domingo, 27 de outubro de 2024

Capítulo 03 – Estranhos acontecimentos.

 Transilvânia – Romênia.

Inverno de 1564.

Narrador.

Dois anos se passaram desde aquele dia. Isabella agora já tinha nove anos e não se lembrava de mais nada daquele dia em questão! Seu pai havia saído mais uma vez para caçar e dessa vez tinha a deixado trancada dentro de casa, e dessa vez não era por não confiar nas pessoas, mas sim por acontecimentos estranhos que estariam acontecendo na região.

O sacrifício tinha sido feito, mas mesmo assim pessoas continuavam sumindo e aparecendo mortas logo depois. Crianças viram uma criatura negra andando pela vila a noite, que fizeram os animais se estressarem, os cavalos relincharem e os cães ladrarem. Os anciões queriam fazer outro sacrifício, temendo que a besta não tenha se saciado com a última mulher, não virgem, sacrificada. Mas os aldeões não haviam concordado com outro sacrifico.

Um sacrifício tinha sido feito, a besta que se contentasse com ele.

Certa noite, durante um dia bem frio, Isabella acordou ao ouvir um grito. Ao se levantar da cama e pisando a ponta de seus pés contra o chão de madeira fria, ela se aproximou da janela. A aldeia estava bem escura, a maioria das tochas que tinham sido acessas durante a noite tinham se apagado, mas Isabella pensou ter visto uma garota sendo arrastada pela janela de sua casa na direção da floresta. Bella não sabia o que fazer, ela estava sozinha em casa, seu pai tinha ido caçar pela manhã e não tinha voltado, ela já tinha se acostumado com isso, durante o inverno ele costumava ficar entre uma a duas noites fora de casa.

Ela estava assustada. Ela não sabia se tinha visto coisas ou se tinha visto algo mesmo. E se aquela coisa que arrastava aquela garota para a floresta viesse atrás dela. Ela estava sozinha, seu pai estava longe. Ela definitivamente não sabia o que fazer.

- Volta para a cama. – ela ouviu uma voz aveludada vindo de trás dela, do outro lado do quarto e isso a tinha assustado mais ainda. – Saí da janela e volta para a cama. – a voz disse de novo e se virou para onde vinha a voz, mas não tinha nada ali, o seu quarto estava escuro e vazio. – Ninguém vai te fazer mal, pode voltar a dormir! – ela não sabia o motivo, mas ela tinha voltado para cama apressada e puxou as cobertas grossas, quentes e pesadas para cima, cobrindo até a sua cabeça.

Ela não sabia quem estava ali, mas não a tinha feito mal, mas de qualquer forma, ela se sentiu melhor com todo o seu corpo, incluindo a sua cabeça coberta. Por mais que as cobertas de pelo fossem quentes, grossas e pesadas, isso a esquentava demais e a fazia suar, mas ela preferir passar mal de suar a descobrir a cabeça e ver quem era o dono daquela voz e principalmente, em saber como ele tinha conseguido entrar em sua casa que estava tudo bem trancado.

Isabella não soube ao certo o momento em que tinha dormido, mas ao acordar no dia seguinte as cobertas não cobriam mais a sua cabeça, estava repousada na altura de seus cotovelos e as suas cortinas estavam fechadas, mas ela acordou ouvindo um falatório alto com vozes desesperadas vindo do lado de fora de sua casa.

Com a claridade entrando em seu quarto, ela olhou em volta. O quarto estava vazio e não havia vestígio nenhum de ter tido alguém ali dentro noite passada. Ela se levantou e caminhou até a janela, conferindo primeiro como ela estava, trancada, do jeito que seu pai tinha deixado, não tinha como ninguém tê-la aberto e ela decidiu acreditar que aquela voz doce e estranhamente familiar, tinha sido apenas um sonho e nada mais. Tudo o que ela tinha visto naquela foi tinha sido apenas um sonho.

Ou não!

Ela ouviu as vozes altas e desesperadas vindas do lado de fora da sua casa e ao olhar pela janela ela viu a família de Alexis, uma garota da mesma idade de Isabella, e a família de Cassandra, uma garota três anos mais velha que Isabella, falando alto no meio da praça central da cidade, devido a distância, altura de seu quarto, e pela janela estar fechada e trancada, ela não conseguia ouvir o motivo do desespero das duas famílias, mas ao olhar para a casa a frente da sua, de onde ela tinha sonhado que viu alguém saindo pela janela, ela viu que não tinha sido tudo um sonho. A janela da casa de Alexis estava quebrada e um rastro de sangue saía de seu quarto, e seguia em direção a floresta.

Isabella engoliu em seco! Não havia sido um sonho! Alguém tinha entrado em sua casa noite passada. E pior, tinha entrado em seu quarto. Bella olhou em volta do pequeno quarto, o quarto era pequeno e simples, tinha apenas uma pequena cama de solteiro, um pequeno baú e um armário, não tinha como ninguém se esconder ali, a não ser que se escondesse debaixo de sua cama, mas ela não se atreveu a olhar. Ela apenas pegou uma de suas cobertas de pele e colocou sobre os ombros e abriu a porta do quarto, após conferir que a mesma estava trancada do jeito que ela tinha deixado.

Bella desceu devagar, e em total silencio, ela ainda não tinha decidido se aquilo tinha sido um sonho ou não e também não sabia se tinha gente dentro da sua casa ou não. Mas ela conferiu janela por janela, porta por porta e tudo estava trancado do jeito que seu pai tinha deixado antes de sair. Seus olhos foram atraídos para a lareira apagada, mas a chaminé era pequena, uma criança não passava ali, portanto um adulto não teria passado. Como ela ouviu aquela voz em seu quarto?

Aquilo foi um sonho! O que ela viu saindo da casa de Alexis pode não ter sido um sonho, mas aquela voz foi!

Mas duas noites tinham se passado e Isabella continuava trancada e sozinha, seu pai ainda não tinha voltado e ela estava começando a ficar preocupada com o mesmo que não voltava. Bella dormia profundamente, porém acabou acordando devido a um calor que não deveria existir durante o inverno. Seu quarto estava quente e junto com as cobertas de pelo, ela se sentia mal, sentia calor e seu corpo todo suava. Ela se mexeu na cama e abriu os olhos, a lareira de seu quarto estava acessa e ela não tinha acendido, ela sabia disso. Ela não acendia a lareira quando estava sozinha em casa. Seu pai falava dos perigos que acender a mesma enquanto estivesse com as janelas fechadas e ela preferia se aquecer apenas com os cobertores grossos. Mas a mesma estava acessa e confusa, ela sentou na cama e mais confusa ela ficou ao ver a janela com uma fresta aberta. Como aquela janela estava aberta?

Ela olhou em volta e ela estava sozinha. O quarto estava vazio, do jeito que deveria estar, com exceção da lareira acesa e da janela aberta. Ela começou a se levantar disposta a trancar a janela e apagar a lareira ao ouvir um grito agudo e mais alto do que a noite passada.

- Não saí da cama. – ela ouviu a voz de novo e usando a luz que o fogo proporcionava ela percorreu os olhos pelo quarto, e não viu nada. Não tinha ninguém ali. Debaixo da cama. Ela pensou, mas não se atreveu a olhar. Um grito entrou pela sua janela de novo. – Volta a dormir, eu já falei que ninguém vai fazer nada com você! E não se preocupe, o seu pai está bem, em dois dias ela vai estar de volta. Pode voltar a dormir. – mesmo com o quarto quente, ela puxou as cobertas por sobre a cabeça de novo, se sentindo mais segura assim.

Como a voz havia dito, dois dias depois o seu pai chegou em casa. Ele estava ferido, mas estava bem e o ferimento começava a cicatrizar.

- Pai! – ela se jogou em seus braços e ele chiou devido ao ferimento no braço, mas mesmo assim abraçou a filha. – Eu estava tão preocupada. –

- Me perdoa, minha filha! –

- O que aconteceu? – perguntou quando ele colocou a arma ao lado do armário de madeira da cozinha.

- Eu fui atacado por um lobo, acredito eu, estava bem escuro e eu não vi direito. – ele se sentou na cadeira. – Eu não sei o que fez o lobo se afastar, mas eu acabei encontrando um senhor, dono de um castelo perdido no meio da floresta, nunca o tinha visto, mas ele ofereceu abrigo e o médico dele cuidou do ferimento, não me deixou sair de lá antes que eu me recuperasse completamente, mas está tudo bem agora. – garantiu quando ela se sentou a frente do pai. – Aconteceu algo enquanto eu estive fora.

- Eu não sei ao certo. Há quatro noites os pais de Alexis e Cassandra estavam desesperados na rua e tinha um… um rastro de algo vermelho saindo da janela do quarto de Alexis indo na direção da floresta. E há duas noites a família de Donna também estava desesperada e gritando com os anciões. – ele suspirou.

- Eu soube, eu ouvi essa história quando cheguei. Os pais falam que elas foram arrancadas de suas camas durante as madrugadas! – suspirou. – Graças a Deus eu protegi todas as portas e janelas dessa casa, ninguém consegue invadir. – Bella engoliu em seco sem ter coragem de dizer ao pai que alguém tinha invadido duas vezes, que ela sabia, e que além de ter invadido o seu quarto, tinha invadido a sua casa. – Filha… - ele afagou o braço de Isabella. – Não se preocupe, eu já estou em casa e não vou sair até a primavera chegar, não se preocupe, não vai acontecer nada com você. –

- É que… Eu ouvi os gritos e isso… -

- Te assustou. – ele terminou por ela. – Você viu algo? – ela negou apressada.

- Eu não tive coragem de sair da cama. – mentiu.

- Muito bem! Não se sabe ao certo o que aconteceu é melhor não ver mesmo, mas agora não precisa se preocupar. Eu estou em casa! Espero que não tenha sofrido muito com o frio devido a janela fechada e sem poder acender a lareira. –

- Os cobertores me aqueceram bem. E eu prefiro continuar com a janela fechada, principalmente até descobrir o que aconteceu com a Alexis, Cassandra e a Donna. –

- Se é o que prefere. –

- Eu vou precisar fazer um curativo? –

- Talvez amanhã. Os criados do castelo fizeram um curativo antes de eu sair do castelo hoje pela manhã… -

- Então vai descansar, pai. Imagino que deve ter ficado preocupado, pensando em como eu estava! –

Naquela noite, Isabella não conseguiu dormir, apenas fingiu, ela queria estar desperta para saber se alguém iria entrar no seu quarto. Ela tinha pedido para o pai olhar embaixo da cama antes de ir dormir, alegando que tinha visto um rato correr lá para baixo, e o mesmo alegou que não tinha nada ali, nenhum animal, buraco na parede ou até mesmo um buraco na parede.

- Eu não disse que o seu pai estava bem? – mais uma vez ela ouviu a voz, apenas a voz. Ela se sentou na cama, se sentindo mais segura ao saber que seu pai estava em casa e ao saber que qualquer coisa ela poderia gritar que ele iria chegar bem rápido. Ela olhou para a janela, estava fechada, a porta estava fechada.

- Quem é você? – ela se atreveu a perguntar.

- Você sabe quem eu sou! Pode não estar se lembrando, mas você sabe quem eu sou! -

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