Walano – Ilhas de Verão –109 Depois da Conquista.
Pov. Edward.
Um ano havia se passado desde o meu casamento na tradição cariana com Isabella, e a nossa vida não podia estar melhor, sem os problemas que Adhara e Andrômeda nos trazia. Nós tínhamos mandado mais alguns corvos para o meu irmão e minha sobrinha e recebido alguns em resposta. A nossa vida era boa e tranquila, eu não sentia a menor falta de Adhara e se Bella sentia, ela não falava nada.
Hoje tinha sido um dos dias que eu tinha chamado Isabella para sairmos e darmos um passeio bem cedo, em uma das ilhas vizinhas. Nós tínhamos ido até uma cachoeira, ela estava deserta, os dragões estavam voando um pouco afastado de nós, mas eu sabia que era só chama-los que eles voltariam. Eu havia cochilado, e não fazia a mínima ideia de que horas eram quando eu despertei novamente. Nós ainda estávamos próximos ao lago, com a Bella sentada, com as costas apoiadas contra o tronco grosso de uma árvore, e eu tinha a minha cabeça apoiada em suas coxas. Eu despertei sentindo um cafuné em meus cabelos enquanto ouvia um cantarolar baixo. Isabella mexia em meus cabelos enquanto cantarolava alguma coisa.
Eu me ajeitei em seu colo, e me virei de barriga para cima e ao abrir os olhos, a encontrei me olhando e sorrindo. Ela abaixou um pouco a cabeça e me deu um beijo antes de levantar a coluna de novo e voltar a mexer em meus cabelos.
- Eu dormi muito tempo? – perguntei sentindo-a trançar uma mecha do meu cabelo.
- Só um pouco. Mas de qualquer forma, já iria te acordar mesmo, o sol está começando a se pôr e eu estou faminta. – comentou ainda mexendo em meu cabelo.
- Vamos voltar para Walano então... – ela soltou o meu cabelo e eu me levantei, me sentando ao seu lado e passando os dedos pelos meus olhos.
Eu me levantei da relva e estiquei as mãos para ajuda-la a se levantar. Eu coloquei as minhas botas de novo e Bella os seus sapatos e nós voltamos para uma campina próxima, onde tinha espaço suficiente para que Caraxes pudesse pousar, para que pudéssemos montar nele. Assoviei para chama-lo e não demorou muito e ele apareceu no céu sob as nossas cabeças, antes de descer e pousar na campina.
Ao chegarmos de volta a Walano, a noite já tinha caído e eu estava exausto, bem cansado mesmo, tanto que logo após um banho, eu só queria saber da cama, mas Bella havia insistido, isso para não falar, me obrigado, a jantar.
- Você está cansado, não é amor? – perguntou ela quando eu deitei na cama ao seu lado.
- Sim, e não sei de que. Eu realmente não faço nada o dia inteiro. – comentei aninhando a minha cabeça contra os seus seios, enquanto passava o braço por cima de sua cintura, a abraçando. – Estou ficando mole, pelo visto. –
- Ou então está colocando em dia as noites não dormidas e mal dormidas de quando ainda comandava os mantos dourados. –
- Eu prefiro a sua versão. – apontei aninhando mais um pouco a minha cabeça em seu colo, escondendo o meu rosto contra a pele de seus seios, que estava descoberta pelo decote de sua camisola.
- Caso esteja entediado por não ter nada para fazer... –
- Mesmo eu não tendo nada para fazer, eu me sinto muito melhor aqui do que em Adhara. – falei. – Se bem que, agora, tendo você do meu lado, eu me sinto bem em qualquer lugar. -
- Dorme, meu amor. – ela beijou a minha cabeça. – Eu te amo. –
- Eu te amo, minha princesa. –
...
Mais alguns dias tinham se passado e o meu cansaço havia melhorado, depois de algumas longas horas de sono eu havia me recuperado e melhorado bastante. Eu tinha deixado Bella em casa, enquanto ia até o mercado mais uma vez, eu queria comprar para ela mais algumas frutas que ela gostava, e mal eu cheguei em meu pequeno castelo e um mensageiro dos reis da ilha chegou junto, montado em um cavalo. Ele trazia um convite, a princesa iria comemorar seu aniversário, em uma festa decidida de última hora e estava convidando toda a ilha, o que nos incluía. Agradeci o convite e fui leva-lo até Isabella, para que ela decidisse se nós iriamos ou não.
Ao chegar em nosso quarto, ela não estava dormindo ainda, e eu a encontrei no banheiro, na tina, lavando os cabelos. Noite passada havia sido uma das noites em que nós ficamos algumas horas na praia, e sempre que íamos para lá, o resultado eram os nossos cabelos cheios de areia, dessa vez o de Isabella tinha mais areia do que o meu.
- Oi. – eu chamei a sua atenção apoiado na porta do banheiro.
- Oi amor. As criadas me avisaram que você iria sair. Já voltou ou ainda nem foi? – perguntou quando eu me aproximei dela, abaixei a minha coluna, e lhe beijei os lábios.
- Já voltei! E com um convite. – ela me encarou confusa. Eu puxei a banqueta do canto do banheiro, a colocando ao lado da tina, e me sentando, apoiando os meus braços na borda da mesma. – A princesa de Walano nos convidou para o aniversário dela, hoje à noite, pelo que o mensageiro disse, foi algo decidido em cima da hora, portanto todo mundo está sendo chamado agora. Caso queira ir... –
- Se eu conseguir tirar toda a areia do meu cabelo, após a brincadeira da noite passada... – ironizou e eu balancei a cabeça rindo. – Podemos ir. –
- Quer ajuda? – questionei começando a tirar a minha camisa.
- Não! – ela me parou. – Se você entrar nessa tina nós não vamos sair daqui hoje! – reclamou e eu ri.
- Vou te deixar sozinha, então. – eu beijei sua bochecha e deixei o banheiro.
Eu a deixei sozinha para que terminasse de tomar o banho e deitei na cama por um tempo. Um tempo depois, não muito, ela saiu do banheiro, trajando apenas o seu robe e com uma toalha em mãos, ela subiu na cama, se sentando ao meu lado e começou a secar o seu cabelo com a toalha e o desembaraçando-o logo em seguida.
Quando a noite chegou, Bella decidiu que iriamos à festa da princesa Kachiri, e dos vestidos que eu havia comprado para ela, daqui da ilha, ela escolheu um dos meus favoritos, eu amava como aquele vestido havia ficado nela. Ele era azul, sua cor favorita como ela mesma adorava falar, e também uma das coisas que mais lhe caia bem, ele era em dois tons de azul, na parte de cima do vestido era de um azul mais escuro e na barra um tom mais claro, bem parecido com a água azul clara da praia, as suas mangas eram longas e abertas, nos mesmos tons do vestido.
- Com toda a certeza você será a mulher mais bonita daquela festa. – comentei me aproximando dela, sentada em sua escrivaninha, e ao me abaixar um pouco, eu dei um beijo em sua nuca.
- Para com isso. – pediu prendendo os brincos em suas orelhas.
- É a verdade, não sei porque não aceita isso! – eu abri a sua caixa de joias, com o símbolo de minha família, que eu havia dado a ela na noite do nosso casamento, a maioria das joias que tinham ali eram da minha falecida mãe, e mais algumas que eu havia comprado para ela aqui, e a caixinha de joias já estava ficando abarrotada, não deveria demorar muito e teríamos que arrumar outra caixinha. Eu peguei o colar de pérolas que eu a tinha dado, o primeiro presente que eu a havia dado, quando ela ainda tinha os seus doze anos, e prendi em volta do seu pescoço. – Vou ter que me controlar para não arrancar os olhos do desgraçado que ousar olhar para a minha mulher. – comentei beijando seu ombro.
- Devo lembrar que foi você quem me deu esse vestido. – apontou.
- E qual é o problema? Você pode usar o que quiser e gostar e homem nenhum tem que olhar, além de mim! – respondi pegando a tiara de minha mãe, também de férias, e que fazia conjunto com o colar.
- Ei... O que vai fazer com isso? – questionou quando eu tentei colocar a tiara sobre a sua cabeça, e me impedindo, afastando a minha mão.
- Você é uma princesa. – disse simplesmente.
- Em Andrômeda. – lembrou-me.
- Nada disso! Em qualquer canto das ilhas, Andrômeda e Saggita, você é uma princesa nos quatro continentes do mundo conhecido. – expliquei o óbvio, e ignorando a sua mão, eu coloquei a tiara sobre os seus cabelos soltos. – E com certeza, a princesa mais bonita desse mundo. – ela sorriu para mim através do espelho. – Pronta? –
- Pronta! – respondeu. Ao se levantar ela deu uma arfada e ganhando um semblante de susto, enquanto eu a amparava antes que ela pudesse cair para frente.
- O que houve? –
- Nada! – respondeu em um fio de voz e ela limpou a garganta. – Nada, eu apenas chutei o banco. – disse, respirando fundo.
- Certeza? – perguntei, quando ela ficou de pé de novo.
- Tenho. Foi só um chute no banco, só um descuido meu mesmo, sabe como eu sou desastrada, não se preocupe. – ela sorriu para mim, mas o seu belo sorriso não havia chegado aos seus olhos. – Vamos? Daqui a pouco vai ficar muito tarde. – perguntou ajeitado o vestido.
- Vamos. – eu não tinha muito certeza do motivo, mas eu estava desconfiado do que ela tinha me dito, mesmo ela nunca tenha dado motivo para que eu chegasse, sequer pensasse, em desconfiar dela, mas mesmo com o pé atrás, eu resolvi acreditar.
Eu sabia que ela era bem estabanada quando não prestava a devida atenção aos seus passos, tanto que durante toda a sua vida, eu já havia cansado de ver alguns pequenos hematomas em seus braços, os quais Rose havia garantido diversas vezes aos seus pais, e eu havia acabado ouvindo, que aquelas marcas roxas, era apenas Isabella sendo estabanada e esbarrando nas portas, algo que havia melhorado bastante durante o final da sua adolescência.
Nós fomos para o castelo da princesa Kachiri, encontrando todo mundo com quem convivíamos na ilha no jardim do castelo. Ela tinha chamado tanto as pessoas da realeza ou não. Já era bem tarde e eu estava conversando com o pai da princesa, ele já tinha ido algumas vezes a Adhara, onde eu o tinha conhecido e ele perguntava sobre o meu irmão. Bella estava parada ao meu lado, ela tinha saído de perto de Zafrina a pouco tempo, com o braço em cima dos meus ombros e o meu envolta da sua cintura.
- Podia ter nos convidado para o vosso casamento. – a rainha falou ao entrar na conversa.
- Digamos apenas, majestade, que... O nosso casamento foi bem reservado. – respondi e vi com o canto dos olhos, que Bella sorriu junto, mas o seu sorriso morreu quando ela ficou as unhas em meus ombros, e engoliu em seco, discretamente. – O que foi? –
- Nada. – respondeu em um fio de voz, e tentou esboçar um sorriso, sem o menor sucessor, e eu conseguia observar umas centelhas, que pareciam ser de dor, em seus olhos. – Se importa... – ela limpou a garganta. – Se importa se formos para casa mais cedo? – perguntou baixo em meu ouvido, quando a atenção dos reis foi atraída por outra pessoa. – Eu estou um pouco cansada. –
- Tem certeza que não está sentindo nada? – insisti e ela apenas balançou a cabeça negando.
- Tenho! Eu só estou cansada. Só isso! Mas caso queira ficar, não tem problema! –
- Não. Está tudo bem, se estais cansada, vamos para casa. – garanti. – Majestades... – eu atraí a atenção dos dois. – Infelizmente nós já temos que ir. –
- Mas já? Está tão cedo! –
- Estamos um pouco cansados, mas não se preocupem, que outro dia podemos marcar um jantar ou algo do tipo. – garanti.
- Tudo bem, então... Boa noite... E, Isabella, foi um prazer lhe conhecer. –
- O... O prazer é meu, majestade. – a cada palavra que saia de sua boca, uma nota sôfrega saia junto.
Nós nos despedimos apenas das pessoas por quem passávamos na hora de irmos embora, na verdade eu me despedi, já que Bella mal abria a boca. Durante todo o caminho, eu tentava instigar Bella a me falar o que estava acontecendo, o que ela estava sentindo, pois eu sabia que ela estava sentindo algo. Eu sabia que se eu pressionasse, do jeito que eu fazia com as outras pessoas, era capaz de ela me falar, mas eu não queria ter que chegar nesse ponto, pois geralmente, as pessoas costumavam se machucar quando eu pressionava, quer dizer, eu costumava machucar as pessoas, e eu jamais chegaria perto de fazer algo do tipo com Isabella, portanto, eu apenas aceitava a sua resposta, eu estou cansada, eu aceitava, mesmo sem conseguir acreditar naquilo. Quando chegamos em casa, mal a porta havia sido fechada, e ela soltou a minha mão e subiu as escadas para o andar de cima, quase que correndo, sem nem esperar por mim, algo que ela jamais havia feito, a menos que eu pedisse que ela fosse na frente.
Completamente desconfiado, eu subi as escadas logo em seguida, logo atrás dela, e ao adentrar no quarto, eu não a encontrei, mas eu conseguia ouvi-la dentro do banheiro, mesmo que ela tentasse fazer o mínimo de ruido possível. Aquilo não era cansaço, eu tinha noção, mas eu não fazia ideia de como iria pressiona-la, para saber e entender o que está acontecendo, sem que eu deixasse o meu pior lado aparecer. Ao fechar a porta do quarto, eu notei que a tampa do seu baú, em frente a cama, aberto. Ela tinha pego algo dentro dele, de qualquer jeito, que um vestido, tinha até caído no chão, eu o peguei e o guardei dentro do baú novamente, fechando a tampa e me sentando sobre ele.
Enquanto eu trocava de roupa, eu continuava instigando Isabella a me responder o que ela sentia, e ela continua falando, respondendo do banheiro, que não era nada, que ela já estava saindo. Eu tirei as minhas botas, e estava começando a trocar de roupa em meu quarto, quando ouvi o trinco da porta se abrindo, e lá de dentro ela saiu com a roupa trocada. Ela parecia calma, pelo menos era o que o seu rosto tentava expressar, e o seus olhos diziam completamente o contrário. Isabella não falou mais nada, apenas se aproximou da cama, sentando-se nela, e bem baixo, eu ouvi uma arfada bem baixa, que aparentava ser de dor, em completo silêncio, ela se aproximou de mim, que ainda estava sentado sobre a tampa de seu baú, e deu-me um beijo na bochecha, e deitou-se na cama, de costas para o lado que eu costumava dormir.
Troquei a minha roupa e apaguei a maioria das velas, e deitei na cama. Como sempre, eu a tentei puxa-la para os meus braços, algo que eu nunca havia precisado fazer, e meio contra vontade, ela veio para o meu peito. Eu abracei a sua cintura e ela prontamente tirou o meu braço dali, apoiando-o um pouco mais acima de seu corpo, e ela prontamente deitou a cabeça em meu ombro. Eu fiquei um bom tempo acordado, tentando entender o que tinha acontecido para que ela ficasse desse jeito, ela havia pegado no sono primeiro, e eu só me permitir ir dormir, depois que eu tive a total certeza de que ela estava no mundo dos sonhos.
Quando eu acordei no dia seguinte, eu estava completamente sozinho no quarto, e antes mesmo que eu tivesse a chance de me levantar da cama, eu ouvi o barulho da chuva caindo e batendo contra o vidro da janela. Hoje o dia havia amanhecido bem nublado, e um pouco frio, eu apenas me vesti e coloquei a minha jaqueta, uma das mais quentes que eu tinha, e deixei o quarto, para procurar pela minha esposa.
- Alteza. – uma das criadas me parou, mal eu havia posto os meus pés no chão do primeiro andar.
- Onde está a minha esposa? – questionei, sem nem lhe dar chance de falar o que ela queria.
- Na tenda, na praia, com o dragão azul. – respondeu. – Ela já estava lá antes mesmo que os criados acordassem. – explicou e eu apenas assenti, tentando deixar o castelo. – Alteza... – ela me parou de novo, e eu apenas me virei de frente para ela de novo, e notando que ela tinha algo estranho em mãos. – O vestido, que a vossa esposa usou noite passada... – ela falava meio sem jeito e foi quando eu percebi e me toquei que essa era a criada que havia acabado de entrar em meu quarto, assim que eu tinha saído dele.
- O que tem? – perguntei, já que ela não continuava a falar de uma vez.
- Ele está... Manchado de sangue. – ela virou o tecido nas mãos e me mostrou a enorme mancha de sangue na saia do vestido. – Acho que vai ser impossível tirar a mancha. –
- Não tem problema. – disse simplesmente. – Depois eu compro outro para ela. – ela apenas assentiu e seguiu o seu caminho, voltando para o andar de cima, para terminar de arrumar o quarto, e eu finalmente, havia conseguido sair de casa. Da entrada do castelo, eu conseguia ver Tessarion deitada no divã da tenda da praia, o que significava, que Isabella ainda estava ali. Eu apenas puxei a minha jaqueta sobre a minha cabeça, para me proteger da chuva, que caía um pouco forte, mais forte do que o costume, e corri até a tenda. Tessarion foi a primeira que me viu, levantando a cabeça da almofada, e ao me ver, e ter certeza que era eu, e não um desconhecido, ela deitou a cabeça novamente. Nesse um ano, ela tinha crescido bastante, ela era criada livre e com comida em abundância, ela estava um pouco maior do que um potro, já não conseguia mais deitar completamente sobre o corpo, e tampouco sobre os ombros, de Isabella, sem machuca-la devido ao peso, e os espinhos de seu dorso começavam a aparecer, o que significava que daqui a pouco eles iriam ser fortes o suficiente para machucar. – Bella. – eu a chamei, ainda parado atrás dela, e assim que ela ouviu a minha voz, ela limpou os olhos, com as mangas de um casaco que usava, e que cobria até as suas mãos. – Está chorando? –
- Não é nada... – respondeu com a voz embargada pelo choro, e ajeitando o casaco, fechando-o mais contra o seu corpo, como se sentisse frio.
- O que houve? – insisti, contornando o divã, que as duas estavam deitadas, e me sentei na ponta dele, vendo os olhos e o nariz de Bella completamente inchados e avermelhados. – Por que estais chorando? –
- É besteira. – deu de ombros, ajeitando o casaco mais uma vez, e eu apenas olhei sério para ela, eu já estava ficando cansado dessas esquivas. – É que... Ontem eu senti falta de Adhara. – ela falou sem jeito e eu fui pego de surpresa, eu realmente não estava esperando por isso. – Senti falta da Rose... – ela continuou falando, fungando e passando os punhos, cobertos, pelo tecido de seu casaco, pelos seus olhos. – Porra, eu senti falta até do meu pai! – Tessarion tirou a cabeça da almofada e deitou-a sobre o corpo de Bella, em um modo semelhante de lhe transmitir conforto.
- Eu já lhe falei inúmeras vezes, que quando quiser ir embora, nós vamos! – falei. – Não precisa ficar assim. – eu levei a minha mão até o seu rosto, limpando as lágrimas que escorriam de seus olhos, e lhe afagando a bochecha. – Quer voltar a Andrômeda? Nós podemos ir embora hoje, se desejar. –
- Não! – ela se apressou em dizer. – Eu também não quero voltar. – eu me perdi com a sua contradição. – Eu... Eu sinto que se eu voltar, eu vou me arrepender. Eu... Eu sinto que eu não estou pronta para voltar a Adhara! –
- Caso se arrependa, nós podemos voltar para cá ou ir para outro lugar, para outra ilha, ou para qualquer uma das cidades livres de Saggita, nós não precisamos ficar em Andrômeda caso não queira. – ela apenas fungou, sem falar mais nada. Eu saí do divã e me ajoelhei no chão, sobre o tapete que cobria a areia, e aproximando a minha cabeça da dela. – Bella, que sangue é aquele no seu vestido? – perguntei com a voz baixa, ainda afagando a sua bochecha.
- Minha regra desceu, apenas isso! –
- E desde quando isso causa dor? –
- E desde quando você menstrua para saber? – perguntou ríspida e irritada, como nunca tinha feito antes. – Perdoe-me. –
- Quem tem que pedir perdão sou eu. Eu não sei realmente o que se sente quando isso acontece, me perdoe! – aproximei a minha cabeça da dela, e lhe dando um beijo em sua testa. – Eu só não quero que esconda as coisas de mim. – pedi lhe acariciando a bochecha, mais uma vez. – Eu fiquei profundamente preocupado quando sentir dor ontem. – ela fechou os olhos, sem falar nada, e eu vi algumas lágrimas translucidas escorrendo de seus olhos. – Tem... Tem certeza que é só isso, Bella? – pressionei mais uma vez, e ela apenas balançou a cabeça assentindo, sem abrir os olhos, e eu continuava sem acreditar no que ela falava. – Devo arrumar as coisas para voltar a Andrômeda? –
- Não! – respondeu em um fio de voz. – Me dá uns dias, que quando isso acabar, eu volto ao normal. – garantiu.
- Tudo bem, então! Quer comer alguma coisa? – ela apenas negou. – Pelos sete deuses, me fala o que eu posso fazer para você se sentir um pouco melhor. – pedi quase que em desespero.
- Deita aqui comigo. – pediu simplesmente.
- Tira ela detrás de você. –
Usando a língua morta, que eu tinha ensinado a ela, ela chamou Tessarion, para que ela viesse para a sua frente, deitando ali. Eu me levantei, andando para trás do divã, e deitei atrás dela, passando a mão por cima de sua cintura, e dessa vez, ela não tirou a mão dali, e a puxei mais um pouco para perto de mim, aninhando a minha cabeça contra a dela.
...
Um pouco mais de seis meses tinham se passado e realmente Isabella não havia comentado mais sobre voltar a Andrômeda, e nem que sentia falta de ninguém. Na verdade, duas semanas após o ocorrido, ela tinha voltado ao normal, voltado ao que ela era antes, contudo, eu continuava sentindo que ela não tinha sido totalmente sincera e verdadeira comigo há seis meses, mas eu havia decidido, que dessa vez, eu não iria continuar insistindo.
Hoje o sol estava bem forte e nós estávamos mais uma vez na praia, algo que fazíamos com bastante frequência quando estava quente. Bella estava sentada na beira da praia, com a água batendo na sua cintura, ela estava complemente molhada com a água salgada do mar, com o vestido e os cabelos pingando, enquanto ambos se grudavam e modelavam o seu corpo, eu estava saindo do mar, e me sentei sobre as suas pernas, que estavam descobertas, já que o seu vestido estava no meio de suas coxas, até porque não tinha ninguém ali, a não ser nós dois. Levei as minhas mãos para o seu rosto, segurando-o e unindo os nossos lábios em um beijo calmo, e logo em seguida desci com a boca pela sua mandíbula, até o seu pescoço, sentindo o sabor salgado tanto em sua boca, quanto em sua pele, e ela deitou na areia, levando consigo o meu corpo, enquanto eu sentia seus pés roçando em minhas pernas.
- Desculpa interromper... – uma voz grossa e masculina chamou a nossa atenção e me fez tirar a boca de seu pescoço, eu virei a minha cabeça, ao mesmo tempo que ela, na direção de onde vinha a voz, e encontramos Jacob, meu primo, parado, a sabe-se lá há quanto tempo, a poucos passos de nós.
- O que está fazendo aqui? – questionei simplesmente, saindo de cima de Bella, que deslizou para o lado, usando o meu corpo para cobrir a visão de Jacob, para que ela pudesse abaixar o vestido e cobrir as suas pernas, pegar o seu xale para se cobrir, já que além de seu vestido marcar o seu corpo, ele era um pouco transparente.
- Precisamos conversar. – respondeu sério. – Infelizmente, acho que as férias de vocês acabaram! –
- Pai... – ao longe eu conseguia ouvir a voz e os passos, contra a areia, de Alec, que logo apareceu por trás de seu pai. – O príncipe Edward não está no castelo e nem a Bella e... – ele nos viu, na verdade, me viu, já que eu cobria a visão dos dois de Isabella. – Oh, o senhor os achou... – falou meio sem jeito ao ver o estado em que nos encontrávamos.
- Esperem por mim na sala de jantar, que assim que eu me secar e me trocar, eu me encontro com vocês! –
- Sim alteza. – Jacob disse simplesmente, e pai e filho nos deram as costas e seguiram para o lado de dentro do castelo.
- Alguma coisa muito ruim aconteceu... – comentei me levantando da areia. – Jacob não viria até aqui pessoalmente caso não fosse algo ruim ou sério. –
- E o que pode ser considerado como algo muito ruim? – perguntou Bella, quando eu a ajudei a se levantar. – Tudo o que passa pela a minha cabeça não é algo muito ruim! É muito péssimo! – respondeu.
Eu não falei mais nada, até porque eu não sabia sobre o que Jacob queria falar comigo, eu só conseguia pensar que algo pudesse ter acontecido com minha sobrinha ou com meu irmão. Nós entramos no castelo, seguindo direto para o nosso quarto, Bella deixou o banheiro livre para que eu pudesse tirar a areia de meu corpo e me trocar rápido, ela estava ansiosa para saber o que Jacob e Alec queriam, e ela não era a única. Deixei o quarto, deixando que Bella se lavasse e se livrasse da areia de seus cabelos, sem ninguém lhe atrapalhando, e eu desci para a sala de jantar, onde eu tinha pedido para eles me esperarem. Bella não participaria da conversa, ela mesma havia decidido isso, e se caso algo tivesse ocorrido com alguém que ela gostava, eu queria que ela soubesse por mim, pois eu sabia que Jacob não seria cordial com ela, do jeito que eu seria.
Eles estavam sentados nas cadeiras, perto da janela, no final da sala, quer dizer, Jacob estava sentado, com uma taça de vinho em mãos, e Alec olhava pela janela, a paisagem que dava para o quintal, e campina dos fundos, onde os dragões estavam. Quando eu entrei na sala, Jacob foi o primeiro a perceber a minha aproximação, mas não falou nada, e Alec só deixou a janela, e se sentou na cadeira ao lado de seu pai ao ouvir os meus passos sobre o piso de pedra. Ao me ver, eu notara que ele havia ficado completamente desconfortável, talvez pelo que acabou presenciando há pouco na praia, enquanto o seu pai, pouco ligava.
- O que você quer? – perguntei simplesmente.
- Depois de dois anos é assim que recebe os seus primos? – rebateu e eu apenas revirei os olhos. – Achei que estaria de bom humor. –
- Eu estou de bom humor, e ele estaria muito melhor caso eu estivesse fazendo o que eu estava planejando fazer com a minha esposa, quando você, meu primo, me atrapalhou. – apontei e ele revirou os olhos.
- Isabella está... Diferente. – comentou mudando de assunto. – Ela está quase irreconhecível, está com um ar muito mais leve, aparenta estar até mais bonita. –
- Jacob... O que você quer? – insisti e ele apenas suspirou.
- Você sabia que alguns escritos dizem que a casa Black e mais antiga do que a própria casa Swan? A grande diferença é que nós não nascemos com os dons de montar em dragões. Desde os primórdios fomos obrigados a cruzar os mares pela nossa sobrevivência. E quando eu acendi ao meu posto, eu sabia o que eu queria! Então eu fui atrás e conquistei! Ao contrário dos outros lordes, fui eu quem construiu o auto posto da minha casa com a força do suor do meu rosto. – Alec olhava confuso para o pai e eu tinha certeza que era a mesma expressão que eu tinha em meu rosto. – Desde o início eu sempre enxerguei a mim e a você como duas pessoas parecidas! –
- Mesmo? – questionei. – Eu não sabia que tinha um irmão rei também! – ironizei.
- Não, Edward, nós somos dois homens que sempre precisamos lutar pelo nosso lugar no mundo, que fomos passados para trás diversas vezes e... –
- Você cruzou todo o mar estreito e o mar de verão, e veio até Walano para atrapalhar a minha vida, apenas para me lembrar da minha baixa posição, lorde Black, ou você tem outro motivo para a visita? – questionei.
- O senhor soube dos problemas em Stepstones? –
- Não, Jacob, eu não soube! Graças aos deuses eu estou há dois anos sem pisar em Andrômeda e sem saber quaisquer noticias que venham de lá. Apenas o que meu irmão e sobrinha mandam! – apontei, me debruçando sobre o encosto da cadeira, em frente a Jacob e Alec.
- A Triarquia tomou Stepstones! De início, o seu irmão, pouco se importou, eles tinham acabado com os piratas, que estavam saqueando os navios da região, na verdade, vosso irmão até ficou feliz, não duvido nada. – suspirou e bebeu outro gole de vinho. – Só que agora, em menos de um mês, quatro navios desapareceram, o último com a minha bandeira, e Stepstones se tornou um lugar de confrontos. Um príncipe de Mensa está alimentando os caranguejos com marinheiros de Andrômeda, meus homens! – explicou, começando a ficar furioso, e eu tentava entender, no que isso me afetava. – Eu solicitei, inúmeras vezes, ao rei, para que ele enviasse um navio meu, com meus soldados, para aquele território, mas ele recusou. Disse que compensaria o meu navio, mercadoria e homens, e compensaria as famílias das vítimas. – cuspiu irritado. – Eu não quero uma compensação. – disse e respirou fundo para se acalmar. – Eu pedi ao seu irmão para enviar um navio meu, para me ceder alguns soldados e ele recusou. Disse que não quer uma guerra com as cidades livres! –
- Eu sempre soube que esse nunca havia sido o ponto forte do meu irmão, lorde Black. – falei, quando ele parou de falar, bebendo o resto do vinho de seu copo, em uma tentativa de se acalmar. Eu me desencostei do encosto da cadeira, e me aproximei da mesinha de canto, próximo a ele, e enchendo uma taça com vinho para mim, e derramando mais um pouco na sua.
- O que exatamente? – questionou vendo eu encher a sua taça. – Obrigado. –
- Ser rei! – respondi sincera e francamente, ao guardar a jarra na mesa de novo. – Carlisle, Carlisle era igual ao meu avô, sempre preferiu a diplomacia! Sempre! – eu bebi um gole de vinho ao voltar para onde eu estava. – A diferença, era que nessa situação, caso meu avô visse que a diplomacia não havia dado certo, ele mandaria todo o seu exército, além de todos os dragões montáveis que ele tinha, isso, se ele próprio não fosse atrás da Triarquia com o Vermithor. – voltei a me apoiar no encosto da cadeira. – Ele sempre quis acabar com a Triarquia, mas ela havia sumido, desde a última vez há dez... Doze anos! – eu bebi mais um gole do vinho. – Explica-me, lorde Black, como chegou até aqui, se a Triarquia está tomando conta de Stepstones, e consequentemente, de uma grande parte do sul do Mar Estreito. – pedi.
- Eles estão mais aglomerados entre Bloodstone, Grey Gallows e Torturer’s Deep, próximo a costa de Apus – explicou. – Eu precisei vir quase contornando a costa de Saggita, e Gianna veio nos escoltando com Meleys, até nos afastarmos de Stepstones. – explicou. – Alteza... – ele colocou a taça de vinho na mesinha ao seu lado. – O senhor precisa entender, que o Engorda Caranguejo, como ele é conhecido por entidades poderosas das Cidades Livres e que desejam ver Andrômeda enfraquecida, está ganhando uma força simplesmente absurda! Boatos que ele está sendo financiado por poderosos das Cidades Livres, e por isso, ele está em territórios tão próximos a Andrômeda, ao invés de pegar todo o território de Stepstones, como a Triarquia fez inúmeras vezes antes. E eu sou obrigado a dizer que os fracassos do rei, está deixando, está permitindo, que ele se fortaleça. Se a rota marítima acabar, a minha casa será afundada. – ele falou entre os dentes. – E eu jamais permitirei que Driftmark e a casa Black empobreçam, enquanto o nosso rei se deleita com banquetes, bailes e torneios. – ele cuspiu.
- Alto lá. – eu o interrompi falando sério e olhando firme para ele. – Eu falarei mal do meu irmão, do jeito que eu bem entender. – falei firme. – Mas você não! – alertei.
- Defender Stepstones, é a vossa chance de provar o seu valor para qualquer um que possa sequer pensar em duvidar. – ele falou sério e me encarando, ignorando completamente o aviso que eu tinha dado anteriormente. – Charlie ainda te odeia, e a cada dia que a filha passa longe de Andrômeda, ele te odeia mais ainda, mas se você provar o vosso valor em Stepstones... – ele deixou a fala morrer. – Nós somos os segundos filhos do reino, Edward, o nosso valor não foi dado, ele deve ser criado! –
- Quando você chegou e falou que tinha sérios problemas, eu pensei que meu irmão ou minha sobrinha estavam morrendo, por um momento pensei até no próprio Charlie, mas em momento algum eu pensei que o problema era que você está tendo problemas em suas rotas marítimas! – reclamei entre os dentes. – E eu não preciso, e tampouco quero, provar o meu valor para Charlie, ou para qualquer outra pessoa, a única pessoa com quem eu me importo com a opinião é a minha esposa! – eu parei de falar ao ouvir a porta se abrindo a alguns passos atrás de mim, e eu suspeitava quem era que estava entrando no salão de jantar.
- Perdoem-me pela intromissão. – eu ouvi a voz de Bella vindo trás de mim. – Está tudo bem? – ela perguntou a mim, ao parar ao meu lado, e eu notei que ela ainda tinha os cabelos bem molhados, eles não escorriam a água, mais ainda estavam bem molhados.
- Está! – garanti. – Rosalie, Carlisle estão bem, é... É problemas de negócios. – resmunguei.
- E meu pai? – ela perguntou olhando para Jacob.
- Lorde Hightower está ótimo, lady Isabella... Quer dizer... Está enlouquecendo a todos por não ter notícias da senhora a tempos, mas ele está ótimo. – garantiu.
- Ah... – Alec se pronunciou após um longo tempo no completo silêncio apenas ouvindo a minha discussão com o seu pai. – A princesa Rosalie pediu que eu lhe entregasse isso, apenas em vossas mãos. – ele tirou de dentro do bolso de sua jaqueta, um pergaminho, até que bem grande, maior do que o de costume, enrolado e selado com o selo do rei.
- Obrigada, Alec. – ela pegou o papel. – Então já que está tudo bem, eu vou deixa-los conversarem e vou ver o que Rose deseja... – ela me encarou, olhando no fundo dos meus olhos. – Você está bem? –
- Estou! Só que a paz que eu senti nesses dois anos já está acabando... – resmunguei e ela sorriu. Ignorando completamente o fato de que nós não estávamos sozinhos, ela levou a mão até o meu rosto, sobre a barba, que estava crescendo, e beijou-me a bochecha. Eu segurei a sua mão, que ainda estava apoiada em meu rosto, e lhe beijei a palma.
- Com licença, senhores. – com o papel que Alec tinha trazido, ela deixou o salão de jantar.
- Você pode pegar o reino de Stepstones... – ele voltou a falar como se Isabella, não tivesse interrompido a conversa.
- Stepstones? – cuspi. – Eu renuncio ao reino de Andrômeda a favor da minha sobrinha, e você espera que eu tome Stepstones? – questionei entre os dentes.
- Eu deixei bem claro, a minha opinião, de que ouvir a vossa esposa sobre a renuncia fora um erro e... –
- Eu não me arrependo. – o interrompi. – Continuo mantendo o mesmo pensamento de que se fosse com a minha filha, eu jamais aceitaria! E é por ouvir a minha esposa, que eu não sei se devo ou não me juntar a você nessa guerra. –
- Edward, sem você o Caraxes, nós vamos perder e... –
- Você tem Alec e Seasmoke. – eu o interrompi de novo. – Ele pode ser um dragão novo ainda e sem experiência em batalha, mas não deixa de ser um dragão. –
- Dois é melhor do que um! – disse simplesmente. – Com dois, nós podemos acabar com essa guerra mais rápido. –
- Você tem noção de que caso nós nos unirmos a essa guerra, nós poderemos ser considerados como traidores perante a coroa, não sabe? –
- Isso se ganharmos a guerra! –
- Sim, até porque, caso percamos, é porque morremos! E eu me casei a pouco tempo e eu não deixar a minha esposa viúva! – falei entre os dentes. – Além do fato de que eu deixei bem claro, que eu só voltaria a Andrômeda, quando ela quisesse. –
- Se eu estiver certo quando a minha desconfiança, sobre o que a princesa Rosalie escreveu naquele pergaminho para a melhor amiga, ela vai querer voltar hoje mesmo para Adhara. – comentou sorrindo, como se soubesse que isso significava que essa era a minha resposta para entrar nessa investida. – Além do que, pense um pouco, isso não é algo que deveria ser decidido assim. Eu sei. Depois que anos finalmente encontrou uma mulher que goste e que goste de você, algo que devo admitir, todo o reino achou que tal mulher jamais existiria, mas ela existe, e entendo o vosso sentimento de não querer deixa-la viúva tão cedo, e sem filhos, pelo que pude notar, mas como eu disse, converse com ela, e pense e eu sei que amanhã eu terei a minha resposta quando a essa investida. Se bem que eu já desconfio qual ela será. Você é um guerreiro Edward, sempre foi, o melhor guerreiro de Andrômeda, e está simplesmente escondido nessa ilha, fico pensando se você ainda tem aquele fogo pela guerra que você tinha antes! –
- Em primeiro lugar, eu não estou escondido em lugar nenhum. Eu vim para cá porque eu simplesmente não aguento mais a podridão de Adhara, e se o senhor pensar bem, lorde Black, sabe que essa é a minha terceira vinda para a ilha, portanto, esse meu “esconderijo” não é nenhuma novidade. – disse fazendo aspas no ar ao repetir o termo esconderijo. – E em segundo lugar, eu continuo sendo o melhor guerreiro de Andrômeda, mesmo não estando mais no continente, e o fogo pela guerra continua existindo, mas o fogo que eu sinto pela a minha esposa é maior ainda. Em terceiro lugar, eu não lhe dei permissão e tampouco intimidade para notar, ou sequer, mencionar o fato de eu não ter filhos ainda, eu e tampouco a minha esposa estamos com pressa, e de qualquer forma isso não diz a respeito a ninguém além de nós dois. E em quarto, e último lugar, você disse que não tinha acontecido nada de ruim com o meu irmão e sobrinha, a ponto de a minha esposa desejar voltar hoje mesmo a Adhara. – disse entre os dentes e me aproximando dele.
- Mas... De ruim, realmente não aconteceu. – disse, e eu permaneci encarando-o até que ele falasse. – Até porque todos no reino veem um casamento, não do jeito que foi o do senhor, caso permita-me a observação, como algo bom! –
- Quem vai casar? – questionei.
- O rei! –
- Com quem Carlisle vai se casar? –
- Eu havia sugerido Jane, ela não é nenhuma criança, já menstruou, já pode se casar, e ele teria inúmeras vantagens e benefícios caso se casasse com a minha filha e uníssemos as nossas casas mais uma vez, contudo, ele recusou! Pelo que eu ouvi, noventa por cento do conselho, aconselhou o rei a desposar Jane, mas ele não ouviu ninguém, tampouco o melhor amigo, braço direito e Mão do Rei, vosso sogro, e escolheu Jéssica! – falou e eu pensei um pouco, Jéssica era a filha mais nova do lorde Strong, eu já tive problemas com um dos filhos do Strong há alguns anos, e pelo me lembrava, ela diversas vezes tentara ser amiga de Rose, e consequentemente de Bella, e falhara miseravelmente, Rose sempre seria amiga apenas de Isabella, do mesmo jeito que Bella era amiga apenas de Rose. – E pelo que Alec me lembrou, durante a nossa travessia pelo Mar de Verão... A princesa, e consequentemente, a vossa esposa, nunca gostaram de Jéssica! Com toda a certeza, a princesa vai querer a amiga do lado, durante o casamento do pai, menos de dois anos após a morte da própria mãe! –
- Lorde Black... Verei minha esposa. – falei simplesmente e dando por encerrado a conversa. – Os criados levarão o senhor e vosso filho, a uns aposentos para descansar, a menos que queiram permanecer em seus navios. E igual a renúncia, eu irei conversar com a minha esposa, quanto a vossa proposta. Amanhã terás a minha resposta em definitivo! –
- Tudo bem. –
Eu não esperei que ele falasse mais nada, e virei-me de costas, deixando a taça, ainda cheia de vinho, pois eu não havia bebido quase nada, em cima da mesa de jantar, e os deixei ali sozinhos. Ao passar por algumas criadas pedi para que, caso os dois quisessem, levassem-nos para os quartos de hóspede. Com a ordem dada, e a ordem de que o jantar continuaria sendo servido no quarto, já que eu não desejava ver Jacob hoje mais uma vez, eu segui para o andar de cima, e para o quarto, o qual eu dividia com Isabella. Entrei no aposento, e encontrei com Bella sentada no sofá próximo a janela, o qual ela havia pedido para ser posto ali, ao invés de ficar aos pés da cama, para que ela pudesse ver Tessarion voando, ou sentir a brisa fresca enquanto lia alguma coisa. Igual hoje, ela ainda tinha o pergaminho aberto que Rose havia mandando, e pelo tempo em que eu continuei na sala de jantar, após Alec ter lhe entregado o papel, ela provavelmente já lerá aquilo centenas de vezes. Bella só notou a minha presença no quarto, quando eu beijei o topo de sua cabeça, e ela levantou a mesma para me olhar.
- Oi amor. –
- Oi. – abaixei um pouco a cabeça e lhe beijei os lábios, tirando, logo em seguida, as suas pernas de cima do sofá, e colocando-as sobre as minhas coxas. – O que Rosalie escreveu? – perguntei, fingindo não saber sobre a informação que havia chegado a mim por Jacob.
- Ela pediu para eu voltar a Adhara! – respondeu simplesmente. – Parece que o rei resolveu se casar com a Jéssica, e ela quer que eu volte. – ela colocou o pergaminho enrolado na mesinha de canto, que tinha atrás dela. – Eu... Eu só não consigo compreender... Eu nunca vi o rei perto de Jéssica, para decidir se casar com ela de forma tão de repente, pelo que Rose escreveu. – ela apoiou o cotovelo no beiral da janela, e a cabeça em sua mão.
- Bella, você precisa entender, que um pai pode ir bem longe para ter a filha numa posição alta! –
- Acha que o lorde Strong fez a cabeça do rei? –
- Não! – respondi sem precisar pensar, até porque eu sempre soube dessa resposta. – O único que tem poder o suficiente para fazer a cabeça do meu irmão, é o seu pai. – falei e ela me encarou com as sobrancelhas curvadas, criando uns vincos no meio de seus olhos. – Me perdoe, eu sei que você não gosta quando eu falo desse jeito do seu pai, mas é a pura verdade. Carlisle sempre deu ouvido ao Charlie, sempre, ele sempre deu mais ouvido ao seu próprio pai, do que a mim, que era irmão dele! – suspirei. – De qualquer forma, Carlisle sempre foi muito emocional, sempre foi. Larry pode ter usado a fragilidade que ele estava sentindo desde a morte de Esme, e obrigou, ou convenceu, a filha a fazer companhia ao meu irmão, e do jeito que ele é, eu não duvido nada, que ele possa realmente ter se apaixonado por ela. – eu virei o rosto, olhando-a. – Não digo amar, pois para mim, Carlisle sempre vai amar Esme, não importe quanto tempo passe, por mais estranho que tal amor possa ter sido, já que ele teve coragem de fazer o que fez... – suspirei de novo, olhando para frente e para o chão do quarto. – Mas ele não vai amar outra mulher como ele amou Esme, mas isso não muda o fato de que ele possa estar apaixonado! – apontei, ela tirou a mão da janela, e se aproximou um pouco mais de mim, aproximando o seu quadril do meu, e quase subindo ao meu colo, e fazendo com que a minha mão, que estava apoiada em sua panturrilha, deslizasse até parar em sua coxa.
- O que o lorde Black queria? – perguntou mudando de assunto de repente. – Você pode ter dito que estava tudo bem, mas eu sei que não está! – eu respirei fundo. – Estais com a mesma expressão nos olhos, a mesma expressão que estavas no dia que veio falar comigo sobre a sucessão do trono de ferro, que o vosso irmão tinha dito que você era herdeiro dele. –
- Ele quer iniciar uma guerra contra a Triarquia, e quer que eu vá junto. –
-Achei que tinham acabado com a Triarquia há anos! – apontou.
- Eu também! Mas pelo visto se reagruparam, estão sendo financiados pelos governantes das Cidades Livres e tomando conta do mar Estreito, enquanto estão dominando as ilhas mais próximas a Apus. – ela não falou mais nada, apenas fechou os olhos respirando fundo.
- E você quer ir? – perguntou ainda de olhos fechados, e eu não me atrevi a responder. Como eu poderia explicar a ela, que o meu lado guerreiro ansiava a tempos por uma guerra, e em contrapartida o meu lado protetor não queria que eu me afastasse dela, nem por meio minuto sequer, temendo que algo pudesse lhe acontecer? – Bom... – ela deve ter tomado o meu silêncio como uma confirmação. – Com o exército do rei, talvez essa guerra não se estenda muito! –
- Esse é o maior problema! Carlisle não quer ajudar! Ele não quer começar uma guerra com as Cidades Livres e Jacob está tendo problemas com as rotas marítimas, pois a Triarquia já dominou, se não toda, uma boa parte de Stepstones. Estão afundando os navios que passam por ali, e os marinheiros que sobrevivem, o líder está dando-os para os caranguejos das ilhas... –
- Isso... Isso não faz o menor sentido! No final, quem mais perde é Andrômeda! –
- Eu sei! Eu sempre falei que Carlisle não era um bom rei, ele gosta de resolver tudo na diplomacia, sendo que não há, e nunca houve diplomacia com a Triarquia! –
- E isso significa que você vai! – falou simplesmente.
- Eu não quero ir e te deixar sozinha. Uma parte minha quer ir, e a outra quer ficar com você. E eu prefiro, um milhão de vezes, deixar o meu lado protetor vencer essa briga! – ela sorriu amorosamente para mim. – Por mim eu não iria e ficaria com você, mas eu vou te falar, o mesmo que eu falei para o Jacob. Eu iria conversar com você, e caso você pedisse para eu não ir, eu não iria. –
- E eu posso deixar um guerreiro de fora de uma guerra? – questionou sorrindo.
- Pode! Porque se vencermos, as chances de Carlisle, apenas por pirraça, nos acusar de traição é enorme, e se perdemos... Sabe que eu não voltarei para casa! – ela se sentou em meu colo, apoiando a cabeça em meu ombro e me abraçando forte. – E eu não sei, se eu ficaria tranquilo sabendo que você ficará, sabe-se lá, quanto tempo perto do seu pai! – apontei, abraçando o seu corpo também.
- Ele nunca fez nada comigo, meu amor, não será agora que ele vai fazer! –
- Eu não confio! Perdoe-me, mas eu não confio em seu pai. –
- Amor... – ela afastou um pouco a cabeça do meu ombro, mas não desfez o abraço. – Lembra do que me disse após aquela carnificina, que fizestes em Adhara? – perguntei, mas ela voltou a falar sem me deixar ter tempo para responder. – Eis o melhor guerreiro de Andrômeda, e o Caraxes é o melhor dragão de batalha. Seu irmão pode não pensar que a Triarquia dominando Stepstones possa ser um problema, mas eu penso que é. E sinto que você é um dos poucos que pode acabar com isso. –
- Uma guerra demora, Bella. Eu não sei quanto tempo eu ficarei fora, e as chances de eu conseguir sair de lá para te ver, são nulas! –
- Eu sei! – suspirou. – Mas sozinho, o lorde Black, não tem chance ou pode demorar dez anos, e com você pode ser que demore muito menos. E, talvez, com você se juntando, o rei possa mudar de ideia e enviar o exército! –
- Eu não sei exatamente o que o seu pai falou sobre o meu irmão, mas ele mentiu na maioria das vezes! -
- Meu amor... – ela levou as suas mãos até o meu rosto. – E vou ficar bem, não precisa se preocupar comigo! –
- Você quer voltar a Adhara, não quer? – perguntei logo, mas se recusava a falar.
- Só por um tempo! – admitiu de uma vez. – Depois que você voltar da guerra e a Rose se acostumar com esse casamento, nós voltamos para cá, ou vamos para outro lugar. – ela deu de ombros sorrindo.
- Eu amo esse seu otimismo! – comentei sorrindo e ela riu graciosamente para mim.
- Mas é bom, você voltar para mim inteiro! – comentou séria, e eu apenas sorri mais uma vez para ela, e logo em seguida ela apoiou a cabeça em meu ombro de novo, e eu voltei a abraça-la forte contra o meu corpo.
- Eu prometo fazer o possível e o impossível para voltar vivo e inteiro para você! – garanti dando um beijo no topo de sua cabeça e afagando o seu braço, com o meu polegar. – Mas, você vai ter que me prometer uma coisa também. –
- O que? – questionou aninhando a sua cabeça mais contra o vão do meu pescoço.
- Se você descobrir que estais grávida, você tem que prometer que vai me enviar um mensageiro o mais rápido possível. Independentemente de como estiver a guerra, eu quero voltar e ficar perto de você quando a hora chegar, do jeito que eu prometi. –
- Não se preocupe com isso! – eu a abracei forte de novo e lhe dei outro beijo no topo de sua cabeça.
Eu fiquei o resto do dia no quarto com a Bella, tendo-a em meus braços, já que eu, infelizmente não sabia ao certo de quando eu a teria em meus braços mais uma vez, e mexendo em seus cabelos, ainda úmidos, sentindo o cheiro de seus cabelos recém lavados, fazendo com que eu afundasse o meu rosto nele. Eu ainda tinha dois meses da viagem de volta a Adhara, e a partir de amanhã, nós iriamos começar a preparar as coisas para tentar irmos embora em até uma semana. Jacob iria ficar conosco e ir embora junto, para que tivesse a escolta de Caraxes, já que ele não sabia ao certo se Gianna iria fazer a escolta por Stepstones mais uma vez, já que Alec não havia vindo com Seasmoke. Ao ter a minha resposta, que o ajudaria contra a guerra contra a Triarquia, ele enviou um corvo até Driftmark, onde a sua esposa estava, e ele só torcia para a mensagem chegar a tempo, e que Gianna, conseguisse nos encontrar daqui a um mês, mais ou menos, sobrevoando os céus de Stepstones.
Uma semana foi necessária para que pudéssemos arrumar tudo, e para que eu pudesse colocar a casa em ordem, até porque eu não sabia quando eu conseguiria voltar, mesmo sabendo que eu voltaria, pois Isabella queria voltar. Bella estava saindo daqui com o triplo, ou quadruplo, de coisas que ela havia trazido, mesmo sabendo que não iria usar as roupas que usava aqui.
- Nós precisaremos ir contornando o continente de Saggita. – Jacob comentou, era de manhã bem cedo, os dois navios estavam terminando de serem abastecidos e Bella se despedia de Zafrina a alguns passos a nossa frente.
- E Apus? –
- Apus está com toda a frota protegendo a costa, ninguém que não esteja carregando as bandeiras do principado conseguem se aproximar a costa sem serem derrubados. E outra, depois será quase impossível nós conseguimos nos desviarmos de Grey Gallows. Teremos que torcer para não precisarmos aportar nem em Lys e nem em Tyrosh. –
- Usaremos com sabedoria até nos aproximarmos de Mensa. – apontei. – Vou chamar a minha esposa, para irmos. – ele apenas assentiu e eu me aproximei de Bella e Zafrina.
- Espero que não demore para voltar. –
- Eu também. – ouvi Isabella respondendo a amiga que havia feito aqui nas ilhas rindo.
- E você cuide dela. – falou quando eu me aproximei de Bella, e lhe abracei a sua cintura.
- Não se preocupe com isso. – garanti. – Foi bom ter lhe revisto Zafrina. –
- Digo o mesmo. –
- Vamos? -eu soltei Bella, para que Zafrina pudesse lhe dar um abraço, do jeito que ela tinha dando a entender o que faria. Após nós termos nos afastado de Zafrina, em direção ao barco, Bella olhou para cima, vendo os dois dragões sobrevoando o mar.
- Tessarion vai seguir? Quando viemos, ela veio dentro do navio. –
- Ela vai te seguir! Quanto a isso não se preocupe. – garanti. Eu beijei a bochecha e nos aproximamos dos navios, onde Alec e Jacob estavam na entrada do cais, falando com os capitães.
- Temos que usar tudo o que foi abastecido com sabedoria, nós só conseguiremos atracar em alguma cidade para reabastecer quando chegarmos a Mensa. Eu quero os dois navios próximos um do outro, principalmente quando nos aproximarmos de Stepstones. –
- Sim senhor. –
- Tessarion ataca? – perguntou a Bella.
- Bom... Nunca precisou! –
- Provavelmente se ela sentir que Isabella está em perigo. – falei.
- Ótimo. –
- Por que não trouxe Seasmoke? – Bella questionou a Alec, já que o dragão dele, já era um dragão montável.
- Eu... Eu nunca tinha deixado o continente de Andrômeda, e temi que ele acabasse se perdendo na imensidão do mar de verão, em busca de um lugar de descanso ou comida durante a travessia. – respondeu. – O trajeto máximo que Seasmoke percorre é de Driftmark até Adhara... – deu de ombros.
- Vamos, temos que pegar o máximo de luz do sol possível. – falei.
Jacob e Alec foram para o navio que tinha a bandeira da casa Black, e, segurando a mão de Isabella, eu dei um passo para que pudesse subir no navio, que tinha a bandeira dos Swan, só que Bella não andou comigo. Ela parou olhando para trás de si, para a ilha que foi o seu lar durante quase dois anos, e provavelmente o primeiro lugar onde ela sempre havia se sentindo bem. Uma parte minha queria que ela mudasse de ideia, e falasse que não queria ir mais, e eu simplesmente cancelaria tudo, mas não, ela apenas respirou fundo e se virou de frente para mim, e ao notar que eu tinha os meus dois olhos bem presos nela, ela apenas sorriu para mim, e se aproximou, ficando na ponta dos pés e dando um beijo em meus lábios e me puxando para dentro no navio, me nos levaria de volta a Adhara, e me levaria, por não sei quanto tempo, para longe dela.
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