Adhara – Continente de Andrômeda –110 Depois da Conquista.
Pov. Bella.
Após Edward ter partido no dorso de Caraxes, eu voltei para o castelo com um dos guardas dos Mantos Dourados, o qual, havia eu, descoberto noite passada, que o seu nome era Calleb. Ele me deixou dentro do castelo, onde as pessoas começavam a acordar, e as que passavam por mim já me olhavam torto, era óbvio que com Edward fora, e se eu não estivesse com a princesa ou com meu pai por perto, eles iriam me olhar torto e lançar comentários desnecessários, eu sabia! Soube desde o dia em que aceitei me casar com Edward, do mesmo jeito que eu sabia, que mais cedo ou mais tarde eu iria ter que enfrentar essas pessoas, que só me tratavam bem, por meu pai ser Mão do Rei, e por eu ser melhor, se não a única, amiga da princesa Rosalie.
Ao invés de seguir para o meu quarto, digo, para o quarto de Edward que eu iria continuar dividindo com ele, mesmo ele não estando aqui, eu segui para o quarto de Rose. O guarda juramentado, que ainda estava na porta, era novo na função, mas já servia aos mantos brancos há muitos anos, portanto sabia que eu tinha livre acesso ao quarto da princesa, tanto que mal eu me aproximei da porta, e ele a abriu para mim. O seu quarto ainda estava no completo breu, ela ainda estava dormindo, mas eu já havia perdido as contas de quantas vezes havia vindo para cá durante a madrugada, e ela a mesma coisa, que era algo normal para nós duas, nenhuma das duas se importavam ou estranhavam mais o fato de termos ido dormir sozinhas, e acordamos com a outra a poucos centímetros ao seu lado. Eu me livrei de meus sapatos, e me deitei com cuidado na cama, não queria acorda-la, na verdade eu queria tentar voltar a dormir, mesmo sabendo que seria difícil.
- Ele já foi? – perguntou aninhando a cabeça próxima a minha.
- Já! – respondi suspirando.
- Ele vai voltar rápido! Não se preocupe! – ela apoiou a mão sobre a minha, afagando-a, em uma vã tentativa de me acalmar.
Em pouquíssimo tempo Rosalie adormeceu, e eu tentei voltar a dormir, falhando miseravelmente no processo, para não atrapalhar o seu sono, eu continuei imóvel na cama, quietinha, apenas olhando para o teto escuro, enquanto ainda sentia a sua mão sobre a minha. Rose acordou tarde, mais tarde do que eu estava acostumada a vê-la acordando, mas pelo visto muita coisa havia mudado em Adhara nos últimos dois anos, mesmo que não parecesse. Ela ia puxando assunto comigo, para distrair os meus pensamentos, enquanto se trocava, e ao ver que ela tinha dificuldade para dar o nó nas amarras de seu vestido, e ela se recusava a chamar a criada, eu me levantei da cama, para que pudesse lhe ajudar. E assim que o nó foi feito, uma batida forte soou na porta, e mesmo sem saber quem era, Rose permitiu a entrada, e a mesma fora aberta pelo seu guarda, que deu espaço ao meu pai, que apenas ficou parado sobre o batente da porta, sem adentrar aos aposentos da princesa.
- Não me surpreende o fato de ter dormido aqui! – comentou, ele parecia calmo demais em relação a minha presença na Fortaleza Vermelha, e uma parte do meu cérebro só conseguia pensar, que talvez, Edward tenha o ameaçado com alguma coisa, era a cara dele!
- Na verdade, eu vim para cá hoje pela manhã! – admiti. – Ele já foi! – comentei me afastando de Rose, que foi prender o cabelo, e me aproximando de meu pai.
- As suas coisas já foram levadas ao quarto dele, já que fui informado, de que não voltará ao seu! –
- Prefiro assim! – dei de ombros.
- Tudo bem! Você já não é nenhuma criança! – suspirou. – As criadas já estão indo para lá para arrumar as suas coisas e... –
- Não precisa. – eu o interrompi. – Eu mesma arrumo. Não gosto de ninguém mexendo nas minhas coisas! – ele apenas assentiu.
- Tudo bem, então! – repetiu. – Eu tenho que ir me encontrar com rei agora... – disse simplesmente. – Bom dia princesa. –
- Bom dia lorde Hightower. – nos deixando sozinhas, meu pai saiu e o guarda voltou a fechar a porta.
Eu voltei a me sentar na ponta da cama de Rose, enquanto ela terminava de ajeitar o cabelo, e como ela havia acordado bem tarde hoje, quando nós saímos do quarto, o almoço estava começando a ser servido! Eu não estava sentindo muita fome, por mais que tenha ficado quase três meses viajando para chegar até Adhara, eu ainda não havia me acostumado com a minha vida de antes, mas de qualquer forma, me obriguei a comer alguma coisa, não muito, pois, mesmo que eu não ouvisse, uma vozinha no fundo da minha cabeça dizia que os moradores do castelo, que almoçavam nas mesas a nossa frente, estavam cochichando e olhando para mim.
- Alguém perdeu alguma coisa aqui? – a voz do rei, fez com que eu desse um sobressalto em minha cadeira. Pelo visto eu não tinha sido a única a notar os olhares e cochichos para a mesa do rei, onde eu me sentava ao lado de Rose, já que meu pai, sempre se sentava ao lado direito do rei.
- Vem. – Rose esticou a mão para mim, e em silêncio deixamos a mesa de jantar. – Eles são uns idiotas, não se preocupe com isso! – falou enlaçando o seu braço ao meu.
- Eu sabia que isso iria acontecer no momento em que eu aceitei o pedido do seu tio! – apontei.
- Eles não têm nada a ver com isso, Isabella. – rebateu. – O único que podia falar alguma coisa é o seu pai, e ele não fala nada! –
- Algo que eu preciso dizer que me assusta! Até porque, vistes muito bem, que no dia em que ele foi atrás de mim, em Dragonstone, ele quase arrancou a minha cabeça fora. – lembrei-a, enquanto subíamos as escadarias, que levava ao meu quarto.
- Diz isso, porque não via o jeito que ele ficou durante esses dois anos sem ter noticias suas! Eu não falava nada, quem falava algo era o meu pai. Mas a partir do momento em que meu tio só falava que você estava bem... –
- Uma parte de mim fica surpresa por ele não ter tentado ir até as Ilhas de Verão e me arrastar de volta para Adhara pelos cabelos! –
- Meu pai não deixou! – brincou, tentando aliviar o meu desconforto, e até que havia funcionado, já que eu acabei rindo com ela. – Isso nem me surpreende, ele sempre disse que soube que você foi por conta própria! Disse diversas vezes se ele não soubesse, pela sua própria boca, pelo que eu ouvi certo dia, ele teria, ele mesmo, ido atrás de você... Agora... – ela parou de falar. – Aquilo ali me surpreende. – comentou e eu segui o seu olhar para onde ela olhava. Em frente a porta do quarto de Edward, e que agora era meu, tinha um guarda dos Mantos Dourados, ele não parecia esperar ninguém, até porque não estava com a guarda abaixada, ele estava de vigia. Enquanto Rosalie teria seu escudo juramentado, que pertencia aos mantos brancos, de guarda a sua porta eu teria um dos mantos dourados.
- Sério que isso te surpreende? – questionei rindo e incrédula para ela. – A coisa mais óbvia que Edward iria fazer era colocar alguém, se não toda da Patrulha da Cidade, de olho em mim! – comentei alto me aproximando da porta e vi que o guarda acabou rindo, como se fosse uma espécie de concordância com o que eu havia acabado de falar. – Tanto se que eu tiver andando na rua, e vir um manto dourado por perto, não vou nem estranhar! –
- E se avisar com antecedência para onde vais, ainda facilita o nosso trabalho! – ele comentou brincando e rindo ao abrir a porta para mim e eu apenas encarei Rosalie, que entrou no quarto rindo!
Entrei em meu quarto logo atrás de Rose, ainda rindo, o quarto estava abarrotado com os baús, com as minhas coisas, que haviam sido trazidas a pouco. Eu havia dispensado, através de meu pai, as criadas, portanto eu tinha muita coisa para ajeitar e arrumar, e agradecia mentalmente pelo quarto de Edward, se maior do o meu antigo, caso contrário não caberia as coisas dos dois.
- Outra coisa que me surpreende, é o fato de que meu tio era do tipo romântico, que dava presentes... – comentou quando eu comecei a arrumar as coisas, começando pela gaiola com o pássaro que ele tinha me dado, e colocado próximo a janela. Ela estava presa há quase três meses dentro de uma cabine que era praticamente escura o dia inteiro, e ficar preto da janela, sentindo o vento e o sol tocando em suas penas, faria bem a ela, até porque pegar um pouco de sol e uma brisa faz bem a qualquer um.
- Pois é. eu também me surpreendi. – admiti. – E eu ainda tinha que quase ameaça-lo para que ele parasse de me dar presentes. Se ele colocasse os pés para fora de casa, era sinal de que ele me traria alguma coisa. – brinquei e ela riu. Rosalie se pôs a me ajudar quando eu comecei a tirar as roupas dos baús para arruma-las.
- Os tecidos das ilhas são tão bonitos. – comentou com um vestido em mãos. – E as cores são tão diferentes das que temos aqui. – ela se aproximou de um espelho, que havia sido posto ali de improviso, já que estava apenas encostado contra a parede, e colocou o vestido contra o corpo, para ver como ficaria nela.
- É. Eu nem sei o que vou fazer com tanta roupa assim. Os vestidos de Adhara eram quentes e pesados demais para Walano, mesmo para os dias chuvosos, e os vestidos de Walano são finos e frescos demais para Adhara mesmo debaixo do sol escaldante. –
- Pode ser e acredito também que o lorde Hightower teria um treco ao ver a filha com um vestido quase transparente. – brincou dobrando o vestido.
- Ele só fica transparente molhado. – comentei sem pensar muito.
- E você sabe disso, por quê? – instigou.
- Melhor nem saber! – ela riu ao mesmo tempo em que bateram na porta. – Entra. – falei.
- Com licença altezas... – o guarda dos mantos dourados, entrou no aposento. - Senhora, os criados estão trazendo os moveis do vosso antigo quarto, disseram que eram ordens do vosso pai, posso permitir a entrada? –
- Quais moveis? – questionei e ele deu alguns passos para trás, para olhar para o corredor.
- Vossa penteadeira, um espelho de pé e uma cômoda. – explicou olhando para dentro do quarto de novo.
- Pode entrar! – respondi simplesmente.
Ele deu entrada e eu e Rose fomos para perto da janela, onde a pequena ave estava, para dar espaço aos criados para entrar com os móveis. Enquanto eu ia respondendo, as vossas perguntas, de onde era para coloca-los, Rose ia brincando, e quase sendo bicada, pela ave que estava dentro da gaiola. Com o quarto arrumado com os móveis novos, os criados o guarda do manto dourado saiu, deixando-me sozinha com Rosalie mais uma vez, para que pudéssemos continuar fofocando, enquanto eu arrumava, e ela atrapalhava um pouco, as minhas coisas.
- Meu tio lhe deu as joias da minha avó? – ela perguntou, ao pegar a caixinha de joias, feita em madeira, que continha o símbolo do dragão dos Swan, entalhado na tampa, de dentro de um dos baús, para coloca-la sobre a penteadeira.
- Deu. Não se importa, não é? –
- Claro que não! Por que eu me importaria? – questionou quando eu peguei a outra caixa, que ele tinha comprado na ilha, e colocado sobre a mesa, ao lado da outra. – Você é a esposa dele, natural que ele lhe desse! –
- Acha? Ele não deu a primeira esposa dele. – lembrei-a.
- Bom... Eu cresci ouvindo meu pai resmungando que essas joias iriam estragar e ele jamais daria para alguém! Pelo visto, se equivocou! – deu de ombros. – Mas, até onde eu saiba, cada um havia recebido apenas uma caixinha com joias da minha avó. – comentou encarando as duas caixinhas de joias.
- Lembra que eu disse que a cada saída de casa era um presente que ele trazia? – ela assentiu e eu abri a tampa.
- Quem é esse homem, e o que ele fez com o meu tio? – perguntou rindo e me fazendo rir com ele.
- As ilhas tinham joias maravilhosas e essa era a desculpa dele para comprar uma a cada saída de casa. – ela riu pegando um colar de esmeraldas, que estava dentro da caixa.
- Sou obrigada a concordar. São tão finas... Que pedra é essa? – perguntou pegando uma pulseira com pequenas pedrarias azuis clara. – Não lembro de tê-la vista antes.
- Seu tio disse que era água marinha. Acho que era encontrada só nas encostas das Ilhas de Verão... – expliquei.
- Vai me emprestar, não vai? – questionou e eu comecei a rir. – Sempre emprestamos as coisas uma para a outra. – eu mal tive tempo de responder e outra batida soou pela porta.
- Entra. – falei e ela guardou a pulseira dentro da caixinha de joias, e a fechando.
- Com licença senhoritas... – o rei entrou no quarto, com o meu pai logo ao seu encalço. – Quer dizer, senhorita e senhora. – ele se corrigiu nos fazendo sorrir. – Nem parece que as coisas mudaram, não é, Charlie? As duas grudadas o dia inteiro. –
- Oi majestade. Oi pai. Desejam algo? – perguntei vendo-o percorrer o quarto com os olhos, vendo as roupas, que Rosalie, havia espalhado pela cama, e notei que ele fincou, por alguns segundos, os olhos sobre a ave, que estava próxima a janela, e que a noite já estava começando a cair.
Os dois ficaram em silêncio, era notável um vinco de surpresa vendo as coisas espalhadas pelo quarto, não pela bagunça, já que Rose me atrapalhava mais do que me ajudava, mas sim pela quantidade de coisas, que Edward havia me dado, pelo visto, os dois, igual a Rose e eu, jamais esperaria uma atitude desse tipo, vindo de Edward. Enquanto ele andava devagar, pelo quarto, vendo as coisas, meu pai ficou parado na porta, e eu notei que o rei usava luva de couro, em apenas uma das mãos, luvas parecidas com as que Edward e Rose usavam para montar em seus dragões, mas estava calor demais para usar as luvas dentro do castelo.
- Eu vim procurar pelo meu irmão. – ele parou no meio do quarto, me encarando. – Não o vi o dia inteiro, achei que ele ainda estivesse se acalmando quanto a nossa discussão da noite passada. – comentou. – Mas ninguém o viu em lugar nenhum, e pela... Bagunça, ele também não está aqui... Onde ele está? – questionou.
- Ele não se encontra no castelo, majestade. –
- E para onde ele foi? – eu não respondi, mas ao mesmo tempo eu não sabia o que ele tinha visto em meu rosto com a sua pergunta, mas ele provavelmente descobrira onde o irmão estava. – Ele não foi para Stepstones! – falou entre os dentes.
- Ele foi hoje pela manhã, majestade. – admiti.
- Eu não acredito que ele fez isso! – ele se virou para o meu pai. – Eu não fui completamente claro quando eu ordenei a ele, noite passada, que não era para ele ir caso contrário eu mesmo... –
- Majestade... – meu pai o interrompeu. – As garotas... – lembrou-o, e o rei virou-se para me encarar de novo.
– Espero que tenhas aproveitado o seu marido, Isabella, porque eu vou mata-lo quando ele voltar! – ele saiu do quarto furioso e batendo a porta logo ao sair.
- Pai... Por que ele não entende que resolver a guerra de Stepstones é a melhor coisa? –
- Se não é ideia dele, ele não gosta! – meu pai suspirou. – Além do fato de o rei ser mais da política de conversa e diplomacia ao invés da política da guerra. –
- Quando o lorde Black trouxe o assunto há algum tempo, eu sugeri enviar os dragões. – Rose comentou atraindo a minha atenção. – Ele simplesmente recusou. – suspirei passando a mão pelo meu rosto, era só o que me faltava, havia “convencido” o meu marido a participar dessa guerra, e se ele ganhasse, eu corria o risco de perde-lo para o irmão.
- Não se preocupe, minha filha, o rei sempre fala que vai matar o irmão ou exila-lo do reino, mas quando ele volta, faz festa! – meu pai comentou tentando me acalmar. – Quando... Quando você acabar de arrumar as suas coisas, me procura no jardim. – pediu. – Depois de dois anos, nós precisamos conversar e muito, creio eu! –
- Sim senhor! – ele saiu do quarto, deixando nós duas sozinhas, e eu me virei para Rosalie. - Rose... – eu a chamei quando a porta se fechou. – O que houve com o seu pai? – questionei e ela me encarou confusa. – Por que ele está com luvas de montaria dentro do castelo? –
- Eu... – ela me puxou para a cama, me tirando do banco, em frente a penteadeira, onde eu tinha me sentado quando o rei chegou. – Eu ouvi o meistre falando que parece que o trono está rejeitando o meu pai. – respondeu e eu apenas ergui uma sobrancelha, sem entender nada. – Lembra, de uma das vezes que eu te levei até o crânio do Balerion, e contei que tem algumas lendas que circundam a nossa família? –
- Mais ou menos. Admito! –
- Uma dessas lendas que eu te contei, diz que, quando o rei começa a se machucar demais no trono, é porque o mesmo está rejeitando-o. – explicou e eu comecei a balançar a cabeça assentindo, agora eu tinha me lembrado daquilo. – Um pouco depois que vocês foram embora, rolou uma confusão enorme na sala do trono, ele anunciou que iria me declarar herdeira dele, e um lorde de Serpens não gostou dessa história, e no meio da discussão e que o meu pai o mandou embora, ele acabou se cortando em uma das lâminas no dedo mindinho, e ele já perdeu o dedo todo, e o outro está começando a necrosar desde então! –
- Rose... Sabe que eu não confio muito em lendas. – apontei, lembrando-a. – Aquele trono é forjado com espadas afiadas, que mesmo depois de cem anos, elas continuam afiadas. Ele é desconfortável, o seu pai vive falando isso. O corte pode ter sido um acidente mesmo, e não que ele esteja sendo rejeitado pelo trono. Até porque ele, até agora, está tendo um dos melhores reinados da história do reino! –
- Então por que ele perdeu o dedo? –
- Rose, aquelas lâminas devem estar podres! Mais sujas do que latrinas, é quase a mesma coisa que eu me acidentar na rua, as chances de a parte machucada necrosar, é grande! – apontei o óbvio. – Mas de qualquer forma, sendo uma doença ou lenda... Espero que você esteja se preparando para substitui-lo. –
- Ele está me ensinando bastante, entre as reuniões do conselho, mas os lordes do pequeno conselho ainda insistem para que ele tenha um filho homem. – ela bufou. – Já causaram a morte da minha mãe, querem causar a morte de quem agora?! – perguntou e eu levei a mão até o seu ombro, afagando-o. – Por isso ele vai se casar com a Jéssica! –
- Mas justo a Jéssica? Além de ser um péssimo gosto ter alguém como Jéssica, que sempre foi ruim em questão de etiqueta, como rainha, depois da sua mãe... – comentei e ela riu, passando os braços por entre os meus ombros e me abraçando.
- Graças aos Deuses, você voltou, amiga! Não sei como passaria por isso sem você! –
- Não se preocupe! Eu estou por você e você está por mim, sempre foi assim, não é? –
- É! – eu retribuí o seu abraço apertado e ela virou o rosto, para me dar um beijo na bochecha.
- Bom... – desfiz o abraço. – Agora eu preciso terminar de arrumar isso aqui, para ir me encontrar com o carrasco! – ela me olhou confusa quando me levantei, e ao perceber que o “carrasco” era o meu pai, ela começou a rir.
- Você tem noção, de que se casando com o meu tio, você se tornou uma princesa, não tem? –
- Ele me lembrava disso com bastante frequência. – apontei. – Mas o que tem? – questionei.
- Você tem criadas, para arrumas coisas para você! – rebateu com o óbvio.
- Mas eu sempre tive criadas para arrumar as coisas para mim, filha da Mão do Rei, esqueceu? – questionei e ela balançou a cabeça rindo. – Além do que, a senhorita sempre soube que eu sempre, sempre, preferi arrumar as minhas coisas e saber onde tudo está! –
- Está escondendo o que aí? – perguntou e eu apenas dei de ombros, sem responder nada, e ela continuou rindo.
Mesmo eu dizendo que ela não precisava me ajudar, ela insistiu em me auxiliar a arrumar as minhas coisas, na verdade, ela estava apenas de olho nas roupas e coisas que o seu tio tinha me presenteado, e pedido algumas coisas emprestadas. Quando tudo ficou devidamente arrumado, e de eu ter ajeitado as coisas de Edward também, já que era melhor ajeitar logo, do que ficar tempos com aqueles baús no meio do quarto atrapalhando a passagem. Rose seguiu para o seu quarto, e eu para onde deveria ir encontrar o meu pai.
A noite já começava a cair, nós havíamos ficado uma boa parte da tarde trancadas dentro do quarto ajeitando as coisas. Meu pai, esperava por mim ainda, no pequeno jardim, onde ainda estava o grande e velho represeiro, mesmo que a fé dos deuses antigos não fosse mais cultuada na capital, cujo lugar que a princesa adorava passava uma boa parte do seu tempo lendo, sentada entre as raízes grosas do represeiro. Em um canto do jardim, debaixo de uma marquise, com uma pequena mesa redonda, com uma jarra e uma taça de vinho, meu pai estava em silêncio, usando o resto da luz do dia, e a lamparina, que já haviam acendido atrás dele, para ler o seu enorme livro grosso.
Eu andava quase que em completo silêncio, na ponta dos pés, não sabia exatamente o motivo pelo qual eu fazia isso, até porque ele estava me esperando! Sentei-me na cadeira a sua frente, completamente imóvel, com as costas rigidamente eretas, o que até me causava um pouco de dor na lombar, e as mãos apoiadas no colo, com os dedos cruzados, enquanto eu apertava uns dedos aos outros, em completo silêncio.
- Está retraída, por quê? – questionou após alguns segundos de completo silêncio.
- Estou no aguardo! – respondi simplesmente.
- De que? – perguntou pegando a sua taça de vinho, ainda sem desviar os olhos do seu livro, e bebendo um gole do líquido arroxeado.
- Do esporro e do sermão! – mal a minha voz terminou de sair, e ele largou a taça em cima da mesa e me encarou.
- Eu deveria, não é? – rebateu. – Eu só não sei por onde começar! Vamos a cronologia. – ele usou o braço para marcar a página que estava lendo e se ajeitou na cadeira. – Você fugiu de casa, mentiu para mim que tinha se casado e que estava grávida, se casou com quem eu não queria, e me passa dois anos sem dar notícias! – uma parte de mim queria esboçar um leve sorriso, eu havia sentido falta desse tom de repreensão de meu pai, após dois anos, mas eu me limitei a não esboçar nenhuma reação.
- Eu dei notícias! – rebati em quase um murmúrio.
- A Rosalie! – falou com raiva. – Ela não é o seu pai! A única família que você tem! – ele respirou fundo se acalmando antes de continuar. – Edward só dava noticias ao irmão, e você só dava notícias a Rosalie, e eu, o seu pai, precisava saber por terceiros como você estava e se você estava viva! – acusou.
- Mas foi o senhor mesmo que disse, que caso eu escolhesse o Edward, era para fingir que o senhor não existia! – lembrei-o. – Como eu iria imaginar que o senhor queria ter noticias minhas? Eu achei que quando eu voltasse, o senhor nem olharia na minha cara, do mesmo jeito que fez quando eu pisei em Adhara depois do meu casamento! – ele suspirou.
- Quando você tiver os seus filhos, Isabella, você vai, finalmente, entender muito dos motivos que me levaram a agir do jeito que eu agi com você, não apenas naquele dia em Dragonstone, mais em todos os seus dezoito anos de vida, já que os últimos dois, eu não os vivi! – falou, e eu me senti completamente culpada. – Eu sempre soube do jeito que o Edward tratou a Nettie, cinco anos de casamento, com ela no Vallis e ele aqui, vivendo entre os bordeis da baixada das pulgas, torneios e arrumando confusão com quem lhe olhasse torto, como eu poderia permitir, e pior, aceitar, o seu casamento, da minha única filha, com alguém tipo ele? – questionou. – E não me venha com a mesma desculpa que ele usa... Eu nunca quis me casar com a Nettie... Muita gente não tem a chance de se casar com quem gosta, e nem por isso tratam a esposa do jeito que ele tratou. –
- Alguns tratam até de um jeito pior. – respondi em um fio de voz.
- Fala para fora! Não tinha voz para me confrontar em Dragonstone? Então tenha voz para falar agora também! –
- Eu disse, que alguns ainda tratam de um jeito muito pior do que ele tratou. – falei para que ele ouvisse. – Ele apenas a ignorou por quase cinco anos, e já que ninguém liga caso um homem traia uma mulher, então, nada do que ele fez com ela foi um crime, para o senhor agir desse jeito! –
- E você iria gostar que ele traísse você com todas as putas de Adhara, isso se não, com todas as de Andrômeda e dos continentes em volta? Além é claro, de te ignorar só por cinco anos. –
- Não teria como ele me ignorar, porque eu estaria aqui em Adhara! – apontei e meu pai me olhou feio. – Papai... Ele está diferente, ele não lembra mais quase nada do que ele era quando ainda estava casado com a lady Nettie. – comentei. – Ele sempre me tratou bem, sempre, desde do dia em que eu o conheci, e nunca tentou nada comigo, até eu ter dezoito anos, além do que, comigo, ele sempre foi um perfeito de um cavalheiro. – apontei, frisando bem o comigo, pois eu sabia muito bem como ele era com os outros. – Só que o senhor continua nessa sua implicância com ele, a qual, eu sinceramente, nunca entendi de onde veio, e não percebe o quanto ele mudou! Pelos Deuses, papai, ele veio pedir a minha opinião, querendo saber se eu queria ou não que ele se juntasse a essa guerra. – ele suspirou. – Em qual momento da vossa vida o senhor viu, ou imaginou, que o Edward iria pedir opinião para alguém, principalmente para uma mulher?! -
- Ele comentou essa última parte. Admito que fiquei bem surpreso quanto a essa opinião que ele te pediu, do mesmo jeito que ele pediu a sua opinião quanto a ascensão ao trono de ferro. – ele balançou a cabeça, como se tentasse evitar falar alguma coisa. – Eu odeio admitir que ele é quase uma nova pessoa, em comparação ao Edward de há uns três anos. – resmungou em um fio de voz, e foi impossível não esboçar um sorriso. – Realmente estou surpreso por ele ter te trazido de volta viva e inteira! – o sorriso morreu no mesmo segundo.
- Papai. –
- É a verdade, Isabella! – falou firme. – Eu fiquei dois anos sem saber onde você estava, como você estava! Então sim, eu estou surpreso por você estar viva e inteira! Ainda mais com você perto daquele monstro que ele monta, e principalmente depois de ter te dado aquela fera... –
- Foi a princesa que me deu a Tessarion! –
- Não importa, ele permitiu! E eu sempre te falei que eu não queria você perto daqueles monstros. –
- A Tessarion é um amor, papai. E o Caraxes não é um monstro, nunca sequer rosnou para mim! Eles são temperamentais iguais a qualquer outro animal e principalmente, igual as pessoas. Gostam de uns e não gostam de outros! – dei de ombros. – Venha comigo até o fosso amanhã para conhecer a Tessarion! – sugeri e ele começou a balançar a cabeça negando.
- Eu não sei o que é pior! Você casada com ele ou montando naquela coisa! –
- Ela ainda é pequena demais para isso! –
- Espero não estar vivo para ver você montar naquilo! – resmungou pegando a sua taça para beber outro gole de vinho. – Agora... Seja sincera comigo, pela primeira vez na sua vida... – pediu repousando a taça contra a mesa de novo.
- Eu sempre fui sincera com o senhor, papai. – eu o interrompi. – Menos naquele dia em Dragonstone. – admiti.
- Então começaremos por aí. – ele tirou o braço de dentro do livro, e o fechou completamente, colocando-o no canto da mesa. – Melhor, voltemos um pouco mais. Quando você começou a se esgueirar pelos corredores do castelo com o Edward? Já que eu já sei, pelo próprio rei, que você ficou se encontrando com ele antes de simplesmente fugir para Dragonstone! –
- Nunca! – admiti. – Eu sempre me encontrei com ele fora do castelo e durante a noite! –
- Como? Se o guarda da sua porta nunca te viu saindo de lá a noite. –
- Pela sacada. – ele me olhou confuso. – O Caraxes voa! – lembrei-o, e ele fechou os olhos e as mãos em punhos e respirou fundo. – Mas nós nunca fizemos nada, o máximo que fomos foi passar algumas noites sobre as pedras de Dragonstone, vendo o tempo passar, mas nada! – me apressei em dizer.
- Você dormiu com ele antes de estar casada? – questionou entre os dentes e com os olhos fechados.
- Vai acreditar se eu dizer? – ele apenas assentiu. – Não! Ele nunca tocou em mim antes do alto septão nos casar. – contei uma pequena meia mentira. – Disse que queria fazer as coisas direito, e as coisas direito significava relações só depois do casamento. –
- E por que mentiu para mim? – ele relaxou as mãos, ao abrir os olhos.
- Porque eu queria ficar com ele. E o senhor não iria permitir. E eu... – sorri de canto. – Eu me lembrei de ter lido uma vez que um casamento com filhos não poderia ser anulado sob nenhuma circunstancias sob a lei de Andrômeda, sendo filhos nascidos ou ainda no ventre. – dei de ombros. – E bom, já que o senhor não iria aceitar de jeito nenhum, eu lembrei de um jeito de fazê-lo aceitar querendo ou não! –
- Ardilosa você... Não esperava isso. –
- E eu fugi porque eu sabia que o senhor não permitiria, além de querer me obrigar a todo custo a me casar com um garoto de doze anos. –
- Ainda acho que os Denali, principalmente o garoto morto, era um partido melhor ainda para você! – suspirou. – Principalmente se eu quisesse te deixar presa em uma gaiola! – comentou e eu fiquei chocada.
- Papai. O senhor mesmo comentou algumas vezes quando eu era criança, que o senhor mesmo fugiu com a mamãe, porque sabia que ninguém aqui em Andrômeda iria permitir que os senhores fossem felizes! Não pode me julgar pelo que eu fiz! –
- E aonde essa fuga nos levou? – questionou olhando para a mesa a sua frente. – Dois filhos e eu os criando sozinhos porque eu perdi a minha esposa cedo! –
- Foi um acidente o que aconteceu com a mamãe, não significa que vai acontecer o mesmo comigo! – ele respirou fundo.
- Carlisle tem razão! – comentou mudando de assunto. – Esse tempo que você passou nas Ilhas de Verão te fizeram bem! Você não nasceu para ficar presa em uma fortaleza, sempre soube disso, mas depois que eu perdi a sua mãe, eu tentei te proteger o máximo que pude para não te perder do jeito que eu a perdi. Esse tempo que ficou fora de Adhara me provou isso! E isso só piora a situação, você experimentou a liberdade e agora não vai querer perder! E isso vai me deixar completamente preocupado. Durante dois anos eu vivia subindo pelas paredes tentando imaginar o que acontecia a milhares de quilômetros daqui, em um lugar onde você não conseguiria sair sozinha, caso precisasse, um lugar completamente novo, com pessoas e cultura distintas com as quais você não estava acostumada, um lugar onde não tinha como eu ir te buscar caso algo estivesse errado, pois até eu cruzar todo o mar de verão algo já teria acontecido! Eu passei dois anos rezando para você, para Carlisle, Rosalie e até mesmo a princesa Gianna e o seu próprio irmão, Mike, estarem certos, e que Edward não estava te tratando do pior jeito que eu poderia imaginar. E foi uma enorme surpresa você chegar na fortaleza ontem bem, viva, inteira, e se eu puder ser sincero, infelizmente, para mim, você estava feliz! Pois isso me obrigava a concordar com as pessoas de que ele havia mudado, e eu simplesmente, não estou pronto para aceitar isso! –
- Quanto a não querer perder a liberdade, de certa forma eu a perderei, pelo menos enquanto Edward estiver em Stepstones! – dei de ombros. – Espero que isso acabe logo, mesmo sabendo que uma guerra não acaba da noite para o dia! –
- Terá que ser bastante paciente! – disse simplesmente se ajeitando, de novo, na cadeira.
- Eu nunca fui muito boa em ser paciente! – apontei e eu o ouvi rindo, era a primeira vez que eu ouvia o meu pai rir para mim há anos, eu não ouvia antes mesmo do meu casamento – Papai... – eu me sentei na ponta da cadeira, para me aproximar mais dele. – Eu quero ficar tranquila e bem com o senhor, ficar o mais perto possível da relação que tínhamos... Como o senhor mesmo disse, somos só nós três. Eu, o senhor e o Mike, e eu não quero andar desviando pelo castelo para evitar o senhor devido ao meu casamento e... E por favor nisso, onde está o Mike? – questionei mudando de assunto de repente.
- Em Oldtown! Ele é escudeiro do seu tio. – explicou. – Mas eu enviei a ele ontem um corvo ontem avisando que você voltou! Disse para que, quando ele tivesse um tempo, viria até a capital, para lhe ver! Ele ficou do seu lado durante esses dois anos! –
- O que é uma surpresa depois de tantos problemas que eu o meti! –
- Ah... Que bom que finalmente você admitiu isso! – foi impossível não ter rido. Eu sempre aprontava e colocava a culpa nele. – Filha... – ele mudou tanto o seu tom de voz quanto a sua postura, também te aproximando de mim, e apoiando os braços em seus joelhos. – Vai ser difícil confiar em você de novo depois de tudo o que você fez, depois de todas as mentiras que você contou! Eu preferia quando eu achava que ele tinha te sequestrado, e assim eu poderia colocar a culpa toda nele. – eu balancei a cabeça sorrindo. – Agora, qualquer coisa que você me falar, eu vou ficar com a pulga atrás da orelha, você vai estar me falando a verdade ou não? Quando você vai inventar, da noite para o dia, simplesmente, pegar as suas coisas e sumir de novo e ficar anos sem dar notícias. – ele suspirou. – Mas como não tem remédio. E com você sabendo que, eu ainda não gosto, não apoio e não concordo com esse seu casamento, mas eu vou respeitar a decisão que você tomou, mas pode ter certeza, Isabella, na primeira merda que ele fizer, eu vou olhar no fundo dos seus olhos e falar eu te avisei! Com você sabendo disso, nós podemos nos acertar! Eu falei muita coisa quando estava furioso, do mesmo jeito que eu sei que você também falou, portanto, e peço perdão. Eu jamais machucaria você, quanto mais te matar. – ele afastou os braços dos joelhos. – Vem cá! - ele me chamou, e eu me levantei da cadeira e ele abriu os braços para mim, e igual à quando eu era uma criancinha, eu me sentei em seu colo, deitando a cabeça em seu peito, enquanto ele me abraçava. – A confiança foi quebrada, acredito eu que das duas partes, mas com o tempo nós vamos poder remenda-la. – comentou com a bochecha apoiada na minha cabeça. – Você é a minha menininha, a única que eu tenho! Você é o mais perto que eu tenho da sua mãe, e eu, definitivamente, não quero perder você! – ele afagou o meu braço coberto pelo tecido do vestido e beijou-me a testa.
- Eu te amo, papai. – eu senti os seus lábios se repuxarem em um sorriso contra a minha testa.
- Eu também te amo, minha filha! – ele afagou o meu braço de novo. – Qualquer coisa venha falar comigo, qualquer coisa que precisar ou qualquer coisa que sentir. – eu apenas assenti. – Prometi, não acredito que vou falar isso, mas eu prometi ao Edward que, periodicamente, irei enviar notícias suas a ele! –
- Tudo bem, papai, não se preocupe. –
- Com licença, lorde Hightower. – um valete apareceu no nosso pequeno campo de visão, e sem afastar a cabeça da minha, ele esperou pelo que o valete falasse o que tinha vindo fazer aqui. – O rei deseja vê-lo. Ele está no quarto, com os meistres! –
- Tudo bem. Pode ir! – o valete voltou pelo corredor, que tinha saído, e ele beijou-me a testa de novo. – Eu preciso ir, o dever me chama. –
- O que o rei tem, papai? – perguntei sem me afastar ou sem sair do colo dele. – Rose comentou sobre a lenda do trono estar rejeitando o rei! –
- Os meistres falam isso. Ele se feriu no trono e não cuidou direito no inicio e acharam melhor cortar o dedo, mas parece que a doença está começando a se espalhar pelos outros dedos! – comentou baixo para que ninguém ouvisse, mesmo que não tivesse mais ninguém ali. – Não comenta com ninguém, minha filha, ninguém sabe de nada ainda! –
- Não se preocupe, não falo com mais ninguém nesse castelo sem ser a Rosalie. – suspirei. – Deixa eu perguntar. Eu sei que jurou lealdade a Rosalie por obrigação, mas não está apoiando a ideia do rei de ter um filho homem, está? –
- Por questões de alianças e negócios, ele deveria se casar com Jane Black. Ele mesmo diz que, por mais que Jéssica lhe dê cinquenta filhos homens, ele não vai tirar a sucessão de Rosalie. Mas se quiser ver a sua amiga no trono, peço que peça a ela, para se dedicar mais nos estudos ao invés de ficar voando com aquele dragão o dia inteiro. Ou então que aceite a ideia de se casar, e que arrume um pretendente logo, já que o rei está sendo bastante cordial e permitindo que ela escolha quem ela quer! Porque os lordes, por mais que tenham jurado lealdade, eles se recusam a aceita-la no trono. –
- Eu vou conversar com ela. – falei simplesmente e dessa vez, me levantei de seu colo. – O rei está esperando. –
- Eu devo sair dessa conversa com rei muito tarde, minha filha. Portanto, nos vemos amanhã. – eu apenas assenti. Meu pai pegou o livro que estava em cima da mesa e ajeitou em seus braços. – Se alguém lhe tardar mal, venha me dizer imediatamente quem foi, eu não vou permitir que ninguém lhe maltrate. – balancei a minha cabeça assentindo mais uma vez, e beijando-me a testa, ele partiu para dentro do castelo, me deixando sozinha.
Eu fiquei mais uns minutos ali sentada na cadeira que eu estava anteriormente enquanto conversava com o meu pai, e quando um vento bem frio se aproximou de mim, devido a chuva que havia acabado de cair, eu apenas me levantei e segui para o lado de dentro do castelo, onde era um pouco mais quente. Estava me aproximando do salão de jantar, quando Rose me parou e simplesmente me puxou para o seu quarto, para jantarmos lá, sem termos que aturar o restante dos moradores do castelo, já que tanto o seu pai, quanto o meu, não desceriam.
Estava deixando o quarto de Rose, já era bem tarde e acreditava eu que uma boa parte do castelo já estava recolhida em seu quarto. Sozinha e em silêncio, eu ia passando pelos corredores escuros e silenciosos, e quase desertos, se não fosse pelos guardas de ronda e valetes nas portas dos ministros do pequeno conselho do rei. Estava quase me aproximando do meu novo quarto, quando os meus passos foram bloqueados. Eu andava olhando para o chão, devido ao corredor bem escuro, eu preferia olhar para o chão para poder enxergar bem os degraus e desníveis, e ao ver uma saia verde esmeralda parada a minha frente, eu parei e levantei os olhos.
- Jéssica! –
- Isabella. Soube da sua volta! – falou falsamente, até porque ela nunca falou comigo de forma sincera ou direito, sempre me tratou mal.
- Mesmo? Eu também soube do vosso golpe! –
- Golpe? – perguntou erguendo a sobrancelha sem entender nada. – Não entendi. –
- O que? Vai me dizer que vai se casar com o rei porque está apaixonada por ele? – questionei. – Ele tem idade para ser o seu pai! Além é claro, que não podemos nos esquecer dos boatos que a cercam sobre os últimos anos de vida do rei Marcus! – ela me encarou feio.
- Lembre-se com quem você está falando. – ela rosnou para mim. – Eu não vou permitir que... –
- Até a coroa repousar na sua cabeça, você não tem que permitir nada! – lembrei-a. – Eu sei muito bem com quem eu estou falando, com uma cobra! O que você sempre foi! Uma completa e asquerosa cobra! –
- Para que você voltou? Não bastava sujar o nome do seu pai, da sua casa, fugindo com um homem de caráter bem duvidoso, voltou para que? Para terminar de chafurdar o nome Hightower na lama? Algo que não é muito difícil, não sei porque o rei e o reino têm tanto fascínio assim pelos Hightower, tem mais fama do que deveria, acho que é por ser apenas uma família rica, igual a sua amizade com a princesa, é uma amizade só por título, e não por lealdade. Andrômeda só gosta dos Hightower por interesse e não por lealdade. –
- Jéssica, você sempre soube, que eu sempre odiei ter que me fazer por títulos e posições. Mas permita-me lembra-la de algumas coisas. Primeira. O homem de caráter duvidoso, é o meu marido, e é o seu príncipe, irmão do rei, e consequentemente, alguém com muito mais direitos monárquicos do que você jamais terá na sua vida. Em segundo lugar, você, por enquanto, é só a filha do lorde da moeda, o meu pai é a Mão do Rei, e você gostando ou não do meu casamento com o príncipe, isso também me faz uma princesa, o que aumenta mais ainda a minha posição sobre você! E em terceiro e último lugar, eu não tenho que te dar satisfações do que eu faço ou deixo de fazer da minha vida, portanto, tire o nome da minha família da sua boca! Você só está noiva do rei, até o alto septão os casar e a coroa repousar sobre a sua cabeça, você não é ninguém! Ponha-se no seu lugar! Você sequer sabe o que lealdade significa! Sendo por interesse ou não, a minha família é muito mais bem vista do que a sua! Não ouse falar nunca mais da minha amizade com a princesa, do meu casamento e nem da minha família! –
- Quanto a isso não se preocupe. Assim que eu me casar o seu pai deixa de ser Mão do Rei... Acha que o rei vai ouvir mais a esposa dele ou o seu pai? –
- Pago para ver! O rei sabe o que significa lealdade, e o meu pai e a minha família sempre foram leais ao rei! -
Eu não esperei que ela falasse mais nada, eu contornei o seu corpo e continuei trilhando o meu caminho até o meu quarto. Eu sempre detestei Jéssica, de início quando ela havia chegado na corte era um amor de pessoa, prestativa e tudo mais, sempre trabalhada na falsidade, igual uma verdadeira cobra, a rainha Esme jamais gostara da presença dela e de sua família na fortaleza vermelha, e o sentimento que a rainha e a princesa sentiam, se tornaram piores quando boatos que Jéssica havia se deitado com o rei Marcus começaram a surgir após ela passar diversas noites com ele nos aposentos reais, lendo para ele, algo bem similar ao que ela tinha feito com o rei. E mesmo assim, mesmo sabendo dos sentimentos que a princesa e que a rainha tinham sobre ela, ela tentava a continuar empurrando uma “amizade” para cima de Rosalie, e ao perceber que ela jamais faria parte do nosso “grupinho”, como ela mesmo chamava, ela passou a nos tratar do pior jeito possível, melhor dizendo, ela passou a me tratar do pior jeito possível, já que ela jamais havia tido culhão suficiente, ou então, ela não era burra o suficiente, para falar algo contra a princesa, mais eu sentia, no fundo do meu amago, que assim que a coroa de rainha consorte de Andrômeda repousasse em sua cabeça, ela iria nos tratar pior que lixo, nos “fazendo pagar” por tudo o que causamos a ela, como ela havia dito isso diversas vezes durante a nossa adolescência.
Sendo que jamais havíamos feito alguma coisa ela!
Alguns dias tinham se passado desde a partida de Edward, o rei mal olhava na minha cara, eu não sabia se a pequena discussão que eu tive com Jéssica havia chegado em seu ouvido, ou se era porque olhar para mim fazia-o se lembrar de seu irmão que havia descumprido a sua ordem direta, mas de qualquer forma, Rosalie também me deixava bastante tempo longe dele, mal nos víamos. Rose queria aproveitar que o dia estava bom, e o seu pai havia lhe dado “folga” das reuniões do conselho e queria ir até o Fosso para que pudesse ver com os próprios olhos quanto a Tessarion havia crescido e também, porque eu soube pela própria princesa, que Tessarion estava agoniada dentro fosso, o próprio mestre guardião do lugar havia vindo duas vezes comentar com o rei, eu queria ir até lá e solta-la, ela havia sido criada por dois anos solta, ela não estava acostumada a ficar presa em um lugar escuro, úmido e fechado, mas eu sabia que era ordem do rei que nenhum dragão, independentemente do tamanho, poderia ficar solto sobre os céus da cidade, e isso era o suficiente para me fazer me arrepender de ter voltado.
Eu estava indo esperar por Rose na escadaria do castelo, havia avisado ao manto dourado, cujo nome eu descobri posteriormente que era John, que iria ao fosso com a princesa, ele já iria atrás de mim mesmo, porque não avisaria logo?! Mas antes que tivesse a chance de descer o lance de escadas que saíram do corredor do meu quarto, um criado de meu pai veio me chamar, meu pai me esperava em seu quarto, queria falar comigo urgentemente, e eu apenas girei em meus calcanhares para que pudesse voltar a subir outro lance de escadas até a torre mais alta da fortaleza. Eu e meu pai estávamos nos dando bem, mal tinha se passado uma semana desde a minha chegada, e até o momento estávamos bem e na paz, ele não mencionava o nome de Edward e eu tampouco. Ele porque não queria lembrar e eu porque não queria sentir mais ainda a ausência que eu sentia.
- Entre. – eu ouvi a sua voz após o guarda da porta lhe batido duas vezes na mesma ao me ver, e ao ouvir a voz de meu pai, ele prontamente abriu a porta para que eu entrasse.
- Me chamou? – perguntei vendo que estava sentado em sua cadeira em frente a uma enorme mesa de mogno preto debaixo de uma enorme janela e com a mesa completamente abarrotada de papeis.
- Sim. Tenho... Dois recados para você... – ele comentou mexendo nos papéis. – Primeiro... – ele continuava procurando por algo. – Seu irmão mandou um corvo. Ele não poderá deixar Oldtown ainda. Seu tio adoeceu e ele está a frente da administração da cidade até que ele se recupere, e espero eu que não demore tanto, a última coisa que eu quero, é ter que voltar para cuidar de Oldtown e de Hightower caso algo aconteça com o seu tio. – ele divagou um pouco enquanto continuava a mexer nos papeis. – Ele disse que está bem, sente a vossa falta, e que assim que o tio de vocês se recuperar e reassumir a administração da cidade, ele vem lhe ver! Disse que tem novidades, tanto para você quanto para mim, mas só irá me contar quando tiver certeza... –
- Entendido. E o segundo recado? – questionei.
- Estou procurando... É tanto papel... – reclamou. – Achei... Aqui... – ele me entregou um pergaminho enrolado e com o lacre rompido. - O meistre teve que abrir, ninguém reconheceu o selo. – ele me entregou. – É de Edward! Ele mandou de Cetus. –
- Onde? – questionei confusa. – Ele disse que iria para Mensa. – expliquei.
- Sim, e pelo que está escrito aí, de Mensa eles partiram para o norte de Saggita, atrás de mais mercenários. – explicou. – Disse também que assim que tiver um lugar para que eu mande noticias suas, ele irá dar informações, mas as primeiras eu posso mandar para Driftmark. –
- O senhor leu a mensagem que o meu marido me mandou? – questionei e ele me encarou meio sem jeito.
- Desculpe. Força do habito! – eu apenas suspirei. – Não farei de novo! Irei enviar logo um corvo a Driftmark com noticias suas antes que eu me embole mais ainda no que eu estou fazendo, portanto, estais bem? – eu apenas assenti. – Não está sentindo nada? Sem problema nenhum? – continuei negando. – Muito bem. Algum recado para dar a ele? – neguei mais uma vez e ele me encarou.
- Qual recado posso dar? Volte logo?! – dei de ombros. – Mande apenas que eu estou bem. – ele apenas assentiu. – Posso ir? Vou até o fosso ver a Tessarion com a princesa. –
- Pode ir! Volte antes do almoço, eu gostaria da vossa presença no salão de jantar. –
- Serei obrigada a recusar. Não quero ficar presenciando os cochichos dos moradores e tampouco ficar sentindo os olhares gélidos do rei, e se eu puder ficar longe de Jéssica, melhor ainda! – ele nem me encarou, apenas ficou olhando para a mensagem que escrevia, provavelmente ao meu marido.
- Em primeiro lugar, você sabia que iria receber esses cochichos quando voltasse, arque com as consequências dos seus atos. Em segundo lugar, o rei está furioso com a desobediência do irmão, e não está sabendo não descontar em você, irei conversar com ele, pela décima vez, quanto a isso. Ele colocou na cabeça, que o fato de o príncipe ter renunciado o trono a favor da Rose, por, você gostando ou não, influência sua, ele esperava que você o influenciasse a não ir a essa guerra. – ele respirou fundo, enrolando o pergaminho e derramando um pouco de cera verde derretida. – E em terceiro e último lugar, não arrume confusão com a Jéssica, em menos de três meses ela será a nossa rainha, gostemos ou não! – ele pressionou o seu selo na cera ainda líquida. – Scott. – ele chamou alto, e o seu valete apareceu em questão de segundos.
- Vossa graça... –
- Entregue ao meistre e diga que é para enviar ainda hoje para Driftmark. –
- Sim senhor. – ele pegou o pergaminho enrolado e saiu da sala, e meu pai me encarou.
- Irei ter a vossa presença no salão de jantar para o almoço? –
- Tudo bem! – suspirei esperando o valete deixar o quarto. – Mas só para deixar claro, eu sempre soube que teria que arcar com as consequências de meus atos, mas já tem uma semana que eu voltei, ainda não aconteceu mais nada na corte para as pessoas desviarem a atenção de mim?! E eu não tenho nada a ver com as decisões que o Edward toma, se eu o influenciei uma vez ou não, não significa que ele vai fazer tudo o que eu quiser, se ele quer ir à guerra, não serei eu que irei proibir ou tentar convencer do contrário, mesmo querendo muito, mas eu sei melhor do que ninguém que não se deixa um guerreiro fora de uma guerra, do mesmo jeito que eu já falei para o senhor, que é uma hipocrisia o rei não querer se meter sendo que o mais afetado é ele... E para terminar... Aconselhe ao lorde Strong ou ao rei, a deixar Jéssica longe de mim, já que ela anda falando mal do meu marido, e consequentemente do príncipe dela e irmão do rei. Da minha amizade com a princesa. – meu pai apenas suspirou. – Além do fato de estar falando mal da vossa casa e praticamente do senhor, meu pai! – eu apenas me virei para sair do quarto. – E da próxima vez que ela fizer isso, eu não vou responder por mim, ela tendo uma coroa sobre a cabeça ou não. -
- Volta! – mas a sua voz me impediu, e eu apenas me virei de frente para ele. – O que ela disse sobre a minha casa? –
- Que eu voltei para terminar de chafurdar o nome dos Hightower na lama, e que não entendia todo o fascínio que o rei e o reino têm pelo senhor e pela nossa casa, que ninguém é leal aos Hightower, é apenas interesse por seremos uma das casas mais ricas de Andrômeda, e basicamente que o pai dela deveria ser a Mão do rei e que irá convencer o rei quanto a isso quando se casar! Pois na cabeça dela, o rei irá ouvir a ela e não ao senhor! – ele não falou nada. – Posso ir? – apenas assentiu e eu me virei deixando o seu quarto. Eu conhecia o meu pai, você podia fazer o que quiser com ele, menos insultar a nossa casa, eu não duvidava nada de que ele iria levar isso até o rei!
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