Transilvânia – Romênia.
Inverno de 1579.
Narrador.
Quinze anos tinham se passado desde que as três garotas da aldeia tinham sumido e nunca foram encontrados, nem vestígios. Isabella agora era uma mulher solteira de vinte e quatro anos. Ao longo desses quinze anos sacrifícios com mulheres não virgens, foram feitos, todas as famílias passaram a casar suas filhas no outono, para tentar evitar que elas fossem escolhidas, mas isso adiantava, sem contar com o fato de que a besta bebedora de sangue não se saciava com as não virgens e todo inverno três a quatro garotas sumiam misteriosamente de suas camas, mas quem as levava, jamais havia chegado perto da casa dos Swan.
No inverno de 1565 e 1566 Isabella ouviu a voz mais uma vez quando as garotas foram levadas, e do inverno de 1567 em diante, ela nunca mais a ouviu, se ela acordasse com os gritos, ela simplesmente cobria a cabeça e tentava ignorar os mesmos. Ela nunca mais ouviu aquela voz.
Seu pai não tinha voltado a caçar durante o inverno, ele havia preferido abastecer a despensa durante os últimos dias do outono para não ter que se ausentar durante os dias frios e evitar ser atacado por outro lobo que também estava a caça de comida. Porém, no último inverno, há um ano, seu pai havia ficado doente e nenhum médico da aldeia tinha conseguido salva-lo e ele acabou falecendo logo após pedir perdão a filha por não tê-la casado antes que ele partisse, pois ele sabia que agora com a sua morte, não tinha ninguém para evitar que ela fosse entregue a besta da floresta.
E foi o que aconteceu, na primeira tempestade de neve, no dia posterior a mais uma garota desaparecer, os aldeões conseguiram tirar Isabella de casa, a mesma continuava bem protegida pelas trancas que o seu pai colocou na sua infância, ninguém conseguiria entrar, mas isso não os impedia de a obrigarem a sair, ateando fogo na casa. Ou Isabella morreria queimada ou ela saia.
E no desespero, sem saber o que a aguardava do lado de fora.
Ela saiu!
Estava muito frio, a jovem tremia sem conseguir se mexer, o seu vestido fino não suportava a vento congelante e a neve que caía sobre sua cabeça, sempre que ela tentava se mexer para tentar se esquentar, em vão, ela sentia as algemas congeladas apertarem mais ainda os seus tornozelos e os seus pulsos. Os cortes que haviam sido feitos em seus braços e pernas tinham estancado, mas as feridas ainda ardiam absurdamente quando o vento congelante passava entre ela com força. Seus cabelos castanhos estavam completamente brancos devido a neve que não parava de cair, era difícil manter seus olhos abertos devido aos flocos brancos em seus cílios. A jovem sentia os dentes batendo de forma absurda e mesmo sem ver sabia que seus lábios estavam ficando azuis do mesmo jeito que os dedos de suas mãos e de seus pés.
- O que fizeram com você? – ela ouviu uma voz masculina bem perto dela. Ela se lembrava daquela voz, muito vagamente, era uma voz que ela tinha ouvido quando era criança em uma situação similar, o frio e a neve eram o mesmo, mas daquela vez ela não estava amarrada, só perdida. Ela levantou a cabeça e por cima dos cílios cobertos pela neve, ela reconheceu o homem de negro a sua frente.
Ele não havia mudado nada desde a primeira e última vez que ela o viu… há dezessete anos.
- O que eles fizeram com você? – perguntou com a voz furiosa.
- Eu… - ela falou com a voz sôfrega devido ao frio e a dor que ela sentia. – Eu conheço você! –
- Sim. Você me conhece! – os olhos dele marejariam se pudessem. Edward virou para trás, olhando para as montanhas do lado oposto de onde o seu castelo ficava. Ele sabia o que estava acontecendo, ele sabia quem estava vindo. – Eu preciso te tirar daqui! – ele se aproximou rápido dela e tirou a sua capa, colocando contra os ombros cobertos pelo tecido fino de seu vestido para aquecê-la e em uma vã tentativa de encobrir o cheiro de seu sangue.
- Isso não solta… - ela choramingou se referindo as correntes e colocando os dedos frios entre o seu pulso e a algema, ele apenas puxou as quebrando.
- Sem perguntas até sairmos daqui! – mandou simplesmente quebrando a corrente de seu outro pulso. Assim que ele segurou as algemas de um de seus tornozelos, eles ouviram um uivo de um lobo longe, mas como se estivesse se aproximando furioso e faminto.
- A… besta é um lobo? – perguntou cansada, Edward ouvia os batimentos de Isabella diminuindo e sabia que em poucos minutos ele pararia de bater devido ao frio.
- A besta sou eu! – respondeu simplesmente quebrando a algema de seu tornozelo. – Quer dizer… Eu e a outra que mora do outro lado da floresta! – ele quebrou a outra algema. – Mas os sacríficos não são para mim. – com cuidado ele a pegou no colo e ela chiou devido a dor. – Me perdoe. Por mais que eu não queria pedir isso… fecha os olhos. – pediu e ela os fechou.
Edward ouviu o uivo de novo e ao se virar para onde ele vinha, ele viu o lobo negro saindo da floresta e expondo os dentes ao ver que ele tinha o seu sacrifício no colo, em segundos o lobo avançou na direção dos dois e uma nuvem negra tomou conta de Edward, transformando seu corpo em centenas de morcegos que voaram em bando na direção do castelo na montanha.
Os morcegos sumiram, fazendo com que o corpo do homem voltasse ao normal, dentro de um grande salão com uma enorme lareira acessa com o fogo bem forte.
- Abre os olhos. – ele pediu ao coloca-la no chão, sobre um tapete grosso em frente ao fogo para que ela se aquecesse.
Bella abriu os olhos e olhou em volta vendo que ela não estava mais naquela clareira e sim em um salão de paredes de pedra, com cortinas negras cobrindo a janela e uma grande lareira a sua frente.
- Onde eu estou? – perguntou com a voz baixa e apertando a capa que Edward tinha posto em seus ombros para que se aquecesse mais rápido.
- No meu castelo. – respondeu ele com a voz calma. – Eu vou mandar alguém vir aqui cuidar de você e depois que você se aquecer e descansar, eu venho te ver. – ele se levantou e se afastou, ela estava se aquecendo, seu coração voltaria a bater normalmente e ele sabia que isso iria fazer o sangue voltar a escorrer e ele precisava se afastar antes que isso acontecesse. – Só me responde uma coisa. – pediu perto da porta e longe dela. – Como o seu pai permitiu que eles fizessem isso com você? –
- Meu pai faleceu há um ano. – ela respondeu e ele se obrigou a engolir em seco. Talvez se ele não tivesse parado de vigia-la, Charlie ainda estaria vivo.
- Depois eu venho conversar com você. – ele saiu do quarto ao sentir o cheiro de sangue ficando mais forte.
No meio do corredor ele esbarrou em Esme, que tinha uns panos e uma pequena bacia de água em mãos. Esme morava com ele há anos, era como se fosse uma mãe, sendo que na verdade era apenas mais uma das mulheres da aldeia que ele tinha conseguido salvar.
- Viva? – ele apenas assentiu.
- Cuida dela. – pediu. – Ela… ela é diferente. – Esme piscou os olhos confusa e ele simplesmente seguiu pelo corredor e foi embora.
Parada em frente a porta, Esme respirou fundo, ela conseguia se controlar com o cheiro de sangue, mas ela precisava respirar um ar puro e limpo antes de chegar perto dele, fora isso, ela conseguia se controlar. E com os pulmões cheios de ar fresco e gelado, ela entrou no salão.
- Boa noite, meu bem. – disse sorrindo. – Como está? – Bella virou a cabeça para saber quem tinha entrado na sala e Esme se sobressaltou derrubando a pequena bacia com água no chão. – Meu Deus! – ela tinha entendido o motivo de ela ser diferente. Ela se obrigou a engolir em seco e o seu susto fez com que todo o ar limpo que tinha em seus pulmões sumisse e o cheiro do doce e quente sangue de Isabella, preenchesse os seus pulmões. – Que sujeira que eu fiz! – apressada, ela se aproximou de Isabella. – Por favor, faça pressões contra os machucados… - ela tentava não respirar fundo. – Eu vou pegar mais alguns panos e água e eu já volto. – ela não esperou que Isabella respondesse e saiu do salão.
Ela não foi atrás de água e nem de panos, como morcegos, ela procurou pelo castelo até encontrar Edward na sacada de seu quarto, como se esperasse que o lobo se aproximasse do castelo e descumprisse a regra entre os dois.
- Como? – perguntou ao voltar ao normal.
- Eu pedi para cuidar dela! – ele disse simplesmente sem se virar.
- Como isso é possível, Edward? –
- Eu não sei! – respondeu simplesmente. – Cuida dela e tenta não deixa-la ver aquele retrato até que eu converse com ela. – Esme não se mexeu. – Esme, vai logo, daqui a pouco ela já vai ter perdido muito sangue. – ela apenas assentiu ainda perturbada com o que tinha visto e se transformou mais uma vez em morcegos e se apressou a ir para a cozinha.
Com uma nova bacia com água em mãos e mais panos limpos, ela voltou ao salão onde Bella estava. A jovem tentava conter o sangue que voltou a escorrer e já tinha sujado uma boa parte dos panos que Esme tinha deixado com ela.
- Muito bem… - Esme se sentou sobre as pernas, colocando a bacia e os panos limpos ao seu lado. – Peço perdão de principio, pois vai doer e arder um pouco, mas logo vai estar tudo bem. –
- Onde eu estou? – Bella perguntou quando Esme amarrou os panos com força, fazendo com que Isabella soltasse um gemido de dor, a cada torniquete que Esme fez a cima dos cortes.
- Em um lugar seguro e quente! É só o que eu posso dizer por enquanto. – respondeu ao começar a limpar os ferimentos. – Você vai ficar bem! –
- Como eu posso ficar bem estando no mesmo lugar que a besta que eu cresci aprendo a temer? – Esme desviou os olhos do corte que Bella tinha o braço.
- Ele falou isso para você? – Bella apenas assentiu e Esme suspirou ao voltar a limpar o machucado. – Qual seu nome? –
- Isabella, mas eu prefiro só Bella. –
- Oh? Você é a pequena Bella que o príncipe encontrou há dezessete anos? –
- Principe? –
- Ele não gosta de ser chamado assim, mas eu não ligo. – admitiu sorrindo.
- Eu não estou entendendo mais nada. – Esme levou a mão até o rosto de Isabella, sentindo o seu sangue pulsar contra a sua bochecha.
- Ele vai te explicar quando você estiver melhor. – ela afagou a bochecha de Bella. – Agora vamos fazer esses curativos para que você possa se limpar, comer algo quente e descansar. – pediu tirando a mão do rosto pálido de Isabella e voltou ao trabalho de cuidar de seus machucados.
Com calma e a mão leve, ela limpou ferimento por ferimento e colocou uma pasta de ervas e envolveu contra algumas camadas de panos limpos. Repetindo o ato em todos os machucados que a jovem tinha. Em volta de seus pulsos e tornozelos que estavam começando a ganhar um tom de roxo, ela passou um creme branco e de cheiro fraco e até que agradável e ajudou a Bella a se levantar.
Com uma certa dificuldade, devido aos ferimentos em suas pernas, mas ela seguiu Esme até um quarto que estava bem aquecido. Enquanto outra criada trazia uma bandeja com comida quente, Esme ajudou Bella a se limpar e a se trocar e logo após ter comido, Bella deitou na cama quente e macia, e pouco tempo depois, ela adormeceu por completo.
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