Grécia - a.C.
Narrador.
Já tinha se passado um mês desde que o prazo de seis meses de Perséfone morar no Olimpo tinha acabado e ela ainda não tinha descido. E Deméter não tinha voltado de Creta ainda. Hades já não sabia mais por onde procurar a esposa, e as meninas já estavam ficando preocupada com a mãe, já que elas e o próprio marido já tinham chamado pela esposa e ela não tinha aparecido e tampouco respondido. Hades já havia berrado os sete céus por Deméter, que continuava sem responder. Ninguém no Olimpo respondia o deus dos mortos e ele já estava ficando irritado com isso, ele precisava tomar medidas mais drásticas.
Hades apareceu no templo de Zeus primeiro chamando-o e ao não receber nenhuma resposta em volta, ele respirou fundo, ele detestava ir tão baixo, fazia-o recordar de seu tempo de solteiro, de seu tempo antes de conhecer Perséfone, e ele não gostava muito de lembrar dessas épocas, mas ele queria a esposa de volta, e se isso significasse voltar a ser quem ele era antes, ele faria. Ele estalou os dedos e uma bola de fogo apareceu em sua mão.
- Vai dar as caras ou prefere ver a sua estátua derreter? – perguntou sabendo que seu irmão iria ouvir. Zeus era orgulhoso demais, e simplesmente amava as estatuas que os mortais lhe faziam, e morreria antes que uma fosse destruída, que dizer, ele mataria a pessoa que ousasse estragar sua estátua, contudo, Zeus não respondera o irmão. – Então assista a sua imagem favorita queimar! –
- Não! – antes mesmo que Hades tivesse a chance de arremessar a bola de fogo na estátua Zeus apareceu atrás dele.
- Finalmente. – ele virou-se de frente para o irmão mais novo e com um balançar das mãos fez a bola sumir. – Estou a mais de um chamando e ninguém me responde. Cadê a minha esposa? – Zeus abriu e fechou a boca algumas vezes e Hades percebeu o receio de seu irmão. – Escuta aqui irmãozinho... – segurando-o pelo pescoço, prensou-o contra a parede, erguendo-o um pouco do chão, Hades estava furioso, simplesmente furioso, e tinha que se controlar e muito para não perder o controle. – Eu pouco me importo com quem você é ou deixa de ser, mas você garantiu e prometeu que no final dos seis meses a minha esposa estaria no mundo inferior comigo. Onde ela está? –
- Vamos conversar de forma civilizada, irmão, por favor. –
- Forma civilizada? Não existe forma civilizada com vocês. Onde está Perséfone? – ele gritou e os dois sentiram o chão sobre seus pés tremerem. O mundo inferior era tão grande e vasto que ficava por debaixo de todo o território grego, e se um tremor de grande escala o atingisse, seria sentido no mundo dos vivos, o que acabara de ocorrer.
-Eu não sei! – admitiu derrotado. – Deméter a levou para Creta, um mês antes do prazo acabar e nenhuma das duas voltaram. Já mandei revistar toda a ilha e ninguém as encontra. –
- O que a sua irmã fez com a minha esposa? –
- Acharam... – ele limpou a garganta. – Acharam vestígios de água do rio Lete e do Estige na tina do quarto de Perséfone. – atônito, ele soltou o irmão que precisou de um pouco de esforço para não cair no chão de seu próprio templo. - Desconfiamos de que Deméter possa ter pego em uma das visitas ao mundo dos mortos, quando ninguém estava olhando ou tendo ajuda de alguém lá de baixo. E sem saber Perséfone entrou nas águas. -
- A mamãe entrou na água do Lete? – a voz de Melinoe soou atrás do pai. Atrás da mais nova, estava Macária, ambas haviam escutado o avô e ambas tinham os olhos marejados.
- Eu pedi para ficarem lá embaixo. – Hades disse simplesmente as duas.
- Eu... Eu tentei segura-la lá embaixo, pai. – Macária respondeu com a voz fraca.
- Pai, a mamãe não se lembra mais da gente? – Melinoe ignorou a irmã e o pai.
- Desconfio de que apenas Perséfone tenha entrado nas águas e que Deméter esteja vivendo com ela como duas mortais, escondidas de nós. Eu esperava encontra-las rápido, mas não. Eu mobilizei todo o Olimpo e semideuses atrás das duas e ninguém as encontra. Eu não sei mais o que fazer. –
- Já mandou Hermes até os outros panteões? –
- Sim. Ele acabou de voltar do egípcio e partiu para o nórdico. Mas Deméter não se dava bem com nenhum outro deus de outro panteão, não tem como ela buscado abrigo neles. –
- Mas ela pode estar vivendo como uma mortal lá. -
- Hórus garantiu que irá vasculhas no Cairo atrás das duas e assim que tiver respostas envia Thot. –
- Eu mesmo vou procurar a minha esposa. E torçam para eu encontrá-la, caso contrário todos vocês vão se arrepender. – deixando o irmão falando sozinho, ele se aproximou das filhas. – Vamos descer. –
- Como? Ninguém ainda as achou, como pretende encontra-las? –
- Ninguém foge da morte por muito tempo, meu irmão. Deveria saber disso! – respondeu simplesmente, passando os braços por cima dos ombros de Macária e Melinoe e desaparecendo para o mundo dos mortos em uma nuvem negra.
Meses haviam se passado e ninguém encontrava nem Deméter e nem Perséfone, o mundo dos mortos estava coberto pela neve ainda, como se nada tivesse acontecido. Hades já havia destruído e mandado destruir diversos templos de Deméter para ver se assim a irmã aparecia, mas não, ela continuava intocada. Hades passou a permitir que Melinoe tirasse algumas almas do mundo dos mortos para que elas ajudassem a procurar pela esposa, já que portas e sigilos não os impediam. Cérbero fora transformado em um cão normal, e com um vestido de Perséfone, percorrera o território grego atrás de Perséfone, e nada, ninguém a encontrava.
O mundo inferior estava um caos, Hades havia deixado o controle do submundo nas mãos dos juízes e estava completamente focado em encontrar a esposa. Mas era em vão, elas não estavam em lugar nenhum da terra, nem mesmo a morte a encontrava. O deus tinha arrumado um mapa da Grécia e toda a cidade e lugar que ele tinha ido estava riscada e tinha poucas cidades faltando ainda.
- Pai! Pai! – ele desviou os olhos do mapa ao ouvir a voz de Macária soando pelo castelo. Ela entrou na sala do trono correndo e um pouco arfante. – Eu acho que achei a mamãe. –
- O que? –
- Eu... – ela respirava entre a boca tentando buscar o oxigênio. – Eu estava perto de Troia, estava no templo de Apolo falando com ele, quando ouvi alguém comentando com outra pessoa, descrevendo uma pessoa, que é idêntica a mamãe. Apolo ficou ouvindo o resto da conversa enquanto eu vinha avisar o senhor e... – antes mesmo que Macária terminasse de falar, Hades já tinha deixado o mundo inferior e ido para Troia.
- Apolo. – Hades havia aparecido em frente ao templo de Apolo na praia de Troia, e em poucos segundos Apolo apareceu na porta do templo.
- A mulher que parece que Perséfone, pelo menos segundo Macária, mora fora da cidade, no campo, próxima a entrada da floresta. –
- Para qual lado? –
- A sudeste. –
Mal Apolo respondeu a pergunta de Hades e ele desapareceu, indo na direção que ele mencionara, o deus da morte apareceu no sopé de uma montanha, na entrada de uma floresta, onde Apolo respondera, ele viu uma pequena fumaça aparecendo sobre a copa de algumas árvores na entrada da floresta e não demorou muito e uma mulher saiu lá de dentro, esfregando os pés descalços na relva verde que era um pouco grande enquanto balançava uma pequena cesta de palha e caminhava até uma pequena plantação próxima a um pequeno rio. A jovem mulher andava com a cabeça abaixada e com os cabelos escuros cobrindo o rosto, mas ao levantar a cabeça, para sentir o sol tocando em seu rosto, Hades sentiu como se uma porrada fosse dada em seu estômago. Era Perséfone.
- Não, pai. – Macária impediu que ele andasse até ela.
- Me solta Macária! –
- Ela não lembra, pai! O que o senhor pretende fazer, falar que é o marido dela e leva-la ao submundo? Ela não lembra de nada! – irritado, e sabendo que a filha tinha razão, ele socou a rocha da montanha, para se esbravejar a raiva que sentia, e causando uma rachadura na mesma e um barulho alto, parecido como um estrondo, soou pela pequena campina, fazendo com a jovem mortal olhasse em volta para ver de onde vinha aquele barulho. Ela não via os dois deuses no sopé da montanha, e como não tinha visto nada de diferente ou anormal, seguiu para a pequena plantação. – Fique aqui. – pediu.
- O que vai fazer? – perguntou ele e viu a filha se transformando em uma mulher quase que da mesma idade de Perséfone e caminhou até ela.
- Com licença. – Macária chamou a atenção da mãe, que sentada próxima a beira do rio, colhia algumas cenouras.
- Sim? – ela olhou para a mulher que estava de pé com um carinhoso sorriso no rosto, que fez a deusa engolir em seco.
- Eu estou um pouco perdida. Pode me ajudar? –
- Claro. Para onde está indo? – questionou se levantando com a cesta com algumas cenouras.
- Estou... Estou procurando o templo do deus Apolo. –
- Está planejando virar uma sacerdotisa? –
- É. Meus pais morreram e me tornar uma sacerdotisa é a única opção que tenho. Sabe me dizer para onde fica o templo? –
- Desculpe, mas não. Eu... Eu não conheço muito a região, apenas essa campina. Quem sabe para onde fica o templo e a cidade é a minha mãe, mas ela não está. –
- Pensei que conhecesse bem a área, geralmente quem mora assim afastado da cidade é porque mora aqui a bastante tempo. –
- Não... Cheguei a pouco tempo! – suspirou tristonha. – Segundo minha mãe, meu pai é um homem muito agressivo e ela está fugindo dele. Desde que eu me lembro nós estamos fugindo. –
- E de onde vieram? –
- Creta. – respondeu. – A propósito, sou Kore e você? – perguntou estendendo uma das mãos para a deusa.
- Helena. – respondeu apertando a mão da mãe.
- Quer entrar e esperar a minha mãe chegar para lhe dar uma direção para o templo? –
- Não. Não precisa, daqui a pouco está anoitecendo, melhor eu tentar ir andando enquanto ainda tenho a luz do sol. –
- Certeza? –
- Sim. Não se preocupe. Eu vou ficar bem. –
- Caso mude de ideia, e resolva se abrigar, pode vir que as portas estão abertas. – sugeriu com os lábios avermelhados se repuxando em um enorme sorriso caloroso, que fez o choro ficar preso na garganta da deusa.
- Tudo bem. Deixe-me ire aproveitar a luz do sol. – Kore assentiu ainda sorrindo e ficou observando a deusa se afastar, e quando ela sumiu da sua vista, Kore voltou para dentro de sua cabana. – Ouviu? – Macária voltou a sua forma normal ao se aproximar de seu pai.
- Ouvi! – respondeu entre os dentes. – Deméter não tem limites. –
- Tem como reverter os efeitos das águas do Lete e do Estige? –
- Do Estige sim. Infelizmente, do Lete não. A única que sabia como reverter os efeitos do Lete era a Titânide Mnemosine. – Macária ergueu as sobrancelhas confusa, não lembrava de ter ouvido o nome dessa titânide. – É a personificação da memória, mas depois que Zeus a enganou e ela deu à luz as musas, ela simplesmente sumiu e ninguém sabe onde ela está. –
- Tem alguma mulher em toda a Grécia com quem Zeus não tenha dormido? – Macária perguntou irritada.
- Até o momento. Sua mãe, você e sua irmã! Se tem mais alguma eu desconheço. –
- Não tem ninguém que, pelo menos, desconfie do paradeiro dessa titânide? – Hades apenas negou. – E Héstia? Ela não consegue ver tudo naquela fogueira? –
- Se a pessoa se proteger com sigilos, que foi, o que provavelmente Mnemosine fez, ela não vê. – Macária bufou.
- Pai... – Macária puxou o pai pelo braço para ele olha-la. – Por todas as almas do Elísios. Nós já sabemos onde ela está e sabendo que existe um jeito de fazer a memória dela voltar. Vamos procurar pela Mnemosine! O senhor mesmo diz que ninguém se esconde da morte, ela pode estar vivendo como uma mortal. Solte Cerberus e as Harpias para procurar por ela. Já que no Olimpo ninguém faz nada, faz o senhor! Depois de tudo o que aconteceu, eu duvido que o vovô fale algo do seu jeito de agir! Vai desistir da mamãe assim? -
- Nunca! – disse convicto. – Você tem razão, minha filha. A primeira coisa a fazer é colocar alguém aqui de olho para ver se Deméter não vai fugir de novo. – a deusa da boa morte fixou os olhos na ponta de uma pedra acima dos ombros do pai.
- Eu não sei se estou vendo coisas, mas aquele pardal parece estar prestando atenção na gente. – confuso, ele se virou para onde a filha olhava.
- Afrodite? – perguntou olhando para o pássaro que piou de volta. Ele sabia muito bem que pardal era um dos principais animais consagrados a deusa do amor. – O que você está fazendo? –
- Vai logo atrás da Mnemosine, que eu fico de olho nela. – respondeu a deusa do amor irritada e aparecendo para os dois. – Céus, vocês são lerdos! Vão logo antes que Deméter volte e sinta o cheiro de vocês! Anda que Zeus vai fazer chover para o cheiro sumir mais rápido! – ela sumiu, mas o pardal continuou ali, mesmo com a chuva forte que começara a cair.
- Podemos confiar nela? – perguntou Macária ao pai.
- Oh garota, eu ajudei a cuidar de você, não vem desconfiar de mim não! – ela se fez presente de novo apenas para ralhar com a jovem deusa e sumiu de novo.
- Podemos. Afrodite me ajudou desde o início. – ele esboçou um leve sorriso. – Vamos descer para soltar o Cerberus e as Harpias. –
Os dois desceram para o submundo e Hades tratou de soltar logo Cerberus e as Harpias e todo mundo que ele podia soltar, sem causar um caos no mundo dos vivos, com tantas almas perambulando pelo mundo superior. Ele tinha que encontrar Mnemosine!
Algumas luas haviam se passado e ninguém encontrará a titânide, até as próprias irmãs tinham se separado para buscar por Mnemosine e ninguém a encontrava. Afrodite continuava de olho em Perséfone, ela não havia saído do lugar e tampouco havia mencionado com a mãe a visita da tal Helena.
- Nada? – Hades questionou as filhas quando eles se reuniram após algumas luas na sala do trono.
- Já procurei por todas as ilhas, coloquei diversos fantasmas para procurar e nada. – Melinoe respondeu.
- Já subi até a Macedônia e nada. – Macária comentou. – Não sei por mais onde procurar. –
- Ela tem que está em algum lugar! Ela não pode ter sumido. – Melinoe resmungou. – Tem certeza de que ela não morreu? –
- Eu não recolhi a alma dela em momento algum. Tenho certeza disso! –
- E você? – perguntou ela a irmã que negou.
- Mas eu posso dar um pulo nos Campos Elísios. – sugeriu olhando para o pai, que apenas assentiu para ela, ela sumiu da frente dos dois indo na direção dos Elísios.
- Eu... Eu não sei mais o que fazer Melinoe. – Hades admitiu derrotado. – Eu não sei mais o que fazer para trazer a sua mãe de volta. – suspirou. – Sem Mnemosine não tem como trazer a sua mãe de volta. -
- Mas... Se devolver a imortalidade dela... –
- Não volta as memórias e sinceramente, eu nem sei nem se caso nós devolvermos a imortalidade de sua mãe, se ela recebe de volta os dons de volta ou se ela apenas fica imortal de novo. –
- SENHOR... SENHOR... – uma voz soou alta e reverberando por entre as paredes da sala de Hades junto com diversas batidas de asas.
- São as harpias. – Melinoe comentou quando duas entraram na sala do trono e o resto pousaram no telhado da morada.
- Senhor. – as duas se ajoelharam no chão com as longas e pretas asas tocando no mesmo.
- Acharam? –
- Sim, majestade. – a outra respondeu ofegante. – Ela está escondida em uma caverna próxima a Pompéia. –
- Ela viu vocês? – Melinoe perguntou.
- Não. Só quem é morador do mundo dos mortos ou moribundos veem as harpias. – Hades respondeu. – Chame a sua irmã. – pediu. Melinoe não podia entrar nos Elísios, mas sua irmã já deveria estar saindo do mesmo.
Hades dispensou as harpias assim que elas passaram todas as informações certas, para que elas pudessem descansar, já que estavam a dias voando atrás de qualquer vestígio que pudessem encontrar sobre a titânide. A deusa dos fantasmas voltou com a irmã mais velha e os três partiram para Pompéia, Hades era a pior para se comunicar com as pessoas, principalmente com mulheres, apenas com sua esposa e filhas, e achava que o fato das meninas irem junto, conseguiriam ajudar a convencer Mnemosine.
Os três apareceram na frente da caverna que havia sido encontrada pelas harpias e por um momento ele ficou na dúvida de se entraria na caverna ou se a chamava primeiro. Ele não queria correr o risco de fazer algo de errado e acabar com as poucas chances que teriam para conseguir a ajuda da titânide.
- Mnemosine. – enquanto Hades decidia que a chamava ou entrava na caverna, Melinoe, a que sempre foi a mais ansiosa, chamou-a da porta da caverna. Demorou um pouco para que ela aparecesse completamente confusa, e mais confusa ficou ao ver Hades com duas garotas.
- Hades. –
- Oi tia. Como a senhora está? –
- Melhor até vocês aparecerem. Quem são elas e o que vocês querem? – ele suspirou.
- Elas são minhas filhas. – explicou a sobrancelha da titânide ergueu em completa confusão.
- Suas filhas? – as expressões de Mnemosine eram de confusão, dúvida e divertimento. – Com quem? – ele suspeitava que caso mencionasse o nome de Zeus ela ficava completamente irritada e iria embora, mas ele precisava ser sincero com ela e tocar no coração que ela sabia que tinha, Mnemosine sempre foi uma das titânides mais amorosas e carinhosas que existiam, e esse era um dos principais motivos para ela ter sido escolhida para não ser presa no Tártaro junto com os outros titãs e monstros.
- Perséfone. – respondeu, ele não tinha certeza de se ela sabia de quem Perséfone era filha.
- Perséfone... Deusa da primavera... – pensou em voz alta e ele assentiu. – Filha de Deméter com você sabe quem. – respondeu fechando a cara. – O que querem? –
- Deméter deu água do Lete e do Estige para Perséfone para que ela não lembrasse mais de mim e das meninas, e eu preciso trazer a minha esposa de volta. –
- E por que eu ajudaria vocês depois de tudo? –
- Depois de tudo? O que eu te fiz? – perguntou tentando não se alterar. – Eu nunca lhe fiz nada e é, praticamente, graças a mim, que você não está presa o Tártaro junto aos outros. Eu intercedi ao seu favor! – apontou. – Não me culpe pelo que Zeus fez, porque eu não sou o meu irmão! – resmungou e notou que quando ele tocou no nome do irmão mais novo, o coração de Mnemosine se acelerou e ela ficou completamente furiosa.
- Mas ela é filha de Zeus! – respondeu entre os dentes.
- Sim. Perséfone é filha de Zeus, mas tenha certeza que do mesmo jeito que você concebeu as Musas, foi do mesmo jeito que Deméter concebeu Perséfone! E não é justo minhas filhas ficarem sem a mãe, pois você se recusa ajudar por seus problemas com Zeus! –
- E por que Deméter fez isso com a própria filha? –
- Porque ela é maluca! –
- Melinoe. – Hades a repreendeu.
- Estou mentindo? – rebateu. – Não estou! A vovó nunca aceitou o casamento de vocês dois, e olha que foi um casamento consentido, segundo todos do Olimpo e... –
A voz da filha foi ficando mais baixa nos ouvidos de Hades e sua mente foi levada para bem longe, tinha gente o chamando. Quer dizer, não tecnicamente o chamando, eram mortais, era uma voz feminina, ele conhecia aquela voz, a dona dela era a única pessoa que conseguia fazer seu coração bater e se aquecer. Ele não falou nada com as filhas, apenas sumiu na direção que seu nome tinha sido mencionado.
Perséfone estava sentada na beira de um riacho com outra mulher do lado, parecia com a casca mortal que Macária se transformara a algumas luas apenas para confirmar se aquela mortal era realmente a sua mãe, mal ele terminou de aparecer por entre as árvores, ele sabia que nenhum mortal o veria ali, mas quando a outra mulher virou a cabeça na sua direção e apenas piscou para o deus de forma arteira, ele soube que era Afrodite quem estava conversando com Perséfone.
- Só escuta! – a voz da deusa do amor soou pela cabeça de Hades. – Me explica isso direito que eu não entendi. – pediu.
- Nem eu entendi. – Perséfone respondeu. – Eu... Eu não sei o que está acontecendo, mas desde que a mamãe viajou coisas muito estranhas estão acontecendo comigo. –
- Tipo o que? –
- Além desse homem? – que homem? Hades perguntou mentalmente e Afrodite apenas assentiu. – Bom... Eu posso estar ficando muito louca, mas.... – ela pensou um pouco. – Esquece. –
- Fala...
- Eu estou louca, não é nada! –
- Fala logo garota! – resmungou e ela bufou.
- Eu acho que uma flor possa ter aberto o botão na minha mão. –
- Como assim? Aberto de as pétalas despencarem ou aberto de desabrochar? –
- Desabrochar. – respondeu. – Não... Não... Isso é simplesmente impossível! Impossível! Eu vi coisas apenas assim. –
- Ai Kore, por Zeus... Primeiro você fala que sonhou com Hades e depois isso... – Hades ergueu a sobrancelha. Como assim ela tinha sonhado com o deus da morte.
- Eu nunca disse que tinha sonhado com... com o deus da morte. Quem disse isso é você! –
- Pelo que você descreveu é como descrevem Hades! –
-Bom... A minha mãe o descreve de outro jeito! – se defendeu dando de ombros.
- Kore, com todo o respeito. Sua mãe é louca! Olha onde ela está te prendendo. E ela nem aqui com você ela está! Parece que ela não pensa que algo de ruim pode lhe acontecer. –
- Eu não estou sozinha! Você está aqui comigo! –
- Oh nossa. Duas mulheres sozinhas contra homens armados, com certeza estamos completamente seguras. – Afrodite ironizou.
- Eu vou entrar e fazer algo para jantar. – Kore/Perséfone se levantou da beira do riacho irritada e caminhou para a sua cabana.
- Teoria. – Afrodite apareceu em sua forma divina na frente de Hades. – Desconfio que o fato de Deméter continuar imortal esteja de certa forma trazendo algumas pequenas lembranças ou dons de Perséfone... –
- Isso é impossível. Sabemos perfeitamente bem que caso um deus entre no Estige ele perde completamente a sua imortalidade, a menos que coma ambrosia, e sabemos que sem a ajuda de Mnemosine, as águas do Lete não têm reversão! –
- Isso, se forem tomadas ou tocadas de forma separada. –
- Como assim? – perguntou o deus dos mortos confuso.
- Deméter misturou as águas do Lete e do Estige e nós não sabemos o que as duas juntas causam, se elas agem do mesmo jeito juntas ou se o fato delas terem se misturado tem efeitos mais fracos a menos que continue em contato com as águas. – deu de ombros. – Agora vamos ao que importa. Encontraram Mnemosine? –
- Sim, mas ela está se recusando a se ajudar. Principalmente por Perséfone ser filha de Zeus. –
- Já pensou em pedir a Zeus para conversar com a Mnemosine? –
- Zeus jamais se desculparia. E é mais fácil ela mata-lo do que outra coisa. –
- Ele está se sentindo culpado pelo que Deméter fez! Até porque ele tinha dado a palavra dele de que vocês dois cumpririam com o trato. –
- Onde está Deméter? – Hades mudou de assunto.
- Eu não sei. Ela larga Perséfone uns dias sozinha e some. Tentei descobrir se ela vai ver Despina ou Árion, mas nenhum dos dois me responderam! – deu de ombros. – Quando ela aparece, eu sumo e Zeus faz uma tempestade cair para encobrir meu cheiro. O problema é que ela acha que Perséfone está ficando louca por falar com uma pessoa que não existe. Até balbuciando enquanto pensava se era algum efeito das águas ou então se todos os mortais são loucos, eu a peguei. – suspirou. – Mas, o que eu comentei sobre ela ficar sozinha em casa com homens armados passando é sério. Enquanto estive aqui já passaram alguns troianos, não fizeram nada porque Hefesto impediu, mas não é sempre que ele pode interferir. Já falei com Apolo para ele tentar, sei lá em uma visão, impedir a saída dos soldados da cidade, mas ele disse que não irá se meter nessa história. E também, se ele interferir na movimentação de Troia, é capaz de Deméter perceber. -
- Eu vou colocar uns guardas escondidos aqui para o caso de algum soldado troiado aparecer. E mesmo odiando a ideia e sabendo que não vai adiantar de nada, vou falar com Zeus tentar falar com Mnemosine. –
- Deixa eu entrar antes que ela venha aqui fora me procurar. – Hades assentiu
Afrodite seguiu para a cabana onde Perséfone morava e Hades voltou para a sua morada no mundo inferior. Não demorou muito e as meninas chegaram, Melinoe estava furiosa devido a recusa da titânide e Macária não tinha desistido tão fácil assim, só não sabia mais o que fazer para tentar convencer a mulher, mas ela sabia que não desistiria tão fácil. Hades precisava seguir o conselho de Afrodite, melhor dizendo, os dois conselhos da deusa do amor. Colocar alguém de olho na pequena cabana onde sua esposa morava, ela era uma mortal agora, o que significava que não teria com se proteger caso algo acontecesse, e com certeza Deméter não havia pensado nessa possibilidade ao deixar a jovem sozinha e desprotegida. Não era nenhuma novidade a Hades.
Com o caso de ter alguém de vigia na cabana de Perséfone resolvido, ele queria e preferia colocar Cerberus, ele não confiava em nenhum guarda melhor do que seu fiel e enorme cão, mas ele sabia que muito bem que o cão amava a deusa da primavera, e mesmo desmemoriada e mortal, ela continuava sendo a deusa da primavera, e temia que Deméter acabasse notando a presença do cão ou que ele não conseguisse evitar e acabasse se aproximando de Perséfone. Mesmo sabendo que a sua melhor opção era Cerberus, ele preferiu usar almas e as Harpias como guardas.
Com esse problema resolvido, estava na hora de ele resolver o problema de Mnemosine. Ele entendia o motivo dela estar furiosa com Zeus, só não conseguia aceitar o fato dessa fúria se estender até ele e até Perséfone. Ele sabia que de nada adiantaria a conversa com Zeus, e que tampouco adiantaria as desculpas que ele talvez pedisse a Mnemosine, de nada adiantaria. Ela continuaria furiosa, caso não o matasse, algo que ele completamente entendia e no fundo até concordava. Mas ele precisava seguir o conselho de sua sobrinha, talvez ele não tivesse outra opção mesmo a seguir.
- Queria falar comigo? – Zeus se fez presente na praia de onde Hades havia o chamado.
- Quero um favor seu, e não recusarei um não com resposta. Deve-me! –
- Se esse favor pedido envolver a minha filha, não recusarei. Sabes que do mesmo jeito que queres trazer Perséfone para casa, eu também quero! –
- Ótimo. – Hades respondeu ainda de costas para o irmão e vendo as ondas quebrarem na costa da praia.
- O que queres? –
- Peça desculpas a Mnemosine pelo que fez com ela! -
Nenhum comentário:
Postar um comentário