Atenas – Grécia.
2019.
Bella.
Eu não fazia a mínima ideia de como tínhamos saído daquela caverna, na verdade, eu nem sabia quando tínhamos saído dali e aparecido no apartamento de Edward em Atenas. As meninas tinham me soltado um pouco, mas não saiam de perto de mim, e quando Edward pedira para que elas fossem na farmácia comprar algumas coisas para limpar os machucados que eu tinha, elas foram receosas, provavelmente com medo de que eu sumisse ou morresse de novo, mas foram.
- Quem quase morreu fui eu, mas você está completamente machucada! – comentou ao ver os arranhões em meus braços e pés.
- Culpa sua. Tive que ir salvar a sua bunda. – brinquei e ele riu. Ele estava perfeito de novo, sem nenhum machucado ou gota de sangue, parecia que não tinha acontecido nada.
- O que foi isso? – perguntou ao ver as marcas roxas que os cipós causaram em meus punhos.
- Minha mãe... Ela me prendeu numa cama com cipós, e quanto mais eu me mexia mais eles apertavam. – expliquei e ele levou os meus punhos até seus lábios os beijando. – Qual é, você é deus, não consegue me deixar nova igual fez com você? – brinquei de novo para tentar tirar o ar pesado que tinha no apartamento e ele riu.
- Adoraria tirar os seus machucados, colocaria-os em mim para não estarem em você, mas eu não posso! Eu não consigo. – respondeu olhando no fundo dos meus olhos. – Qual é o problema? –
- Onde está a minha mãe? Para onde Leah a levou? –
- Eu não sei. – suspirou. – Zeus está tentando acha-la. Acho que ele teme que ela congele a Grécia toda de novo. – respondeu afagando as costas das minhas mãos. – Perdoe-me, mas eu não quero ver a sua mãe tão cedo! –
- Eu achei que ela fosse realmente me matar. – falei em um fio de voz e abaixando a cabeça.
- Hey. – ele segurou meu queixo, o levantando e me fazendo olha-lo. – Eu jamais permitiria isso! – garantiu e eu aproveitei a proximidade de nossas cabeças e encostei a minha testa a dele. – Assim que as meninas chegarem, e eu fazer um curativo em cada machucado, você vai descansar e nós vamos te deixar um pouco sozinha para digerir tudo isso e... –
- Eu não quero ficar sozinha. – o interrompi. – Eu não quero sentir essa sensação de vazio de novo. Eu senti por quase trinta anos e agora que eu finalmente acabei com ela e finalmente entendi o motivo dela existir, eu não quero que ela volte. – ele roçou o nariz ao meu, antes de beijar meus lábios.
- Mesmo assim, você precisa finalmente entender onde você está entrando. Bella, eu... Eu infelizmente não posso mudar quem eu sou e quem as meninas são. –
- Eu não ligo para o que vocês são e... –
- E você é uma mortal, Bella, eu não posso te perder de novo, mas eu não vou te obrigar a ir para o submundo. -
- Perséfone foi de boa vontade, por que eu... –
- Você não é a Perséfone! – ele me interrompeu. – Você pode ser a reencarnação dela e ter puxando o amor e o dom que ela tinha com as plantas, mas você não é ela. Não é só porque ela foi de boa vontade e gostava de lá que você necessariamente tem que gostar também! –
- Eu não posso gostar ou não gostar de um lugar ao qual eu nunca pisei! – respondi. – Me leva e deixa eu decidir se gosto ou não! –
- Você é louca! – ele balançou a cabeça rindo. – Mas de qualquer forma, além de ser proibido um mortal descer ao submundo, o qual eu pouco me importo com essa regra no momento, eu não posso permitir que você abra mão de tudo de novo, e eu não faça nada. –
- Então nós achamos um meio termo! – dei de ombros. – Mas eu não vou largar você! – garanti. Edward soltou as minhas mãos e levou as suas até o meu rosto, segurando-o delicadamente entre elas e unindo os nossos lábios.
- Pai. – a voz de uma das meninas interrompeu o beijo, e ao virar o rosto eu notei que as duas estavam levemente envergonhadas, provavelmente por ter interrompido algo. – Aqui, o que o senhor pediu. – ela entregou a bolsa com as coisas da farmácia.
- Obrigada Macária. –
- Então... Você é a Macária... – apontei para quem estava mais perto de nós. – E você é a Melinoe? – perguntei para a que estava parada mais ao fundo. – Como você sabe quem é quem? Elas são quase iguais? – perguntei e ele riu pegando o álcool 70% e o pacote com algodão, os machucados já haviam sido lavados, só precisa terminar o curativo.
- Com a convivência você acostuma. Elas podem ser iguais na fisionomia, mas nas personalidades elas são completamente diferentes. Principalmente Melinoe, ela puxou Perséfone da cabeça aos pés, adora me deixar louco! – comentou e eu acabei rindo, contudo, o riso morreu quando eu arfei de dor quando o álcool encostou no machucado. Ele assoprou para amenizar a ardência, antes de secar o colar o band-aid.
- Edward... – ele levantou a cabeça. – Cadê Alice? A última vez que eu a vi, ela estava em sua casa... –
- Ela ficou com Jasper... Ele está contando tudo para ela! E vindo para cá. Ela está desesperada querendo saber de você! Disse algo como eu vou pegar a minha amiga e nós duas vamos para um manicômio, porque eu também estou ficando louca. – eu acabei rindo como ele afinando a voz para parecer com a voz de Alice. – Fique tranquila, ela está bem! Jasper gosta dela e está cuidando muito bem dela. – garantiu e eu vi que as meninas continuaram afastadas.
- Vão ficar aí? Eu não mordo! – comentei e elas se entreolharam e acabaram sumindo. – O que eu falei? –
- Nada. Elas... – suspirou. – Elas estão com medo que você vá embora, que você não goste delas... – ele balançou a cabeça fazendo outro curativo em meu braço. – Elas precisam de um tempo agora. – Edward sorriu de lado. – Estavam tão animadas para ver você, te conhecer quando eu falei que tinha te achado... Elas mal aguentavam de animação querendo ir a Tulsa te ver. Agora elas estão com medo de te perder de novo, precisam... Elas precisam se acostumar que você está aqui e que quer ficar! –
- Deve ter sido horrível para vocês três, não é? Se para mim, que não sabia o motivo, foi ruim... –
- Acho que a pior parte era quando eu te encontrava e te perdia de novo. Era como se todo o esforço que eu tinha feito tivesse sido em vão. – ele engoliu em seco. – Tanto que... No final, eu parei de falar para elas quando eu te achava, porque elas ficavam muito pior quando eu te perdia de novo. Eu fiquei tão receoso para contar a elas que eu te achei em Tulsa, com medo de que em algum momento você me rejeitasse. Demorou muito, elas só souberam pouco tempo antes de eu te levar a Milos, e eu precisei impedir que elas fossem para aquela festa, isso me doeu muito, mas eu sabia que elas não iriam se controlar. –
- Quando você viajava, você vinha para cá, não era? – ele assentiu.
- Era. A primeira vez, quando nos encontramos no aeroporto, foi porque eu vi que não tinha nada me impedindo de tentar me aproximar, não tinha marido, filhos, você não era uma criança e Deméter iria se afastar. Então eu vim para deixar as coisas o máximo possível em ordem para passar o tempo que fosse necessário lá em Tulsa. Mas depois que... Depois que aquilo aconteceu... As coisas ficaram muito difíceis. Macária... Se tornou muito reclusa e depressiva, ela mal queria sair do quarto, demorou quase três anos até ela voltar a recolher uma alma, e ela nunca mais fez aquilo com um sorriso no rosto. Já Melinoe virou uma rebelde sem causa, e eu não conseguia controla-la, e na verdade, no início eu não queria controla-la. Perséfone tinha pedido que ela nunca mais tirasse os mortos do submundo, mas quando ela morreu... Melinoe fazia isso com muita frequência, e eu deixava, estava tão chafurdado na dor que eu pouco ligava para o que acontecia no mundo dos vivos, quando eu tentei tomar as rédeas da situação que eu percebi o estrago que ela tinha causado, ela não atormentava mais ninguém, ela não pegava mais as almas de crianças, elas pegava as almas do Tártaro para destruir as coisas de Deméter, que não fazia nada porque Zeus interferia, falava que ela agora tinha que aguentar as consequências do que ela tinha causado. – deu de ombros. - Então... Toda vez que eu precisei deixar Tulsa era porque Melinoe havia destruído mais um templo de Deméter, ou algo desse tipo, e eu precisava impedir que ela deixasse os mortais a verem ou as almas. – ele suspirou. – Acabei. – e igual a quando eu era criança e me machucava toda andando de bicicleta, eu estava toda enrolada em ataduras ou em band-aid. – Me faz um favor? – eu balancei a cabeça assentindo. – Descansa um pouco que eu vou conversar com elas. – eu apenas assenti de novo, e ele se levantou beijando o topo da minha cabeça.
- Fala para elas não se preocuparem. Eu não pretendo me afastar. – garanti. – E mesmo sem entender o motivo, eu já gosto delas! –
- Eu fico muito feliz em ouvir isso. – segurando o meu queixo, ele roçou o nariz ao meu, antes de beijar os meus lábios, contudo, o beijo fora interrompido com um suspiro dele. – Vai descansar. – pediu. – Agora é o Cerberus quem está agitando o mundo inferior. –
- Trás ele para cá. –
- Pode deixar. – ele roçou o nariz ao meu antes de sumir diante dos meus olhos. Eu tinha que precisar me acostumar com isso.
Eu deixei o sofá e caminhei até onde era o quarto, o qual eu tinha ficado quando vim aqui e deitei na cama. Todo o meu corpo doía, parecia que uma manada de caminhão tinha passado por cima de mim. Eu deitei na cama sentindo muitas partes do meu corpo estalando quando eu me acomodei no colchão macio.
Despertei um tempo depois com um cafuné em meus cabelos. Abri os olhos rapidamente e vi que Edward estava deitado na cama comigo, mexendo em meus cabelos, além de sentir um peso em minhas pernas, Cerberus estava deitado na cama, com a cabeça apoiada em minhas pernas.
- Cadê as meninas? – perguntei aninhando minha cabeça em seu peito.
- Dormiram. – explicou aninhando a cabeça contra a minha. – Estão mais calmas, mas te deixaram dormir. – Pode dormir mais um pouco, meu amor. – ele me abraçou. – Alice chega amanhã com Jasper, e parece que Zeus achou a sua mãe! –
- Deixe-a com a filha dela. Caso ela continue com os pensamentos e atitudes dela, eu vou querer distância. –
- Vem. Vem dormir! – eu aninhei mais ainda a minha cabeça contra o seu peito e voltei a fechar os olhos, para poder dormir mais um pouco.
...
Quando amanheceu eu estava sozinha no quarto, quer dizer, quase sozinha, Cerberus estava sentado na cama, me olhando. Eu me sentei na cama e ele veio para o meu colo balançando o rabo animado, e eu comecei a coçar atrás de suas orelhas.
- Oi menino. – ele esbarrou a cabeça contra a minha. – Que menino bonito. – a porta do quarto foi aberta e Edward entrou e balançou a cabeça sorrindo ao ver Cerberus em meu colo.
- Está melhor? – eu assenti enquanto continuava a afagar a cabeça do cachorro. – Alice chegou! E está preocupada com você! –
- Bella... – mal ele acabou de falar e Alice entrou no quarto. – Eu vou matar você se você me deixar preocupada assim de novo. – ralhou comigo, me fazendo rir e vindo para cama e me abraçando pelos ombros.
- Você está bem? –
- Eu? Eu descubro que a sua mãe é mais surtada do que eu já imaginava e você quer saber se eu estou bem? – não respondi. – Na verdade estou ótima, um pouco confusa ainda sobre tudo o que me contaram, estou achando que eu precisaria de uma camisa de força, mas estou bem. –
- Eu vou deixar vocês duas conversarem e vou trazer algo para comerem. – Edward se fez presente colocando uma mochila, uma mochila minha, em cima da cômoda. - Vem Cerberus. –
- Vai lá menino. – eu cocei atrás de suas orelhas de novo e ele seguiu o dono.
- Bella, fala que eu estou completamente louca com isso o que o Jasper contou? – ela falou baixíssimos próxima ao meu ouvido.
- Das duas uma, ou é verdade ou nós duas estamos completamente loucas. – respondi. – Mas depois de tudo o que eu vi ontem, hoje. Do que o Edward me mostrou, eu acho que é verdade! – respondi.
- É bizarro. Jasper me mostrou o que ele disse que é a versão divina que um mortal consegue ver sem morrer queimado... –
- Edward também. – suspirei. – Acha isso bizarro. Eu descobri que eu tenho duas filhas! – seus olhos quase arregalaram da casa. – Quer dizer, Perséfone teve duas filhas com o Hades, ou seja, Edward tem duas filhas, e se eu sou a reencarnação de Perséfone... Eu tenho duas filhas. –
- A situação só fica pior. –
- O que eu faço Alice? – perguntei. – Eu não quero perder o Edward, e aceito completamente o fato das filhas dele, sem o menor problema. Mas o que eu faço? Se minha mãe aparecer de novo? Se... Se eu não for o que as meninas esperam? Tem noção de que elas ficaram muitos séculos esperando pela mãe, e eu posso não corresponder com as expectativas delas? Além do fato de que os três são imortais e eu não. –
- Eu preciso do mesmo conselho amiga. – suspirou. – Eu também não quero perder o Jasper. – uma batida soou na porta, e logo em seguida Edward abriu com uma bandeja nas mãos.
- Faz ela comer, tá Alice? – ela assentiu.
- Vai sair? – perguntei e ele suspirou.
- Vocês duas vão ficar sozinhas por um tempo, espero que bem pouco tempo, mas o conselho vai se reunir para decidir o que fazer com tudo o que aconteceu. As meninas vão para o submundo resolver uns assuntos, eu sei que Deméter está lá em cima. –
- Quem? – Alice perguntou confusa.
- Minha mãe. – respondi
- Ah. –
- Mas eu não sei se Despina ou se Áron vão estar lá também. –
- Leah e Seth. – respondi para Alice antes que ela perguntasse quem eram esses dois, e ela levou a mão ao rosto, como se fosse complicado demais as mudanças de nomes.
- Aqui eles não entram. Não precisa ficar preocupada, a menos que vocês abram a porta para eles. –
- Não vamos abrir nenhuma porta. – garanti.
- Vai ter uma Harpia do lado de fora, mas só moribundos ou moradores do mundo dos mortos podem vê-la. –
- Não se preocupe, nós vamos ficar quietinhas aqui dentro. Não vamos abrir a porta para ninguém. – garanti de novo. – Tenta não arrumar confusão de novo. Não estou afim de ir salvar a sua bunda de novo. – brinquei e ele riu.
- Eu te amo. – ele roçou o nariz ao meu.
- Eu te amo. – Edward beijou os meus lábios e saiu.
- Aí amiga estamos completamente ferradas. Por que não aparece homens normais e gostosos na nossa vida? Só apareceram malucos, e quando aparecem caras gostosos, tem essa confusão toda. –
- Você abriria mão de tudo para ficar do lado do cara que você gosta, sabendo que basicamente teria que abrir mão da sua... mortalidade? – questionei.
- Pensando bem... Não me parece muito ruim ser imortal. Vai ter todo o tempo do mundo para fazer tudo o que sempre quis, e até coisas que nunca imaginou, e depois vai ficar bem entediada. Mas pelo que estou vendo, nessa família ninguém jamais vai ficar entediado, já que todos sempre querem matar os outros. E bom... Eu não tenho mais ninguém nessa vida a não ser você. Minha mãe faleceu, não tenho mais família, no meu caso não é ruim eu ficar com Jasper. Você tem a sua mãe, mas a sua mãe está no meio da confusão, então... Acho que não é ruim para você ir para o mundo dele! Vai continuar fazendo o que gosta. – dei de ombros.
- Só iria para o submundo. –
- Ele ficou meses com você em Tulsa, talvez não seja obrigatório ficar lá embaixo direto e... –
- E pelo que eu vi nas lembranças de Perséfone, não me parecia um lugar muito ruim. –
- Pede para ele te levar até lá. –
- Já pedi. Falou que vai ver um dia para me levar. –
- Segundo Jasper... Hermes... Sei lá qual é o nome dele. Ele disse que Edward é o deus da morte... Será que... -
- Ele traz sua mãe de volta? Pelo que eu lembro do que eu vi nas lembranças de Perséfone, ele não pode trazer ninguém de volta à vida. –
- Nem é isso. Aprendemos em filmes de terror de que o que está morto deve continuar morto. Mas... Ele conseguiria me fazer ver a minha mãe? –
- Eu... Eu não sei. São culturas e religiões diferentes. Mas não custa perguntar nada a ele. –
- Vamos comer. – comentou suspirando.
- Deixa eu tomar um banho primeiro. –
Eu me levantei da cama, pegando a minha mochila na cômoda e indo até o banheiro. Eu tirei todos os band-aid e talas para tomar um banho fresco, lavando os meus cabelos. Ao me secar e me trocar, refiz os curativos, pelos menos o que estavam piores, e voltei para o quarto, encontrando Alice com a bandeja de comida no meio da cama.
Nós comemos enquanto continuávamos vendo os prós e os contras de nos tornarmos imortais, sendo que nenhum dos dois, nem Edward e nem Jasper, comentaram nada sobre isso, eu só sabia que isso era possível graças a Rosalie. Eu precisava descobrir se eles queriam que eu continuasse os chamando do jeito que eu conheci ou pelos seus verdadeiros nomes.
Eram quase noite quando Edward e Jasper voltaram da reunião que estavam. Mal os dois entraram e Jasper chamou Alice de canto e após me dar um beijo em minha testa, Edward foi para o quarto. Com a casa toda trancada, eu caminhei até o quarto para onde ele estava e encontrando a porta do banheiro aberta, me aproximei da porta e o encontrei tirando a camisa, ele me viu parada na porta, e com a cabeça, me chamou para me aproximar, eu passei meus braços pela sua cintura, o abraçando, e deitando a cabeça na parte de trás do seu ombro.
- Como você está? –
- Bem. – respondi. – E você? –
- Estou bem. – eu senti a sua mão segurando a minha e levando até os seus lábios, onde ele beijou.
- Está tudo bem lá em cima? – ele suspirou.
- Vai ficar. – disse simplesmente.
- O que houve? – ele se virou, apoiando o quadril na pia e ficando de frente para mim.
- Ficou decidido que a Deméter receber uma punição bem pesada. – disse simplesmente. – Tecnicamente os deuses que são punidos, eles geralmente são enviados para o Tártaro, já que não tem nada pior do que o Tártaro, mas se tem uma coisa que eu não quero é Deméter perto de mim e das meninas. – suspirou. – Ela... Ela vai ter que passar um bom tempo morando nos mundos dos mortais, como uma mortal. –
- Isso é fácil. –
- Para um deus, não é. Para alguém que está acostumado a estalar os dedos e ter o que quer em mãos, não é nada fácil. –
- E agora. E quanto a nós dois? Como vamos ficar? –
- Você quer conhecer o submundo, não é? Assim que você quiser, eu te levo. Ainda não acho justo você ter que abrir mão de algo e eu não... –
- Abrir mão de que, Edward? –
- Minha mãe é a única família que eu tinha, e ela de certa forma está nesse mundo. Eu só tenho a Alice e você! E a Alice já escolheu o que ela quer. Do mesmo jeito que eu quero ficar com você, ela quer ficar com o Jasper, eu não estou abrindo mão de nada. –
- Vai abrir mão do mundo dos vivos para ficar no mundo dos mortos comigo. – apontou.
- Pelas lembranças de Perséfone, não era tão ruim. E de qualquer forma, você ficou meses aqui em cima comigo. Não daria para, de certa forma, refazer o acordo que minha mãe fez? –
- Como assim? –
- Você fica seis meses comigo aqui em cima, e eu fico seis meses lá embaixo com você! –
- Você não pode ficar lá embaixo comigo, Bella. Para um mortal, é mais complicado. Um mortal não pode viver no mundo inferior e... –
- E Rosalie disse que tem como eu viver com você lá embaixo. – ele ergueu a sobrancelha, até ter balançado a cabeça assentindo.
- Te dar ambrosia. – respondeu. – O que mais ela te falou? – eu sorri de lado.
- Falou que as moiras já viram mais um fio da vida saindo do seu. – ele piscou os olhos confuso. – Um menino agora. – seus lábios se repuxaram em um sorriso. Ele não falou mais nada, apenas levou as mãos para a minha nuca e grudou seus lábios aos meus.
- Se eu pudesse eu abria mão da minha imortalidade por você. – falou baixo com os lábios roçando aos meus. – Só para que você não abrisse mão da sua mortalidade por mim. –
- Você não pode deixar as meninas, não principalmente após tudo o que elas já viveram, e eu não quero deixar você. É uma decisão minha. Eu te amo. –
- Eu te amo. – ele roçou os lábios aos meus. – Você vai ficar tão gostosa de túnica. – ele me prensou contra a parede atrás de mim e aprofundando o beijo. Suas mãos desceram para a minha calça, abrindo o botão da minha calça, e começando a abaixa-la.
- Hades. – a voz de Jasper soou pelo banheiro junto a uma batida na porta do quarto. – Zeus está aí, ele quer falar com a Bella. –
- Estou indo. – respondeu subindo com a minha calça e fechando o botão.
- E você prefere que eu te chame como? –
- Do jeito que você quiser. – comentou beijando o meu pescoço. - Hades, Edward, amor... Do jeito que você quiser. – ele sugou de leve o meu pescoço.
- O que ele quer comigo? –
- Ele é seu pai, meu amor. Pela primeira vez na vida, eu o vejo se sentir culpado por não ter evitado algo. – respondeu tirando a cabeça do meu pescoço. – Vai lá falar com ele, eu vou tomar um banho rápido e já me junto a vocês dois. – eu beijei seus lábios, e ele beijou a minha testa. – Vai lá. – eu apenas assenti.
Deixei o banheiro e o quarto e encontrei com Carlisle parado na sacada do apartamento de Edward com um copo de uísque em mãos. Era tão estranho me aproximar desse homem, principalmente sabendo que ele era o meu pai. Muita coisa passou a fazer sentindo após essa revelação, começando com os olhares que ele me lançava quando estavam em Milos, eu lembrava uma pessoa que ele tinha perdido. Sim, a filha dele! No caso, eu.
- Como você está? – ele perguntou levando o copo a boca e bebendo um gole de uísque após eu fechar a porta da sacada, após ter passado.
- Bem. – dei de ombros. – O que quer falar comigo? –
- Eu tenho explicações para te dar, não? Você não tem mais nenhuma pergunta a fazer? Perguntas que só eu vou poder responder? – questionou quando eu me sentei no banco a sua frente.
- Por que demorou tanto para aparecer? – ele suspirou.
- Não era eu quem tinha que te achar. Essa história sempre foi entre Hades e Deméter. –
- Mas... Se você é meu pai, porque eu nunca lhe tive na minha vida e... –
- Você foi gerada apenas uma vez. Que foi quando Perséfone foi concebida, admito que de um jeito horrível, acredito que esse seja o principal motivo para eu cuidar tanto dela. Quando Perséfone morreu. Hades e as meninas se trancaram no submundo e Deméter sumiu, até que eu descobri, muito tempo depois, que ela tinha ido até Hécate, e tinha tentando arrumar um jeito de te ressuscitar através da magia, já que Hades não tinha feito nada. Hécate não podia te ressuscitar, mas ela fez um feitiço para ela, que ela poderia fazer você nascer, através do que a sua mãe faz de melhor. –
- Aquela história de que eu era uma sementinha, que ela plantou era verdade? Não era uma... Uma história para ensinar uma criança como ela nasceu? – perguntei confusa.
- Exatamente. Ela plantava, por assim dizer, você e ela tinha sempre a cópia de Perséfone com os dons das plantas, mas sem a imortalidade. E sempre que você completava o seu ciclo e morria, ela fazia de novo. E de novo, e de novo. –
- Por que ninguém impediu? –
- Nós só descobrimos quando Hades te achou na primeira vez. Ela havia criado sigilos em sua cabeça, que sempre que ela tinha que vir até o Olimpo, ninguém conseguia descobrir onde ela estava ou o que estava fazendo. Podíamos sim ter impedido, mas as moiras continuavam falando que ele iria encontrar você, então nós a deixamos fazer isso, fingíamos que não víamos, ao mesmo tempo em que fingíamos que não sabíamos que Hades te procurava. Infelizmente demorou mais do que gostaríamos. Mas agora, que tudo foi resolvido, ela e os gêmeos foram devidamente punidos. –
- Mas... Por que ninguém a puniu quando Perséfone morreu? Por que ninguém impediu antes que o pior acontecesse e... –
- Punir Deméter quando Perséfone morreu, resultaria em ter que punir Hades também. Deméter pode ter provocado a sua morte, mas quem matou de fato foi Hades. Mas. – ele suspirou. – Todo o conselho concordou com a dor que ambos sentiam eram punições o suficiente para os dois. E não foi impedido porque foi visto pelas moiras o que aconteceria, e eu sou o que eu mais odeio não poder interferir nos fios que as moiras tecem, isso causaria um desequilibro no caos de uma forma que ninguém consegue imaginar como seria ou como seria resolvido. – ele bebeu outro gole do uísque. – Algumas coisas precisam acontecer para a vida prosseguir, e infelizmente, a morte de Perséfone foi uma delas. –
- Muitas coisas poderiam ter sido evitadas. –
- Eu sei. É horrível não poder controlar tudo, e não poder impedir que a sua própria morra. –
- E agora? Como vai ser agora? –
- Sua mãe e seus irmãos foram punidos. Terão que viver por cerca de cem anos sem os poderes como mortais em uma ilha deserta ao norte da Grécia. A única coisa que eles terão serão as suas imortalidades, eles podem ficar doentes, se ferirem, mas não morrem. A morte seria muito fácil a eles. – respondeu. – Você decide o que fazer da sua vida, mesmo as moiras tendo tecido o seu destino, você pode muda-lo. Caso você e Hades concordem eu estou disposto a permitir que ele lhe de ambrosia. Você se torna imortal, apenas isso. Não morre, mas não se torna necessariamente uma deusa. –
- E quanto a Alice? Eu não posso abandonar a única família que me resta. Antes de eu saber dessa história toda. –
- Hermes pediu para eu permitisse que Alice também coma a ambrosia. Com isso, Hades se torna responsável por você, do mesmo jeito que Hermes se torna responsável por ela. Caso alguma das duas descumpram alguma lei, quem seria penalizado será eles. –
- Está tudo bem aqui? – eu ouvi a voz de Edward vindo detrás de mim, após eu ouvi a porta se abrindo.
- Está! – ele respondeu.
- Bella. Você está bem? – ele perguntou para mim.
- Estou. – respondi.
- Você tem mais alguma pergunta para mim? – eu apenas balancei a cabeça negando. – Então, eu acho que já vou. Quando vocês decidirem o que vão fazer, me avisem. – pediu.
- Não se preocupa. – Edward respondeu e bebendo o seu último gole de uísque, ele sumiu a nossa frente.
- Eu ainda não me acostumei com isso. – resmunguei e eu o ouvi rindo atrás de mim.
- Vem comer alguma coisa. As meninas estão aí para ficar um tempinho com você. Caso queira. – eu me levantei.
- Claro que eu quero. – ele sorriu para mim. – E eu também quero ir amanhã ao submundo. – comentei parando perto dele.
- Depois de amanhã. – corrigiu-me e eu apenas ergui a sobrancelha. – Amanhã eu quero deixar aquele caos organizado. –
- Tudo bem. Depois de amanhã eu quero ir ao submundo. –
- Sim senhorita. Mas vai ter que me prometer que não vai comer absolutamente nada! – eu abri a boca. – Nem promete, me prometestes da última vez e comeu mesmo assim. Eu não vou tirar os meus olhos de você, você não vai chegar nem perto de qualquer coisa que seja comestível! – avisou e eu comecei a rir. – Tenho que te deixar longe dos juízes também, as coisas não estavam muito bem entre Perséfone e Minos... Se bem que você também tinha acabado com todas as ninfas do Cócito transformando-a em plantas, e ainda arrumou confusão com as Harpias... Melhor nem ir! Fica aqui em cima. – eu escondi a cabeça em seu peito gargalhando. – Vamos ficar aqui em cima. Vou te levar lá para baixo não, do jeito que você é, pior do que a Perséfone era, vai arrumar confusão com todo mundo! -
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