domingo, 12 de março de 2023

Capítulo 5

                                              Adhara – Continente de Andrômeda –108 Depois da Conquista.

Pov. Edward.

Eu levei a Bella de volta ao castelo quando o sol começou a nascer, a chuva ainda caia, e infelizmente precisamos nos molhar de novo para voltarmos a Adhara. Eu a deixei na sacada de seu quarto, para que ninguém a visse toda molhada e para que ela pudesse se secar o mais rápido possível, para não acabar ficando doente. Deixei-a em sua sacada dando um beijo em seus lábios e quando ela entrou em seu quarto quente, onde a lareira ainda estava acessa, eu voei com Caraxes de volta para o fosso, antes de voltar ao castelo.

Os dias foram se passando e eu não tive a chance de sair com a Bella de novo, a chuva demorou alguns dias para passar e como eu havia prometido a ela, o seu pai nunca saberia da sua volta pela Baixada das Pulgas durante a madrugada. Quando as chuvas passaram, eu a levei para alguns passeios noturnos de Caraxes para o Vale ou para a Dragonstone, e mais duas vezes para a baixada das pulgas durante a madrugada, ficando dessa vez apenas sentados na muralha bebendo vinho ou cerveja.

Em um dia, pela manhã, eu estava de ronda com os mantos dourados, quando um valete de Carlisle me informou que a minha presença estava sendo solicitada na sala do pequeno conselho. Por um milagre dos deuses, meu irmão estava sem o seu cão guarda costas, no caso Charlie. Na verdade, ele estava sozinho e não me parecia muito bem, mesmo após quase três meses desde a morte de Esme e de seu filho.

- Desejava me ver? – perguntei atraindo a sua atenção ao entrar na sala.

- Sim! Tem tanto tempo que não conversarmos, acho que desde a morte de minha esposa nós conversamos apenas duas ou três vezes! Eis o meu irmão, deveria ficar do meu lado. –

- Preferi ficar ao lado de sua filha e de Isabella. Principalmente após Charlie ter contado as duas o jeito que a vossa esposa morreu, acredito que saiba disso! – ele suspirou conforme eu me ajeitava na cadeira ao seu lado.

- Eu sei. – ele passou as mãos pelo rosto. – Rosalie veio me contar e eu já repreendi o Charlie quanto a isso, e informei que da próxima vez que ele descumprir uma ordem direta minha ele perde o cargo! – suspirou de novo. – E infelizmente, de qualquer forma, mais cedo ou mais tarde as pessoas iriam descobrir. – ele me encarou. – E foi justamente por esse motivo que eu te chamei aqui. – o encarei erguendo a sobrancelha. – Charlie e Isabella! –

- Como assim? –

- Você realmente cumpriu a sua promessa! – ergui uma sobrancelha ao me sentar. – Fez a menina se apaixonar por você! Ela veio, praticamente implorar, para que eu não permitisse que Charlie a case com o Denali. –

- Ela também disse para que eu saísse de Adhara e a levasse junto? –

- Disse! – respondeu. – E disse também que iria sem pensar duas vezes, mesmo que isso significasse a ira de Charlie e a sua deserdação. –

- Carlisle, você sabe que eu a amo e... –

- Você dormiu com ela? – olhei confuso pela mudança de assunto. – Eu só quero saber se dormiu com ela ou não. Eu não vou fazer nada com nenhum dos dois! E eu sei que vocês têm passados diversas noites juntos, alguns criados já me contaram que viram, diversas vezes, Caraxes, planando próximo a janela do quarto da menina... –

- Sim, nós dois passamos diversas noites juntos, onde dormimos contra o dorso de Caraxes nas pedras de Dragonstone ou algum vale de Vallis. Nada além disso. Eu não transei com ela, com a Isabella eu quero fazer as coisas certas, mesmo com todo mundo dificultando isso! –

- Edward... Charlie se recusa a aceitar o seu casamento com a filha. Ele disse para mim com todas as letras que prefere ver a filha morta a vê-la com você! –

- Ele também disse isso para ela, sabia? A sua Mão precisa ter um pouco mais de juízo e bom senso com o que ele fala para filha dele. – ele suspirou.

- Eu não estou com cabeça para essas coisas ainda, meu irmão. Eu só te chamei porque ele não desistiu de casa-la com o Denali. E você precisa saber, que ele planeja leva-la para o Norte amanhã, assim que o sol nascer. – me informou. – Ele disse que me respeita, mas que eu não tenho o direito de me intrometer com o que ele faz com os filhos dele. –

- Então já que não vai ser por bem. – comentei me levantando da cadeira. – Vai ser por mal! –

- Por favor, o reino todo está em luto para você e o Hightower começarem uma guerra justo agora! –

- Não se preocupe, meu irmão. Com licença... –

Deixei a sua sala e comecei a andar pelo castelo, eu precisava encontrar Isabella. Se Charlie planejava leva-la amanhã para Eridanus, é porque ela ainda está aqui hoje. Eu rodei quase todo o castelo até encontra-la em um dos jardins sozinha, debruçada contra uma pequena mureta olhando para cima e vendo alguns pássaros voando, enquanto algumas mechas de seus cabelos voavam devido a brisa fresca que vinha da baía da água negra.

Ela estava quase que escondida entre as árvores, era difícil alguém nós ver ali. Olhei em volta e ao notar que ninguém me olhava, eu me aproximei dela, passando os braços pela sua cintura, levando a cabeça para perto de seus cabelos, afundando o meu rosto nele e inalando fundo o cheiro de flores que vinha deles. Encostando as suas costas contra o meu peito, apoiando a cabeça em meu ombro.

- Como você está? – perguntei baixo e beijando a sua têmpora.

- Ótima. – respondeu. Eu levei a minha boca para a sua bochecha, beijando-a. – Veio me convidar para sair hoje a noite de novo? – questionou entrelaçando seus dedos aos meus.

- De certa forma sim. Só que estou convidando para ir e não voltar mais. – ela se afastou de mim e me encarou confusa.

- Como assim? –

- Estava falando com o meu irmão. – comentei e ela encostou as costas na mureta me olhando, mas não soltou a minha mão. – Ele disse que o seu pai não desistiu do seu casamento com o nortenho. – respondi abraçando a sua cintura. – E que ele vai te levar para o Norte amanhã. –

- É o que? – sua voz saiu muito baixa. – Ele... – ela limpou a garganta para a sua voz sair. – Ele não me falou nada quanto a isso. –

- Bella... – eu soltei as suas mãos, mas segurei o seu rosto delicadamente entre as minhas mãos. – Seja sincera comigo. Você gosta de mim? –

- Por mais que todos achem estranho devido as vossas atitudes, as quais, permita-me ressaltar, que muitas me assustam. – eu sorri de lado. – Eu te amo! – ela sorria para mim. – Eu não faço ideia de quando foi que eu comecei a olhar para o senhor com outros olhos, mas eu te amo! E eu admiti isso ao rei há alguns dias, pensando que isso resolveria o meu problema, mas pelo visto não. –

- Bella. – eu acariciei sua bochecha com os meus dedos antes de encostar a minha testa na dela. – Eu te amo, mas do que qualquer coisa nesse mundo! Eu não sabia o que era o amor até você entrar na minha vida. – admiti e ela ficou na ponta dos pés, roçando seus lábios aos meus. – Jamais senti algo parecido por alguém antes. – desci com as mãos de seu rosto para a sua cintura, abraçando-a de novo. – Foge comigo. – pedi.

- Eu sei que a ideia foi minha, mas o senhor não pode fazer isso. Eis o próximo na linha de sucessão e todos no castelo sabem que o senhor quer o trono. –

- Eu não ligo mais para isso! Eu não quero saber de trono, não quero saber de titulo ou sucessão! Eu quero você! Se eu tiver você eu não preciso de mais nada. – garanti. – Vamos ser livre juntos. Só eu e você! Pega... Pega o que você não pode deixar para trás, vamos pegar o Caraxes e ser livres juntos! Em algum lugar de Andrômeda ou de Saggita. Ou então, encontraremos outros lugares onde só terá você e eu. – ela me puxou pela minha armadura e uniu seus lábios aos meus. Eu grudei seu corpo ao dela, pressionando-a contra a pequena mureta.

- Quando? – perguntou baixo com os lábios ainda contra os meus.

- Hoje a noite. Assim que todos no castelo dormirem. – expliquei. – Eu não quero correr o risco de ele sair com você de Adhara. Eu vou tomar Dragonstone por um tempo, pelo menos até decidirmos para onde vamos! – ela apenas assentiu. – Separe poucas roupas, os guardas levaram com eles no navio, mas precisamos deixar a cidade de forma discreta. Pegue só o mais importante. O resto nós arrumamos depois. –

- Tá. Eu... Eu vou fazer isso agora e passar as horas que restam com a Rosalie. Sabe-se lá se eu voltarei a vê-la algum dia. –

- Assim que o castelo dormir, eu vou chegar ao seu quarto. – ela assentiu de novo. Eu lhe dei mais um beijo em seus lábios antes de deixa-la voltar para dentro do castelo.

Eu precisava organizar tudo na surdina e o mais rápido possível. Eu tinha a fidelidade dos mantou dourados, na verdade, eles eram mais fieis a mim do que ao próprio rei. Portanto quando eu anunciei que iria tomar por um curto tempo Dragonstone, não foi nenhuma surpresa eles concordarem em ir comigo. Eu só os levaria porque eu sabia muito bem que Charlie viria atrás dela com os soldados do rei.

Assim que eu e Bella decidíssemos para onde nós iriamos, eles voltariam para a capital. Escolhendo quem levaria as nossas coisas para o navio. Deixei-os em suas rondas e fui para o meu quarto, para que pudesse separar o que eu levaria.

- Alteza... Alteza... – o costureiro real veio correndo e esbaforido na minha direção.

- O que foi? –

- Gostaria de pedir mil perdões pela demora, mas depois de tudo o que aconteceu no castelo... – ele torceu o nariz. – Mas eu acabei de entregar, discretamente, como o senhor ordenou, o vestido e a roupa de montaria da lady Hightower! Ela não entendeu quanto a roupa de montaria, mas a aceitou. –

- Ótimo. Muito obrigado. Eu estou muito ocupado no momento, mas já lhe mando o meu valete lhe pagar. –

- Sem pressa, alteza. Depois, diga-me se as roupas ficaram do vosso agrado e... –

- O que ela disse? – questionei interrompendo-o.

- A lady Hightower? Ela disse que gostou bastante. – respondeu um pouco confuso.

- Então ficou do meu agrado! – garanti e ele sorriu. – Com licença. – deixando-o no corredor, segui para o meu quarto, eu precisava ser rápido, daqui a pouco começava a escurecer.

Com as minhas coisas arrumadas e separadas, eu voltei ao meu trabalho. Charlie não podia notar uma movimentação estranha da minha parte ou da parte de Isabella, e não foi nenhuma surpresa eu encontra-la no jardim com a Rosalie quando o sol começou a se por. Eu não queria separar as duas, principalmente porque Rosalie ainda estava de luto pela mãe, mas eu simplesmente me recusava a perder a única mulher que eu já amei em toda a minha vida.

Quando a noite chegou eu esperei o castelo adormecer para começar a agir. Com dois guardas, eu fui para o meu quarto, para que tirassem o meu baú e levasse para o navio usando a passagem secreta que dava ao porto escondido dentro da muralha, e com mais dois eu segui para o quarto da Bella, eu tentei empurrar a porta da passagem, mas algo a prendia, e eu bati na porta de madeira para que ela abrisse a porta.

- Que barulho foi esse? – eu ouvi a voz de Charlie dentro do quarto.

- Barulho? Eu não ouvi nada! – a voz de Isabella veio logo depois, e levando apenas um dedo aos lábios, pedi para os guardas fazerem silêncio absoluto.

- Parece que eu ouvi alguém batendo na parede. –

- Deve ser no quarto ao lado ou alguém no corredor, só isso. O que o senhor estava dizendo mesmo papai? –

- As criadas avisaram que era para você arrumar as suas coisas? –

- Sim. Contudo elas não me falaram mais nada. Nós vamos para algum lugar? Oldtown? –

- Não. Amanhã nós vamos partir para Eridanus. –

- Por que o senhor vai me levar para o Norte amanhã? – perguntou se fazendo de desentendida.

- Porque eu vou casar você assim que chegarmos ao norte com o Louis Denali. –

- Nós tínhamos conversado sobre isso, papai. Ele não tem nem onze anos. –

- O acordo era com o irmão mais velho, mas... Eu não vou acabar com um acordo que nos beneficiaria tanto assim só por causa da idade do moleque. – eu respirei fundo para controlar a minha vontade de entrar naquele quarto e levar Isabella embora na frente dele.

- Deveria ficar surpresa o fato de o senhor está vendo apenas o que é melhor para o senhor? –

- Eu vou fingir que não ouvi o que você falou! – ele falou sério para a filha. - Nós já conversamos sobre isso. Você só tem duas opções! Ou se casa com o Denali ou entra para as Irmãs Silenciosas. Mas você não vai se casar com o Edward. – isso é o que você pensa, Charlie, isso é o que você pensa.

- Para benefício próprio um príncipe é melhor do que um lorde de um lugar esquecido pelos deuses como o norte! – ela resmungou de novo.

- Eu não vou discutir isso com você! Eu já decidi. Termine de arrumar as suas coisas e durma cedo, nós vamos deixar Adhara amanhã antes mesmo do sol nascer! – eu não ouvi a voz de mais ninguém, mas eu continuei parado e em silêncio. Demorou um tempo até eu ouvi algo arrastando de dentro do quarto e a porta da passagem chegou.

- Me tira logo daqui antes que eu me jogue pela janela. – ela pediu quando eu apareci em seu campo de visão.

- Desde quando você responde o seu pai? – perguntei sorrindo.

- Eu não aguentei! – resmungou.

- Eu ia perguntar se a senhorita quer muda de ideia, mas acredito que não. –

- Ele disse que eu tenho duas opções. As Irmãs Silenciosas ou o Norte. Eu me jogo pela janela antes de ir para qualquer um dos dois! –

- Coloca a roupa de montaria que lhe trouxeram hoje. Ela chegou em um momento muito bom, ela será bem útil, e ficarás mais confortável. –

- Tudo bem. –

- Já arrumou as suas coisas? –

- Sim. É esse pequeno baú aqui. – respondeu pegando a roupa de montaria dentro do baú.

- Só vai levar isso? – perguntei quando ela andou para trás do biombo para se trocar.

- O senhor disse poucas coisas! – respondeu jogando o seu vestido em cima do biombo. – E talvez, eu tenha feito uma coisa que não estava nos planos. – estalando os dedos, chamei os guardas para dentro do quarto para pegarem o baú.

- O que? –

- Eu contei para Rosalie! – respondeu saindo de trás do biombo usando a roupa de couro, que tinha caído nela como uma luva e ficado perfeito nela, já que o couro escuro contrastava com a sua pele branca e ornava com os seus cabelos escuros. – Quer dizer mais ou menos. Se ela achar o papel, ela vai saber! – eu ergui uma sobrancelha sem entender nada. – Eu escrevi uma pequena carta contando as coisas para ela e escondi nas coisas dela. – expliquei. – Ela precisa saber o motivo de eu sumir de repente. – deu de ombros enquanto calçava as suas botas.

- E o seu pai não precisa saber o motivo de você sumir de repente? –

- Quando ele entrar no meu quarto amanhã pela manhã e achar o papel, ele vai saber! A diferença, é que eu escrevi para Rosalie para onde iriamos, e não fiz o mesmo com o meu pai. – ela olhou em volta do quarto, eu não sabia ao certo se ela estava procurando por alguma coisa ou se estava se despedindo dali. – Espera. – ela pediu e os guardas pararam antes de entrar na passagem secreta. Ela revirou algumas gavetas de sua cômoda, e voltou com uma pequena boneca de pano. – Eu ia esquecer o mais importante. A única coisa que eu tenho da minha mãe. – o guarda abriu a tampa do baú, e ela guardou a boneca lá dentro, e quando a tampa foi fechada, eles seguiram pelo corredor.

- Pronta? – ela assentiu. – Não está esquecendo de nada? –

- Acredito que não. –

- Então pega a capa para se proteger do vento. – a sua capa estava na sua cama, ela pendurou a capa preta sobre os ombros, amarrando o laço. De dentro da mesa de cabeceira ela tirou um pergaminho enrolado e deixou jogado em cima da cama.

Eu puxei o capuz de sua cabeça, cobrindo-a e puxei o meu capuz também. Ela entrou no corredor escuro e eu fechei a passagem. Segurando a sua mão, eu fui guiando-a pelos corredores, até a passagem que dava para o pátio, onde um dos guardas segurava Belfast. Nós iriamos até o Fosso com ele e de lá ele seguiria com os guardas para o porto, para embarcar no navio, mesmo que na ilha não se usasse cavalos, eu não o deixaria para trás, do mesmo jeito que não deixaria Caraxes para trás. Com a roupa de montaria que havia pedido para o costureiro real fazer, que consistia em basicamente em uma calça e um casaco, era muito mais fácil para uma mulher montar, tanto um cavalo, quanto um dragão, além de ser muito mais confortável que um vestido.

O fosso estava deserto, os dragões estavam no fundo do fosso dormindo, os mesmos se diziam dos guardiões. Contudo, mesmo Caraxes sendo enorme, ele sabia ser silencioso quando queria ou quando ordenado, e no total silêncio, ele deixou a caverna, comigo já sentado em sua sela, e sem acordar nenhum guardião ou dragão. Do lado de fora do fosso, eu estendi a mão para que Isabella subisse pelas suas asas, até se sentar atrás de mim.

Caraxes alçou voo e ficou parado por um tempo, apenas planando por cima da cidade adormecida. Por sobre o ombro, eu olhei para Isabella, buscando em seus olhos algum vestígio de dúvida ou arrependimento, e encontrando o contrário disso tudo. Bella sorriu amavelmente para mim, e beijou-me a bochecha, antes de aninhar a cabeça em meu ombro e apertar os braços mais ainda em minha cintura. E tendo a total certeza de que era isso o que ela queria, eu guiei Caraxes até Dragonstone, e agora eu entendia o que ela queria dizer com a comparação de ser livre como um pássaro. Eu estava voando no céu noturno e não tinha nada mais libertador do que aquilo.

x.x.x.

Quando chegamos na antiga fortaleza dos Swan, já estava no meio da madrugada, e isso porque eu tinha esperado para ver se o navio iria partir para a ilha, com as nossas coisas, sem nenhum problema. De qualquer forma, Caraxes era mais rápido que o navio e não demoramos muito para chegar até o castelo. Pousei com ele no centro do pátio central e desmontei, ajudando Bella a desmontar logo em seguida, as nossas coisas só chegariam amanhã, e eu esperava que não demorasse muito, mas era capaz de chegar por volta do início da tarde.

A todo momento eu buscava nos olhos de Isabella quaisquer vestígio que pudesse dizer que ela havia se arrependido, e caso eu encontrasse qualquer centelha de arrependimento, eu a levaria de volta a Adhara, sem o menor problema. Ela era a única que poderia me fazer desistir dela! Contudo, todas às vezes em que eu olhava em seus olhos, eu encontrava diversas coisas neles, mas nunca algo parecido com arrependimento. Ela parecia feliz! Parecia livre!

Eu a guiei até um dos quartos no castelo para que ela pudesse dormir e descansar, enquanto eu começava a organizar algumas coisas. Eu queria e precisava que os mantos dourados chegassem à Dragonstone o mais rápido possível, eu sabia que assim que Charlie sentisse a falta da filha, ou então lesse o que ela havia escrito, ele apareceria aqui como mágica para leva-la de volta. E ele viria com guardas, com todos os guardas do meu irmão, isso se não mobilizasse o exército de Oldtown, era a cara dele. E não duvidava nada de que ele iria espalhar pela corte de que eu tinha sequestrado Isabella.

Bella estava cansada, era visível em seus olhos, e ignorando qual era os quartos dos reis e da monarquia, eu a coloquei no melhor quarto do castelo, cujo quarto havia pertencido a uma antepassada minha, Didyme, que havia conquistado os seis reinos com os dois irmãos. Aquele era o quarto mais confortável e um dos mais quentes do castelo, já que, aqui na ilha, a noite podia ser bem fria, mesmo durante os dias de verão. Deixei-a no quarto, dando apenas um beijo em seus lábios e segui para a câmara da mesa pintada, onde também era a sala do conselho, onde tinha incrustado em uma mesa de pedra enorme, que ocupava quase que toda a sala, os mapas de Andrômeda e de Saggita.

Enquanto esperava o tempo passar para que o navio chegasse logo, eu fiquei olhando para o mapa com o pensamento longe. Para onde eu poderia leva-la? Bella jamais tinha deixado a capital do reino, no máximo foi até a região de Cygnus. Tinha tantos lugares que eu podia leva-la, que eu queria leva-la, que eu não fazia ideia de para onde ir. Eu tinha ficado boas horas olhando para aquele mapa pensando, e acabei dando um pequeno sobressalto ao me assustar com a voz do segundo comandante dos mantos dourados me chamando. Eles tinham chegado no castelo e eu não tinha nem percebido.

Os criados me informaram que o almoço já estava pronto, o que significava que estávamos na parte da tarde do dia, o que significava que Charlie provavelmente já sabia que Isabella não estava mais no castelo e provavelmente já estava reunindo os guardas para virem para cá.

Como Bella ainda estava dormindo, eu não permiti que ninguém a acordasse e que deixassem as coisas delas separadas, para assim que ela acordasse, as suas coisas fossem levadas para o seu quarto, enquanto as minhas eram colocadas no meu. Eu permaneci na câmara da mesa pintada, olhando, pela janela, para o mar a minha frente. Eu tinha um cálice apoiado no beiral ao meu lado e conforme eu via o navio ancorado na costa da ilha com a bandeira dos Swan sendo recolhida, eu só conseguia pensar que eu queria ser uma mosca para ver o que Charlie estava falando para os lordes de Carlisle.

Eu ouvi a porta ser aberta e continuei parado olhando para o mar, provavelmente era algum guarda ou criada, e resolvi deixar para lá, enquanto permanecia com os pensamentos longe. Contudo, um par de braços, cobertos por um tecido esverdeado, que abraçou a minha cintura, trouxe os meus pensamentos de volta para a sala onde eu me encontrava.

- Oi. – ela falou baixo, apoiando a cabeça em minhas costas.

- Oi. – tirei a minha mão do beiral de pedra e levei até a dela, pegando-a e levando-a até os meus lábios, onde eu pude lhe dar um beijo. – Como dormiu? –

- Séria irônico se eu falasse que dormi feito uma pedra? – brincou e eu me virei de frente para ela, rindo.

- Nem um pouco. – respondi abraçando a sua cintura e ela apoiou as mãos em meu peito.

- Mas... Mas parece que quem não dormiu foi o senhor. – comentou ao levar os dedos de uma das mãos até a área dos meus olhos, onde provavelmente começavam a aparecer vestígios de uma noite em claro.

- Não. Eu não dormi! – admiti. – Fiquei o tempo todo esperando pelos guardas, pensando e agora estava imaginando o que o seu pai provavelmente está falando para todos no castelo. –

- É capaz dele aparecer aqui daqui a pouco para me levar arrastada pelos cabelos de volta a Adhara. –

- Daqui a pouco não. – corrigi. – De Adhara até aqui de cavalo ou de barco, ele só chega amanhã. – ela suspirou olhando para o chão. – Hey. – apoiei meus dedos em seu queixo. – Se você não quiser ir, ele não vai te levar! – garanti e ela sorriu calorosamente para mim.

- Então... Qual é o plano agora? – questionou ainda sorrindo.

- Pensei em várias possibilidades. – admiti. – Mas decidi que a senhorita escolhe! Mas o plano mais recente é almoçarmos.  –

- Eu? – perguntou confusa.

- Sim. Para onde deseja ir? De todo os quatro continentes do mundo conhecido, para onde quer ir? –

- Ninguém jamais perguntou o que queria. – comentou pensando um pouco. – Eu não faço ideia. – eu sorri.

- Eu sempre vou perguntar o que você quer! – garanti acariciando a sua bochecha. – E nunca teve nenhum lugar que quis muito conhecer? – ela apenas negou com a cabeça. – Como não? –

- Eu tentava não criar nenhuma expectativa quanto a algo desse tipo. Eu sabia que as chances de eu ir eram praticamente nulas. Eu sempre soube que eu só conheceria Oldtown, Adhara e o lugar onde o meu futuro marido moraria, que no caso, eu acabei de me livrar do frio do norte! –

- Vem comigo! – eu segurei a sua mão, peguei a minha taça no beiral da janela e a guiei para a enorme mesa de pedra. – Essa é a mesa que Henry I mandou fazer enquanto planejava a conquista de Andrômeda. Um mapa completo e detalhado, com relevos e tudo mais, de Andrômeda e Saggita. – comentei quando ela parou rente a mesa, apoiando as mãos na pedra fria e eu parei atrás dela, abraçando-a pela cintura e apoiando o meu queixo em seu ombro. – Olhe para ela e escolhe um lugar, qualquer lugar, antes ou depois do mar estreito, e eu levo você! – eu virei um pouco o rosto e beijei a sua bochecha. – Eu levo você a qualquer lugar que deseje ir! – falei baixo próximo ao seu ouvido e ela sorriu para mim. Nós estávamos parados próximo à área sudoeste do mapa, e eu via seus olhos presos em Cygnus, mas precisamente na pequena ilha da batalha, onde ficava Oldtown. – Se quiser ir para casa, eu te levo! –

- Qual casa? – perguntou. – Fiquei pouquíssimo tempo em Oldtown, que eu nunca consegui vê-la como minha casa. E tampouco me sentia em casa em Adhara! – eu tentei falar alguma coisa, mas ela me interrompeu olhando para o mapa. – Onde ficava Cária? – ela virou o rosto me olhando. – Eu sei que não podemos ir até lá. É só uma curiosidade. –

- Cária... – eu soltei a sua cintura e me afastei dela, para que pudesse rodear a mesa em busca da antiga cidade no continente de Saggita. – Aqui. – ela caminhou para perto de mim e eu bati com meu dedo bem em cima de onde ficava, o que era agora, a as ilhas de Cária.

- Eu... Eu até hoje não entendo muito bem como ocorreu a perdição. – comentou. – Mesmo após ler quase todos os livros na biblioteca de Adhara. –

- Cária caiu em 102 antes da Conquista de Andrômeda. – expliquei, até porque eu sabia da história de cor e salteado. – Contudo, doze anos antes, a filha do Lorde Aro Swan, que ficou conhecida como Gianna, a Sonhadora, teve um sonho que foi considerado profético de Cária sendo destruído. Ela convenceu seu pai a deixar o reino antes do cataclismo que o seguiu. Aro partiu trazendo a Casa Swan e a sua propriedade, e seus cinco dragões para cá, para a Dragonstone, e juntos vieram mais duas casas. A casa Black, que domina Driftmark, a ilha aqui ao lado, a maior da baía da água negra, e vieram também os Ateara, que dominam a Craw Isle. – contei. – Ninguém sabe ao certo o que causou a perdição de fato, talvez seja esse o motivo para a senhorita não entender. De repente as colinas começaram a explodir, enchendo o ar de cinzas, fumaça e fogo. Terremotos destruíram palácios, templos e cidades, os largos ferviam ou se tornaram ácidos. Antes do cataclismo, Cária era uma península, depois se formou várias ilhas menores, e o criou o que ficou conhecido como o Mar Fumegante entre elas. – corri rapidamente com os olhos pelo mapa. – Aqui. – apontei para uma ilha na entrada da Baía dos Escravos. – Aqui é a ilha dos Cedros, aqui tinham duas cidades costeiras, Velos, ao sul, e Ghozai, ao norte, ambas foram completamente destruídas por um tsunami. Existem duas hipóteses para a Perdição. Uns dizem que foi uma calamidade natural, onde as cadeiras de montanhas de Cária, conhecidas como Quatorze irmãs, entraram em erupção, todas ao mesmo tempo, e outros acreditando que os feiticeiros que existiam na cidade causaram a destruição. – contei. – Antes, os Swan dominavam todo o continente de Saggita, tendo a sede do poder na Cária, mas com a perdição e com os Swan deixando o continente, Saggita se tornou o caos que está hoje. Infelizmente muitas coisas se perderam com a perdição. A magia, o método de criar o aço Cariano, os registros antigos. Recentemente descobrimos que o ar das ilhas causa diversas doenças desconhecidas quando minha tia Alice, desapareceu após tentar domar Balerion. –

- Ela sumiu por quase um ano e voltou moribunda, não é? -

- Exatamente! Morreu poucos dias após voltar. Foi quando meu avô proibiu a viagem até a região, sob pena de morte. Não sabemos o que causa a doença e ninguém quer que ela chegue e se espalhe por Andrômeda. – eu terminei de explicar e bebi um gole do vinho que estava na taça em minhas mãos.

- Diga-me. – ela comentou olhando para o mapa. – Para onde o senhor me levaria? – questionou virando um pouco a cabeça para me olhar.

- Talvez para as Ilhas de Verão. – respondi apontando para um grande arquipélago localizado ao sul do continente de Andrômeda e de Saggita. – Acho que você gostaria de lá. – ponderei, e virada de frente para mim, ela apoiou as mãos na pedra fria do mapa e tentou subir na mesa, eu apoiei as minhas mãos em sua cintura e a coloquei sentada em cima do mapa. – Florestas tropicais, praias arenosas e enormes montanhas habitadas por panteras malhadas, lobos vermelhos, macacos, rios com crocodilos, além de diversas espécies de aves. –

- Não é de lá que vem o... – ela fechou os olhos por alguns segundos tentando lembrar de algo. – Navio de ganso, ou algo desse tipo? –

- Cisne. – corrigi.

- É tudo ave. – deu de ombros brincando e eu ri.

- Já viu alguns desses navios de cisne em Adhara? –

- Sim. E também já vi algumas mulheres de peles mais escuras, mais ainda do que os moradores de Apus, com roupas mais leve e vários tipos de penas coloridas. – comentou– Acho que a última vez que eu um navio de cisne foi no aniversário de quinze anos da princesa. –

- Se eu não estou enganado foi realmente a última vez que tivemos a visita de alguém das Ilhas de Verão. – ponderei antes de levar as minhas mãos para os seus joelhos, afastando um pouco as suas pernas e me acomodando entre elas, e apoiando minhas mãos na pedra ao lado de seus quadris. – Eu posso te levar para lá, caso queira. – sugeri quando ela entrelaçou os dedos atrás da minha nuca. – Quer ir? –

- Quero! – respondeu sorrindo. Eu rocei o meu nariz ao dela, antes de roçar os meus lábios aos dela e subir com os mesmos pela sua bochecha, até me aproximar de seu ouvido.

- Então assim que nos casarmos... – notei a pele de seu pescoço se arrepiando. – Vamos passar uma temporada lá. –

- E eu posso saber quando isso vai acontecer? –

- Esperemos o seu pai aparecer, porque ele vai, e tendo certeza de que ele não vai interromper ou estragar nada, eu mando buscar um alto septão da cidade mais próxima. – ela suspirou.

- Tudo bem, eu espero! –

- Para quem já está esperando por sete anos, esperar mais alguns dias não vai fazer muita diferença. – brinquei e ela sorriu. Bella roçou seus lábios aos meus e eu os beijei. Levei uma de minhas mãos até a sua nuca, apenas apoiando-a ali. Com os meus lábios juntos aos dela, entreabri a minha boca, deslizando a ponta da minha língua, pelos seus lábios avermelhados, que se entreabriram para mim, para que eu pudesse enroscar a minha língua a dela.

- Com licença, alteza. – a voz do valete vinda da porta, fez o beijo ser interrompido. – O almoço foi servido. –

- Tudo bem. – eu ouvi o som dos seus passos reverberarem pela sala, saindo da mesma. – Vamos comer? –

- Sim. Eu estou faminta. – comentou quando eu apoiei as mãos em sua cintura, a colocando no chão de novo, tirando-a de cima da mesa. – E depois, o senhor trate de ir descansar. –

- E a senhorita pensa que vai fazer o que enquanto isso? –

- Eu pretendo conhecer o castelo. – respondeu sorrindo e eu balancei a cabeça sorrindo também.

- Tudo bem. Só tome cuidado, as pedras podem ser escorregadias devido a maresia. –

- Não se preocupe com isso! – deu de ombros.

Eu beijei os seus lábios mais uma vez, antes de segurar a sua mão e guia-la para o salão de jantar, onde a mesa para o almoço, mesmo que já tivesse passado da hora habitual, estava posta. Ignorando a arrumação que os criados tinham feito, eu puxei a cadeira para que ela se sentasse ao meu lado, ao invés de sentar-se na outra ponta da mesa. Após a louça ser trocada de lugar, de forma bem rápida, nós fomos comer.

Ao terminarmos de almoçar, e ela insistir mais uma vez para que eu fosse para o quarto descansar, e que ela ficaria muito bem, eu cedi, tanto ao cansaço que eu sentia, como principalmente ao seu pedido, mas não antes de deixar Calleb de olho vivo em Bella e para onde ela iria, e sabendo que ela estaria bem e bem vigiada, eu fui para o meu quarto para dormir um pouco.

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