domingo, 23 de outubro de 2022

Capítulo 30.

                                                                         Atenas – Grécia.

2019.

Bella.

Demorou quase dois dias até que Edward havia conseguido organizar as coisas no mundo inferior para que eu pudesse descer até lá. As meninas e Cerberus estariam lá embaixo e Alice ficaria com Jasper, eu não sabia ao certo para onde ele iria leva-la, mas ela havia contado de que ele pretendia leva-la a algum lugar. Eu não fazia a mínima ideia do que esperar, até porque já haviam se passado milhares de anos desde as lembranças de Perséfone, e eu não sabia se ao entrar no submundo algo iria mudar, mas eu lembrava de que o caminho era longo, então não havia outra pedida a não ser um belo de um par de tênis, e eu agradecia ao fato de Alice ser aquele tipo de pessoa que colocava tudo dentro de uma mochila, mesmo sem saber se iria precisar ou não.

Edward comentou que haviam três jeito de chegar até onde ele iria me levar e deixaria que eu escolhesse. O primeiro jeito e o mais longo, seria uma viagem de carro de quase cinco horas. O segundo jeito era uma viagem de avião de quase duas horas e depois mais uma hora de carro. O terceiro jeito demoraria pouquíssimos segundos e consistia apenas em aparecer lá, e mesmo não gostando tanto assim de teletransportes, esse era o jeito mais rápido e fácil. Ele segurou a minha mão e sumiu na sala, me levando junto com ele, e ao aparecermos, sabe-se lá onde estávamos, eu fui tomada por uma breve cegueira devido a claridade.

- Onde estamos? – perguntei colocando os óculos de sol que Edward tinha me entregado, e eu não fazia a mínima ideia de onde ele tinha surgido.

- Lembra da primeira vez que eu te levei a Atenas? – perguntou enquanto eu olhava em volta. - Nós estávamos andando pelas ruas e você comentou que nunca tinha ouvido falar de um templo dedicado a mim! – comentou se encostando em uma das árvores.

- Lembro. – nós estamos cercados por árvores, provavelmente para que ninguém visse duas pessoas aparecendo do nada, já que eu conseguia ouvir várias vozes bem perto de nós.

- E eu te falei que existia um na região de Épiro. O Necromanteion of Acheron. –

- É onde estamos? –

- É. – respondeu simplesmente. Ele estalou os dedos e um par de óculos apareceu em sua mão e ele colocou no rosto. Ele segurou a minha mão e nós saímos do meio das árvores, entrando em um estacionamento, que estava cheio de carros e pessoas, que pareciam ter vindo de diversas partes do mundo, com câmeras ou celulares em mãos.

- Não é estranho para você? – perguntei baixo e ele me olhou confuso. – Ver algo que era, ou é, sagrado a você, ter se tornado um ponto turístico que não tem nenhuma importância para as pessoas que estão aqui? –

- Você aprende a se acostumar! – deu de ombros. - É igual as pessoas irem a templos budistas e tirarem fotos sem se importar com a história do lugar, ou então ir ao vaticano e tirar as fotos. Essas coisas se tornaram banais para noventa por cento da população mundial e... –

- Espera... Só agora que eu me toquei numa coisa! – comentei parando no meio do estacionamento. – Se a mitologia grega é verdadeira e tudo o que foi relatado nos livros realmente ocorreu, significa que as mitologias das outras partes do mundo também existiram? –

- Tecnicamente nem tudo o que foi relatado nos livros realmente aconteceu. Algumas foram inventados por cantores, ou escritores, algumas foram muito suavizadas e coisas foram pioradas. Por exemplo, aquele filme sobre os trezentos de Esparta... –

- Aquele com Gerard Butler e Lena Headey? – ele assentiu. – Amo esse filme! –

- Ele foi uma completa mentira! – foi impossível não controlar o bico de decepção que se formou em meu rosto. – O filme de Troia com Brad Pitt e etc, outra grandíssima mentira. Acho que nunca vi um filme sobre a história de Hércules que tenha chegado perto do que realmente aconteceu. Fúria de titãs então nem se fala! E eu nem vou citar aquele surto coletivo daquele livro Percy Jackson e sei lá o que... Aquilo é um absurdo! Deuses fazendo filhos a rodo com qualquer mortal que aparece a sua frente... Zeus é o único que fez isso na verdade, mas depois que o mundo começou a mudar e vimos o que aconteceria caso um semideus surgisse no mundo de hoje, ficou completamente proibido um deus de se envolver com qualquer mortal! –

- Você praticamente acabou com toda a minha infância e adolescência a qual eu passava horas assistindo esses filmes! E eu era louca pela saga do Percy Jackson, tinha a camiseta do acampamento meio sangue, e no teste que eu fiz na internet deu que eu era filha de Deméter... Até no livro ela me persegue! – ele balançou a cabeça gargalhando.

- Mas de qualquer forma, eu entendi a sua pergunta. Sim, do mesmo jeito que nós, os deuses gregos existem, os nórdicos, egípcios, hindus, japoneses e etc também existem! –

- Incrível e bizarro ao mesmo tempo! Pensar que eles andam entre a gente, agora eu não vou conseguir andar na rua normalmente e pensar que alguma divindade de qualquer canto do mundo esteja me vendo! –

- Na verdade a maioria é egocêntrico demais para sair de seus templos ou residências divinas. São poucos, quase nulos, os que andam entre o povo! –

- Uma parte de mim já esperava por isso! – admiti. – São seres imortais que estão vivos a eras e sabe-se la mais quantas irão viver, eu acho que eu também não me misturaria com a maioria dos mortais, principalmente vendo como o mundo está recentemente! Mas deve ser solitário, não é? De modo geral! –

- É. A eternidade é muito tempo, Bella! Eu já perdi as contas de quanto tempo eu estou vivo! E sei que ainda tem muito pela frente. Já vi civilizações nascendo e morrendo, vi o cristianismo ser criado, vi a idade média, vi o que vocês chamam de descobrimento das Américas, vi o renascimento, revoluções industrias, guerras mundiais, guerra fria, do Vietnã, primeira viagem a lua... Pandemias e epidemias... – suspirou. – E eu não faço a mínima ideia do que mais possa existir nesse mundo para que eu veja. Então sim, é muito solitário, principalmente quando você não se dá bem com mais de noventa por cento da sua família. – ele olhou no fundo dos meus olhos. – E esse é um dos motivos para eu não concordar completamente com a sua ideia de se tornar imortal. Você vai se cansar da imortalidade em algum momento! E eu tenho receio que se arrependa! – suspirou. – Mas eu também não vou aguentar ver você partir de novo! É egoísmo meu, eu sei, não querer te deixar imortal e não querer que você morra! –

- Já conversamos e entendemos que isso é decisão minha! – lembrei-o.

- Eu sei... – suspirou de novo. E sorrindo eu fiquei na ponta dos pés e beijei a sua bochecha, ganhado um sorriso de retribuição.

- Mas tipo, como você conseguiu tudo o que você tem? Não foi um estalar de dedos e apareceu? –

- Não. Ao contrário dos outros eu realmente busquei. Então sim, eu tenho faculdade, mestrado, pós e PHD em arquitetura, eu tenho realmente a empresa. Eu tive muitos anos morando no mundo dos mortais e muito tempo entediado me fizeram entrar em várias faculdades. Aprendi diversas línguas e além de arquitetura eu fiz faculdade de história, fiz até o final, mas as aulas sobre as mitologias antigas me irritavam, de tanta besteira que eu ouvi, comecei direito e terminei, mas detestei, medicina nem consegui terminar... – ele suspirou. – Eu tinha muito tempo livre enquanto te procurava e eu precisava ocupar o meu tempo com alguma coisa, mas realmente, a única coisa que eu fiz e realmente gostei foi a arquitetura. –

- E eu nem na faculdade entrei! – brinquei e ele riu.

- É capaz de você querer fazer faculdade durante todo o tempo da sua imortalidade. -

- Agora. Conte-me a história do lugar! – pedi.

- Lembra das lembranças de Perséfone, quando eu contei sobre os cinco rios do submundo? – perguntou soltando a minha mão e passando o braço cima dos meus ombros.

- Sim. –

- Então. Existe um motivo para esse templo ter sido criado aqui. – comentou. – Aqui foi, na verdade ainda é, um templo de necromancia, a pratica de magia ou magia negra que envolve a comunicação com os mortos, através da evocação de seus espíritos como aparições, visões ou erguendo-os temporariamente de forma corpórea para a finalidade de adivinhação e... –

- Eu sei o que é necromancia! – eu o interrompi e ele riu.

- Como eu ia dizendo. É um templo de necromancia ligado a mim e tecnicamente a você! –

- E eu... Quer dizer ela... Eu vou trata-la como eu, antes que eu enlouqueça. – avisei e ele riu mais ainda. – Eu tinha outros? –

- Sim e não! – respondeu ainda rindo. – Você nunca teve um templo só seu! Os seus e os de Deméter sempre eram juntos, já que os seus dons eram o complemento um do outro! Pelo menos você tinha outros mesmo que compartilhado, eu só tenho esse! E é muito até, já que a falação no auge da Grécia antiga me deixava louco! – resmungou. – Até hoje tem uns mortais malucos que vem até aqui com algum ritual de xamânico ou Wiccano, ou qualquer baboseira em latim, já que adolescentes malucos acham que qualquer frase em latim é um ritual de magia, e querendo ressuscitar algum morto... Melinoe se diverte os assustando! – comentou e quem riu agora tinha sido eu. – Voltando ao assunto. – Aqui é o ponto de encontro entre o Aqueronte, o Cócito e o Flegetonte. –

- Cócito é o rio das lamentações. Flegetonte é o rio feito de fogo e o Aqueronte é o rio que leva aos portões do mundo inferior. –

- Exatamente. – concordou ele. – Aqui em cima eles são inofensivos, os problemas começam ao chegarem ao mundo dos mortos. – explicou. – A palavra Necromanteion significa Oráculo dos Mortos, os fiéis, por assim dizer, vinham aqui para conversar com os seus ancestrais mortos, embora alguns outros templos antigos, como por exemplo o de Poseidon em Taenaron, seja conhecido por abrigar oráculos dos mortos. –

- Parece uma casa normal com um terreno relativamente grande. – comentei quando entramos no terreno que estavam em ruinas.

- É porque foi criado para ser dessa forma! A maioria da população não achava bom conversar com mortos e por um período foi algo que causava a prisão, e parecendo uma casa, não levantaria tantas suspeitas. –

- Mas isso aqui não parece com a entrada na montanha. –

- A entrada fica mais a cima... Está vendo aquela montanha ali? – ele apontou para uma ao longe a nordeste de onde estávamos.

- Estou. –

- Aquela ali é a Tourla Mouggila. É ali que fica a entrada do submundo. Vem... – ele tirou o braço dos meus ombros e segurou a minha mão, ele me levou para a parte de trás da construção em ruínas onde ninguém conseguiria nos ver e desapareceu comigo dali até a entrada da caverna, na montanha. – Aqui é a verdadeira entrada do submundo. –

- Não parece que mudou muito desde as lembranças de Perséfone. – comentei olhando em volta. – É uma caverna, não tem muita coisa para mudar também, não é mesmo! –

- Nenhuma pergunta sobre o local? –

- Não. Eu lembro da explicação que você deu a Perséfone. A menos que tenha mudado algo? – ele pensou um pouco.

- Não! Acredito que não! Venha... – ele segurou a minha mão e foi me guiando para o fundo da caverna que era absurdamente escura.

– Eu vou rolar pedra a baixo. – avisei quando eu não consegui enxergar nem o meu nariz, já que a luz da entrada da caverna já estava bem distante, de tão funda que ela era. Uma batida na pedra soou pela caverna e uma luz esverdeada surgiu perto de Edward, que tinha agora o seu cetro em mãos e duas pontas emanava uma luz esverdeada, que até que iluminava bem. – Melhor. –

- Mesmo assim, não solta a minha mão. – ele desceu um degrau de pedra, antes de parar e me olhar sério. – Você não vai comer nada! –

- Acha mesmo que eu faria isso? –

- Tenho certeza! – respondeu sério e eu ri, ouvindo a minha risada ecoando pela caverna.

- Eu prometo não comer absolutamente nada no mundo inferior... – ele assentiu voltando a olhar para frente. – Hoje! – ele se virou me olhando feio e me fazendo gargalhar.

Ele bufou e segurando firme a minha mão, ele foi descendo os degraus da escada de pedra iluminando bastante o caminho para que eu pudesse descer sem acabar me matando. E conforme íamos descendo as lembranças de Perséfone viam com força em minha mente, eu conseguia vê-la andando pela ponte de pedra, a qual cruzava o rio Oceanus. A única diferença era que ela provavelmente não havia sentido a tonteira que eu havia começado a sentir conforme descíamos cada vez mais fundo, eu não sabia ao certo o que Edward tinha feito, mas ao passar a sua mão pelo meu rosto a tonteira passou bem rápido e ainda ganhei um sorriso em retribuição e um afago na bochecha.

Nós chegamos ao pequeno píer onde as almas esperavam pelo barqueiro. Eu conseguia ver as almas, eu não sabia se tinha acontecido alguma coisa desde que passamos a fronteira dos mundos dos vivos e dos mortos, eu me sentia normal, a mesma, mas no fundo não sabia ao certo se tinha mudado algo.

- O que foi? – ele perguntou ao ver que a minha cabeça não parava e ficava toda hora olhando para os lados.

- Eu estou normal? –

- Está! – respondeu. – Por quê? –

- Achei que eu não fosse conseguir ver os mortos e também não achei que teria tanta gente... Moderna por assim dizer, aqui. –

- Há quase vinte anos foi legalizado por assim dizer, o Conselho Supremo de Helenos Étnicos, uma religião que pratica o helenismo, ou seja, que ainda nos cultua. Na verdade, sempre existiu, mas antes de 1997 era proibida. Tem até uma sede em New York. Mas de qualquer forma, independente da religião que a pessoa tenha, se ela morrer em território grego, ela vem para cá. Da mesma forma que caso uma pessoa de qualquer religião morra no Egito, ela terá o coração pesado por Anúbis e caso o coração seja pesado demais é comigo por Ammit. –

- Vocês interagem com deuses de outras regiões? –

- Às vezes! Quem mais interage com eles é Hermes... Jasper. – ele se corrigiu. – Mas quando algum tem alguma profecia que envolve a todos, como foi a profecia sobre o nascimento de Jesus, existem reuniões entre os principais deuses de todas as regiões. –

- Mas as punições e crimes continuam os mesmos? –

- Sim! Continua tudo igual. As intenções continuam iguais, os crimes não mudaram... – deu de ombros. – Caronte está chegando. –

- Ele vai falar que eu fedo de novo? – brinquei.

- Não, mas ele provavelmente vai te confundir com Perséfone. – eu dei de ombros.

- Majestade! – Caronte desceu do trirreme e se aproximou de nós dois. – Ma... Majestade? – ele olhou para mim confuso. – Como... –

- Longa história Caronte. – Edward falou simplesmente. – Mas se as coisas continuarem a ir no ritmo que estão indo, nós vamos ter a nossa rainha de volta em pouco tempo! – ele falou abraçando a minha cintura e beijando a minha testa.

- Mas ela é uma mortal! E ela está viva! –

- Eu sei disso, Caronte. Eu sou o deus dos mortos, estranho seria se eu não soubesse identificar quem está vivo ou não! –

- Claro, perdoe-me majestade. – ele deu um passo para o lado para nos dar passagens. Edward segurou a minha mão e me guiou para dentro da trirreme e passando pelo meio das almas que subiam no barco.

- Ele é o que mais segue as regras aqui embaixo, por isso ele tem essa implicância com quem quebra as regras. –

- Ele está fazendo o trabalho dele, Edward. – comentei apoiando o quadril na madeira da lateral do barco. – Errado seria se ele deixasse qualquer um passar. –

- Eu sei disso, amor, eu sei! –

- Eles se davam bem com Perséfone? –

- Na medida do possível. Você tinha uma mania terrível de querer mandar no trabalho das pessoas. E ainda tem! – comentou e eu balancei a cabeça sorrindo. – Mas de qualquer forma, as pessoas gostavam bastante de você! –

- Fico pensando que talvez eles não gostem agora! – admiti. – Acho que o meu maior medo é em relação as meninas, delas estarem com uma expectativa e no final eu não corresponder as expectativas delas. –

- Elas criaram sim, não posso negar, até porque ao longo dos anos eu também criei várias, mas no final o que realmente importa é que você finalmente vai estar aqui com a gente de onde você nunca deveria ter saído! – ele levou a mão até a minha bochecha a acariciando. – Não fique se cobrando, Bella, você já vai estar fazendo um enorme sacrifício em largar tudo para se mudar para cá, de início as coisas serão difíceis, mas vamos nos acostumar. Nem você vai ficar se cobrando e nem elas, será uma fase de adaptação um pouco complicada, mas no final dará tudo certo! –

- Eu sei que vai! Todo mundo faz sacrifícios nessa vida, eu não sou a primeira e tampouco serei a última. –

- Na verdade eu realmente espero que você tenha sido a primeira a fazer o sacrifício de vir para o submundo e espero que seja a última também! –

- Mas o que vai acontecer... Eu tomo ou como, eu sei lá, a tal da ambrosia e...? –

- E você se torna imortal! –

- Só isso? – ele assentiu. – Eu não sinto nada, não muda nada? –

- A ambrosia é algo complicado de se usar! Se for posto na boca de um recém falecido é capaz de ressuscita-lo, contanto que o fio da vida ainda não tenha sido cortado, geralmente acontece quando a pessoa morre antes da hora, acontece pouquíssimas vezes, mas acontece. Caso seja consumido em excesso por um mortal, causa a sua morte, na medida certa trás a imortalidade. Já se um semideus beber em excesso, já que a ambrosia é uma bebida, ele entra em combustão. –

- Tá. Mas... Rose disse que nós vamos ter um filho e... –

- Se ele for gerado antes de você beber a ambrosia, ele será um semideus, caso ele seja gerado depois, ele é imortal, e aí teríamos que ver se ele receberia algum dom ou não... – eu olhei confusa a ele. – Um semideus é mortal, Bella. – contou. – Hércules era um semideus e era mortal, Aquiles foi um semideus e era mortal! –

- Mas então o que é um semideus? –

- Hesíodo e Homero categorizaram semideus como divindades menores ou um filho de um mortal com um deus, ou como alguém que recebeu o estatuto divino após a morte. E de certa forma, você também será considerada um semideus. Esse termo não era muito usado na Grécia antiga devido aos vários significados que tem. Por exemplo, uma divindade menor é uma entidade com menos poderes ou menos seguidores no seu Panteão Anfitrite, seus meios irmãos Árion e Despina e até mesmo você se tornou uma divindade menor, na verdade, os “deus maiores” são os doze olimpianos que tem a palavra nas decisões, e eu, que mesmo não tendo uma cadeira no Olimpo, por ser um dos originais faço parte, você foi... Transformada em uma deusa menor quando me escolheu... –

- Provavelmente ela não se arrependia. – ele sorriu para mim.

- Nessa ideia de divindade menor, o deus tem poderes, tem seguidores, tem templos. Uma pessoa que se tornou imortal após a morte, ele não tem dom, ele só é imortal! Que será o seu caso, com a exceção de que você não vai precisar morrer! E um semideus de fato, ele não tem poderes do pai ou da mãe, ele não é imortal, ele só tem alguns trejeitos, por assim dizer, humanos mais forte. Hercules e Aquiles eram mais fortes do que a maioria dos homens, mas eles morreriam, quer dizer, como Aquiles foi mergulhado no Estige, ele só morreria caso o seu calcanhar fosse acertado. –

- Então ele iria envelhecer e ter mil anos e continuaria vivo? – perguntei e ele apenas assentiu.

- Caso o nosso filho seja gerado antes de você tomar a ambrosia, ele será o mesmo caso de Hércules, terá uma força maior, por exemplo, mas vai morrer. Com você já seja imortal, ele vai viver para sempre. –

- Mas até quando ele envelhece? –

- Geralmente até a idade que os nossos pais tinham quando nós fomos gerados. Você envelheceu até os vinte e cinco anos, se formos contar nos dias atuais, já que naquela época ninguém se importava com idade, nesse caso, o nosso filho iria envelhecer até os vinte e oito, mas depois eles poderiam assumir a idade que quiserem! Zeus é o mais novo, mas ele aparenta ser mais velho do que eu, pois ele preferiu assumir aquela idade! –

- Talvez ele aparente ter vinte e nove, pois falta pouco para o meu aniversário! – comentei e ele sorriu.

- Não precisa se preocupar com isso de idade e essas coisas, até porque se isso é realmente o que você quer, não vai demorar muito até Zeus entregar a ambrosia. –

- Eu... Eu preciso tratar as pessoas como família? –

- Não! Se você não quiser, você não precisa tratar ninguém como família. Você e Zeus se davam muito bem, acho que você era a única filha imortal que ele tinha com quem ele se dava bem, mas você não precisa chegar até ele e trata-lo como um paizão. E se tudo ocorrer como sempre ocorreu, quase não vai vê-los. –

- Deixa eu perguntar... Se aquela sugestão que eu dei de passarmos seis meses aqui em cima e seis meses lá embaixo der certo, como vai ser? –

- Em qual sentido? –

- Vamos viver onde? As meninas vão morar conosco... Essas coisas. –

- Se você quiser continuar em Tulsa, nós continuamos em Tulsa, meu amor. –

- Eu amo Tulsa, mesmo muita gente achando estranho isso por ser uma cidade pequena e tudo mais, mas o que eu diria as pessoas quanto a minha mãe? –

- Você pode dizer que ela se mudou para a casa do seu tio! – dei de ombros. – Ela não costumava fazer essas viagens anualmente?! –

- Eu quero continuar na minha casa. – ele balançou a cabeça rindo.

- Nós podemos continuar na sua casa, na sua cidade, com a sua loja... Podemos continuar do mesmo jeito em que estávamos! As meninas nós podemos inventar qualquer história da porta de casa para fora. Nós damos um jeito. –

- E o submundo fica largado? – questionei.

- Largado não, tem muita gente para tomar conta e nada do que três segundos de viagem não deem para resolver o problema que surgir. – garantiu. – Eu te amo. – eu sorri para ele.

- Eu te amo. – eu me aproximei dele e deitei a cabeça em seu peito, ganhando um beijo na testa em retribuição e ele me abraçou pelos ombros durante todo o resto do caminho.

O barco nos deixou na porta do portão do submundo e foi impossível não me sobressaltar ao ver ao vivo e a cores o tamanho real de Cerberus, mas antes mesmo que ele tivesse a chance de se aproximar, Edward o encolheu de tamanho, para o tamanho ao qual eu estava habituada e com apenas uma cabeça, e mesmo ele tendo me visto na noite anterior, ele se jogou em meu colo abandando o rabo. Eu não sabia explicar o que acontecia, mas eu estava me sentindo bem e com uma enorme sensação de estar em casa preenchendo o meu corpo.

Do mesmo jeito que ele havia feito com Perséfone a anos atrás, ele foi me mostrando o submundo, meio que fugindo do Tártaro e dos Asfódelos para que eu não precisasse ouvir os gritos de dor tão próximo assim. E aos poucos fomos nos aproximamos da sua morada.

A casa de Edward parecia um castelo em ruinas, mas era magnifico do mesmo jeito, o lugar era tão escuro e o castelo era tão preto que era quase que impossível ver os seus contornos direito, mas era possível saber que ele era enorme e majestoso. Do mesmo jeito de que de fora, o lado de dentro era todo preto, mas não era escuro, diversas tochas o iluminavam bem.

Na sala principal, na sala do trono tinha dois tronos da lembrança de Perséfone e mais dois que não tinha antes, provavelmente de Macária e Melinoe. E igual a primeira visita de Perséfone ao mundo inferior, essa visita também acabou no lugar do jardim que havia sido criado para a deusa da primavera.

- Foi difícil manter esse jardim vivo, mas fizemos o possível. – ele comentou sentado ao meu lado na escada do castelo de frente para o jardim.

- Eu nunca entendi o motivo para eu gostar tanto dessa flor. – comentei ignorando o seu comentário e olhando par o campo de ásteres de diversas cores a nossa frente. – E eu nunca entendi o motivo para eu não conseguir tê-la em casa, elas sempre morriam. –

- Talvez agora você consiga. – comentou se aproximando mais de mim e eu deitei a cabeça em seu ombro.

- Eu concordo com Perséfone, aqui é bem calmo. Aqui atrás não dá para ouvir os gritos e é bem calmo. Eu posso aprender a conviver sem a luz do sol. – brinquei e ele riu.

- Eu acho que nem se eu te levasse no ponto mais fundo do Tártaro você mudaria de ideia. –

- Provavelmente não, mas aceito o passeio! –

- Melhor não! Pelo menos não enquanto ainda for mortal. –

- Por quê? –

- No nível mais baixo do Tártaro é onde está preso um dos titãs mais poderoso que já existiu. Cronos! O meu pai e digamos que desconfiamos que ele consiga... Como eu posso explicar... Fazer a cabeça de alguém, por assim dizer. Geralmente de quem tem a cabeça mais fraca, por assim dizer, e se já teve deuses que vieram até aqui e foram influenciados por Cronos... –

- Eu que sou mortal as chances de ele me influenciar são de cem por cento! –

- É! – respondeu.

- Eu... Eu lembro de uma coisa das lembranças de Perséfone, você tinha dito que as paredes que seguravam Cronos estavam rachando. –

- Sim. O assunto foi resolvido. Eu, Poseidon e Zeus conseguimos reconstruir a parede, e de tempos em tempos precisamos ficar de olho para ver se ela voltou a cair. Mas Cronos é absurdamente forte, tanto que para ele ter sido derrotado, Zeus precisou de nós seis, ninguém consegue explicar como a mente dele, por assim dizer, consegue passar pela parede e entrar na mente dos outros. Eu realmente estou preocupado com o fato de que, mesmo longe, ele possa chegar perto da sua cabeça. –

- Mas aconteceria o que? Eu ouviria vozes ou seria controlada? –

- Pelo que Ares disse, já que ele tinha sido controlado por Cronos durante um curto tempo, você escuta as vozes dele! –

- Não escuto nada. – comentei e ele riu. – Parece que você está pensando que eu vou, não sei, sair correndo e fugindo daqui. –

- Uma parte de mim queria que você fizesse isso! –

- Não parece tão assustador assim como você deu a entender! – dei de ombros. – Você não é tão assustador assim como eu imaginava que fosse! –

- Isso porque eu não quero assustar você! Porque se eu quisesse, você sairia daqui aos berros! –

- Duvido! – provoquei e ele riu. Ele passou o braço por cima dos meus ombros e me puxou para perto dele, beijando o meu nariz. – O que vai acontecer agora? – perguntei com a cabeça apoiada em seu ombro.

- Você e Alice vão voltar a Tulsa e eu vou ficar aqui mais uns dias para resolver umas coisas e espero que em poucos dias eu consiga voltar a Tulsa! Mas se quiser pode ficar aqui, mas imagino que sinta falta de sua loja e plantas. –

- Muito! – admiti.

- Então faremos isso. Você volta com Alice para Tulsa, ajeitam a vida de vocês e assim que der, espero que em pouco tempo, eu volto para os EUA. –

- Tudo bem! – suspirei concordando.

Nós ficamos ali fora mais um tempo antes de entrarmos no castelo de novo e eu via Macária e Melinoe andando para cima e para baixo com alguns pergaminhos em mãos, provavelmente indo recolher as almas. Nós não ficamos ali muito tempo, quando ele simplesmente desapareceu comigo e nós aparecemos de novo atrás de algumas árvores no estacionamento do templo de necromancia. Eu peguei o meu celular e notei que eram quase duas horas da tarde, ele me guiou até um café que tinha ali perto, uns cinco minutos andando, e foi quando realmente eu notei que eu estava começando a sentir fome.

Após termos terminado de comer, ele não me levou de volta a Atenas, e tampouco me levou de novo para o mundo inferior. Edward me levou para o topo da montanha, a tal de Tourla Mouggila, por onde passava o rio Aqueronte. Nós não estávamos ali sozinhos, tinham algumas pessoas, trajando roupas de banho e nadando na água, que provavelmente era fria do rio. Nós nos sentamos em umas pedras, e como Edward havia dito que o rio era inofensivo aqui em cima, eu tirei os tênis e mergulhando os meus pés na água fria. Longe de nós, mas não longe o suficiente, era possível ouvir alguns turistas debochando, fazendo piadas com a história do lugar, e ele falava em inglês, o que facilitava a minha compreensão do que era falado e foi impossível não ter visto Edward irritado, era o que ele tinha dito você aprende a se acostumar, as pessoas não respeitam o Vaticano, que é um dos lugares mais sagrados da religião predominante atual, por que respeitariam um lugar que, para mais da metade da população não passavam de histórias?

Nós ficamos ali até escurecer, todos os outros turistas já tinham ido embora e nós ainda ficamos ali um bom tempo. Quando já era bem tarde, nós voltamos para o apartamento de Edward em Atenas para descansar. Alice chegou alguns minutos depois com Jasper e após um banho morno e de ter comido alguma coisa, eu fui dormir para descansar.

No dia seguinte eu e Alice voltamos para Tulsa, Edward havia insistido para que voltássemos a Oklahoma com o seu jato enquanto os dois continuavam por ali terminando de resolver algumas coisas e que em alguns dias nos encontrava em Tulsa, e pretendia já estar com todos os problemas resolvidos e com a ambrosia em mãos.

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