Tulsa – Oklahoma.
2019.
Bella.
Minha mãe não acreditou quando eu aleguei que tinha sido um espasmo que me fez derrubar a xícara em suas mãos e tampouco quis aceitar as minhas desculpas. Eu ainda estava um pouco confusa sobre o sonho, eu realmente estava acontecendo e precisava conversar com alguém sobre isso. Eu mandei uma mensagem para Alice, ela provavelmente estava com o namorado, eles não desgrudavam, e eu nem me lembrava muito bem de como eles tinham se conhecido. Pela hora ela ainda estava dormindo e eu tratei de levantar da cama e limpar a sujeira no chão do meu quarto, a xícara quebrada e o líquido esbranquiçado e mal cheiroso.
Com a sujeira no chão limpa e eu com a minha higiene e banho feitos e já vestida, peguei minhas coisas e saí do quarto, minha mãe não estava em casa, ela tinha ficado irritada e provavelmente foi para a casa dela, ela provavelmente foi para ver como seus sobrinhos estavam, mas mesmo assim meu café da manhã estava repousado em cima da bancada da cozinha, e foi impossível lembrar da frase do meu sonho Não coma e nem beba nada do que ela te der. Deixando o café da manhã em cima da mesa, e sentindo meu estomago um pouco embrulhado eu entrei no carro, ao mesmo tempo em que havia recebido uma mensagem de Alice pedindo para que eu passasse na casa dela.
Alice morava perto da minha casa, portanto o caminho foi rápido e mal eu havia parado o carro no meio fio e ela já estava lá na porta me esperando. Desci do carro e segui até a sua porta de entrada.
- Bom dia. –
- Bom dia. – desejou sorrindo e me entregando um xicara de café. – Sua cara está péssima. –
- Muito obrigado. – ela deu a volta para entrar em sua casa. – Eu posso beber isso? – perguntei em um murmúrio, que eu mal havia conseguido me ouvir, e perguntando para mim mesmo.
- Pode. – a mesma voz grossa do meu sonho me respondeu me assustando, parecia que ele estava bem perto e atrás de mim, e eu quase havia derrubado o café da xícara.
- Você está bem? – questionou ela ao me ver ainda parada sobre o batente da porta.
- Sim... Noite mal dormida, ainda estou um pouco lenta e assustada. Só isso. Pesadelo bem estranho! – contei.
- Oh venha... – ela enlaçou o braço pelo meu. – Vamos tomar um café da manhã bem gostoso. – ela me guiou até a cozinha onde eu encontrei com Jasper colocando algumas panquecas em um prato.
- Bom dia Bella... Nossa você está péssima. –
- Bom dia Jasper. Muito obrigada. – respondi ironizando e ele sorriu.
- Bom Bee, fica à vontade que eu vou só trocar esse pijama, bem rapidinho. – eu assenti e ela beijou-me a bochecha antes de ela se aproximar do namorado e lhe dar um beijo antes de seguir para o andar de cima.
- O que houve? – questionou quando eu me sentei em uma das cadeiras da mesa posta para o café da manhã.
- Eu estou enlouquecendo! – suspirando, ele se sentou à minha frente.
- Conte-me o que aconteceu. – pediu.
- Eu tive um sonho muito estranho ontem à noite... E eu estou ouvindo vozes. –
- De qual tipo? –
- É a voz de um homem, uma voz grossa. – expliquei bebendo um gole do café. – Ontem quando eu cheguei em casa e fui contar a minha mãe o que tinha acontecido com... aquele cara ontem lá na loja, eu ouvi uma voz na minha cabeça mandando eu calar a boca, não contar nada a ela. E quando eu fui dormir, fui tomar um chá que a minha mãe me deu e a voz voltou falando que não era para eu tomar o chá. –
- E você obedeceu a voz? –
- Por mais estranho que isso possa parecer. Sim. Eu obedeci e até o momento eu não sei o motivo. –
- E como foi esse sonho? – perguntou. – Vai ficar entre a gente. –
- Quem é aquele cara de ontem? – mudei de assunto.
- Um amigo. – respondeu simplesmente bebendo um gole do café.
- Por que ele disse que era meu namorado? –
- Deixa isso para lá. Conte-me do seu sonho... –
- Jasper! –
- Você não vai acreditar! – eu levantei a sobrancelha e ele suspirou. – Vocês dois se conheceram a quase três meses. – respondeu. – Eu não sei como, porque eu só te conheço a um pouco menos que dois meses. E em pouco tempo vocês começaram a namorar. –
- Como eu não me lembro disso? Como isso pode ser verdade se eu não me lembro disso?
- Eu não sei! – suspirou de novo. – Ele precisou viajar a trabalho e no início nós conversávamos bastante sobre ele, até que o assunto foi diminuindo e você não tocou mais no assunto. Achei que pudesse ser a saudade, até que ele chegou e a Alice não lembrava dele, e quando cheguei na sua loja eu ouvi a conversa e percebi que você também não lembrava. –
- Mas eu bati a cabeça para não lembrar disso? – ele negou. – Como é possível eu me esquecer de um cara com que eu me relacionei por quase três meses? –
- E viajou com ele, dormiu com ele! –
- Eu viajei com ele? –
- Duas vezes. Uma para a Louisiana e outra para a Grécia. Onde nós dois nos conhecemos! –
- Eu nunca deixei Tulsa! – ele não falou mais nada apenas pegou seu celular. Eu via seu dedo deslizando pela tela até que ele virou o telefone na minha direção. Era uma foto, tirada em uma espécie de barco com uma enorme faixa de água atrás, no centro da foto e no meio dela, duas garotas, Alice e eu. Alice ao lado de um homem loiro ao qual eu reconheci ser Jasper, e eu abraçada ao homem ruivo que eu tinha visto no dia anterior na minha loja.
- Essa foto foi tirada no meio do mar Egeu. Então, meu bem, você já deixou Tulsa. Só olhar o seu passaporte! – ele guardou o celular. – Agora, me conta esse seu sonho, por favor. – pediu.
- Eu estava dormindo e eu despertei com uma voz masculina e grossa, a mesma que eu tinha ouvido antes, e ela me parece familiar, mas eu não sei de onde eu a conheço. Essa voz me chamou, disse Venha filha. Eu perguntei quem era ele e ele respondeu que era o meu pai. Eu disse que não tinha pai, que ele tinha morrido a muitos anos e eu ainda era um bebê e ele disse que minha mãe não era a pessoa mais verdadeira que existia e que ela estava me drogando, com a comida e os sucos e chás que ela me dá, me fazendo esquecer de tudo de novo. – respondi e ele apenas me ouvia, não esboçava nenhuma reação ou expressão. – Que ela já tinha feito isso e que o dono dessa voz não havia conseguido impedir, que é para Alice e eu pararmos de beber e comer o que ela nos dá, que assim nossas memórias voltariam em dois dias. Eu perguntei o motivo e ele respondeu que minha mãe me quer apenas para ela, que não quer me perder de novo, sendo que não foi só ela quem havia me perdido ou sofrido. E que eu tenho o direito de saber sobre as coisas estranhas que acontecem comigo e com os meus sonhos. Ele sabia dos meus sonhos. Ele sabe o que significa, mas diz que não é ele quem tem que me contar. Que é para eu perguntar a minha mãe o que os sonhos significavam e se ela não me responder e ele disse que ela não vai, que eu sei para quem eu tenho que perguntar. Eu perguntei o motivo de ele não me mostrar o rosto e ele fala que eu não estou pronta para isso. – eu bebi um gole do meu café. – Pelo amor de Deus, fala que se eu estou enlouquecendo ou não! –
- Sinceramente? – assenti. – Talvez algo no Edward, o homem quem você viu ontem, tenha lhe despertado alguma memória no seu subconsciente que talvez você não tenha percebido e que esse homem que apareceu em seu sonho seja o que você quer, uma resposta e ele veio em uma forma paterna achando que assim você daria mais ouvidos. –
- Primeiro eu tentaria descobrir se de alguma forma eu não estaria ficando louca! – o interrompi e ele balançou a cabeça sorrindo.
- Você não está louca, Bella. Está apenas confusa. –
- Então, eu deveria seguir esse conselho dessa... dessa voz? –
- Se você sente que deve, então sim! Qual mal irá te fazer? –
- Tem mais alguma coisa que eu possa fazer para me lembrar das coisas mais rápido? – ele negou.
- Não force a sua mente. Siga a tua intuição, conforme você vai se lembrando das coisas, se é que vai funcionar, aí sim nós podemos estimular sua mente de algum modo. – respondeu e eu assenti.
- Tudo bem. –
- Então, vamos comer? – Alice apareceu já trocada na cozinha e o assunto ali se encerrou.
Após termos terminado de tomar café, Alice seguiu para a sua loja e Jasper até a casa do tal de seu amigo, onde ele estava morando. Eu havia dito que iria para o trabalho, mas primeiro havia resolvido ir até a minha casa. Segundo Jasper, eu tinha um passaporte carimbado para a Grécia, algo que eu achava impossível, jamais tinha sequer deixado Tulsa. O café da manhã ainda estava em cima da mesa da cozinha e minha mãe ainda não tinha voltado. Ela não podia saber que eu não tinha comido o que ela tinha feito, portanto, joguei tudo fora e lavei a louça antes de subir para o meu quarto.
Segundo Jasper, eu tinha escondido meu passaporte, onde eu iria esconder para minha mãe não encontrar? Eu simplesmente não fazia ideia! Mas eu revirei todo o meu quarto, tirando gavetas e as esvaziando, levantando colchão e até no sótão eu tinha procurado e nada.
- Onde foi que eu guardei isso, se é que existe? – perguntei a mim mesmo.
E não obtive nenhuma resposta. Me joguei na cadeira da minha penteadeira e um anel preso em uma corrente dourada me chamou a atenção. Era um anel de aparência cara, de duas voltas entrelaçadas uma à outra, tendo a parte de cima cheia de pequenas pedrinhas brancas. Não podia ter sido minha mãe quem havia me dado aquilo, ela jamais havia me dado algo tão caro assim. Peguei meu telefone no bolso traseiro da minha roupa e tirei uma foto do anel, mandando para Jasper.
Sabe quem me deu isso? Mandei a mensagem para ele, eu simplesmente não me lembrava de quem havia me dado aquilo ou se eu tinha comprado, mesmo eu tendo certeza de que eu não havia comprado, eu jamais havia gastado tanto dinheiro assim em toda a minha vida. A mensagem havia chegado em menos de dois minutos após a mensagem ter sido enviada, e a resposta havia sido uma bem simples. Edward. Eu achava que já estava na hora de eu ter uma conversinha com esse tal de Edward. Respirando fundo eu disquei o número de Jasper e demorou apenas dois toques até ele me atender.
- O que houve? – perguntou sem falar mais nada.
- Onde esse teu amigo está? –
- Edward? Por quê? –
- Acho que eu tenho que falar com ele. Não sei porque, mas eu tenho... –
- Espera um pouco... – ele parou de falar, enquanto aguardava eu tamborilava minhas unhas na minha penteadeira. – Ele vai estar na casa de chá da Rachel em meia hora. Se quiser eu te levo lá. –
- Não precisa. Eu sei onde fica... – respondi. – Obrigada, Jasper. –
- Disponha. – eu desliguei o telefone e fiquei ali sentada mais um tempo, passando minhas mãos pelo meu rosto e subindo até os meus cabelos, eu não sabia o que iria fazer, o que eu iria falar com ele sendo que eu não me lembrava de nada e principalmente após saber que eu tinha dormido com aquele homem.
Eu não devo ter ficado ali nem mais cinco minutos até ter me levantando, o tempo estava ficando meio estranho, o verão se aproximava, mas mesmo assim o tempo estava nublado e com uma cara de que iria chover até o final do dia. Peguei um casaco bem fininho em meu armário antes de sair de casa, eu preferi ir caminhando até o centro da cidade, não era o caminho mais rápido do mundo, mas mesmo assim eu precisava pensar e quanto mais tempo eu tivesse para pensar melhor ainda.
Demorei um pouco mais de vinte minutos para chegar até a casa de chá da Rachel, que estava toda revirada e com vários homens lá dentro, e ao me aproximar da porta, notei que se tratava de uma reforma. No meio da loja um homem alto e ruivo usava um caríssimo terno enquanto via alguma coisa em sua prancheta.
- Chefe. – um dos pedreiros chamou a atenção do homem, que ao levar a cabeça, viu o funcionário apontando para trás dele, e ao se virar ele me viu.
- Tentem terminar isso até hoje, nosso prazo está acabando. – comentou com o funcionário que tinha lhe chamado e entregando a prancheta. – Eu volto logo e qualquer coisa me chama.
- Sim senhor. – o homem veio na minha direção.
- Oi. – disse simplesmente cruzando os braços. – Jasper disse que você queria falar comigo. –
- Eu... Eu só quero entender o que está acontecendo. – expliquei. – Foi você quem me deu isso? – eu tirei do meu bolso o colar com o anel e o amostrei, ele não precisou responder, o sorriso torto que ele tinha aberto respondeu a minha pergunta.
- Dei. O anel! Após um jantar na minha casa, quando te pedi oficialmente em namoro após voltarmos da Louisiana. –
- E o que eu fui fazer na Louisiana? –
- Por que não vamos tomar um café e eu te respondo tudo o que você quer saber? – sugeriu e eu assenti com a cabeça.
Nós dois saímos da casa de chá e caminhamos em silêncio até a praça central, onde eu me sentei em um dos bancos olhando aquelas árvores e roseiras na mesma, coisa que nunca esteve ali.
- Foi você quem fez isso. – respondeu ele após alguns segundos e me entregando um copo de café depois de se sentar no banco ao meu lado.
- Eu? Como? –
- Eu vim para Tulsa a pedido do prefeito para reformar a cidade. A primeira pessoa que eu conheci foi você, era um final de tarde bem chuvoso e você estava fechando a floricultura quando eu cheguei pedindo informação sobre o escritório do Biers. Depois no encontramos numa reunião na casa do prefeito onde eu te convidei para jantar e sugeri que você fizesse o paisagismo das lojas e locais que eu reformasse e você prontamente aceitou. Eu reformei sua loja, que estava com mofo negro devido as infiltrações das lojas ao lado. Reformei a da Alice, o restaurante da Sue, essa praça... E todas elas tiveram um toque seu, se não foi apenas com o paisagismo foi palpites o qual eu aceitei de muito bom grado. E bom, essa praça, foi o que nós dois fomos fazer na Louisiana. Fomos comprar essas árvores e algumas outras. – respondeu.
- Como eu não me lembro de nada disso? –
- Gostaria de saber. – suspirou bebendo um gole do café.
- E eu viajei para a Grécia... –
- Para o aniversário de casamento do meu irmão mais novo. E Alice foi junto. –
- Se eu viajei para a Grécia, onde está o meu passaporte? –
- Você disse que iria esconder até conversar com a sua mãe sobre o nosso namoro. – eu virei o rosto o encarando. – Sua mãe não gosta de mim, nunca trocou mais do que duas palavras comigo e me detestou desde o primeiro dia que repousou os olhos em mim. Ela tinha mandado você ficar longe e não falar mais comigo, e você a desobedeceu. Namoramos escondido durante todo o tempo em que sua mãe esteve viajando para a Grécia, para visitar uns parentes. Eu precisei viajar para resolver uns problemas que estavam aparecendo na empresa e nós nos falávamos com muita frequência. Até que eu te ligava e você simplesmente não atendeu mais. –
- E eu contei para a minha mãe que nós namoramos? –
- Contou e você me disse, por telefone, que tinha contado e que ela tinha aceitado bem até demais. – respondeu.
- Nós... Nós dormimos juntos mesmo? – perguntei em um fio de voz.
- Quer que eu responda? –
- Não! – me apressei em dizer e ele riu.
- Era muito bom! –
- Não... Não precisa comentar sobre isso. – pedi e ele riu mais ainda. – Eu te falei onde eu escondi o meu passaporte? –
- Eu que escondi para você. Está na sua estufa. Em um lugar onde você não alcança. –
- Eu não alcanço em muitos lugares. – retruquei bufando.
- Se quiser eu pego para você. –
- Eu não quero atrapalhar mais ainda o seu trabalho e... –
- Não se preocupe com isso. Vamos, meu carro está aqui na porta, cadê o seu? – perguntou.
- Eu vim a pé. Para espairecer. – respondi.
- Sua cara! – brincou e eu me levantei.
Durante o caminho até o seu carro, eu fui terminando meu café, jogando o copo no lixo antes de entrar na sua Ferrari preta. Sabendo perfeitamente o capítulo até a minha casa, ele dirigiu sem que eu precisasse falar nada. Seu carro parou em frente à minha casa, e antes mesmo que ele abrisse a porta para mim, eu já tinha descido e aberto o portão. Ele conhecia todo e cada centímetro da minha casa, e foi andando na frente até a minha estufa, abrindo a porta que estava destrancada.
Eu entrei na estufa atrás dele e vi ele indo até uma das prateleiras mais altas que tinha ali e puxando um vaso grande e pesado de barro com uma samambaia chorona pendendo dele. Repousando o vaso em uma das bancadas, eu notei que o vaso da samambaia estava dentro de outro, ele retirou com cuidado o vaso que continha a planta e debaixo dele, enrolada em um plástico tinha uma caixa. Eu peguei a caixa e ele colocou o vaso dentro do outro mais uma vez. Soltei o plástico e levantei a tampa da caixa encontrando um passaporte e algumas fotos impressas.
Eu realmente tinha um passaporte e eu realmente tinha ido para a Grécia e era impossível não ter existido um relacionamento com todas aquelas fotos provando o contrário. Por que eu não me lembrava disso? O que minha mãe fez para me fazer esquecer de tanta coisa? Perguntei a mim mesma enquanto sentia meus olhos lacrimejando enquanto ia passando as fotos.
- Eu parecia tão... feliz... – comentei em um sussurro.
- E você estava. Como nunca tinha visto antes. – respondeu afagando minha bochecha. – Eu queria poder te ajudar a fazer com que você lembrasse das coisas, mas eu não sei como. – eu virei o rosto para olha-lo e se polegar que estava em minha bochecha deslizou para os meus lábios entreabertos, os quais ele acariciou delicadamente e eu me permitir fechar os olhos.
A caricia de seu dedo mudou para o roçar de seus lábios aos meus, e eu não sabia muito bem do motivo, mas eu cedi. Soltei as fotos dentro da caixa e levei minhas mãos até sua nuca, entreabrindo um pouco mais meus lábios para que o beijo fosse aprofundado. Suas mãos desceram até a minha cintura, me erguendo e me sentando em cima da bancada e ficando entre as minhas pernas. Eu não sabia explicar o que era, mais quanto mais nossos lábios ficavam juntos, mais eu queria dele. Meu coração batia rápido e as borboletas em meu estômago batiam as asas apressadamente e um gosto e textura familiares tomavam conta do meu cérebro.
- Para. – ele interrompeu o beijo e se afastou um pouco ajeitando o cabelo que eu tinha bagunçado. – Conheço muito bem esse fogo para saber onde isso vai parar. E eu não quero dormir com você enquanto não se lembrar de nada. – mesmo assim, ele segurou meu rosto entre as minhas mãos e uniu nossos lábios em um beijo rápido. – E enquanto você tenta lembrar do que aconteceu, eu quero que você saiba que eu te amo e eu não vou desistir de você tão facilmente. – ele beijou-me os lábios mais uma vez. – Agora eu preciso ir. – pegando um papel e uma caneta que eu tinha jogado na bancada da estufa, ele anotou um número. – Qualquer coisa você me liga. – respondeu colocando o papel na minha mão e me dando um último beijo antes de sair.
Ao ficar sozinha naquela estufa, eu sentia meus lábios formigando e meu coração ainda bater bem rápido, eu não entendia o motivo, mas eu queria continuar beijando-o até não aguentar mais. Com meu coração mais calmo, desci da bancada, pegando toda aquela caixa e entrando em casa antes que minha mãe chegasse, se é que ela iria voltar ainda hoje. Eu fiquei quase que o meu dia inteiro no quarto vendo foto por foto e tendo alguns arrepios estranhos, como se eu estivesse tendo levíssimas lembranças das coisas. Será que a “droga” já estava perdendo o efeito?
Já escureceu, vai esperar sua mãe chegar em casa e comer o que ela te der ou o que? A voz grossa havia voltado e me fazendo dar um pulo da cama, me assustando, mas ao conferir a hora, realmente já estava bem tarde e daqui a pouco minha mãe iria aparecer. Guardei o passaporte e as fotos debaixo do meu colchão, eu já tinha salvo o número de Edward, mas mesmo assim o papel foi guardado junto e eu desci.
Quando minha mãe chegou em casa, eu já estava comendo. Era visível o quando ela não tinha gostado do fato de eu ter feito o jantar, e eu não sabia se ela tinha acreditado na história de que eu não tinha almoçado e, portanto, estava faminta e não dava para esperar ela chegar em casa. O que de certa forma, não era mentira. Até porque a única coisa que eu tinha comido durante o dia tinha sido o café da manhã na casa de Alice.
O final da semana chegou e eu me esforçava o máximo possível para não comer o que minha mãe fazia, inventava que iria comer com Alice ou que já tinha comido, era difícil, mas havia parado de comer o que ela me dava. No início algumas coisas eram apenas vislumbres enevoados e aos poucos a névoa se dissipava, eu já conseguia me lembrar de algumas coisas. Eu me lembrei da viagem para a Louisiana, lembrava vagamente da viagem para a Grécia, mas de Edward, que Jasper, e até Alice, já que ela também já lembrava das coisas, principalmente de Edward, falavam que ele estava em cada uma dessas lembranças, eu não conseguia me lembrar. A teoria era de que Alice havia consumido poucas quantidades da droga que minha mãe havia dado a nós duas, por isso o efeito nela passou mais rápido.
Eu não tinha me encontrado com Edward de novo, havia ouvido boatos de que alguma coisa tinha acontecido de ruim na casa de chá de Rachel, portanto ele ficava o dia inteiro com seus funcionários naquela loja. Após a conversa com Edward, de que ele tinha reformado a minha loja, foi quando eu entendi o motivo de muita coisa ali ter mudado e eu não saber quem tinha feito. Tudo estava entre ligado. Agora, por que minha mãe tinha feito uma coisa dessas e como ela tinha feito isso, era algo que eu não entendia e não havia tido coragem ainda para perguntar.
Eu estava na minha loja terminando de receber por um arranjo que tinha acabado de vender enquanto observava com o canto dos olhos Bree ir atender a um novo cliente que tinha acabado de entrar na loja, e Leah sentada com os pés sujos no balcão enquanto mexia no celular. De início eu não sabia porque eu tinha a contratado, e depois do efeito da droga ter passado, eu lembrei. Queria poder manda-la embora, mas por enquanto era melhor que minha mãe continuasse pensando que eu ainda estava sob os efeitos de sua droga.
- Muito obrigada, senhora Pikes e tenha um bom dia. – desejei a senhorinha que estava indo embora enquanto guardava o dinheiro na caixa registradora e vi que Bree atendida uma pequena família, pai, mãe e uma criancinha loira, completamente fofa.
- Olha mãe, que florzinha bonitinha! – ao ouvir a voz da pequena criança eu travei no lugar.
Florzinha? Eu não sabia porque tinha travado e nem o motivo de minha mente começar a viajar. Não queira saber, florzinha! E uma névoa havia se dissipado diante dos meus olhos e a lembrança de Edward parado e debruçado sobre o meu balcão me chamado de florzinha havia me atingido em cheio. Bom dia minha florzinha. E mais uma lembrança havia me atingido em cheio, eu acordando com Edward na minha cama, primeiro jantar na minha casa onde acabamos conversando até dormirmos. Minha menina! Minha florzinha! E a última que havia vindo com força tinha sido na Grécia. Eu lembrava dele! Eu finalmente me lembrava dele.
- Bella, está tudo bem? – Bree perguntou me tirando dos meus desvaneios, eu não sabia a quanto tempo eu estava ali parada olhando para o nada e eu apenas a olhei, sentindo meus olhos lacrimejarem.
- Sim. Eu... Eu volto logo. –
Deixando tudo do jeito que estava e sem pegar nada, eu saí da loja rápido indo na direção da casa de chá, onde eu sabia que Edward estaria. Eu ia desviando das pessoas na rua, que estava cheia, principalmente por se tratar do horário do almoço. não demorei muito e cheguei até a casa de chá que estava vazia, apenas Edward estava no meio dela, sentado em um banco no telefone, ele não tinha me visto de imediato.
- Trate de dar um jeito na sua irmã antes que eu mesmo dê! – ele falou rosnando, mas alguma coisa havia chamado a sua atenção e ele levantou a cabeça. – Eu falo com você depois. – ele desligou o telefone. – Bella? O que... – eu não permiti que ele terminasse de falar nada, apenas entrei na loja e praticamente me joguei em seu colo, unindo nossos lábios e fazendo com que ele caísse para trás. – Devo... – ele interrompeu o beijo quando nossos pulmões começaram a implorar por oxigênio. – Devo presumir que se lembra de tudo? – questionou e eu apenas assenti sorrindo. – Finalmente. – mais uma vez ele tomou meus lábios em um beijo ávido.
- Eu preciso admitir que eu ainda não entendi muito bem o que aconteceu. – comentei. Nós dois estávamos deitados no chão da loja despidos e ele tinha dispensado seus empregados. – É como se uma névoa encobrisse uma boa parte dos meus pensamentos e aos poucos ela foi se dissipando e muita coisa passou a fazer sentido. Agora, como eu esqueci de muita coisa sem bater a cabeça eu não sei. – respondi com a cabeça apoiada em seu peito enquanto sentia seus dedos acariciando meu couro cabeludo.
- Acredito que falta pouco para muitas coisas serem esclarecidas. –
- Como assim? – perguntei levantando a cabeça de seu peito e o encarando. Ele virou o rosto e sorriu para mim antes de dar um beijo em meu nariz.
- Eu ainda não sei muito bem em como te explicar algumas coisas, Bella. Peço apenas mais uns dias para eu pensar e eu vou explicar tudo. –
- Tudo bem. – disse simplesmente deitando a cabeça de novo em seu peito, e tirando os dedos dos meus cabelos, ele me abraçou forte.
Passado algum tempinho nós nos levantamos e nos vestimos. Já era muito tarde e eu tinha que ir para a casa, daqui a pouco minha mãe estaria vindo atrás de mim, não duvidava nada, e ela não podia saber de nada do que estava acontecendo. Ao chegar em casa e minha mãe perguntar onde eu estava, eu havia conseguido inventar uma desculpa envolvendo Alice, eu sabia que mesmo que ela ligasse para a minha amiga, ela iria me encobrir.
Quase uma semana havia se passado desde que eu havia me lembrado de Edward por completo e minha mãe continuava sem suspeitar de nada, quer dizer, se ela suspeitava ela não deixava transparecer. Após aquela noite em que eu havia chegado atrasada, ao me reencontrar com Edward, Leah não faltou um único dia ao trabalho, eu não podia chegar à porta que ela perguntava para onde eu estava indo, e não duvidava nada dela me seguir quando eu saia para almoçar. Eu não conseguia ver Edward com muita frequência, mas chegamos a nos ver alguns dias, nos encontrando na casa de Alice. Não foi nenhuma surpresa quando minha mãe tentou me obrigar a levar Leah comigo em um desses jantares na casa de Alice, onde eu iria me encontrar com Edward, e eu obviamente negava, deixando bem claro que Alice não se dava bem com Leah, fingindo não saber do motivo.
Contudo, eu havia prestado atenção demais em Leah e me esquecido completamente de Seth, que havia me seguido e me visto com Edward, e contado a minha mãe, que tinha ido tirar satisfações com ele, ou algo desse tipo, pelo menos foi o que Bree me contou, já que viu os dois discutindo na loja que Edward estava restaurando, enquanto voltava da escola, e me contou e eu tratei de ir até lá.
- Você não cansa de estragar a vida dela. –
- Estragar a vida dela? Não fui eu quem a drogou, duas vezes, para que ela esquecesse das coisas que ela gosta! –
- Que ela gosta! – bufou. – Até parece que ela gostava de morar naquele inferno com você. – cuspiu ela.
- Claro, porque ela preferia morar naquele castelinho de mármore com alguém que não a deixava respirar. Eu dei vida a ela, e você não aceita isso! –
- E como uma pessoa que mata os outros dá vida a alguém? – desdenhou ela e eu encarava os dois sem entender nada, e até o momento nenhum deles tinham me visto.
- Em primeiro lugar, eu posso tirar e dar vida aos outros, basta eu querer. E em segundo lugar. Eu nunca matei ninguém. –
- Você matou a minha filha! – berrou ela.
- É o que? – perguntei me fazendo presente e os dois me encararam. Edward parecia em pânico ao me ver ali e minha mãe furiosa.
- Eu sabia que você tinha voltado a ver esse homem. – ela gritava comigo. – Você não toma jeito mesmo, não é Isabella. Vamos para casa agora. –
- Não. Eu quero saber que história é essa. –
- Não tem história nenhuma, Isabella. Passa para casa. –
- De onde a senhora conhece o Edward? – perguntei quando ela parou na minha frente.
- Para casa! – ela me segurou com força pelo meu antebraço.
- Mãe! – ela me empurrava para fora da loja.
– E você não se atreva a se aproximar da minha filha de novo, se eu souber que você se aproximou dela de novo eu vou chamar a polícia! – ela abriu a porta do carro e praticamente me jogou lá dentro. – Ouviu bem? Aproxime-se de minha filha de novo que eu vou chamar a polícia! – ela gritou para Edward e entrou no carro arrancando para casa.
- Mas que porra é essa mãe? – perguntei quando ela saiu com o carro. – Qual é o seu problema? Eu já tenho quase trinta anos não pode me impedir de falar com quem eu quiser! –
- Cale-se Isabella. – ela me estapeou forte no rosto. – Eu sou sua mãe e você vai fazer o que eu falar que você vai fazer. E ponto final. –
Minha mãe dirigia como uma louca pelas ruas de Tulsa, e temendo causar um acidente eu preferi por não proferir mais nenhuma palavra até chegarmos em casa, mas quando seu carro estacionou no meio fio, eu não tive tempo de abrir minha boca antes que ela descesse do mesmo e me arrastasse para dentro da minha casa, pelo visto ela não se importaria se algum vizinho visse. Minha mãe foi me arrastando e me puxando para o meu quarto, e parecia não fazer nenhuma diferença a força que eu fazia contra ela, de puxar meu braço, me debater, não importa o que eu fizesse eu não conseguia me soltar do seu aperto de aço, eu não entendia como ela conseguia ser mais forte do que eu.
Minha mãe abriu a porta do meu quarto e simplesmente me jogou para dentro do mesmo, me derrubando no chão. Meu rosto ainda ardia de onde havia recebido a bofetada e ao olhar para ela, eu não conseguia entender o olhar e da expressão que tomavam conta de seu rosto.
- Oh meu amor, me desculpa. A mamãe não queria fazer isso, mas você me obrigou. – seu tom de voz demonstrava culpa e ressentimento, mas seu rosto e seu olhar não expressavam nenhuma grama de remorso. – Você sempre faz isso. Não é a primeira vez. – respondeu serena se abaixando a minha frente. - Por que você nunca me escuta? Eu não te pedi para achar a cura do câncer, apenas te pedi para ficar longe dele. Não é difícil! Olha só o que você causou?! – suspirou. – Você é teimosa e cabeça dura igual a uma égua! – bufou e olhando para o chão parou e pensou um pouco. – Igual a uma égua não. Igual ao seu pai. – respondeu como se tal comparação lhe causasse repulsa. – Você é igualzinha ao seu pai! – cuspiu e se levantou. – Arrume as suas coisas. Amanhã mesmo nós vamos deixar essa merda de cidade! – minha mãe saiu do quarto, mas não antes de pegar a chave do lado de dentro do quarto, e ao fechar a porta com uma batida alta e desnecessária, ela a trancou, deixando-me pressa ali dentro.
minha nossa quantas coisas aconteceram! Bella se lembra de tudo e agora Renee pretende levar ela para outro lugar! Acredito que não vai conseguir o pai dela vai interferir com certeza"
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