Grécia - a.C.
Narrador.
Hades desceu com Perséfone para o mundo dos mortos, e cabisbaixa ela se sentou na cama, levando os pés para cima da mesma, e abraçando suas pernas e escondendo o rosto em seus joelhos. Ele não pensaria duas vezes em permitir que ela voltasse para o Olimpo se ela assim desejasse, e pouco se importava com o fato de Zeus concordar com isso ou não. Caso ela se arrependa, ele a deixaria voltar para o colo da mãe sem pensar duas vezes.
- Se arrependeu? – perguntou sem jeito e sem querer saber a resposta enquanto se sentava ao lado dela e afagava seus cabelos soltos. Ela não tirou o rosto dos joelhos, apenas balançou a cabeça negando. – Então qual é o problema, meu amor? – Perséfone tirou o rosto dos joelhos e ele notou seus olhos com um brilho triste e com pequenas gotas cintilantes ameaçando escorrer pelo seu rosto.
- Minha mãe me odeia. –
- Deméter não te odeia, meu amor. Ela provavelmente me odeia, mas a você não. Dê um tempo a ela, e ela vai se acostumar. Ela... Ela teve a filha arrancada dela de repente. – assegurou. – Venha. – ele, delicadamente, a puxou para o seu colo e deitou com ela na cama, a abraçando forte. Perséfone enroscou uma de suas pernas com a de Hades e fechou os olhos sentindo o cafuné que ele fazia em sua cabeça.
Meses tinham se passado e Perséfone não havia voltado ao mundo dos vivos. Sua barriga já estava bem grande, e pelo que ela havia visto durante a sua vida, de outras deusas grávidas ou mortais, ela estava perto de parir. Hades estava mais cuidadoso do que o de costume, contudo nunca havia a proibido de ir ver a mãe, ela não foi por não querer enfrenta-la ainda, conhecendo sua mãe tão bem quando Perséfone conhecia, ela ainda não havia aceitado ou se acostumado.
Perséfone havia mudado bastante durante o tempo em que morou no submundo, suas vestes que antes eram brancas, agora eram negras, que junto ao seu cabelo castanho, que tinha se tornado um pouco mais escuro, combinava perfeitamente com a sua pele que se tornara pálida, como a de Hades. O brilho que emanava dela, que Hades tanto gostava, não tinha se apagado, como ele achou que seria, ela apenas passou a irradiar uma luz escura.
Algumas coisas haviam mudado no mundo inferior. Hades havia pedido a Hefesto que fizesse um trono a Perséfone, que o fez na mesma ideia que havia feito a coroa, com rosas e folhas incrustradas no trono. O espaço vazio, onde a nova rainha do submundo havia florescido com ásteres, ela criou jardim para ela, onde ela passava uma boa parte de seus dias com Hades.
O deus dos mortos estava andando pelo submundo, muitas almas estavam chegando de mortes estranhas. Durante os julgamentos ele ouvia que eles haviam morrido de fome ou frio, era raro alguém morrer dessa forma, as vezes um ou dois, mas em um único dia chegou vinte.
- O tempo está muito estranho. – ele ouvia uma alma falar aos juízes. – Há várias luas um frio terrível tomou conta de Corinto, parece uma noite sem fim, nenhuma planta nasce, as colheitas ficam congeladas e morrem, as águas dos rios estão completamente duras, é quase impossível pegar um balde d’água. Notícias que está assim durante toda a Grécia, nossa vila fez inúmeros sacríficos a Deméter, e não funcionou. Os sacerdotes dela dizem que ela está furiosa e nada aplaca a irá dela. Ninguém sabe porque ela está assim. – Hades levantou do trono que ele tinha próximo aos juízes. Ele sabia o motivo de Deméter estar fazendo isso com os mortais, e não podia deixar de se sentir culpado.
- Minos. – ele se aproximou dos juízes, e falou com o que dava a decisão final.
- Sim, majestade. –
- Todo mortal que chegar ao submundo com relatos de mortes por fome ou frio, é para mandar direto para os Elísios. –
- Mas senhor... –
- Obedeça! – disse simplesmente e se afastou, voltando na direção do castelo. Ele não contaria a Perséfone o que Deméter estava fazendo com os mortais, mas pediria que ela subisse para ver a mãe, talvez ela se acalmasse um pouco assim. Ao se aproximar do castelo, ele sentiu um leve tremor sobre seus pés e não pode evitar soltar um sorriso, ele não entendia como, mas o mundo inferior obedecia a Perséfone, quando ela estava estressada, seus sentimentos eram refletidos por todo o mundo dos mortos. Ele subiu até o seu quarto, e mal terminou de abrir a porta e uma ânfora fora arremessada na sua direção. – Perséfone! Quase me acertou! –
- Era para ter acertado. – Perséfone rosnou para ele.
- Qual é o problema? –
- Você dormiu com alguma ninfa do Cócito? –
- Como é? – perguntou ele confuso.
- Você dormiu ou não com alguma ninfa do Cócito? – perguntou pausadamente, tentando não se estressar, já que ela deveria lembrar que ela estava grávida.
- Não! – respondeu sério. – De onde tirou uma loucura dessas? –
- Por que as ninfas estão falando isso? – a raiva que ela estava sentido, estava sendo esvaído de seu corpo através de algumas lágrimas que escorriam de seus olhos.
- Perséfone, quantas vezes eu tenho que falar que você é a única mulher na minha vida? A única que eu tenho e a única que eu quero? Pelos céus, eu te amo e jamais me interessaria por outra mulher, quanto mais dormir com ela. Você está tão acostumada com as ninfas, porque está acreditando nas ninfas do Cócito? – perguntou tranquilamente afagando as bochechas de Perséfone.
- Essa gravidez está me enlouquecendo. – ele sorriu e se abaixou na frente da mulher e beijou-lhe a barriga, sentindo um pequeno e fraco chute em retribuição.
- Fala-me quem foi a ninfa que falou isso para você que eu vou tomar uma providência. – pediu se pondo de pé de novo.
- Não precisa. –
- Não precisa? Ela inventa mentiras para a minha esposa, podendo causar algum risco ao nosso filho, e você não quer deixar que eu resolva isso?! –
- Exatamente! –
- Por quê? –
- Porque eu já tomei uma providência. – respondeu se afastando um pouco dele e se sentando na ponta da cama. – Talvez o Cócito não tenha mais nenhuma ninfa. Talvez umas plantas novas tenham surgindo as margens do rio. Só talvez! – respondeu e ele riu.
- Me faz um favor? – pediu ele se aproximando dela e se agachando no chão a sua frente, ela não respondeu, apenas assentiu. – Nunca mais acredite em alguém quando ela falar que eu lhe traí. Isso jamais vai acontecer. – ele se levantou e aproximou o rosto do dela. – Eu só quero você, na minha vida, no meu lado, no meu coração e na minha cama. – ele beijou-lhe os lábios avermelhados e macios de Perséfone, deitando-a na cama, e deitando por cima dela, tomando cuidado com a barriga. – Eu te amo. Eu só quero você na minha vida. Eu jamais me envolveria com outra mulher. – ele falava baixo, com os lábios quase roçando aos dela. – Você é a única mulher que eu vou ter na minha vida e na minha cama, juro pelo Es... – ela o silenciou com um dedo apoiado em seus lábios.
- Não. Pode se arrepender depois. – alertou ela, e os lábios de Hades se repuxaram em um sorriso, e ele beijou-lhe o dedo.
- Jamais me arrependeria! Então, Perséfone, deusa da primavera e rainha do submundo, eu juro pelo Estige, que você é e será a única mulher a habitar o meu lado, a minha cabeça, meu coração e minha cama. A menos que tenhamos uma filha, pois aí terá que dividir o espaço com ela, menos o espaço da minha cama. – ele terminou de falar e Perséfone riu. - Eu te amo mulher! –
- Eu te amo. – ele levou os lábios até o da esposa, mas, antes mesmo que os lábios dos dois se encontrassem, Perséfone soltou um gemido ao sentir uma dor em sua barriga.
- O que foi? –
- Não sei. – ela arfou ao sentir outra dor.
- Pronta? – a voz de Héstia soou pelo quarto, ela olhava animada para o casal sentado na cama.
- Héstia, o que está havendo? –
- Simples. Está na hora do bebê nascer! – respondeu como se fosse óbvio. – Sabemos que a deusa do parto é Hera, mas ninguém quer ela aqui. – deu de ombros. – Portanto. – ela olhou para Hades. – Você para fora. – ela olhou para Perséfone. – E você se acalme, que vai ocorrer tudo bem! –
- Héstia... –
- Para fora! – disse ríspida e ele se aproximou de Perséfone.
- Eu te amo e eu vou ficar esperando lá fora. – Perséfone apenas assentiu enquanto buscava o ar pela boca, fazendo uma careta ao sentir outra dor em sua barriga. Hades beijou a testa e os lábios da esposa. – Cuida dela. –
- Não se preocupe. Agora fora! – garantiu Héstia, e muito contrariado, ele saiu da sala. – Agora, somos só nós duas. Eu preciso que fique calma e faça o que eu mandar. –
Perséfone apenas assentiu, enquanto respirava fundo. Héstia a ajudou a subir mais na cama e encostar as costas na cabeceira da cama e levantou a saia do vestido de Perséfone até um pouco acima de sua cintura. Com um estalar de dedos, uma pequena bacia branca com água limpa e alguns panos limpo apareceram na cama ao lado da deusa da lareira, e posicionando bem entre as pernas da jovem, ela a ordenou que fizesse força.
Hades, ao sair do quarto, tinha ido para a sala do trono e andava de um lado para o outro desesperado e preocupado, ele sentia os sentimentos da esposa a cada pequeno tremor que a terra do mundo inferior dava. Ele queria entrar naquele quarto e ficar com a esposa, mesmo sem saber como ajudaria ou se iria atrapalhar, mas ele queria estar ao lado dela.
Ele não sabia a quanto tempo tinha andando pela sala do trono, parecia uma eternidade, e ele quase tinha aberto um buraco no chão por onde passava, contudo, quando o mundo dos mortos parou de refletir o que Perséfone sentia, ele resolveu voltar para o quarto, ele não abriu a porta, apenas ficou parado do lado de fora tentando ouvir. Um completo silêncio vinha de dentro dele.
- Pode entrar. – ele ouviu a permissão de Héstia, e esbaforido, ele entrou no quarto, as duas estavam sentadas na cama, Perséfone com um pequeno embrulho nos braços. – Bom, meu trabalho foi feito. Levarei a novidade aos outros. – terminou de dizer e desapareceu voltando ao Olimpo e com todo o cuidado do mundo, Hades subiu na cama, sentando ao lado de Perséfone e vendo o que bebê, envolto no embrulho preto, se alimentava no seio da mãe.
- Você está bem? – perguntou baixo, e sorrindo, ela virou o rosto para olha-lo.
- Ótima. Acho que terei que aprender a lhe dividir. – ele piscou os olhos escuros.
- Tivemos uma menina? – Perséfone apenas assentiu. – Nossa princesinha. – aproximou a cabeça da filha lhe beijou os ralos cabelos escuros. – Ela é tão perfeita. – Hades não conseguia parar de babar pela filha, que continuava a se alimentar no seio da mãe, ele estava tão absorto nas duas mulheres da sua vida, que nem sentiu a presença de um outro deus em sua morada.
- Irmão? – os dois desviaram a cabeça do bebê e olharam para a porta, onde Zeus estava parado.
- Não sabe avisar quando vem, não? –
- E quando foi que eu avisei?! – Hades revirou os olhos enquanto Zeus adentrava no quarto. – Héstia me contou. Oi minha filha. – ele deu um beijo na cabeça de Perséfone.
- Oi pai. – Zeus sorriu ao afagar a cabeça da neta.
- Preciso falar com você. – falou olhando para Hades.
- Suponho que eu saiba sobre o que é. – ele levantou da cama. – Ele voltou logo, meu amor. – ele roçou o nariz ao de Perséfone, antes de lhe beijar os lábios e beijou a cabeça da filha. – Venha. –
Zeus afagou a cabeça da filha antes de seguir o irmão mais velho, até o andar de baixo, próximo a sala do trono. O deus dos raios não falou nada por um curto período de tempo que pareceu uma eternidade. Seus olhos estavam presos no trono que Hades havia pedido para ser feito por Hefesto, que havia sido presente de casamento de Hades a Perséfone.
- Ela está feliz aqui embaixo. – comentou olhando para o trono.
- Você falou com Deméter? – Hades mudou de assunto. – Ela tem que parar o que ela está fazendo. –
- Eu... Eu tentei controlar o máximo possível enquanto eu pude. Mas depois que a filha nasceu... –
- Perséfone acabou de dar à luz, já tem luas que tem mortais chegando por terem morrido de frio ou fome. –
- Não me referi a sua filha com Perséfone. –
- Como assim? –
- Depois que Perséfone desceu, Deméter ficou escondida em Arcádia, prometeu que não voltaria ao Olimpo e não semearia mais até Perséfone voltar, mas estamos conseguindo controlar a situação, até que Héstia contou que Deméter deu à luz a um casal, e simplesmente abandonou, querendo achar a entrada pro submundo para vir atrás de Perséfone. Estive com ela a algumas luas, ela bateu o pé falando que uma ninfa, disse que Perséfone está completamente infeliz, então ela está decidida a leva-la de volta ao Olimpo. -
- Quem é o pai? –
- Quem me ajudou a manter Deméter longe do Olimpo? –
- Poseidon? – Zeus apenas assentiu.
- Ele... Nem quis sabe das crianças, Anfitrite o proibiu de ver os gêmeos, e ele acatou. –
- O que você quer que eu faça? Não veio aqui para me contar que minha esposa tem mais dois irmãos. –
- Deixe Perséfone ir ver a mãe. –
- Não. –
- Hades. –
- Perséfone acabou de dar à luz, ela não vai sair daqui. E ela só vai subir se eu tiver uma garantia de que ela vai descer. -
- Hades, está na hora de deixar essas coisas de lado. Tem pessoas inocentes morrendo. –
- Controle a sua irmã! Ela precisa parar de descontar as frustações nos mortais. –
- O que a minha mãe está fazendo? – a voz de Perséfone chamou a atenção dos dois.
- Amor, por que você está de pé? –
- Eu estou bem. O bebê está dormindo. – disse simplesmente, mesmo no mundo inferior, ela continuava andando descalça. – O que a minha mãe está fazendo? – ela perguntou direto ao pai. Zeus olhou para o irmão, que discretamente balançou a cabeça negando. – O que a minha mãe está fazendo? – perguntou de novo, ficando estressada.
- Sua mãe congelou a Grécia. –
- O que? Como? –
- Ela resolveu que não vai mais pisar no Olimpo até você voltar. E com isso a terra ficou completamente infértil e uma grossa camada de neve cobriu toda a terra. Os mortais estão morrendo de fome. –
- Você sabe e não me contou? –
- Eu ia te contar hoje, quando você entrou em trabalho de parto. –
- E não ia me contar? –
- Ia esperar passar uns dias para te contar. –
- Sua mãe ela também abandonou os dois filhos que acabou de parir para procurar por você. – Zeus atraiu a atenção de Perséfone de novo.
- Espera... O que? Minha mãe teve outros filhos? Com quem? E como assim me procurar? Ela sabe onde eu estou! –
- Sua mãe engravidou de Poseidon, e os dois abandonaram as crianças. E umas ninfas falaram para Deméter que você está infeliz aqui em baixo, e ela está decidida a te achar e te levar para o Olimpo de novo. Eu vim pedir a Hades para deixar você ir ver a sua mãe, e ele negou. –
- Você acabou de dar à luz, não era nem para estar fora da cama, quanto mais procurando e provavelmente se estressando com Deméter. – Hades se defendeu.
- Tem pessoas morrendo por minha causa, eu tenho que ir falar com a minha mãe. –
- Você não vai se eu não tiver uma garantia que você vai voltar. –
- Amor... – Perséfone se aproximou de Hades.
- Não. Se eu não tiver uma garantia que você vai voltar, você não sobe. –
- É a minha mãe. Minha mãe não está bem lá em cima, e aqui embaixo está você e minha filha. Eu não vou abandonar vocês dois, mas eu também não posso abandonar a minha mãe. Tem pessoas morrendo por minha causa, eu não posso permitir que isso continue acontecendo. –
- Eu sei que você vai voltar, mas eu não tenho garantia nenhuma de que Deméter não vai tentar te prender lá em cima. –
- Eu vou com ela! – Zeus se fez presente. – Eu levo e trago ela de volta. Tens a minha palavra. –
- Tudo bem. –
- Hey. – Perséfone segurou delicadamente o rosto de Hades entre as mãos macias e o fez encara-la. – Eu te amo, e eu não vou abandonar você e nem a nossa filha. – ele fechou os olhos respirando fundo e abraçou a cintura da esposa, inalando o cheiro de seu pescoço.
- Não demora. – pediu contra o seu pescoço.
- Vou voltar antes da nossa princesa acordar. –
- Eu te amo. – ele deu um beijo nos lábios da esposa antes de solta-la e de ela ir com o pai.
Já tinha muito tempo que Perséfone não colocava os pés na relva verde e macia e nem via a luz, uma parte dela espera encontrar um sol forte que a faria cobrir os olhos para se proteger da claridade, de ser beijada pela brisa fresca, enquanto inalava o indescritível aroma das flores enquanto seus pés tocavam a grama macia, contudo, o que ela encontrou foi um mundo completamente cinza. O chão estava coberto por uma neve fria, as árvores estavam mortas e um frio cortante arrepiava todo o pequeno corpo da deusa da primavera, que usava nada mais do que um fresco vestido de linho.
- O que aconteceu aqui? – perguntou desesperada olhando para o pai.
- Sua mãe. – disse simplesmente. – Quando ela se escondeu em Arcádia, aos poucos a terra foi congelando, nós tentamos controlar as coisas o máximo que conseguíamos, mas quando a ninfa disse que você não estava feliz, depois que seus irmãos nasceram, piorou a um nível que nós não conseguimos fazer mais nada. – respondeu colocando a capa de pele que ele usava sobre os ombros da filha.
- Onde ela está? –
- No templo dela em Argos. – respondeu e ela apenas assentiu. Os dois partiram para Argos, e a cidade onde ela se encontrava, estava muito pior do que o resto da Grécia, uma tempestade de neve cobria a cidade, se era difícil para os deuses, imagine para os mortais. – Ela está lá dentro. Eu te espero aqui. – Perséfone assentiu e devolveu a capa para o pai antes de entrar no templo da mãe.
O templo estava relativamente quente, diversos focos de fogueira espalhados pelo templo o deixavam quente, e próximo a estátua feita pelos mortais, Deméter estava parada, olhando para o nada e completamente absorta em pensamentos.
- Mãe! – Perséfone lhe chamou a atenção, tirando Deméter de seus desvaneios, devagar, a deusa da colheita virou-se para onde vinha a voz e encarou a filha sem reconhece-la. Ela tinha mudado bastante, sua pele estava mais pálida do que era, seus cabelos e olhos mais escuros e suas vestes agora eram negras.
- Perséfone?! – perguntou e em seus lábios surgiu um pequeno sorriso.
- O que a senhora está fazendo? – questionou se aproximando da mãe.
- Filha! – Deméter se aproximou da filha, a abraçando com força. – Minha filha! – Perséfone também sentia falta da mãe, e ela retribuiu o abraçou apertado. – Graças aos céus você voltou. – ela soltou a filha e segurou o seu rosto entre as mãos. – Nãos se preocupe que em poucos dias nós vamos tirar todo e qualquer resquício do mundo inferior de você e... –
- Mãe. Eu só vim ver a senhora. Eu não vou voltar para o Olimpo. –
- É o que? – todo o carinho que ela sentia sumiu enquanto ela largava a filha.
- Eu não vou deixar o meu marido e tampouco a minha filha. –
- Como pode me dizer isso? Soube que você não está feliz e... Hades te obrigou a mentir não foi? –
- Mãe, pelos céus! Aquela ninfa mentiu para senhora. Eu estou completamente feliz e não, Hades não me obrigou a mentir, ele jamais me obrigou a alguma coisa. Por que a senhora não consegue entender e aceitar que eu o amo e ele também me ama? –
- A morte não tem sentimentos! –
- Você não o conhece, mãe. – Perséfone passou as mãos pelo rosto. – E como podes falar que a morte não tem sentimentos, quando quem está agindo como se não tivesse é a senhora? Olha o que a senhora está fazendo ao mundo. Pessoas estão morrendo pelos seus atos. –
- Meus atos? – Deméter rosnou. – Se isso está acontecendo é culpa sua! Você escolheu aquele inferno a sua mãe. –
- Eu escolhi o amor. E se a senhora aceitasse isso mais fácil poderíamos todos conviver em harmonia. Quem não quer é a senhora. – Deméter virou-se de costas para minha ressentida. – Mãe. Eu quero ter todo o contato possível com a senhora, eu posso sair do mundo inferior sempre que eu quiser para vir vê-la, posso trazer a sua neta para a senhora conhecê-la, mas a senhora precisa parar com essa neve. Precisa deixar os mortais viverem a vida deles, eles não têm culpa das decisões que nós tomamos. E por favor, mãe, a senhora acabou de ter dois filhos, a senhora precisa cuidar deles e não me procurar. A senhora sabe onde eu estou, e sabe que eu estou bem e que estou lá porque eu quero. Se você quer me ver, é só me chamar e não ficar me procurando pela Grécia. –
- Você disse que teve uma filha. Quero só ver como você reagir quando ela lhe esfaquear pelas costas igual você fez comigo. –
- Se a minha filha decidir ir para qualquer canto do mundo para ficar com alguém que ela ama, e que a ama também, eu não vou agir como a senhora. –
- Você fala isso agora, porque ela é um bebê. –
- Ela sendo um bebê ou sendo adulta o meu pensamento não vai mudar. Eu não lhe esfaqueei pelas costas, mãe, se a senhora fosse mais flexível as coisas teriam acontecido de forma mais tranquila. A senhora vive falando que foi Hades quem me obrigou a comer aquelas sementes de romã, sendo que na verdade, quem me obrigou foi a senhora! – Perséfone falava e Deméter continuava de costas para a filha. – Se a senhora ainda me ama e quer continuar me vendo, acabe com esse frio! Essa é a minha condição para que eu lhe veja de novo. –
Deméter não falou nada de novo e Perséfone saiu do templo encontrando o pai do lado de fora, com um pouco de neve em seus cabelos e barba.
- Falou com ela? –
- Não aja como se não tivesse escutado! – respondeu rispidamente e Zeus ergueu a sobrancelha.
- Você nunca falou assim. Hades realmente mudou você. –
- Talvez ele apenas tenha me ensinado a deixar de ser feita de idiota por vocês. – rebateu. – Eu vou voltar para a minha casa, eu não vou abandonar a minha filha igual a minha mãe fez! – Perséfone não deu tempo de Zeus responder e simplesmente sumiu diante de seus olhos indo direito para o mundo dos mortos.
Perséfone estava tremendo de frio, o mundo superior estava muito frio, se para a deusa já estava horrível, imagine para os mortais. Em contra partida o mundo inferior estava bem quente, e enquanto ela caminhava até o seu quarto, seu corpo foi dando uma aquecida. Ela abriu a porta do quarto e Hades estava sentado na cama com a filha no colo, ao ouvir a porta abrindo, ele levantou os olhos e esboçou um sorriso singelo ao ver a esposa entrando no quarto.
- Ela acordou? – perguntou baixo, ao subir na cama e ir para debaixo das cobertas para se aquecer mais rápido.
- Não. Fez menção de acordar, mas assim que eu a peguei ela dormiu. E está bem calma, nunca achei que uma criança pudesse ficar tão calma e tranquila em meus braços. –
- Você também achou que nunca teria uma mulher em seus braços e olha eu aqui. – ele virou o rosto para a esposa e sorriu ao receber um singelo beijo nos lábios.
- Se entendeu com a sua mãe? –
- Acho que eu piorei mais ainda as coisas. – comentou quando Hades se levantou e caminhou até o berço, que tinham posto no quarto, e a deitou lá dentro. – Ela disse que quem está causando isso aos mortais sou eu, e que quer ver a minha cara quando nossa filha me esfaquear pelas costas igual eu fiz com ela. – deu de ombros. – Falei que se ela quisesse me ver de novo tinha que acabar com esse frio. –
- Ela aceitou? –
- Ela não falou nada e eu vim embora. Está muito frio lá em cima. –
- Precisamos decidir uma coisa mais importante. – Hades comentou ao voltar para a cama e abrindo os braços para Perséfone se aninhar ali. –
- O que? –
- O nome da nossa menina?! – perguntou sorrindo.
- Pensei em um. – respondeu levantando a cabeça para vê-lo, e ele esperou que ela falasse. – Macária. Significa abençoado. –
- Eu gostei. –
- Será que ela vai herdar os meus ou os seus? –
- Espero que os seus! – respondeu acariciando a cabeça de Perséfone. – De qualquer forma, iremos descobrir só daqui a cinco anos. – Perséfone sentou de lado no colo do marido.
- Mais quantos filhos você vai querer? –
- Acabamos de ter a nossa primeira filha e já está pensando no próximo? –
- É que talvez eu goste bastante de fazê-los. – respondeu sorrindo.
- Não me provoque. – alertou.
- Eu gosto de te provocar! – rebateu roçando os lábios nos de Hades, quando a pequena Macária, acordou chorando. – Sortudo. – brincou e ele riu.
Perséfone sentou na cama e Hades se levantou para pegar a pequena Macária no berço e com cuidado a trouxe de volta para a cama, entregando-a para Perséfone, que a aninhou no colo, e expondo o seio a filha o abocanhou faminta, enquanto a mãe se aninhava na cama e deitava a cabeça no peito do marido.
Alguns dias haviam se passado até que Hermes veio trazendo um recado de Deméter, que queria que tanto Hades quando Perséfone subissem, porque ela queria ter uma audiência com os dois e com Zeus. Como os dois não podiam deixar a pequena Macária sozinha no submundo, elas subiram com ela, e não foi nenhuma surpresa Afrodite ter pego a menina no colo, mal os dois apareceram na sala do Olimpo.
- Muito bem, Deméter, você queria uma audiência conosco, o que quer? – Zeus perguntou sentado em seu trono.
- Eu tenho uma condição para acabar com o inverno. –
- Qual? –
- Perséfone comeu seis sementes de romã. – Zeus assentiu e Hades e Perséfone se entreolharam. – O ano tem doze meses. Eu quero que ela passe seis meses aqui em cima comigo. –
- O que? – Hades questionou sem entender muito bem o que a irmã havia dito.
- Isso que você ouviu, meu irmão. Para esse frio acabar, Perséfone passa seis meses comigo aqui em cima e seis meses com você no inferno. E lembre-se de que ela tem trabalho aqui em cima. Ela me ajuda a semear os campos. –
- Não. Acha que eu não sei que você vai tentar mantê-la aqui em cima? –
- Zeus está de prova e testemunha, de que quando acabar os seis meses ela vai descer. –
- Não. Ela sobe para ver você, ela sobe para fazer o trabalho dela e depois desce. –
- Minha condição é essa. – ela olhou para Zeus.
- O que você sugere então que nós façamos com a Macária? Ela vai ficar seis meses sem ver a mãe ou então eu vou ficar seis meses sem ver a minha esposa e minha filha? –
- Por que eu tenho que ficar o ano todo sem ver a minha filha? – rebateu
- Eu não vou aceitar isso e... –
- Amor... – Perséfone se postou na frente do esposo. – Meu amor. – segurando o rosto de Hades, fez ele abaixar a cabeça para que ele olhasse no fundo dos seus olhos. – Amor, eu não gosto disso, mas seis meses passam muito rápido. –
- Perséfone. –
- Amor, eu não posso deixar que mortais inocentes morram pelas minhas decisões. –
- Nossas decisões. –
- Eu decidi comer as sementes, eu decidi isso sozinha. E você pode subir sempre que quiser, do mesmo jeito que você subia para me ver, você pode subir para me ver, e ver a Macária. Você vai ver que esses seis meses vão passar voando. – muito contrariado e não gostando nem um pouco dessa condição de Deméter, já que ele não confiava nem um pouco na irmã, ele respirou fundo olhando para o irmão mais novo.
- Se acontecer alguma guerra que nos envolva, que envolva o Olimpo, ela fica lá embaixo. Em qualquer época do ano. Ela fica no mundo inferior comigo. –
- Deméter? – Zeus olhou para a irmã, que pensou um pouco antes de balançar a cabeça assentindo. Ela sabia muito bem que caso acontecesse uma guerra contra o Olimpo, o mundo inferior seria o lugar mais seguro para ficar.
- Tudo bem. Eu concordo. Mas do mesmo jeito que Hades pode subir para vê-la durante os meus seis meses, eu quero permissão para descer e ver minha filha no mundo dos mortos. –
- Do jeito que você é invasiva, você pode ir, mas avise! Não faça igual a Zeus, que simplesmente entra em meus aposentos sem avisar. –
- Tudo bem. Mas do mesmo jeito que eu não vou ficar indo todos os dias ao inferno ver minha filha, também não é para você subir todos os dias. –
- Os três estão de acordo? – Zeus perguntou e Hades contrariado assentiu concordando enquanto abraçava a esposa. – Ótimo, quem descumprir o acordo perde permanentemente a parte do ano correspondente. – os dois concordaram. – Agora acabe com esse frio! -
Eu não acredito que tinha deixado passar esse capitulo! Que absurdo! muito esclarecedor, então Seth e Leah são irmãos de Bella e quando a mãe viaja ela vai para o Olimpo. Deméter não vai aceitar fácil em Perséfone voltar depois de seis meses. Ela vai fazer o que fez com Bella, vai fazer ela esquecer.
ResponderExcluirSim. Seth e Leah são irmãos da Bella, meio irmãos no caso, isso explica a implicância de Leah com Bella.
Excluir