domingo, 3 de abril de 2022

Capítulo 17


 Tulsa – Oklahoma.

2019.

Bella.

Eu me virei para onde minha mãe olhava e vi que ela estava olhando para o pequeno prato de porcelana branca em cima da minha bancada que tinha metade de uma romã quase que comida completamente. Ela olhava para aquela fruta com uma mistura de nojo e ódio e ao olhar para os meus primos que se entreolharam e eu via um olhar de diversão nos olhos de Leah.

- Isabella, que merda e essa aqui? – minha mãe atraiu a minha atenção de novo.

- Uma fruta! – respondi simplesmente caminhando até o balcão. – Uma romã, apenas isso! –

- E você comeu isso? – perguntou indignada.

- Comi, mãe? Por quê? – questionei me sentando no meu lugar.

- Não come essa merda. – ela deu uma tapa na minha mão ao mesmo em que eu tentei levar uma das sementes a boca.

- Mal qual é o seu problema? –

- Eu não quero que você coma essa merda. – ela arrancou o prato da minha mãe e jogou a fruta e o prato todo no lixo. – Quer me matar de desgosto de novo? – ela me encarou com os olhos cheios de água.

- O que? Como eu posso matar a senhora de desgosto comendo uma simples fruta? E como assim de novo? Em algum momento eu causei desgosto na senhora? –

- Eu não quero te ver comendo isso de novo. Vamos embora! – ela saiu da loja puxando Leah e Seth e eu fiquei parada sem entender nada. Meu telefone tocou e eu o atendi sem nem olhar quem estava me ligando.

- Alô. –

Amor?! – a voz de Edward fez meus olhos desviarem da porta, eu tirei um pouco o telefone do ouvido e vi a foto de Edward estampando a tela do telefone. – Amor? Está tudo bem? –

 

- Oi. Oi. Está. Acho que sim... Acabou de acontecer algo completamente bizarro, mas está tudo bem. –

O que houve? –

- Minha mãe acabou de chegar do nada, e trouxe dois primos que eu nunca soube sequer da existência. – expliquei. – Está me obrigando a contratar a minha prima para trabalhar comigo, ou eu demito a Bree ou pago salário para as duas. – contei bufando. – E... E do nada ela surtou porque me viu comendo uma romã. Parecia que eu estava comendo merda ou veneno. Jogou a fruta e o meu prato no lixo e perguntou se eu queria mata-la de desgosto de novo. Ao perguntar se já tinha feito isso antes, ela simplesmente pegou os meus primos e foi embora... Acho que não sou eu quem está enlouquecendo e sim a minha mãe. – dei de ombros.

Pode ser o jet lag. – claro, pensei mentalmente ao suspirar.

- E como você está? – questionei mudando de assunto.

- Poderia estar melhor, mas o caos está completamente instalado aqui. Não se preocupe, vou tentar manter a minha promessa de voltar em até duas semanas. – comentou e eu balancei a cabeça sorrindo.

- Vou esperar então... Eu vou tentar conversar com ela hoje, se ela não estiver surtada ainda. – comentei. – Caso eu não entre mais em contato com você é porque ela me matou. – brinquei.

Nossa, Bella, tão engraçado. – ironizou e eu ri. – Se quiser esperar eu voltar. –

- Não, amor, não precisa. Eu preciso tomar vergonha na cara e enfrentar a minha mãe sozinha. – suspirei. – Será difícil, porque eu conheço a mãe que eu tenho, mas tá na hora. – comentei e ouvi o sininho da porta anunciando que tinha gente chegando. – Eu preciso ir trabalhar. Falo com você depois. –

Tudo bem. Pode me ligar a hora que quiser. Eu te amo. –

 

Também te amo. – desliguei o telefone e tratei de ir atender o cliente que tinha entrado na loja.

Quando o meu horário de trabalho acabou eu segui para a minha casa e não foi nenhuma surpresa para mim minha mãe já estar lá dentro com meus primos. Eu tinha que mudar a fechadura para acabar com essa folga da minha mãe. Entrei em casa e vi que meus primos estavam mais a vontade do que deveriam, principalmente Leah que olhava para tudo com o nariz torcido principalmente para as plantas. Cumprimentei minha mãe por alto e segui meu caminho para o meu quarto para que pudesse tomar um banho para tentar relaxar, mas eu sabia que seria impossível. De banho tomado, desci de novo e encontrei minha mãe com a sobrinha rindo na cozinha.

- Bella, que garrafa de vinho é essa no seu armário? – minha mãe perguntou com a sobrancelha arqueada, ela sabia que eu não era de beber então eu não tinha nada de alcoólico na minha casa.

- Alice trouxe e acabou sobrando e ficando aí. – dei de ombros. Sério, Isabella? Alice? Você não disse que iria enfrentar a sua mãe e falar sobre o seu namoro com o Edward? Para de mentir! – Mãe, eu preciso conversar com a senhora. – disse simplesmente.

- Fale. – respondeu sem me olhar e sem Leah mexer um misero músculo.

- Pode dar licença? – pedi a Leah que se fez de surda.

- Deixe de palhaçada, Bella. Ela é sua prima. –

- Cuja prima eu conheço não tem nem doze horas, portanto, o que eu quero falar com a senhora é pessoal, assunto meu e da senhora, então eu gostaria que ela saísse. – Leah continuou sem se mexer. – Mãe, eu não estou brincando. Eu quero falar com a senhora em particular. – disse firme e ela bufou.

- Leah, querida, nos dê licença, por favor. – provando que ela ao era surda, ela se levantou e deixou a cozinha e eu tratei de fechar a porta que ficava na cozinha. – O que quer? –

- Mãe. A senhora ficou quase dois meses fora e do nada a senhora está me tratando assim, qual é o problema? – questionei. – Das últimas vezes a senhora não desgrudava de mim quando voltava. –

- E você sempre reclamou por eu ser grudenta demais. –

- E só por isso a senhora me ignora e só dá atenção aos meus primos? –

- Oh que bonitinho, ela está com ciúmes... – ela apertou a minha bochecha e eu afastei a mão dela. – O que quer falar comigo? –

- Eu tenho uma novidade para te contar. – ela não esboço nenhuma reação, como ela costumava fazer. – Eu... – antes que eu tivesse a chance de falar, meu olhar foi atraído pela trepadeira que ficava próxima a janela da cozinha que estava completamente congelada. – O que aconteceu aqui? – eu me afastei da minha mãe e caminhei até a minha planta. As folhas estavam todas queimadas de frio, em pleno final de primavera, que já estava bem quente.

- Ah o freezer deve ter ficado aberto e congelado uma folhinha. – deu de ombros.

- Como assim o freezer ficou aberto? Nem se fosse o freezer de um frigorifico teria deixado ela assim... – até porque a planta ficava bem longe do freezer e da geladeira. – E não é só as folhas, a raiz estava ficando congelada também. –

Com cuidado eu tirei a planta da prateleira e levei o vaso para a minha estufa, deixando minha mãe sozinha na cozinha. Geralmente a minha mãe teria me ajudado, mas ela simplesmente seguiu para a sala para falar com Leah e Seth. Eu fiquei na estufa até tarde da noite tentando salvar a planta, mas havia sido impossível, as raízes estavam completamente congeladas e a terra também, não tinha mais jeito, ela tinha morrido e eu não entendia o motivo, e eu também não conhecia nenhuma doença que congelasse a planta e a terra dessa forma.

Ao voltar para dentro de casa, todo mundo estava na sala terminando de recolher as coisas para ir embora para a casa da minha mãe. Minha mãe disse simplesmente que caso eu quisesse comer era só esquentar o que tinha sobrado do jantar que estava no forno e simplesmente foi embora. Ela não havia tocado no assunto da romã de novo e eu não havia conseguido contar sobre Edward. Eu estava cansada, mas mesmo assim eu fui olhar todas as plantas que eu tinha dentro de casa para ver se mais nenhuma estava, misteriosamente, congelada ou congelando e não tinha sido apenas a trepadeira da cozinha, e o resto da madrugada eu fiquei pesquisando na internet se tinha algum motivo para a planta congelar do nada, e não foi surpresa nenhuma a resposta ser não, a menos que estivéssemos no inverno.

Cansada e sem ter dormido eu me arrastei para a floricultura para abrir a loja, que abria as nove, mas minha mãe pelo visto não avisou a minha nova funcionaria obrigada que chegou apenas as onze e ficou simplesmente sentada na cadeira com os pés cobertos pelos sapatos sujos em cima do balcão. Eu tinha perdido as contas de quantas vezes tinha empurrado, de forma bruta e mal humorada, os pés dela de cima do balcão limpo e cinco minutos lá estavam seus pés de novo. Até as duas da tarde, a hora que ela simplesmente foi embora e não voltou mais, ela não havia me ajudado em absolutamente nada, e eu realmente ergui as mãos aos céus quando Bree chegou para me ajudar, não tinha mais café que resolvesse, eu estava quase caindo, não podia me sentar ou me encostar em algum lugar que eu tirava um cochilo.

Bree tomou a responsabilidade de cuidar da loja e fecha-la sozinha, normalmente eu não aceitaria, mas eu realmente não estava mais aguentando manter meus olhos abertos. Para não correr o risco de sofrer um acidente ou algo do tipo, liguei para Alice e perguntei se ela poderia me deixar em casa, ela deixou Jasper na loja e veio me levar e durante o curto caminho eu expliquei por alto do que tinha acontecido e ainda recebi um convite para ficar na casa dela – ou na de Edward, onde ela estava passando muito tempo – caso minha mãe perturbasse demais.

A noite quando eu acordei, dei de cara com a minha mãe sentada na minha cama, o que me fez dar um pulo. Eu não falei nada e apenas olhei o meu telefone que estava debaixo do meu travesseiro e encontrei duas chamadas perdidas do Edward e uma de Alice e que já eram quase nove da noite, eu havia dormido demais, e mesmo assim estava cansada.

- Mãe, o que faz aqui? – perguntei finalmente e guardando o telefone, depois eu mandava uma mensagem para Edward, ele provavelmente tinha falado com Alice e ela contou o que tinha acontecido.

- Passei na sua loja e Bree disse que você não estava muito bem, vim ver como você estava e resolvi não te acordar. – explicou. – O que houve? –

- Oh agora a senhora se interessa? – retruquei e ela bufou. – É só cansaço, mãe! – disse simplesmente. – Fiquei a madrugada inteira vendo se nenhuma outra planta estava congelando. –

- Toma isso aqui e vai se sentir melhor. – ela me entregou uma xícara de chá fumegante.

- O que é isso? – perguntei pegando a xícara e vendo um líquido fumegante e amarelado.

- Um chá simples para melhorar o cansaço. – deu de ombro e eu bebi um gole sentindo um gosto estranho e diferente que pinicava na língua. – Sem cara feia, beba tudo que vai se sentir melhor! – ela basicamente virou a xícara toda na minha boca e eu me engasguei. – Boa menina! – ela afagou a minha cabeça tirando a xícara da minha mão enquanto eu tossia. – O que queria falar comigo ontem? – perguntou de repente e mudando de assunto e pouco se importando para o meu engasgo.

- Está interessada agora? –

- Ah Isabella, releva, eu estava cansada e estressada! – bufou e eu voltei a deitar a cabeça no travesseiro. – Anda o que queria me contar. –

- Eu... – eu limpei minha garganta que ainda ardia um pouco devido o engasgo com o líquido quente. – Eu estou namorando. – respondi.

- É mesmo? Com quem? – perguntou simplesmente e eu a encarei. Seu rosto estava bem sereno e calmo, e eu sabia que seria questão de tempo até ela pegar o travesseiro e me sufocar com ele.

- Com o Edward! – respondi simplesmente e seu rosto ficou sem expressão por um segundo. Sua pálpebra deu uma leve tremida e ela forçou um sorriso, assustador, em seus lábios.

- É mesmo?! Fico feliz! – ergui uma sobrancelha.

- O que? –

- Se ele te faz feliz. Qual é o problema? – deu de ombros. – Você não é mais um bebê, faz o que quiser da sua vida! – eu a encarava sem entender nada. – Vou pegar um pouco de sopa para você! – ela pegou a xícara e saiu do quarto. Mas o que? Sozinha no quarto eu peguei o telefone e retornei uma ligação para Edward.

Oi meu amor. –

- Oi amor! –

Como está? Te liguei e você não atendeu, estava falando com Jasper e ele comentou que você ligou para a Alice para ela te levar em casa. –

- Eu estava morta de cansaço! – admiti. – Fiquei a madrugada toda acordada. –

- Por quê? –

- É que ontem aconteceu uma coisa tão estranha, algo que eu nunca vi na minha vida! –

Tipo o que? –

- Ontem, quando eu cheguei em casa minha mãe estava aqui com os meus primos. Os dois se sentiam à vontade até demais, principalmente Leah que ficava me encarando de cima a baixo e olhando para as minhas coisas com desdém. – suspirei me ajeitando na cama e sentindo um leve incomodo na minha coluna após ficar muito tempo deitada e provavelmente na mesma posição. – Pedi para conversar com a minha mãe em particular e ela simplesmente se fazia de surda e minha mãe queria que eu falasse na frente dela, até que minha mãe finalmente entendeu e pediu para ela sair. Fui falar com a minha mãe de nós dois e eu vi a minha trepadeira completamente congelada. –

Congelada? –

- É. Congelada. Minha mãe disse que talvez tenha deixado o freezer aberto por tempo demais e acabou congelando as folhas, mas ela estava completamente congelada, a raiz a terra, tudo congelado, não teve salvação. Nunca vi isso próximo ao verão. Fiquei a madrugada inteira vendo as outras plantas e procurando um motivo na internet para isso ter acontecido. – expliquei. – Agora, minha mãe me deu um chá, muito ruim, disse que era para o cansaço e eu contei a ela que estava namorando com você. –

Isso da sua planta é estranho. Muito estranho. A cada dia que passa a temperatura fica mais quente. – comentou. – E o fato de estar viva significa que sua mãe... –

Minha mãe levou numa boa. – respondi me sentando na cama. – Ela disse apenas que fica feliz, porque se você me faz feliz qual é o problema? Além do fato de eu não ser mais um bebê e que eu posso fazer o que eu quiser da minha vida! E eu não sei explicar o motivo..., Mas não confio muito nessa repentina mudança de opinião sobre você! A pouco tempo ela estava fazendo chantagem para eu não falar contigo... – ele suspirou.

Bom, talvez ela tenha conversado com esse seu tio e ele a tenha aberto os olhos... – ponderou. – Então, já que ela levou o nosso relacionamento numa boa, quando eu voltar nós podemos marcar um jantar, para que ela possa me conhecer melhor. –

- É uma boa ideia! Mas me diga, conseguiu resolver o caos? –

Digamos apenas que eu cheguei poucos minutos antes da desgraça maior acontecer. – brincou. – Mas ainda preciso resolver as desgraças pequenas que acabaram ocorrendo, caso contrário estaria voltando para aí. –

Penso que estejas descuidando demais da sua empresa, acho que desde que nos conhecemos a segunda vez que você tem que viajar porque o pandemônio está se instalando. – brinquei.

Culpa sua! –

- Minha? – perguntei rindo e me deitando de novo na cama.

Sua! Se eu não ficasse o dia inteiro com o meu pensamento em você eu conseguiria pensar no meu trabalho! – sem conseguir me conter eu comecei a gargalhar, virando na cama e abafando meu riso com o travesseiro. – Algo que pode ter certeza de que eu não estou reclamando. – ele me acompanhou nas gargalhadas antes de suspirar. – Preciso voltar ao meu pandemônio! E acredite, acho que usou a palavra perfeita para descrever o que está acontecendo aqui. Pandemônio! –

Vai lá. Eu vou comer também antes de descansar mais um pouco! –

Se cuida mocinha! – advertiu-me. – Está me saindo mais uma workaholic do que eu! – brincou me fazendo rir de novo. – Eu te amo. –

Eu te amo! – eu mandei um beijo por telefone antes de desliga-lo.

Coloquei meu celular para carregar e fui tomar um banho antes de descer. Como estava bem quente, eu tomei um banho fresco e coloquei uma roupa fresca que eu poderia usar para dormir e ao calçar os meus chinelos eu desci as escadas atrás de minha mãe. A casa estava bem silenciosa, pelo visto meus primos não estavam aqui, o que me deixava bem feliz, eu havia ficado contente em conhece-los, mas dispensava a intimidade que adquiriram com muita facilidade e obviamente dispensava os olhos de superioridade de Leah.

- Você disse que ia me ajudar... – eu estava terminando de descer as escadas quando ouvi a voz da minha mãe, vindo na direção da cozinha e transbordando de raiva. Eu não sabia se ela estava falando comigo, até porque eu descia no mais absoluto silêncio, ou se tinha alguém com ela ali na minha cozinha. Fiquei parada aos pés da escada esperando ouvir outra voz respondê-la ou ela falar comigo de novo, mas não, ela não mencionou meu nome e eu não ouvi nenhuma voz a respondendo. – Não me interessa o que eles querem, a única coisa que importa é o que eu quero! – ela continuava a falar, talvez ela estivesse no telefone com alguém. – Você me prometeu que ia manter os dois afastados então não vem com essa que você fez o que podia. Eu não vou deixar isso acontecer de novo! – terminei de descer as escadas e encontrei minha mãe na cozinha de costas para a porta e consequentemente de costas para mim, com as duas mãos apoiadas no balcão de mármore olhando para o mesmo e nenhum telefone perto dela. – Eu não vou perde-la de novo. – falou rosnando e eu não entendia o que estava acontecendo, pelo visto eu não era a única louca da família e tinha apenas herdado a loucura da minha mãe. – Cala a boca! – ela rosnou de novo e eu via suas mãos tremendo sobre a bancada e a lâmpada, a única acessa no andar de baixo, começou a piscar ao mesmo tempo em que uma ventania começou do lado de fora. Será que uma tempestade estava se aproximando e eu não fiquei sabendo? – Eu mandei você calar a boca! – ela gritou ao mesmo tempo em que atirou um prato na minha direção, eu nunca havia sido boa em reflexos, mas por algum motivo dessa vez eles funcionaram e eu consegui dar um passo para o lado antes que o prato quebrasse no meu rosto.

- Mãe! –

- Filha! Me... Perdoe sua mãe. – ela veio apressada e assustada na minha direção.

- O que foi isso? –

- Perdoe a sua mãe minha filha, eu estou um pouco transtornada e eu não lhe vi. – ela prontamente puxou-me para um abraço apertado demais e até um pouco doloroso. – Eu não lhe machuquei, não é? –

- Não mãe. –

- Ainda bem. Perdoe-me. – pediu novamente sem desfazer o abraçado e beijando minha testa.

Demorou alguns segundos para que ela me soltasse e qualquer coisa que eu falava ela só murmurava em resposta apenas um perdoe-me e nada mais. Ao me soltar seu humor era outro e não mais aquele raivoso de alguns minutos atrás. Ela me fez me sentar na cadeira do meu balcão e me serviu um prato enorme de sopa bem quente avisando que era receita de sua mãe e que aquele caldo faria eu me sentir muito melhor e sem falar mais nenhuma palavra ela foi catar os cacos do prato que havia quebrado.

Eu não sabia explicar o motivo, mas a sopa estava com um gosto diferente, eu não tinha certeza se ela já havia preparado essa receita antes, mas ela tinha um gosto um pouco ruim, o mesmo gosto do chá que havia tomado ao acordar, eu só não sabia se era devido ao gosto ruim ainda estar na minha boca ou se o caldo tinha o mesmo gosto horrível.

Eu não estava conseguindo tomar toda a sopa o gosto era muitíssimo ruim, mas com ela insistindo que era assim mesmo e que eu me sentiria muito melhor eu não tive outra escolha a não ser tomar, até porque temia que ela enfiasse na minha goela de novo igual tinha feito com o chá a pouco tempo, me obriguei a tomar todo o prato e tentei fugir antes que ela me empurrasse mais sopa, já que eu havia percebido e muito bem a panela enorme no fogão que estava bem cheia. Levantei para lavar o meu prato, contudo ela foi mais rápida ao tira-lo da minha mão e basicamente me enxotar para o andar de cima para que pudesse dormir, segundo ela, a sopa fazia “efeito” em pouco tempo e eu teria uma longa noite de sono.

Na manhã seguinte minha mãe estava na minha casa, na verdade, ela estava no meu quarto, tinha dormido na poltrona que tinha ali e quando eu acordei encontrei com ela desperta e com um enorme, e talvez um pouco assustador, sorriso no rosto. Deixou-me sozinha para que pudesse me trocar, e ao chegar na cozinha encontrei meus primos ali e o meu café da manhã preparado, uma torrada com ovos mexidos, uma maçã e uma xícara de chá, a cor me lembrava o chá da noite passada, mas o cheiro era diferente.

- Se sente melhor minha filha? – perguntou ao colocar uma panqueca recheada de chocolate na frente de Leah e outra na frente de Seth.

- Sim mãe, muito bem! – garanti. – Por que não fez uma panqueca para mim? Sabe que gosto de panqueca com chocolate! –

- Oh meu amor, você não estava se sentindo bem na noite passada então eu fiz um café da manhã bem leve para você! – respondeu apertando a minha bochecha. – Ah deixa eu te falar. Hoje você pode ficar em casa e descansar, Leah vai tomar conta da sua loja. –

- Não é necessário mamãe. Eu já disse, estou bem, o que aconteceu ontem foi apenas cansaço, estou novinha em folha e posso cuidar da minha loja. – mesmo que eu estivesse com o pé na sepultura eu não iria deixar Leah cuidar da minha loja sozinha, emendei mentalmente.

- Oh priminha, eu vou cuidar muito bem das suas plantas! –

- Acredito que vá. Mas não será necessário. – garanti respondendo no mesmo tom de voz de deboche dela. Peguei a xícara em mãos e inalei o cheiro, definitivamente não era o mesmo chá de ontem, Deus me livre tomar aquilo de novo. – Mãe, que chá é esse? – perguntei repousando a xícara intocada no pires e pegando a minha torrada.

- Ah é um chá de maçã. – deu de ombros. – Dei uma olhada no pomar e tinha muitas, resolvi colher algumas e fiz esse chá e estou terminando uma compota e uma geleia. – respondeu quando eu mordi um pedaço da torrada. – Espero que não se importe. –

- Não. Tudo bem! Eu só ia ter tempo de mexer no jardim no final de semana, corria o risco de alguma apodrecer no pé até lá. – dei de ombros, todo mundo estava sentado na minha pequena mesa de jantar, minha mãe de frente para mim e meus primos um de frente para o outro e eu comia a minha torrada e volta e meia pegava um pedaço do ovo. Fui pegar a xícara para beber um gole do chá, eu sentia que o chá estava bem quente, sentia isso pela porcelana da xícara, e antes que tivesse a oportunidade de levar o objeto a boca, ele simplesmente explodiu de repente, fazendo eu dar um pulo da cadeira. – Merda! – um grito escapou pela minha garganta, não era um grito de susto pela xícara ter explodido do nada e sim porque todo o líquido quente caiu nas minhas pernas.

- Filha... Acalme-se. – pediu minha mãe ao vir me socorrer molhando um pano e eu simplesmente fui até a porta dos fundos pegar a mangueira que tinha ali e jogar a água fria nas minhas pernas.

- Está tudo bem? – Seth veio até a varanda, enquanto eu ouvia sua irmã tentar conter o riso, enquanto eu ainda tinha a mangueira aberta e o jato de água fria em minhas pernas.

- Sim, querido, não se preocupe. – minha mãe garantiu quando eu me sentei na cadeira ao meu lado, já que não suportava mais ficar de pé devido a queimação e dor nas minhas coxas. – Por favor, limpe os cacos antes que mais alguém se machuque. –

- Claro tia. – ele assentiu e voltou para a cozinha.

- Como aquela xícara estourou do nada? – perguntei respirando fundo para evitar o choro.

- Não sei filha. Talvez a porcelana estivesse rachada e eu não vi quando coloquei o chá lá dentro, ou sem querer coloquei o chá quente demais. Está tudo bem! – olhei para as minhas coxas e mesmo com a água corrente eu via minhas pernas ficando vermelhas. – Acho que vou ter que te levar ao hospital! – disse simplesmente fazendo uma careta.

Chorando e com a ajuda de Seth, já que eu não conseguia andar direito devido a dor, minha mãe me levou ao hospital. Eu tinha ficado mais de meia hora com a água fria da mangueira sobre o meu colo e mesmo assim a queimação não passava, a dor só aumentava e a vermelhidão também. Minha mãe me ajudou a trocar de vestido, para que eu não fosse com a roupa toda molhada e prendeu dois panos bem molhados nas minhas coxas e mandou Leah ir abrir a minha loja para mim.

Você está bem? Quer que eu vá aí te socorrer? – Alice perguntou preocupada do outro lado da linha. O médico tinha passado uma pomada para aliviar a queimação e a dor e havia me deixado um pouco sozinha para que pudesse me acalmar e levou minha mãe para o corredor para conversar com ela, provavelmente dos cuidados que eu teria que ter para não criar bolhas. Havia me livrado de Seth pedindo para que ele fosse pegar alguma coisa bem gelada para que eu pudesse beber, uma água, suco ou refrigerante, o que quer que fosse, eu só não queria ver nada quente na minha frente tão cedo.

- Não precisa. – garanti e olhei para a porta vendo a fechada. – Eu só preciso que faça algo mais importante para mim. –

Claro amiga, só pedir! –

Jasper ainda está com você? –

Sim. –

Deixa ele cuidando da sua loja hoje e cuida da minha? – pedi. – Eu preferia não abrir, mas minha mãe quer a Leah vá e eu não a quero lá. E você tem a chave! –

Claro que eu posso. Mas sua mãe não deu a chave a ela? –

- A chave está comigo, consegui pegar sem ninguém ver antes de sair de casa. Está escondida dentro do meu sutiã. – falei baixo para não correr o risco de alguém ouvir por detrás da porta. – Agora a pouco Leah ligou falando não achar a chave e eu em desespero falei que não sabia onde estava, assim que minha mãe entrar vou falar que você me ligou para me chamar para almoçar eu contei o que tinha acontecido e você se ofereceu para abrir a loja até a Bree chegar. –

Tudo bem. Não se preocupe! Tem certeza que não quer que eu vá aí te ver ou te salvar? –

Tenho Alice. O remédio que o médico deu está fazendo efeito, vou apenas esperar pela alta e vou para casa. No momento estou mais preocupada com Leah perto das minhas coisas. –

Tudo bem então, depois passo na sua casa para te ver! –

- Ah e não conte ao Edward. – pedi. – Ele já ficou um pouco desesperado porque pedi para você me buscar ontem na loja devido ao cansaço, se ele descobrir do que aconteceu hoje ele se materializa do meu lado. –

Relaxa, não vou falar nada e vou dizer por Jasper também ficar quieto e... Jasper! Cala a boca... Pera aí Bella, é só falar no diabo que ele aparece, Edward está ligando. – ela falou comigo antes de voltar a falar com ele. – Não atende esse telefone ou então não fala nada sobre a Bella. 

Como eu vou falar alguma coisa dela para ele, se eu nem sei o que aconteceu? – eu o ouvi se defendendo ao fundo e não pude deixar de soltar uma risada.

Independentemente disso, não fala nada sobre a Bella. – mandou. – Vou lá amiga, depois passo na sua casa para te ver! 

- Obrigada Alice. –

Relaxa. E eu obviamente estou fazendo isso para te ajudar e não para ter uma desculpa, mesmo eu não precisando de uma, para ir até aí e ver qual é dessa tua priminha! – brincou rindo e eu ouvi a porta abrindo.

- Preciso desligar. –

Tudo bem. Beijos e se cuida! E tenta não se matar de novo! – brincou rindo.

A Bella tentou se matar?! – ouvi Jasper meio desesperado ao fundo.

Deus, ele é bonito, mas me solta cada uma... – mesmo sentindo um pouco de dor ainda eu não consegui evitar de rir do comentário de Alice. – Vai rindo mesmo, ele está no telefone com Edward. Na verdade, ele acabou de desligar e vai te ligar desesperado. –

- Valeu Jasper! –

Foi mal! – o ouvi gritando e Seth apareceu no meu campo de visão com uma latinha de coca cola em mãos.

- Depois falo com vocês dois. – desliguei o telefone. – Muito obrigada. – com cuidado, repousei o telefone no colchão ao meu lado e me sentei na cama.

- Disponha. – ele abriu a latinha e me entregou junto com um copo descartável. – A mama... Sua mãe já está vindo! –

- Tudo bem. – assenti bebendo um gole do líquido quente e senti meu telefone vibrando na cama e vendo o nome de Edward aparecendo na tela. – Pode me dar licença? –

- Claro. – ele saiu do quarto e eu atendi o telefone.

Você está bem? – Edward falou desesperado antes mesmo que eu tivesse a chance de falar alguma coisa. – Ouvi Jasper falando algo sobre você ter tentado se matar... – eu balancei a cabeça rindo. – Isso não tem a menor graça Isabella. –

- Foi uma brincadeira da Alice. – respondi ainda rindo. – Eu não tentei me matar! – garanti. – Meu café da manhã que tentou! –

Que? – ele se dignou apenas a esboçar um que.

- Eu estava tomando o meu café da manhã, peguei a xícara de chá quente e a mesma explodiu e o chá caiu nas minhas pernas. – expliquei. – Como a queimação não passou mesmo após meia hora com água fria em cima, vim para o hospital. –

Está sozinha? –

- Não. Minha mãe e meu primo me trouxeram. Ainda doí um pouco e está vermelho, mas a queimação passou! – garanti. – Mas pelo visto vou ter que ficar de repouso uns dias para não criar bolhas. – expliquei dando de ombro.

 - É só eu ir embora que você quase morre, menina? – brincou um pouco mais aliviado e eu balancei a cabeça rindo.

- Pelo visto! –

Então já que a senhorita está bem eu vou voltar aqui para os meus afazeres para tentar voltar o mais rápido possível. –

Tudo bem. Falo com você depois! –

Até depois. Eu te amo. –

Eu te amo. -

Um comentário:

  1. não confio nem um pouco em Renee! de louca ela não tem nada! está tramando contra eles!

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