Tulsa – Oklahoma.
2019.
Bella.
Eu me arrastei até a minha porta e para confirmar. Eu estava trancada! E para piorar a minha situação sem o celular que havia deixado jogado na loja quando eu corri até onde minha mãe estava com Edward. Que merda eu iria fazer agora? Como eu iria sair daqui? Edward provavelmente desconfiava para onde minha mãe tinha me trazido, será que ele tentaria vir aqui e causaria a terceira guerra mundial? Pois eu não duvidava nada de que ela fizesse isso. Ou será então que ele mandaria Alice em clima mais apaziguador?
E que merda de história é essa de que eu sou cabeça dura igual ao meu pai? Que tom de nojo foi aquele? Como assim eu sempre fazia isso? Porque ela falava como se isso tivesse acontecido diversas vezes? Eram milhares de perguntas que rondavam a minha mente, eu não conseguia pensar direito, as perguntas se infiltravam em meu cérebro e doía, minha mente latejava, parecia que ia explodir.
- Vai ficar aí sentada e não vai se mexer? – eu ouvi uma voz masculina vindo de trás de mim, uma voz familiar, me assustando e ao me virar para onde vinha a voz encontrei um homem parado próximo a minha janela. – É... Dessa vez ela foi longe demais! -
- Quem é você e como entrou aqui? – perguntei encostando minhas costas na parede, me afastando mais dele. A sobrancelha de seu olho direito se levantou como em um tom debochado, mas seu rosto continuava frio como mármore, e ele me era completamente familiar. – Eu sei quem é você! – comentei em um fio de voz me permitindo olhar em seu rosto. Ele era um homem alto, cabelos curtos e loiros e com profundos olhos pretos e... – Você é o irmão mais novo do Edward. –
- Exatamente! –
- Como você entrou aqui? –
- Como eu ainda não posso te responder verdadeiramente isso. Digamos apenas que eu entrei pela janela. –
- Como sabia onde eu moro e? –
- Para! Só para de fazer perguntas as quais eu não posso responder. –
- E quem vai responder as minhas perguntas? – eu gritei para ele ainda sentada no chão e sentindo algumas gotas salgadas escorrendo dos meus olhos, não eram lágrimas de dor, eram de raiva. – Ninguém me responde nada. –
- Se a sua mãe não lhe respondeu. Só tem uma única outra pessoa que possa responder. –
- Edward? – perguntei e ele assentiu. – E como eu vou falar com ele? Caso não tenha percebido eu estou presa! –
- Isso aqui é o que? – ele apontou para a janela aberta ao seu lado. Eu me levantei do chão, tropeçando em meus próprios pés e tendo que me apoiar na cama, antes de finalmente conseguir chegar à janela.
- É muito alto! – comentei em voz baixa. – Se eu pular daqui e não quebrar alguma parte do meu corpo, a minha mãe vai ouvir. –
- Não vai não. A chuva vai abafar. –
- Que chuva? Não está chovendo! –
- Tem certeza? – rebateu e em menos de cinco segundos um trovão rompeu o céu e uma tempestade começou a cair, e no transformador do poste em frente à minha casa, deu um curto circuito e as luzes de toda a rua apagou. Boquiaberta, virei o rosto para Carlisle. – Não pergunta. –
- E como eu vou descer? – perguntei olhando para baixo e vendo um breu.
- Eu te seguro lá embaixo. –
- Como assim, me segura... – ao me virar para olhar para Carlisle eu me encontrei sozinha no meu quarto, por mais que estivesse escuro e mal conseguisse ver um palmo a frente do meu nariz eu sabia que ele não estava ali.
– Desce logo. – sua voz veio de baixo, passando por cima do barulho da chuva. Eu respirei fundo antes de poder descer.
Isabella, você quer respostas, não quer? Quero! Respondi mentalmente a minha própria pergunta. Então desce e vai atrás das suas respostas, e se elas doerem. Que doam! Respirei fundo e soltei o ar. Eu passei uma das minhas pernas por cima do beiral da janela, e me sentei nela, com uma perna do lado de dentro do quarto e a outra pendendo para fora, e eu sentia a chuva forte e fria batendo em minha perna, me segurando forte no beiral da janela, coloquei a minha outra perna para fora, me apoiando no pequeno beiral que marcava a divisão do andar de baixo para o de cima. Agora eu só dois jeitos de descer. Ou eu me jogava ou tentava descer pela trepadeira que tinha a alguns passos a minha frente.
Obviamente eu não iria me jogar, então eu só tinha a opção de descer pela trepadeira e torcer para que ela não despencasse com o meu peso. Antes de tentar ir até a trepadeira, olhei para a porta e andando a microscópicos passos até a planta. Ao sair do quadrado da minha janela, eu não tinha mais onde me apoiar, e me obriguei a grudar meu peito na parede da casa e prendi minha respiração até conseguir segurar um dos galhos mais grossos da trepadeira com uma das mãos, e usando-a como apoio, andei até colocar todo o meu corpo de frente para a planta.
Usei a ponta de um dos pés para ver o próximo degrau, tinha um buraco do pergolado onde a planta estava enrolado os galhos. Firmei meu pé nesse buraco, e uma de cada vez apoiei minha mão no pergolado, me segurando bem forte para que pudesse descer com o outro pé. E pé a pé eu fui descendo, sentindo a madeira do pergolado e toda a trepadeira se encharcar cada vez mais devido a chuva forte. Eu estava na altura da janela do andar de baixo quando meu pé escorregou e antes que terminasse de despencar no chão senti uma das mãos de Carlisle encostaram próxima a minha cintura para me impedir de cair, e com seu apoio eu terminei de descer as escadas. Eu estava completamente encharcada, cada centímetro do meu corpo, cada fio do meu cabelo e dos meus cílios pingavam e eu mal conseguia ver um palmo a minha frente devido à chuva forte.
- Vai atrás das suas respostas. Vai doer, mas será muito melhor do que continuar vivendo assim. – ele continuava falando tranquilamente, com a voz calma, ele não precisava gritar para que eu pudesse escutar, era como se a tempestade diminuísse seu som para que ele pudesse falar.
- E quanto a minha mãe? – perguntei gritando e mesmo assim não tinha certeza de se ele tinha me ouvido. – Se ela aparecer no meu quarto? Ela vai ver que eu sumi e... – ele apoiou as mãos em meus ombros.
- Vai. Que da sua mãe cuido eu! – garantiu. – Vai logo! – ele balançou a cabeça na direção da rua, e dando um olhar rápido para a minha casa escura e para a janela do meu quarto, notei um vulto la dentro e ao que parecia a janela se fechado, contudo Carlisle, que pelo visto se teletransportava, ainda estava parado no meu lado no quintal. – Vai logo. Não perde tempo. – como um pai autoritário, ele mandou mais uma vez e eu tratei em correr na direção da rua escura antes que minha mãe pudesse chegar na sala e ver alguma coisa.
Eu sabia o caminho até a casa de Edward, sabia todo o trajeto de cabeça, mas aquelas ruas escuras e a tempestade torrencial dificultava muito. As ruas estavam cheias, a cada pisada no chão era uma poça de água, algumas fundas outras mais rasas e por uma sorte divina eu não acabei pisando em nenhum buraco e quebrando algum pé. Conforme eu ia seguindo as ruas até a casa de Edward eu ia notando que tudo estava no maior breu, pelo visto o apagão tinha sido em toda a cidade.
A chuva fria caia em meu corpo, que estava coberto apenas por um vestido fino de verão, não havia sequer uma única parte do meu corpo seca. Eu estava tremendo de frio, literalmente, eu sentia meus dentes batendo um no outro e a chuva parecia como pequenas e finas agulhas penetrando em minha pele.
Finalmente, após um grande sacrifício e tremendo de frio, eu consegui chegar a casa de Edward, a única que tinha luz na região, e eu me lembrava muito bem de quando ele havia dito que tinha um gerador de emergência em casa. Ao subir os degraus que davam até a sua porta de entrada, e eu subia bem devagar para poder firmar bem os meus pés no chão para não acabar escorregando, eu conseguia ouvir três vozes vindas de dentro da casa. Eram três vozes falando alto e de modo desesperado.
- Alguém precisa fazer alguma coisa. – eu ouvi a voz de Edward ao chegar no último degrau que levava a sua varanda, e tendo o som da chuva um pouco abafado devido ao telhado. – Alice pelo amor de Deus, liga para ela de novo. –
- Eu já liguei Edward! – a voz de Alice também parecia desesperada. – Tia Renée não me atende e o telefone da Bella só dá ocupado. Espera, pelo amor de Deus, essa chuva passar que eu mesma vou lá. – eu ia me aproximando da porta abraçando meus braços, tentando me esquentar um pouco, algo que era completamente impossível de acontecer devido ao estado ao qual eu me encontrava.
- Eu duvido que ela vá receber a Alice! – a última voz que eu ouvi foi a de Jasper. – Ela sabe que Alice encobriu vocês dois! – disse o óbvio. – Ela nem vai abrir a porta e... – ele foi interrompido com um latido de Cerberus, e eu consegui ouvir sua corrida até a porta e começar a farejar por debaixo dela e um silêncio reinou pela casa quando eu dei duas batidas na porta.
Demorou poucos segundos até que a porta abriu, na verdade, até que Edward tenha aberto a porta e os três ficaram me encarando sem falar nada, eu provavelmente me encontrava em um estado mais do que deplorável. Cerberus saiu para a varanda e deu uma choradinha ao se sentar próximo aos meus pés.
- Bella. – Alice saiu na frente de todo mundo e se chocou contra mim, me abraçado forte. – Amiga! Você está bem? – eu retribuí seu abraço tentando adquirir um pouco de calor corporal, mas o que eu havia conseguido era apenas molhar Alice.
- Estou. – respondi em um fio de voz.
- Entra as duas. – Edward mandou. – Jasper pega uma toalha para ela, por tudo o que é sagrado. – pediu e Alice me soltou e andou ao meu lado para dentro da casa de Edward. – Entra Cerberus. – ao mesmo tempo em que Cerberus entrou atras de mim e de Alice, Edward fechou a casa e Jasper chegou com três toalhas em mãos, jogando uma delas para Edward. – Olha o seu estado! – comentou baixo ao se aproximar e levar a toalha aos meus cabelos, tentando seca-los. – Você é maluca de sair de casa debaixo desse temporal? – me recriminou, mas sua voz transbordava de desespero e preocupação.
- Nós temos que conversar! – falei baixo apenas para ele me ouvir.
- Eu sei. Temos muita coisa para conversar e... –
- Eu quero respostas! Agora! – eu continuava falando baixo, mas falei firme. Eu não sabia o que ele tinha visto dentro meus olhos, mas ele apenas suspirou.
- Todas as respostas que você quiser! Prometo. Mas se troca primeiro, se esquenta e... –
- Não. – eu empurrei a sua mão que secava o meu cabelo. – Eu quero respostas agora! –
- Tudo bem! Eu falo e você se seca! – eu apenas concordei e ele saiu da minha frente.
- Eu vou fazer alguma coisa quente para ela comer e se aquecer. – Jasper falou, e antes que ele pudesse sair da sala Edward o puxo e falou algo em seu ouvido e ele apenas assentiu. – Alice, me ajuda! – ela assentiu e foi com ele para a piscina.
- Como você está? – perguntou colocando a tolha sobre a minha cabeça mais uma vez para secar os meus cabelos.
- Estarei melhor quando tiver as minhas respostas! –
- Como você saiu de casa? –
- Sem enrolação, Edward! –
- Por favor, eu não estou enrolando. Eu vou responder todas as suas perguntas. Mas eu quero saber como você está, como você conseguiu burlar a sua mãe e sair de casa. –
- Isso não importa. Eu saí, não saí? Estou aqui e já que a minha mãe não vai me dar respostas nenhuma, você vai! –
- Vem. – ele me segurou pela mão e me guiou até o seu escritório e Cerberus veio atrás de nós.
Eu entrei em seu escritório e ele logo atrás fechando a porta quando o Cerberus passou e deitou debaixo da mesa. Edward pegou o controle do ar condicionado e ligou no modo aquecimento, deixando a sala bem quentinha enquanto eu enrolava meu cabelo na toalha para e tentava me secar com a outra que ele tinha me entregado.
- Senta aí. – apontou para a poltrona de couro na frente da mesa.
- Não precisa. Estou toda molhada e não vou estranhar a poltrona. –
- Por favor Isabella. É só uma cadeira. Senta! – mandou se sentando a sua do outro lado da mesa de escritório debaixo daquele cetro bizarro que ele tinha preso dentro de uma caixa de vidro pendurado na parede. E eu me sentei, coloquei a toalha em cima do estofamento e me sentei na toalha, talvez não estragasse tanto assim o couro. – O que você quer saber? –
- Tudo! – respondi o óbvio.
- Por onde você quer que eu comece? – rebateu também com o óbvio.
Por onde ele deveria começar? Eu não sabia! Eram tantas perguntas que eu não sabia nem por onde eu deveria começar! Uma batia soou na porta do escritório e Jasper entrou, ele apenas colocou uma xícara de café fumegante a minha frente e saiu do escritório sem falar nada. Será que eu podia beber isso? Ele não estaria tentando me drogar igual a minha mãe, né? Não! Eu podia confiar no Edward, não é?
- Pode beber, não tem nada aí além de café e açúcar! – como se lesse minha mente ele respondeu. Eu não falei nada, e levei minhas mãos até a xícara de cerâmica na minha frente, notando as pontas dos meus dedos meio azulados. – Seus lábios estão piores que as pontas de seus dedos, portanto, por favor, beba o café. – pediu delicadamente e eu segurei a xícara sentindo o calor do café passando pela cerâmica e aquecendo meus dedos. Levei-a até os meus lábios, inalando o cheiro de café quente e bebi um gole do café, sentindo o líquido descendo pelo meu esôfago e me esquentando de dentro para fora. – Qual é a sua primeira pergunta? – questionou dobrando os braços em cima da mesa.
- Você vai me contar toda a verdade? –
- Toda. E por mais que eu odeie e não possa jurar. Eu juro que vou te contar toda a verdade. –
- De onde você conhece a minha mãe? –
- Lógico que você iria começar por uma das mais difíceis. Se bem que penso eu não haver nenhuma fácil. – respirou fundo. – Você quer a verdade, não é? – assenti bebendo mais um gole do café. Ele não respondeu, ele apenas esperou que eu engolisse o líquido e repousar a xícara em cima da mesa. – Somos irmãos! –
- É o que? – perguntei olhando-o incrédula. – Não! Impossível. Minha mãe não tem irmãos e... –
- Você pediu a verdade. Somos irmãos. Eu. Sua mãe, Carlisle, Eleazar, Esme e Kate somos irmãos! –
- Impossível! – eu me levantei da cadeira transtornada. – Então minha mãe tinha razão em não querer que eu me envolvesse com você! Você é meu tio! – ele abriu a boca. – Isso é nojento. Eu transei com o meu tio e você sabia e não me disse nada. Tem noção de como isso é repulsivo e... Espera... Você disse que Carlisle e Esme são irmãos? – ele assentiu. – E eles são casados? – ele assentiu mais uma vez. – Eu vou vomitar. –
- Parando para pensar é um pouco nojento sim o fato de Esme e Carlisle serem casados e terem filhos sendo irmãos... Mas de onde nós vimos é normal! Quer dizer. Era normal. E tecnicamente nós dois não somos tio e sobrinha. –
- Eu sou adotada? –
- Mais ou menos! –
- Explique-se. –
- Se você já quase surtou ao saber dessa parte. Nem cheguei na pior. – suspirou se levantando da cadeira. – Eu realmente não sei como falar isso e eu nunca fui a melhor pessoa eloquente da família. Na verdade, eu falava bem pouco. – ele se sentou na ponta da mesa ao lado da minha xicara de café. – Isabella você é a reencarnação da deusa Perséfone. – ele respondeu me encarando sério e eu não tive alternativa a não ser rir, na verdade gargalhar. – Eu não estou brincando! –
- Isso é loucura. Achei que eu estava ficando louca, mas pelo visto você é pior do que eu. – rebati rindo. – Se eu sou a reencarnação de Perséfone, você é quem? Hades? Deus do submundo? –
- Você só vai acreditar se vê com os próprios olhos, não é? –
- Eu pedi que me contasse a verdade, Edward. Podia inventar algo menos fantasioso e... – conforme eu ia falando e rindo, um cheiro ruim, podre, muito ruim começou a preencher as minhas narinas, e eu sabia muito bem que cheiro era aquele, parecia com centenas de ovos podres. – Que cheiro de enxofre é esse? – perguntei me virando para onde Edward estava sentado antes e... – O que? – ele não estava mais ali. Em seu lugar tinha outro homem, que por mais que ainda lembrasse o Edward, era bem diferente dele, parecia um pouco mais alto do que a poucos minutos, a pele clara estava mais clara ainda e os olhos verdes esmeraldas, agora eram de um verde denso e bem escuro, quase pretos. Os cabelos ruivos eram quase pretos. As roupas casuais que ele usava mudaram para uma espécie de calça de couro preta com uma túnica da mesma cor por cima, e o cetro, que antes estava pendurado em sua parede, estava em suas mãos. Eu abria e fechava a minha boca e não sabia o que dizer, o que diabos eu poderia falar após ter praticamente visto essa transformação a minha frente. – Eu estou ficando louca! – foi a única coisa que eu consegui falar antes dos meus joelhos cederem e eu deixar meu corpo cair em cima do sofá que tinha próximo a porta de saída do escritório.
- Você não está ficando louca, Bella. – até a sua voz tinha mudado, era mais grossa e áspera, não tinha aquele tom suave de antes.
- Então... Se eu não estou ficando louca e tudo o que... Tudo o que eu estou vendo não é fruto da minha imaginação... – eu falava devagar, para tentar colocar as ideias de ordem dentro da minha cabeça. – Significa que aqueles sonhos... –
- São lembranças da sua vida passada. – respondeu ele me interrompendo.
- Não era assim que você parecia no sonho. Mesmo eu não conseguindo ver seu rosto! – apontei.
- Simples. No sonho você lembra da minha versão divina. Essa é a versão que os mortais veem. –
- Por que? –
- Porque se um mortal ver a versão divina de um deus ele morre queimado! Sou o deus da morte, mas de qualquer forma não acho essa uma morte boa de se presenciar. –
- Eu não estou entendendo nada! –
- Faça as perguntas que você quer saber das respostas. – respondeu simplesmente se sentando ao meu lado e dessa vez ele tinha voltado a ser o Edward que eu conhecia antes, mesmo que continuasse a segurar o cetro em mãos, o que me fez dar um pequeno sobressalto devido ao susto. – Desculpe! –
- Se... – comecei a bombardeá-lo com as perguntas que vinham numa avalanche em minha cabeça. – Deixemos muito claro a parte do Se, porque eu ainda tenho minhas dúvidas, porque eu posso simplesmente ter batido a cabeça e estar em coma e imaginando tudo isso, ou posso ter desenvolvido algum distúrbio psiquiátrico e estou presa em um manicômio vivendo numa dimensão paralela... – eu o ouvi rindo, enquanto encostava as costas no encosto do sofá e apoiava uma das pernas no outro joelho. – Se isso é verdade. Como eu vim parar aqui? Até onde eu sei, deuses não morrem, se eu sou a reencarnação de Perséfone é porque ela morreu. Por que e como ela morreu, já que ela é uma deusa e não deveria morrer? – ele engoliu em seco antes de continuar.
- Não é verdade de que um deus não pode morrer. Há sim, algumas formas de se matar um deus. Obviamente, lendas de que era algo impossível de conseguir foram espalhadas para nenhum mortal tolo tentasse matar um e se vangloriasse por isso. – parecendo completamente desconfortável, ele se ajeitou no sofá. – Um deus pode matar outro deus, um arco muito poderoso criado por Hefesto para Artêmis, pode matar todas as criaturas existentes no mundo, incluindo um deus e... –
- E porque um deus cria uma arma capaz de matar outro deus? – perguntei. –
- Por que os mortais criaram bombas atômicas que são capazes de matar bilhares de mortais em meros segundos? – rebateu. – Quando Hefesto criou o arco foi durante a titanomaquia, era quase impossível derrotar um titã, nenhum deus tinha força para defender o Olimpo ou atacar o monte Ótris. Obviamente ninguém havia pensado que uma arma tão poderosa que poderia derrubar um titã, também conseguiria derrubar um deus... – ele me encarou. – E bom, essas são as formas de matar um olimpiano. –
- E como eu morri? Quer dizer... Como a Perséfone morreu? –
- Quer fazer uma viagem comigo? – eu o encarei confuso. – Assim você vê com os próprios olhos o que aconteceu. – explicou se levantando do sofá e estendendo a mão.
- E como será essa viagem? – questionei receosa de segurar sua mão. Ele não respondeu. Apenas bateu o cetro no chão e algo como um buraco negro se formou no ponto onde o centro havia tocado no chão.
- Por favor, confie em mim. Eu jamais faria algo para lhe machucar de novo. – ao ouvir o de novo a minha sobrancelha se arqueou. – Por favor, venha. – ele não havia respondido sobre a parte do de novo, mas mesmo assim, eu segurei sua mão e ele me guiou para dentro do círculo negro. – Abre os olhos Bella. – eu não sabia em qual momento eu tinha fechado os meus olhos, mas ao abri-los novamente eu me via em um lugar, o qual, eu jamais conseguiria imaginar em toda a minha vida.
Parecia um salão de um castelo bem antigo, todo feito de mármore, com alguns tronos disponibilizados em formato de U, eu lembrava daquele lugar, eu havia tido um sonho nesse lugar quando tinha comido romã pela primeira vez. A diferença era que desta vez o salão estava bem cheio e dessa vez eu conseguia reconhecer a grande maioria das pessoas que estavam ali.
Eu conseguia reconhecer toda a família de Edward que estava naquela festa em Milos, eu conseguia reconhecer o próprio Edward encostados em uma das pilastras, afastado das pessoas espalhadas pelo salão. O corpo agora tinha um rosto, o corpo que eu sempre via de costas agora tinha um rosto e era o rosto que eu estava acostumada a ver em Edward, com poucas e singelas mudanças. Um riso de criança atraiu a minha atenção para o meio do salão, onde tinha uma pequena garotinha que me parecia extremamente familiar, na verdade ela me lembrava muito eu quando eu tinha por volta dos quatro ou cinco anos. E ao lado dela uma jovem mulher, que olhava com um carinho de uma mãe para a sua filha, e eu senti meu coração perder uma batida quando a mulher levantou a cabeça na minha direção e eu pude ter certeza que o seu rosto era o mesmo rosto de minha mãe.
- Finalmente você chegou. Está atrasado! – comentou ela com algumas singelas notas de raiva em sua voz ao olhar na minha direção e eu estava estática.
- Ela... Ela está me vendo? – perguntei com a voz falha a Edward.
- Não! Não tem ninguém nos vendo. – garantiu ele.
- Estava ocupado. – a voz de um homem soou por trás de mim e ao me virar eu dei de cara com Carlisle, irmão de Edward, usando apenas uma túnica branca que reluzia e que facilmente poderia me cegar se eu estivesse presente fisicamente no mesmo ambiente que ele. – Cadê a garotinha do papai? – ele se aproximou das duas no meio do salão e a menininha se levantou sorrindo e correu na direção de Carlisle.
- Aquela... –
- É a Perséfone. No auge dos seis anos quando descobriu os poderes. – respondeu.
- Você não nasce com seus poderes? –
- Não. – respondeu. – Você recebe algum... Objeto que retrate o seu poder. Por exemplo, Zeus com o arco. Poseidon com o tridente e eu com o meu cetro. – respondeu e eu virei minimamente a cabeça para olha-lo. - Sua mãe recebeu uma cornucópia, de onde ela consegue tirar toda e qualquer semente que desejar para plantar o que ela bem entender. –
- E eu? Quer dizer... –
- Você não faz ideia do que você recebeu? – perguntou sorrindo ao me encarar e frisando bem o você. – E não é nem um pouco errado se referir a Perséfone como você. Porque você é ela e ela é você! Vocês são uma só. –
- Sementes? – chutei e ele sorriu.
- Sementes de flores e frutos. Você conseguia criar qualquer flor ou fruto que bem entendesse. Por isso que nenhuma flor morre na sua mão. – seu sorriso para mim era o sorriso mais bonito e de tirar o folego que eu já tinha visto em minha vida, era um sorriso tão amável e acolhedor. – Olha, Héstia está lhe entregando as sementes. – comentou ao olhar por cima da minha cabeça e ao me virar mais uma vez para a direção onde a garotinha estava, tinha outra mulher, a qual eu também já tinha visto em Milos naquela festa, e ela entregava um pequeno saco de pano para a jovem Perséfone.
- Daqui, criança... – sua voz era como música, calma, serena e melodiosa. – Daqui você poderá tirar toda e qualquer semente para plantar tudo o que o seu coraçãozinho quiser, e encher esse mundo sem cor de belas cores e colorações. – a pequena, com uma ruga de desentendimento no meio dos olhos, abriu o saco e tirou um punhado de sementes, todas idênticas, lá de dentro.
- Mas o que eu faço com isso? – perguntou olhando para a mulher que lhe entregou o saquinho.
- No mundo dos mortais a sua mãe vai te ensinar como usar. Contudo, aqui em cima, é só você olhar para ela e imaginar uma planta, parecida com a da sua mãe, mas com cores, pode misturar as cores de quiser, criar cores novas, e dessa semana virá o que está na sua cabeça. Imagine! – instigou-a de forma animada e pequena Perséfone olhou para o punhado de sementes em suas mãos e assim ficou por um longo tempo.
- Por que me trouxe até aqui? Disse que me daria respostas. – comentei com Edward sem me virar na sua direção.
- É porque é aqui, que as suas respostas começam! – mal ele terminou de falar e um gritinho de animação saiu da boca de Perséfone, ela havia conseguido transformar mais da metade daquelas sementes em jacintos, das cores mais diversas possíveis.
- Olha quem finalmente deixou aquele lugar. – minha atenção foi tirada de Perséfone quando Carlisle se dirigiu até Edward no canto mais afastado e escuro do recinto. – Não é só porque vives nas trevas que tens que ficar sempre no escuro, irmão! –
- Se eu vivo nas trevas, você sabe de quem é a culpa. – cuspiu irritado e Carlisle bufou. – E porque exigiu a minha presença aqui? Qual é a novidade? Sua filha herdou os dons da mãe, e no que isso me envolve ou me interessa? –
- És meu irmão e eu o quero nas confraternizações que envolvem meus filhos. – Edward bufou audivelmente. – Céus, como consegues ficar mais rabugento a cada misero dia que passa? Precisas de uma mulher, meu irmão. Tem tantas por aí, vai atrás de uma! –
- Até parece que alguma mulher com a consciência perfeita chegaria perto da morte por livre e espontânea vontade. –
- Papai... – Perséfone foi na direção de Carlisle que estava perto de Edward. – Olha o que eu fiz. – ela segurava os jacintos em formato de um buque em suas mãos e amostrava animada para o pai.
- Muito bem, filha. Daqui a pouco vais roubar o lugar da tua mãe. – brincou.
- Eu ouvi isso em... – minha mãe repreendeu do outro lado do salão.
- Já conhecestes o teu tio Hades? – Perséfone levantou a cabeça e encarou o tio, que não olhava para a criança com o mesmo desdém que olhava para o irmão, na verdade seus olhos não tinham nenhuma expressão. Eram olhos mortos que olhavam para a doce menina.
- Não. Por que eu nunca o vi? –
- Porque ele gosta de ficar com as almas dele ao invés de socializar. – Edward bufou.
- Perséfone, venha aqui. – minha mãe a chamou.
- Tome. – ela entregou um jacinto roxo a Edward, que o aceitou sem entender muito. – Tia Héstia disse que era para eu colorir o mundo! – com a resposta de Perséfone, Edward acabou sorrindo enquanto Carlisle a colocava no chão para ir até a mãe que lhe chamava.
- Essa é nova até para mim. – mal Carlisle se pôs de pé e Rosalie apareceu na frente dos dois.
- Concordo que ver esse homem sorrindo é novo até para mim. – Carlisle ironizou fazendo a cara de Edward se fechar novamente.
- Não. Não é isso! É o que eu estou vendo é novo para mim! –
- Como assim Afrodite? –
- Eu estou vendo Hades se casando com a Perséfone! -
Bella pediu pela verdade agora tem que suportar toda ela! estou adorando!
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