vez ele tinha voltado a ser o Edward que eu conhecia antes, mesmo que continuasse a segurar o cetro em mãos, o que me fez dar um pequeno sobressalto devido ao susto. – Desculpe! –

- Se... – comecei a bombardeá-lo com as perguntas que vinham numa avalanche em minha cabeça. – Deixemos muito claro a parte do Se, porque eu ainda tenho minhas dúvidas, porque eu posso simplesmente ter batido a cabeça e estar em coma e imaginando tudo isso, ou posso ter desenvolvido algum distúrbio psiquiátrico e estou presa em um manicômio vivendo numa dimensão paralela... – eu o ouvi rindo, enquanto encostava as costas no encosto do sofá e apoiava uma das pernas no outro joelho. – Se isso é verdade. Como eu vim parar aqui? Até onde eu sei, deuses não morrem, se eu sou a reencarnação de Perséfone é porque ela morreu. Por que e como ela morreu, já que ela é uma deusa e não deveria morrer? – ele engoliu em seco antes de continuar.

- Não é verdade de que um deus não pode morrer. Há sim, algumas formas de se matar um deus. Obviamente, lendas de que era algo impossível de conseguir foram espalhadas para nenhum mortal tolo tentasse matar um e se vangloriasse por isso. – parecendo completamente desconfortável, ele se ajeitou no sofá. – Um deus pode matar outro deus, um arco muito poderoso criado por Hefesto para Artêmis, pode matar todas as criaturas existentes no mundo, incluindo um deus e... –

- E porque um deus cria uma arma capaz de matar outro deus? – perguntei. –

- Por que os mortais criaram bombas atômicas que são capazes de matar bilhares de mortais em meros segundos? – rebateu. – Quando Hefesto criou o arco foi durante a titanomaquia, era quase impossível derrotar um titã, nenhum deus tinha força para defender o Olimpo ou atacar o monte Ótris. Obviamente ninguém havia pensado que uma arma tão poderosa que poderia derrubar um titã, também conseguiria derrubar um deus... – ele me encarou. – E bom, essas são as formas de matar um olimpiano. –

- E como eu morri? Quer dizer... Como a Perséfone morreu? –

- Quer fazer uma viagem comigo? – eu o encarei confuso. – Assim você vê com os próprios olhos o que aconteceu. – explicou se levantando do sofá e estendendo a mão.

- E como será essa viagem? – questionei receosa de segurar sua mão. Ele não respondeu. Apenas bateu o cetro no chão e algo como um buraco negro se formou no ponto onde o centro havia tocado no chão.

- Por favor, confie em mim. Eu jamais faria algo para lhe machucar de novo. – ao ouvir o de novo a minha sobrancelha se arqueou. – Por favor, venha. – ele não havia respondido sobre a parte do de novo, mas mesmo assim, eu segurei sua mão e ele me guiou para dentro do círculo negro. – Abre os olhos Bella. – eu não sabia em qual momento eu tinha fechado os meus olhos, mas ao abri-los novamente eu me via em um lugar, o qual, eu jamais conseguiria imaginar em toda a minha vida.

Parecia um salão de um castelo bem antigo, todo feito de mármore, com alguns tronos disponibilizados em formato de U, eu lembrava daquele lugar, eu havia tido um sonho nesse lugar quando tinha comido romã pela primeira vez. A diferença era que desta vez o salão estava bem cheio e dessa vez eu conseguia reconhecer a grande maioria das pessoas que estavam ali.

Eu conseguia reconhecer toda a família de Edward que estava naquela festa em Milos, eu conseguia reconhecer o próprio Edward encostados em uma das pilastras, afastado das pessoas espalhadas pelo salão. O corpo agora tinha um rosto, o corpo que eu sempre via de costas agora tinha um rosto e era o rosto que eu estava acostumada a ver em Edward, com poucas e singelas mudanças. Um riso de criança atraiu a minha atenção para o meio do salão, onde tinha uma pequena garotinha que me parecia extremamente familiar, na verdade ela me lembrava muito eu quando eu tinha por volta dos quatro ou cinco anos. E ao lado dela uma jovem mulher, que olhava com um carinho de uma mãe para a sua filha, e eu senti meu coração perder uma batida quando a mulher levantou a cabeça na minha direção e eu pude ter certeza que o seu rosto era o mesmo rosto de minha mãe.

- Finalmente você chegou. Está atrasado! – comentou ela com algumas singelas notas de raiva em sua voz ao olhar na minha direção e eu estava estática.

- Ela... Ela está me vendo? – perguntei com a voz falha a Edward.

- Não! Não tem ninguém nos vendo. – garantiu ele.

- Estava ocupado. – a voz de um homem soou por trás de mim e ao me virar eu dei de cara com Carlisle, irmão de Edward, usando apenas uma túnica branca que reluzia e que facilmente poderia me cegar se eu estivesse presente fisicamente no mesmo ambiente que ele. – Cadê a garotinha do papai? – ele se aproximou das duas no meio do salão e a menininha se levantou sorrindo e correu na direção de Carlisle.

- Aquela... –

- É a Perséfone. No auge dos seis anos quando descobriu os poderes. – respondeu.

- Você não nasce com seus poderes? –

- Não. – respondeu. – Você recebe algum... Objeto que retrate o seu poder. Por exemplo, Zeus com o arco. Poseidon com o tridente e eu com o meu cetro. – respondeu e eu virei minimamente a cabeça para olha-lo. - Sua mãe recebeu uma cornucópia, de onde ela consegue tirar toda e qualquer semente que desejar para plantar o que ela bem entender. –

- E eu? Quer dizer... –

- Você não faz ideia do que você recebeu? – perguntou sorrindo ao me encarar e frisando bem o você. – E não é nem um pouco errado se referir a Perséfone como você. Porque você é ela e ela é você! Vocês são uma só. –

- Sementes? – chutei e ele sorriu.

- Sementes de flores e frutos. Você conseguia criar qualquer flor ou fruto que bem entendesse. Por isso que nenhuma flor morre na sua mão. – seu sorriso para mim era o sorriso mais bonito e de tirar o folego que eu já tinha visto em minha vida, era um sorriso tão amável e acolhedor. – Olha, Héstia está lhe entregando as sementes. – comentou ao olhar por cima da minha cabeça e ao me virar mais uma vez para a direção onde a garotinha estava, tinha outra mulher, a qual eu também já tinha visto em Milos naquela festa, e ela entregava um pequeno saco de pano para a jovem Perséfone.

- Daqui, criança... – sua voz era como música, calma, serena e melodiosa. – Daqui você poderá tirar toda e qualquer semente para plantar tudo o que o seu coraçãozinho quiser, e encher esse mundo sem cor de belas cores e colorações. – a pequena, com uma ruga de desentendimento no meio dos olhos, abriu o saco e tirou um punhado de sementes, todas idênticas, lá de dentro.

- Mas o que eu faço com isso? – perguntou olhando para a mulher que lhe entregou o saquinho.

- No mundo dos mortais a sua mãe vai te ensinar como usar. Contudo, aqui em cima, é só você olhar para ela e imaginar uma planta, parecida com a da sua mãe, mas com cores, pode misturar as cores de quiser, criar cores novas, e dessa semana virá o que está na sua cabeça. Imagine! – instigou-a de forma animada e pequena Perséfone olhou para o punhado de sementes em suas mãos e assim ficou por um longo tempo.

- Por que me trouxe até aqui? Disse que me daria respostas. – comentei com Edward sem me virar na sua direção.

- É porque é aqui, que as suas respostas começam! – mal ele terminou de falar e um gritinho de animação saiu da boca de Perséfone, ela havia conseguido transformar mais da metade daquelas sementes em jacintos, das cores mais diversas possíveis.

- Olha quem finalmente deixou aquele lugar. – minha atenção foi tirada de Perséfone quando Carlisle se dirigiu até Edward no canto mais afastado e escuro do recinto. – Não é só porque vives nas trevas que tens que ficar sempre no escuro, irmão! –

- Se eu vivo nas trevas, você sabe de quem é a culpa. – cuspiu irritado e Carlisle bufou. – E porque exigiu a minha presença aqui? Qual é a novidade? Sua filha herdou os dons da mãe, e no que isso me envolve ou me interessa? –

- És meu irmão e eu o quero nas confraternizações que envolvem meus filhos. – Edward bufou audivelmente. – Céus, como consegues ficar mais rabugento a cada misero dia que passa? Precisas de uma mulher, meu irmão. Tem tantas por aí, vai atrás de uma! –

- Até parece que alguma mulher com a consciência perfeita chegaria perto da morte por livre e espontânea vontade. –

- Papai... – Perséfone foi na direção de Carlisle que estava perto de Edward. – Olha o que eu fiz. – ela segurava os jacintos em formato de um buque em suas mãos e amostrava animada para o pai.

- Muito bem, filha. Daqui a pouco vais roubar o lugar da tua mãe. – brincou.

- Eu ouvi isso em... – minha mãe repreendeu do outro lado do salão.

- Já conhecestes o teu tio Hades? – Perséfone levantou a cabeça e encarou o tio, que não olhava para a criança com o mesmo desdém que olhava para o irmão, na verdade seus olhos não tinham nenhuma expressão. Eram olhos mortos que olhavam para a doce menina.

- Não. Por que eu nunca o vi? –

- Porque ele gosta de ficar com as almas dele ao invés de socializar. – Edward bufou.

- Perséfone, venha aqui. – minha mãe a chamou.

- Tome. – ela entregou um jacinto roxo a Edward, que o aceitou sem entender muito. – Tia Héstia disse que era para eu colorir o mundo! – com a resposta de Perséfone, Edward acabou sorrindo enquanto Carlisle a colocava no chão para ir até a mãe que lhe chamava.

- Essa é nova até para mim. – mal Carlisle se pôs de pé e Rosalie apareceu na frente dos dois.

- Concordo que ver esse homem sorrindo é novo até para mim. – Carlisle ironizou fazendo a cara de Edward se fechar novamente.

- Não. Não é isso! É o que eu estou vendo é novo para mim! –

- Como assim Afrodite? –

- Eu estou vendo Hades se casando com a Perséfone! -