domingo, 28 de novembro de 2021

Capítulo 4

 

Tulsa – Oklahoma.

2019.

Bella.

Em menos de dez minutos Alice estava sentada no depósito da loja comigo. Eu havia colocado uma plaquinha na porta que dizia Desculpe, volto logo, e tranquei a porta, eu contei para Alice o que havia acontecido, da minha conversa com o Edward e o fato de eu estar ficando louca por estar tendo sonhos a luz do dia e acordada, ainda mais um sonho que eu nunca tinha tido antes na vida. Nós estávamos sentadas no balcão onde eu limpava as flores que iria vender e eu tinha as mãos no rosto.

- Isso foi meio bizarro, se foi do jeito que você contou. –

- Não me diga. Agora imagina a minha cara. Eu estou ficando louca. – eu enfiei as mãos em meus cabelos.

- Já disse, aproveita que sua mãe não está aí e procura um psicólogo ou psiquiatra, talvez assim você tenha as respostas que tanto quer. –

- Tem noção de que eu não posso procurar um médico desse tipo aqui na cidade, eles vão contar para a minha mãe e ela vai me perturbar pelo resto dos meus dias. –

- Não seja por isso, Isabella. Vamos até Oklahoma City, eu vou com você para que não se sinta só, se esse é o problema. – comentou andando de um lado para o outro na minha frente. – Isso não é normal! Mesmo eu ainda achando que isso possa ser lembrança das suas vidas passadas. –

- Vidas passadas não existe, Alice. –

- Tem outra explicação? –

- Eu estou ficando louca! – eu me controlei para não gritar com ela.

- Você tem que ter tirado isso de algum lugar, Isabella, você não inventou isso do nada, em poucos segundos com um simples apelido que ele deve ter lhe dado sem nem ter percebido. E se isso machuca tanto você, aí mesmo que você não criaria por livre e espontânea vontade, ainda mais após você ter me garantido que nunca viu um filme desse tipo. –

- Do sonho que eu, volta e meia tinha, eu realmente nunca vi um filme desses, ou até agora eu nunca o encontrei na internet, sendo que eu já me cansei de procurar. Agora, quanto a visão, ou aquela coisa que eu tinha a pouco tempo, eu não faço ideia se já tinha visto aquela cena em algum lugar. –

- Então, ou você procura um psicólogo ou aceita que isso é memória da sua vida passada. –

- E admitir o que? Que eu vivi uma vida passada e o Edward estava presente nela? –

- Sim. Quer dizer, talvez sim ou talvez não. O que pode estar lhe trazendo essas memórias de sua vida passada pode ser o Edward, ou o apelido que ele usou com você, que outra pessoa possa ter usado em outro tipo de momento. –

- Eu acho que você está ficando mais louca do que eu... – comentei a encarando.

- Então pronto. – ela se sentou ao meu lado na bancada de novo. – Está decidido, somos duas loucas. Vamos juntas ao psicólogo ou psiquiátrica e vamos juntas para um hospício. – comentou enlaçando seu braço ao meu e eu não pude evitar de rir junto com ela.

- Deus, o que eu faria sem você na minha vida?! –

- Viveria uma triste monotonia. –

Alice ficou mais um tempo ali comigo, até eu me sentir um pouquinho melhor e logo em seguida voltou ao seu trabalho e eu ao meu. Eu tratei de balançar a minha cabeça o máximo que podia para tirar aquela coisa da minha cabeça e agir como se nada daquilo existisse, pelo menos até eu decidir se iria ou não a um psicólogo, em outra cidade, para que minha mãe não soubesse disso.

Terça feira foi um dia tranquilo e sem problemas, ou visões estranhas. Eu também não tinha visto Edward, mas um pouco antes de eu ir dormir, meu telefone tocou, anunciando uma nova mensagem, e uma mensagem de Edward sobre o jantar de amanhã.

O jantar de amanhã está de pé? Se sim, me passe o seu endereço para que eu possa ir busca-la às 19h, por favor.

Eu fiquei por volta de cinco minutos olhando para aquela mensagem. Depois do que havia acontecido ontem será que eu deveria ir ou não a esse jantar? Era um jantar de trabalho, de certa forma, ele queria me contratar para fazer o paisagismo das lojas, não teria problema nenhum em ir, eu não iria passar nenhum limite de intimidade que ele não havia me dado, igual havia feito no dia anterior.

Respondi apenas com um Ok e com o meu endereço.

Quarta feira eu tive que fechar a loja mais cedo, eu tinha que trocar de roupa, eu não podia ir para um jantar, principalmente de trabalho, usando uma calça jeans que havia usado durante todo o dia, e com o corpo sujo de um dia, razoavelmente quente, de trabalho. A campainha tocou as sete em ponto, e eu estava a quase cinco minutos tentando fechar o meu vestido. Desci as escadas correndo e segurando meu vestido e abri a porta, encontrando com Edward usando um terno, que se moldava tão perfeitamente em seu corpo, que parecia que havia sido feito sob medida para ele, e provavelmente havia sido realmente.

- Boa noite. –

- Oi. Boa noite. Vai ter que me perdoar, mas eu estou quase pronta. Entra. – eu dei espaço para ele entrar.

- Não se preocupe, fique à vontade para se arrumar. –

- A questão é que você chegou em um momento maravilhoso, estou a cinco minutos lutando contra o meu zíper. Se não for muito inconveniente, eu posso pedir para fechar o zíper do meu vestido? –

- Oh. Claro. Sem problema. – eu virei de costas para ele e coloquei meu cabelo para frente, deixando meu zíper livre para que ele pudesse fechar, e em questão de dois segundos, eu senti o zíper ser fechado. – Prontinho. –

- Muito obrigada. – agradeci me virando de frente para ele e ajeitando o decote um pouco profundo.

- Perdoe-me por perguntar..., Mas, que cicatriz é essa? – perguntou olhando para o vão dos meus seios, onde tinha a cicatriz, um pouco grande e graças a Deus, branquinha, quase não dava para ver direito.

- Sinceramente. Não faço ideia. – dei de ombros. – Segundo minha mãe, nasci com ela, o que é um pouco estranho, ela diz que eu nunca fiz nenhuma cirurgia nessa região. Ela diz que é apenas uma marca de nascença que parece uma cicatriz, se isso for possível. – expliquei. - Como não tem como sumir com ela, simplesmente aprendi a viver com ela. -

- Doí? – perguntou com a voz baixa, quase inaudível. Seus olhos não haviam desviados nem um milímetro da minha cicatriz, ele podia estar tentando olhar meus seios, mas não, seus olhos não desviavam da minha cicatriz. Ele levantou a mão, e por poucos milímetros, seus dedos não tocaram nela.

- O médico diz que não tem nada nela, mas às vezes eu sinto doer, mas acho que é mais psicológico do que outra coisa. Mesmo minha mãe não concordando com essa opinião. – expliquei. - Eu vou terminar de me arrumar. –

- Claro. – ele abaixou a mão rapidamente. – Sem pressa. –

- Fique à vontade, não demoro. – eu subi as escadas até o meu quarto para que pudesse terminar de me vestir, eu já tinha feito uma maquiagem leve, tinha apenas que me calçar e pegar as minhas coisas. E dito e feito, em cinco minutos eu estava descendo de novo e Edward estava parado no mesmo lugar, com a mão no rosto. – Estou pronta. – e ele se sobressaltou ao ouvir a minha voz. – Está tudo bem? –

- Sim. Só pensando em algumas coisas. – deu de ombros e me encarou. – Está linda. –

- Obrigada. É muito gentil. –

- Vamos? –

- Sim. – ele abriu a porta para mim e eu peguei a chave da minha casa, e ele me deu espaço para sair. Tranquei a porta e seguimos até o seu carro que estava parado em frente a minha casa, uma Ferrari preta. – Belo carro. – ele abriu a porta para mim. – É impressão minha ou gosta de preto? Só te vejo usando roupas pretas e agora uma Ferrari preta? –

- Minha cor favorita! – comentou sorrindo e balançando a cabeça também sorrindo, eu entrei no carro. Ele fechou a porta e deu a volta entrando no banco do motorista. – Ainda não viu a minha casa. – comentou colocando o cinto.

- O que? Vai me dizer que a sua casa também é preta? –

- É! – respondeu simplesmente ligando o carro.

Ele dirigiu por pouco tempo, ele morava no bairro das pessoas ricas, não era nenhuma surpresa, poucas ruas depois da casa do prefeito, numa rua, que havia começado a receber casas a pouco tempo, portanto ele ainda não tinha muitos vizinhos, a maioria das casas dali estavam vazias, com placas de vende-se na porta. E ele não havia mentindo. A casa dele era realmente preta. Dois andares, com muitas janelas e uma grande varanda, mas mesmo assim preta. Não tinha nada, absolutamente nada, de outra cor dor lado de fora, nem uma graminha verde, a entrada da casa dele, era toda feita de concreto.

- Inacreditável! – comentei ao sair do carro.

- O que achou? – perguntou parando ao meu lado e cruzando os baços.

- Linda. Mas... Falta cor. Falta verde! – ele riu. – Se fosse eu, eu teria tirado essa calçada de concreto e feito um jardim maravilhoso, além de encher cada centímetro dessa casa com um vasinho de plantas, nem que fosse apenas suculenta, para trazer mais cor para a casa. Talvez uns girassóis para dar a ideia de luz do sol... –

- Caso se interesse. Pode começar o paisagismo pelo meu jardim. – respondeu rindo. – Em menos de um dia a minha equipe quebra o concreto e substitui por terra. –

- Achei que não gostasse de plantas. – comentei o encarando.

- As pessoas dessa cidade estão me fazendo mudar de ideia. – comentou simplesmente andando na minha frente, subindo as escadas, até a porta de sua casa.

- As pessoas? – perguntei. – No plural? – eu parei ao seu lado enquanto o via destrancar a porta de sua casa.

- Talvez no singular! – ele deu uma leve piscadela ao abrir a porta de sua casa. – Fique à vontade. – ele me deu espaço para entrar e eu entrei, encontrando um breu do lado de dentro, ele entrou, fechando a porta atrás de si e ligando a luz no interruptor próximo a porta. Mal a luz acendeu eu comecei a ouvir latidos, que se aproximava cada vez mais alto, e um cão enorme surgiu no meu campo de visão, ele era enorme e preto, ele latia com os dentes de fora, eu nunca tive medo de cachorro, mas dessa vez eu senti um pequeno frio na barriga ao vê-lo correndo na minha direção. – Cerberus! – Edward falou firme com ele, se postando a minha frente antes que seu cachorro me alcançasse e me mordesse, ou matasse. – Cerberus! – ele o reprendeu com a voz mais firme, e ele parou de latir, mas sentou no chão balançando o rabo e Edward saiu da minha frente. - Não se preocupe. Ele não vai lhe morder. Ele gosta de fazer um pouco de festa quando chega alguém, mas o tamanho assusta um pouco. –

- Os dentes também. – comentei sentindo minhas pernas um pouco fracas devido ao medo de ter sido mordida.

- Ele é relativamente tranquilo. Não se preocupe. -

- Relativamente? – questionei o encarando enquanto ele coçava atrás das orelhas do cão.

- Se ele se sentir ameaçado, ele vai atacar. –

- Eu não estou te ameaçando. – falei para o cachorro e logo em seguida para Edward. – Qual é o nome dele? –

- Cerberus. – respondeu e eu pensei um pouco.

- Tipo o da mitologia grega? –

- Exatamente. – ele sorriu. – Cerberus era um cão adorável que guardava as portas do submundo. –

- Como um cão gigante de três cabeças pode ser adorável? – questionei.

- Bom, ele ficava feliz quando chegava gente nova no submundo, só não gostava quando alguém tentava ir embora. Quer dizer, é isso o que os historiadores dizem. – respondeu, e em uma fração de segundos, o cachorro pulou em cima de mim, quase me derrubando no chão, só não me derrubou de fato, porque eu acabei batendo contra a parede, ele não rosnava ou me mostrava os dentes. Ele tinha apenas a língua de fora, e algo como um sorriso brincava em seu rosto enquanto ele balançava animadamente a sua cauda. – Ele gostou de você. – respondeu e eu fiz carinho, com a mão ainda um pouco tremendo devido ao susto repentino, atrás de suas orelhas e ele fechou os olhos levando a cabeça para mais perto da minha mãe. – Eu disse, só o tamanho assusta. Ele é adorável. Igual ao Cerberus da mitologia. –

- Contanto que ele não arranque a minha cabeça... – comentei com o cachorro ainda com as patas na altura do meu peito. – Nunca me senti tão anã... – Edward tentou ser discreto, mas eu o ouvi rindo. – Se eu não tivesse de salto esse cachorro seria maior que eu. Que raça é essa? – perguntei quando ele puxou, com toda a delicadeza do mundo, o Cerberus pela coleira vermelha para que ele saísse de cima de mim, e sentasse no chão.

- É um cane corso. -  respondeu coçando mais uma vez atrás da orelha do cão. – Se você se comportar, eu te dou um biscoito. – o cão latiu para o dono como se entendesse o que Edward tinha acabado de dizer. – E se comportar significa não pular em cima da visita. Vai lá para a sua cama. – ele latiu mais uma vez para o dono e saiu andando abanando o rabo curto até onde ficava a cama dele. – Venha. Vou te amostrar o que eu tenho preparado enquanto termino o jantar. –

- Sabe, eu preciso perguntar. – comentei enquanto caminhávamos por todo o corredor, que não tinha apenas, paredes, piso e teto preto, os móveis também eram da mesma cor. – Como você consegue viver numa casa onde tudo é preto? E se faltar luz? –

- Não vai faltar. Eu mandei instalar um gerador. – disse como se fosse o óbvio.

- Oh, desculpa, é que eu sou a pessoa que fica topando com o dedo mindinho nos móveis enquanto tenta não morrer enquanto desce as escadas em busca de uma vela. –

- E a tela do celular? –

- Ou eu não o encontro porque está escuro ou é justo quando acaba a bateria. –

- Já pensou em deixar então uma vela e um isqueiro no quarto? –

- Eu deixo uma lanterna e esqueço dela. – comentei e ele entrou na cozinha rindo. – Até a cozinha é preta... – resmunguei comigo mesma, balançando a cabeça e vendo que mais um cômodo da casa não tinha cor.

- Eu gosto de preto. – disse simplesmente apontando o banco alto rente a bancada da cozinha, onde tinha um computador da Apple fechado em cima.

- Eu gosto de rosa, e nem por isso moro em uma casa rosa. Se eu fizer isso ou serei chamada de Barbie ou me internam em um hospício. – ele balançou a cabeça sorrindo enquanto eu me sentava na bancada, cruzando minhas pernas, uma sobre a outra, e ele puxava seu notebook para perto dele e o abrindo.

- Preto é uma cor relaxante para mim, me acalma. –

- É engraçado... Não... É diferente alguém comentar algo desse tipo, já que preto geralmente é relacionado a morte. –

- Bom, se for ver por um dos pontos de vista, a morte é um caminho para a tranquilidade. –

- Dependendo do caso, tranquilidade apenas do morto. –

- É um ponto de vista. – ele virou a tela do notebook para mim, aberta em uma página de desenho de algo que parecia uma praça. – Olha. Diga-me sinceramente o que acha. – ele seguiu até a geladeira pegando uma travessa dentro dela. Era uma imagem em 3D de uma praça em formato retangular com uma fonte no meio e alguns bancos e postes espalhados nas laterais da praça. – Pensei que poderia fazer um canteiro em volta da fonte. O que acha? – eu torci levemente o nariz. – Não gostou da ideia. –

- Não é isso. É que aqui o clima é muito quente e abafado, se você colocar um canteiro assim a céu aberto, sem nenhuma cobertura, dependendo da planta, até as de sol pleno, é capaz de não suportar e ficarem murchas e feias. – comentei. – Talvez fique melhor colocando algumas árvores em volta da praça. Assim cria sombra e frescor para todo mundo, principalmente para as pessoas da cidade. –

- E qual árvore você sugere? – perguntou colocando a travessa dentro do forno.

- Olha, se você viu a frente da minha casa, não tem muitas árvores, mas acho que nessa praça ficaria muito concreto e verde, caso eu use alguma muda de árvore que eu tenha. Talvez, talvez... – frisei bem o talvez. – Eu poderia ir até um garden grande, para isso eu precisaria achar um, e procurar por cerejeiras, ou um rododendro... Jacarandá também acho que ficaria maravilhoso... Contudo, teria que importar, já pesquisei na internet, queria um para mim, e só achei no México, América do Sul, alguns países da África, Europa e Oceania, é difícil encontra-la nos EUA, fiquei muito tentada em comprar para mim, mas o frete era mais caro que todos os meus órgãos, e eles estão em ótimas condições, e fiquei com medo de ela já vir doente e ter jogado todo o meu dinheiro fora, mas acho que ficaria muito bonito. Essas três árvores dariam uma cor maravilhosa a cidade. Cerejeira aquele tom rosa clarinho, o rododendro, não é árvore, é um arbusto que pode passar um pouquinho de um metro, é um pouco mais fácil de encontrar, as mais perto se importam da região dos Apalaches, tem mais variedades de cor, podem ser encontradas em rosa, vermelha e até laranja. E os jacarandás são roxos. –

- Cerejeira é o que adorna os parques da capital, não é? –

- Sim. – respondi e ele torceu os lábios.

- Eu queria fazer algo diferente. Acho que o rododendro parece ser um pouco pequeno para praças, acho que prefiro o jacarandá. –

- Vai mudar de ideia quando ver o preço... – comentei. – Não seja o rico padrão que fala que preço não é problema! – avisei logo de uma vez, detestava quando alguém falava isso.

- Sim senhorita. – respondeu erguendo as mãos em tom de rendição. – Aceita um vinho? – perguntou e eu desviei os olhos da tela o encarei.

- Um pouco. Não sou de beber. –

- Vou escolher um leve para a senhorita. – disse e se afastou indo na direção de uma porta que estava fechada atrás de mim. Tomando a intimidade que ele não havia me dado, comecei a editar a maquete da praça, eu sabia mexer um pouco nesses tipos de programa, foi usando um parecido que eu arrumei o meu jardim. Eu não havia encontrado jacarandá na lista de procura, portanto me contentei com uma qualquer, mudando a cor das folhas dela para roxa, e colocando em volta da fonte alguns arbustos, misturando rosas de cores brancas, rosas claras, rosas escuras. – Gostei. – eu ouvi a voz de Edward vindo de trás de mim e dei um pulo do banco. – Desculpa, não queria te assustar. – comentou colocando uma garrafa de Cabernet na bancada.

- Não se preocupe. Eu sou muito distraída e não te ouvi chegando. E me perdoe por mexer no seu trabalho sem pedir permissão. –

- Não se preocupe. – deu de ombros indo até um armário e pegando duas taças. – Até porque, foi para isso que eu te chamei aqui. –

- Oh, me chamou para trabalhar. – brinquei e ele sorriu enquanto abria a garrafa.

- Pode se sentir à vontade para mexer nas outras imagens. – emendou derramando um pouco de vinho em uma das taças.

- Me diga. – eu apoiei um dos cotovelos na bancada e fiquei olhando para ele enquanto ele derramava vinho até a metade da taça. – Por que o prefeito disse ontem que eu era a única que conseguia te fazer rir? –

- Por que as piadas dele são péssimas e impossíveis de rir. – bom, errado ele não está. – E eu sempre fui uma pessoa muito séria, nenhuma outra pessoa conseguia causar nem um por cento de felicidade a ponto de me fazer esbanjar um sorriso, sempre foi assim... Desde criança. Minha mãe falava que eu nasci carrancudo. –

- Nenhuma outra pessoa além da sua ex esposa? – perguntei e ele suspirou.

- É. Ela era a única que conseguia me causar alguma coisa de felicidade. Até agora. – ele me entregou uma das taças.

- Obrigada. E eu sempre fui a palhaça da escola que quase se matava para fazer alguém sorrir, caso precise, só me procurar. –

- Só de ficar sob o mesmo teto eu já me sinto feliz. – eu não consegui evitar ficar com as bochechas coradas.

- Bom, vamos experimentar esse vinho... – disse mudando de assunto e levemente ele tocou a sua taça na minha e a levou aos lábios e eu também.

O clima havia ficado um pouco estranho, talvez um pouco constrangedor, pelo menos para mim, Ele se sentou ao meu lado, ele foi me amostrando os desenhos que havia feito para algumas outras praças da cidade, principalmente a praça da prefeitura, e para as fachadas de alguns prédios que queria que eu decorasse com plantas, e não só ele quanto eu também, acabamos nos empolgando e decidindo plantar algumas árvores ou fazer canteiros nas ruas. Eu só não sabia de onde eu iria tirar tanta muda de planta assim, teria que recorrer a gardens, e eu teria que escolher tudo com muita calma e tranquilidade.

Cerca de trinta minutos depois, eu ouvi seu celular tocando, era apenas o despertador anunciando que era hora de tirar a travessa do forno. Ele levantou do banco ao meu lado e ao abrir a porta do mesmo eu senti um cheiro maravilhoso de salmão assado. Enquanto ele transferia o peixe para um refratário de vidro, eu terminava o projeto da fachada do restaurante da Sue’s. Ele me chamou poucos minutos depois e me entregou uma tigela com legumes e a garrafa de vinho, e com uma mão só, ele conseguiu pegar as duas taças e saiu andando na frente para a sala de jantar, que também era toda preta.

Durante todo o jantar, regado de vinho. A conversa começou sobre as ideias de plantas para as praças e lojas, mudou em pouco tempo para o motivo de eu gostar tanto de plantas e seguiu pelo resto da noite sobre os mais variados tipos de assuntos, desde a músicas e livros favoritos, para lugares que eu iria caso deixasse a cidade. Eu nunca fui de beber, o que causava certo estranhamento quando eu saia e enquanto as pessoas bebiam cerveja ou vinho, eu geralmente ficava na água, suco ou refrigerante, mas hoje, eu fiz algo que jamais havia feito na vida, o acompanhei para a segunda garrafa de vinho.

Contra a vontade dele, eu o ajudei a lavar a louça, não sabia muito bem como havia conseguido fazer aquilo, porque já me sentia um pouco alta devido o vinho, mas mesmo assim eu o ajudei e logo em seguida nos sentamos no escuro da sua sala, sentadas no chão em cima das almofadas que ele jogou no chão, com a segunda garrafa de vinho.

- Chega... – eu afastei minha taça dele e empurrando a mão dele que segurava a garrafa, que ele tentava derramar mais um pouco do líquido arroxeado para mim. – Chega! –

- Ah, mas eu vou ter que terminar essa garrafa sozinho? –

- Eu disse que não bebia muito, e já bebi demais. – comentei rindo, e eu nem sabia direito do motivo de eu estar rindo. Ele estava sentado bem perto de mim, com um dos braços apoiados no sofá atrás das minhas costas.

- Tudo bem então, acabo com a garrafa sozinho... – ele derramou o resto do vinho, que encheu quase toda a sua taça.

- Como você bebeu quase duas garrafas de vinho sozinho e não está bêbado, e eu que bebi poucas taças estou rindo sem nem saber o motivo? – perguntei rindo.

- Acho que costume. – respondeu simplesmente e eu o senti mexendo em meu cabelo. – Tem alguma coisa em você que não tenha cheiro de nenhuma flor? –

- Acho que não. É o melhor cheiro do mundo... Só perde para alguns chocolates. – admiti.

Eu virei o rosto e o vi levando uma mecha de meu cabelo até seu nariz, inalando o cheiro do meu shampoo, desfrutando-o como se fosse um dos melhores cheiros do mundo, com os olhos fechados. Eu não sabia se era devido ao vinho, mas vi um semblante de paz e tranquilidade passar pelo rosto dele ao vê-lo inalar o perfume dos meus cabelos. Ele reabriu os olhos e eu vi seus olhos verdes brilhando. Sua mão soltou a mecha do meu cabelo e levou-a até o meu queixo, acariciando-o levemente com o polegar, subindo-o pelos meus lábios, acariciando primeiro o meu lábio inferior e deslizando logo em seguida para o superior.

Tirando o dedo dos meus lábios, subiu com a mão pela minha bochecha, acariciando-a também com seu polegar e as pontas dos seus outros dedos, infiltraram em meus cabelos, fazendo algo com que parecia uma massagem em meu coro cabeludo. Eu não sabia porque isso parecia tão bom, não sabia se era devido ao vinho, ou a sabe-se lá o que, mas meus olhos se fecharam e minha cabeça deitou um pouco mais contra a sua mão, querendo sentir mais ainda o carinho que ele fazia. Era tão bom! Para a minha surpresa, seus lábios roçaram nos meus, que se entreabriram levemente e sua língua deslizou para dentro da minha boca.

Com o beijo, que ele aprofundou mais ainda, trazendo meu rosto para mais perto dele, com a mão que agora estava toda em meus cabelos. Eu não entendia porque, era apenas um beijo, mas eu sentia meu coração batendo acelerado, mas o beijo não se prolongou por muito mais tempo, o ar noz fez necessário e o beijo foi interrompido.

- Desculpa. – ele pediu com os lábios ainda roçando nos meus.

- Acho melhor não misturarmos as coisas. – sugeri.

- É uma boa ideia... – sem pensar, apenas seguindo a vontade que crescia a cada segundo mais em meu peito, eu apenas levei minha mão até a barra do seu paletó e o puxei para perto de mim, unindo minha boca a dele, mais uma vez.

Um comentário:

  1. que jantar foi esse menina! Wowwww! por um momento achei que Edward não sabe quem ela é! e descobriu agora!

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