domingo, 28 de novembro de 2021

Capítulo 4

 

Tulsa – Oklahoma.

2019.

Bella.

Em menos de dez minutos Alice estava sentada no depósito da loja comigo. Eu havia colocado uma plaquinha na porta que dizia Desculpe, volto logo, e tranquei a porta, eu contei para Alice o que havia acontecido, da minha conversa com o Edward e o fato de eu estar ficando louca por estar tendo sonhos a luz do dia e acordada, ainda mais um sonho que eu nunca tinha tido antes na vida. Nós estávamos sentadas no balcão onde eu limpava as flores que iria vender e eu tinha as mãos no rosto.

- Isso foi meio bizarro, se foi do jeito que você contou. –

- Não me diga. Agora imagina a minha cara. Eu estou ficando louca. – eu enfiei as mãos em meus cabelos.

- Já disse, aproveita que sua mãe não está aí e procura um psicólogo ou psiquiatra, talvez assim você tenha as respostas que tanto quer. –

- Tem noção de que eu não posso procurar um médico desse tipo aqui na cidade, eles vão contar para a minha mãe e ela vai me perturbar pelo resto dos meus dias. –

- Não seja por isso, Isabella. Vamos até Oklahoma City, eu vou com você para que não se sinta só, se esse é o problema. – comentou andando de um lado para o outro na minha frente. – Isso não é normal! Mesmo eu ainda achando que isso possa ser lembrança das suas vidas passadas. –

- Vidas passadas não existe, Alice. –

- Tem outra explicação? –

- Eu estou ficando louca! – eu me controlei para não gritar com ela.

- Você tem que ter tirado isso de algum lugar, Isabella, você não inventou isso do nada, em poucos segundos com um simples apelido que ele deve ter lhe dado sem nem ter percebido. E se isso machuca tanto você, aí mesmo que você não criaria por livre e espontânea vontade, ainda mais após você ter me garantido que nunca viu um filme desse tipo. –

- Do sonho que eu, volta e meia tinha, eu realmente nunca vi um filme desses, ou até agora eu nunca o encontrei na internet, sendo que eu já me cansei de procurar. Agora, quanto a visão, ou aquela coisa que eu tinha a pouco tempo, eu não faço ideia se já tinha visto aquela cena em algum lugar. –

- Então, ou você procura um psicólogo ou aceita que isso é memória da sua vida passada. –

- E admitir o que? Que eu vivi uma vida passada e o Edward estava presente nela? –

- Sim. Quer dizer, talvez sim ou talvez não. O que pode estar lhe trazendo essas memórias de sua vida passada pode ser o Edward, ou o apelido que ele usou com você, que outra pessoa possa ter usado em outro tipo de momento. –

- Eu acho que você está ficando mais louca do que eu... – comentei a encarando.

- Então pronto. – ela se sentou ao meu lado na bancada de novo. – Está decidido, somos duas loucas. Vamos juntas ao psicólogo ou psiquiátrica e vamos juntas para um hospício. – comentou enlaçando seu braço ao meu e eu não pude evitar de rir junto com ela.

- Deus, o que eu faria sem você na minha vida?! –

- Viveria uma triste monotonia. –

Alice ficou mais um tempo ali comigo, até eu me sentir um pouquinho melhor e logo em seguida voltou ao seu trabalho e eu ao meu. Eu tratei de balançar a minha cabeça o máximo que podia para tirar aquela coisa da minha cabeça e agir como se nada daquilo existisse, pelo menos até eu decidir se iria ou não a um psicólogo, em outra cidade, para que minha mãe não soubesse disso.

Terça feira foi um dia tranquilo e sem problemas, ou visões estranhas. Eu também não tinha visto Edward, mas um pouco antes de eu ir dormir, meu telefone tocou, anunciando uma nova mensagem, e uma mensagem de Edward sobre o jantar de amanhã.

O jantar de amanhã está de pé? Se sim, me passe o seu endereço para que eu possa ir busca-la às 19h, por favor.

Eu fiquei por volta de cinco minutos olhando para aquela mensagem. Depois do que havia acontecido ontem será que eu deveria ir ou não a esse jantar? Era um jantar de trabalho, de certa forma, ele queria me contratar para fazer o paisagismo das lojas, não teria problema nenhum em ir, eu não iria passar nenhum limite de intimidade que ele não havia me dado, igual havia feito no dia anterior.

Respondi apenas com um Ok e com o meu endereço.

Quarta feira eu tive que fechar a loja mais cedo, eu tinha que trocar de roupa, eu não podia ir para um jantar, principalmente de trabalho, usando uma calça jeans que havia usado durante todo o dia, e com o corpo sujo de um dia, razoavelmente quente, de trabalho. A campainha tocou as sete em ponto, e eu estava a quase cinco minutos tentando fechar o meu vestido. Desci as escadas correndo e segurando meu vestido e abri a porta, encontrando com Edward usando um terno, que se moldava tão perfeitamente em seu corpo, que parecia que havia sido feito sob medida para ele, e provavelmente havia sido realmente.

- Boa noite. –

- Oi. Boa noite. Vai ter que me perdoar, mas eu estou quase pronta. Entra. – eu dei espaço para ele entrar.

- Não se preocupe, fique à vontade para se arrumar. –

- A questão é que você chegou em um momento maravilhoso, estou a cinco minutos lutando contra o meu zíper. Se não for muito inconveniente, eu posso pedir para fechar o zíper do meu vestido? –

- Oh. Claro. Sem problema. – eu virei de costas para ele e coloquei meu cabelo para frente, deixando meu zíper livre para que ele pudesse fechar, e em questão de dois segundos, eu senti o zíper ser fechado. – Prontinho. –

- Muito obrigada. – agradeci me virando de frente para ele e ajeitando o decote um pouco profundo.

- Perdoe-me por perguntar..., Mas, que cicatriz é essa? – perguntou olhando para o vão dos meus seios, onde tinha a cicatriz, um pouco grande e graças a Deus, branquinha, quase não dava para ver direito.

- Sinceramente. Não faço ideia. – dei de ombros. – Segundo minha mãe, nasci com ela, o que é um pouco estranho, ela diz que eu nunca fiz nenhuma cirurgia nessa região. Ela diz que é apenas uma marca de nascença que parece uma cicatriz, se isso for possível. – expliquei. - Como não tem como sumir com ela, simplesmente aprendi a viver com ela. -

- Doí? – perguntou com a voz baixa, quase inaudível. Seus olhos não haviam desviados nem um milímetro da minha cicatriz, ele podia estar tentando olhar meus seios, mas não, seus olhos não desviavam da minha cicatriz. Ele levantou a mão, e por poucos milímetros, seus dedos não tocaram nela.

- O médico diz que não tem nada nela, mas às vezes eu sinto doer, mas acho que é mais psicológico do que outra coisa. Mesmo minha mãe não concordando com essa opinião. – expliquei. - Eu vou terminar de me arrumar. –

- Claro. – ele abaixou a mão rapidamente. – Sem pressa. –

- Fique à vontade, não demoro. – eu subi as escadas até o meu quarto para que pudesse terminar de me vestir, eu já tinha feito uma maquiagem leve, tinha apenas que me calçar e pegar as minhas coisas. E dito e feito, em cinco minutos eu estava descendo de novo e Edward estava parado no mesmo lugar, com a mão no rosto. – Estou pronta. – e ele se sobressaltou ao ouvir a minha voz. – Está tudo bem? –

- Sim. Só pensando em algumas coisas. – deu de ombros e me encarou. – Está linda. –

- Obrigada. É muito gentil. –

- Vamos? –

- Sim. – ele abriu a porta para mim e eu peguei a chave da minha casa, e ele me deu espaço para sair. Tranquei a porta e seguimos até o seu carro que estava parado em frente a minha casa, uma Ferrari preta. – Belo carro. – ele abriu a porta para mim. – É impressão minha ou gosta de preto? Só te vejo usando roupas pretas e agora uma Ferrari preta? –

- Minha cor favorita! – comentou sorrindo e balançando a cabeça também sorrindo, eu entrei no carro. Ele fechou a porta e deu a volta entrando no banco do motorista. – Ainda não viu a minha casa. – comentou colocando o cinto.

- O que? Vai me dizer que a sua casa também é preta? –

- É! – respondeu simplesmente ligando o carro.

Ele dirigiu por pouco tempo, ele morava no bairro das pessoas ricas, não era nenhuma surpresa, poucas ruas depois da casa do prefeito, numa rua, que havia começado a receber casas a pouco tempo, portanto ele ainda não tinha muitos vizinhos, a maioria das casas dali estavam vazias, com placas de vende-se na porta. E ele não havia mentindo. A casa dele era realmente preta. Dois andares, com muitas janelas e uma grande varanda, mas mesmo assim preta. Não tinha nada, absolutamente nada, de outra cor dor lado de fora, nem uma graminha verde, a entrada da casa dele, era toda feita de concreto.

- Inacreditável! – comentei ao sair do carro.

- O que achou? – perguntou parando ao meu lado e cruzando os baços.

- Linda. Mas... Falta cor. Falta verde! – ele riu. – Se fosse eu, eu teria tirado essa calçada de concreto e feito um jardim maravilhoso, além de encher cada centímetro dessa casa com um vasinho de plantas, nem que fosse apenas suculenta, para trazer mais cor para a casa. Talvez uns girassóis para dar a ideia de luz do sol... –

- Caso se interesse. Pode começar o paisagismo pelo meu jardim. – respondeu rindo. – Em menos de um dia a minha equipe quebra o concreto e substitui por terra. –

- Achei que não gostasse de plantas. – comentei o encarando.

- As pessoas dessa cidade estão me fazendo mudar de ideia. – comentou simplesmente andando na minha frente, subindo as escadas, até a porta de sua casa.

- As pessoas? – perguntei. – No plural? – eu parei ao seu lado enquanto o via destrancar a porta de sua casa.

- Talvez no singular! – ele deu uma leve piscadela ao abrir a porta de sua casa. – Fique à vontade. – ele me deu espaço para entrar e eu entrei, encontrando um breu do lado de dentro, ele entrou, fechando a porta atrás de si e ligando a luz no interruptor próximo a porta. Mal a luz acendeu eu comecei a ouvir latidos, que se aproximava cada vez mais alto, e um cão enorme surgiu no meu campo de visão, ele era enorme e preto, ele latia com os dentes de fora, eu nunca tive medo de cachorro, mas dessa vez eu senti um pequeno frio na barriga ao vê-lo correndo na minha direção. – Cerberus! – Edward falou firme com ele, se postando a minha frente antes que seu cachorro me alcançasse e me mordesse, ou matasse. – Cerberus! – ele o reprendeu com a voz mais firme, e ele parou de latir, mas sentou no chão balançando o rabo e Edward saiu da minha frente. - Não se preocupe. Ele não vai lhe morder. Ele gosta de fazer um pouco de festa quando chega alguém, mas o tamanho assusta um pouco. –

- Os dentes também. – comentei sentindo minhas pernas um pouco fracas devido ao medo de ter sido mordida.

- Ele é relativamente tranquilo. Não se preocupe. -

- Relativamente? – questionei o encarando enquanto ele coçava atrás das orelhas do cão.

- Se ele se sentir ameaçado, ele vai atacar. –

- Eu não estou te ameaçando. – falei para o cachorro e logo em seguida para Edward. – Qual é o nome dele? –

- Cerberus. – respondeu e eu pensei um pouco.

- Tipo o da mitologia grega? –

- Exatamente. – ele sorriu. – Cerberus era um cão adorável que guardava as portas do submundo. –

- Como um cão gigante de três cabeças pode ser adorável? – questionei.

- Bom, ele ficava feliz quando chegava gente nova no submundo, só não gostava quando alguém tentava ir embora. Quer dizer, é isso o que os historiadores dizem. – respondeu, e em uma fração de segundos, o cachorro pulou em cima de mim, quase me derrubando no chão, só não me derrubou de fato, porque eu acabei batendo contra a parede, ele não rosnava ou me mostrava os dentes. Ele tinha apenas a língua de fora, e algo como um sorriso brincava em seu rosto enquanto ele balançava animadamente a sua cauda. – Ele gostou de você. – respondeu e eu fiz carinho, com a mão ainda um pouco tremendo devido ao susto repentino, atrás de suas orelhas e ele fechou os olhos levando a cabeça para mais perto da minha mãe. – Eu disse, só o tamanho assusta. Ele é adorável. Igual ao Cerberus da mitologia. –

- Contanto que ele não arranque a minha cabeça... – comentei com o cachorro ainda com as patas na altura do meu peito. – Nunca me senti tão anã... – Edward tentou ser discreto, mas eu o ouvi rindo. – Se eu não tivesse de salto esse cachorro seria maior que eu. Que raça é essa? – perguntei quando ele puxou, com toda a delicadeza do mundo, o Cerberus pela coleira vermelha para que ele saísse de cima de mim, e sentasse no chão.

- É um cane corso. -  respondeu coçando mais uma vez atrás da orelha do cão. – Se você se comportar, eu te dou um biscoito. – o cão latiu para o dono como se entendesse o que Edward tinha acabado de dizer. – E se comportar significa não pular em cima da visita. Vai lá para a sua cama. – ele latiu mais uma vez para o dono e saiu andando abanando o rabo curto até onde ficava a cama dele. – Venha. Vou te amostrar o que eu tenho preparado enquanto termino o jantar. –

- Sabe, eu preciso perguntar. – comentei enquanto caminhávamos por todo o corredor, que não tinha apenas, paredes, piso e teto preto, os móveis também eram da mesma cor. – Como você consegue viver numa casa onde tudo é preto? E se faltar luz? –

- Não vai faltar. Eu mandei instalar um gerador. – disse como se fosse o óbvio.

- Oh, desculpa, é que eu sou a pessoa que fica topando com o dedo mindinho nos móveis enquanto tenta não morrer enquanto desce as escadas em busca de uma vela. –

- E a tela do celular? –

- Ou eu não o encontro porque está escuro ou é justo quando acaba a bateria. –

- Já pensou em deixar então uma vela e um isqueiro no quarto? –

- Eu deixo uma lanterna e esqueço dela. – comentei e ele entrou na cozinha rindo. – Até a cozinha é preta... – resmunguei comigo mesma, balançando a cabeça e vendo que mais um cômodo da casa não tinha cor.

- Eu gosto de preto. – disse simplesmente apontando o banco alto rente a bancada da cozinha, onde tinha um computador da Apple fechado em cima.

- Eu gosto de rosa, e nem por isso moro em uma casa rosa. Se eu fizer isso ou serei chamada de Barbie ou me internam em um hospício. – ele balançou a cabeça sorrindo enquanto eu me sentava na bancada, cruzando minhas pernas, uma sobre a outra, e ele puxava seu notebook para perto dele e o abrindo.

- Preto é uma cor relaxante para mim, me acalma. –

- É engraçado... Não... É diferente alguém comentar algo desse tipo, já que preto geralmente é relacionado a morte. –

- Bom, se for ver por um dos pontos de vista, a morte é um caminho para a tranquilidade. –

- Dependendo do caso, tranquilidade apenas do morto. –

- É um ponto de vista. – ele virou a tela do notebook para mim, aberta em uma página de desenho de algo que parecia uma praça. – Olha. Diga-me sinceramente o que acha. – ele seguiu até a geladeira pegando uma travessa dentro dela. Era uma imagem em 3D de uma praça em formato retangular com uma fonte no meio e alguns bancos e postes espalhados nas laterais da praça. – Pensei que poderia fazer um canteiro em volta da fonte. O que acha? – eu torci levemente o nariz. – Não gostou da ideia. –

- Não é isso. É que aqui o clima é muito quente e abafado, se você colocar um canteiro assim a céu aberto, sem nenhuma cobertura, dependendo da planta, até as de sol pleno, é capaz de não suportar e ficarem murchas e feias. – comentei. – Talvez fique melhor colocando algumas árvores em volta da praça. Assim cria sombra e frescor para todo mundo, principalmente para as pessoas da cidade. –

- E qual árvore você sugere? – perguntou colocando a travessa dentro do forno.

- Olha, se você viu a frente da minha casa, não tem muitas árvores, mas acho que nessa praça ficaria muito concreto e verde, caso eu use alguma muda de árvore que eu tenha. Talvez, talvez... – frisei bem o talvez. – Eu poderia ir até um garden grande, para isso eu precisaria achar um, e procurar por cerejeiras, ou um rododendro... Jacarandá também acho que ficaria maravilhoso... Contudo, teria que importar, já pesquisei na internet, queria um para mim, e só achei no México, América do Sul, alguns países da África, Europa e Oceania, é difícil encontra-la nos EUA, fiquei muito tentada em comprar para mim, mas o frete era mais caro que todos os meus órgãos, e eles estão em ótimas condições, e fiquei com medo de ela já vir doente e ter jogado todo o meu dinheiro fora, mas acho que ficaria muito bonito. Essas três árvores dariam uma cor maravilhosa a cidade. Cerejeira aquele tom rosa clarinho, o rododendro, não é árvore, é um arbusto que pode passar um pouquinho de um metro, é um pouco mais fácil de encontrar, as mais perto se importam da região dos Apalaches, tem mais variedades de cor, podem ser encontradas em rosa, vermelha e até laranja. E os jacarandás são roxos. –

- Cerejeira é o que adorna os parques da capital, não é? –

- Sim. – respondi e ele torceu os lábios.

- Eu queria fazer algo diferente. Acho que o rododendro parece ser um pouco pequeno para praças, acho que prefiro o jacarandá. –

- Vai mudar de ideia quando ver o preço... – comentei. – Não seja o rico padrão que fala que preço não é problema! – avisei logo de uma vez, detestava quando alguém falava isso.

- Sim senhorita. – respondeu erguendo as mãos em tom de rendição. – Aceita um vinho? – perguntou e eu desviei os olhos da tela o encarei.

- Um pouco. Não sou de beber. –

- Vou escolher um leve para a senhorita. – disse e se afastou indo na direção de uma porta que estava fechada atrás de mim. Tomando a intimidade que ele não havia me dado, comecei a editar a maquete da praça, eu sabia mexer um pouco nesses tipos de programa, foi usando um parecido que eu arrumei o meu jardim. Eu não havia encontrado jacarandá na lista de procura, portanto me contentei com uma qualquer, mudando a cor das folhas dela para roxa, e colocando em volta da fonte alguns arbustos, misturando rosas de cores brancas, rosas claras, rosas escuras. – Gostei. – eu ouvi a voz de Edward vindo de trás de mim e dei um pulo do banco. – Desculpa, não queria te assustar. – comentou colocando uma garrafa de Cabernet na bancada.

- Não se preocupe. Eu sou muito distraída e não te ouvi chegando. E me perdoe por mexer no seu trabalho sem pedir permissão. –

- Não se preocupe. – deu de ombros indo até um armário e pegando duas taças. – Até porque, foi para isso que eu te chamei aqui. –

- Oh, me chamou para trabalhar. – brinquei e ele sorriu enquanto abria a garrafa.

- Pode se sentir à vontade para mexer nas outras imagens. – emendou derramando um pouco de vinho em uma das taças.

- Me diga. – eu apoiei um dos cotovelos na bancada e fiquei olhando para ele enquanto ele derramava vinho até a metade da taça. – Por que o prefeito disse ontem que eu era a única que conseguia te fazer rir? –

- Por que as piadas dele são péssimas e impossíveis de rir. – bom, errado ele não está. – E eu sempre fui uma pessoa muito séria, nenhuma outra pessoa conseguia causar nem um por cento de felicidade a ponto de me fazer esbanjar um sorriso, sempre foi assim... Desde criança. Minha mãe falava que eu nasci carrancudo. –

- Nenhuma outra pessoa além da sua ex esposa? – perguntei e ele suspirou.

- É. Ela era a única que conseguia me causar alguma coisa de felicidade. Até agora. – ele me entregou uma das taças.

- Obrigada. E eu sempre fui a palhaça da escola que quase se matava para fazer alguém sorrir, caso precise, só me procurar. –

- Só de ficar sob o mesmo teto eu já me sinto feliz. – eu não consegui evitar ficar com as bochechas coradas.

- Bom, vamos experimentar esse vinho... – disse mudando de assunto e levemente ele tocou a sua taça na minha e a levou aos lábios e eu também.

O clima havia ficado um pouco estranho, talvez um pouco constrangedor, pelo menos para mim, Ele se sentou ao meu lado, ele foi me amostrando os desenhos que havia feito para algumas outras praças da cidade, principalmente a praça da prefeitura, e para as fachadas de alguns prédios que queria que eu decorasse com plantas, e não só ele quanto eu também, acabamos nos empolgando e decidindo plantar algumas árvores ou fazer canteiros nas ruas. Eu só não sabia de onde eu iria tirar tanta muda de planta assim, teria que recorrer a gardens, e eu teria que escolher tudo com muita calma e tranquilidade.

Cerca de trinta minutos depois, eu ouvi seu celular tocando, era apenas o despertador anunciando que era hora de tirar a travessa do forno. Ele levantou do banco ao meu lado e ao abrir a porta do mesmo eu senti um cheiro maravilhoso de salmão assado. Enquanto ele transferia o peixe para um refratário de vidro, eu terminava o projeto da fachada do restaurante da Sue’s. Ele me chamou poucos minutos depois e me entregou uma tigela com legumes e a garrafa de vinho, e com uma mão só, ele conseguiu pegar as duas taças e saiu andando na frente para a sala de jantar, que também era toda preta.

Durante todo o jantar, regado de vinho. A conversa começou sobre as ideias de plantas para as praças e lojas, mudou em pouco tempo para o motivo de eu gostar tanto de plantas e seguiu pelo resto da noite sobre os mais variados tipos de assuntos, desde a músicas e livros favoritos, para lugares que eu iria caso deixasse a cidade. Eu nunca fui de beber, o que causava certo estranhamento quando eu saia e enquanto as pessoas bebiam cerveja ou vinho, eu geralmente ficava na água, suco ou refrigerante, mas hoje, eu fiz algo que jamais havia feito na vida, o acompanhei para a segunda garrafa de vinho.

Contra a vontade dele, eu o ajudei a lavar a louça, não sabia muito bem como havia conseguido fazer aquilo, porque já me sentia um pouco alta devido o vinho, mas mesmo assim eu o ajudei e logo em seguida nos sentamos no escuro da sua sala, sentadas no chão em cima das almofadas que ele jogou no chão, com a segunda garrafa de vinho.

- Chega... – eu afastei minha taça dele e empurrando a mão dele que segurava a garrafa, que ele tentava derramar mais um pouco do líquido arroxeado para mim. – Chega! –

- Ah, mas eu vou ter que terminar essa garrafa sozinho? –

- Eu disse que não bebia muito, e já bebi demais. – comentei rindo, e eu nem sabia direito do motivo de eu estar rindo. Ele estava sentado bem perto de mim, com um dos braços apoiados no sofá atrás das minhas costas.

- Tudo bem então, acabo com a garrafa sozinho... – ele derramou o resto do vinho, que encheu quase toda a sua taça.

- Como você bebeu quase duas garrafas de vinho sozinho e não está bêbado, e eu que bebi poucas taças estou rindo sem nem saber o motivo? – perguntei rindo.

- Acho que costume. – respondeu simplesmente e eu o senti mexendo em meu cabelo. – Tem alguma coisa em você que não tenha cheiro de nenhuma flor? –

- Acho que não. É o melhor cheiro do mundo... Só perde para alguns chocolates. – admiti.

Eu virei o rosto e o vi levando uma mecha de meu cabelo até seu nariz, inalando o cheiro do meu shampoo, desfrutando-o como se fosse um dos melhores cheiros do mundo, com os olhos fechados. Eu não sabia se era devido ao vinho, mas vi um semblante de paz e tranquilidade passar pelo rosto dele ao vê-lo inalar o perfume dos meus cabelos. Ele reabriu os olhos e eu vi seus olhos verdes brilhando. Sua mão soltou a mecha do meu cabelo e levou-a até o meu queixo, acariciando-o levemente com o polegar, subindo-o pelos meus lábios, acariciando primeiro o meu lábio inferior e deslizando logo em seguida para o superior.

Tirando o dedo dos meus lábios, subiu com a mão pela minha bochecha, acariciando-a também com seu polegar e as pontas dos seus outros dedos, infiltraram em meus cabelos, fazendo algo com que parecia uma massagem em meu coro cabeludo. Eu não sabia porque isso parecia tão bom, não sabia se era devido ao vinho, ou a sabe-se lá o que, mas meus olhos se fecharam e minha cabeça deitou um pouco mais contra a sua mão, querendo sentir mais ainda o carinho que ele fazia. Era tão bom! Para a minha surpresa, seus lábios roçaram nos meus, que se entreabriram levemente e sua língua deslizou para dentro da minha boca.

Com o beijo, que ele aprofundou mais ainda, trazendo meu rosto para mais perto dele, com a mão que agora estava toda em meus cabelos. Eu não entendia porque, era apenas um beijo, mas eu sentia meu coração batendo acelerado, mas o beijo não se prolongou por muito mais tempo, o ar noz fez necessário e o beijo foi interrompido.

- Desculpa. – ele pediu com os lábios ainda roçando nos meus.

- Acho melhor não misturarmos as coisas. – sugeri.

- É uma boa ideia... – sem pensar, apenas seguindo a vontade que crescia a cada segundo mais em meu peito, eu apenas levei minha mão até a barra do seu paletó e o puxei para perto de mim, unindo minha boca a dele, mais uma vez.

domingo, 21 de novembro de 2021

Capítulo 3


Tulsa - Oklahoma.

2019.

Pov. Bella

Os quase três dias que minha mãe passou fora da cidade foram bem tranquilos. Eu apenas trabalhei, aproveitei que a chuva havia passado e que segundo a meteorologia iria ficar um tempinho sem aparecer e dei uma limpada em meu jardim e estufa, tirando as flores e folhas feias e murchas, dando uma poda nas que precisavam e principalmente fazendo a adubação e fertilização, para que elas continuassem bem bonitas. Eu havia entregado todas as encomendas que não havia entregado no dia que não fui trabalhar e ainda fui contratada pelo prefeito para decorar sua casa para um jantar na próxima semana, além de receber um convite para ir, e minha mãe também, contudo ela já não estaria mais no país, e ao perguntar se poderia levar Alice comigo, e ele ter concordado, até porque ela também havia recebido um convite, eu a chamei para ir comigo.

No dia que minha mãe tinha que ir viajar eu mais uma vez a levei ao aeroporto e para evitar que ela ficasse de conversa com a minha vizinha e perdesse a hora de novo, eu fiz questão de busca-la em casa, faltando três horas para seu embarque. A recomendação para voos internacionais era chegar ao aeroporto faltando duas horas para o embarque. Eu conferi se ela estava levando tudo na bolsa, passagem, passaporte, dinheiro, visto, pastilhas para a garganta e principalmente uma muda de roupa e um casaco mais quente para o caso de fazer muito frio dentro do avião.

Desde que ela voltou de Washington e perguntou se eu havia visto Edward de novo, e eu realmente não havia visto, ela não voltou a tocar no assunto dele novamente, não perguntou se eu voltei a vê-lo e nem me fez prometer não chegar perto dele mais uma vez. Mamãe embarcou e eu fui para o trabalho. Hoje eu tinha que terminar de preparar os arranjos e buquês para a festa do prefeito de amanhã.

No sábado, dia da festa, Alice foi mais cedo comigo para a casa do prefeito para me ajudar a arrumar as coisas, na verdade ela foi fofocar comigo sobre seu último encontro mal sucedido enquanto eu trabalhava. Enquanto eu colocava os arranjos e buquês nos vasos nos lugares pré definido antes pela esposa do prefeito e eu, nós desviávamos das outras pessoas que estavam colocando a mesa e arrumando a casa para o jantar desta noite, e com a senhora O’Brien andando atrás deles para ter certeza de que tudo estaria muito bem feito para hoje à noite, eu ainda não sabia sobre o porquê dessa festa hoje, mas eles estavam muito empolgados.

Depois de pronta eu voltei para a loja depois de deixar Alice em casa, eu ainda tinha algumas encomendas para hoje, e depois fecharia a mesma até segunda feita, já que domingo era meu dia de folga. Entreguei os arranjos e buquês que tinham de encomenda e segui para a minha casa, para onde poderia me vestir e ficar pronta até a hora que havia combinado com Alice.

Tomei meu banho lavando meus cabelos. E enquanto eu secava meu cabelo, deixando-o com algumas leves ondas, eu fui bebendo um pouco de chá, Alice brincava falando que eu era inglesa ao invés de americana de tanto que eu bebia chá, mas não podia negar, que sentir o gosto quentinho descendo pela minha garganta dava uma paz. Fiz uma maquiagem leve, já que nunca gostei de maquiagem pesada ou como as pessoas costumam chamar reboco e fui me vestir. Coloquei um vestido fresco, já que a agora estávamos com o clima quente, tamanho midi e da cor marfim e com alças finas e decote quadrado, a parte do espartilho era feito com uma renda. O tecido era coberto por estrelas, bordado com miçangas brancas e lantejoulas prateadas, um leve efeito ombre na saia, que era quase imperceptível. Coloquei um salto nude e já estava pronta, mandei uma mensagem para Alice e ela ao confirmar que ela estava pronta, saí de casa e segui para a dela.

Eu deveria conhecer Alice melhor, quando ela disse que já estava pronta, significava que ela estava começando a se vestir. Alice sendo Alice! Depois que eu cheguei a sua casa, demorou mais vinte minutos até ela finalmente entrar no carro, pelo menos, graças a Deus, nós chegaríamos na festa com apenas alguns poucos minutos de atraso.

Ao todo tinha uns dez convidados na festa, eu conhecia todos. Eram donos de alguns dos negócios mais lucrativos da cidade. Do escritório do corretor de imóveis até a loja de movéis sob medida, o dono da tinturaria, Alice representando a loja dela e eu a minha floricultura e mais alguns. Ao reconhecer os convidados, eu havia entendido o motivo da festa, era sobre a reforma na cidade, as pessoas que mais precisavam ou mais cobravam pela reforma e os donos e donas dos negócios mais lucrativos. 

Todo mundo, assim que me via, perguntavam onde estava a minha mãe, a resposta já saia até de forma automática. Minha mãe foi visitar uns parentes distantes, e a pergunta era sempre seguida do motivo de eu não ter ido junto, e a resposta também era automática eu tinha que trabalhar. Eu parei de dar as mesmas respostas quando a senhora O’Brien puxou eu e Alice de lado e começou a comentar sobre as flores, usando palavras como perfeitas, cheirosas e frescas.

- Essa aqui é a responsável pelas melhores flores da cidade. – eu ouvi a voz do prefeito O’Brien, vindo de trás de mim. – Minha esposa não vive mais sem ela... Acho que prefere mais a ela do que a mim, o próprio esposo. – brincou e ao me virar para saber com quem ele estava falando eu dei de cara com Edward, em um belíssimo e caro terno Armani. – Conheço desde que nasceu, e preciso dizer... Tem uma ótima mão para plantas desde criança... – Edward me encarava sorrindo levemente. – Todo final de primavera, no aniversário da cidade, temos alguns prêmios que são dados a população, e desde criança a Bella ganhava com o melhor jardim. Não tem nem mais concorrência... – brincou.

- Já perdi as contas de quantas vezes ganhei. – brinquei.

- Edward. Essa é a Isabella... Bella... –

- Eu já o conheço senhor O’Brien... – expliquei.

- Foi a senhorita Swan que me explicou onde ficava o escritório do senhor Biers. – emendou ele.

- Oh sim..., mas a senhoria Brandon, acredito que não conheça... –

- Não. A senhorita Brandon eu não conheço. –

- Alice este é Edward Cullen. Edward essa é a Alice. Ela e a Bella são amigas desde... Sempre! Alice herdou a loja de roupas da mãe, que faleceu a um ano, a loja que está no bolo da repaginação, que comentei com o senhor, fica duas ruas atrás da floricultura. –

- Oh sei qual é... É um prazer senhorita Brandon e sinto muito pela sua mãe. –

- Obrigada senhor Cullen e o prazer é meu. –

- Bom, senhoritas e meu amor... Vou terminar de apresenta-lo aos outros convidados. Com licença. –

- Garotas. Eu volto em um minutinho. – e a senhora O’Brien se afastou.

- Esse é o cara que você falou? – Alice perguntou baixo e eu assenti. – Gato! –

- Alice! – e eu a repreendi e ela começou a rir e eu a acompanhei.

Meia hora depois, todos já tinham chegado e já tinham sido apresentados ao Edward e o jantar foi servido. Ao termino do jantar, onde todos se dirigiram para o jardim dos O’Brien para continuar a festa com a sobremesa, mais vinho e café, eu me afastei um pouco deles quando meu telefone tocou, com a foto da minha mãe aparecendo na tela.

- Oi mãe. –

- Oi meu amor. Como está? – 

- Ótima e a senhora? – perguntei andando pelo jardim, na parte que estava vazia e que era um pouco iluminado pelos pequenos postes que tinham ali, eu conhecia aquele jardim como a palma de minha mão, a senhora O’Brien não parou de me perturbar até eu arrumar o jardim dela. – Já chegou? –

 - Ótima. Estou ótima. E sim, já estou na casa de seu tio, ele lhe mandou um olá e um beijo. –

- Manda outro para ele. Foi tudo bem na viagem? –

- Ah... Nunca é perfeita. A conexão em Berlim atrasou mais do que o previsto o que atrasou toda a viagem, mas já estou em casa e bem.

- Que bom... –

- Que música é essa que eu estou ouvindo no fundo? – perguntou.

- Está tendo uma festa na casa do prefeito e ele me convidou. – expliquei. Obviamente não contei o motivo da festa e nem quem estava aqui, era capaz dela se materializar ao meu lado só para me tirar daqui e me arrastar pela orelha até em casa. – Todo mundo perguntou sobre a senhora e falaram que, caso eu falasse com a senhora, lhe desejasse uma boa viagem. –

- Eles são uns amores. – disse simplesmente. – Vou deixar você curtir a festa e vou descansar um pouco aqui. Amanhã eu te ligo. –

- Sim senhora. Beijos. Eu te amo. –

- Eu também te amo minha menina. – minha mãe desligou o telefone e eu guardei meu celular na pequena bolsa de mão que carregava comigo.

- Isabella. – eu ouvi a voz de Edward vindo de trás de mim.

- Oh. Olá senhor Cullen. –

- Quando vai parar de me chamar assim? –

- Quando parar de me chamar de Isabella. – retruquei.

- Bella? – perguntou e eu assenti sorrindo. – Então, Bella, aconteceu alguma coisa? Se afastou da festa. –

- Minha mãe. – expliquei. – Ela acabou de chegar na casa do meu tio e me ligou para me avisar. – dei de ombros.

- Espero que tenha feito uma ótima viagem. –

- O que me lembra... Perdoe-me pela forma como ela falou contigo naquele dia. Ela nunca tinha feito aquilo e... –

- Relaxa... Ela não é a primeira pessoa que implica comigo. –

- Mas com certeza é a primeira que obriga a filha a se afastar de você. – comentei e uma de suas sobrancelhas arquearam em confusão. – Minha mãe me fez prometer que eu não iria me reaproximar de você. – respondi dando mais alguns passos e me sentando em um dos bancos que tinham ali.

- O que eu fiz? – perguntou se sentando ao meu lado e eu dei de ombros.

- Não faço a ideia. Ela cismou que está com a intuição de que você não presta. – respondi sinceramente. – Que você é de cidade grande e que quando vem para cidade pequena destrói tudo e depois parte para outra sem o menor peso na consciência... Que você vai destruir a cidade... –

- Diz para a sua mãe que eu nasci nos subúrbios de Glasgow, não sou de cidade grande. – e eu pensei um pouco.

- É escocês? – perguntei e ele assentiu. - Melhor nem comentar que o senhor é britânico, caso contrário ela começa a implicar com o fato de você não ser americano. – e ele balançou a cabeça sorrindo. – Então, podes me contar quais serão os prédios que serão repaginados? – perguntei e ele me encarou com o canto dos olhos. – É segredo? –

- O da senhorita não será. –

- Ótimo. Porque eu gastei uma pequena fortuna, que eu não tinha para arrumar aquela loja... – resmunguei. – Na verdade, eu gasto uma pequena fortuna quase todo ano, porque as lojas do lado estão causando infiltração nas minhas paredes. De seis em seis meses tem que pintar as paredes ou então fazer alguma reforma. –

- O prefeito me falou isso, as lojas do lado serem reformadas, para acabar com esse problema, talvez deva dar uma mexida nas paredes, mas ficará perfeito e não terá que mexer nunca mais. –

- Graça a Deus. –

- Agora... Eu tive uma ideia. Acho que vou precisar da ajuda da senhorita para reformar as lojas. –

- Não sou empreiteira e nem engenheira. –

- Não com isso. – respondeu. – O prefeito disse que você tem as melhores plantas da cidade, além de ter uma mão verde perfeita. Pensei que a senhorita poderia me ajudar em decorar as lojas. Se tiver meios. Não sei quem é o seu parceiro para lhe vender as flores e... –

- Sou eu mesma. – ele me encarou. – Eu planto nos fundos da minha casa. –

- Então não é produção em larga escala? –

- Não. Mas consigo dar conta dos pedidos da cidade, e... Fui eu quem fez esse jardim. Quando é algo grande assim, eu compro a muda e cuido dela em casa até ela estar em um tamanho adequado e faço o replantio. – expliquei.

- Então se eu pedisse para fazer o paisagismo da loja você conseguiria? –

- Sim. Só precisaria ver a loja pronta para eu saber quais plantas eu poderia usar e em qual lugar. E eu garanto, as plantas em que eu coloco a mão, nenhuma morre, pelo menos por causa de plantio, agora, se as pessoas para quem eu vendo não cuidam direito, molham demais e etc., já não é culpa minha! Três vezes ao ano o prefeito me chama para dar uma geral no jardim dele, e até agora, já tem uns quatro anos, não precisei repor nenhuma planta. Apenas as anuais que a senhora O’Brien insiste em ter, mesmo sabendo que após um ano teria que replanta-la. – expliquei.

- Muito bem. Esses dias eu andei dando uma volta pela cidade e vendo o que teria que reformar, é muita coisa, é capaz de eu ter que passar mais de um ano na cidade. – comentou consigo mesmo suspirando. – Me acompanharia em um jantar? – eu o olhei encarando-o. - Para conversarmos sobre o paisagismo. – respondeu.

- Ah sim... Claro, pode ser. –

- E quanto a sua mãe? Não vai se importar sobre o fato de você sair comigo. –

- Em primeiro lugar, é a trabalho. Em segundo lugar, ela não está no país. E em terceiro lugar, ela não precisa saber. Eu já tenho vinte e oito anos, acho que eu posso decidir com quem eu saio ou converso, ou não. –

- Qual é o melhor dia para você, então? –

- Quando você puder. –

- Quarta? – eu pensei um pouco. – Claro. Quer anotar o meu telefone para confirmarmos o dia e o horário? –

- Sim. – e ele pegou o seu Iphone de dentro do bolso de seu paletó e me entregou, desbloqueado. Entrei na pasta de telefone e digitei meu número o salvando, e aproveitei e liguei para o meu celular, para que eu pudesse salvar o seu número também. Deixei dar dois toques e desliguei a chamada, entregando o telefone a ele. – Obrigada. – eu peguei meu celular vendo, a chamada perdida de um número desconhecido e salvei seu número. – Pronto! –

- Bella... – e eu ouvi a voz de Alice, me chamando enquanto se aproximava. – Vamos? Está ficando tarde. –

- Claro. – eu me levantei do banco e Edward levantou junto. – Nós vemos depois, Edward. –

- Até breve, Bella. – e como eu tinha mania desde sempre, me aproximei dele para dar-lhe dois beijos na bochecha, do mesmo jeito que minha mãe havia me ensinado desde que eu era criança. De início, ele ficou meio confuso, mas retribuiu.

- A propósito... – ele falou no meu ouvido. – A senhorita está lindíssima. – comentou deixando meu rosto corado.

- Obrigada. – nós nos afastamos e eu segui com Alice para o meio da festa. Eu me despedi das pessoas e segui para onde meu carro estava estacionado.

Durante todo o caminho até a sua casa, ela foi perguntando o que eu e Edward estávamos conversando no escuro, e eu disse simplesmente que ele estava me convidando para trabalhar com ele, fazendo o paisagismo das novas lojas. Apenas isso, até porque era basicamente isso o que havíamos conversado durante o pouco tempo em que ficamos ali naquele jardim.

Deixei Alice em casa, e após ganhar um beijo na bochecha, ela desceu do carro e eu segui para a minha casa. Estacionei o carro na garagem e segui para a minha casa, após conferir que tudo estava bem fechado, mesmo eu tendo fechado antes de sair de casa, segui para o meu quarto, tirando minha carteira e celular de dentro da bolsa de mão e colocando em cima da cômoda próxima a porta, tirei meus saltos, guardando os saltos e a bolsa no meu armário e após pegar uma toalha e um pijama limpos, segui para o banheiro. Tomei um banho, tirando minha maquiagem e escovando os dentes e fui para a cama. Ao pegar meu telefone em cima da cômoda ao ir para a cama, vi que eu tinha uma mensagem nova, e ao desbloquear o telefone, vi que era uma mensagem de Edward.

Boa noite e durma bem!

Eu não sabia o motivo de um sorriso ter aparecido em meus lábios, mas eu respondi de volta a mesma mensagem que ele me mandou, e ao por o telefone na mesinha de cabeceira ao lado da cama, apaguei o abajur e tratei de ir dormir.

Domingo eu não trabalhava, pelo menos na loja, mas trabalhava bastante no jardim, principalmente por ele ser bem grande, eu não conseguia cuidar dele de uma única vez, então todo mundo eu cuidava de uma área, e ia anotando na minha agenda para eu saber exatamente qual área havia sido cuidada e qual faltava. Hoje eu me dediquei mais a parte do pomar. Colhi as frutas já maduras que estavam prestes a passar do ponto, podem os galhos que estavam ficando feios e adubei e fertilizei as raízes das árvores. No final do dia, eu tinha uma cesta enorme com maçãs, limão siciliano, laranja e amora. Aproveitei e dei uma colhida em algumas framboesas e mirtilos, para fazer uma deliciosa geleia de frutas vermelhas. O resto da tarde, eu fiquei na cozinha fazendo a geleia, tortinhas de maçã e biscoitinhos de laranja para eu levar amanhã para a loja, além de fazer um pão novo para que eu pudesse tomar meu café amanhã, e por volta das 22h, eu fui dormir.

Segunda feira começou como qualquer outro dia, graças a Deus, já tinha um bom tempo que eu não tinha aquele sonho de novo ou sentia alguma dor, caso eu voltasse a ter o sonho ou sentir a dor, sem motivo algum de novo, eu procuraria um médico psiquiatra, contudo, teria que ser antes da minha mãe voltar de viagem.

Já vestida para o trabalho, com as flores colhidas, já no porta malas do carro e os biscoitos e tortas também, segui para o trabalho seguindo a minha rotina de sempre. Chegava mais cedo para arrumar tudo, fazer os arranjos e preparar as flores avulsas e no horário de sempre abri a loja. O dia seguiu com toda a tranquilidade, entrava e saia clientes da loja e durante o tempo em que eu ficava sozinha, eu conversava com a minha mãe por mensagem no WhatsApp, mesmo com o fuso horário, havia sido minha mãe quem havia começado a conversa. Ouvi o barulho do sininho da porta e ao desviar os olhos da última mensagem da minha mãe, dei de cara com o prefeito e Edward.

- Bom dia senhores. – respondi minha mãe e deixei o telefone de lado.

- Bom dia senhorita. – e o prefeito respondeu.

- Nos que posso ajuda-los? –

- Em duas coisas. – os dois se aproximaram do balcão onde eu estava sentada, e os olhos do prefeito foram atraídos pela bandeja ao meu lado. – É tortinha de maçã? – perguntou e eu assenti. – Maçã do seu pomar? – eu assenti de novo.

- Colhi ontem mesmo. Fique à vontade. – ele pegou, sem pensar duas vezes, uma tortinha e mordeu metade e fechou os olhos soltando um gemido. – Essa é a melhor tortinha de maçã que eu já comi. Experimenta, Edward, experimenta. – antes que ele pudesse falar mais alguma coisa seu telefone tocou. – Com licença... – ele atendeu o telefone. – Oi meu amor... Por quê eu estou falando de boca cheia? Estou na floricultura e a Bella trouxe tortinhas de maçã... – respondeu indo para a porta da frente da loja.

- Bom dia senhorita Swan. –

- Bom dia senhor Cullen. – ele balançou a cabeça rindo ao ouvir o senhor.

- Como está? –

- Ótima. E o senhor? –

- Muito bem. –

- Então, o que desejam? – perguntei quando ele olhou para a bandeja com tortinhas e biscoitos. – Pode pegar caso deseje, é um mimo para os clientes. – respondi e ele pegou uma tortinha.

- Viemos ver os estragos em suas paredes. – explicou mordendo a tortinha. – É bom... Muito bom. Quer dizer que além de uma boa mão para plantas, também tem uma boa mão para culinária? – dei de ombros.

- Receita de família. – eu vi algo cintilando em seus olhos. – Está chorando? –

- Não. Desculpa. É que, eu não sei como, mas esse gosto me fez lembrar de umas coisas... –

- Boas? –

- Sim e não. – respondeu mordendo o resto da tortinha e eu apoiei meus dois braços no balcão. – Me faz me lembrar de uma garota que eu conheci. – comentou. – Eu gostava muito dela. Meio que crescemos juntos... –

- Sua namorada? –

- Foi minha esposa, por alguns anos, até que ela faleceu. –

- Sinto muito. – ele respirou fundo.

- Não se preocupe. Já tem tempo, já passou. – antes que mais algo pudesse ser dito o prefeito voltou.

- Muito bem, me perdoem a demora. Bella, não sei se o Edward já comentou que viemos ver os estragos em sua parede... –

- Sim, ele já comentou. Podem ficar à vontade. –

- Enquanto isso pode fazer um buquê de tulipas e... Me sugere algum outro para variar? –

- Está manhã colhi algumas Lisianthus, o que me diz? -

- Que eu não faço a mínima ideia de que flor é essa. – respondeu e eu balancei a cabeça sorrindo enquanto levantava do meu banco.

- É essa aqui... – caminhei até onde eu havia colocando-as e peguei uma de cada, já que eu tinha quatro cores disponíveis. – Elas parecem com rosas, mas as suas pétalas são mais finas e delicadas. Eu tenho disponível nessas cinco cores: branco, rosa, rosa escuro, lilás e roxo. Geralmente são usadas mais em casamentos, mas... – dei de ombros e ele ficou olhando para as flores em minhas mãos.

- Branca e rosa claro. – respondi.

- Ótima escolha... –

- E as tulipas, rosa claro. –

- Sim senhor. Fiquem à vontade. –

Enquanto eles verificavam as minhas paredes e notavam que eu precisava fazer uma reforma nelas de novo devido a infiltração no prédio ao lado, eu escolhia as melhores flores para montar o buquê. Eu tinha os olhos em meu trabalho e os ouvidos na conversa dos dois, aliás, eu queria saber qual era a gravidade do meu problema. E como eu já sabia, se o problema nos prédios ao lado melhorasse, melhoraria a minha parede de vez, algo que já sabia e que já havia comentado inúmeras vezes com o prefeito, mas o povo ainda não havia votado na reforma da cidade, então mexer nos prédios históricos do lado era impossível, até agora.

- Anotou tudo certinho? – ele perguntou a Edward ao se aproximar de mim e me entregar o seu cartão de crédito. 

- Sim. O problema aqui é rápido, acho que em dois, no máximo três dias, as paredes ficaram consertadas para nunca mais dar problema. Mas primeiro, precisamos mexer urgentemente nos prédios ao lado. Espero que o barulho da obra não atrapalhe a senhorita. – comentou me encarando quando entreguei o cartão e os dois buquês para o prefeito.

- Se não me causar mais nenhum problema, serão como músicas para os meus ouvidos. – brinquei e ele balançou a cabeça rindo.

- Edward Cullen rindo? Isabella, você realmente faz milagres. – comentou rindo também. – Obrigada querida. –

- Disponha. – comentei me sentando novamente em meu banco. – E mande um beijo a sua esposa. –

- Sim senhorita. – ele olhou novamente para as tortinhas.

- Pode pegar! – ele pegou mais duas, colocando uma quase inteira na boca.

- Te espero lá fora, Edward. – ele saiu andando com a boca cheia, e fazendo malabarismo, segurando os dois buquês com todo o cuidado do mundo em uma das mãos e a tortinha na outra.

- Já estou saindo. –

- Tudo certo para quarta? –

- Sim. – respondi apoiando meus braços na bancada. – Só preciso que me confirme o local e a hora. –

- O que me sugere como local? Eu não conheço a cidade ainda. –

- Depende. Acho que, para o seu perfil, não tenha lugar nenhum, pelo menos que eu conheça. –

- Meu perfil? – questionou com a sobrancelha arqueada.

- Rico! – disse simplesmente e ele balançou a cabeça sorrindo.

- Sou bastante exigente, mas não sou o tipo de pessoa que frequenta lugares apenas pelo meu perfil. – rebateu. – Então, posso sugerir minha casa? –

 - Sabe cozinhar? –

- Bom, admito que não tão bem quanto a senhorita, pelo que pude ver com a tortinha, mas eu me esforço. –

- Oh é um menino esforçado? – brinquei. Eu não fazia ideia de onde havia tirado essa intimidade com ele, mas acabou saindo sem querer.

- Não me provoque. –

- Se não? – eu não conseguia parar, tinha algo que emanava dele, que fazia com que a minha educação sumisse, e que eu agisse como se tivesse toda a intimidade do mundo com ele, como se o conhece a décadas. Ele não respondeu, apenas segurou meu queijo com seu dedo indicador e polegar e aproximou meu rosto do dele, e eu vi um brilho, o qual eu não havia conseguido identificar, passando pelos seus olhos.

- Não queira saber, florzinha! – ao falar isso, eu senti meu peito doer de novo, e uma névoa surgiu na frente dos meus olhos, e eu não o via mais a minha frente, e eu via, uma espécie de cena, meio esbranquiçada de duas pessoas, um casal, a mulher toda vestida de branco e o homem de preto.

- Sabe que se minha mãe souber, ela te mata, e eu... eu não conseguiria viver com essa culpa. – eu ouvi a mulher falando enquanto ela olhava para o campo de flores a sua frente, o homem estava atrás dela, de costas para mim, eu não conseguia ver o seu rosto e nem o da mulher.

- Sabe que a sua mãe não me assusta. – a voz dele era grossa, mas mesmo assim linda. – Sabe que eu faria qualquer coisa, e passaria por cima de qualquer um para ficar com você, florzinha! –

- Bella... Bella... – eu comecei a ouvir meu nome soando ao longe, eu balancei a cabeça e pisquei os olhos e a cena havia sumido, Edward estava na minha frente de novo me olhando preocupado. – Bella, você está bem? –

- Sim... – minha voz saiu quase inaudível, e eu apenas limpei a garganta. – Sim, não foi nada. – menti, e pela primeira vez, meu peito não doía mais, ele apenas queimava, mas um calor suportável, levemente incomodo, mas suportável. – Eu lembrei de uma coisa que eu esqueci e, minha mente viajou... Apenas isso. –

- Certeza? –

- Absoluta. – garanti.

- Eu te vejo na quarta, então. Te mando uma mensagem para combinar o horário certinho com você. –

- Claro, sem problemas. Até quarta. – ele saiu da loja e eu respirei fundo algumas vezes. – Meu Deus, o que foi isso? – perguntei para mim mesma. – Eu estou realmente ficando louca! – eu dei um pulo na cadeira ao ouvir meu celular tocando. – Alô. –

- Oi amiga. – eu suspirei aliviada ao ouvir a voz da minha amiga.

- Alice, por favor, corre aqui. Preciso falar com você! -

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Capítulo 2

Tulsa – Oklahoma.

2019.

Bella.

O dia seguinte chegou como prometeu, eu ainda me encontrava cansada, mesmo eu tendo dormido a noite inteira eu sentia o cansaço no meu corpo pela noite anterior mal dormida. Quando eu acordei, a primeira coisa que eu fiz foi conferir se a minha mãe ainda estava em casa, e a melhor forma de fazer isso sem sair do quarto, era ver se o carro dela estava parado no meio fio de casa. E não estava, ela tinha ido embora! Voltei para a cama para arruma-la e vi a hora, já havia passado das dez, e eu não havia aberto a loja hoje. Droga! Mal sentei na cama e vi mais de dez conversas no WhatsApp como mensagens não lidas, e só da Alice eram mais de vinte mensagens perguntando se eu estava bem.

A maioria das mensagens era se eu estava bem, porque haviam passado na frente da floricultura e ela estava fechada, ou então que alguém tinha feito encomenda para hoje e a loja estava fechada. Para todas, com exceção de Alice, eu mandei uma mensagem padrão, pedindo desculpas pelas entregas não feitas, e inventando uma dor de cabeça por não ter aberto a loja e que sem falta amanhã tudo seria muito bem entregue. Já para Alice, que sabia de toda a história dos meus pesadelos, eu contei a ela, que havia passado mal no final da tarde, da discussão do médico com a minha mãe e que das duas uma: ou eu não tinha escutado o despertador, ou minha mãe entrou no meu quarto enquanto eu dormia e o desarmou, o que era mais provável, eu conhecia muito bem a minha mãe.

Deixei o telefone em cima da cama, agora feita, e fui tomar um banho. Por mais que não fosse abrir a loja hoje, eu também não iria ficar o dia inteira enfurnada debaixo dos lençóis, por mais que o tempo nublado, chuvoso e friozinho pedisse isso. Uma boa xícara de chá quente e um livro! Mas não, eu me recusava a ficar na cama. Tomei meu banho e me vesti, e enquanto colocava uma roupa quentinha, eu só ouvia meu celular vibrando anunciando novas mensagens que chegavam. Todas eram mensagens de clientes, mandando apenas um melhoras querida! ou então ainda bem que não é nada grave! E uma era de Alice, me chamando para ir almoçar com ela e a acompanhar para escolher as novas peças na fábrica para a sua loja. E eu aceitei!

Ela marcou comigo meio dia no restaurante da Sue. Eu já estava pronta e não iria trocar de roupa, apenas coloquei um suéter por cima e um par de botas para manter meus pés quentinhos. Eu fiz uma maquiagem bem leve, apenas para esconder a minha cara de cansaço e as fracas olheiras que começavam a aparecer e peguei minha bolsa no armário, colocando minha carteira e pegando um casaco mais grosso do cabide para o caso de esfriar mais e desci as escadas. Em cima da bancada da cozinha, junto a um bolo de limão siciliano, que estava inteiro, e que eu não havia feito, provavelmente minha mãe havia feito antes de ir embora, tinha um papel dobrado, e pelo meu nome anotado na frente do papel eu reconheceria a letra da minha mãe.

Bella. Eu precisei ir embora, tenho hora marcada no consulado grego em Washington amanhã, então precisei ir para casa terminar de arrumar as minhas coisas, pois vou pegar o avião hoje à noite. No final da tarde eu passo aqui para comermos esse bolo com uma boa xicara de chá. E se não for pedir muito, e se você puder me levar ao aeroporto hoje à noite, eu ficaria muito agradecida. Eu te amo, mamãe.  

Peguei meu telefone no bolso da minha calça e as chaves do carro e de casa na tigela que ficava no aparador próximo a porta e saí, trancando a porta e indo para a garagem e entrando no carro, mandei uma mensagem para a minha mãe.

Ok mãe. Eu te levo no aeroporto hoje à noite. Te espero em casa depois das cinco. Vou sair agora com a Alice, volto mais tarde. Eu também te amo. Enviei a mensagem para a minha mãe e enviei outra para Alice, anunciando que já estava indo para o Sue’s. Joguei o celular no banco do carona, onde estava a minha bolsa, coloquei o cinto e saí da garagem. Eu cheguei primeiro que Alice no restaurante, mas ela já havia deixado reservado uma mesa por telefone e em menos de cinco minutos após a minha chegada, Alice chegou.

- Me explica essa discussão da sua mãe com o médico. – pediu após termos feito nossos pedidos.

- Você conhece a minha mãe. O médico disse que não tinha problema nenhum comigo para eu sentir as dores e que a única explicação plausível seria algum trauma psicológico. Minha mãe começou a falar que o médico estava dizendo que eu era maluca, que não tinha problema nenhum com o meu corpo e sim com a minha cabeça. Que depois de vinte anos ele não havia encontrado o motivo das dores que eu sentia, então que ela tinha que procurar um médico mais competente... – eu dei de ombros.

- Nossa senhora... – ela passou a mão pelo rosto. – Mas que é estranho é. Te conheço desde sempre e você sempre teve essas dores que ninguém descobriu o que é. –

- Ela geralmente aparece após um sonho ruim, o mesmo sonho ruim que eu tenho desde criança e que minha mãe cisma em dizer que foi um filme de terror que eu vi quando era mais nova. Eu já cansei de pesquisar e nunca achei nenhum filme que chegasse perto do que eu sonho, não tem como ser um filme, mas qual outra explicação teria? –

- Vidas passadas? –

- Alice! Eu estou falando sério. –

- Eu também! Você não achou um filme que poderia te causar esse sonho. Sua mãe jura de pé junto que você nunca fez uma cirurgia para ter essa marca. A única explicação é essa. Vida passada! –

- E o que aconteceu na minha vida passada? Alguém me matou? –

- Pelo visto. – deu de ombros. – Mas você me disse que ontem sentiu dor mais no final do dia. O que aconteceu exatamente? –

- Chegou um cara lá na loja. Ele queria informação de onde ficava o escritório do Biers e... – dei de ombros e parei de falar ao ver o garçom trazer nossos pedidos. – Obrigada! – agradeci quando ele colocou os pratos a nossa frente e com um leve aceno de cabeça, se retirou. – E quando eu olhei para ele eu senti dor. Deveria ser o cansaço. Eu tinha discutido com a minha mãe pouco tempo antes. Foi um combo! – dei de ombros de novo. – Pesadelo. Forçando um sorriso na cara o dia inteiro enquanto queria apenas ficar debaixo das cobertas, discussão com a minha mãe... – suspirei. - Eu concordo com o médico. A única explicação é algum problema psicológico, mas nunca que a minha mãe vai permitir que eu procure um psiquiatra ou psicólogo. –

- Sua mãe vai viajar. Vai ficar mais de um mês fora. Aproveita e vai. –

- Ela nunca mais vai falar comigo quando descobrir. –

- Prefere ficar com a dúvida pelo resto da sua vida? – eu simplesmente passei a mão pelo rosto. – Agora vamos mudar de assunto... Quem é esse cara que pediu informação ontem? – perguntou levando um pedaço de peixe a boca.

- Sei lá. – dei ombros cortando meu filé. – Era rico. Parecia ser muito rico. –

- Era bonito? –

- Era. Tinha um ar meio sombrio e superior, mas era bem bonito. Acho que ele vai se mudar para cá. Sabe-se lá Deus porquê. –

- Se eu tivesse esse dinheiro todo que você comentou que ele parece ter, eu iria mudar bem longe de Tulsa. –

Eu e Alice continuamos conversando enquanto almoçávamos, e após o almoço e da conta ter sido paga, entramos em meu carro e eu fui dirigindo até o endereço indicado por Alice, onde ficava a fábrica de onde ela comprava as roupas para a sua loja. Nós ficamos lá um bom tempo, a tarde toda e meu carro veio lotado de sacolas com roupa. Tanto no porta mala, quanto no banco traseiro. Como ainda tinha tempo, antes de me encontrar com a minha mãe, segui para a loja da minha amiga e a ajudei a descarregar e a ajudei a arrumar as roupas nas prateleiras, manequins e cabides. Do mesmo jeito que Alice sempre me ajudava quando eu pedia, eu também a ajudava quando ela pedia.

Duas pessoas arrumando as coisas era muito mais rápido do que apenas uma, e um pouco atrasada eu cheguei em casa. Minha mãe já estava lá, não era novidade, eu estava apenas dez minutos atrasada, mas vendo como o jantar já estava quase todo pronto, ela não estava lá só a dez minutos. Como eu ainda teria que levar minha mãe no aeroporto, e a sua pequena mala de mão que estava parada próxima a minha porta lembrou-me disso, eu preferi tomar banho e me trocar só depois que eu voltasse de vez. 

Fui só até o banheiro para lavar as minhas mãos e fui para a cozinha encontrar minha mãe. Enquanto ela fazia o jantar eu colocava a mesa e ela ia perguntando o que eu havia feito o dia inteiro, já que não fui trabalhar, e respondi simplesmente o que havia dito mais cedo. Fui almoçar com a Alice e a acompanhei para comprar as novas roupas dela para a loja. Não comentei com ela sobre minha conversa com Alice, e quando ela perguntou o que tanto conversamos, disse que era apenas besteira e contando sobre o possível novo morador de Tulsa.

Nós jantamos com minha mãe contando que meu tio, que morava em Atenas, que eu nunca havia visto na vida, havia ligado perguntando como eu estava. Mas do mesmo jeito que eu nunca fui a Atenas, ele também nunca veio até Tulsa para me conhecer, um só conhecia o outro pelo que minha mãe falava, e que não era muita coisa também. Eu nunca entendi o fato de a minha mãe ser descendente de grego e nunca ter pego a dupla cidadania, ia a Grécia uma vez por ano, praticamente, e sempre tinha que viajar até a capital para pegar o visto para entrar no país. A desculpa dela era que minha avó faleceu antes de ela conseguir pegar o documento, e que ela não conseguia pegar através do meu tio, já que ele era da família do meu pai e não da família dela. E como minha mãe e nem meu pai, antes de falecer, tinham a dupla cidadania, eu também não conseguiria pegar.

Após o jantar, eu guardei toda a comida e deixei a louça com água na pia, iria lavar quando voltasse antes que minha mãe acabasse perdendo o voo por minha causa. A noite havia voltado a chover e a esfriar, e eu tratei de colocar o casaco que eu tinha no carro enquanto esperava minha mãe se despedir da vizinha, após eu ter guardado a mala dela no porta malas. Eu via pelo relógio do rádio do carro que nós iriamos nos atrasar se ela continuasse a conversar, caso eu abrisse a janela, iria entrar a água da chuva no carro e eu me contentei apenas em buzinar até ela entender que era para entrar no carro.

- Que má educação, Isabella. Não foi assim que eu te criei. – resmungou colocando o guarda-chuva encharcado no chão do banco do carona e colocando o cinto.

- Olha a hora dona Renée. – disse simplesmente saindo com o carro do meio fio.

- Minha nossa, já vai dar oito horas. –

- E seu voo saí em uma hora e a senhora batendo papo com a vizinha. – resmunguei. – Sabe que eu odeio dirigir rápido e na chuva então... – resmunguei.

Eu dirigi o mais rápido que conseguia, que meu medo de causar e sofrer um acidente deixava. O aeroporto era um pouco longe de casa e chovendo então... E para melhorar, minha mãe iria perder o voo, um acidente na rodovia causou um grande engarrafamento e não tinha como ela chegar a tempo no aeroporto, então todo o caminho eu tinha que ir ouvindo-a falar com a atendente do aeroporto para trocar a sua passagem, mesmo que estivesse em cima da hora. Por ser um voo que saia várias vezes ao dia, ela havia conseguido mudar o voo dela para três horas mais tarde, e eu teria que ficar com ela, até ela finalmente embarcar. Eu chegaria muito tarde em casa!

- Isabella? Isabella Swan? – ouvi meu nome ser chamado após chegar no aeroporto e deixar minha mãe sentada em um banco e ter ido comprar um café para nos esquentar, estávamos na primavera e hoje parecia que estávamos entrando no inverno.

- Oh... – eu dei de cara com o homem que eu havia dado informação ontem. E dessa vez, não senti a pontada em meu peito, o que comprovava que era aquela dor, possivelmente psicologia, era apenas por estar sendo um dia ruim. – Olá senhor Cullen. –

- Nada de senhor, por favor, me faz me sentir um velho. –

- É apenas educação. – dei de ombros.

- Vai viajar? – questionou quando a atendente me entregou dois copos de café. – E com companhia... – eu balancei a cabeça sorrindo e negando.

- Eu não vou viajar. Nunca deixei Tulsa. – expliquei. – Minha mãe vai visitar uns parentes e eu vim trazê-la ao aeroporto, mas ela perdeu o voo e agora estou esperando com ela pelo próximo. –

- Um expresso, por favor. – e ele pediu a atendente enquanto tirava uma nota de vinte do meio de um bolo grosso de dinheiro, com várias notas de cem. – Ela vai e você não? – dei de ombros.

- Não os conheço, então não faço muita questão de ir. Adoraria conhecer a Grécia? Com toda a certeza, principalmente após ver os diversos programas sobre o país tanto no Discovery, National Geographic e History Channel. Mas, segundo minha mãe, o parente que ela vai visitar é longe de tudo então não valia muito a pena eu ir. -  

- Sua mãe vai para a Grécia? – perguntou desviando o olhar da atendente e me encarando.

- Atenas. Por quê? –

- Nada. É um país maravilhoso, é uma pena que a economia seja ruim. –

- Conhece? – ele assentiu bebendo um gole do seu café quente.

- Já passei umas férias por lá. Tanto no continente quanto nas ilhas... E as ilhas... Uma melhor do que a outra. –

- Ah Deus... Me perdoa, mas a inveja está batendo... – ele balançou a cabeça rindo.

- Por que não vai por conta própria? –

- Não gosto de viajar sozinha. E além do que, não é seguro uma mulher viajar sozinha. –

- Sua mãe não viaja sozinha? – retrucou enquanto andávamos pelo terminal.

– Meu tio a busca e a leva para o aeroporto. A viagem dela é aeroporto para casa e de casa para o aeroporto. – dei de ombros. – E você. Vai viajar? –

- Vou. Vou até New York, mas volto em três dias. –

- Vai se mudar para Tulsa? –

- Vou. Por um tempo. Vou até New York, pegar alguns documentos e roupas, principalmente, e volto e fico de vez. –

- Por um tempo? – instiguei.

- Não devo ficar mais de um ano. – respondeu. – Vim apenas devido a um negócio com o prefeito e quando eu acabar o que eu vim fazer eu devo voltar. – explicou.

- O senhor trabalha com o que? –

- Eu tenho uma empresa de engenharia e... – o interrompi.

- Ah, o senhor foi chamado para fazer a reforma na cidade? –

- Exatamente. –

- Isabella, você demorou... – eu respirei fundo ao ouvir minha mãe resmungando.

- Estava cheio, mamãe. Desculpa. – eu entreguei o café a ela.

- Obrigada. Achei que meu voo ia sair e você não teria voltado. – ela bebeu um gole do café, fazendo um pouco de drama como sempre. – Está meio frio. – reclamou, deixando o copo de lado. Era completamente impossível estar meio frio, da atendente ter me entregado o café até eu chegar aqui não demorou nem cinco minutos direito. -  E quem é esse senhor? –

- Edward Cullen, senhora. – ele se apresentou. Eu não sei o que minha mãe viu ao olhar para Edward, mas eu vi seu rosto fechar imediatamente e um semblante de algo que parecia com ódio estampar em seus olhos, minha mãe me puxou para perto dela me tirando de perto dele e quase me fazendo derrubar o café.

- Mamãe! –

- E o senhor está indo embora de Tulsa, suponho? – sugeriu ríspida.

- Não senhora. Voltarei em três dias. –

- Que pena. – suspirou ela.

- Mamãe! – eu a repreendi baixo e ela apenas pegou seu café meio frio e a sua bolsa e tentou ir para o outro lado do aeroporto e tentando me arrastar junto. Edward visualizou alguma mensagem em seu celular antes de olhar para mim mais uma vez.

- Bom, eu já vou. Faça uma boa viagem senhora Swan. – parecendo uma criança da quinta série, minha mãe fez uma careta, bebendo mais um gole de seu café e intensificando mais ainda a careta. - Senhorita Swan, lhe vejo em três dias. –

- Boa viagem senhor Cullen. –

- Com licença. – ele saiu se afastando e em poucos segundos eu o perdi no meio da multidão.  

- Mamãe, que arrogância foi essa? – perguntei vendo-a se sentar na cadeira normalmente como se nada tivesse acontecido.

- Eu não gostei desse homem. –

- Por que? Acabou de conhecer. Ou por acaso, a senhora já o conhecia antes? –

- Cla - Claro que não, Isabella. – se apressou em dizer. - Nunca vi na minha vida. –

- Então como pode dizer que não gostou dele? –

- Eu não sei explicar, Isabella! Eu só não gostei! Ele não é da cidade, não confio em quem vem de cidade grande, porque eles vêm para cidade pequena destroem tudo o que podem e depois partem para a próxima sem nenhum peso na consciência... – eu não tive outra reação sem olhar para ela sem acreditar no que ela estava dizendo. Mamãe só podia estar ficando louca.

- Mamãe... Menos... – eu me joguei no banco ao lado do de onde ela estava sentada. – Ele foi chamado pelo prefeito para fazer a reforma na cidade. – expliquei.

- Pior ainda. Ele vai destruir a nossa bela cidade. –

- Bela cidade? Mãe, os prédios estão precisando de uma boa reforma. Todos eles! As paredes da minha loja estão ficando com início de infiltração de novo devido aos prédios velhos do lado. Já cansei de gastar dinheiro com um problema que só será resolvido consertando os outros prédios. – bufei bebendo meu café.

- Mas que arrumasse um empreiteiro da cidade. –

- Não tem nenhum! – eu tentava não gritar com ela. Isso era tão óbvio e ela sabia, ela esteve em todas as eleições para escolher o melhor projeto de reforma da cidade, e ainda havia me obrigado a ir junto. - Esqueceu que o prefeito fez uma espécie de concurso e ninguém gostou das ideias dadas? Ele chamou um de fora. Simples assim! –

- Isabella. – ela se virou de frente para mim. – Fica longe desse homem. – pediu de repente mudando o assunto.

- Por qual motivo, mãe? –

- Porque eu estou mandando, Isabella. Eu sou sua mãe e você tem que me obedecer. – respondeu rispidamente, como nunca tinha feito antes.

- Eu tenho vinte e oito anos, mamãe... – lembrei-a. – Já sou adulta e posso escolher com quem vou conversar. -

- Pode ter oitenta anos, eu vou continuar sendo a sua mãe! Eu senti uma coisa muito ruim vindo dele, então promete para mim, que nesse tempo que eu vou ficar fora da cidade, você vai ficar bem longe dele. Filha, por favor... Só para que eu possa viajar com o coração e mente tranquilos. – sua expressão ríspida mudou para uma expressão chorosa, ela iria fazer chantagem psicológica de novo para cima de mim.

- Tudo bem mamãe... – suspirei derrotada, eu sempre notava as chantagens psicológicas que ela fazia, mas por algum motivo que eu não sabia qual era, eu sempre cedia. - Ele provavelmente vai ficar ocupado com o trabalho dele, e eu com o meu. As chances de nos vermos será mínima. Não precisa se preocupar. –

- Obrigada, meu amor. – ela deu um beijo na minha bochecha.

Eu estava cansada, exausta e com dor de cabeça. Queria um banho quente e cama e ainda teria que esperar mais uma hora e meia até minha mãe embarcar. Durante todo o tempo em que fiquei com ela, ela ficou resmungando que havia sentindo algo estranho ao conhecer o Edward, era um pressentimento estranho, e os pressentimentos dela nunca falharam, como ela sempre dizia. Finalmente minha mãe embarcou em seu voo para Washington e eu teria alguns dias sem ela falando em minha cabeça.

Ela me fez prometer mais uma vez que eu ficaria longe do Edward e eu mais uma vez prometi e ao me dar um beijo na testa, ela seguiu para o seu embarque e assim que seu avião decolou eu fui embora. Eu ia me arrastando até o carro e com toda a calma eu fui dirigindo até em casa, e eu não podia deixar de escapar um gemido de muxoxo ao ver a pia cheia de louça suja me esperando na cozinha.

Enquanto eu lavava a louça eu fazia um xicara de chá bem quente para eu beber após um banho quente, eu sentia minhas mãos congelando devido a água fria que saia da torneira. Terminei de lavar a louça, sequei, guardei e peguei o bule de chá e a xícara e ao verificar que as portas e as janelas da casa estavam fechadas eu subi para o meu quarto, onde pude tomar, finalmente, um banho bem quentinho e ir para a cama. Após ir para debaixo das minhas cobertas, derramei um pouco de chá quente em minha xícara e após bebê-lo eu tratei de ir dormir.