Grécia - a.C.
Narrador.
Zeus ficou um longo tempo parado olhando para o irmão sem entender direito o que ele quis dizer. Como assim Hades queria que ele pedisse desculpas a Mnemosine? Ele não tinha motivo para pedir desculpas, era o que o deus dos deuses pensava. Ele abriu e fechou a boca algumas vezes tentando falar alguma coisa e sem sucesso. Zeus balançou a cabeça e soltou uma risada, que fez com que as sobrancelhas de Hades se erguerem.
- Por que eu pediria desculpas a Mnemosine? –
- Não se arrepende do que fez? – retrucou.
- Por que me arrependeria? – chocado e sentindo ânsia, o deus da morte deu um passo a frente se aproximando do irmão.
- Você é a estuprou e não se arrepende disso? – Zeus começou a rir.
- Eu a estuprei? Até onde eu saiba os nove dias que eu dormi com Mnemosine, foram todos consentidos por ela. –
- É o que? – Hades perguntou confuso. Durante milênios Mnemosine havia defendido que havia sido estuprada por Zeus e ele nunca havia desmentido. – Espera. O que? –
- Eu nunca encostei em mulher nenhuma sem a permissão delas! Quer dizer... – suspirou ele. – Arrependo-me do que fiz a Deméter, caso pudesse voltar no tempo e desfazer o que eu fiz, eu faria. Mas depois dessa única vez, a qual eu era completamente imaturo e não tinha nenhuma noção, eu nunca mais fiz isso de novo. –
- E por que você nunca se defendeu? Todo mundo acha que você estupra qualquer mulher que queira. –
- É uma fama! – deu de ombros.
- Você é doente! E ainda falam que mim! –
- Mortais falam que você sequestrou e estuprou Perséfone e não é verdade! Nem tudo o que falam sobre nós é verdade, meu irmão. Deveria se aproximar mais dos mortais. –
- Eu não quero me aproximar de ninguém. Apenas da minha esposa. – rosnou Hades ao irmão mais velho. – Já que você não tocou em Mnemosine contra a vontade dela, e ela simplesmente está se fazendo de vítima, ou se arrependeu, ou sabe-se lá o motivo de ela estar agindo assim. Pouco me importa. Fala com ela para me ajudar a recuperar a memória de Perséfone! – ele suspirou.
- Vou ver o que eu posso fazer. –
- Antes que se irrite lembre-se que é a sua filha! Minha esposa. E que se eu não a tiver de volta, vocês vão se arrepender! – alertou e foi embora deixando o irmão sozinho.
Hades voltou para o mundo dos mortos enquanto esperava a resposta do irmão mais novo. Volta e meia, principalmente quando Afrodite dizia que Deméter tinha se afastado, ele ia até Troia ver a esposa, mesmo que de longe, e ele se controlava e muito para não ir falar com ela, ele sabia que era inútil, ela não lembrava de nada, mas ele sentia tanta falta dela que parecia que um pedaço dele próprio havia sido arrancado, e era justamente o lado que o fazia ser feliz.
Parecia quando ele a vigiava de longe com medo de se aproximar e ser rejeitado, ele apenas a olhava de longe. Hoje era mais um dia que ele apenas a olhava e dessa vez Afrodite não estava com ela, e ao mesmo tempo em que ele sentiu a presença de Deméter, uma tempestade caiu por cima dele, provavelmente Zeus escondendo o cheiro dele de Deméter. Ele não entendia como era possível, mas Perséfone parou de seguir para a sua casa, debaixo da chuva e olhou na direção de Hades. Ele sabia que nenhum mortal conseguia vê-lo, ele tinha certeza disso, até porque a poucas horas atrás um pequeno grupo de soldados troianos haviam passado por ele e não haviam visto, isso porque quase passaram por cima do mesmo. Mas Perséfone parou e olhou na sua direção e assim ficou na chuva por uns longos segundos.
- Kore. – a voz de Deméter a tirou de seu estado estático. – Saía dessa chuva, menina, quer ficar doente? –
- Desculpe mamãe, é que eu achei ter visto algo ali. –
- O que? Como assim? – perguntou confusa.
- Não tem um homem ali nas árvores? – ah não Perséfone, faça tudo menos atrair a atenção de sua mãe para mim, pensou ele desgostoso ao mesmo tempo em que Deméter olhou para as árvores e o viu ali.
- Claro que não, Kore. Estais enlouquecendo. – ela ralhou completamente furiosa com a filha, enquanto o olhar que lançava a Hades, não queria dizer nada além de que ela queria mata-lo bem lentamente. – Entre antes que fique doente. Bora, para dentro! – enxotou a garota para dentro da cabana do mesmo jeito que se enxotava um cão para fora de casa.
Eu me controlei e muito para não intervir, não por Deméter, até porque ela já sabia que eu estava ali, mas sim por Perséfone, não queria assusta-la, não queria que a primeira impressão que ela tivesse fosse algo ruim. Com algumas almas vigiando a pequena cabana, Hades voltou para o mundo inferior, mas os seus segundos de paz que ele sentia por ter posto seus olhos mais uma vez em Perséfone passou bem rápido sentindo um tremor forte, e ele tinha certeza de que era na entrada da caverna que levava ao mundo dos mortos. Ele sabia quem era que estava ali, e agradecia profundamente o fato de nenhuma das duas meninas estavam em casa.
- Oi irmãzinha. – respondeu ele ironicamente aparecendo atrás dela na entrada da caverna e vendo uma ventania lá fora.
- Seu desgraçado! – rosnou ela arremessando uma bola de luz na direção dele, contudo Hades tinha um bom reflexo, e dando um pequeno passo para o lado e a bola de energia arremessada por Deméter chocou-se contra a parede de pedra, causando um barulho alto que ecoou pela caverna, parecendo com o som de um trovão. – Por que não nos deixa em paz? –
- Simples. Você não nos deixou em paz. Você não mexeu só comigo, Deméter, você mexeu com as minhas filhas, as suas netas. E isso tudo porque você se recusava a aceitar o meu casamento com Perséfone. Podia ter se contentado com os seus seis meses com ela no Olimpo, porque mesmo eu odiando eu cedi a sua vontade. Eu cumpri com a minha parte no acordo e você não. –
- Se contentasse com as suas filhas! –
- Se contentasse com Áron e Despina! – rebateu ele rosnando para ela. – Você tentou o máximo que pode transformar Despina em Perséfone e falhou miseravelmente, e a única coisa que conseguiu fazer foi fazer com que Despina odiasse a própria irmã, sendo que a única culpada de tudo foi você! Sendo que a única pessoa que ela deveria odiar é você! Quer dizer, ela também te odeia. – corrigiu-se. – Pois caso contrário ela não destruiria com o maior prazer todo o seu trabalho. –
- Cala a boca. –
- Todos os seus filhos te odeiam. Suas netas te odeiam. Talvez Perséfone não chegasse a odiar de fato, mas ela detestava passar esses seis meses te aturando. –
- Cala a boca... – ela falava entre os dentes e suas mãos tremiam de raiva.
- Tem alguém no Olimpo que goste realmente de você? Aliás, tem alguém em toda a Grécia que goste de você ou apenas se aproveitam por ser a deusa da colheita? –
- As únicas pessoas que gostam de você são as suas filhas. –
- Sim. As minhas filhas e a sua filha! E eu não preciso que mais ninguém goste de mim. – respondeu sorrindo e isso a irritou mais ainda. – E você... Bom, pelas minhas contas... Três filhos imortais e dois mortais e nenhum dos cinco gostam de você! Porque você só enxerga o seu próprio umbigo e não percebe que eles têm vontade próprias. E principalmente, porque eles sabem que tem que seguir a vida sem você, e você não aguenta ficar sozinha! – Hades balançou a cabeça sorrindo. – Ah irmãzinha. Precisa passar um tempo sozinha, talvez assim você aprenda um pouco de amor próprio e pare de escravizar o amor de seus filhos! –
- Cala a boca. –
- Porque do jeito que você está agindo, vai acabar o resto de toda a sua eternidade, sozinha! Porque ninguém vai aguentar ficar perto de você. –
- Eu mandei você calar a boca. – gritando e pegando o deus completamente desprevenido, a deusa da colheita acertou-lhe em cheio no meio do peito com uma bola de luz que o arremessou contra a parede de pedra que rachou. – Zeus nunca deveria ter lhe tirado da barriga de Cronos. Para que você serve? Só para irritar. – a voz de Deméter soava baixa enquanto ela caminhava bem lentamente na sua direção, e ele notou um punhal prateado aparecendo na mão da deusa. – Zeus deveria ter lhe matado quando vocês discutiram sobre o poder do Olimpo e do mundo inferior. Mas não se preocupe, meu irmão, eu vou fazer o que aquele covarde não conseguiu. –
- Você vai me matar? – se levantando Hades riu. – Nos meus domínios? – um ar sombrio e assustador tomou conta do rosto do deus da morte e almas, que saiam do chão debaixo dos pés de Deméter, a seguraram pelos tornozelos, impedindo-a de dar mais um passo. Com uma leve batida da ponta debaixo de seu cetro contra o chão de pedra, o garfo de Hades deu uma leve iluminada.
- Me solta desgraçado. – rosnou ela se debatendo e tentando se livrar das almas que agora também a seguraram pelos pulsos. – Não aguenta uma luta limpa, irmãozinho? –
- Luta limpa? – ele riu. – Enquanto você estava pelo mundo plantando sementinhas, eu passava as minhas tardes me divertindo e lutando contra os melhores generais que eu tenho nos Asfódelos. Não é uma luta limpa é uma luta completamente injusta para você! – Hades sabia perfeitamente bem que era terminantemente proibido um deus lutar e/ou matar outro, mas ele não se importava mais com as regras ou opinião de Zeus. Ele sabia que Deméter queria mata-lo e não era de hoje, e de certa forma ele realmente esperava que Zeus interferisse em algum momento, ele jamais permitiria que os dois irmãos se matassem. Pelo menos era isso o que ele esperava.
- Lute como um homem! –
- Quer realmente lutar comigo, Deméter?! Tudo bem! – com um estalar de dedos as almas soltaram os pulsos e os tornozelos de Deméter. – Pode vir então! – ela ajeitou a adaga prateada em sua mão, apertando o cabo da mesma com força fazendo os nós de seus dedos ficarem esbranquiçados.
Com um rosnado quase inaudível, ela avançou na direção dele com a adaga erguida na direção dele, e com um mísero passo para o lado ele desviou da ponta da faca. A cada nova investida da adaga contra Hades, ele desviava do golpe com um simples passo para o lado fazendo-a golpear o ar. O deus da morte só conseguia pensar o motivo de Zeus ainda não ter interferido, ele já tinha perdido as contas de quantas vezes o deus dos deuses havia interrompido uma luta que Ares tenha arrumado com alguém, mas essa... Nem sinal do irmão mais novo.
- Desiste Deméter. Você nunca vai conseguir me matar! E eu não vou matar você, porque eu sei o quanto eu magoaria a minha esposa caso fizesse isso! –
- Você nunca mais verá a minha filha! Ou acha mesmo que eu não a escondi antes de vir lhe matar? –
- Do mesmo jeito que eu a achei uma vez, eu posso acha-la quantas vezes forem necessárias. Porque enquanto Perséfone e apenas ela, dizer que não me quer mais, eu não vou desistir de tê-la de volta. –
- Ela nem lembra mais de você. – provocou Deméter rindo, enquanto os dois andando em pequenos passos um de frente para o outro, como uma dança lenta enquanto ela procurava uma brecha para acerta-lo e ele esperava a deixa para esquivar. – Você não existe mais na vida dela. E não tem como ela recuperar a memória, acha mesmo que Mnemosine vai te ajudar. – diabolicamente ela gargalhou como se divertisse com isso, e na verdade ela estava se divertindo. – Eu não fiz com que fizessem a cabeça dela durante todos esses anos para que ela se revoltasse contra Zeus atoa. –
- Você é uma maldita, Deméter. – cuspiu ele perdendo toda a calma que ele fazia o esforço para manter, e ela gargalhou mais ainda. – Você não merece ser mãe. Você é egoísta demais para ser mãe. Até eu que sou pai a pouco tempo sei e coloco as vontades das minhas filhas acima das minhas próprias e você não. Você só pensa em você e não se importa com que mais magoa, principalmente os seus próprios filhos. – comentou ele com nojo. – Seus filhos sofrem e você se regozija com isso. Você é doente! –
- Eu sou doente por querer proteger a minha filha? –
- DE QUEM? – gritou ele.
- DE VOCÊ! – devolveu ela.
- Por que você não consegue entender que eu amo Perséfone mais do que a minha própria vida? Que eu faria qualquer coisa só para vê-la feliz? –
- Então, deixe-a em paz. –
- Isso não a faria feliz. Isso faria você feliz! Eu faço Perséfone feliz e você não aceita. E eu sei o motivo. Você não consegue aceitar que tem alguém disposto a fazer tudo por ela, que a ama incondicionalmente e que a coloca no maior pedestal que ela merece. Você não aceita isso, porque sabe que ninguém fez ou faria isso por você. Irmã, você mudou muito depois que concebeu Perséfone, eu sei o que Zeus fez, nunca concordei com ele e sempre fiquei do seu lado caso quisesse se vingar, mas você julgou que eu era igual a ele, e todo o ódio que você sentia por ele, você o transferiu para mim, sem motivo algum. Você só passou a me odiar depois de eu ter digo o que sentia pela sua filha. Você tinha medo de que eu fizesse com ela o que ele lhe fez. Do mesmo jeito que eu tenho medo de que alguém faça com Macária ou Melinoe o que ele lhe fez. Se eu fizesse um por cento do que Zeus te fez, eu concordaria com tudo o que você está fazendo. Mas eu jamais magoaria ou a machucaria. – Hades ia falando e sentindo seus olhos ardendo e sua garganta se fechando. – Você tem inveja de sua própria filha porque ela teve a sorte de conseguir encontrar alguém que a ame completamente e você não. Não é justo o que você está fazendo comigo e com ela. Nem eu e tampouco ela temos culpa do que lhe aconteceu no passado. –
- Você não sabe de nada. –
- Tem certeza? Diz que eu estou errado! Diz que tudo o que eu falei está errado. –
- Você não sabe de nada. Viveu a sua vida inteira trancado no mundo inferior e de repente inventa que está interessado na minha filha e quer que eu acredite que é real? Um deus não ama de verdade, esse sentimento é só dos mortais. –
- Você está completamente enganada. Zeus ama falar que dor e amor são sentimentos apenas dos mortais. Mas não é ele quem fala que os fez a nossa semelhança? Melhor dizendo, a semelhança dele? Nós somos iguais aos mortais e os mortais são iguais a nós, a única coisa que nos difere é a imortalidade, e do mesmo jeito que um mortal tem dificuldade em encontrar o amor verdadeiro, nós também temos. E eu e Perséfone tivemos a chance de nos encontrar. Como as moiras disseram, não são todos que terão a oportunidade de encontrar a sua alma gêmea. –
- Eu não acredito disso. Quando você passa pelo que eu passei, você não consegue acreditar nessas bobagens da Afrodite. –
- Se você não acredita, não é problema meu. Mas que é verdade, é! –
- Então, sinto muito em lhe dizer, querido irmão. – disse de forma sarcástica. – Mas eu vou te matar do mesmo jeito. A menos que suma da vida da minha filha. –
- Jamais! –
- Então sua filha vai vir recolher a sua alma. Se é que você tem uma! –
- Eu sei que eu tenho. Quem não deve ter é você. Irmã, eu não quero acabar com essa briga com um de nós morrendo, mas eu também não vou abrir mão de Perséfone. –
- Não consigo acreditar que o irredutível senhor dos mortos tenha virado um pau mandado de uma mulher. A ponto de abrir mão da própria vida. Achei fofo! Não precisa se preocupar, eu entrego o seu coração para Perséfone! –
- Então vem pegar! – rosnou ele. Deméter não mudaria de ideia, e não iria só se defender, ele também iria atacar, e depois ele se entenderia com Perséfone.
Os dois haviam recomeçado com a dança mortal, enquanto Deméter tentava ataca-lo com a adaga, ele se esquivava e tentava afasta-la, evitando o máximo possível acertá-la com o seu cetro, que tinha um alcance muito maior do que a pequena faca que a deusa usava. Ela continuava provocando, tentando tira-lo do sério, e infelizmente estava conseguindo. Ele sentia uma enorme vontade de acertá-la com o seu garfo, e ele sabia que em apenas uma tentativa e Deméter morreria, contudo, ele continuava esperando que Zeus intercedesse, contudo, pelo visto ele não interferia.
- Não! – quando ele resolveu acabar de uma vez com todas com essa briga, seu tempo de reação havia sido nulo e uma das pontas de seu centro transpassou o vão dos seios de Perséfone. Hades e Deméter haviam congelado no lugar, ambos com os olhos saltados para a mulher parada no meio dos dois, de costas para a mãe, como se a defendesse.
Tulsa – Oklahoma.
2019.
Bella pulou para o lado, soltando a mão de Edward e saindo assim da visão que ele lhe dava sobre o seu passado. Com as mãos trêmulas, o coração acelerado e arfante, suas mãos foram para o seu peito tentando encontrar a ferida ou o sangue, e não encontrando nada. Sugando o oxigênio pela boca, ela levantou a cabeça encontrando com o olhar de Edward preso em seu rosto. Seu rosto estava completamente transtornado e repuxado em uma expressão de dor, culpa, tristeza e desespero.
- Foi você! – acusou-o dando mais um passo para trás tentando se afastar dele quando ele tentou se aproximar.
- Não foi por querer. Eu jamais te machucaria. Em nenhuma vida que eu estivesse perto de você. Você viu tudo, tudo o que aconteceu, tudo o que Deméter fez. Eu... Eu jamais te machucaria, eu jamais te mataria. Você não faz ideia do quão culpado eu me sinto ao longo de todas essas eras... Amor... –
- Não encosta em mim. – ela se afastou mais ainda, mesmo vendo as lágrimas escorrendo dos olhos verdes de Edward.
- Me perdoa! Eu sei que o que eu peço é algo imperdoável, mas, por favor, me perdoa. – implorou caindo de joelhos no chão.
Ela estava assustada, não sabia o que falar, o que fazer, uma pequena parte de sua cabeça ainda achava que ela estava completamente louca, a outra estava entrando em pânico. Deixando-o de joelhos no chão, ela foi se aproximando da porta de costas. Cerberus soltou um choramingo no seu canto, e ao lembra do cão gigante de três cabeças, ela se sobressaltou mais uma vez, ainda mais quando ele tentou chegar perto dela. Isabella saiu correndo do escritório e ao chegar na sala acabou esbarrando em Jasper, ela lembrava dele das lembranças que Edward lhe mostrou, e isso também a fez se afastar dele. Ele não disse nada, nem tentou se aproximar, Jasper havia entendido que ela já sabia de toda a verdade e sabia que ela precisaria de um tempo para absorver tudo o que lhe foi mostrado, e ignorando os chamados de Alice, ela correu para fora da casa de Edward encontrando a chuva de novo.
- Você fez a coisa certa, irmão. – a voz de Carlisle apareceu atrás do corpo de Edward, que havia se sentado no chão.
- Saí daqui. – ele rosnou. – Isso foi tudo culpa sua, que teve todo o tempo do mundo para intervir e só resolveu aparecer quando a desgraça aconteceu. –
- Hades... –
- Se não quiser ser o próximo deus morto, eu sugiro que saia daqui. – ameaçou entre os dentes. – Quer fazer algo de útil? Vá proteger a sua filha da mãe dela. – Carlisle não falou mais nada e deixou o irmão sozinho. Escondendo o rosto entre as mãos, e sentindo Cerberus se aproximando dele, sua mente voltou a milênios atrás, na morte de Perséfone.
Grécia – a. C.
Com a cabeça baixa Perséfone olhava para o seu peito e ao levantar a cabeça, ele viu o sangue escorrendo da ferida e do canto da boca. O coração de Hades havia parado de bater, e em sua cabeça ele ouviu o som da tesoura de Átropos cortando o fio da vida de Perséfone. Meio zonza, suas pernas cederam e jogando seu cetro no chão, ele abraçou o corpo quase inerte da esposa.
- Meu amor. Não... Não... Não... – ele tinha se sentado no chão e tinha a jovem deitada em seu colo. O punhal de Deméter havia caído e a única reação que ela teve foi de cair de joelhos no chão sem conseguir se aproximar. – Por favor, meu amor, não... Não... Volta para mim, meu amor. Por favor, volta para mim. – lágrimas translucidas e quentes escorriam do rosto de Hades, que com a mão suja de sangue, dava leve batidas no rosto, que começava a se tornar pálido, da esposa. – Por favor, meu amor, volta para mim... –
- Cui... Cuida... – ela tentava falar e não conseguia, a cada silaba que saía de sua boca, mais um pouco de sangue escorria pela mesma. – das... meninas... – pediu sendo interrompida por uma tosse, que acarretou em mais sangue saindo.
- O que? – perguntou confuso. – Você lembra de mim? – um sorriso fraco brotou nos lábios de Perséfone, como se confirmasse a pergunta dele. – Meu amor, não... – com a mão fraca, suja de sangue e tremendo, quase sem força, seus dedos roçaram de leve o rosto do marido, sujando-o um pouco com o seu sangue.
- Eu... –
- Shi... Shiu meu amor, fica quietinha que vai ficar tudo bem, você vai ficar bem! –
- Eu... Eu te amo... – seus dedos roçavam em seu rosto mais uma vez, parecia um leve roçar de uma pena, de tão fraco que havia sido, antes que seu braço caísse sobre seu corpo, e Hades viu a alma de Perséfone deixando o corpo agora inerte.
- Não! – ele gritou. – Não. Não... – ele abraçava o corpo da esposa com força contra o seu corpo.
- Mãe. – as vozes das meninas soaram altas pela caverna e as duas apareceram ao lado de Hades.
- Mãe! – a voz de Melinoe saiu em como um soluço enquanto a mão pairava próximo ao rosto da mãe, sem ter coragem de toca-la.
- Mamãe... –
- O que vocês dois fizeram? – a voz de Zeus soou por trás de Hades, que virou o rosto para o irmão encarando-o completamente furioso.
- Saí daqui. – ele rosnou para o irmão.
- Hades... –
- SÁI. – ele berrou arremessou uma esfera de sombras contra o irmão, jogando-o para fora da caverna, e antes que ele tivesse a chance de entrar de novo, Hermes e Poseidon, apareceram e o tiraram de lá a força. – Meu amor... – com as mãos tremendo ele acariciou o rosto de Perséfone. Ele viu uma mão passando por cima dos olhos abertos de sua esposa, fechando-os e ao levantar a cabeça, viu que havia sido Macária quem fechara os olhos da mãe.
Um movimentar leve, parecido com uma brisa, atraiu a atenção dos três, e parada próxima a eles, a alma de Perséfone esperava para ser levada ao mundo inferior. Apenas os três deuses com dons ligados a morte conseguiam vê-la e nenhum dos três tinha forças para se levantar e descer com ela.
- Filha... – como se saísse de um transe, Deméter se aproximou dos três. – Minha filha... – suas mãos tremiam próximas ao corpo de Perséfone, sem encosta-la. – Desgraçado... Isso é culpa sua... Eu vou te matar... – ela tentou avançar contra Hades, mas os braços fortes de Poseidon a impediram e ele subiu com ela para o Olimpo.
Tulsa – Oklahoma.
2019.
- Ela já sabe? – Edward saiu de seus pensamentos ao ouvir a voz de sua filha mais velha, e ao virar o rosto a encontrou encostada em sua mesa de escritório.
- Já. – respondeu fungando e encostando a cabeça na parede, passando uma das mãos pelas costas de Cerberus em uma tentativa de se acalmar. – O que faz aqui? – perguntou. – Eu te deixei tomando conta do submundo. – apontou.
- Eu quero ver a mamãe. – admitiu. – Eu e a Meli queremos ver a mamãe. –
- Vocês precisam dar um tempo a ela, Macária. Ela precisa absorver tudo o que ela viu e descobriu. Eu entendo que vocês querem vê-las, mas deem um tempo a ela. –
- E se Deméter sumir com ela de novo? – perguntou indignada, desde a morte de Perséfone, nenhuma das duas chamava Deméter de vó, e as vezes nem Zeus era chamado de avô. Ele suspirou.
- Se dessa vez Zeus fizer algo certo, Deméter não vai sumir com ela. Caso ele não faça merda nenhuma de novo. Nós vamos começar as buscas todas de novo, o mesmo que fazemos aos longos de todos esses milênios. Perdoe-me minha filha, mas eu não vou fazê-la engolir tudo isso de uma única vez, tem que ser no tempo dela e se ela quiser. Odeio ter que pedir isso a vocês, mas vocês precisam ter paciência. -
Capitulo impactante! Demeter é definitivamente um mostro! completamente egoísta! Bella deve estar muito confusa!
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