terça-feira, 6 de setembro de 2022

Capítulo 28

                                                                         Tulsa – Oklahoma.

2019.

Bella.

A pressão em meu peito era enorme, eu não conseguia organizar as ideias em minha cabeça. Que merda havia sido aquilo que eu tinha visto? Eu não sabia como entender aquilo, como eu deveria reagir? Aliás para onde eu estava indo? Talvez se eu simplesmente sumisse no mundo eu não veria nem mais o Edward e nem a minha mãe. Mas a única coisa que eu tinha entendido era que os dois conseguiriam me achar em qualquer lugar que eu fosse e se pelo visto eu morresse e reencarnasse eles também me encontrariam.

- Oi mãe. - uma garota apareceu do nada na minha frente. Mesmo no meio da chuva forte, que ainda caía, eu conseguia ver a garota.

- Quem é você? - perguntei.

- Mãe. – um expressão de tristeza tomou conta de seu rosto. – Mãe... Sou eu... A Melinoe. –

- Perdoe-me, mas... Eu não sou a sua mãe. – respondi, eu sentia minha garganta bem fechada, com dificuldade para falar, e eu nem sabia como estava conseguindo falar, sendo que a única vontade que eu tinha era de me deitar no chão e chorar em posição fetal. – Eu não posso ser a sua mãe! –

Deixando-a sozinha no meio da rua e continuei correndo sem rumo. Mas para onde eu iria? Para a minha casa enfrentar minha mãe e os meus primos que na verdade são meus irmãos? Eu não tinha a quem recorrer, até porque a única amiga que eu tinha era Alice, e ela estava na casa de Edward e eu não queria voltar lá de novo. Não tinha com quem eu conversar para tentar pensar e decidir o que eu faria da minha vida. Com qualquer pessoa que eu conversasse sobre a “viagem no tempo” que eu fiz com Edward, todos iriam achar que eu era louca e me internariam em um hospício com direito a tratamento de choque e a uma possível lobotomia. E parando para pensar, errado eles não estavam.

- Quer conversar? – mais uma pessoa apareceu na minha frente, me fazendo parar e dessa vez eu reconheci de primeira a pessoa que tinha me parado. Rosalie.

- Parem de aparecer do nada! – berrei com ela que apenas suspirou.

- Desculpe. Achei que depois de tudo pudesse querer conversar sobre o que viu. –

- E por que eu conversaria com você? Eu não te conheço e eu não posso atender as expectativas que vocês querem de mim. –

- Ninguém está pedindo para você se tornar Perséfone, Isabella. Perséfone está morta e por mais que você seja a reencarnação dela, você não é ela. –

- Quer saber o que eu estou sentindo, Rosalie? Edward só se aproximou de mim por causa dela. Ele nunca gostou de mim, ele só gosta dela. –

- Isso não é verdade. Hades realmente se apaixonou por você. Isso não aconteceu com nenhuma das suas outras reencarnações. –

- Que? Teve mais vezes? – ela assentiu. – Ele me matou mais vezes? –

- Não. Nas outras você apenas seguiu com o seu ciclo normal. Algumas vocês se conheceram, mas Deméter sumiu com você de novo. Em outras ele te encontrou e você era apenas uma criança e ele foi embora. Você já foi casada e ele foi embora. Você não se apaixonou por ele e ele foi embora. –

- Mas mesmo assim ele não desistiu. –

- Não. Porque em nenhuma outra reencarnação você soube quem você realmente era. – Rosalie falava com a voz calma e serena, como se não quisesse me assustar. – Bella... – ela se aproximou a pequenos passos de mim. – Lembra de Milos, que eu disse que via um futuro de vocês dois? – assenti. – Eu não menti e em momento algum eu falei isso tendo como base Hades e Perséfone, sempre foi tendo base Isabella e Edward. E do mesmo jeito que Hades e Perséfone estavam predestinados, de alguma forma você também está predestinada a ele. Quando Perséfone morreu, o fio da vida de Hades permaneceu imutável, durante todas as suas reencarnações, mais há vinte e oito anos, quase vinte e nove, o fio da vida dele mudou de novo. Você sabe o que aconteceu a quase vinte e nove anos atrás? –

- Eu... Eu nasci. – respondi em um fio de voz.

- Exatamente. Quando eu falei para Hades ir até as moiras, há milênios, elas lhe deixaram bem claro de que vocês ficariam juntos por um curto tempo, depois passariam eras separados até se reencontrarem de novo e finalmente ficarem juntos. E eu tenho toda a certeza desse mundo, de que é com você que ele vai ficar pelo resto da vida. – neguei.

- Impossível. Até porque, de qualquer forma, ele é imortal e eu não! – ela sorriu amplamente.

- Coisa muito fácil de resolver. Os dons de Perséfone de certa forma você já herdou, quanto a imortalidade... Coma ambrosia que em dois segundos você se torna um ser imortal. – eu não sabia ao certo o que ela tinha visto em meus olhos, mas a fez suspirar. - Qual é o verdadeiro problema? Não gosta do Edward mais ou o que você viu mudou o seu sentimento? Ele... Ele não fez por mal. Ele nunca machucaria você, quanto mais matar você e, acredite, tampouco Deméter, por mais que as vezes até eu concorde que ela merece uma bela de uma punição, eu sei muito bem que Hades jamais faria qualquer coisa para te magoar. Ele não faria isso com Perséfone, e com você tampouco. –

- Eu... Eu não sei, Rosalie. Não sei o que pensar, como agir e... –

- E no fundo você teme que o que ele sinta por você seja apenas alguma forma de se contentar por não ter mais Perséfone. –

- De certa forma sim.

- Isabella. – ela se aproximou mais de mim e segurou meu rosto entre as mãos quentes, mesmo que ambas estivéssemos completamente encharcadas, suas mãos permaneciam quentes. - Confia em mim. Eu não sou a deusa do amor atoa. Eu sei muito melhor do que você própria o que você sente pelo Edward, da mesma forma que eu sei melhor do que ele próprio o que ele sente por você. Ele gosta da Isabella! O amor que ele sentia por Perséfone, ainda existe, mas não se compara com o que ele sente por você! E as meninas vão gostar de você por você e não por te verem como Perséfone. –

- E ainda tem isso. Não basta eu ter descoberto que eu sou a reencarnação de uma deusa grega, que foi morta pelo próprio marido porque a mãe é louca. De quebra eu ainda ganho duas filhas! E olha que eu sempre tive duvida se queria ter filhos ou não! – ela riu.

- Quer um aviso? – não respondi, apenas esperei ela terminar de falar. – Eu quero ser a madrinha do menino que vai vir ano que vem! –

- É O QUE? – ela gargalhou muito alto com a minha possível cara de pânico.

- Héstia já viu e o fio da vida dele já surgiu no fio de Hades. –

- Então... Eu não tenho escolha? –

- Você tem! Obvio que você tem escolha. Mas você quer ter outra escolha ou quer ficar com ele? –

- Por que eu sinto que, mesmo eu escolhendo-o ou não eu não vou ter paz com a minha mãe?! –

- Porque enquanto você não colocar um fim nisso, ela não vai parar! –

- Ótimo. Uma mortal parando uma briga entre dois titãs. –

- Dois deuses. Não me ofende! –

Eu não falei mais nada, ainda sentia as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, mas o bolo na minha garganta estava muito mais fraco. Eu tremia de frio, a chuva ainda estava forte e muito gélida, era como se pequeninas e finas agulhas perfurassem a minha pele todas de uma vez só. A rua ainda era um breu, as casas também eram um breu, não havia resquícios de nenhuma luz perto de nós devido a tempestade. Desviei os olhos da rua escura e olhei para Rose mais uma vez. Ela continuava deslumbrante como sempre, mesmo pingando dos pés a cabeça, enquanto eu, eu tinha a total certeza de que estava pior do que um guaxinim molhado.

- Eu estou com medo, Rose. –

- Você não está sozinha. –

- Então, porque eu sinto que estou? – ela afagou a minha bochecha delicadamente. – Sempre que precisar é só me chamar que eu apareço em qualquer lugar que for. Sempre nos demos bem, não vai agora que essa amizade vai acabar. – sorrindo, ela passou os braços pelos meus ombros e me abraçou forte. – Zeus está falando com Deméter, vai tentar colocar um ponto final nisso, enquanto eu vou acalmar o coração de Hades e das meninas. –

- E se ela ou a Leah tentarem algo? –

- Eu vou estar de olho. – garantiu sorrindo amplamente e um pardal apareceu em seu ombro. – Vai logo. Não se preocupe, pois, eu vou te ajudar com tudo o que estiver em meu alcance. – garantiu e eu apenas assenti. – Mas não pense que não vamos conversar sobre o fato de você ter dito sobre eu ser completamente mimada e insuportável para conviver. –

- Eu não lembro de ter dito isso não! –

- Aham... Sei mocinha... Vai logo. – eu respirei fundo antes de seguir caminho para a minha casa.

Eu não sabia ao certo de como iria reagir ao ver a minha mãe após ver tudo o que aconteceu. Rosalie olhou para mim mais uma vez e mexeu com a cabeça na direção da rua que levava a minha casa. A chuva ainda caia, agora um pouco mais fraca, mas continuava caindo, a luz da rua ainda não tinha voltado então estava muito escuro, em qualquer outra ocasião eu jamais estaria andando na rua sozinha, e mesmo eu não entendendo muito eu sabia muito bem que, do mesmo jeito que Rosalie e a filha de Edward tinham me encontrado, acreditava eu que qualquer um conseguiria encontrar.

Durante todo o caminho eu só conseguia pensar em diversas coisas, será que minha mãe sabia que eu nunca estive no Havaí com a Alice e sim que tinha ido para a Grécia com Edward? Agora eu entendia os sentimentos que eu havia sentindo andando por Atenas, aquela sensação de que tinha algo de familiar no local. Havia entendido a indignação de Edward quando eu contei o que eu aprendia sobre a mitologia do mito de Hades e Perséfone, eu também teria ficado indignado, na verdade eu estava indignada, mesmo com todo o misto de emoções que eu sentia, eu sabia que uma delas era a indignação.

Devido a chuva fria, eu estava tremendo de frio, completamente molhada dos pés a cabeça. Eu parei em frente a minha casa e ao olhar para o alto eu ainda via um vulto andando lá dentro, ao mesmo tempo em que ouvia os passos e vozes de três pessoas no andar de baixo. Eu respirei fundo antes de entrar na casa e a primeira pessoa a me ver foi a minha mãe.

- Onde você estava? – perguntou se aproximando de mim quando eu fechei a porta atrás de mim. – Olha o seu estado! Você foi atrás daquele homem de novo? Você não aprende nunca não é mesmo, Isabella? –

- Pretende fazer o que, mãe? Apagar minha memoria e me trancar em uma cabana no meio de uma floresta perto de Troia? – perguntei e ela parou de andar me olhando sem entender nada. – E quando isso não for o suficiente você vai me matar? –

- Do que você está falando, prima? Eu sempre notei que você era meio louca, mas não a esse ponto. – Leah comentou se aproximando de minha mãe.

- Cale a sua boca, Leah. – falei entre os dentes. – Ou prefere que eu te chame de Despina, acho que esse seja o seu verdadeiro nome! Eu estou falando com a minha mãe, não com você! Quer dizer, com a nossa mãe! Não é mamãe? –

- Eu não sei do que você está falando, Isabella. – minha mãe disse sem jeito.

- Não? Tem certeza, Deméter! – ela engoliu em seco. – Eu já sei de tudo o que você fez! É completamente doentio o que você fez! –

- Aquele maldito roubou você de mim e a doente sou eu? – ela deixou a mascara cair. – Ele fez isso uma vez e você achou mesmo que eu fosse deixar ele fazer isso de novo, Perséfone? –

- EU NÃO SOU A PERSÉFONE! – berrei. – Perséfone está morta! Em maior parte, por culpa sua! –

- Culpa minha? Ele matou você e a culpa é minha? –

- Você não soube respeitar a opinião de dois adultos e tentou a todo custo separar uma família, e além de ter tentado você infelizmente conseguiu! Podia ter se contentado com seus seis meses, com seus outros quatro filhos, mas você cismou de um jeito doentio com Perséfone. E você acha que está certa e não está. Com todas as duas bilhões de pessoas do mundo falando que você está errada, você cisma que está certa, porque na sua mente doentia você está certa e não está! E não satisfeita em ter feito isso uma vez, você está fazendo de novo! Em todos esses anos que passaram não é possível que não tenha mudado de pensamento! –

- Do mesmo jeito que em todos esses anos ele não desistiu de você! Se ele não mudou de ideia porque eu mudaria! –

- Por que ele foi o mais prejudicado entre vocês dois! Porque se você tivesse seguido o acordo e a vontade dos dois nada disso estaria acontecendo. VOCÊ É A MINHA MÃE, E NÃO A MINHA DONA! NÃO TEM O DIREITO DE DECIDIR O QUE EU FAÇO OU O QUE EU DEIXO DE FAZER DA MINHA VIDA! –

- Vamos sair daqui! – eu ouvi a voz de Seth bem baixinho da sala arrastando Leah para o andar de cima. – Isso não é assunto nosso! –

- Ah é? E o que pretende fazer? – questionou e eu notei um tom de diversão em sua voz enquanto ela cruzava os braços a minha frente.

- Eu pretendo seguir a minha vida com o homem que eu amo e sem interferência sua dessa vez! Perséfone escolheu a mãe, com o nosso histórico eu tenho duvidas se eu escolheria a senhora também! – eu notei suas mãos se fechando em punhos e era plausível que ela se controlava para, provavelmente, não me matar. – A vida é minha! As escolhas dela são minhas e quem vai arcar com as consequências sou eu! –

- E se eu não deixar? –

- A senhora não tem que deixar, mãe! – eu engoli o bolo em minha garganta. – Eu respeitei a senhora por quase vinte e nove anos, eu fiz tudo o que a senhora pediu sempre sem questionar, e eu era cega por não ver que a senhora me manipulava igual a um fantoche. Eu coloquei a senhora e as suas vontades acima de mim, e eu não vou mais fazer isso. – eu passei as mãos pelo meu rosto, secando as lágrimas que escorriam. – Eu... Eu acho que é por isso que a senhora odeia o Edward... Ou Hades, ou seja, lá qual é a porra do nome dele. A senhora o odeia porque ele faz com que eu foque em mim, que eu faça o que eu quero e não o que os outros querem ou esperam. Ele me faz me sentir viva! A senhora pode me matar a vontade, mas não vai anular o fato de que eu amo aquele homem, eu não ligo para o que ele é, para o que ele fez. Eu... Eu o amo. – falei em um fio de voz e sentindo o choro irromper pelo meu peito.

- Ele matou você! – ela rosnou.

- Se ele me matou como eu estou aqui? – rebati. – Ele... Ele pode ter matado Perséfone, mas a mim não. – balancei a cabeça negando. – Quer dizer, ele pode ter fincado aquele cetro no coração dela, mas quem a matou foi a senhora! –

- Eu salvei você! –

- Salvou. A senhora salvou Perséfone da própria felicidade. E a senhora não vai fazer isso de novo. –

- Para onde você pensa que vai? – perguntou quando eu me virei de costas para ela, voltando para perto da porta.

- Eu vou ser feliz! E eu quero ser feliz com ele! – respondi e levei a mão na maçaneta, sentindo algo áspero a envolvendo. Ao abaixar os olhos para olha-la, eu vi que galhos a envolviam, e ao olhar para minha mãe, eu a via mexendo os dedos devagar, e eu comecei a sentir algo serpenteando pelas minhas pernas. – Mãe! – eram galhos, galhos saiam do chão e se enroscavam em minhas pernas, impedindo que eu me mexesse. – Mãe! – eu começava a ficar desesperada, principalmente após vê-los subindo pela minha cintura.

- Você não vai a lugar nenhum, Isabella! – ela falou entre os dentes. Eu nem tive tempo em pensar em nada ou em ninguém, ao sentir os galhos envolvendo o meu pescoço, até que eu perdesse a consciência.

...

Eu não fazia ideia de onde eu estava e nem quanto tempo havia se passado, na verdade eu nem sabia se estava viva ou não, depois de tudo o que aconteceu era algo a se considerar. Na verdade, eu só me lembrava das discussões com a minha mãe e de sentir galhos me envolvendo até me sufocar. Mas eu havia despertado com um cheiro forte em minhas narinas, e ao abrir os olhos eu vi Seth parado perto de mim com um algodão e uma garrafa de álcool em mãos.

- Você acordou. – comentou aliviado e eu pisquei os olhos até conseguir focar minha visão para poder ver onde eu estava. Eu estava em uma cabana velha, quase caindo aos pedaços e presa em uma cama, com rígidos cipós. – Estava achando que tinhas morrido. –

- Onde eu estou? –

- Bella. Se acalma, porque eu não tenho muito tempo até nossa mãe ou Despina voltar. –

- Rosalie! – eu a chamei, sem saber ao certo se isso funcionaria.

- Não. Fica quieta... – ele tentou tampar a minha boca.

- Afaste-se dela. – a voz de Rosalie soou séria da porta.

- Merda. – ele cuspiu e se afastou de mim. – Eu estou tentando ajuda-la, Afrodite. –

- Estou vendo, imagina se não estivesse. – rosnou ela ao se aproximar de mim. – Você está bem? Eu fiquei preocupada porque você sumiu e do nada Zeus falou que Deméter tinha sumido com você de novo. –

- Onde eu estou? – perguntei enquanto ela tentava quebrar os cipós dos meus pulsos.

- Na ilha de Thasos. – respondeu. – Por que essas merdas não quebram? –

- Cipós são muito resistentes a serem quebrados com as mãos. – respondi.

- Não deveriam ser para um deus. –

- A menos que tenha sido criado por um. – Seth comentou encostado na parede perto da porta.

- Onde está a minha mãe? – perguntei a ele. – Onde está Edward? – perguntei a Rosalie.

- Os dois provavelmente estão duelando até a morte, mas isso não importa agora, o que importa e eu conseguir soltar você e você resolver essa situação... – ela olhou em volta. – Não tem nada para cortar essa porcaria? –

- Não tem nada nessa casa, Afrodite. Foi difícil encontrar o álcool, principalmente com Despina em cima de mim. Ela sabe que eu sou totalmente contra o que a nossa mãe está fazendo, e estou começando a achar que ela está enlouquecendo... –

- Rosalie... Me solta pelo amor de Deus, antes que eles se matem! – gritei puxando os meus braços. – Aí. – gemi de dor ao sentir os cipós apertando mais ainda os meus pulsos conforme eu os puxava.

- Pensa Afrodite... Pensa... Quem consegue desfazer as coisas que um deus faz... – ela estalou os dedos. – Já sei. Fique aqui, não se mexa. – ela pediu para mim e sumiu na minha frente.

- Eu não tenho muita opção. – resmunguei.

- Vamos homem. Tente cortar essa porcaria. – ela surgiu em poucos segundos com Emmett ao lado dela.

- Mulher, calma! Só se acalma. – ele se aproximou da cama. – Oi Isabella. Eu não sei se você se lembra de mim, mas... –

- Hefesto! – Rose gritou.

- Tá. Tá... – ele se aproximou dos cipós, segurando entre os dedos. – Acho que resolvo isso bem fácil. – ele estalou os dedos e um punhal apareceu em sua mão, me fazendo arregalar os olhos. – Eu vou tentar não te machucar, então, não se mexa! Imóvel! – mandou e eu apenas engoli em seco. Com dificuldade ele conseguiu cortar o cipó que prendia a minha mão direita a cama, e eu notei que ele caiu todo queimado ao lado da minha cabeça. – Eu sabia que ia funcionar. – antes que ele conseguisse cortar o cipó da minha mão esquerda, um tremor tomou conta da casa, e eu vi os três se entreolharem.

- O que foi isso? –

- Solte-a logo Hefesto, antes que Hades e Deméter se matem! –

- Isso são eles? – perguntei sentindo outro tremor balançar a casa.

- São dois deuses, Isabella. E está fraco, porque eles estão longe. Mesmo os mortais não acreditando em nós, ainda conseguimos controlar muita coisa! –

- Me solta, Emmett. – gritei e ele soltou a minha outra mão.

A cada pedaço cortado, o cipó se enegrecia e caía queimado e morto na cama. Em momento algum Seth nos interrompeu, ao contrário, até ajudou Hefesto quando os cipós que envolviam os meus tornozelos estavam mais resistentes. Dizendo que eu era a única que podia parar aquilo, Afrodite me levou para perto de onde os dois deuses duelam, por minha causa. Ela não podia ir mais adiante, se um deus se aproximasse, era capaz de Demeter perceber e o elemento surpresa, como ela mesma chamara, ter o efeito negativo, e ela também tinha que impedir que Leah me atrapalhasse, principalmente porque ela sentia a presença dela na região.

Ela apenas me apontou a direção e me mandou correr antes que fosse tarde demais. E eu corri! Eu não entendia como isso era possível, principalmente após tantos anos terem se passado, mas conforme eu ia pelo caminho que Rosalie tinha me indicado, eram como se milhares de flashes se passassem pela minha cabeça, como se eu estivesse me lembrando por conta própria de já ter passado ali. E com o mesmo sentimento de pressa, medo e desespero. Agora eu não sentia só os tremores, que estavam completamente mais fortes, mas eu ouvia explosões também, a única coisa que Rosalie falara em relação a isso, e que eles me guiariam, e que conforme mais forte fosse ficando, mais perto eu estaria.

Eu não fazia a mínima ideia para onde eu estava correndo, meus pés pisavam na relva macia e úmida. Conforme eu corria na direção de onde vinham os barulhos de explosões. A maioria das explosões pareciam vir do chão, acompanhado de alguns tremores, que se intensificaram cada vez mais, me causando alguns desequilíbrios que me derrubavam no chão. Eu estava exausta, não aguentava mais, não sabia mais a quanto tempo eu estava correndo e parecia que nunca conseguia chegar de onde vinham os malditos sons.

Caída no chão, com as mãos espalmadas na relva, meus pés latejavam, estavam completamente doloridos, eu corria descalça por ruas até finalmente chegar nesse campo e não aguentava mais. Eu não tinha mais forças para ficar de pé. Isso me parecia tão familiar. Isso era tão familiar e agora eu sabia o motivo. Estava acontecendo de novo!

Você é a única que consegue impedir isso. E você sabe! Uma voz grossa soou dentro da minha cabeça, não era a minha voz, agora eu reconhecia a voz que às vezes aparecia para mim em meu sonho.

- Pai! – murmurei baixo. Eu podia chama-lo de pai? Teria eu esse direito?

Levanta e coloca um ponto final nisso! Parecia uma resposta, na verdade não passava de uma ordem, mas eu não tinha forças para levantar.

Ao abrir os olhos, vi que, especificamente, o chão, abaixo dos meus olhos, tremeu mais do que o normal, uma raiz emergiu forte do chão, e teria me atingindo com força caso eu não teria tido o reflexo suficiente para me jogar para trás, ou então alguma mão invisível, mas que estava ali, agora eu sabia que isso era possível, tinha me puxado para trás. Reunindo o resto de forças que eu tinha, me obriguei a ficar de pé, contudo um tremor, mas forte do que os outros, me derrubou mais uma vez! Mas eu iria acabar com isso agora, nem que eu precisasse ir me arrastando. Eu acabaria com isso de uma vez por todas!

Levantei-me e me obriguei a correr, conforme os tremores viam mais forte, eles me derrubavam, mas eu me obrigava a ficar de pé mais uma vez e continuar. Eu precisava arrumar um jeito de descer, passando por algumas árvores, correndo rápido já que eu ouvia algumas árvores caindo ao longe, entrei em mais uma clareira, onde mais perto tinha a entrada de uma caverna. A entrada dos meus sonhos! Eu entrei na caverna e os sons lá dentro estavam mais altos.

- Você não vai tirar ela de mim de novo! – eu ouvi a voz mais minha mãe que transbordava de ódio e raiva, reverberar pelas paredes rochosas. – Eu não vou permitir que você a tire de mim. –

- Isso não é escolha sua! – eu ouvi a voz de Edward, a voz dele estava um pouco mais fraca do que o normal. Eu conseguia perceber que ele estava machucado apenas pelo seu tom de voz, além de eu sentir as dores em meu próprio corpo, mesmo estando bem longe. A caverna era escura e as rochas um pouco escorregadias devido a umidade, ao mesmo tempo em que eu tinha que correr o mais rápido que eu conseguisse, eu tinha que tomar todo o cuidado do mundo para não acabar me matando, mas era quase difícil não escorregar e acabar caindo, eu sentia a minha pele sendo arranhada pelas rochas ásperas os arranhões doíam, ardiam, mas eu não parava. Eu não podia parar!

- Tem certeza que não é escolha minha? – a voz de minha mãe soava de um jeito demoníaco. – Nem que eu precise matar você... Você não vai tira-la de mim de novo. –

- Me matar? – e a voz fraca de Edward soou de forma sarcástica e ainda havia soltado uma risada fraca. – Eu sou a morte! Como você pode matar a morte? –

Eu finalmente tinha chegado até onde eles estavam, no fundo da caverna. O local estava bem frio e úmido, a minha pele estava completamente arrepiada devido ao frio. Edward estava caído no chão, machucado e minha mãe parada próxima a ele com uma adaga em mãos.

- Vamos descobrir isso agora! – respondeu ela se aproximando dele erguendo a adaga.

- Não! – e encurtando o espaço entre eles, eu me joguei em cima dele e fazendo minha mãe dar um passo para trás.

- Sai daí filha! – mandou.

- Não! Se for mata-lo, terá que matar também. –

- SAÍ! – ela gritou de novo, mas eu ouvia algo parecido como um choro subindo pela garganta dela.

- Há anos eu salvei você! Agora eu vou salvar ele! Se quiser mata-lo, terá que me matar também! –

- Se é o que você quer! – ela rosnou apertando o cabo do punhal com força, ao se aproximar de mim. Eu não desviava os olhos do dela, e eu não sabia o que ela tinha visto nos meus que a fez recuar. Ela travou no lugar com a adaga levantada, e irrompendo no choro, ela derrubou a adaga no chão primeiro, antes de cair de joelhos. – Eu não posso... – ela soluçou. – Eu não posso machucar você! – antes que ela conseguisse esconder o seu rosto contra o chão, Leah apareceu perto dela a amparando.

- Mãe... – ela a abraçou e me olhou furiosa. – Espero que esteja feliz! – minha mãe estava machucada, do mesmo jeito que Edward estava. Leah rosnou para mim antes de sumir com a minha mãe que chorava e me chamada.

- Amor. – estando apenas nós dois na caverna, eu pude voltar a minha atenção a ele. – Você está bem? – perguntei sentindo as minhas mãos tremerem ao tocarem em seu rosto machucado e sujo de sangue.

- Estou. – ele tossiu e saiu mais algumas partículas de sangue de sua boca. – Acho que não será hoje que descobriremos se a morte pode morrer ou não. – brincou e fez uma careta ao sentir dor.

- Idiota. – ralhei com ele e ele riu, mas o seu riso morreu tão rápido quanto o desespero tinha aparecido em seus olhos.

– Eu pensei que tivesse te perdido de novo. – comentou levando a mão ao meu rosto e afagando as minhas bochechas. - Isso sim seria a morte para mim. – eu me levantei um pouco do chão, ficando apenas de joelhos contra ele e aproximei a minha cabeça da dele, roçando meus lábios aos seus. – Você me perdoa? – perguntou em um fio de voz.

- Eu não tenho o que perdoar. – respondi no mesmo tom de voz e sentindo algumas lágrimas escorrendo de meus olhos e caindo em seu rosto. – Mas eu sinto que Perséfone perdoaria. – ele subiu com a mão da minha bochecha até os meus cabelos, os prendendo atrás de minha orelha. – Eu te amo. – falei em um fio de voz. – E igual a Perséfone, eu quero ficar com você! –

- Eu tenho duas bagagens! – comentou sorrindo. – Ah propósito, acho que eu nunca te contei que eu tenho duas filhas adultas, não é? – brincou e meus lábios se repuxaram em um sorriso.

- Não! Adoraria conhece-las. –

- Podem... – ele tossiu de novo para falar mais alto. – Podem sair daí. – da escuridão da caverna, eu vi as duas meninas, que tinha visto nas lembranças de Perséfone aparecerem lado a lado, ambas com os olhos marejados. – Venham. – ele as chamou, sem ainda se levantar do chão.

- Mãe! – chorosas, as duas vieram na minha direção, jogando-se em meu colo e me abraçando. Eu não sabia explicar o motivo, mas por baixo do medo e receio que eu sentia, eu me sentia bem com elas em meus braços. Um sentimento de vazio que eu senti a minha vida inteira, parecia, finalmente, ter se dissipado.

- É estranho... – comecei, sem solta-las e vendo Edward se levantando, com um pouco de dificuldade devido a dor. – Eu me sentir completa? –

- Não! – ele veio para mais perto de nós três. – Por que é assim que todo mundo aqui se sente. –

Chegando bem mais perto de mim, ele passou o braço pela minha cintura me puxando para perto dele e as meninas vieram juntas, e ele as abraçou também. Era tão estranho o sentimento de estar completa, eu jamais havia sentindo algo tão forte assim na minha vida, era um sentimento de que eu finalmente havia encontrado o meu propósito, que eu finalmente estava onde eu deveria estar. E dessa vez, esperava que nada me tirasse daqui.

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