domingo, 7 de novembro de 2021

Capítulo 1

Tulsa – Oklahoma.

2019.

Bella.

Eu não podia ficar mais feliz ao ouvir o barulho do despertador tocando, anunciando seu horário de cinco e meia da manhã. Escorreguei a mão por debaixo das cobertas tateando a mesa de cabeceira em busca do aparelho que apitava incansavelmente, e com a ponta de um dos dedos eu o desliguei fazendo o barulho parar. Geralmente quando o relógio apitava, eu levantava da cama animada para mais um dia no meio das minhas belas flores, contudo, com certeza esse seria um dos dias ruins que eu teria. Aquele maldito sonho apareceu de novo após anos, aquele maldito sono que acabava com toda a minha energia mesmo eu tendo dormido uma boa parte da noite muito bem, aquele maldito sono que ninguém conseguia explicar, e para piorar a situação, junto a ele a pequena queimação em meu peito no mesmo lugar onde ficava uma marca de nascença.

Cansada, sentindo que toda a minha energia havia sido sugada pelo pesadelo, empurrei as cobertas e fui me arrastando até o banheiro, talvez um banho quente fosse me fazer me sentir um pouco melhor, mas nem a água quente ou o cheiro do meu shampoo favorito foram capazes de espantar o ar sombrio do meu pesadelo, pelo visto teria que conviver pelo resto do dia com essa sensação ruim em meu corpo e mente e rezar para que na próxima noite eu tivesse um sonho bom, ou então nenhum sonho, foi o que eu havia pensado ao passar a mão pelo vão dos meus seios onde ficava a minha marca de nascença. 

De banho tomado, vestida e com os cabelos secos, eu saí do quarto em direção a cozinha em busca de algo para comer, e um leve toque de felicidade atingiu em cheio a minha alma ao me deparar com um pão de alecrim e sal grosso que eu havia feito na noite anterior e que por algum motivo havia me esquecido dele. Era o meu pão favorito, ensinado pela minha mãe e que segundo ela era receita antiga de família, e demorou uns bons anos até ela me ensinar a receita, e depois desse dia, quase toda semana tinha pão fresco de alecrim e sal grosso.

Enquanto a água esquentava para um chá, fui até o quintal dos fundos, tomando cuidado para não pisar fora das pedras feitas como calçada, eu não queria estragar a grama, principalmente após a chuva da noite passada, o chão deveria estar bem molhado. Caminhei até o meu pequeno pomar e colhi alguns limões sicilianos e ao dar uma pequena passada pela horta colhi também um gengibre e voltei para dentro de casa. Lavando muito bem os dois, principalmente o gengibre, cortei em rodelas um pouco grossas e coloquei-as dentro de uma xícara. Com a água fervida despejei-a na xícara e fui cortar uma fatia do pão, ele não estava quente, já que havia sido feito na noite anterior, mas ainda estava macio e fresco, e após uma pequena esquentada no forno elétrico ele estava tão quentinho que a manteiga chegava a derreter.

Com o sabor e aroma do pão quentinho e do chá de gengibre com uma rodela de limão eu senti que uma parte da sensação ruim havia sumido e que talvez isso fosse melhorar o meu dia. Café da manhã tomado, e após eu ter terminado de me arrumar e após ter escovado meus dentes, eu notei que a chuva havia voltado a cair, pelo menos de forma bem mais fraca do que na noite anterior, portanto calcei minhas galochas cor de rosa e uma capa de chuva, catei a minha cesta para carregar flores e a minha tesoura de poda e fui até o meu jardim.

Eu tinha diversas variedades de flores e plantas ali, até porque eu tinha uma pequena floricultura mais ao centro da cidade, e todas as flores vendidas eram as que eu plantava em meu jardim. Eu não tinha conseguido esconder a minha felicidade quando a vizinha da casa de trás disse que iria vender a casa, eu juntei toda as economias que tinha e pedi um empréstimo ao banco, já pago, e comprei o terreno, a casa precisava de inúmeras reformas, e a minha ideia não era reforma-la, e sim demoli-la e ter um enorme quintal para mim onde poderia ter minhas plantas, flores e árvores sem ser em um espaço completamente pequeno.

Com flores e frutas colhidas, saí de casa e guardei as cestas e caixotes com as flores no porta malas do carro e voltei para dentro de casa. Eu não era a maior fã de automóveis, preferia andar ou então uma bicicleta, contudo seria quase impossível levar tudo a floricultura a pé ou de bicicleta. Peguei na cozinha os biscoitos de limão e as mini tortinhas de abobora que eu havia feito e voltei para o carro, colocada as caixas no chão do carro para que os quitutes não amassassem ou estragassem, entrei no carro e dirigi até o centro da cidade. O caminho era rápido, uns quinze minutos de carro, parando o mesmo na entrada dos fundos da loja. Sozinha e devagar fui levando as coisas aos poucos para dentro da loja, deixando tudo em uma pequena sala onde eu fazia os arranjos. Com tudo dentro da loja, voltei a trancar a porta dos fundos e fui fazer meus arranjos.

Eu vendia flores avulsas, fazia buques e arranjos na hora, arranjos de flores prontos e até cestas de frutas. Cestinhas com limões, mirtilos, uvas ou maçãs, até mesmo aboboras, algumas vezes algumas ervas aromáticas ou verduras. As vezes eu produzia muitas, e para não desperdiçar eu dava para os vizinhos e se sobrasse eu trazia para a loja para que quisesse pudesse levar ou comprar.

Eu fiquei até as oito e meia da manhã preparando os buques, tirando alguns espinhos e folhas das plantas. Arrumei os buques em seus baldes onde as pessoas podiam escolher, os arranjos foram arrumados nas prateleiras, junto com algumas mudinhas, borrifei um pouco de água para que elas continuassem bonitas e frescas e arrumei os biscoitos e as tortinhas e o bule de chá, que eu sempre oferecia quando alguém entrava na loja, e após respirar fundo e sentir uma mistura de cheios deliciosa eu abri a loja.

E não foi nenhuma surpresa ao dar de cara com Alice já parada na porta, ela sempre passava aqui, quase todos os dias, algumas vezes para bater papo, outras para comprar alguma coisa, mas todo dia dois, ela vinha comprar o mesmo buquê.

- Bom dia Alice. – respondi sorrindo quando ela entrou na loja fechando seu guarda-chuva.

- Bom dia Bella. Como vai? –

- Ótima, e você? – perguntei indo para de trás do balcão e com ela vindo atrás de mim.

- Bem... – deu de ombros ao suspirar. – Esse dia é ruim para mim. – comentou apoiando as mãos em cima do balcão.

- Eu sei. – e eu repousei uma mão em cima da dela, afagando-a delicadamente. – Por que não tomamos um pouco de chá com biscoitos? – perguntei e ela balançou a cabeça rindo.

- Mulher achei que não fosse oferecer... – respondeu rindo. – Estava quase atacando essas tortinhas, estão com uma cara ótima. –

- Pois fique à vontade, pode atacar. Biscoitos de limão e tortinha de abobora. O bule azul é de chá de alecrim e bule rosa é chá de camomila. – respondi e ouvi o sininho da porta, que anunciava a chegada de mais alguém, geralmente as portas ficavam abertas, mas devido a chuva era melhor ficar fechada. – Eu já volto, querida. – e ela assentiu pegando uma tortinha de abobora e eu ouvi um som, parecido com um gemido, ao dar a primeira mordida. – Bom dia senhor O’Brien, como vai? – perguntei ao parar na frente do prefeito da cidade.

- Bom dia Isabella, estou muito bem, e a senhorita? Olá Alice... – e ele deu um aceno com a mão para ela.

- Ótima. E a sua esposa? –

- Me enlouquecendo... – comentou rindo. – Ligou-me um milhão de vezes querendo que eu passasse aqui bem cedo para comprar um arranjo de... – e ele começou a estalar os dedos como se tentasse lembrar do nome. – Eu não lembro do nome, mas ela disse que a senhorita saberia qual é... –

- Eu sei qual é, senhor, não se preocupe... – garanti e caminhei até a prateleira onde tinha alguns arranjos de orquídeas. A esposa do prefeito O’Brien era apaixonada por orquídeas e sempre que ela vinha aqui ela levava um, por eles serem um dos meus melhores clientes, eu escolhi o mais bonito. Um vaso preto com alguns galhos de orquídeas brancas. – O que acha? – perguntei me reaproximando dele e notando que ele olhava as rosas avulsas. Ele virou o rosto.

- Ela vai gostar... – e ele voltou a olhar as rosas. – Poderia, por favor, fazer um buque de rosas para mim? –

- Claro que eu posso. Um minuto. – e eu voltei até o balcão. Alice estava sentada na minha cadeira com um biscoito de limão em mãos e uma xicara e chá na outra, eu balancei a cabeça para ela rindo e apoiei o arranjo de orquídeas no balcão. – Muito bem. Quantas rosas? –

- Um amigo meu... Me disse uma vez, que quando damos um buque de vinte e quatro rosas, significa uma bela forma de expressar amor... Portanto, quero um de vinte e quatro rosas. –

- Quais cores? –

- Vamos variar... Brancas, champanhe e rosa... –

- Ótimas escolhas! – respondi e comecei a escolher as melhores rosas, nas cores pedidas pelo prefeito e caminhei até a minha bancada onde poderia montar o buquê sem nada atrapalhar.

- E como está a sua mãe? Tem tempos que não a vejo? – perguntou a mim enquanto eu arrumava o buquê.

- Muito bem. – respondi. – Ela está um pouco atolada porque resolveu ir visitar uns parentes distantes em Atenas, e está ocupada arrumando as coisas e conseguindo passagem e essas coisas... – respondi amarrando o buquê. – Prontinho. Deseja mais alguma coisa? –

- Não... Só isso... Pago para a sua funcionária? – brincou apontando para Alice que continuava a comer os biscoitos.

- Não senhor... Eu venho aqui só para comer... – respondeu ela fazendo tanto eu quanto o prefeito rir.

- Se a Alice não comeu tudo... Tem biscoito de limão e tortinha de abobora, se o senhor quiser. Ah é chá também, de alecrim e camomila. –

- Está muito bom! – Alice comentou colocando mais um biscoito na boca. – A Bella tem mãos mágicas... Tanto para planta como para comida. –

- Eu aceito um biscoito. – e enquanto eu calculava a conta do prefeito, e colocando o arranjo em um saco transparente grande para protege-lo, o prefeito pegou um biscoito e mordeu. – Muito bom... Derrete na boca. –

- Receita de minha mãe. – respondi quando ele me entregou seu cartão de crédito.

Eu passei o cartão do prefeito e ele pegou o buquê ao mesmo tempo em que eu me ofereci a ajuda-lo a levar o arranjo ao seu carro, e antes de sair ele colocou mais um biscoito na boca, e pegou mais dois e saiu da floricultura comentando o quanto ele era bom. Com cuidado ele colocou o buquê no banco do carro de seu carro e eu coloquei o arranjo no chão, e com um aceno de mão ele entrou em seu carro, partiu e eu entrei de novo.

- Bom... Eu estou aqui a um tempo enrolando, mas acho que está na hora de ir... – e Alice desceu da minha cadeira. – Acabei com os biscoitos todos... –

- Relaxa, tem mais lá dentro. Um ano, não é? – e ela suspirou balançando a cabeça. – Eu fiz uma surpresa para ela. – e antes que ela respondesse, eu entrei na despensa e trouxe uma cesta que eu havia feito com todo o meu coração. – Aqui... As flores favoritas dela. – e eu vi os olhos de Alice se encherem d’água. – Gérberas, Lírios e Crisântemos. –

- Ela vai adorar. – respondeu.

- Quer que eu lhe acompanhe? – e ela balançou a cabeça negando. – Tudo bem, quando estiver saindo eu passo lá. –

- Quanto ficou? – e eu neguei. – Bella... –

- Eu não posso cobrar, Alice. Sabe que eu gostava muito da sua mãe, é um presente, como ela sempre ganhou nos aniversários e eu nunca cobrei. – com cuidado, ela me deu um abraço apertado.

- Ela gostava muito de você. – falou próxima ao meu ouvido.

- Eu também. De vocês duas, e você sabe que pode contar comigo. –

- Obrigada amiga. – e ela me deu um beijo na bochecha e eu retribui. Entreguei a ela a cesta com flores e ela partiu.

Hoje fazia um ano desde que a mãe de Alice havia perdido a luta para o câncer de mama, e depois disso ela passou a ficar muito tempo aqui. Quando ela voltava da faculdade, ela ficava aqui o dia inteiro antes de ter coragem de ir para casa, algumas vezes até dormia na minha casa ou eu na dela, apenas para que ela não ficasse sozinha, e agora com o trabalho ela faz a mesma coisa, se não está no trabalho ela está aqui. Eu até tinha oferecido um emprego para ela aqui, mas ela quis continuar com a loja de roupas de sua mãe.

O dia seguiu tranquilo debaixo de chuva, quando eu ficava sozinha eu tentava o máximo possível manter a minha cabeça ocupada para não lembrar do meu pesadelo. Durante o horário do almoço eu fechei a loja e fui almoçar, eu sempre ia comer em casa ou trazia algo para comer aqui, mas preferia ir comer em casa, era perto e rápido, dava para ir e voltar tranquilamente. Por volta das três da tarde a minha mãe chegou na loja ao mesmo tempo que a chuva apertou transformando-se em um temporal e eu enquanto eu pensava se não era bom fechar a loja mais cedo.

- Oi mãe. –

- Oi meu amor. – respondeu me dando um beijo na bochecha enquanto eu fazia mais um arranjo apenas para manter minha cabeça ocupada.

- Qual é o problema? – perguntou se sentando no banco do outro lado do meu balcão de montar buquê. –

- Nenhum. – dei de ombro pegando alguns galhos de flores secas.

- Você mente tão mal... O que houve? –

- Nada, já falei... –

- Isabella! – e eu suspirei largando as flores.

- Eu tive aquele pesadelo de novo, satisfeita? –

- Qual pesadelo? – perguntou pegando um dos poucos biscoitos que tinha sobrado no prato do balcão.

- Ah mãe... Por favor... – reclamei levando o vaso que havia acabado de montar para uma prateleira. – Eu já perdi as contas de quantas vezes eu comentei sobre esse pesadelo. –

- Então tem muito tempo que a senhorita não comenta, porque eu não me lembro... – suspirei parando de frente para ela de novo, tendo apenas o meu balcão nos separando. – Conta a para a mamãe, assim talvez você se sinta melhor... – respondeu olhando para o biscoito, e ao invés de comer, ela colocou no prato de novo.

- Forma resumida. – já que a senhora vai esquecer até o final do dia, comentei comigo mesma. – Eu estou em um lugar, que eu não sei identificar onde, tudo escuro, muito escuro e úmido. Tem duas pessoas brigando, não sei identificar se é homem ou mulher, mas sei que eles estão brigando, discutindo, e por mais que eu corra na direção deles, eu não consigo ouvir o que eles gritam e nem ver seus rostos, e parece que eu corro em câmera lenta, que acaba de repente comigo sentido uma pressão no peito que eu não sei o que é... – e eu desviei os olhos das minhas lavandas e olhei para a minha mãe, que tinha a cara fechada e uma expressão estranha nos olhos. – E sempre eu acordo com a marca queimando. –

- De novo isso, Isabella? – questionou irritada.

- A senhora que perguntou. – eu retruquei.

- Eu já falei para parar de falar desse sonho! Foi apenas um filme de terror que você assistiu quando era criança e te impressionou, não tem nenhum significado atrás dele. –

- Por que a senhora pergunta então se vai ficar com raiva? –

- Eu fico com raiva porque eu vejo você desde nova insistindo em um sonho, em um significado que não existe! Eu já falei! É um filme de terror que você viu, não tem motivos para você ficar revivendo isso! –

- Ah mais é claro! – falei de forma irônica. – Eu faço de propósito. Porque eu quero acordar exausta e mau humor... –

- Fala direito comigo por que eu sou a sua mãe! – me repreendeu.

- Mãe, hoje não é um bom dia, por mais que eu esteja fingindo que é, não é um bom dia. O que a senhora quer? – perguntei tentando manter o respeito e não gritar com a minha mãe, e quase falhando miseravelmente.

- Eu tinha vindo ver minha filha, mas se era para ser tratada desse jeito era melhor não ter nem vindo. – bufei ao vê-la se levantando e saindo da floricultura. E em menos de dois segundos ela voltou. – Coloca um casaco porque o tempo esfriou bastante... Passar bem. – e ela saiu e eu apoiei a cabeça em minha bancada.

O cansaço da noite mal dormida e de ficar o dia inteiro em pé estava chegando e eu só queria um chá quente, um banho quente e minha cama, e caso isso não funcionasse queria apenas quebrar alguma coisa, ou bater em alguém, mesmo eu não sendo uma pessoa agressiva, quando eu tinha essas discussões com a minha mãe, eu só sentia vontade de bater em alguém ou alguma coisa. A chuva estava bem forte, ninguém viria mais hoje, pelo menos assim eu esperava. E tirando a cabeça do mármore, eu me levantei e fui fechar a porta, meus olhos ardiam, eu só queria chorar e eu não sabia o motivo, sabia que eu não estava completamente errada na discussão com a minha mãe, mas eu não sabia o que ela fazia que conseguia fazer com que eu me sentisse a maior culpada do mundo, como se tivesse cometido o maior crime de todos os tempos. Antes que eu conseguisse fechar a mesma, um pé, coberto por um belo sapato preto chique, parou entre a porta e o batente me impedindo de fechar.

- Desculpe senhor, eu já estou fechando. – disse, engolindo e choro e desfazendo a minha cara amarrada, ao abrir a porta e vendo o homem entrar na loja.

- Desculpa senhorita, eu só queria uma informação, mas tudo está fechado. – respondeu com uma voz aveludada e suave.

- É devido a chuva! – forcei um sorriso. - Choveu a madrugada inteira e a chuva está apertando de novo, o povo deve estar se precavendo para o caso de o rio Arkansas encher. – respondi. - O senhor não é da cidade, não é? – questionei enquanto o observava olhar a loja e as flores.

- Não. – e ele me virou o rosto me encarando. Ele era simplesmente lindo, ele era mais alto que eu, eu batia no meio de seu peito, seus cabelos arruivados eram rebeldes e despenteados, com alguns fios molhados, devido à chuva, caindo sobre seus olhos, seus enormes olhos verde esmeralda, que parecia que conseguia enxergar no fundo da minha alma, e ao mesmo tempo em que nossos olhos se encontraram, eu senti uma pontada em meu peito, e imediatamente eu levei a mão até ele. – A senhorita está bem? –

- Sim, não é nada. – dei de ombros. – Em que eu posso ajudá-lo? – questionei tentando engolir a dor em meu peito, não tem motivos para doer, não tem motivos para doer, não tem motivos para doer..., e eu comecei a repetir em minha cabeça.

- Eu estou procurando escritório do... – e ele colocou a mão do bolso de seu terno que era completamente caro e pegou um Iphone novinho de dentro dele. – Riley Biers... –

- Ah... O corretor de imóveis... O escritório dele é próximo a prefeitura. O senhor segue essa rua direto até o final e depois vire à direita e siga até o final e irá chegar em uma praça, onde fica a velha fonte da cidade, a prefeitura e o escritório do senhor Biers. – respondi apertando a maçaneta da porta com força para controlar a minha cara ao sentir a dor em meu peito aumentar a cada palavra que eu proferia.

- Muito obrigada, senhorita... –

- Swan. – respondi engolindo a dor em seco. – Bella Swan. –

- Edward Cullen. – e ele esticou a mão e eu a apertei, sentindo como se uma corrente elétrica percorresse entre as nossas mãos, e eu prontamente a soltei. – Quem é o dono? – questionou apontando para a loja com a mão.

- Dona. – corrigi. – Sou eu mesma. – respondi. – Gosta de flores? – perguntei e vi seus lábios avermelhados, devido ao frio, se contorcerem um pouco.

- Não muito. – admitiu.

- Bom, já passei informação a muitas pessoas, e várias delas falavam que também não gostavam de flores... Todas mudaram de ideia e voltam aqui quase toda semana. – respondi sorrindo amplamente.

- Talvez me faça mudar de ideia então... –

- Caso se mude para a cidade, quem sabe... – dei de ombros ainda sorrindo, eu tinha uma habilidade enorme de mascarar meus sentimentos com um sorriso, principalmente enquanto falava com pessoas desconhecidas. – Deseja um chá antes de continuar sua viagem? Eu ainda não tenho muita certeza de se ele ainda está quente, mas eu posso aquecê-lo em pouco tempo. –

- Não, senhorita, não é necessário. – respondeu. – Eu tenho até as quatro para chegar no escritório e... – ele olhou para o relógio perto do caixa. – Eu tenho pouco tempo. –

- Tudo bem... Foi um prazer lhe conhecer, senhor Cullen. –

- O prazer é todo meu, senhorita Swan. – e ele segurou minha mão livre e beijou-lhe as costas da mesma, e a pontada em meu peito veio mais forte. – Tem certeza de que estais bem? –

- Claro. – menti.

- Muito tempo. Tenho que ir. –

Ele foi embora e eu fechei a porta, puxando a cortina da mesma e caindo de joelhos no chão sentindo meu peito doer ferozmente, como nunca tinha doido antes. Eu consegui me arrastar até a minha bolsa e peguei meu telefone ligando para a minha mãe, ela havia atendido reclamando que não queria mais brigar comigo, mas ao ouvir minha voz sair falhada, ela simplesmente correu para a floricultura.

Minha mãe me levou ao hospital, o médico de plantão suspirou ao me ouvir reclamar de dor no peito novamente, ele havia cuidado de mim desde que era criança e nunca descobriu o motivo de minhas dores no peito, mas dessa vez ele via que eu estava estranha, para começar, pálida, segundo minha mãe, mais do que o normal. Eu fui para o consultório e ele mediu minha pressão, ouviu meus batimentos cardíacos e passou uma bateria de exames que eu já tinha feito milhares de vezes.

- Bella... – ele voltou um tempo depois com os exames em mãos, já era por volta das sete da noite e eu ainda não havia saído do hospital. – Mais uma vez... Seus exames estão perfeitos! Não tem nada com seu coração, pulmão, músculo e tudo mais. Você está perfeita de saúde! – comentou.

- Dr., isso é impossível. Viu como ela estava quando chegou. – minha mãe comentou.

- Bella. O que aconteceu de diferente no seu dia? – perguntou ignorando minha mãe.

- Nada Dr. Quer dizer, eu acordei meio mal devido a um pesadelo que tive, hoje é aniversário de morte da mãe da Alice, e eu dei informação a um desconhecido que provavelmente vai se mudar para a cidade. Apenas isso. – respondi.

- Antes de a senhora falar alguma coisa, senhora Swan, eu quero que me escute. – disse logo de inicio porque ele conhecia muito bem a minha mãe. – Eu acho que as dores da Bella sejam psicológicas, porque físico, não tem nada que indique que haja algum problema com ela. –

- Está chamando a minha filha de maluca? –

- Mãe! Por favor! – pedi.

- Senhora. Não tem nada de errado no corpo da Bella. Mas, pode ser que tenha acontecido alguma coisa em algum momento da vida dela, que ela possa ter apagado da memória e seja isso que esteja lhe causando as dores. –

- Por que diabo eu ainda trago ela aqui? Mais de vinte anos que ela reclama dessas dores e nunca acharam nada. –

- Não achamos nada, porque não tem nada com ela, senhora Swan, mas, caso deseje, procurar por uma segunda opinião, pode ir. Eles vão falar a mesma coisa que eu. Não há nada de errado com o corpo da sua filha. –

- Mas está dizendo que tem algo de errado com a cabeça dela. – eu levei as mãos ao rosto, eu odiava quando minha mãe agia dessa forma.

- Quer saber. Bella, acredito que o problema das suas dores seja o cansaço. Chegue em casa, tome um banho e um chá quente e descanse. Caso não consiga dormir, não abra a loja amanhã. – respondeu ele também cansado das respostas da minha mãe, e eu via em seus olhos que estava arrependido de ter sugerido um exame neurológico.

- Tudo bem, dr. –

- Boa noite senhora Swan. – ele nem esperou que ela respondesse e saiu da sala.

Com minha mãe resmungando em meu ouvido de que deveríamos arrumar outro médico, ela me levou para casa, e acabou resolvendo passar a noite aqui, e inventando uma dor de cabeça eu tratei de me afastar dela e ir para o meu quarto, eu estava realmente cansada e precisava dormir, e minha mãe reclamando na minha cabeça de aquele médico de quinta categoria estar dizendo que a filha dela era louca, não ajudava em nada. Ao terminar um banho bem quente, eu encontrei uma xicara de chá fumegante ao lado da minha cama e mais ninguém ali. Será que pela primeira vez na vida a minha mãe aprendeu a me dar um pouco de privacidade, ela não fazia isso mesmo após eu ter vindo morar sozinha. Aninhei-me em minha cama e repousando as costas nos travesseiros macios, peguei a xicara, sentindo o calor que emanava dela, esquentar minhas mãos, e a cada golada sentia o líquido quente descer pelo meu corpo, fazendo-o relaxar mais um pouco, como se ele estivesse chegando abrindo caminho para que pudesse levar todos os sentimentos ruins, dores e cansaço embora.

Tomei todo o chá e deitei na cama, puxando as cobertas. Amanhã seria um novo dia!

Um comentário:

  1. Adorei ler no Blog! tem imagens e pra mim fica mais fácil visualizar! Acho que tem algo a ver com magia! bruxas algo assim! e Edward tem tudo haver com esse sonho e dor! estou amando!

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