segunda-feira, 20 de junho de 2022

Capítulo 25.

Grécia - a.C.

Narrador.

Seis meses tinham se passado desde que Perséfone tinha voltado para o mundo superior, levanto Macária junto. Ao mesmo tempo em que Hades voltou ao mundo dos mortos sozinho, o frio, o gelo e a neve acabaram bem rápido. Deméter havia cumprido a sua parte do acordo, pelo menos uma parte do acordo, ele só teria certeza de que o acordo seria cumprido por completo quando Perséfone descesse.

Hades não tinha subido muito, o inferno ainda estava um caos devido aos vários mortais que tinham morrido devido ao fome e ao frio causado por Deméter, e ele estava tentando colocar a casa em ordem, com o por do sol acabaria os seis meses pedido por Deméter, e ele não aceitaria um misero segundo de atraso.

Ele estava em seu quarto, já tinha anoitecido e nada de Perséfone chegar, ele pegou um cálice de vinho para poder se acalmar enquanto ela chegava. Ele estava com o cálice nos lábios sorvendo um gole do vinho quando sentiu o cheiro de flores preencher o quarto, e sentindo seu coração se aquecer, ele se virou na direção do cheiro, ao mesmo tempo em que Perséfone pulara em seu colo.

- Está atrasada. – comentou com os lábios da esposa próximo aos dele.

- Afrodite não queria devolver a nossa filha. – respondeu sorrindo ao sentir as mãos e os braços do marido a apertando, abraçando forte contra o próprio corpo. – Eu senti tanto a sua falta. – disse segurando o rosto de Hades entre as mãos. – Esses seis meses foram um tormento. Principalmente a noite e quando eu ficava sozinha. – contou beijando os lábios do marido. – Céus, como eu senti sua falta. – ao receber mais um beijo, Hades migrou com o rosto para o pescoço da esposa, inalando fundo e forte o cheiro de flores que emanava de sua pele alva.

- Deixe-me matar a saudade da minha filha, para que eu possa matar completamente a saudade que eu senti da minha esposa. – pediu e cheirou o pescoço da esposa mais uma vez antes de coloca-la no chão, e ao levantar os olhos viu a filha sentada no meio da cama dos dois. – Olha a princesinha do papai. – se afastando de Perséfone, ele foi até a cama, pegando a filha do colo, que riu para ele. – Olha como você cresceu. – reparou dando um beijo demorado na bochecha da filha. – Eu nem sei se você lembra de mim. –

- Claro que lembra, eu fazia questão de falar sobre você todos os dias para ela. – contou Perséfone ao subir na cama. – Céus, até a cama aqui parece ser mais confortável do que lá em cima. – brincou deitando-se de costas no colchão, com os pés apoiados na cabeceira da cama, fazendo que o seu vestido fino, e dessa vez branco, escorregasse pelas suas pernas até a altura da sua cintura, ato inocente que não passou despercebido pelos olhos de Hades.

- Papai sentiu tanto a sua falta. – ele voltou a atenção a filha, assim que Macária dormisse, ele daria a devida atenção a sua esposa, que estava com os olhos fechados. – O papai tem uma surpresa para você. – comentou. – Amor quer ver o quarto da Macária? – comprovando que ela estava acordada, ela virou a cabeça abrindo os olhos.

- Se importa se eu ver depois, estou aproveitando essa cama. – sorriu. – Ela está quase dormindo, até porque Afrodite não a deixava em paz. –

- Pois então vamos dormir, porque o papai também sentiu muitas saudades da mamãe. – comentou saindo do quarto com a filha no colo e ouvindo a esposa rir atrás dele.

Hades seguiu com a filha até o quarto que haviam mandado arrumar para ela quando voltasse, até porque ela não poderia dormir para sempre no quarto com ele e Perséfone. Macária estava realmente cansada e ao ser colocada no meio do berço ela já estava nos braços de Morfeu. O deus se abaixou um pouco, apenas o suficiente para beijar-lhe a cabeça da filha antes de voltar ao seu quarto e a sua esposa.

Perséfone ainda estava deitada na cama e continuava com os olhos fechados, por não ter certeza de se a esposa estava dormindo, ele subiu na cama com cuidado, lhe afagou o rosto e com o polegar acariciou os lábios avermelhados, e que comprovando que a jovem estava desperta, ela lhe beijou o polegar abrindo os olhos. Hades subiu com a mão até os cabelos escuros da mulher, fazendo com que um cheiro de flores subisse pelo ar e entrasse em seu nariz.

Ainda com a mão do marido no cabelo, Perséfone sentou-se na cama e uniu os lábios aos dele, matando assim a falta que um sentia do outro. Ao aprofundar o beijo, ela não pensou duas vezes para subir no colo do marido, que, retirando a mão dos cabelos da esposa, desceu com a mesma, passando pelo seu corpo. Suas mãos passeavam pelo corpo macio de Perséfone da coxa até o pescoço, onde segurando o vestido, ele rasgou o fino tecido branco, que ela fez questão de jogar o resto dos farrapos no chão, estando agora completamente nua para o marido.

O beijo foi interrompido com Hades levando o rosto até o pescoço da esposa, que ao sentir a sua respiração ofegante, não conseguiu evitar de soltar uma pequena risada, que foi fora substituída por um gemido com ao sentir um leve chupão em seu pescoço. Com todo o cuidado do mundo, ele deitou Perséfone na cama, ficando por cima dela e descendo com a boca de seu pescoço para o seu colo, até os seus seios, abocanhando um sem nem pensar duas vezes ganhando em retribuição um gemido um pouco mais alto de sua esposa.

Hades brincava com os seios de Perséfone intercalando sempre entre um e outro, ele estava morrendo de saudades da esposa, mas ele simplesmente não podia se aliviar de uma vez sem dar o devido prazer a ela, mesmo que a cada toque em cada pequena parte diferente do corpo da jovem fizesse com que o seu pênis se enrijecesse mais ainda em suas calças. Deixando os seios, ele desceu mais ainda com a boca, trilhando um lento caminho de beijos pela barriga, passando pelo ventre até chegar ao meio de suas pernas, que se abriram de imediato para ele.

Ele se posicionou entre as pernas da esposa, passando os braços por baixo do quadril e soltando um baixo gemido, passou a língua pela sua buceta recebendo um gemido mais alto em retribuição. Hades estimulava a intimidade de Perséfone com a ponta da língua, que levara as mãos até a cabeça do esposo, infiltrando seus dedos em seus cabelos curtos e os puxando com força. O nome do seu marido era a única palavra conexa que saia no meio dos gemidos, o que atiçava mais ainda o deus do submundo. Perséfone relaxou na cama ao atingir seu ápice, e subindo com o corpo mais uma vez, Hades trilhava um caminho de beijos pela barriga da esposa, passando pelo vão dos seios, pescoço, queixo e mandíbula até chegar aos lábios avermelhados, que estavam repuxados em um sorriso.

Durante o beijo, as mãos de Perséfone seguiram para as vestes do marido, abaixando-lhe a calça, tendo um pouco de dificuldade. Sem separar os lábios do da esposa, ele abaixou mais ainda as calças, e a jovem abraçou a cintura do marido com as pernas, e com cuidado, ele ajeitou seu pênis na entrada da buceta da deusa e devagar foi deslizando para dentro dela, arrancando um gemido de prazer e satisfação dos dois.

De início ele começara devagar, queria aproveitar o máximo que pudesse da esposa. Sua mão deslizava e apertava toda a extensão da coxa ao quadril da esposa, enquanto as testas dos dois permaneciam juntas, e os olhos de um preso aos olhos do outro. Com o aumento dos gemidos de Perséfone, a velocidade e intensidade do quadril de Hades aumentou contra o dela, arrancando cada vez mais gemidos dos dois.

Os dois estavam tão sedentos um pelo outro que não demorou muito para que ambos atingissem os respectivos ápices. Relaxando um pouco o corpo sobre o da esposa, mas mantendo seu peso em seus braços, as pernas de Perséfone relaxaram e saindo da cintura do marido, enroscaram-se as pernas de Hades, suas mãos ainda estavam no cabelo do deus, que por mais que fossem curtos, ela os bagunçava cada vez mais.


Durante os seis meses que Perséfone ficara no submundo, Hades mal colocava os pés para fora do castelo, ficava todo o tempo possível com sua esposa e filha, porque sabia que rapidamente os seis meses iriam acabar e iria se arrepender completamente caso passasse esses seis meses trabalhando, Hades só colocava os pés para fora do castelo quando algo muito importante acontecesse, fora isso, enquanto Macária estava acordada, ele ficava o tempo todo com a filha, e quando ela dormia, ele era somente da esposa, do mesmo jeito que ela era apenas dele, durante a noite adentro.


Cinco anos haviam se passado e finalmente havia chegado o dia que Héstia revelaria os dons de Macária e dos filhos de Deméter, Despina e Árion.  Perséfone estava com a filha no Olimpo, hoje era o dia que acaba os seus seis meses morando com a mãe e assim que acabasse a reunião ela finalmente iria voltar para o mundo dos mortos, onde ela sentia muito mais a vontade, mesmo sua mãe ainda não aceitando. Todo mundo já estava a postos, menos Hades que ainda não tinha chegado. Os gêmeos de Deméter estavam em um canto quietos, nem Deméter e nem Poseidon davam a devida atenção as crianças, quando Perséfone estava no Olimpo, Deméter só olhava para a filha mais velha.

- Finalmente! – Perséfone falou quando viu o marido entrando na sala. – Está atrasado. – resmungou sentada no chão de mármore com a filha brincando ao seu lado com uma boneca de pano.

- Problemas. – disse simplesmente colocando o cetro no chão ao se abaixando e beijando os lábios da esposa, ganhando uma bufada de irritação de Deméter, a qual ele aprendera a ignorar, já que ela não havia aprendido a conviver com a decisão dos dois. – Oi minha princesinha. – ele pegou Macária nos braços.

- Papai. – ele a abraçou dando um beijo na testa da filha.

- Depois preciso que você e Poseidon desçam. – comentou ao irmão mais novo, com a filha no colo.

- É tão sério assim? – Hades apenas balançou a cabeça assentindo. - Amanhã nós descemos. Héstia. Pronta? – gritou ele para a irmã sentada próxima a lareira.

- Estou terminando. – gritou ela de volta com um pequeno pedaço de madeira na mão e uma pequena faca em outra. – Terminei. – Héstia se levantou com três objetos em mãos. – Dos mais velhos aos mais novos. Venham crianças. – ela chamou os gêmeos para o centro da sala, próxima de onde Perséfone ainda estava sentada no chão, onde Hades colocou Macária próxima a boneca mais uma vez e sentando-se ao lado da esposa. – Árion. – ela chamou o menino, e os únicos que pareciam prestar atenção ou se importar eram os reis do submundo e a própria Macária. – Sabe o que o seu nome significa? – ele balançou a cabeça negando. – O enérgico, apressado. – contou ela. – Isso é para você. – ela esticou um pequeno cavalo entalado na madeira.

- Um cavalo? – perguntou confuso.

- Sim um cavalo. Como o seu pai. – comentou olhando com o canto dos olhos para Poseidon. - Que controla os cavalos, você tem o seu dom vindo deles. – o pequeno levantou a sobrancelha sem entender. – Você poderá se transformar em um cavalo, além de poder controla-los. –

- Que útil em Héstia. – Deméter zombou e todos os presentes a ignoraram.

- Agora Despina. Você herdou os dons de sua mãe e irmã, mas de um jeito diferente. Seu nome, minha pequena, significa destino. – Héstia lhe entregou um véu branco bordado de pequenas flores. – Sua mãe é a deus da colheita, sua irmã a da primavera, e você, pequena, a do inverno e dos fenômenos invernais. Sua irmã cuida do mundo enquanto está aqui em cima, quando ela descer essa responsabilidade será toda sua. – Perséfone não soube entender direito, mas Despina teve um pouco de receio ao pegar o véu. – Agora, a nossa pequena princesa do submundo. –

- Eu... Eu... Eu... – Macária foi pulando para perto de Héstia fazendo os pais e Héstia rirem.

- Sabe o que seu nome significa, pequena? –

- Sei. Significa... – ela pensou um pouco antes de responder. – Significa abençoada. –

- Exatamente. Abençoada, próspera, felicidade e afortunada. E sabe porque o seu nome tem esse significado? - ela negou. – Sua mãe não sabia, mas acertou em cheio. Seu nome tem esse significado, porque serão assim que as pessoas que você levar irão se sentir. –

- O que quer dizer com isso, Héstia? – Hades questionou.

- Simples, meu irmão. Sua filha herdou seus dons. – ela entregou a Macária uma pequena borboleta entalhada em uma madeira branca. – Você, princesa, será deusa da morte abençoada. Você, fará o trabalho de seu pai, levará as almas dos bem-aventurados, como os heróis e qualquer tipo de pessoa que coloca a vida em perigo devido a sua bravura, de todos que morrerem de forma heroica. Toda alma que você carregar, irá direto para os campos Elísios. –

- Por que uma borboleta? – questionou olhando para a borboleta.

- Porque pequena, sempre que for pegar uma alma, as borboletas te ajudaram a leva-la aos Elísios. – ela suspirou. – O que significa, que você precisa aprender o oficio de seu pai. –

- O que você quer dizer com isso, tia? –

- O que você entendeu, Perséfone. Macária precisa ir com o pai recolher as almas. –

- Ela tem cinco anos! –

- Vai esperar ela ter a sua idade para aprender o oficio? Ela não precisa começar imediatamente, Perséfone, mas ela precisa começar mais cedo ou mais tarde. –

- Então... Eu não vou poder subir com a mamãe? – Héstia respirou fundo.

- Vai. Mas você vai precisar passar mais tempo com o seu pai, pelo menos quando os dois concordarem em te ensinar o seu ofício. –

- Tudo bem. – respondeu rindo e pulou de volta para perto dos pais e se sentou no colo da mãe.

- Muito bem. Por hoje é isso. – Héstia se levantou do chão frio de mármore. – Nós vemos quando a filha de Afrodite e Hefesto, Harmonia, e a filha de Zeus com Nix, Éris, vierem receber os seus ofícios. Com licença. – sorridente ela voltou a sua lareira.

- Despeça-se de seus avôs, Macária, nós vamos descer. – Perséfone pediu a filha enquanto observava com o canto dos olhos Deméter mandar os gêmeos de volta aos seus quartos.

- Vovô. – Macária foi primeiro ao avô, Zeus, o que estava mais perto, ao mesmo tempo em que Hades se pôs de pé, estendendo as mãos para ajudar a esposa a se levantar.

- Até a vista pequena. – pegando-a no colo, ele abraçou-a apertando e beijou-lhe a testa, colocando-a no chão de novo.

- Tchau vovó. – ela foi na direção de Deméter. –

- É o que? – distraída ela procurou de onde vinha a voz, até achar a neta próxima a ela. – Oh, até a vista Macária. – fria como sempre agiu com a neta, Deméter se limitou apenas a um afago na cabeça da neta, que voltou correndo para perto dos pais.

- Não se atreva a ir embora sem falar conosco, Macária. – a voz de Afrodite reverberou pelo salão e ela apareceu puxando Hefesto para perto da pequena. Todos achavam estranho o fato de Afrodite ter aceitado tão bem o seu casamento com Hefesto, pelo menos após quase cinco anos juntos, eles pareciam bem e felizes. – Nós temos um presente para você. – comentou sentando-se sobre os seus joelhos no chão de frente para a pequena que estava parada próxima aos pais.

- O que? – perguntou animada. Ela simplesmente amava ganhar presentes.

- Aqui. – Hefesto lhe entregou um embrulho. Ela foi desembrulhando o pano até achar o presente, que ao ver soltou um pulinho e um gritinho de animação.

- É igual a da mamãe. – comentou com uma pequena tiara em mãos.

- Parecida! – concertou Hefesto. Essa era uma tiara dourada com finos fios de ouro traçando o seu formato e com pequenas flores, algumas abertas outras em botão, e algumas folhas todas brancas e com algumas pequenas perolas por toda a sua extensão. – Uma princesa não pode ficar sem a sua tiara, não é mesmo? – brincou bagunçando os cabelos pretos da pequena deusa.

- Obrigada tio. – ela o abraçou pelas pernas, já que o mesmo não tinha se abaixando devido ao seu problema na perna. – Obrigada tia. – já Afrodite ela abraçou, recebendo um abraço apertado em retribuição, e que ao solta-la, pegou a tiara de suas mãos e repousou em sua cabeça.

- Pronto. Agora podes ir. – ela voltou para perto da mãe.

- Minha princesinha. – Perséfone se abaixou o mínimo possível apenas para beijar a bochecha da filha. – Nos vemos depois Afrodite. –

- Até a próxima primavera, irmã. Tio. – Hades apenas mexeu a cabeça na direção da deusa do amor e os dois desceram de volta para o submundo.

- Finalmente em casa. – Macária gritou ao se ver na sala do trono no castelo do pai e saltitante correu para a direção de seu quarto.

- Ela não é a única que gosta mais daqui debaixo do que lá de cima. – Hades brincou enquanto Perséfone se virara de frente para ele e o abraçava pelo pescoço.

- Duas perguntas. Primeira ficou feliz com o oficio recebido por Macária? E segundo, o que aconteceu para o meu pai e Poseidon precisarem descer. –

- Primeiro. – ele abraçou a cintura da esposa. – Sim, fiquei feliz. Preferia que ela herdasse o dom da mãe? Com certeza! Mas o dela será bem tranquilo, não enfrentará nenhum sofrimento, e isso me alegra. E em segundo lugar... – ele suspirou. – Parece que a parede do Tártaro até começando a quebrar. –

- A... A parede que está segurando Cronos? –

- É. Eles precisavam vir para avaliar a parede comigo. –

- Espero que isso não estrague os meus planos. –

- Quais planos? –

- Os planos de fazermos um bebê. – comentou aproximando mais ainda o corpo ao do marido. – Temos seis meses para fazermos um. –

- Em cinco anos, Perséfone, nós passamos uma pequena parte do tempo no quarto e... –

- E agora passaremos uma longa parte do tempo. – respondeu. – E além do que, temos a benção de Héstia. – ele apenas ergueu uma sobrancelha. – Ela notou que eu estava pensativa, e ao contar que estava pensando em dar um irmão ou irmã a Macária, ela viu na fogueira que era a hora certa. Então... – deu de ombros.

- Então, porque não começar agora? – perguntou sorrindo e roçando os lábios aos da esposa.

- Me pega. – ela falou baixinho e ao encontrar o olhar confuso de Hades, ela riu e saiu correndo para a porta que levava para as escadas.

- Perséfone... – ele apoiou seu cetro próximo ao seu trono antes que correr atrás da esposa.

No dia seguinte Hades e Perséfone acordaram antes mesmo do sol raiar no mundo superior devido a invasão de Zeus e Poseidon, que tinham vindo ver o problema a qual Hades mencionara no dia anterior. Ele sugeriu que a esposa voltasse a dormir enquanto iria resolver o problema com os irmãos, e dando um beijo nos lábios da esposa, ele desceu para a sala do trono onde seus irmãos o esperavam. Perséfone até tentou voltar a dormir, rolou de um lado para outro até que resolvera se levantar e se vestir.

Passou pelo quarto de Macária, que dormia profundamente enrolada no lençol, com apenas a cabeça de fora e com a coberta feita de peles cobrindo apenas as duas pernas. Em silêncio, ela entrou no quarto e beijou-lhe a cabeça da filha e saindo do mesmo, seguiu para o andar debaixo, passando pelo salão de jantar e pegando apenas uma maçã sobre a mesa e deixando o castelo dando uma mordida na mesma.

Perséfone havia se acostumado com a tortura e os gritos, ela própria já havia presenciado alguns julgamentos e perturbou o marido até que ele intercedesse por uns, ganhando bem rápido a antipatia de Minos, o juiz principal. Ela não se importava, caso ela sentisse em seu coração que a alma merecia um destino melhor ela perturbava o marido o máximo que podia, o que não era muito difícil, já que ele fazia a maioria das vontades da esposa. Contudo, ao mesmo tempo em que ela ouvia histórias que a deixavam triste e algumas que até fizeram derramar algumas lágrimas, teve algumas que a fez sentir tanta raiva, que mesmo arrependida, ela desejou que a punição fosse muito pior do que tais almas tinham recebido.

- Oi. – Perséfone andava tanto pelo mundo inferior, que chegou bem próximo ao Tártaro, encontrando o marido, pai e o tio.

- Oi meu amor. – ele passou a mão pela cintura da esposa dando um beijo em sua têmpora.

- Bom dia pai, tio! –

- Bom dia Perséfone. – os dois falaram juntos.

- Macária? –

- Dormindo profundamente. – explicou dando outra mordida na maçã. – Resolveram o problema? Tenho planos e os senhores estão atrapalhando. – comentou olhando para o pai e para o tio, que riram.

- Ainda nem chegamos lá, garota. Aquiete-se. – Poseidon riu.

- Aquiete-se? Estou a seis meses sem ver o meu marido! –

- Você vai sobreviver por mais um dia! – rebateu Poseidon, fazendo a deusa revirar os olhos. - Vamos acabar logo com isso, eu me sinto desidratado aqui embaixo com esse calor todo. – resmungou logo em seguida.

- Vamos logo peixinho! – Hades provocou ganhando um olhar de raiva do irmão do meio.

- Posso ir? Não lembro de já ter ido tão baixo no Tártaro. –

- É porque eu não te levei. A menos que tenha ido sozinha. – Hades comentou, quando a mão da esposa, a mão que segurava a maçã, se aproximou de seu rosto e ele mordeu a maçã que a esposa comia.

- Não. Até pouco tempo esses gritos me agonizavam. –

- Não agonizam mais? – Zeus questionou.

- Eles merecem. Alguns merecem punição pior! –

- Ela é pior do que você! – comentou o deus dos deuses olhando para o irmão mais velho sobressaltado.

- Ela ficou com raiva, porque um pai que matou o filho de dois anos não recebeu a punição que ela achou que seria justa. Até discutir com Minos ela discutiu. – Hades contou orgulhoso.

- O submundo precisa trocar de juízes! –

- Espere um pouco, estou confuso na conversa. O deus do submundo é você ou ela? – Poseidon provocou rindo e Zeus o acompanhou.

- Isso é inveja, o reino de nenhum dos dois gostam das suas esposas, e o reino dos dois não as obedecem. O mundo dos mortos a obedece. Ainda não entendi muito bem o porquê, mas obedece. Caso precise me ausentar do mundo inferior, sei que ele ficaria em excelentes mãos! Contanto que ela não chegue perto do tribunal. – comentou Hades e Perséfone gargalhou escondendo o rosto no peito do marido.

Hades concordou com a visita de Perséfone ao nível mais baixo do Tártaro, onde os titãs ficavam presos, e enquanto os três olhavam e discutiam sobre a parede, Perséfone andava devagar por perto dos três, contudo um pouco mais afastada, ela andava devagar, prestando bastante atenção por onde pisava, para não machucar os pés descalços nas pedras irregulares e algumas pontudas. Ela parou ao lado do marido, enlaçando o braço ao dele e completamente desligada do assunto dos dois, e apenas observava a parede que os três comentavam sobre.

Era apenas uma parede de pedra, que não aparentava nada de diferente, não aparentava em nada prender o poderosíssimo titã Cronos, a não ser pelas correntes que começavam a aparecer entre os pequenos pedaços da rocha que havia caído. Eles ficaram ali um tempo pensando em como resolveriam o problema da parede, e Perséfone só os deixou a sós quando sentiu que Macária tinha acordado e beijando rapidamente a bochecha do marido, ela voltou para o castelo.

Os anos foram se passando e Hades e Perséfone tiveram outra filha pouco tempo depois de Macária ter recebido seu ofício. A menina mais nova recebera o nome de Melinoe, cujo nome significava como tendo a cor do marmelo, maçã. Héstia dissera a mais nova o mesmo que dissera a mais velha, que por mais que Perséfone não soubesse, escolhera o nome perfeito para a filha, já que a cor verde-amarelada da fruta evocava a palidez da morte, e ela também herdara o ofício de Hades, recebendo uma ânfora com um líquido dentro que cheirava a alfazema. Melinoe era a deusa dos fantasmas, das oferendas e das cerimônias fúnebres, e ao final do dia recebera o mesmo presente de Hefesto e Afrodite, uma tiara parecida com a da irmã mais velha. A diferença de idade entre as duas irmãs era de seis anos.

Durante esses anos que passaram, Deméter tivera mais dois filhos que ela também abandonara, dessa vez com um mortal, com quem Perséfone não tivera nenhum contato. Todos pensavam que Despina faria o papel da irmã mais velha, de quem havia recebido o apelido carinhoso de princesa das flores, o que inflamara mais ainda o ódio que a jovem sentia da irmã desde pequena.

Despina nutria um ódio pela irmã e pela mãe. Pela mãe que a abandonara e pela irmã, que em sua cabeça, era a culpada pelo abandono causado pela mãe. Despina odiava mais a Perséfone do que a Deméter, e fazia questão de destruir tudo o que a deusa da primavera fazia durante os seis meses em que passava no Olimpo. Quando os seis meses de Perséfone acabavam, Despina fazia questão de congelar toda misera flor ou fruto que jovem deusa da primavera tivera cultivado, além de congelar as plantações de trigo da mãe. Seu ódio também era nutrido por seu pai, Poseidon, e da mesma forma que congelava as flores e as plantações da irmã e da mãe, ela congelava os lagos. A população era a que mais sofria, além de ter as plantações congeladas, os lagos, de onde o povo tirava a água que seria consumida, congeladas, ainda teriam que sofrer diversas geadas, que Despina criava durante os seis meses que Perséfone passava no mundo inferior. Com o passar do tempo, a população da Grécia passou a teme-la e ela passara a ser relacionada como uma deusa das sombras.

Árion era mais calmo que a irmã, ele também não se relacionava muito bem com os pais, mas jamais culpara a Perséfone pelos atos dos pais, e preferir viver no mundo dos mortais, passando a maior parte do tempo transfigurado em um cavalo. Já no mundo dos mortos, Macária era a garotinha perfeita que cumpria seu trabalho sem o menor problema. Pouco tempo após ela ter recebido o seu oficio e sua mãe ter engravidado de Melinoe, ela pediu a mãe que passasse mais tempo com o pai, para que ele lhe ensinasse a recolher as almas dos bem aventurados. Ela aprendera muito bem a sua tarefa e a fazia muito bem, o que não se pode dizer o mesmo de Melinoe, que ao aprender seu ofício com seu pai, ela também fazia seu trabalho muito bem, contudo, após os pais dormirem, a adolescente sentia um prazer indescritível em pegar algumas almas do mundo dos mortos e voltar durante a madrugada ao mundo superior, assustando a todos que estivessem fora de casa, assustando também os cães que ladravam sem motivo algum durante a noite.

Hoje era mais uma madrugada que Melinoe pegava algumas almas, sendo na maioria as de crianças e levara ao mundo superior indo para perto de uma aldeia as margens de uma floresta e atiçou as crianças para irem até aldeia fazer barulhos para assustar os mortais. Dessa vez, Melinoe permaneceu na entrada da floresta rindo ao ouvir os gritos de alguns mortas assustados, uma brisa bateu o cheiro de flores e enxofre adentrou as narinas da deusa dos fantasmas. Ela suspirou antes de virar para as duas figuras atrás dela.

- Oi mãe... Oi pai... – falou sorrindo e encontrando os dois observando-a com as caras fechadas e os braços cruzados. – Mamãe sou obrigada a dizer que a cor preta fica muito melhor na senhora do que o branco. – comentou se referindo ao fato de Perséfone estar vestindo branco, já que estava passando os seus meses no Olimpo.

- O que você está fazendo? – perguntou Perséfone ignorando o comentário da filha.

- Nada! – fez cara de inocente.

- Melinoe... Melinoe... – um dos fantasmas de criança veio correndo. – Nós assustamos o... – ele parou ao ver os reis do submundo parados a frente da filha, os dois não falaram nada, apenas ergueram a sobrancelha para a princesa, que suspirou derrotada.

- Eu estava só me divertindo. – admitiu.

- Atormentando os mortais? – Perséfone questionou. – Não foi assim que você foi criada, Melinoe. – fazendo o bico que ela sempre fazia ao ser contrariada quando criança, a deusa da primavera apenas se virou para o marido. – Amor, pode recolher as almas enquanto eu converso com ela? – provando que sempre fazia o que a esposa pedia, ele apenas assentiu, mas antes de entrar na vila, virou-se para a filha.

- Não pense que quando desceres nós dois não iremos conversar! – disse simplesmente e se voltou a alma da criança. – Leve-me até os outros. – pediu.

- Venha senhor dos mortos. – Hades acompanhou a pequena alma até a aldeia.

- Qual é o seu problema, Melinoe? Por que está querendo chamar atenção? –

- Eu não quero chamar atenção! – defendeu-se.

- Se não está chamando atenção, por que está tirando as almas do mundo inferior, sabendo que isso é completamente contra as regras, até mesmo para o seu pai?! – a princesa balançou as mãos tentando encontrar algum jeito de se explicar para a mãe.

- Eu... Eu só queria que vocês gostassem de mim, igual gostam da Macária. – respondeu com os olhos marejados e confusa, Perséfone olhou para a filha confusa.

- Do que você está falando? Eu e o seu pai amamos vocês duas do mesmo jeito! –

- Não é verdade! - gritou. - Macária é sempre a preferida, sempre foi. A que sempre recebeu elogios pelos trabalhos, enquanto eu não. –

- Isso não é verdade, você que não vê isso. Filha, o trabalho da sua irmã e diferente do seu e... –

- E todo mundo gosta mais dela do que de mim, principalmente os mortais. –

- Os mortais gostariam mais de você, se você parasse de assusta-los e atormenta-los. – rebateu Perséfone com o óbvio. – Filha. – ela se aproximou da adolescente segurando seu rosto delicadamente entre as mãos. – Você não consegue compreender que o seu ofício é mais importante que o da sua irmã e até mesmo que o do seu pai? Filha, você é a deusa das oferendas e da cerimonias fúnebres. Se os mortais não fizerem as cerimonias fúnebres e as oferendas em nome do morto, nem a sua irmã e nem o seu pai recolhem as almas. Ninguém vai para o mundo dos mortos, sem você! Então pare de achar que as pessoas preferem a sua irmã a você. – pediu afagando o rosto da filha com o polegar. – Quer que os mortais façam oferendas a você do mesmo jeito que fazem a sua irmã, então pare de atormenta-los. Pare de pegar as almas que eram para estarem descansando no mundo dos mortos, e pare de traze-los de volta para cá. E por tudo o que é sagrado, pare de pensar que eu e o seu pai gostamos mais da Macária do que de você, pois nós dois amamos as duas da mesma forma! – Melinoe apenas assentiu e Perséfone a puxou para um abraço, que a filha retribuiu o abraço apertado. – Eu te amo, minha princesa. – falou baixo beijando o topo da cabeça da princesa.

- Eu também te amo, mamãe. –

- Por favor, não faz isso de novo. – pediu.

- Está bem mamãe. – Perséfone levantou a cabeça e viu o marido parado próximo as duas.

- Vamos descer, Melinoe? Você tem umas almas para devolver aos Elísios. –

- Não demora para descer mamãe, eu sinto sua falta. – pediu abraçando mais forte a mãe.

- Falta pouco para eu descer, meu amor. E eu também sinto a falta de vocês três. E você pode subir para me ver sempre que quiser. – comentou e ela balançou a cabeça negando. – Por que não, minha filha? –

- A sua mãe não gosta de mim. Nem de mim e nem da Macária. – contou escondendo o rosto contra o corpo da mãe, com o passar dos anos as duas irmãs passaram a evitar chamar Deméter de vó, já que a mesma não agia como tal.  

- Não é verdade, a sua avó é só uma pessoa difícil de lidar. – Hades comentou ainda parado no mesmo lugar.

- Seu pai tem razão. Agora, desça com ele, escute-o sem reclamar e nunca mais faça isso de novo. –

- Tudo bem, mãe. Eu te amo. – Melinoe tirou o rosto do corpo da mãe, levantando a cabeça para olha-la.

- Também te amo, princesinha. – segurando o rosto da filha entre as mãos, ela beijou-lhe a testa. – Vá com seu pai. – soltou-a e ela caminhou na direção do pai, que ainda tinha as almas atrás de si.

- Desce com eles. – mandou Hades e ela balançou a cabeça assentindo, e se aproximando das almas, desceu com eles, deixando os pais sozinhos. - Por mais repetitivo que isso possa ser, irei repetir a frase de sua filha... Não demore para descer. – pediu abraçando a esposa pela cintura, que o abraçou pela nuca.

- E como eu disse. Falta pouco. Assim que o último dia desses longos seis meses acabarem, eu vou descer. – respondeu roçando o nariz ao do esposo. – Eu não aguento mais isso de ficar subindo e descendo. Estou morrendo de saudades das meninas, de você... – ela comentava em voz baixa enquanto passava os dedos pela barba rala do marido. – De nós dois nus naquela cama, como se fossemos um só, enrolados nos lençóis. –

- Para de me provocar! – pediu entre os dentes e Perséfone olhou com o canto dos olhos rapidamente para os céus.

- Minha mãe ainda está dormindo. – comentou pulando no colo de Hades, que a segurou no colo. – Dá tempo de uma rapidinha antes de subir... – mal ela terminou de falar e ele a prensou contra uma das árvores. – E quando eu descer, nós podemos pensar em fazermos outro bebê. – sugeriu sentindo a mão do marido deslizando pela sua coxa. – Que tal um menino, agora? –

- Podemos começar agora! – a voz de Hades saiu como em um sussurro enquanto Perséfone puxava o próprio vestido, embolando-o na cintura enquanto o deus abaixava suas calças, ele ajeitou seu pênis na entrada da buceta de sua esposa, fazendo os dois soltarem um gemido em uníssono com o contato.

Hades e Perséfone ficaram naquela floresta até o nascer do sol, eles haviam se afastado da aldeia e se aproximaram de um pequeno lago no coração da floresta. Quando os raios de sol começaram a aparecer, os dois se despediram com um beijo apaixonado e ele desceu enquanto ela subiu. Perséfone apareceu em seu quarto, ela estava cansada, não havia fechado os olhos desde a noite retrasada, até porque era inadmissível ela dormir depois de cinco meses no Olimpo sem nem ver o marido.

Ela pretendia tomar um banho relaxante antes de ir procurar a mãe, ela sabia que sua mãe a faria descer de novo para continuar semeando, mas antes mesmo que conseguisse tirar o seu vestido, ouviu um limpar de garganta e ao se virar encontrou sua mãe sentada em sua cama, com uma expressão calma e serena.

- Mãe, que susto. –

- Bom dia bebê. Onde estava? – Perséfone suspirou desistindo de tirar a roupa.

- Tive que ir ver a Melinoe. Porque graças a senhora, que insiste que eu fique seis meses aqui, eu não posso criar minhas filhas do jeito que eu gostaria. – resmungou.

- Ouvi boatos do que Melinoe estava fazendo com os mortais. – deu de ombros. – Bom, nós precisamos ir até Creta hoje. – Perséfone suspirou cansada. – Vá tomar um banho bem relaxante e qualquer coisa podemos ir mais tarde para Creta. – Deméter sorriu para a filha. – Como uma boa mãe que eu sou, deixei-lhe um banho preparado, água bem morninha e com lavanda, do jeito que você sempre gostou. –

- Obrigada mãe. –

- Precisa de ajuda para o banho? – questionou levantando da cama sorrindo.

- Não mãe, pelos céus. Posso tomar sozinha o meu banho. –

- Tudo bem. Eu volto depois! Quando descansar, me chama para partirmos. –

Perséfone apenas assentiu e sua mãe a deixou sozinha, deixando seu quarto. Quando a porta se fechou, a deusa pode tirar a sua roupa e caminhou até a sua tina que já estava com algumas flores de lavanda boiando na água, fazendo o cheiro da planta impregnar o ambiente. A jovem passou a mão pela água para sentir o quão quente a mesma estava, e ao sentir que a temperatura estava ótima, ela adentrou a tina, sentindo a água quente cobrindo todo o seu corpo, fechando as mãos em concha, apanhou um pouco de água e molhou o rosto e um pouco do cabelo.

Conforme Perséfone ia molhando seus cabelos usando as mãos como conchas, ela foi sentindo sua cabeça pesando, como se o seu corpo estivesse cedendo ao sono. Ela mal conseguia manter os olhos abertos, talvez fechar os olhos por alguns segundos ajudasse, a deusa se ajeitou na tina e encostou por um momento a cabeça na beirada de mármore da mesma, fechando um pouco os olhos e não demorou nem meio segundo e ela adormeceu profundamente.

quarta-feira, 15 de junho de 2022

Capítulo 24.

Grécia - a.C.

Narrador.

Hades desceu com Perséfone para o mundo dos mortos, e cabisbaixa ela se sentou na cama, levando os pés para cima da mesma, e abraçando suas pernas e escondendo o rosto em seus joelhos. Ele não pensaria duas vezes em permitir que ela voltasse para o Olimpo se ela assim desejasse, e pouco se importava com o fato de Zeus concordar com isso ou não. Caso ela se arrependa, ele a deixaria voltar para o colo da mãe sem pensar duas vezes.

- Se arrependeu? – perguntou sem jeito e sem querer saber a resposta enquanto se sentava ao lado dela e afagava seus cabelos soltos. Ela não tirou o rosto dos joelhos, apenas balançou a cabeça negando. – Então qual é o problema, meu amor? – Perséfone tirou o rosto dos joelhos e ele notou seus olhos com um brilho triste e com pequenas gotas cintilantes ameaçando escorrer pelo seu rosto.

- Minha mãe me odeia. –

- Deméter não te odeia, meu amor. Ela provavelmente me odeia, mas a você não. Dê um tempo a ela, e ela vai se acostumar. Ela... Ela teve a filha arrancada dela de repente. – assegurou. – Venha. – ele, delicadamente, a puxou para o seu colo e deitou com ela na cama, a abraçando forte. Perséfone enroscou uma de suas pernas com a de Hades e fechou os olhos sentindo o cafuné que ele fazia em sua cabeça.

Meses tinham se passado e Perséfone não havia voltado ao mundo dos vivos. Sua barriga já estava bem grande, e pelo que ela havia visto durante a sua vida, de outras deusas grávidas ou mortais, ela estava perto de parir. Hades estava mais cuidadoso do que o de costume, contudo nunca havia a proibido de ir ver a mãe, ela não foi por não querer enfrenta-la ainda, conhecendo sua mãe tão bem quando Perséfone conhecia, ela ainda não havia aceitado ou se acostumado.

Perséfone havia mudado bastante durante o tempo em que morou no submundo, suas vestes que antes eram brancas, agora eram negras, que junto ao seu cabelo castanho, que tinha se tornado um pouco mais escuro, combinava perfeitamente com a sua pele que se tornara pálida, como a de Hades. O brilho que emanava dela, que Hades tanto gostava, não tinha se apagado, como ele achou que seria, ela apenas passou a irradiar uma luz escura.

Algumas coisas haviam mudado no mundo inferior. Hades havia pedido a Hefesto que fizesse um trono a Perséfone, que o fez na mesma ideia que havia feito a coroa, com rosas e folhas incrustradas no trono. O espaço vazio, onde a nova rainha do submundo havia florescido com ásteres, ela criou jardim para ela, onde ela passava uma boa parte de seus dias com Hades.

O deus dos mortos estava andando pelo submundo, muitas almas estavam chegando de mortes estranhas. Durante os julgamentos ele ouvia que eles haviam morrido de fome ou frio, era raro alguém morrer dessa forma, as vezes um ou dois, mas em um único dia chegou vinte.

- O tempo está muito estranho. – ele ouvia uma alma falar aos juízes. – Há várias luas um frio terrível tomou conta de Corinto, parece uma noite sem fim, nenhuma planta nasce, as colheitas ficam congeladas e morrem, as águas dos rios estão completamente duras, é quase impossível pegar um balde d’água. Notícias que está assim durante toda a Grécia, nossa vila fez inúmeros sacríficos a Deméter, e não funcionou. Os sacerdotes dela dizem que ela está furiosa e nada aplaca a irá dela. Ninguém sabe porque ela está assim. – Hades levantou do trono que ele tinha próximo aos juízes. Ele sabia o motivo de Deméter estar fazendo isso com os mortais, e não podia deixar de se sentir culpado.

- Minos. – ele se aproximou dos juízes, e falou com o que dava a decisão final.

- Sim, majestade. –

- Todo mortal que chegar ao submundo com relatos de mortes por fome ou frio, é para mandar direto para os Elísios. –

- Mas senhor... –

- Obedeça! – disse simplesmente e se afastou, voltando na direção do castelo. Ele não contaria a Perséfone o que Deméter estava fazendo com os mortais, mas pediria que ela subisse para ver a mãe, talvez ela se acalmasse um pouco assim. Ao se aproximar do castelo, ele sentiu um leve tremor sobre seus pés e não pode evitar soltar um sorriso, ele não entendia como, mas o mundo inferior obedecia a Perséfone, quando ela estava estressada, seus sentimentos eram refletidos por todo o mundo dos mortos. Ele subiu até o seu quarto, e mal terminou de abrir a porta e uma ânfora fora arremessada na sua direção. – Perséfone! Quase me acertou! –

- Era para ter acertado. – Perséfone rosnou para ele.

- Qual é o problema? –

- Você dormiu com alguma ninfa do Cócito? –

- Como é? – perguntou ele confuso.

- Você dormiu ou não com alguma ninfa do Cócito? – perguntou pausadamente, tentando não se estressar, já que ela deveria lembrar que ela estava grávida.

- Não! – respondeu sério. – De onde tirou uma loucura dessas? –

- Por que as ninfas estão falando isso? – a raiva que ela estava sentido, estava sendo esvaído de seu corpo através de algumas lágrimas que escorriam de seus olhos.

- Perséfone, quantas vezes eu tenho que falar que você é a única mulher na minha vida? A única que eu tenho e a única que eu quero? Pelos céus, eu te amo e jamais me interessaria por outra mulher, quanto mais dormir com ela. Você está tão acostumada com as ninfas, porque está acreditando nas ninfas do Cócito? – perguntou tranquilamente afagando as bochechas de Perséfone.

- Essa gravidez está me enlouquecendo. – ele sorriu e se abaixou na frente da mulher e beijou-lhe a barriga, sentindo um pequeno e fraco chute em retribuição.

- Fala-me quem foi a ninfa que falou isso para você que eu vou tomar uma providência. – pediu se pondo de pé de novo.

- Não precisa. –

- Não precisa? Ela inventa mentiras para a minha esposa, podendo causar algum risco ao nosso filho, e você não quer deixar que eu resolva isso?! –

- Exatamente! –

- Por quê? –

- Porque eu já tomei uma providência. – respondeu se afastando um pouco dele e se sentando na ponta da cama. – Talvez o Cócito não tenha mais nenhuma ninfa. Talvez umas plantas novas tenham surgindo as margens do rio. Só talvez! – respondeu e ele riu.

- Me faz um favor? – pediu ele se aproximando dela e se agachando no chão a sua frente, ela não respondeu, apenas assentiu. – Nunca mais acredite em alguém quando ela falar que eu lhe traí. Isso jamais vai acontecer. – ele se levantou e aproximou o rosto do dela. – Eu só quero você, na minha vida, no meu lado, no meu coração e na minha cama. – ele beijou-lhe os lábios avermelhados e macios de Perséfone, deitando-a na cama, e deitando por cima dela, tomando cuidado com a barriga. – Eu te amo. Eu só quero você na minha vida. Eu jamais me envolveria com outra mulher. – ele falava baixo, com os lábios quase roçando aos dela. – Você é a única mulher que eu vou ter na minha vida e na minha cama, juro pelo Es... – ela o silenciou com um dedo apoiado em seus lábios.

- Não. Pode se arrepender depois. – alertou ela, e os lábios de Hades se repuxaram em um sorriso, e ele beijou-lhe o dedo.

- Jamais me arrependeria! Então, Perséfone, deusa da primavera e rainha do submundo, eu juro pelo Estige, que você é e será a única mulher a habitar o meu lado, a minha cabeça, meu coração e minha cama. A menos que tenhamos uma filha, pois aí terá que dividir o espaço com ela, menos o espaço da minha cama. – ele terminou de falar e Perséfone riu. - Eu te amo mulher! –

- Eu te amo. – ele levou os lábios até o da esposa, mas, antes mesmo que os lábios dos dois se encontrassem, Perséfone soltou um gemido ao sentir uma dor em sua barriga.

- O que foi? –

- Não sei. – ela arfou ao sentir outra dor.

- Pronta? – a voz de Héstia soou pelo quarto, ela olhava animada para o casal sentado na cama.

- Héstia, o que está havendo? –

- Simples. Está na hora do bebê nascer! – respondeu como se fosse óbvio. – Sabemos que a deusa do parto é Hera, mas ninguém quer ela aqui. – deu de ombros. – Portanto. – ela olhou para Hades. – Você para fora. – ela olhou para Perséfone. – E você se acalme, que vai ocorrer tudo bem! –

- Héstia... –

- Para fora! – disse ríspida e ele se aproximou de Perséfone.

- Eu te amo e eu vou ficar esperando lá fora. – Perséfone apenas assentiu enquanto buscava o ar pela boca, fazendo uma careta ao sentir outra dor em sua barriga. Hades beijou a testa e os lábios da esposa. – Cuida dela. –

- Não se preocupe. Agora fora! – garantiu Héstia, e muito contrariado, ele saiu da sala. – Agora, somos só nós duas. Eu preciso que fique calma e faça o que eu mandar. –

Perséfone apenas assentiu, enquanto respirava fundo. Héstia a ajudou a subir mais na cama e encostar as costas na cabeceira da cama e levantou a saia do vestido de Perséfone até um pouco acima de sua cintura. Com um estalar de dedos, uma pequena bacia branca com água limpa e alguns panos limpo apareceram na cama ao lado da deusa da lareira, e posicionando bem entre as pernas da jovem, ela a ordenou que fizesse força.

Hades, ao sair do quarto, tinha ido para a sala do trono e andava de um lado para o outro desesperado e preocupado, ele sentia os sentimentos da esposa a cada pequeno tremor que a terra do mundo inferior dava. Ele queria entrar naquele quarto e ficar com a esposa, mesmo sem saber como ajudaria ou se iria atrapalhar, mas ele queria estar ao lado dela.

Ele não sabia a quanto tempo tinha andando pela sala do trono, parecia uma eternidade, e ele quase tinha aberto um buraco no chão por onde passava, contudo, quando o mundo dos mortos parou de refletir o que Perséfone sentia, ele resolveu voltar para o quarto, ele não abriu a porta, apenas ficou parado do lado de fora tentando ouvir. Um completo silêncio vinha de dentro dele.

- Pode entrar. – ele ouviu a permissão de Héstia, e esbaforido, ele entrou no quarto, as duas estavam sentadas na cama, Perséfone com um pequeno embrulho nos braços. – Bom, meu trabalho foi feito. Levarei a novidade aos outros. – terminou de dizer e desapareceu voltando ao Olimpo e com todo o cuidado do mundo, Hades subiu na cama, sentando ao lado de Perséfone e vendo o que bebê, envolto no embrulho preto, se alimentava no seio da mãe.

- Você está bem? – perguntou baixo, e sorrindo, ela virou o rosto para olha-lo.

- Ótima. Acho que terei que aprender a lhe dividir. – ele piscou os olhos escuros.

- Tivemos uma menina? – Perséfone apenas assentiu. – Nossa princesinha. – aproximou a cabeça da filha lhe beijou os ralos cabelos escuros. – Ela é tão perfeita. – Hades não conseguia parar de babar pela filha, que continuava a se alimentar no seio da mãe, ele estava tão absorto nas duas mulheres da sua vida, que nem sentiu a presença de um outro deus em sua morada.

- Irmão? – os dois desviaram a cabeça do bebê e olharam para a porta, onde Zeus estava parado.

- Não sabe avisar quando vem, não? –

- E quando foi que eu avisei?! – Hades revirou os olhos enquanto Zeus adentrava no quarto. – Héstia me contou. Oi minha filha. – ele deu um beijo na cabeça de Perséfone.

- Oi pai. – Zeus sorriu ao afagar a cabeça da neta.

- Preciso falar com você. – falou olhando para Hades.

- Suponho que eu saiba sobre o que é. – ele levantou da cama. – Ele voltou logo, meu amor. – ele roçou o nariz ao de Perséfone, antes de lhe beijar os lábios e beijou a cabeça da filha. – Venha. –

Zeus afagou a cabeça da filha antes de seguir o irmão mais velho, até o andar de baixo, próximo a sala do trono. O deus dos raios não falou nada por um curto período de tempo que pareceu uma eternidade. Seus olhos estavam presos no trono que Hades havia pedido para ser feito por Hefesto, que havia sido presente de casamento de Hades a Perséfone.

- Ela está feliz aqui embaixo. – comentou olhando para o trono.

- Você falou com Deméter? – Hades mudou de assunto. – Ela tem que parar o que ela está fazendo. –

- Eu... Eu tentei controlar o máximo possível enquanto eu pude. Mas depois que a filha nasceu... –

- Perséfone acabou de dar à luz, já tem luas que tem mortais chegando por terem morrido de frio ou fome. –

- Não me referi a sua filha com Perséfone. –

- Como assim? –

- Depois que Perséfone desceu, Deméter ficou escondida em Arcádia, prometeu que não voltaria ao Olimpo e não semearia mais até Perséfone voltar, mas estamos conseguindo controlar a situação, até que Héstia contou que Deméter deu à luz a um casal, e simplesmente abandonou, querendo achar a entrada pro submundo para vir atrás de Perséfone. Estive com ela a algumas luas, ela bateu o pé falando que uma ninfa, disse que Perséfone está completamente infeliz, então ela está decidida a leva-la de volta ao Olimpo. -

- Quem é o pai? –

- Quem me ajudou a manter Deméter longe do Olimpo? –

- Poseidon? – Zeus apenas assentiu.

- Ele... Nem quis sabe das crianças, Anfitrite o proibiu de ver os gêmeos, e ele acatou. –

- O que você quer que eu faça? Não veio aqui para me contar que minha esposa tem mais dois irmãos. –

- Deixe Perséfone ir ver a mãe. –

- Não. –

- Hades. –

- Perséfone acabou de dar à luz, ela não vai sair daqui. E ela só vai subir se eu tiver uma garantia de que ela vai descer. -  

- Hades, está na hora de deixar essas coisas de lado. Tem pessoas inocentes morrendo. –

- Controle a sua irmã! Ela precisa parar de descontar as frustações nos mortais. –

- O que a minha mãe está fazendo? – a voz de Perséfone chamou a atenção dos dois.

- Amor, por que você está de pé? –

- Eu estou bem. O bebê está dormindo. – disse simplesmente, mesmo no mundo inferior, ela continuava andando descalça. – O que a minha mãe está fazendo? – ela perguntou direto ao pai. Zeus olhou para o irmão, que discretamente balançou a cabeça negando. – O que a minha mãe está fazendo? – perguntou de novo, ficando estressada.

- Sua mãe congelou a Grécia. –

- O que? Como? –

- Ela resolveu que não vai mais pisar no Olimpo até você voltar. E com isso a terra ficou completamente infértil e uma grossa camada de neve cobriu toda a terra. Os mortais estão morrendo de fome. –

- Você sabe e não me contou? –

- Eu ia te contar hoje, quando você entrou em trabalho de parto. –

- E não ia me contar? –

- Ia esperar passar uns dias para te contar. –

- Sua mãe ela também abandonou os dois filhos que acabou de parir para procurar por você. – Zeus atraiu a atenção de Perséfone de novo.

- Espera... O que? Minha mãe teve outros filhos? Com quem? E como assim me procurar? Ela sabe onde eu estou! –

- Sua mãe engravidou de Poseidon, e os dois abandonaram as crianças. E umas ninfas falaram para Deméter que você está infeliz aqui em baixo, e ela está decidida a te achar e te levar para o Olimpo de novo. Eu vim pedir a Hades para deixar você ir ver a sua mãe, e ele negou. –

- Você acabou de dar à luz, não era nem para estar fora da cama, quanto mais procurando e provavelmente se estressando com Deméter. – Hades se defendeu.

- Tem pessoas morrendo por minha causa, eu tenho que ir falar com a minha mãe. –

- Você não vai se eu não tiver uma garantia que você vai voltar. –

- Amor... – Perséfone se aproximou de Hades.

- Não. Se eu não tiver uma garantia que você vai voltar, você não sobe. –

- É a minha mãe. Minha mãe não está bem lá em cima, e aqui embaixo está você e minha filha. Eu não vou abandonar vocês dois, mas eu também não posso abandonar a minha mãe. Tem pessoas morrendo por minha causa, eu não posso permitir que isso continue acontecendo. –

- Eu sei que você vai voltar, mas eu não tenho garantia nenhuma de que Deméter não vai tentar te prender lá em cima. –

- Eu vou com ela! – Zeus se fez presente. – Eu levo e trago ela de volta. Tens a minha palavra. –

- Tudo bem. –

- Hey. – Perséfone segurou delicadamente o rosto de Hades entre as mãos macias e o fez encara-la. – Eu te amo, e eu não vou abandonar você e nem a nossa filha. – ele fechou os olhos respirando fundo e abraçou a cintura da esposa, inalando o cheiro de seu pescoço.

- Não demora. – pediu contra o seu pescoço.

- Vou voltar antes da nossa princesa acordar. –

- Eu te amo. – ele deu um beijo nos lábios da esposa antes de solta-la e de ela ir com o pai.

Já tinha muito tempo que Perséfone não colocava os pés na relva verde e macia e nem via a luz, uma parte dela espera encontrar um sol forte que a faria cobrir os olhos para se proteger da claridade, de ser beijada pela brisa fresca, enquanto inalava o indescritível aroma das flores enquanto seus pés tocavam a grama macia, contudo, o que ela encontrou foi um mundo completamente cinza. O chão estava coberto por uma neve fria, as árvores estavam mortas e um frio cortante arrepiava todo o pequeno corpo da deusa da primavera, que usava nada mais do que um fresco vestido de linho.

- O que aconteceu aqui? – perguntou desesperada olhando para o pai.

- Sua mãe. – disse simplesmente. – Quando ela se escondeu em Arcádia, aos poucos a terra foi congelando, nós tentamos controlar as coisas o máximo que conseguíamos, mas quando a ninfa disse que você não estava feliz, depois que seus irmãos nasceram, piorou a um nível que nós não conseguimos fazer mais nada. – respondeu colocando a capa de pele que ele usava sobre os ombros da filha.

- Onde ela está? –

- No templo dela em Argos. – respondeu e ela apenas assentiu. Os dois partiram para Argos, e a cidade onde ela se encontrava, estava muito pior do que o resto da Grécia, uma tempestade de neve cobria a cidade, se era difícil para os deuses, imagine para os mortais. – Ela está lá dentro. Eu te espero aqui. – Perséfone assentiu e devolveu a capa para o pai antes de entrar no templo da mãe.

O templo estava relativamente quente, diversos focos de fogueira espalhados pelo templo o deixavam quente, e próximo a estátua feita pelos mortais, Deméter estava parada, olhando para o nada e completamente absorta em pensamentos.

- Mãe! – Perséfone lhe chamou a atenção, tirando Deméter de seus desvaneios, devagar, a deusa da colheita virou-se para onde vinha a voz e encarou a filha sem reconhece-la. Ela tinha mudado bastante, sua pele estava mais pálida do que era, seus cabelos e olhos mais escuros e suas vestes agora eram negras.

- Perséfone?! – perguntou e em seus lábios surgiu um pequeno sorriso.

- O que a senhora está fazendo? – questionou se aproximando da mãe.

- Filha! – Deméter se aproximou da filha, a abraçando com força. – Minha filha! – Perséfone também sentia falta da mãe, e ela retribuiu o abraçou apertado. – Graças aos céus você voltou. – ela soltou a filha e segurou o seu rosto entre as mãos. – Nãos se preocupe que em poucos dias nós vamos tirar todo e qualquer resquício do mundo inferior de você e... –

- Mãe. Eu só vim ver a senhora. Eu não vou voltar para o Olimpo. –

- É o que? – todo o carinho que ela sentia sumiu enquanto ela largava a filha.

- Eu não vou deixar o meu marido e tampouco a minha filha. –

- Como pode me dizer isso? Soube que você não está feliz e... Hades te obrigou a mentir não foi? –

- Mãe, pelos céus! Aquela ninfa mentiu para senhora. Eu estou completamente feliz e não, Hades não me obrigou a mentir, ele jamais me obrigou a alguma coisa. Por que a senhora não consegue entender e aceitar que eu o amo e ele também me ama? –

- A morte não tem sentimentos! –

- Você não o conhece, mãe. – Perséfone passou as mãos pelo rosto. – E como podes falar que a morte não tem sentimentos, quando quem está agindo como se não tivesse é a senhora? Olha o que a senhora está fazendo ao mundo. Pessoas estão morrendo pelos seus atos. –

- Meus atos? – Deméter rosnou. – Se isso está acontecendo é culpa sua! Você escolheu aquele inferno a sua mãe. –

- Eu escolhi o amor. E se a senhora aceitasse isso mais fácil poderíamos todos conviver em harmonia. Quem não quer é a senhora. – Deméter virou-se de costas para minha ressentida. – Mãe. Eu quero ter todo o contato possível com a senhora, eu posso sair do mundo inferior sempre que eu quiser para vir vê-la, posso trazer a sua neta para a senhora conhecê-la, mas a senhora precisa parar com essa neve. Precisa deixar os mortais viverem a vida deles, eles não têm culpa das decisões que nós tomamos. E por favor, mãe, a senhora acabou de ter dois filhos, a senhora precisa cuidar deles e não me procurar. A senhora sabe onde eu estou, e sabe que eu estou bem e que estou lá porque eu quero. Se você quer me ver, é só me chamar e não ficar me procurando pela Grécia. –

- Você disse que teve uma filha. Quero só ver como você reagir quando ela lhe esfaquear pelas costas igual você fez comigo. –

- Se a minha filha decidir ir para qualquer canto do mundo para ficar com alguém que ela ama, e que a ama também, eu não vou agir como a senhora. –

- Você fala isso agora, porque ela é um bebê. –

- Ela sendo um bebê ou sendo adulta o meu pensamento não vai mudar. Eu não lhe esfaqueei pelas costas, mãe, se a senhora fosse mais flexível as coisas teriam acontecido de forma mais tranquila. A senhora vive falando que foi Hades quem me obrigou a comer aquelas sementes de romã, sendo que na verdade, quem me obrigou foi a senhora! – Perséfone falava e Deméter continuava de costas para a filha. – Se a senhora ainda me ama e quer continuar me vendo, acabe com esse frio! Essa é a minha condição para que eu lhe veja de novo. –

Deméter não falou nada de novo e Perséfone saiu do templo encontrando o pai do lado de fora, com um pouco de neve em seus cabelos e barba.

- Falou com ela? –

- Não aja como se não tivesse escutado! – respondeu rispidamente e Zeus ergueu a sobrancelha.

- Você nunca falou assim. Hades realmente mudou você. –

- Talvez ele apenas tenha me ensinado a deixar de ser feita de idiota por vocês. – rebateu. – Eu vou voltar para a minha casa, eu não vou abandonar a minha filha igual a minha mãe fez! – Perséfone não deu tempo de Zeus responder e simplesmente sumiu diante de seus olhos indo direito para o mundo dos mortos.

Perséfone estava tremendo de frio, o mundo superior estava muito frio, se para a deusa já estava horrível, imagine para os mortais. Em contra partida o mundo inferior estava bem quente, e enquanto ela caminhava até o seu quarto, seu corpo foi dando uma aquecida. Ela abriu a porta do quarto e Hades estava sentado na cama com a filha no colo, ao ouvir a porta abrindo, ele levantou os olhos e esboçou um sorriso singelo ao ver a esposa entrando no quarto.

- Ela acordou? – perguntou baixo, ao subir na cama e ir para debaixo das cobertas para se aquecer mais rápido.

- Não. Fez menção de acordar, mas assim que eu a peguei ela dormiu. E está bem calma, nunca achei que uma criança pudesse ficar tão calma e tranquila em meus braços. –

- Você também achou que nunca teria uma mulher em seus braços e olha eu aqui. – ele virou o rosto para a esposa e sorriu ao receber um singelo beijo nos lábios.

- Se entendeu com a sua mãe? –

- Acho que eu piorei mais ainda as coisas. – comentou quando Hades se levantou e caminhou até o berço, que tinham posto no quarto, e a deitou lá dentro. – Ela disse que quem está causando isso aos mortais sou eu, e que quer ver a minha cara quando nossa filha me esfaquear pelas costas igual eu fiz com ela. – deu de ombros. – Falei que se ela quisesse me ver de novo tinha que acabar com esse frio. –

- Ela aceitou? –

- Ela não falou nada e eu vim embora. Está muito frio lá em cima. –

- Precisamos decidir uma coisa mais importante. – Hades comentou ao voltar para a cama e abrindo os braços para Perséfone se aninhar ali. –

- O que? –

- O nome da nossa menina?! – perguntou sorrindo.

- Pensei em um. – respondeu levantando a cabeça para vê-lo, e ele esperou que ela falasse. – Macária. Significa abençoado. –

- Eu gostei. –

- Será que ela vai herdar os meus ou os seus? –

- Espero que os seus! – respondeu acariciando a cabeça de Perséfone. – De qualquer forma, iremos descobrir só daqui a cinco anos. – Perséfone sentou de lado no colo do marido.

- Mais quantos filhos você vai querer? –

- Acabamos de ter a nossa primeira filha e já está pensando no próximo? –

- É que talvez eu goste bastante de fazê-los. – respondeu sorrindo.

- Não me provoque. – alertou.

- Eu gosto de te provocar! – rebateu roçando os lábios nos de Hades, quando a pequena Macária, acordou chorando. – Sortudo. – brincou e ele riu.

Perséfone sentou na cama e Hades se levantou para pegar a pequena Macária no berço e com cuidado a trouxe de volta para a cama, entregando-a para Perséfone, que a aninhou no colo, e expondo o seio a filha o abocanhou faminta, enquanto a mãe se aninhava na cama e deitava a cabeça no peito do marido.

Alguns dias haviam se passado até que Hermes veio trazendo um recado de Deméter, que queria que tanto Hades quando Perséfone subissem, porque ela queria ter uma audiência com os dois e com Zeus. Como os dois não podiam deixar a pequena Macária sozinha no submundo, elas subiram com ela, e não foi nenhuma surpresa Afrodite ter pego a menina no colo, mal os dois apareceram na sala do Olimpo.

- Muito bem, Deméter, você queria uma audiência conosco, o que quer? – Zeus perguntou sentado em seu trono.

- Eu tenho uma condição para acabar com o inverno. –

- Qual? –

- Perséfone comeu seis sementes de romã. – Zeus assentiu e Hades e Perséfone se entreolharam. – O ano tem doze meses. Eu quero que ela passe seis meses aqui em cima comigo. –

- O que? – Hades questionou sem entender muito bem o que a irmã havia dito.

- Isso que você ouviu, meu irmão. Para esse frio acabar, Perséfone passa seis meses comigo aqui em cima e seis meses com você no inferno. E lembre-se de que ela tem trabalho aqui em cima. Ela me ajuda a semear os campos. –

- Não. Acha que eu não sei que você vai tentar mantê-la aqui em cima? –

- Zeus está de prova e testemunha, de que quando acabar os seis meses ela vai descer. –

- Não. Ela sobe para ver você, ela sobe para fazer o trabalho dela e depois desce. –

- Minha condição é essa. – ela olhou para Zeus.

- O que você sugere então que nós façamos com a Macária? Ela vai ficar seis meses sem ver a mãe ou então eu vou ficar seis meses sem ver a minha esposa e minha filha? –

- Por que eu tenho que ficar o ano todo sem ver a minha filha? – rebateu

- Eu não vou aceitar isso e... –

- Amor... – Perséfone se postou na frente do esposo. – Meu amor. – segurando o rosto de Hades, fez ele abaixar a cabeça para que ele olhasse no fundo dos seus olhos. – Amor, eu não gosto disso, mas seis meses passam muito rápido. –

- Perséfone. –

- Amor, eu não posso deixar que mortais inocentes morram pelas minhas decisões. –

- Nossas decisões. –

- Eu decidi comer as sementes, eu decidi isso sozinha. E você pode subir sempre que quiser, do mesmo jeito que você subia para me ver, você pode subir para me ver, e ver a Macária. Você vai ver que esses seis meses vão passar voando. – muito contrariado e não gostando nem um pouco dessa condição de Deméter, já que ele não confiava nem um pouco na irmã, ele respirou fundo olhando para o irmão mais novo.

- Se acontecer alguma guerra que nos envolva, que envolva o Olimpo, ela fica lá embaixo. Em qualquer época do ano. Ela fica no mundo inferior comigo. –

- Deméter? – Zeus olhou para a irmã, que pensou um pouco antes de balançar a cabeça assentindo. Ela sabia muito bem que caso acontecesse uma guerra contra o Olimpo, o mundo inferior seria o lugar mais seguro para ficar.

- Tudo bem. Eu concordo. Mas do mesmo jeito que Hades pode subir para vê-la durante os meus seis meses, eu quero permissão para descer e ver minha filha no mundo dos mortos. –

- Do jeito que você é invasiva, você pode ir, mas avise! Não faça igual a Zeus, que simplesmente entra em meus aposentos sem avisar. –

- Tudo bem. Mas do mesmo jeito que eu não vou ficar indo todos os dias ao inferno ver minha filha, também não é para você subir todos os dias. –

- Os três estão de acordo? – Zeus perguntou e Hades contrariado assentiu concordando enquanto abraçava a esposa. – Ótimo, quem descumprir o acordo perde permanentemente a parte do ano correspondente. – os dois concordaram. – Agora acabe com esse frio! -