domingo, 8 de outubro de 2023

Capítulo 36.

                                                                       Submundo - Grécia.

2019.

Bella.

Quando eu acordei no dia seguinte, Edward ainda estava comigo na cama, contudo, já estava acordado, eu tinha a cabeça ainda apoiada em seu peito e ele fazia um cafuné em meus cabelos e com a outra mão, ele deslizava as pontas de seus dedos pelas minhas costas. Levantei a minha cabeça para olha-lo e recebi um beijo demorado em minha testa, o que fez com que os meus lábios se repuxassem em um sorriso. Ajeitei-me na cama, deitando a cabeça no vão entre o seu ombro e o seu pescoço e ele passou os seus dois braços pelo meu corpo, me abraçando forte.

Nós ficamos ali mais uns minutos, até que Edward soltou um suspiro, alguém o chamava, ele precisava sair da cama e “trabalhar”. Ele me deu um abraço bem apertado, antes de se levantar para se trocar. Enquanto Edward se vestia, eu também me levantei da cama, e peguei uma túnica para me vestir, eu ainda não sabia como colocar, na verdade eu ainda não sabia como prender aquilo direito, e mais uma vez me ajudou com as amarras. Era confortável andar descalça pelo submundo, a pedra era quente em uma temperatura completamente agradável, e eu não entendia muito bem como, mas se eu desse dois passos na minha cabeça em Tulsa descalça, mesmo eu tendo terminado de limpa-la, eu estaria com os dois pés sujos, aqui não, eu podia andar por todo o mundo inferior, igual havia feito no dia anterior com as meninas, e eles estavam completamente limpos.

Eu deixei o quarto primeiro que Edward e acabei me sobressaltando, e deixando escapar um pequeno grito, ao dar de cara com o que tinha parado do outro lado da porta. Algo que eu não fazia ideia de como identificar.

- O que foi? – Edward perguntou preocupado e se aproximando por trás de mim.

- O... O que... – eu não conseguia formular uma frase completa devido ao que eu via na minha frente.

- Ah... – ele riu ao ver o que estava ali. – É uma Harpia. – explicou simplesmente.

- Não era assim que eu as imaginava... – falei baixo.

Era um pouco difícil explicar ao certo o que aquela coisa era, na realidade eu não sabia se podia nem a definir como uma pessoa de fato. Ela era algo meio humano e meio pássaro. Na verdade 90% de seu corpo era o corpo de um pássaro e a cabeça era feminina, de uma mulher, um rosto pálido de fome e no final de seus braços, nas pontas de seus dedos, no lugar das unhas cresciam enormes e afiadas garras.

- Pode ir! – ele falou para a meia mulher e meio pássaro, que apenas fez uma reverência com a cabeça e sumiu. – É difícil imaginar como uma harpia, e cada escritor a descreve de um jeito, mas não consigo me lembrar de nenhum a descrevendo como algo belo. –

- Achei que apenas moradores do mundo inferior conseguissem vê-las, como os escritores viram? –

- Moradores do mundo inferior e moribundos. – explicou saindo do quarto logo atrás de mim. – Os autores as descreveram quando se encontravam moribundos. Não precisa se preocupar, elas não fazem nada. – comentou enquanto descíamos as escadas para o andar de baixo. – Mesmo elas não se dando bem com Perséfone, elas não vão fazer nada com você. –

- E por que elas não gostavam de mim? –

- Amor, eu já disse, você tinha uma terrível mania de se meter nos trabalhos dos outros... E, bom, do mesmo jeito que você não gosta quando alguém se mete no seu trabalho, ou outros também não gostavam de quando você se metia no trabalho deles! –

- A ponto de fazerem algo comigo? – perguntei incrédula e ele riu.

- Não se preocupe, eu já falei, elas não vão fazer nada com você! – garantiu e parou no meio da escada. – Tem visita para você. –

- Quem? – ele apenas apontou para o final da escada, onde Alice estava parada ao lado de Jasper, e quase igual a mim, ela usava uma túnica, só que era branca, e ficava olhando em volta para cada detalhe e nuance da sala do trono do castelo. – Alice... – eu atraí a sua atenção.

- Graças a Deus... Garota eu estava desesperava querendo falar com você... – eu me aproximei dela e ela me agarrou com força. – Você sabe quem... –

- Alice... Ninguém lá de cima te escuta enquanto você estiver aqui embaixo! – Edward falou parando ao meu lado.

- Não? – ele apenas negou. – Ainda bem! Aquela mulher era pior do que nós tínhamos estudado sobre! A Hera é o diabo, sem querer ofender o diabo! – reclamou e eu comecei a rir.

- Ela só acha graça porque ainda não conheceu! – Edward ironizou me fazendo rir mais ainda. – Tem algum motivo para ter descido? – questionou a Jasper.

- Tenho! Um muito bom... – Edward apenas esperou. – Ela estava me deixando louco! – resmungou e Edward riu junto comigo. – E tenho um recado de Zeus para vocês dois! –

- Lá vem! Não quero! –

- O que? –

- Ele vai fazer uma pequena confraternização no Olimpo amanhã à noite, de tempos em tempos ele faz isso, apenas para inflar cada vez mais o ego dele... E ele praticamente está exigindo a presença do irmão e da filha. –

- Eu não sou a filha dele! – me apressei em dizer.

- Tecnicamente é! Sinto em lhe informar! – eu apenas encarei a Edward.

- Sou obrigada a ir? –

- É! – Edward abriu a boca, mas foi Alice quem respondeu. – Óbvio que é! Eu não vou ficar lá em cima sozinha! – eu apenas revirei os olhos.

- Eu vou conversar com ela... – respondi simplesmente segurando a mão de Alice.

- Daqui a pouco eu venho busca-la. – Jasper disse simplesmente e sumiu após dar um beijo nos lábios de Alice.

- Ela não pode comer e nem beber nada! – Edward me avisou.

- Eu sei... Eu sei... Comeu antes de descer? – ela apenas assentiu. – Muito bem. Eu não! – fiquei nas pontas dos pés e dei um beijo nos lábios de Edward. – Eu te amo. –

- Eu te amo. –

- Lembra-se de Cerberus? –

- Lembro daquele monstro que você fala que é um amorzinho... Alias cadê ele? –

- Quer vê-lo? – perguntei e Edward riu.

- O lado bom de ela enfartar, é que ela já está no mundo dos mortos! – Edward ironizou e eu ri, já Alice olhou confusa para nós dois e veio comigo quando eu a puxei para fora da sala do trono.

- Menina, eu não sabia que tinha como esse homem ficar mais gato do que ele já era e... –

- Alice... Não é só porque os deuses do Olimpo não te escutam, que o Edward também não ouça. – avisei.

- Ai merda! –

Ainda rindo de Alice, eu a guiei até o portão do mundo inferior, onde Cerberus estava de visita, e ao ver o tamanho do cachorro, enorme e as suas três cabeças, Alice ficou mais branca do que o de costume, e não duvidava nada de que ela teria infartado se fosse possível. Ao nos ver, melhor, ao me ver Cerberus saiu de seu posto e veio animado para perto de nós, e a cada pisada que ele dava contra o chão, o mesmo tremia fortemente.

O cachorro abaixou a cabeça do meio para que eu pudesse lhe afagar atrás de sua orelha enorme, e enquanto eu lhe coçava, eu via Alice enfartando aos poucos com medo do bicho, se ela já tinha medo da versão do Cerberus quando ele estava em Tulsa, imagine agora...

Cerberus voltou ao seu posto e nós voltamos para dentro do castelo. Edward não estava mais ali, provavelmente estava no tribunal. Eu me sentei em uma das cadeiras em frente a mesa enorme e posta com comida para alimentar o batalhão e fui comer, eu estava com fome. Enquanto eu comia, Alice fofocava, melhor desabafava, eu imaginava que Hera não estaria facilitando as coisas para ela, e sabia que quando eu subisse ela também não iria facilitar as coisas para mim, mas eu sentia que ao contrário de Jasper/Hermes, que por ser um “deus menor”, como Edward havia explicado, ele não podia contrariar ou de certa forma destratar Hera, o mesmo não podia ser dito por Edward, que eu tinha certeza que podendo ou não, ele iria contrariar a irmã.

- Você sabia onde estava se enfiando quando bebeu a ambrosia. – lembrei-a enquanto levava um morango a boca.

- Não me arrependo. Eu amo o Jasper e também não queria ficar longe de você, mas nada do que o Edward, Jasper ou o que estudamos sobre Hera se compara ao que ela realmente é! – resmungou se ajeitando na cadeira.

- Oi mãe... – eu ouvi a voz de Melinoe vindo de trás de mim.

- Oi meu amor. Bom dia... – ela se aproximou e me deu um beijo na bochecha.

- Oi Alice. – ela pegou uma maçã em cima da mesa. – Tchau Alice, tchau mãe! –

- Oi Meli... -

- Para onde essa garota está indo essa hora? – perguntei para mim mesma.

- Perturbar as almas, não duvido nada! – Macária falou se aproximando. – Bom dia mãe. –

- Bom dia, meu amor. – ela se abaixou e beijou-me a bochecha.

– Bom dia Alice. –

- Bom dia Macária... –

- Como dormiu? – perguntei quando ela pegou um cálice em cima da mesa e bebendo um gole da mesma.

- Bem... – ela sorriu. – E meu pai? –

- Acho que está no tribunal! – ela apenas assentiu pegando um pedaço do pão. – Ah... Te falar de uma vez... Zeus está inventando uma confraternização do Olimpo e praticamente está exigindo a nossa presença. –

- Eu não vou! Eu só gosto da Afrodite e do Hefesto, e não preciso ir até o Olimpo para ver os dois! Papai vai? –

- Ainda não falou nada! Se eu for, vai ser pra fazer companhia para a Alice... –

- Se a senhora for, eu faço um esforço... Deixa-me ir ver o meu pai... – ela bebeu outro gole do vinho que tinha em seu cálice, e o colocou de volta na mesa. – Tchau mãe... – ela deu outro beijo em minha bochecha. – Tchau Alice. –

- Tchau Macária. – igual a irmã, ela sumiu me deixando sozinha com Alice. – E aí... Como é do nada arrumar duas filhas? –

- Pelo menos elas praticamente já são adultas, não tenho que ensina-las nada! – brinquei e ela riu. – É... Eu não sei explicar direito, Alice, é como se... Se a última peça de um quebra cabeça tinha se encaixado. De tudo o que eu poderia ter imaginado na minha vida, jamais seria algo parecido com isso. –

- Se refere a parte de o homem que você ama ser um deus grego, literalmente, e o deus da morte e você decidiu se mudar para o mundo inferior com ele, ou se refere ao fato das meninas? –

- Com certeza eu me refiro a parte das meninas. – ironizei e ela gargalhou. – E não podemos deixar de fora o fato de que a minha mãe é louca! – ela gargalhou mais ainda.

- Nunca imaginaria que a tia Renée faria algo desse tipo! – ela suspirou.

- Mas eu estou e sou feliz! Nunca imaginei também que seria feliz desse jeito em algum momento da minha vida! Edward é um amor... –

- Ele é gostoso... –

- Não viu nada ainda! – respondi. – E eu não estou falando isso apenas para inflar ainda mais o seu ego, pois eu sei que você está ouvindo a nossa conversa! – falei para o nada e ouvi uma risada vindo de trás de mim.

- Eu tentei não ouvir, mas toda hora o meu nome surgia na história. – comentou apoiando o seu cetro ao meu lado e me abraçou forte, mesmo eu ainda estando sentada na cadeira.

- Aham... Sei... – ironizei e ele beijou-me a bochecha.

- Você também é gostosa! – ele falou em meu ouvido.

- Sua filha mais velha foi ao tribunal atrás de você, e a mais nova eu não faço ideia de para onde ela foi... –

- Eu já falei com a Macária e eu já fui informado para onde a Melinoe foi... – ele encarou Alice. – Jasper acabou de chegar para te buscar. –

- Aqui é tão calmo... Posso me mudar para cá não? – perguntou encarando Edward.

- Quer largar o Jasper? –

- Eu não consigo ficar sozinha com ele... Toda hora alguém o chama para alguma coisa e... –

- Ele é deus mensageiro, esperava o que? –

- Eu esperava fazer sexo e ninguém me interromper! –

- Nisso eu não posso te ajudar! – eu encostei a testa na mesa, escondendo o meu rosto e rindo. – Desculpe! – ela suspirou.

- Bom... Deixa-me ir aturar aquele povo! – ela se levantou. - Tchau amiga. –

- Tchau Alice... –

- Se você não for amanhã, eu vou descer e te puxar pelos cabelos até lá em cima! – ameaçou.

- Duvido! – provoquei e ela me encarou com os olhos semicerrados. Ela não falou mais nada, apenas apontou os dedos – indicador e médio – para os seus olhos e depois para mim, deixando claro que estava de olho em mim. – Resolveu o que tinha para resolver? – perguntei me virando de frente para Edward, assim que Alice saiu, e eu levei um morango até a boca de Edward.

- Por enquanto já, por quê? –

- Eu quero fazer alguma coisa..., mas não sei o que... – admiti comendo a outra parte do morango que ele tinha comido.

- Quer ir a um dos seus lugares favoritos aqui embaixo. –

- Qual? – perguntei e ele apenas estendeu uma das mãos para mim.

Eu segurei a sua mão e ele me puxou para perto do seu corpo, e pegando o seu cetro de novo, ele desapareceu comigo do salão de jantar do seu castelo. Ele me levou para um lugar verde, florido e com sol. Parecia que estávamos fora do mundo inferior, contudo eu sabia que não estávamos devido as vestimentas, todas ali usam as típicas roupas gregas antiga.

- Onde estamos? – perguntei.

- Nos Campos Elísios. – respondeu. – Você gostava de vir para cá, ficar um tempo, dizia que era para aproveitar um pouco do sol e do cheiro da grama, árvores e flores. –

- E era verdade? –

- Era! – respondeu. – Você sentia falta lá de cima, e dizia que ficar aqui nos Elísios por uns cinco minutos já lhe matava a saudade. –

- Achei que Perséfone poderia subir e descer a hora que quisesse. –

- E podia! Mas deixar as fronteiras do submundo significava ouvir as vozes do Olimpo, e era o que ela mais queria calar! – explicou.

- Entendi. E o que eu fazia aqui? –

- Na verdade você não ficava propriamente aqui! Às vezes ficava com a Macária, mas geralmente você preferia ficar sozinha ou comigo, em outro lugar, mas... Deserto, por assim dizer! – respondeu, me abraçando por trás, e apoiando o queixo no topo da minha cabeça.

- E não duvido nada que sem roupa! –

- Ficávamos seis meses se nos vermos, quando nos víamos, era quase que impossível nos separarmos... –

- E eu posso saber que lugar deserto é esse que eu gostava de ficar? – perguntei e ele sumiu comigo mais uma vez, e quando voltamos a nos materializar de novo uma brisa de maresia atingiu em cheio o meu rosto.

Era uma brisa calma, gostosa e salgada, e eu conseguia sentir a água, nem muito tempo e nem muito fria, tocando em meus pés. Ao abrir os olhos eu me encontrei de frente para o que parecia ser um grande mar azul safira. Eu conseguia ouvir o som da brisa que passava pelo topo de árvores e o cantar de alguns pássaros. A água que cobria os meus pés era translucida, e a areia por baixo da mesma era bem clarinha e impressionantemente limpa. A alguns passos a minha frente era possível ver alguns corais e peixes coloridos e até uma tartaruga marinha nadando foi visível.

- Que lugar é esse? – perguntei impressionada e me soltando de Edward eu pude olhar para trás, para as enormes árvores de carvalho, que as suas copas verdes balançavam no ritmo da brisa. Uma parte da pequena praia era de areia branquinha e a outra já era tomada por uma grama, de aparência macia e com algumas margaridas.

- Essa é uma das três Ilhas dos Afortunados. –

- Eu não me lembro delas das lembranças de Perséfone! –

- Meu amor, nós ficamos juntos por quase duas décadas, eu tive que resumir a sua história. – brincou. – De qualquer forma, esse aqui era o seu lugar favorito de todo o submundo. –

- Quem vem para cá? –

- Pouquíssimas pessoas. Apenas quem já reencarnou três vezes e nessas três vezes foi enviado para os Elísios sem passar pelos Asfódelos antes... Então, são pouquíssimas pessoas! Eu abri exceção para alguns heróis, tipo Hercules, Aquiles e Perseu habitarem uma das ilhas, mas essa aqui em especifico, nunca teve um único morador! Ela era praticamente sua! Eu gostava de fugir daquele caos com você para cá! –

- Isso aqui parece com uma ilha paradisíaca que eu jamais conseguiria imaginar nem nos meus melhores sonhos! – comentei e encarei Edward. – Eu consigo imaginar Perséfone nadando no meio desses peixes, mas você eu não consigo imaginar! – provoquei e ele semicerrou os olhos para mim. – O deus dos mortos parece ser certinho e careta demais para isso! -

- Vai me provocar mesmo? –

- Eu não tenho medo de você! – provoquei mais um pouco.

- Repete! –

- Eu. – dei um passo para trás, entrando mais um passo para dentro d’água. – Não. – outro passo. – Tenho. – outro. - Medo. – mais um. – De você. – a água já estava no meio da minha panturrilha, fazendo com que a túnica molhada grudasse em minhas pernas.

- Não devia ter dito isso! – falou com a voz grossa e eu apenas ri.

Edward fincou a ponta de seu cetro no chão e andou na minha direção, vindo para dentro d’água. Eu subi a saia da túnica para conseguir me afastar dele, mas em poucos passou eu senti os seus braços abraçando-me pela cintura e me levantando. Se ele já era mais forte que eu quando fingia ser um mortal, como deus então era algo incomparável. Comigo em seu colo, ele se jogou na água comigo junto, me molhando completamente. Quando nós dois emergimos de novo, eu tinha as minhas pernas em volta da sua cintura, e eu não senti o tecido fino da túnica grudando em meu corpo, e ao olhar para baixo eu me encontrei completamente nua, e ele também.

- Como fez isso? – perguntei e ele apenas deu de ombros.

- Sou um homem misterioso! –

- Palhaço. – resmunguei e ele riu.

- Me abraça e não me solta. – pediu parando de rir.

Eu passei os meus braços por sobre os seus ombros, o abraçando e colocando o meu peito nu contra o seu, ele estreitou os braços que estavam em volta da minha cintura, me segurando firme e me apertando contra o seu corpo. Ele roçou a ponta do seu nariz ao meu, antes de beijar-me os lábios. A sua boca estava com um gosto levemente salgado. Eu sentia a água subindo pelo meu corpo conforme ele ia afundando, e seguiu assim até a água ter nos coberto por completo, e mesmo debaixo d’água, o nosso beijo não havia sido desfeito.

Eu não fazia ideia de que horas eram, já tinha um bom tempo em que estávamos naquela ilha, agora, depois de já termos feito sexo duas vezes, estávamos apenas deitados entre as raízes enormes dos carvalhos, vendo o sol começando a se pôr no horizonte. Edward usava apenas a sua calça e eu tinha posto a minha túnica de volta, eu estava deitada entre as suas pernas, com a minha cabeça apoiada contra o seu peito e ele deslizava a ponta de seus dedos pelo meu braço, no mesmo ritmo que a brisa fresca e salgada do mar passava por nós.

- Temos que voltar! – ele comentou baixo, mas continuou fazendo o carinho. – Já está tarde e imagino que estejas com fome. –

- Eu estou bem... Podia ficar aqui por um bom tempo. –

- Já se arrependeu da escuridão do submundo? – eu apenas neguei. – Então? –

- Eu ficaria em qualquer lugar desde que estivesse assim em seus braços. – respondi e ele apertou mais ainda o abraçado contra o meu corpo. – Principalmente depois de dois orgasmos. – o seu peito se sacudiu devido a sua risada e eu o acompanhei.

- Você quer ir ao Olimpo amanhã? – perguntou mudando de assunto.

- Tenho escolha? – rebati.

- Tem. Pode não ir! –

- Eu não quero deixar Alice sozinha. Podemos ir e ficar só um pouquinho... Por quê? – questionei.

- Tinha outros planos, mas ficando apenas um pouco na festa já é o suficiente e dá para cumprir com os meus outros planos. –

- Que seriam? –

- Ficar aqui, nessa praia, comigo dentro de você e você gemendo o meu nome... Até porque, segunda pela manhã você sobe de novo para cuidar da loja... –

- Gosto desse plano... –

- Antes de aceitar, preciso dizer uma coisa! –

- Diga. – pedi me ajeitando, eu havia sentado entre as suas pernas, encostando as minhas costas contra o seu peito e apoiando a minha cabeça contra o seu ombro.

- As duas meninas foram feitas nessas areias! – falou baixo contra o meu ouvido, e eu apenas virei a cabeça na sua direção. – Só dizendo. –

- E já está planejando fazer o terceiro nessa praia? – questionei e ele apenas deu de ombros.

- O lugar não importa, apenas a companhia! – ele beijou-me a têmpora.

- Me fale outros lugares favoritos de Perséfone. –

- Sem ser essa ilha, você ficava bastante no seu jardim! E quando você estava muito entediada e eu estava ocupado, você ficava comigo no tribunal. –

- Atrapalhando o serviço dos juízes... –

- Na maioria das vezes! – concordou rindo. – Você já salvou alguns dos Asfódelos e do Tártaro e já piorou a sentença de vários! – completou.

- Com certeza só acataram por ser sua esposa! –

- Duvido nada! –

- Me fala. – em um movimento rápido, eu me virei, ficando de frente para ele, e colocando as minhas pernas uma de cada lado da sua cintura. – O que devo esperar de amanhã? –

- Depende. –

- De? –

- Se a Éris foi convidada ou não! –

- E essa é? Aposto que é minha irmã! – brinquei.

- É. Ela é filha de Zeus com Nyx. – respondeu ele e eu apenas apoiei a minha testa contra o seu ombro.

- Todo mundo é  filhos dele? –

- A grande maioria. – eu acabei rindo com a resposta dele. – De qualquer forma, Éris é a personificação da Discórdia e do Conflito. Tudo o que ela toca vira caos. Certa vez, essa parte da história de Troia é real, só porque ela não foi convidada, porque tudo o que ela faz causa a... Discórdia, para o casamento de Peleu e Tétis, pais de Aquiles, ela jogou uma maçã dourada, a maçã da discórdia, que era destinada a deusa mais bela do Olimpo. Afrodite, Hera e Atena começaram a brigar querendo aquela maçã. Zeus, para acabar com aquela briga, elegeu Páris, o príncipe de Troia, para escolher qual era a deusa mais bela. As três ficaram nuas para ele, subornaram ele, Hera ofereceu poder político, Atena prometeu sabedoria infinita, e Afrodite o tentou com a mulher mais bonita do mundo. –

- Helena, a esposa do rei de Esparta! – ele apenas assentiu.

- Páris deu a maçã para Afrodite, e consequentemente condenou Troia a ruína. Sabe uma coisa que muita gente não sabe, porque não tem no filme? – eu apenas esperei que ele falasse. – Ao saírem de Esparta, a comitiva de Troia pegou uma tempestade e foi parar no Egito, lá Helena rogou a Afrodite por ajuda, a verdadeira Helena ficou no Egito e Páris levou uma Helena feita de barro, quando a guerra acabou Menelau resgatou a verdadeira Helena quando foi parar no Egito devido a uma tempestade causada por Poseidon, quando Odisseu cegou o ciclope Polifemo. Ah... E Helena era sua meia irmã também! –

- Espera... Então a guerra foi em vão? –

- Praticamente! – respondeu ele. – Então, respondendo a sua primeira pergunta, sobre o que você pode esperar da confraternização de amanhã... Vai depender se Éris foi convidada ou não. Se ela não foi, podemos esperar uma segunda guerra de Troia! –

- E se ela for? – questionei.

- E se ela for... – ele pensou um pouco. – Não sei. Teremos Hera perturbando e provocando com a sua volta! Sabe que Hera não gosta dos filhos de Zeus, principalmente de você, porque para Perséfone, Zeus chegou perto de ser um pai, o que não podemos dizer o mesmo sobre os outros, principalmente sobre os filhos que ele teve com Hera! –

- Espera... Acabei de me lembrar de uma coisa. – ele parou me encarando. – Das lembranças que você me mostrou de Perséfone, quando a Macária recebeu o seu oficio, a Héstia disse que se reuniria com todos de novo quando chegasse a vez de Éris e Harmonia receberem o seu oficio. – ele apenas assentiu. – A guerra de Troia foi depois disso? – ele apenas assentiu de novo. – E Harmonia? –

- Harmonia é filha de Hefesto e Afrodite. Como o nome já diz, ela é a personificação da Harmonia, ela é o oposto de Éris. Infelizmente Harmonia não teve uma vida muito... Harmônica?! –

- Por quê? –

- Quando ela se casou com o rei de Tebas ela ganhou um manto e um colar do marido. O colar estava amaldiçoado por Europa. –

- O continente? – ele riu.

- Não, meu amor, o continente recebeu o nome de Europa, mas... Ela foi uma princesa feníncia mãe de Minos e Radamanto... – eu ergui uma sobrancelha. – Ela foi consorte de Zeus! Zeus praticamente a raptou em formato de touro, espalharam lendas de que ele a tinha estuprado e consequentemente gerado Minos, ele nega... Segundo ele foi consensual. – Edward deu de ombros se ajeitando entre as raízes da árvore. – Europa se apaixonou perdidamente por Zeus, já Zeus nunca se apaixonou de verdade por ninguém... O mito na verdade, pois eu estava bem longe quando essa história aconteceu, foi que Zeus se apaixonou por Europa, se transformou em um touro branco domesticado e se misturou aos outros touros do rebanho do pai de Europa, e quando ela subiu em suas costas, Zeus correu para o mar e nadou até Creta, e ao se revelar como um deus, ele deu a ela um colar feito por Hefesto, depois que Zeus se cansou e a largou, ela se casou o rei de Creta, e quando ela foi para Tebas para o casamento de seu irmão, que iria se casar com Harmonia, ela deu o colar que havia recebido de Zeus, e que ela havia amaldiçoado, praguejado sobre ele de tanta raiva que sentia por Zeus, e, bom, todos que usaram esse colar tiveram grandes infortúnios. Qualquer mulher que o usasse permaneceria eternamente jovem e bonita, mas traria enormes problemas, o que causou a extinção da casa de Tebas. Alguns historiadores colocaram Harmonia como filha de Ares e Afrodite, e com raiva Hefesto amaldiçoou toda a linguagem que descendesse de tal traição..., mas não é a verdade. –

- E o que aconteceu com Harmonia? –

- Ela enlouqueceu devido ao colar e se matou, quando eu soube o que aconteceu eu dei passe livre para ela direito para uma dessas ilhas. Harmonia era uma grande amiga das meninas, elas já estavam sentidas com o que havia acontecido com você, e ficaram pior ainda quando isso aconteceu com a amiga. Para ser bem sincero eu não sei se o espírito de Harmonia já reencarnou ou não! –

- E Afrodite? –

- Matou Europa com as próprias mãos quando soube que havia sido ela quem havia praguejado sobre o colar! Com a benção de Zeus, se podemos usar a palavra benção nesse caso! –

- Olha... Eu achava que os homens, do ano que eu vivia, não sabiam chegar nas mulheres, mas pelo visto aqui era pior! – reclamei e ele riu. – Aqui vocês literalmente não sabiam chegar em uma mulher! O que a pessoa pensa ao se aproximar de alguém em forma de touro? Que a pessoa ia sentir atração sexual por um touro? – questionei indignada e ele começou a gargalhar.

- Não me inclui nessa lista. Eu não fiz isso! –

- Não... Só ficou vigiando e stalkeando Perséfone! De onde eu venho isso é crime! Mas acho que é menos pior do que sentir atração sexual por um touro! Na verdade, eu não sei, estou confusa. Se fosse a história de Perséfone e Hades que eu estudei sobre, poderíamos chamar isso de Síndrome de Estocolmo. –

- Mas sabe que foi assim que surgiu o Minotauro, não sabe? –

- Através da síndrome de Estocolmo? –

- Não... Através de um relacionamento de uma mulher com um touro! – eu o encarei confusa. – Minos, o nosso velho e conhecido juiz, pediu ajuda a Poseidon para certificar a sua reinvindicação ao trono de Creta, Poseidon deu a ele um esplêndido touro branco, com a condição de que ele sacrificaria o animal a Poseidon depois. Os cretenses ficaram impressionados com o touro e Minos foi coroado rei, mas ele sacrificou outro touro a Poseidon, ao invés do touro branco. Com raiva, Poseidon fez com que a esposa de Minos se apaixonasse pelo touro, e do acoplamento nasceu o Minotauro, uma criatura meio touro e meio humano que se alimentava de carne humana! –

- Chega! – eu me levantei do seu colo. – Chega dessa história! Eu gostava delas quando eram apenas mitos! – ele riu. – Hora de ir embora, antes que eu realmente me traumatize e me arrependa de ter vindo para cá! – ele não se levantou e continuou entre as raízes rindo. – Isso é traumatizante e bizarro! –

- Mais bizarro do que irmãos tendo filhos! –

- Sim, porque, eu não duvido nada, que isso ainda aconteça no mundo de 2019. Isso, meu amor, é zoofilia, e é crime, além de ser nojento! Irmãos transando é apenas nojento, mas não é crime! –

- Você é praticamente a minha sobrinha, lembra disso? – questionou apoiando a mão na minha panturrilha por debaixo da túnica.

- Quer que eu me arrependa e vá embora para Tulsa? – rebati.

- Claro que não. – ele me puxou, pela panturrilha, me fazendo cair em cima dele, rindo. – Eu te amo. – falou me prendendo entre os seus braços de novo.

- Eu também te amo. – ele me deu um beijo na testa, na ponta do nariz e finalmente nos lábios.

Com as nossas bocas ainda unidas em um beijo calmo, ele desapareceu comigo da praia, daquela ilha dos afortunados, e quando reaparecemos, eu estava deitada sobre algo macio, a sua cama, melhor dizendo, a nossa cama. O beijo ainda não tinha sido interrompido e eu sentia a sua mão deslizando pela minha coxa, por baixo da túnica, dando alguns apertos fortes, que me faziam gemer contra a sua boca.

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