domingo, 17 de julho de 2022

Capítulo 27

                                                                             Grécia - a.C.

Narrador.

Zeus ficou um longo tempo parado olhando para o irmão sem entender direito o que ele quis dizer. Como assim Hades queria que ele pedisse desculpas a Mnemosine? Ele não tinha motivo para pedir desculpas, era o que o deus dos deuses pensava. Ele abriu e fechou a boca algumas vezes tentando falar alguma coisa e sem sucesso. Zeus balançou a cabeça e soltou uma risada, que fez com que as sobrancelhas de Hades se erguerem.  

- Por que eu pediria desculpas a Mnemosine? –

- Não se arrepende do que fez? – retrucou.

- Por que me arrependeria? – chocado e sentindo ânsia, o deus da morte deu um passo a frente se aproximando do irmão.

- Você é a estuprou e não se arrepende disso? – Zeus começou a rir.

- Eu a estuprei? Até onde eu saiba os nove dias que eu dormi com Mnemosine, foram todos consentidos por ela. –

- É o que? – Hades perguntou confuso. Durante milênios Mnemosine havia defendido que havia sido estuprada por Zeus e ele nunca havia desmentido. – Espera. O que? –

- Eu nunca encostei em mulher nenhuma sem a permissão delas! Quer dizer... – suspirou ele. – Arrependo-me do que fiz a Deméter, caso pudesse voltar no tempo e desfazer o que eu fiz, eu faria. Mas depois dessa única vez, a qual eu era completamente imaturo e não tinha nenhuma noção, eu nunca mais fiz isso de novo. –

- E por que você nunca se defendeu? Todo mundo acha que você estupra qualquer mulher que queira. –

- É uma fama! – deu de ombros.

- Você é doente! E ainda falam que mim! –

- Mortais falam que você sequestrou e estuprou Perséfone e não é verdade! Nem tudo o que falam sobre nós é verdade, meu irmão. Deveria se aproximar mais dos mortais. –

- Eu não quero me aproximar de ninguém. Apenas da minha esposa. – rosnou Hades ao irmão mais velho. – Já que você não tocou em Mnemosine contra a vontade dela, e ela simplesmente está se fazendo de vítima, ou se arrependeu, ou sabe-se lá o motivo de ela estar agindo assim. Pouco me importa. Fala com ela para me ajudar a recuperar a memória de Perséfone! – ele suspirou.

- Vou ver o que eu posso fazer. –

- Antes que se irrite lembre-se que é a sua filha! Minha esposa. E que se eu não a tiver de volta, vocês vão se arrepender! – alertou e foi embora deixando o irmão sozinho.

Hades voltou para o mundo dos mortos enquanto esperava a resposta do irmão mais novo. Volta e meia, principalmente quando Afrodite dizia que Deméter tinha se afastado, ele ia até Troia ver a esposa, mesmo que de longe, e ele se controlava e muito para não ir falar com ela, ele sabia que era inútil, ela não lembrava de nada, mas ele sentia tanta falta dela que parecia que um pedaço dele próprio havia sido arrancado, e era justamente o lado que o fazia ser feliz.

Parecia quando ele a vigiava de longe com medo de se aproximar e ser rejeitado, ele apenas a olhava de longe. Hoje era mais um dia que ele apenas a olhava e dessa vez Afrodite não estava com ela, e ao mesmo tempo em que ele sentiu a presença de Deméter, uma tempestade caiu por cima dele, provavelmente Zeus escondendo o cheiro dele de Deméter. Ele não entendia como era possível, mas Perséfone parou de seguir para a sua casa, debaixo da chuva e olhou na direção de Hades. Ele sabia que nenhum mortal conseguia vê-lo, ele tinha certeza disso, até porque a poucas horas atrás um pequeno grupo de soldados troianos haviam passado por ele e não haviam visto, isso porque quase passaram por cima do mesmo. Mas Perséfone parou e olhou na sua direção e assim ficou na chuva por uns longos segundos.

- Kore. – a voz de Deméter a tirou de seu estado estático. – Saía dessa chuva, menina, quer ficar doente? –

- Desculpe mamãe, é que eu achei ter visto algo ali. –

- O que? Como assim? – perguntou confusa.

- Não tem um homem ali nas árvores? – ah não Perséfone, faça tudo menos atrair a atenção de sua mãe para mim, pensou ele desgostoso ao mesmo tempo em que Deméter olhou para as árvores e o viu ali.

- Claro que não, Kore. Estais enlouquecendo. – ela ralhou completamente furiosa com a filha, enquanto o olhar que lançava a Hades, não queria dizer nada além de que ela queria mata-lo bem lentamente. – Entre antes que fique doente. Bora, para dentro! – enxotou a garota para dentro da cabana do mesmo jeito que se enxotava um cão para fora de casa.

Eu me controlei e muito para não intervir, não por Deméter, até porque ela já sabia que eu estava ali, mas sim por Perséfone, não queria assusta-la, não queria que a primeira impressão que ela tivesse fosse algo ruim. Com algumas almas vigiando a pequena cabana, Hades voltou para o mundo inferior, mas os seus segundos de paz que ele sentia por ter posto seus olhos mais uma vez em Perséfone passou bem rápido sentindo um tremor forte, e ele tinha certeza de que era na entrada da caverna que levava ao mundo dos mortos. Ele sabia quem era que estava ali, e agradecia profundamente o fato de nenhuma das duas meninas estavam em casa.

- Oi irmãzinha. – respondeu ele ironicamente aparecendo atrás dela na entrada da caverna e vendo uma ventania lá fora.

- Seu desgraçado! – rosnou ela arremessando uma bola de luz na direção dele, contudo Hades tinha um bom reflexo, e dando um pequeno passo para o lado e a bola de energia arremessada por Deméter chocou-se contra a parede de pedra, causando um barulho alto que ecoou pela caverna, parecendo com o som de um trovão. – Por que não nos deixa em paz? –

- Simples. Você não nos deixou em paz. Você não mexeu só comigo, Deméter, você mexeu com as minhas filhas, as suas netas. E isso tudo porque você se recusava a aceitar o meu casamento com Perséfone. Podia ter se contentado com os seus seis meses com ela no Olimpo, porque mesmo eu odiando eu cedi a sua vontade. Eu cumpri com a minha parte no acordo e você não. –

- Se contentasse com as suas filhas! –

- Se contentasse com Áron e Despina! – rebateu ele rosnando para ela. – Você tentou o máximo que pode transformar Despina em Perséfone e falhou miseravelmente, e a única coisa que conseguiu fazer foi fazer com que Despina odiasse a própria irmã, sendo que a única culpada de tudo foi você! Sendo que a única pessoa que ela deveria odiar é você! Quer dizer, ela também te odeia. – corrigiu-se. – Pois caso contrário ela não destruiria com o maior prazer todo o seu trabalho. –

- Cala a boca. –

- Todos os seus filhos te odeiam. Suas netas te odeiam. Talvez Perséfone não chegasse a odiar de fato, mas ela detestava passar esses seis meses te aturando. –

- Cala a boca... – ela falava entre os dentes e suas mãos tremiam de raiva.

- Tem alguém no Olimpo que goste realmente de você? Aliás, tem alguém em toda a Grécia que goste de você ou apenas se aproveitam por ser a deusa da colheita? –

- As únicas pessoas que gostam de você são as suas filhas. –

- Sim. As minhas filhas e a sua filha! E eu não preciso que mais ninguém goste de mim. – respondeu sorrindo e isso a irritou mais ainda. – E você... Bom, pelas minhas contas... Três filhos imortais e dois mortais e nenhum dos cinco gostam de você! Porque você só enxerga o seu próprio umbigo e não percebe que eles têm vontade próprias. E principalmente, porque eles sabem que tem que seguir a vida sem você, e você não aguenta ficar sozinha! – Hades balançou a cabeça sorrindo. – Ah irmãzinha. Precisa passar um tempo sozinha, talvez assim você aprenda um pouco de amor próprio e pare de escravizar o amor de seus filhos! –

- Cala a boca. –

- Porque do jeito que você está agindo, vai acabar o resto de toda a sua eternidade, sozinha! Porque ninguém vai aguentar ficar perto de você. –

- Eu mandei você calar a boca. – gritando e pegando o deus completamente desprevenido, a deusa da colheita acertou-lhe em cheio no meio do peito com uma bola de luz que o arremessou contra a parede de pedra que rachou. – Zeus nunca deveria ter lhe tirado da barriga de Cronos. Para que você serve? Só para irritar. – a voz de Deméter soava baixa enquanto ela caminhava bem lentamente na sua direção, e ele notou um punhal prateado aparecendo na mão da deusa. – Zeus deveria ter lhe matado quando vocês discutiram sobre o poder do Olimpo e do mundo inferior. Mas não se preocupe, meu irmão, eu vou fazer o que aquele covarde não conseguiu. –

- Você vai me matar? – se levantando Hades riu. – Nos meus domínios? – um ar sombrio e assustador tomou conta do rosto do deus da morte e almas, que saiam do chão debaixo dos pés de Deméter, a seguraram pelos tornozelos, impedindo-a de dar mais um passo. Com uma leve batida da ponta debaixo de seu cetro contra o chão de pedra, o garfo de Hades deu uma leve iluminada.

- Me solta desgraçado. – rosnou ela se debatendo e tentando se livrar das almas que agora também a seguraram pelos pulsos. – Não aguenta uma luta limpa, irmãozinho? –

- Luta limpa? – ele riu. – Enquanto você estava pelo mundo plantando sementinhas, eu passava as minhas tardes me divertindo e lutando contra os melhores generais que eu tenho nos Asfódelos. Não é uma luta limpa é uma luta completamente injusta para você! – Hades sabia perfeitamente bem que era terminantemente proibido um deus lutar e/ou matar outro, mas ele não se importava mais com as regras ou opinião de Zeus. Ele sabia que Deméter queria mata-lo e não era de hoje, e de certa forma ele realmente esperava que Zeus interferisse em algum momento, ele jamais permitiria que os dois irmãos se matassem. Pelo menos era isso o que ele esperava.

- Lute como um homem! –

- Quer realmente lutar comigo, Deméter?! Tudo bem! – com um estalar de dedos as almas soltaram os pulsos e os tornozelos de Deméter. – Pode vir então! – ela ajeitou a adaga prateada em sua mão, apertando o cabo da mesma com força fazendo os nós de seus dedos ficarem esbranquiçados.

Com um rosnado quase inaudível, ela avançou na direção dele com a adaga erguida na direção dele, e com um mísero passo para o lado ele desviou da ponta da faca. A cada nova investida da adaga contra Hades, ele desviava do golpe com um simples passo para o lado fazendo-a golpear o ar. O deus da morte só conseguia pensar o motivo de Zeus ainda não ter interferido, ele já tinha perdido as contas de quantas vezes o deus dos deuses havia interrompido uma luta que Ares tenha arrumado com alguém, mas essa... Nem sinal do irmão mais novo.

- Desiste Deméter. Você nunca vai conseguir me matar! E eu não vou matar você, porque eu sei o quanto eu magoaria a minha esposa caso fizesse isso! –

- Você nunca mais verá a minha filha! Ou acha mesmo que eu não a escondi antes de vir lhe matar? –

- Do mesmo jeito que eu a achei uma vez, eu posso acha-la quantas vezes forem necessárias. Porque enquanto Perséfone e apenas ela, dizer que não me quer mais, eu não vou desistir de tê-la de volta. –

- Ela nem lembra mais de você. – provocou Deméter rindo, enquanto os dois andando em pequenos passos um de frente para o outro, como uma dança lenta enquanto ela procurava uma brecha para acerta-lo e ele esperava a deixa para esquivar. – Você não existe mais na vida dela. E não tem como ela recuperar a memória, acha mesmo que Mnemosine vai te ajudar. – diabolicamente ela gargalhou como se divertisse com isso, e na verdade ela estava se divertindo. – Eu não fiz com que fizessem a cabeça dela durante todos esses anos para que ela se revoltasse contra Zeus atoa. –

- Você é uma maldita, Deméter. – cuspiu ele perdendo toda a calma que ele fazia o esforço para manter, e ela gargalhou mais ainda. – Você não merece ser mãe. Você é egoísta demais para ser mãe. Até eu que sou pai a pouco tempo sei e coloco as vontades das minhas filhas acima das minhas próprias e você não. Você só pensa em você e não se importa com que mais magoa, principalmente os seus próprios filhos. – comentou ele com nojo. – Seus filhos sofrem e você se regozija com isso. Você é doente! –

- Eu sou doente por querer proteger a minha filha? –

- DE QUEM? – gritou ele.

- DE VOCÊ! – devolveu ela.

- Por que você não consegue entender que eu amo Perséfone mais do que a minha própria vida? Que eu faria qualquer coisa só para vê-la feliz? –

- Então, deixe-a em paz. –

- Isso não a faria feliz. Isso faria você feliz! Eu faço Perséfone feliz e você não aceita. E eu sei o motivo. Você não consegue aceitar que tem alguém disposto a fazer tudo por ela, que a ama incondicionalmente e que a coloca no maior pedestal que ela merece. Você não aceita isso, porque sabe que ninguém fez ou faria isso por você. Irmã, você mudou muito depois que concebeu Perséfone, eu sei o que Zeus fez, nunca concordei com ele e sempre fiquei do seu lado caso quisesse se vingar, mas você julgou que eu era igual a ele, e todo o ódio que você sentia por ele, você o transferiu para mim, sem motivo algum. Você só passou a me odiar depois de eu ter digo o que sentia pela sua filha. Você tinha medo de que eu fizesse com ela o que ele lhe fez. Do mesmo jeito que eu tenho medo de que alguém faça com Macária ou Melinoe o que ele lhe fez. Se eu fizesse um por cento do que Zeus te fez, eu concordaria com tudo o que você está fazendo. Mas eu jamais magoaria ou a machucaria. – Hades ia falando e sentindo seus olhos ardendo e sua garganta se fechando. – Você tem inveja de sua própria filha porque ela teve a sorte de conseguir encontrar alguém que a ame completamente e você não. Não é justo o que você está fazendo comigo e com ela. Nem eu e tampouco ela temos culpa do que lhe aconteceu no passado. –

- Você não sabe de nada. –

- Tem certeza? Diz que eu estou errado! Diz que tudo o que eu falei está errado. –

- Você não sabe de nada. Viveu a sua vida inteira trancado no mundo inferior e de repente inventa que está interessado na minha filha e quer que eu acredite que é real? Um deus não ama de verdade, esse sentimento é só dos mortais. –

- Você está completamente enganada. Zeus ama falar que dor e amor são sentimentos apenas dos mortais. Mas não é ele quem fala que os fez a nossa semelhança? Melhor dizendo, a semelhança dele? Nós somos iguais aos mortais e os mortais são iguais a nós, a única coisa que nos difere é a imortalidade, e do mesmo jeito que um mortal tem dificuldade em encontrar o amor verdadeiro, nós também temos. E eu e Perséfone tivemos a chance de nos encontrar. Como as moiras disseram, não são todos que terão a oportunidade de encontrar a sua alma gêmea. –

- Eu não acredito disso. Quando você passa pelo que eu passei, você não consegue acreditar nessas bobagens da Afrodite. –

- Se você não acredita, não é problema meu. Mas que é verdade, é! –

- Então, sinto muito em lhe dizer, querido irmão. – disse de forma sarcástica. – Mas eu vou te matar do mesmo jeito. A menos que suma da vida da minha filha. –

- Jamais! –

- Então sua filha vai vir recolher a sua alma. Se é que você tem uma! –

- Eu sei que eu tenho. Quem não deve ter é você. Irmã, eu não quero acabar com essa briga com um de nós morrendo, mas eu também não vou abrir mão de Perséfone. –

- Não consigo acreditar que o irredutível senhor dos mortos tenha virado um pau mandado de uma mulher. A ponto de abrir mão da própria vida. Achei fofo! Não precisa se preocupar, eu entrego o seu coração para Perséfone! –

- Então vem pegar! – rosnou ele. Deméter não mudaria de ideia, e não iria só se defender, ele também iria atacar, e depois ele se entenderia com Perséfone.

Os dois haviam recomeçado com a dança mortal, enquanto Deméter tentava ataca-lo com a adaga, ele se esquivava e tentava afasta-la, evitando o máximo possível acertá-la com o seu cetro, que tinha um alcance muito maior do que a pequena faca que a deusa usava. Ela continuava provocando, tentando tira-lo do sério, e infelizmente estava conseguindo. Ele sentia uma enorme vontade de acertá-la com o seu garfo, e ele sabia que em apenas uma tentativa e Deméter morreria, contudo, ele continuava esperando que Zeus intercedesse, contudo, pelo visto ele não interferia.

- Não! – quando ele resolveu acabar de uma vez com todas com essa briga, seu tempo de reação havia sido nulo e uma das pontas de seu centro transpassou o vão dos seios de Perséfone. Hades e Deméter haviam congelado no lugar, ambos com os olhos saltados para a mulher parada no meio dos dois, de costas para a mãe, como se a defendesse.

Tulsa – Oklahoma.

2019.

Bella pulou para o lado, soltando a mão de Edward e saindo assim da visão que ele lhe dava sobre o seu passado. Com as mãos trêmulas, o coração acelerado e arfante, suas mãos foram para o seu peito tentando encontrar a ferida ou o sangue, e não encontrando nada. Sugando o oxigênio pela boca, ela levantou a cabeça encontrando com o olhar de Edward preso em seu rosto. Seu rosto estava completamente transtornado e repuxado em uma expressão de dor, culpa, tristeza e desespero.

- Foi você! – acusou-o dando mais um passo para trás tentando se afastar dele quando ele tentou se aproximar.

- Não foi por querer. Eu jamais te machucaria. Em nenhuma vida que eu estivesse perto de você. Você viu tudo, tudo o que aconteceu, tudo o que Deméter fez. Eu... Eu jamais te machucaria, eu jamais te mataria. Você não faz ideia do quão culpado eu me sinto ao longo de todas essas eras... Amor... –

- Não encosta em mim. – ela se afastou mais ainda, mesmo vendo as lágrimas escorrendo dos olhos verdes de Edward.

- Me perdoa! Eu sei que o que eu peço é algo imperdoável, mas, por favor, me perdoa. – implorou caindo de joelhos no chão.

Ela estava assustada, não sabia o que falar, o que fazer, uma pequena parte de sua cabeça ainda achava que ela estava completamente louca, a outra estava entrando em pânico. Deixando-o de joelhos no chão, ela foi se aproximando da porta de costas. Cerberus soltou um choramingo no seu canto, e ao lembra do cão gigante de três cabeças, ela se sobressaltou mais uma vez, ainda mais quando ele tentou chegar perto dela. Isabella saiu correndo do escritório e ao chegar na sala acabou esbarrando em Jasper, ela lembrava dele das lembranças que Edward lhe mostrou, e isso também a fez se afastar dele. Ele não disse nada, nem tentou se aproximar, Jasper havia entendido que ela já sabia de toda a verdade e sabia que ela precisaria de um tempo para absorver tudo o que lhe foi mostrado, e ignorando os chamados de Alice, ela correu para fora da casa de Edward encontrando a chuva de novo.

- Você fez a coisa certa, irmão. – a voz de Carlisle apareceu atrás do corpo de Edward, que havia se sentado no chão.

- Saí daqui. – ele rosnou. – Isso foi tudo culpa sua, que teve todo o tempo do mundo para intervir e só resolveu aparecer quando a desgraça aconteceu. –

- Hades... –

- Se não quiser ser o próximo deus morto, eu sugiro que saia daqui. – ameaçou entre os dentes. – Quer fazer algo de útil? Vá proteger a sua filha da mãe dela. – Carlisle não falou mais nada e deixou o irmão sozinho. Escondendo o rosto entre as mãos, e sentindo Cerberus se aproximando dele, sua mente voltou a milênios atrás, na morte de Perséfone.

Grécia – a. C.

Com a cabeça baixa Perséfone olhava para o seu peito e ao levantar a cabeça, ele viu o sangue escorrendo da ferida e do canto da boca. O coração de Hades havia parado de bater, e em sua cabeça ele ouviu o som da tesoura de Átropos cortando o fio da vida de Perséfone. Meio zonza, suas pernas cederam e jogando seu cetro no chão, ele abraçou o corpo quase inerte da esposa.

- Meu amor. Não... Não... Não... – ele tinha se sentado no chão e tinha a jovem deitada em seu colo. O punhal de Deméter havia caído e a única reação que ela teve foi de cair de joelhos no chão sem conseguir se aproximar. – Por favor, meu amor, não... Não... Volta para mim, meu amor. Por favor, volta para mim. – lágrimas translucidas e quentes escorriam do rosto de Hades, que com a mão suja de sangue, dava leve batidas no rosto, que começava a se tornar pálido, da esposa. – Por favor, meu amor, volta para mim... –

- Cui... Cuida... – ela tentava falar e não conseguia, a cada silaba que saía de sua boca, mais um pouco de sangue escorria pela mesma. – das... meninas... – pediu sendo interrompida por uma tosse, que acarretou em mais sangue saindo.

- O que? – perguntou confuso. – Você lembra de mim? – um sorriso fraco brotou nos lábios de Perséfone, como se confirmasse a pergunta dele. – Meu amor, não... – com a mão fraca, suja de sangue e tremendo, quase sem força, seus dedos roçaram de leve o rosto do marido, sujando-o um pouco com o seu sangue.

- Eu... –

- Shi... Shiu meu amor, fica quietinha que vai ficar tudo bem, você vai ficar bem! –

- Eu... Eu te amo... – seus dedos roçavam em seu rosto mais uma vez, parecia um leve roçar de uma pena, de tão fraco que havia sido, antes que seu braço caísse sobre seu corpo, e Hades viu a alma de Perséfone deixando o corpo agora inerte.

- Não! – ele gritou. – Não. Não... – ele abraçava o corpo da esposa com força contra o seu corpo.

- Mãe. – as vozes das meninas soaram altas pela caverna e as duas apareceram ao lado de Hades.

- Mãe! – a voz de Melinoe saiu em como um soluço enquanto a mão pairava próximo ao rosto da mãe, sem ter coragem de toca-la.

- Mamãe... –

- O que vocês dois fizeram? – a voz de Zeus soou por trás de Hades, que virou o rosto para o irmão encarando-o completamente furioso.

- Saí daqui. – ele rosnou para o irmão.

- Hades... –

- SÁI. – ele berrou arremessou uma esfera de sombras contra o irmão, jogando-o para fora da caverna, e antes que ele tivesse a chance de entrar de novo, Hermes e Poseidon, apareceram e o tiraram de lá a força. – Meu amor... – com as mãos tremendo ele acariciou o rosto de Perséfone. Ele viu uma mão passando por cima dos olhos abertos de sua esposa, fechando-os e ao levantar a cabeça, viu que havia sido Macária quem fechara os olhos da mãe.

Um movimentar leve, parecido com uma brisa, atraiu a atenção dos três, e parada próxima a eles, a alma de Perséfone esperava para ser levada ao mundo inferior. Apenas os três deuses com dons ligados a morte conseguiam vê-la e nenhum dos três tinha forças para se levantar e descer com ela.

- Filha... – como se saísse de um transe, Deméter se aproximou dos três. – Minha filha... – suas mãos tremiam próximas ao corpo de Perséfone, sem encosta-la. – Desgraçado... Isso é culpa sua... Eu vou te matar... – ela tentou avançar contra Hades, mas os braços fortes de Poseidon a impediram e ele subiu com ela para o Olimpo.

Tulsa – Oklahoma.

2019.

- Ela já sabe? – Edward saiu de seus pensamentos ao ouvir a voz de sua filha mais velha, e ao virar o rosto a encontrou encostada em sua mesa de escritório.

- Já. – respondeu fungando e encostando a cabeça na parede, passando uma das mãos pelas costas de Cerberus em uma tentativa de se acalmar. – O que faz aqui? – perguntou. – Eu te deixei tomando conta do submundo. – apontou.

- Eu quero ver a mamãe. – admitiu. – Eu e a Meli queremos ver a mamãe. –

- Vocês precisam dar um tempo a ela, Macária. Ela precisa absorver tudo o que ela viu e descobriu. Eu entendo que vocês querem vê-las, mas deem um tempo a ela. –

- E se Deméter sumir com ela de novo? – perguntou indignada, desde a morte de Perséfone, nenhuma das duas chamava Deméter de vó, e as vezes nem Zeus era chamado de avô. Ele suspirou.

- Se dessa vez Zeus fizer algo certo, Deméter não vai sumir com ela. Caso ele não faça merda nenhuma de novo. Nós vamos começar as buscas todas de novo, o mesmo que fazemos aos longos de todos esses milênios. Perdoe-me minha filha, mas eu não vou fazê-la engolir tudo isso de uma única vez, tem que ser no tempo dela e se ela quiser. Odeio ter que pedir isso a vocês, mas vocês precisam ter paciência. -

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Capítulo 020

Pov. Edward.

Quarta feira chegou e eu havia conseguido trinta dias de férias, consegui folga para quinta, e troquei meu plantão de quarta com outro neurologista para que pudesse levar as garotas ao jogo. Assim que eu falei com elas, Maddie se animou rapidamente, e se desanimou quando soube que Bella iria junto, mas não se recusou a ir. Bella havia me mandando uma mensagem avisando que estava na veterinária e pediu para que eu a buscasse lá, já que eu fazia questão de irmos todos juntos.

Depois de todos prontos, peguei as crianças e entramos na nossa minivan. Da minha casa até a veterinária foi bem rápido e ainda tínhamos tempo antes do início do jogo. Mal parei o carro no estacionamento e vi pelo espelho retrovisor que Maggie praticamente quicava no banco por querer ver a Bella, e é claro que eu não conseguia evitar o sorriso. Era tão bom ver, pelo menos, uma das minhas meninas felizes com a chegada de Bella em nossas vidas.

Assim que tirei Maggie da cadeirinha ela saiu correndo para dentro da clínica e eu basicamente arrastei as outras três lá para dentro. A única que estava razoavelmente animada era Melanie, ela realmente adorava os animais.

- Oi Ângela... – falei ao entrar na clínica e vendo a recepcionista com minha filha no colo.

- Oi Edward... Quem diria em... Quatro cães e quatro filhas... – brincou rindo e eu a acompanhei.

- Ângela... Essa é a Maddie, a mais velha, McKenzie a segunda e Melanie a terceira... – apresentei as três.

- Oi garotas. Tudo bem? –

- Oi... – elas responderam.

- Cadê a tia Bella? – Maggie questionou fazendo bico.

- A tia Bella está trabalhando... Tá atendendo um filhote... – ela me encarou, ela sabia que Bella iria sair comigo. – Mas já deve estar acabando... – garantiu. – Vai lá... –

- Não vou invadir a consulta de ninguém, Ângela... –

- Não é consulta... Ela está atendendo um filhote que eu adotei hoje cedo. – explicou. – Vai lá... – mandou, me enxotando para o consultório um, e colocou a Maggie no chão. Eu segui até lá e dei duas batidas na porta e esperei que Bella permitisse minha entrada.

- Tia Bella... – Maggie atraiu a atenção de Bella, que desviou os olhos de um cãozinho envolto em uma toalha branca e olhou sorrindo para a porta.

- Oi princesinha... – Maggie foi correndo até ela, que se abaixou e a abraçou forte lhe dando um beijo na bochecha dela. – Oi... –

- Oi amor... – eu me aproximei dela e lhe dei um beijo rápido nos lábios.

- Oi garotas. –

- Oi...  – elas responderam juntas.

- Hoje não é sua folga, mocinha? – perguntei.

- Era. Eu passei aqui só para pegar os ingressos, que eu esqueci na minha mesa, e Ângela chegou com o cachorro. Devo terminar no máximo em dez minutos. –

- Sem pressa. Cuida dele... Ainda temos bastante tempo antes do jogo. Se quiser esperamos lá fora. – comentei quando ela pegou um par de luvas dentro da caixinha.

- Não. Não precisa... – respondeu colocando-as. – Meninas, fiquem à vontade.  Podem sentar... – eu olhei por cima do ombro e vi que as três ainda estavam paradas perto da porta. – Muito bem amiguinho, vamos lá... – eu vi que Maddie e McKenzie se sentaram nas cadeiras em frente à mesa de Bella e que Melanie veio para perto de onde nós estávamos, já que Maggie tinha vindo para o meu colo. Eu assobiei para chamar a atenção de Bella, e quando ela me olhou apontei com a cabeça para baixo, para Mel ao meu lado. – Quer me ajudar? – Bella perguntou sorrindo. Bella sabia que Mel gostava de animais, e esse poderia ser um bom jeito de elas se aproximarem, igual ela tentava se aproximar de Maddie com o jogo de beisebol. – Vem cá... – minha filha não respondeu, apenas me olhou e eu apontei com a cabeça para Bella sorrindo e ela foi. Bella pegou um par de luvas em sua caixinha e entregou a menina que parou ao seu lado. – Vamos lá... – ela descobriu o cachorro. Era um filhote, que não deveria ter mais de três meses, todo branco.

- Que raça é essa? – perguntei. Eu era péssimo para identificar as raças dos cães.

- É um cão esquimó americano. – explicou e me encarou. – Nem pense em ter um... –

- Não estava pensando... Mas por que não? –

- Porque quando eles são adultos são muito territorialistas. Não gostam de outros cães ou crianças... –

- Quatro já são o suficiente... –

- É macho ou fêmea? – Mel perguntou a Bella.

- Vamos descobrir... – com cuidado ela segurou o cãozinho pelas costas e o virou, deixando-o com as perninhas para cima. – Isso aqui é o umbigo... – comentou afastando os pelos. – E isso aqui... – e eu a vi mordendo o lábio. – É um macho... – disse simplesmente, sem falar pênis para a minha filha, o que me fez rir. – Agora vamos ver a temperatura... – ela pegou um termômetro normal, ele era novinho demais para usar o termômetro de ouvido. – Eu vou traumatizar sua filha... – comentou me encarando e sem aguentar eu gargalhei. Eu tinha colocado Maggie sentada na mesa de inox ao meu lado, e sem entender nada ela riu.

- Ora... Se ela quer ser veterinária ela tem que saber... –

- Ela é uma criança... Tem cinco anos... – eu ri mais ainda da sua cara de desespero. – A filha é sua... – ela lambuzou o termômetro com um pouco de lubrificante e respirou fundo antes de levantar o rabo do cachorro, que estava deitado na mesa. Com cuidado, ela introduziu a ponta do termômetro no ânus do cachorro, e Melanie olhou para nós dois com os olhos arregalados, e sem me segurar, eu gargalhei.

- Faz essa cara não... – comentei com ela. – Se quiser ser veterinária vai fazer muito isso... –

- E com o dedo também... Então pensa bem... – Bella terminou por mim.

Mesmo olhando assustada para Bella, enquanto a mesma tirava o termômetro do ânus do cachorro e checando a temperatura do filhote, Melanie não saiu de perto dela e nem do filhote. Ela ajudou Isabella a checar os batimentos cardíacos do cão, ela colocou o estetoscópio nos ouvidos de Mel, para que ela pudesse ouvir também, e ela riu ao ouvir os sons das batidas do coração. Bella terminou de examinar o filhote dando as primeiras vacinas e deixou Mel fazendo carinho no cão enquanto chamava Ângela.

- Diga chefa... –

- Presta atenção... – ela pegou uma carteirinha e uma caneta em sua mesa. – Ele tomou o vermífugo, a v8 e v10. Traga-o daqui a vinte e um dias para tomar a segunda dose da v8 e v10 e a contra a tosse canina. Depois de mais vinte e um dias a terceira dose da v8 e v10 e a segunda contra a tosse canina. Mais vinte e um dias e a primeira dose contra a giárdia e a da raiva e mais vinte e um dia para a segunda dose da contra raiva. –  ela anotou na carteirinha que pegou na mesa. – E daqui a um ano uma dose de cada de novo... – ela me encarou. – Os cães já tomaram a vacina antirrábica? –

- Acho que não... – admiti. – Eu tenho que conferir. -

- Ótimo. - ela se voltou para a Ângela. - E cuide desse cão. Ele tem tendência a obesidade e a doenças de pele. Se for dar banho dele seque-o completamente bem, adestre-o e leve-o para passear. - mandou.

- Queria eu trabalhar em um lugar onde dão banho e adestram animais e que a dona fosse minha amiga. - Bella encarou Ângela com a sobrancelha arqueada. - Espera… Eu trabalho. - ela riu. Bella balançou a cabeça rindo da amiga e me encarou.

- Só mais cinco minutos… - eu assenti.

- Tudo bem… Quem vai querer me ajudar a escolher um nome para ele? - Ângela perguntou quando Bella saiu da sala.

- Eu… Eu… Eu… - Mel pulou na nossa frente. Eu e Ângela esperamos ela falar. - Pudim. -

- Por quê Pudim? -

- Todo mundo gosta de pudim. - explicou rindo.

- Eu gostei… - ela olhou para o cachorro. - Olá Pudim, bem vindo a família Webber… - ela me encarou. - Que no caso é apenas eu mesmo porque meus pais moram em Miami. -

- Não tem namorado? -

- Terminei com ele semana passada e agora eu tenho o pudinzinho para me fazer companhia… -

- Eu tenho um primo… Te apresentaria… Mas é melhor não, ele não é normal. -

- Eu trabalho com a Bella… - disse simplesmente e saiu da sala comigo rindo.

- Eu juro que não vou chegar aos trinta com o meu réu primário intacto. - eu ouvi a voz da Bella entrando na sala, e quando me virei para questionar o que havia acontecido, eu notei que ela estava no telefone. - Ahh mas resolvesse sua vida antes de eu remarcar minhas férias para viajar contigo… - ela estava falando da viagem que faríamos mês que vem. - O fato de ele ir junto não quer dizer nada. Porque eu poderia ter simplesmente marcado para as minhas férias e não ter me virado nos trinta para resolver tudo o que eu tenho para fazer antes de viajar em menos de um mês, porque você queria viajar com um cara que você mal conhecia e que, sabe-se lá Deus porquê, você insistia para que eu fosse junto. - ela passou a mão pelo rosto até chegar a ponte de seu nariz e apertar a mesma.  - Rose. Depois eu falo com você. Eu tenho que sair agora… Tá. Tá. Tá bom… Tchau. - ela desligou o telefone.

- Aconteceu alguma coisa? -

- Depois… Depois nós conversamos sobre isso… Deixa-me pensar… Já fui ao banheiro? Já! O que eu estou esquecendo? - ela parou para pensar um pouco. - Ah já sei… - ela foi até a sua mesa e pegou o envelope com os ingressos de dentro da gaveta. - Alguém quer ir ao banheiro? - perguntou as garotas e elas negaram. - Podemos ir. -

Bella pegou sua jaqueta das costas da cadeira e sua bolsa e Maggie foi prontamente para o seu colo. Peguei Mel em meu colo também e as garotas se levantaram das cadeiras as quais estavam sentadas e nós voltamos para o carro. Todo o tempo gasto da veterinária até o estádio, mas o tempo da fila, e o tempo que eu deixei Bella olhando as meninas enquanto ia comprar alguma coisa para elas, foram gastos com Bella digitando freneticamente no celular, e pelo canto se olho vi que ela estava discutindo com Rose.

- Não quer mesmo me falar o que está havendo? - perguntei um tempo depois que o juiz deu início a partida e ela finalmente havia jogando, literalmente, o telefone dentro da bolsa.

- A viagem foi cancelada. - respondeu baixo. Ela não sabia se minhas filhas sabiam ou não da viagem, e elas ainda não sabiam, e bom, não tinha a menor necessidade de ela falar baixo. Kenzie e Maddie estavam completamente absortas no jogo e Mel e Maggie estavam tentando entender o mesmo, com Maggie quase dormindo no meu colo.

- Por que? -

- Porque ela terminou com o namorado… - respondeu simplesmente. - Sabe-se lá porque ele achou que essa viagem com ela iria significar uma espécie de lua de mel, ou sei lá… - deu de ombros. - Ele planejava pedi-la em casamento, e, pelo que eu entendi, ele deixou escapar e ela disse que, por enquanto, ela não quer se casar. Eles terminaram e ele, que tinha feito as reservas, cancelou tudo. -

- Isso não significa nada. Nós ainda podemos ir… -

- Era um pacote. Pelo que ela explicou. Ele cancelou tudo. -

- Tá. Mas o que nos impede de irmos? Eu sei que temos pouco tempo, mas podemos marcar e irmos apenas nós dois. - e ela suspirou. - Ou você não quer mais ir? Ou quer fazer companhia para a sua amiga que deve estar mal? -

- Mal? Ela já estava me chamando para ir para alguma boate hoje. - bufou. - E não é que eu não queria mais ir… É que… É estranho, desde o acidente com meus pais, eu e Rose sempre passamos as férias juntas. E não, eu não pretendia deixar você de lado e ficar grudada com ela… -

- Eu sei… - eu passei o braço por sobre os seus ombros e deu um beijo em sua têmpora. - Tive uma ideia. - e ela me encarou. - Apresenta o Emmett a ela. - e ela me olhou confusa. - Meu primo, lembra? -

- Sim. Mas porquê? -

- Não sei… - admiti. - Mas imagino que eles vão se dar bem… - respondi simplesmente. - Leva ela amanhã para o almoço lá nos meus pais… -

- Ok… A noite eu vou ter você apenas para mim? - perguntou com a voz baixa e rouca.

- Com certeza… Ainda não me disse o que vamos fazer. -

- Surpresa… - disse em meu ouvido. - Porém você vai gostar e muito… - ela mordeu o lóbulo de minha orelha.

- Que bom. - eu virei o rosto para beija-la.

- Papai. - Maddie me chamou interrompendo o quase beijo.

- Oi filha. - eu a olhei.

- Preciso ir ao banheiro. -

- Quer que eu leve? - Bella perguntou a mim.

- Vai se comportar? - perguntei a Maddie que assentiu.

- Mais alguém quer ir ao banheiro? - as outras três negaram.

Bella levou Maddie ao banheiro e não demoraram muito e elas logo voltaram, e Bella estava intacta, minha filha não havia feito nada a ela. Durante todo o jogo nenhuma delas falaram de novo com a Bella, mas pelo menos não aprontaram nada, Maggie dormiu no colo da Bella e Mel no meu, e quando o jogo acabou nós fomos embora. Como Mel e Maggie continuaram dormindo quando foram postas nas cadeirinhas, eu passei em um McDonald's drive thru e depois deixei Bella em casa, passando para ela o endereço certinho da casa dos meus pais, já que ela preferia ir de carro com Rose, só deixei a frente de seu apartamento quando vi a luz de sua sala se acendendo.

Ao chegar em casa acordei Mel e Maggie para que elas comessem e tomassem banho. E enquanto elas iam para cama, eu fui trancar a casa toda e vendo se os cães tinham comida e água e subi para o andar de cima. Dei um beijo nas quatro e segui para o meu quarto para tomar um banho e dormir.

No dia seguinte eu acordei com um cheiro de queimado e Kebi não estaria em casa hoje, ela tinha ido visitar a família dela. Levantei de supetão e desci as escadas correndo, encontrando as quatro acordadas e na cozinha.

- O que está acontecendo aqui? - perguntei tirando uma frigideira com algo completamente carbonizado do fogão e colocando dentro da pia e abrindo a torneira. - O que vocês pensam que estão fazendo? Estão tentando colocar fogo na casa? - eu liguei a coifa.  

- Só queríamos fazer o café pro senhor… - Kenzie fez bico.

- Por que então vocês não vão tomar um banho e nós vamos comer na rua? - perguntei. - E depois vamos para a casa dos seus avós… Eu preciso conversar com vocês. -

- É sobre ela? -

- Sim Maddie. Também tem a ver com a Bella. - expliquei. - Andem… Vão se aprontar. - elas foram.

- Papai… - Maggie me chamou quando eu me aproximei dela, para tirá-la da cadeirinha. - A tia Bella vai hoje? -

- Vai meu amor. E nós vamos passar a tarde juntos. - ela bateu palminhas. - Anda. Vai lá pedir para as suas irmãs lhe arrumar. - eu a coloquei no chão e ela foi para perto de escada e eu limpei a bagunça que elas fizeram.

Eu limpei a bagunça e subi as escadas para tomar um banho e me vestir. Depois de todas prontas, nós entramos para o carro e saímos para uma cafeteria que íamos com certa frequência. Chegamos lá e eu pedi o café da manhã de todo mundo e só falei o que tinha para falar após todos terminarem de comer.

- Então… Vocês lembram de que me pediram sempre para ir para um acampamento durante o verão? -

- O senhor vai deixar nós irmos esse ano? -

- Vou. - as três pularam na cadeira. - Eu vou viajar durante umas duas semanas com a Bella. E durante essas duas semanas vocês três vão para um acampamento e a Maggie vai ficar com seus avós. - expliquei. - Mas antes de vocês voltarem a estudar eu queria passar, no mínimo, um final de semana nós seis. - comentei. - E a propósito. Muito obrigado por terem se comportado ontem. E espero que se comportem hoje, porque a Bella vai almoçar e vai passar a tarde conosco. -

- Tá. - elas resmungaram.

Um tempinho depois nós deixamos a cafeteria e seguimos para a casa de meus pais. Chegamos lá e elas foram correndo para os jardins e eu fui falar com minha irmã e primo. Eu falei primeiro com minha mãe, lhe dando um beijo em sua bochecha e outro em minha irmã, antes de falar com meu pai e meu primo que estavam no jardim com as meninas.

- Preciso de um favor seu. -

- O que? -

- Kebi está viajando. Preciso de alguém para cuidar das meninas hoje à noite. Você está de folga e nossos pais estarão trabalhando. -

- Você sempre passa seu aniversário com elas. -

- Eu vou passar a tarde toda com elas. Mas vou sair à noite com a Bella. -

- Está bem. Divirtam-se. -

- Obrigado. - eu dei um beijo em sua bochecha e segui para o quintal.

- Oi meu filho… Parabéns… - ele me abraçou.

- Oi pai. - eu retribui o abraço.

- Marcou a viagem? -

- Mais ou menos… Está meio complicado… -

- As garotas? -

- Não. Não. Com as garotas está tudo tranquilo, o problema é com a amiga da Bella, mas vamos tentar arrumar tudo hoje. Na verdade, eu tenho que falar com o cabeça de vento ali… -

- Vai lá. Eu vou brincar com as minhas garotinhas… -

- Cuidado em… O senhor não é mais nenhum menino. -

- Vá a merda Edward. - ralhou comigo e eu ri enquanto me aproximava de meu primo.

- E aí Edward… Tem alguém ficando velho… - ele me abraçou. - Já está começando a aparecer uns fios brancos… Se bem que está com uma aparência de quem andou transando… -

- Serei direito… Você está namorando? -

- Epa. Eu sou hétero. - eu revirei os olhos.

- Não idiota. Para eu te apresentar a amiga da Bella. -

- Bonita? -

- Não faz meu tipo, mas sim… Presta atenção. A Bella ia viajar para o México com essa amiga e o namorado dela, e me convidou. Mas essa amiga dela terminou o relacionamento e a viagem foi cancelada. Eu ainda quero viajar com ela, mas ela tem uma tradição com a amiga de sempre viajarem juntas. Então, ela vem aqui hoje e eu vou apresentar você a ela. Se vocês se derem bem e quiserem, vamos viajar? -

- Beleza. Quando? -

- Em torno de uns dez dias. Do dia 10 ao dia 20 do mês que vem. -

- Ok. E como as crianças estão com a Bella? Soube do vestido e da piscina… -

- Até agora só Maggie se dá bem com ela. Se bem que ontem saímos todos nós, elas se comportaram, bem até demais, principalmente depois do que fizeram com o vestido dela, a Mel até a ajudou a cuidar de um filhote de cachorro e foi tranquilo. Ela comprou ingressos para irmos ao jogo do White Sox. Maddie foi, cumprimentou, não falou mais nada. Era o que eu queria? Não! Mas pelo menos não trataram ela mal e nem fizeram nada. O que já foi uma conquista. -

- Edward a Bella chegou… - eu ouvi a voz de Alice. - Com a Rose… Nós temos que marcar outra saída. -

- Tia Bella… - Maggie largou meu pai e foi correndo para perto dela.

- Oi meu amor… - ela a pegou no colo abraçando forte.

- Maggie está se dando bem demais com ela… Não dou muito tempo para Maggie chamar a Bella de mãe… -

- Você acha? - perguntei olhando para as duas juntas.

- E do jeito que você olha para ela, eu não dou muito tempo para você chama-la de Isabella Cullen… -

- Eu a amo, Emmett. Acho que, talvez esteja falando merda, porém acho que eu a amo mais do que amei a Tanya. Mas eu ainda tenho medo do futuro. -

- Edward. O seu relacionamento com a Tanya é completamente diferente do seu relacionamento com a Bella por milhares de motivos. - eu vi meu pai de aproximando de Bella. - Você já é um homem adulto. Formado. Emprego fixo. Está construindo uma excelente carreira e já tem quatro filhas. Quando você começou a se relacionar com a Tanya vocês dois ainda eram muito imaturos, jovens. É diferente. Talvez você não ame a Bella mais do que amou a Tanya. Talvez a forma seja diferente. Porque são pessoas diferentes. Não precisa ter medo do futuro. - ele me acalmou. - E a propósito. Como vai a terapia? -

- Ótima. Ajudando muito. Oi meu amor. - falei quando Bella se aproximou de mim com meu bebê no colo.

- Meu amor? - Emmett ironizou de forma divertida e baixo atrás de mim.

- Oi. - ela apoiou a mão livre em meu rosto e uniu seus lábios aos meus. - Feliz aniversário, meu amor. -

- Você está linda. - ela usava um vestido branco e florido que batia no meio de suas coxas e uma jaqueta jeans branca, o cabelo estava preso em um coque com alguns fios soltos, e seus óculos de sol no topo de sua cabeça.

- Obrigada meu amor… Você lembra da Rose? - e ela puxou, delicadamente, para perto de nós. - Acredito que vocês ainda não foram apresentados de verdade… Rose, esse é o Edward e o Emmett. -

- Oi Edward, feliz aniversário. -

- Obrigado Rose. Seja bem vinda. Esse é o meu primo. -

- Olá. -

- Oi. - ele falou em um tom lascivo que não passou despercebido por ninguém no pequeno grupo, com exceção é claro de Maggie. - É do grupo da saúde também? -

- Não. Eu tenho uma boutique. -

- Não é aquela que Alice e dona Esme não param de falar, não é? - ele perguntou para mim.

- É! - respondi simplesmente.

- E você? Grupo da saúde? -

- Dentista. Mas… -

- Não faz aquela piada. - Bella o cortou.

- Tia Bella… - Maggie a chamou. - Brinca comigo? - pediu fazendo bico.

- Mas é claro que eu brinco com o meu bebê… - Bella se aproximou da amiga e falou algo em seu ouvido, e Rose apenas assentiu. - Vem também? - ela perguntou para mim.

- Claro. -

Nós nos afastamos, deixando os dois sozinhos, e seguimos para perto dos brinquedos que meus pais tinham ali para quando as meninas iam para lá. Com o canto dos olhos eu via os dois sentados próximos a piscina conversando, eu só esperava que Emmett não falasse merda para Rosalie, se bem que… Um tempo depois antes do almoço, eu voltei a atenção ao lugar onde eles estavam e os dois tinham sumido. Talvez tivessem entrado para se proteger do sol, ou sei lá.

Minha mãe anunciou que o almoço seria servido em cinco minutos, eu ainda não fazia ideia de onde Rose e Emmett haviam se enfiado, já que agora todos estavam dentro de casa porque o sol havia ficado quente demais. Alice levou as mais novas ao banheiro para lavar as mãos, e como Bella não se afastava de Maggie foi junto.

- Edward… - e Emmett me chamou sem fôlego reaparecendo após ter sumido por quase meia hora. - Primo… - ele estava muito arfante e desgrenhado. - Eu com toda a certeza do mundo vou nessa viagem. -

- Você estava transando com ela, não estava? - perguntei simplesmente.

- Que tipo de pessoa você acha que eu sou para transar com alguém que acabei de conhecer? - perguntou fingindo estar ofendido e eu apenas ergui uma sobrancelha. - Estava! E foi bom para caralho. Acho que foi a melhor transa da minha vida. -