domingo, 19 de novembro de 2023

Capítulo 18

                                                          Dragonstone – Continente de Andrômeda –112 Depois da Conquista.

Pov. Bella.

Quase dois anos haviam se passado desde que Edward havia partido para Stepstones e até o momento ele não tinha voltado. Eu tinha enviando mais algumas mensagens, mas haviam sido poucas. Não havia respondido a sua pergunta sobre o que a minha tia havia feito, e ele não tocou novamente no assunto, eu sabia que Calleb tinha contado a ele, e não duvidava nada de que tinha contado também da minha discussão com o meu pai e da minha “declaração” de guerra, de qualquer forma, ele não havia perguntado nada. As minhas mensagens para Edward era sempre a mesma coisa, eu avisava que eu estava bem, e ele me falava que estava bem. Eu não perguntava da guerra e nem ficava perturbando quanto ao fato de quando ele voltaria, e ele não me preocupava sobre o que tinha acontecido lá.

Depois que eu, os guardas e Tessarion deixamos Hightower, eu tinha a ideia de assim que chegasse a Adhara ir embora para Dragonstone, antes que meu pai chegasse. Contudo, eu havia sido proibida pelo próprio rei, meu pai havia enviado um corvo ao rei, para que ele me proibisse de ir, e eu não podia ir contra a ordem do mesmo, por mais que eu quisesse. Mas, para a minha surpresa, o rei havia me chamado para conversar em sua sala de reuniões. Sozinha. Apenas eu e ele e ele pediu para que eu explicasse com calma sobre o que tinha acontecido em Oldtown, pois, as suas palavras foram que ele recebeu dois corvos, um do meu pai querendo que ele me proibisse de deixar a Fortaleza Vermelha até ele voltar, e outra do meu tio, falando que eu havia envergonhado toda a família.

Eu tentei contar de forma fria, mas foi difícil segurar o choro ao repetir as exatas palavras de minha tia, meu tio e que o meu próprio pai, haviam dito. E acabei admitindo que eu sabia que havia sido ele, o próprio rei, quem havia proibido as mensagens de Edward chegarem para mim. Carlisle não falou nada, apenas passou a mão, coberta pela luva de couro, pelo rosto. Ele havia pedido desculpas pelas mensagens, mas para mim aquilo não era sincero. Eu praticamente só havia deixado a sua sala quando a noite começou a cair, com um pedido e aviso dele. Ele não iria me proibir de deixar Adhara, caso eu quisesse ir para Dragonstone, e até deixava Rosalie ir comigo, mas queria que eu esperasse até o meu pai voltar, ele queria conversar comigo e com o meu pai juntos. Segundo ele, era inadmissível o fato de o meu pai não ter me defendido das palavras de meus tios.

Resolvi permanecer mais uns dias no castelo com Rosalie, eu sabia que tal conversa entre mim, meu pai e o rei não adiantaria de nada, mas o rei queria fazer algo de bom, principalmente depois de tantos meses sem permitir que eu tivesse notícias do meu marido. Meu pai voltou do jeito que havia prometido, ele voltou apenas no início do mês seguinte, e mal ele pisou no castelo e Carlisle ordenou a sua ida para a sala do trono, e lá eu já me encontrava.

Jamais havia pensado que eu viveria para ver o meu pai levar um sermão do rei, principalmente por algo que envolvesse a mim. Meu pai tentou rebater, ele não admitiu que havia suspeitado e levianamente me acusado de trair o príncipe, mas ele tentou rebater quanto a cor do vestido que eu havia usado. Para Carlisle, isso pouco importava, ele estava mais preocupado pelo que a minha tia havia dito, referente a Edward e eu, e meu pai sequer havia manifestado sequer um mínimo intuito de me defender.

Eu sabia que aquilo não levaria a lugar nenhum e apenas perguntei ao rei se ele já permitia a minha saída da sala, e ele apenas concordou. A noite já havia caído e depois do jantar, eu disse a John, o guarda que estava a postos hoje, de que não queria receber mais ninguém, e tranquei a porta. Eu não queria ficar trancada no quarto hoje, queria espairecer e respirar fundo. Enquanto eu me trocava, colocando a roupa de pajem, eu ouvia o meu pai do outro lado, batendo a porta e exigindo que eu a abrisse, e ele foi interrompido por John, pedindo que ele se retirasse, pois eu não iria mais abrir a porta hoje, eu não ouvi mais nenhuma resposta e apenas deixei o quarto pela passagem secreta, indo para o quarto de Rose e entrando de supetão no quarto, fazendo-a se assustar e depois começar a rir.

Havíamos decidido ficar na corte até o aniversário de Rosalie, na verdade não havia sido decidido por nós, havia sido mais uma chantagem que o rei havia feito a filha, lhe prometendo uma festa de aniversário como Andrômeda jamais viu! Mais uns meses foram se passando, estava quase completando dois desde a partida de Edward, quando o aniversário de Rosalie chegou. Eu ainda não tinha me entendido com o meu pai, e ele também não fazia nenhuma questão, tanto que, nas justas que foram realizadas em homenagem ao aniversário de Rose, eu estava igual a ela, vestida vermelho e preto, já meu pai se encontrava vestido, não de preto como de costume, mas com as cores verde água, as cores dos Hightower, já Jéssica, com um espalhafatoso vestido verde esmeralda. Todos os que compareceram as justas haviam descoberto, que fora a guerra de Stepstones, havia mais duas sendo travadas no completo silêncio. A minha contra o meu pai. E a de Rosalie contra Jéssica.

Antes que o rei pudesse dar inicio as justas, ele fez um discurso em homenagem ao aniversário de vinte e dois anos de Rosalie, algo que a fez esboçar um dos sorrisos mais sinceros que eu me lembro de ter visto, em relação ao pai, desde o seu casamento com Jéssica. Mas quando Jéssica pediu a palavra, o sorriso prontamente morreu, já que ‘nova rainha’ fez o favor de mudar a comemoração, que antes era a do aniversário de Rosalie, para uma comemoração do anuncio de uma gravidez.

Rosalie havia seguido as minhas instruções a risca, ela manteve o sorriso no rosto e a noite ela extravasou quebrando diversos copos de cerâmica contra os muros da muralha da cidade. Se Jéssica já era insuportável antes, com a coroa na cabeça ela havia ficado muito pior, e piorou mais ainda com o filho no ventre. Ela fazia questão de provocar Rosalie a cada maldito segundo do dia, obviamente quando o rei não estava por perto, provocando-a sobre as gravidezes da falecida rainha Esme, que não compreendia o motivo de tanta reclamação e desespero por algo que era deveras tranquilo, segundo ela.

Eu, que já havia pego as dores de Rosalie para mim, estava quase sendo presa, pois faltava pouco para que eu jogasse Jéssica da torre da Mão do Rei, que era a torre mais alta da Fortaleza Vermelha.

Jéssica estava disposta a fazer com que Rosalie e eu comêssemos o pão que toda Andrômeda havia pisado, por, segundo ela, não a termos deixado fazer parte do nosso “grupinho”. Mas Rosalie havia seguido o meu conselho ao pé da letra, e eu também, mais do que eu jamais sequer teria imaginado. Nós apenas colocávamos um sorriso no rosto e engolíamos os sapos, pois, caso alguém a visse falando algo, nós duas éramos apenas as inocentes que estavam ouvindo os desaforos descabidos da rainha, o que fazia com que o rei sempre ficasse ao lado da filha e consequentemente do meu lado.

Nós passamos a fugir da fortaleza com bastante frequência, de duas a três noites por semana, nós apenas ficávamos na muralha sentadas e bebendo um pouco de vinho ou cerveja, enquanto espairecíamos e respirávamos fundo. Quando estávamos muito irritadas, seja com Jéssica ou então, eu, com o meu pai, nós comprávamos vários copos de cerâmica nos bares, e quebrávamos contra as paredes do muro, para desestressarmos. A única vez que ficamos em algum lugar com mais gente, foi quando uma chuva absurdamente forte começou a cair, mal tínhamos chegado nas ruas da baixada das pulgas, e nós ficamos a madrugada toda em um bar bebendo, os nossos cabelos não haviam sido soltos e nós precisamos falar com a voz grossa durante toda a madrugada, mas de qualquer forma, foi uma das noites mais divertidas, já que havíamos feito algumas amizades com uns bêbados do bar, que nos ensinaram a jogar – trapacear- cartas e a jogar adagas contra um pedaço de madeira, que estava preso na parede.

Todas as discussões que Rosalie tive com Jéssica, e eu estava por perto, eu conseguia aplaca-las, contudo, houve uma certa discussão entre as duas, a qual eu não estava por perto - já que eu me encontrava em mais uma discussão com o meu pai, pois ele achava um absurdo eu continuar trajando vermelho sempre que havia algo mais “público” e por eu continuar mandando corvos para Edward, através do amigo de Calleb, o dono do albergue, do que por ele, já que  rei havia permitido que as cartas direcionadas a mim, poderiam ser entregues -, Rose pedira ao pai para que a deixasse passar um tempo em Dragonstone, comigo, e ele permitiu sem pensar duas vezes. Eu só não sabia se era para a rainha ter o restante da gravides tranquila, ou se era para evitar que as duas acabassem se matando.

Eu e Rosalie havíamos ficado um ano em Dragonstone sozinhas, apenas com as presenças dos poucos criados que tinham na ilha, e com os nossos dragões, permitindo assim, que as duas ficassem soltas e crescendo livremente. Meu pai vinha, ás vezes, para confirmar com os próprios olhos como nós estávamos, na verdade ele vinha tentar sempre uma reaproximação, na última ele havia dito, que as cartas de Stepstones, estavam todas proibidas, a menos que elas viessem para mim, isso se não tivesse nenhuma informação ou pedido sobre algo relacionado a guerra, o que significava, que o meistre de Adhara, meu pai e provavelmente o rei iriam ler as cartas que Edward mandava, e consequentemente as que eu escrevia, mas eu não usava mais o meistre de Adhara para enviar qualquer mensagem a Edward, ele não sabia, pelo menos por mim, que eu estava em Dragonstone, eu sabia que se ele soubesse de 1/3 do que acontecia aqui, ele já teria voltado, e provavelmente tacado fogo em muita gente, pois era o que eu sentia a imensa vontade de fazer. Outra coisa que o meu pai também havia me dito, era que por mim, para que eu voltasse a me dar bem com ele, ele iria ajudar a investida de Stepstones o quanto pudesse, mas que o rei não deveria saber em hipótese alguma.

Outra pessoa que havia vindo algumas vezes havia sido o rei, graças aos deuses sem a rainha, ele havia vindo pessoalmente para contar que Jéssica havia dado a luz a um menino, que havia recebido o nome de Henry, e querendo que voltássemos para conhecer o bebê, o que Rose negou antes mesmo de o pai terminar de falar. A guarda da princesa estava conosco, e Calleb e John também vieram, eles tinham mais medo de Edward do que de Carlisle, e eu sabia que o meistre do castelo, mandava um corvo quase toda a semana para os nossos pais, informando cada mínimo passo que dávamos dentro da pequena ilhota. A princesa Gianna também aparecia aqui volta e meia, soube, pela mesma, que na primeira viagem que o rei havia feito até Dragonstone, ele havia parado em Driftmark e pedido para que os dois colocassem as diferenças de lado, e pediu para que ela ficasse de olho em nós duas, então, volta e meia ela fazia um voo rápido com Meleys, um dos dragões mais graciosos que eu tinha visto voando, para ver como estávamos, e de vez em quanto passava uns dias conosco, trazendo Jane consigo, para que ela não ficasse sozinha no castelo. Quando ela vinha apenas ver como estávamos, ela vinha sozinha.

Hoje havia sido um dia que ela vinha com a filha, o que significava que ela passaria a noite, ou então alguns dias aqui, e eu imaginava o motivo. Noite anterior tinha sido um tormento para Rosalie, o aniversário de dois anos do príncipe Henry estava se aproximando, e o meistre não nos deixava em paz, querendo que fossemos para o seu aniversário, já que havíamos perdido o aniversário de um ano. Eu havia deixado Rose dormindo, ela própria havia esvaziado quase que um tonel inteiro de vinho sozinha, e eu havia saído para o sol forte, quando John me avisou que uma bandeira com as cores de Driftmark estava se aproximando.

Jane ancorou primeiro na praia, dessa vez ela não tinha vindo montada em Meleys com a mãe, e isso me deixou confusa, para que elas estavam vindo com um navio? Poucos segundos depois que o navio atracou, Gianna pousou com Meleys, a rainha vermelha, na areia da praia.

- Bom dia altezas. – falei, recebendo-as na praia, quando as duas se aproximaram de mim. – A que devo a visita? A senhora deixou Dragonstone não tem nem duas semanas direito. –

- Rosalie me chamou. – Gianna respondeu e Jane veio na minha direção, me abraçando. Nós três – Jane, eu e Rosalie – sempre nos demos muito bem, mesmo com Jane dividindo o seu tempo entre Driftmark e Adhara. – Onde ela está? –

- Dormindo, acredito eu, a menos que o insuportável do meistre tenha ido acorda-la. –

- Bom... Jane, vai na frente, e veja se a sua prima acordou. –

- Sim, mamãe. – ela assentiu, e seguiu pelo caminho que levava para a ponte, e consequentemente para o castelo.

- Isabella, você tem alguma notícia do meu primo? –

- Na verdade, princesa, Edward entra em contato comigo de vez em quando através de Calleb, já que graças ao vosso irmão, todos os corvos vindos ou enviados de Stepstones devem ser lidos pelo meistre, meu pai e pelo próprio rei, ele quer que entre apenas noticias que ele está bem e que saía apenas noticias de que eu estou bem! Mas, nos corvos que ele me manda através de Calleb, ele apenas me fala que está bem, mas... – suspirei. – Mas tem quase um mês que ele não me responde. Então... Eu sabia como ele estava, mas não sei como anda a guerra em Stepstones. – ela suspirou olhando para a areia sobre os nossos pés. – É ruim? –

- É um impasse! – comentou apontando para o inicio do caminho que nos levaria ao castelo. – Jacob contou que o engorda caranguejos, como o líder da Triarquia é chamado, conseguiu se esconder com o exército em uma grande caverna, e eles mal saem de lá. –

- E enquanto ele não cair, a guerra não acaba! –

- Exatamente... É um impasse! – repetiu enquanto andávamos pela trilha de pedras. – Eles estão quase sem mantimentos, eu estou enviando o máximo que eu posso, e soube por Jacob que o seu pai também tem enviado o máximo que consegue, sem o meu primo saber, é óbvio! – suspirou. – Mas Carlisle precisa ajudar! –

- Eu nunca entendi o motivo do vosso primo se recusar, no final quem mais perde é ele! –

- Carlisle é teimoso! Sempre foi! Em tempos de diplomacia ele é um rei excelente, mas em tempos de guerra eu tenho certeza de que Edward se sairia muito melhor! Por isso eu fiquei chocada quando meu marido me contou que ele havia recusado o trono há anos, a pedido seu! –

- Eu não pedi nada! – falei entre dentes, isso me irritava cada vez mais que essa alegação era dita. – Eu disse que não achava justo Rose perder o trono dela por ser uma mulher, do mesmo jeito que eu nunca achei justo a senhora ter perdido o seu trono, por ser mulher. – eu me acalmei. – Eu disse a ele, que mesmo Rosalie sendo minha amiga, caso ele aceitasse assumir o trono eu ficaria do lado dele, mesmo ele sabendo a minha posição e opinião. Ele recusou porque quis! –

- Andrômeda jamais permitirá que uma mulher assuma os seis reinos! Os homens preferem ver Andrômeda queimar a ver uma mulher governando. – ela falava com calma e graciosidade, mas eu ouvia a raiva em sua voz. – E agora, com Carlisle tendo um filho homem... Henry, o nome do conquistador! – ela debochou. – Aí mesmo que o povo não aceitará, mesmo com ele deixando a sucessão para Rosalie. –

- O próprio rei veio aqui depois do nascimento do filho. Queria que voltássemos a Adhara para conhece-lo e reforçou que isso não mudava nada, que ela continuava sendo a sua herdeira e sucessora! – comentei. – O aniversário dele está se aproximando, e com isso o meistre fica nos perturbando querendo que voltemos para Adhara para a comemoração do segundo ano de vida do menino. – suspirei. – Ela teve uma noite bem estressante que foi resolvida esvaziando um tonel de vinho. – Gianna riu.

- Então torceremos para que essa noite, nós quatro esvaziemos outros toneis de vinho! Caso algo ruim não aconteça. –

- Como assim? – questionei confusa.

- Olá prima! – nós nos encontramos com Jane e Rose no pátio central da pequena fortaleza. – Trouxe o que eu pedi? –

- Trouxe! – ela sorriu para Rosalie.

- O que vocês duas estão aprontando? – questionei olhando de Gianna para Rosalie, e por fim, fincando meus olhos em Jane.

- Eu não sei de nada! – se defendeu de meu olhar acusador.

- Bom... Minha amiga, tem mais de um ano que estamos aqui em Dragonstone. –

- Quase dois! – a corrigi.

- Isso. E nesses quase dois anos, a Tessarion voltou a crescer livremente. O que significa que ela já está em um tamanho bom para ser montada. Quase dez metros, pelo que conseguiram medir ontem! – contou animada.

- Exatamente... E Rose me enviou um corvo pedindo para que eu viesse lhe ensinar a montar um dragão, do mesmo jeito que eu fiz com ela! E eu lhe trouxe uma sela. –

- Faz com a sua filha! – sugeri e ela riu.

- Farei! A sela dela já está até pronta, contudo, ela se recusa a tomar um dragão. –

- Por quê? – questionei.

- Ela quer a Vhagar! – respondeu e eu encarei Jane, que sorria orgulhosa.

- Ousada! – ela riu. – Vhagar é o maior dragão que tem vivo! Mas... Achei que ninguém sabia onde ela estava! –

- Eu descobri recentemente onde ela está! Então, se você aprender a montar em Tessarion, podemos ir, nós quatro até lá! – eu fiquei em silêncio em alguns segundos, tentando formular uma frase coerente, enquanto eu tentava me livrar dessa história.

- Eu admito que estou deveras curiosa para ver Vhagar, mas eu não estou muito ansiosa para montar em Tessarion, não! – admiti de uma vez.

- É tranquilo! – Gianna deu de ombros.

- Sim. Eu tenho noção de que voar é tranquilo. Eu já voei diversas vezes com Edward sobre o dorso de Caraxes, mas... Estamos falando de eu montar sozinha em um dragão, que talvez possamos considera-lo como adolescente e rebelde! – ela riu.

- Será tranquilo. Confie em mim! – ela me afagou o braço delicadamente, em uma tentativa de me acalmar.

- Então enquanto os guardiões selam a Tessarion, vamos comer alguma coisa, eu estou cheia de dor de cabeça! – Rosalie comentou, enlaçando o seu braço ao de Jane e a guiando para dentro do castelo.

- O melhor jeito de se combater a ressaca de vinho... É com mais vinho! – Gianna comentou fazendo nós três rirmos.

Nós voltamos para dentro do castelo e seguimos para o salão de jantar, onde o café da manhã já havia sido servido, e Rosalie só não seguiu o conselho da prima de beber mais vinho, porque eu tirei a jarra de perto dela. enquanto comíamos as conversas eram as das mais variadas possíveis, desde a guerra de Stepstones, a Jane ter passado anos procurando por Vhagar e finalmente tê-la encontrado.

Nós deixamos o salão de jantar quase no horário do almoço, quando a princesa Gianna pediu para que fossemos nos trocar, para que colocássemos as nossas roupas de montaria, porque Tessarion, provavelmente já estava devidamente selada. Eu estava nervosa. Nervosa e animada, e mesmo sabendo o quão seria perigoso, eu estava animada. Eu coloquei a minha roupa de montaria e fui me encontrar com elas na campina atrás do castelo, os três dragões já estavam ali, e Tessarion parecia bem tranquila com a sela em seu dorso.

- Você já tem uma vantagem. – Gianna falou parando ao meu lado, perto do dragão. – Tessarion confia em você, vocês não precisam se ligar, pois já estão ligadas. O que significa, que ela irá te obedecer com toda a tranquilidade, mesmo sendo rebelde, como você diz! – eu apenas assenti. – Monta nela, igual como montou em Caraxes e segura as rédeas iguais as rédeas de um cavalo. Mas não demonstre medo, demonstre confiança, por mais nervosismo que esteja sentindo. – eu assenti e me aproximei mais um pouco do meu dragão azul. – Coloque as luvas, vai acabar machucando a mão. – alertou-me, eu tinha as luvas em meu bolso. – Peça para que ela abaixar as asas. – ela se virou para Rose. – Ela sabe a língua antiga? – perguntou a Rose.

- Sei! Edward me ensinou. –

- Então peça para ela abaixar as asas e sobe. –

- Oi minha menina. – eu me aproximei dela e ela aproximou a cabeça da minha, encostando-a contra a minha, me fazendo tomar cuidado com os seus chifres e espinhos. – Vamos tentar voar juntas hoje? – eu falei baixo, na língua cariana, e ela silvou animada. – Abaixa a asa! E não me derruba! – pedi, e Gianna que estava perto mim, riu ao me ouvir. Me obedecendo, ela abaixou as asas e ficou imóvel. Do jeito que eu subia em Caraxes, eu subi em Tessarion, tomando cuidado com as suas asas. Tessarion era nova, nunca havia tido um montador, e mesmo todos falando que eles eram quase indestrutíveis, eu tomava cuidado.

- Segure bem firmes as rédeas, igual a um cavalo, você vai guia-la pelas rédeas, mas, lembre-se, um dragão e muito mais temperamental que um cavalo e costumam desobedecer bastante principalmente, na fase que Tessarion está! – eu apenas balancei a cabeça concordando. Primeiro eu fechei os olhos, respirando fundo ao segurar as rédeas, sentindo-as tremendo sobre as palmas de minhas mãos. – Se não quiser fazer, não fazemos! –

- Não... Vamos lá! – garanti me ajeitando na sela e segurando firme as rédeas.

- Está sentindo que está segurando e comandando ela? – balancei a cabeça assentindo. – Muito bem. Tudo o que você for fazer, você tem que falar para ela. Mande a levantar e andar. – ela frisou bem o andar. – Vamos nos acostumar com ela andando primeiro... E você já vai aprendendo o que você tem que fazer com a Vhagar ou com qualquer outro dragão que tomar! – ela avisou a filha, que apenas assentiu.

- Vamos lá, menina, levanta. – eu falei e ela não se mexeu. Ninguém precisou me dizer que eu havia falado baixo demais, portanto eu apenas limpei a garganta e falei mais alto e com a voz mais decidida. – Tessarion. Levanta! – igual a primeira vez com Caraxes, o seu solavanco ao levantar foi brusco e forte, menos brusco e forte que o de Caraxes, mas havia sido bruto e forte do mesmo jeito. Se eu já não esperava por algo desse tipo eu provavelmente teria soltado as rédeas e me espatifado no chão, mas como eu já sabia o que estava por vir, eu segurei mais firme ainda as rédeas entre as minhas mãos. – Tessarion, ande devagar! – mandei, frisando bem a parte do devagar.

Tessarion, assim como os outros dragões, tinha apenas as duas patas traseiras e as asas na frente, portanto ela andava se apoiando em suas asas, o que fazia que o seu caminhar simulasse um caminhar de um gato que estava a espreita. Era algo tranquilo para se acostumar por enquanto, mas continuava sendo um andar bem brusco, eu já sentia a minha mão doer de tão forte que eu segurava a rédea, mesmo não apertando-a tanto em Tessarion.

- Quando se sentir segura mande-a alçar voo! – Gianna gritou para mim, já que eu já tinha me afastado um pouco delas. Eu fechei os olhos respirando fundo, sentindo o frio tomando conta do meu estômago.

- Voa. – mandei e ela começou a andar mais rápido para frente, indo na direção de um penhasco. – Tessarion... – ela continuava a acelerar o seu passo na direção da queda a nossa frente. – Tessarion! – eu acabei gritando, quando ela se jogou no precipício, e eu senti que tudo o que eu havia comido, durante os meus quase vinte e quatro anos de vida subindo para a minha garganta, e querendo sair pela minha boca. Eu estava esperando pelo choque contra a água com os olhos fechados, mas tal impacto nunca chegou, eu abri um dos olhos, ao sentir um vento fresco contra o meu rosto, e vi que Tessarion voava tranquilamente, com as patas traseiras tocando contra a água.

Ela planou mais algumas vezes, fazendo com que algumas gotas da água salgada me atingissem, até que ela alçou voo, chegando ao céu azul, tão azul quanto a pele de Tessarion. Nós estávamos voando bem alto agora, e a primeira sensação que eu tive de puro pânico ao ver tudo muito pequeno lá embaixo, no caso, eu só via a imensidão do mar azul. O barulho das asas do dragão cortando o vento era alto em meus ouvidos, e o vento batia forte em meu rosto, balançando o meu cabelo preso, soltando alguns fios.

Ela começou a voar por cima de Dragonstone, que parecia um pequeno pontinho preto no meio do mar azul, e eu não consegui evitar o riso. Um cortar de vento mais forte soou perto de mim e um vulto vermelho passou rápido por mim, sendo seguido por um vulto dourado. Gianna havia montado em Meleys, com Jane logo atrás dela, e Rosalie havia montado em Syrax.

- Segue! – Jane berrou por cima do vento e do bater das asas dos três dragões. Mal o som de sua voz chegou aos meus ouvidos e eu vi Gianna puxando as rédeas de Meleys, na direção que eu imaginava ser o continente.

Guiar um dragão, era igual guiar um cavalo. Era o que diziam, portanto, eu fiz o mesmo que fazia ao cavalgar um cavalo, eu virei as rédeas na direção que eu queria ir. Rose e eu apenas íamos seguindo Meleys, era o dragão mais rápido, principalmente entre nós três, e eu imaginava que ela estava indo devagar para que nós duas não a perdêssemos de vista. Eu não fazia ideia de para onde nós estávamos indo, eu apenas seguia e me divertia, gargalhando quando Tessarion, que também parecia estar se divertindo, passava por dentro das nuvens, que fazia uma sensação úmida e fria tocar em meu corpo, conforme passávamos pelas nuvens brancas.

Tessarion não fazia um voo continuo, ela volta e meia subia e descia de altitude, parecia que ela queria passar em todas as nuvens que pudesse, apenas por diversão, mas mesmo assim ela seguia em frente, enquanto voava ao redor de Syrax, já que ela não conseguia se aproximar muito de Meleys, porque se conseguisse, eu teria certeza que ela estaria fazendo o mesmo em volta da rainha vermelha.

Quando eu tentava olhar para baixo, bem rapidamente, já que eu sentia o meu estômago embrulhar devido a mistura de altitude e nervosismo eu conseguia identificar pouquíssimas coisas, na verdade, eu só conseguia diferenciar o que era continente e água, já que devido à altura, eu não conseguia identificar o que era cidade ou castelos. Sinceramente eu não fazia ideia de como elas sabiam para onde estavam indo voando tão alto assim.

O vento quente começou a se tornar um pouco frio, gélido na verdade, quando a princesa Heidi começou a abaixar a altitude de Meleys, até pousar em um campo próximo a uma praia. O sol ainda brilhava, mas estava bem frio nessa região em especifico, nós só poderíamos estar perto do norte, não havia outro lugar em Andrômeda que tinha neve durante todo o ano. Meleys pousou, logo em seguida pousou Syrax com Rosalie, e por último Tessarion, contudo eu fui a única que continuei sentada sobre o dorso do animal.

- E aí, o que achou? – Rose veio saltitante e animada para perto de mim, e eu continuei sem me mexer.

- Eu... Eu acho que não consigo descer. Eu... Eu não sinto as minhas pernas! – as três riram.

- A primeira vez é assim mesmo, principalmente com Tessarion se jogando em um penhasco! – Gianna brincou rindo.

- Venha, amiga pede para ela abaixar, que eu te ajudo. – Rosalie disse rindo, ao se aproximar.

- Tessarion, abaixa! – mandei e ela abaixou quase deitando no chão.

- Segure a minha mão. – ela estendeu a mão para mim e eu a segurei. Rosalie segurava a minha mão com força, e eu forcei a minha perna que estava bamba, a passar por cima do corpo de Tessarion e encontrar a outra, Rosalie acabou me puxando com um pouco mais de força, do que o necessário, o que fez nós duas cairmos no chão, rindo, quando ela caiu de costas e eu por cima dela.

- Pelos deuses! – Gianna riu ao se aproximar, para nos ajudar a levantar. – Como vocês duas sobreviveram uma a outra? – brincou, quando eu me sentei no chão, ainda sem força nas pernas, e ela levantou Rose.

- Isso foi tão... Legal! – comentei animada e rindo, as fazendo rir. – Onde estamos? Por que está tão frio aqui? Pelo menos, mais frio do que estava em Dragonstone. – questionei.

- No Vallis, na divisa entre Eridanus e o Vallis. Na verdade, estamos na ilha de Longsister uma das Ilhas das Três Irmãs. – Jane explicou. – As minhas pesquisas apontam que Vhagar está em uma dessas cavernas daqui. –

- E qual é o plano? –

- Segundo os mapas da região, a maior caverna que tem, a ponto de cabe-la, é essa que tem aqui nessa praia. Eu vou até lá tentar doma-la e vocês esperam aqui. –

- Sem morrer! –

- Sem morrer! – ela concordou comigo.

- Tome cuidado! Se ver que ela está arredia, saia da caverna! – Gianna mandou e a filha apenas balançou a cabeça concordando.

Jane desceu a praia de areia pedrosa, e as outras duas se sentaram na relva ao meu lado. Já era tarde, o sol começava quando chegamos em Longsister, e após Jane partir, as horas pareceram demorar muito para passar. Nós não tínhamos notícias dela, também não ouvíamos nenhum rosnar de dragão, já que os três – Meleys, Tessarion e Syrax – estavam deitados e tranquilos na campina próximo a nós.

A noite caiu por completo e estava mais frio do que quando chegamos, e usando o fogo de Syrax, nós fizemos uma fogueira improvisada para nos aquecermos. Eu já começava a ficar com fome e imaginava que Gianna e Rosalie também. Gianna estava aflita com a filha que não aparecia, a luz cheia brilhava forte no céu escuro, quando um leve tremor pode ser sentido debaixo dos nossos pés. O tremor ficou mais forte e um enorme vulto escuro, apareceu no ar, soltando o maior rosnado que eu já havia ouvido antes. Gianna comemorou ao ver que a filha estava bem montada nas costas do enorme dragão.

Vhagar era simplesmente enorme, o maior dragão que eu já tinha visto, muito maior do que Caraxes, Tessarion perto dela, era quase duas vezes menor do que a sua cabeça. Jane pousou com o enorme dragão próximo a nós, e mesmo no escuro eu conseguia ver o dragão com um pouco de clareza, mesmo eu não me sentindo muito à vontade em me aproximar, perto dela, eu parecia menor que uma formiga. Um dente dela parecia ser maior do que eu! As escamas do dragão quase tricentenário eram na cor bronze, com reflexos azuis esverdeados, e os seus ferozes olhos eram verdes brilhantes. A noite estava bem fria, mas a sua respiração, conseguia nos aquecer completamente, se a sua respiração já era tão quente assim, imagine a sua chama.

Vhagar era ao mesmo tempo linda e assustadora, talvez mais assustadora do que linda, e Jane parecia uma pulguinha montada em suas costas! Como já era bem tarde, e todos estavam cansados e famintos, nós montamos em nossos respectivos dragões, e sobre a luz da lua cheia nós voltamos para Dragonstone. Vhagar era a maior e consequentemente uma das mais rápidas, contudo era impossível perde-la de vista, devido ao seu tamanho.

Ao chegarmos na ilha, o sol estava começando a aparecer no horizonte. Deixamos os dragões soltos e Vhagar foi andando para um canto mais afastado da praia, para deitar, e ao terminarmos de subir a ponte que levava para dentro da fortaleza, o meistre estava parado debaixo do parapeito da porta, nos encarando com raiva, e eu tinha certeza de ele iria relatar isso ao rei e ao meu pai.

Alguns meses se passaram, e faltavam pouquíssimos dias para o aniversário de Henry, o filho do rei, e eu e Rosalie passávamos uma boa parte desses dias, montando em nossos dragões. Ao voltarmos de mais um voo com os dragões, e o meistre nos esperava, melhor, me esperava com um pequeno pergaminho em mãos. Era de meu pai, que pedia para voltarmos para Adhara, contudo não disse o motivo, levei tal pergaminho a Rose, que apenas concordou em voltar para o continente por enquanto.

Demorou uns dois dias até termos organizado tudo para voltarmos a Adhara, Calleb e John não haviam gostado nem um pouco quando eu disse que iria para Adhara montada em Tessarion, porque isso significava que eles chegariam dois dias depois, mas mesmo contra a vontade deles, eu fui sobre o dorso de Tessarion para Adhara.

Os guardiões ficaram surpresos quando eu pousei com Tessarion no meio do fosso dos dragões, eles não esperavam pelo aqui e isso estava mais do que óbvio. Me despedi de Tessarion, que entrou tranquilamente na caverna, e nós duas seguimos para dentro da fortaleza. Rose foi atrás de seu pai e eu fui para a Torre da Mão, para falar com o meu.

- Entre. – o ouvi falando quando eu bati na porta. – Eu achei eu tivesse dito que esperava estar morto quando você montasse nessa besta! – reclamou assim que eu entrei na mesma.

- Como soube? – questionei simplesmente, o vendo parado próximo a janela com um cálice em mãos. – O vosso espião de Dragonstone contou? –

- Eu vi, Isabella! Eu acabei de ver dois dragões sobrevoando a cidade na direção do fosso. –

- O que quer? – perguntei simplesmente e indo direto ao ponto.

- Tem quase dois anos que não nos vemos e é assim que me trata? Da primeira vez fostes mais cordial. – ironizou.

- Da primeira vez me magoastes, dessa vez me irritastes. – respondi.

- Como está? – ele mudou de assunto, se virando de frente para mim, com os braços cruzados.

- Ótima, como podes ver! E como sabes, já que vosso espião lhe contava cada misero passo que eu dava em Dragonstone! E como posso ver, o senhor também está bem... Portanto, pergunto mais uma vez, o que deseja? Já que eu sei que não me chamastes aqui por ter alguma noticia de meu marido, até porque eu recebi uma carta dele a pouco tempo, e ele estava ótimo! –

- Eu não tenho noticias de Edward há um bom tempo! Eu não sei se ele não enviou nada, ou se o rei está escondendo até de mim. Ele descobriu que eu estava mandando mantimentos para o exército e ficou furioso. – explicou. Ele se afastou da janela e foi até o aparador, derramando um pouco de vinho em sua taça e em mais outra.

- Não obrigada! – recusei quando ele me entregou a segunda taça.

- Já bebeu o suficiente por uma vida, em Dragonstone? – ironizou.

- O que o senhor quer comigo? – questionei de novo.

- Jéssica está gravida de novo! –

- E o que eu tenho haver com isso?! –

- Bom... Imagino eu que queria ver a vossa amiga no trono! Então, você precisa mantê-la aqui em Adhara, e não em Dragonstone! Os lordes estão começando a sugerir que Carlisle coloque Henry no trono. –

- E isso, por acaso, inclui o senhor? – ele bebeu um gole de seu vinho.

- Prefiro me abster dessa resposta! – era óbvio que ele queria, e a sua não resposta deixava isso bem claro. – Até porque, precisamos levar em consideração, que Rosalie não está se comportando como uma futura rainha! Em dois anos, desde que falastes que iria conversar com ela sobre se casar e até agora nada! – acusou.

- Não é só porque eu falei com ela, pai, que ela vai me obedecer! Ela não escuta e obedece ao próprio pai, porque ela faria isso comigo? –

- Porque você admitindo ou não, você influenciou sim a decisão de Edward em relação ao trono e em relação a essa guerra! E eu prefiro ter Edward a ter um fantoche do Strong me governado. -

- Por que não me surpreende o fato de que me chamastes aqui apenas para ver o seu lado? Se o senhor acha que o Strong pode e vai manipular o neto e o rei para dar a coroa a Henry, o vosso trabalho é levar essa questão ao rei, e não a mim! Porque, até onde eu saiba, isso configura como traição! –

- É traição apenas se o rei descobrir! E eu não tenho provas para levar esse assunto ao rei, caso eu o faça, será a minha cabeça quem irá rodar! – suspirei.

- Irei conversar com a Rosalie. – disse simplesmente. – Agora se o senhor me der licença, eu preciso de um banho e descansar. –

- Irei mandar um corvo até Stepstones pedindo noticias de Edward. As últimas que eu tive, foram que a Triarquia estava se escondendo nas cavernas, e eles não faziam ideia de como coloca-los para fora e... –

- Não precisa fazer isso achando que me trazendo notícias de meu marido vai fazer com que eu o perdoe pelo que aconteceu há dois anos! – eu o interrompi. – Quando o senhor vai entender que o que mais me magoou foi o fato de além de não ter me defendido contra a sua cunhada, você sequer reconhece o vosso erro e pede desculpas? E para piorar a situação, ainda me acusa, sem motivos e sem provas, de trair o meu marido..., mas não adianta pedir desculpas agora, só porque eu disse que era o que eu esperava! – suspirei sustentando o meu olhar. – Eu vou esperar pela Rosalie em meu quarto para conversar com ela! –

- Nem perca o seu tempo! Ainda vai demorar e muito a conversa, não duvido nada que o rei esteja passando um belo de um sermão por ela não ter comparecido ao primeiro aniversário do príncipe. Isso foi visto como um completo desespero dela para com o pai e o meio-irmão! –

- Eu sei que a princesa Gianna também não veio... –

- É diferente! Gianna está brigada com o primo devido ao que está acontecendo em Stepstones, se ela viesse seria visto como deboche... –

- Vocês homens amam ver coisas onde não existem! Principalmente quando envolve uma mulher! Veriam a vinda de Gianna, não como um sinal de paz, mas sim como deboche! Ninguém vê o que Jéssica fica fazendo contra Rosalie, mas ela não ter vindo é sinal de desrespeito. O senhor, sem motivo, sem provas, vê como uma traição o fato de dois guardas estarem fazendo o seu trabalho... Daqui a pouco o senhor vai pensar que eu estou traindo o Edward com Rosalie. – ironizei. – Quer saber papai, eu realmente não vejo a hora do meu marido voltar, e não é para acabar com esses malditos burburinhos de após quase três anos ainda não cessaram, não é para acabar com essas malditas “visões” que os homens insistem em ver, e nem é porque eu sinto falta dele... –

- Então? –

- É porque assim que Edward pisar em Adhara, eu vou fazer o possível e o impossível para irmos embora daqui de novo! – respondi, lhe dando as costas e saindo de seu escritório.

Eu segui para o meu quarto, pisando firme os meus pés no chão, isso fazia com que ninguém falasse comigo, e isso era maravilhoso. Eu não queria perder o meu tempo falando com ninguém, me explicando para ninguém, e o fato de o povo se afastar de mim, era simplesmente magnifico. Assim que eu cheguei em meu quarto, pedi para o valete da porta, para que pedisse para uma criada que trouxesse um pouco de água para um banho, e algo para que eu pudesse comer, e assim que entrei em meu quarto, me livrando de minhas botas. As criadas chegaram rápido, eu não duvidava nada de que a fofoca de que eu havia voltado e chegado furiosa, já tenha se espalhado por toda Fortaleza Vermelha.

Elas deixaram a bandeja de comida debaixo da janela, e a água na tina, e me deixando sozinha, eu segui para um banho. Ao deixar a tina, já seca e trocada, eu encontrei com Rosalie em meu quarto furiosa, ela não tinha trocado de roupa, já eu estava apenas de robe, e não me importava com isso. O problema era que eu não fazia ideia de se ela estava furiosa pela notícia de que seu pai teria outro filho, ou pelo sermão por não ter comparecido ao primeiro aniversário do meio-irmão.

Eu coloquei a bandeja de comida na cama, entre nós duas, e durante todo o restante da noite, nós ficamos no quarto, com ela reclamando do esporro que havia levado do pai principalmente por ter sido na frente de Jéssica.

No dia seguinte, ao acordar, Rosalie ainda estava em meu quarto, eu tinha acordado antes de o sol nascer. Eu deixei Rose dormindo e fui trocar de roupa, só que ao invés de colocar um vestido, eu coloquei outra roupa de montaria e saí primeiro para o quarto do meu pai, ele já estava acordado, como sempre, ele sempre acordava bem cedo, sempre antes de o sol nascer, quando ele permitiu a minha entrada no quarto, eu o encontrei com o meistre, enquanto ele escrevia alguma coisa em um pergaminho, e uma bandeja cheia de comida por perto.

- Bom dia, princesa Isabella. – o meistre disse parado de pé.

- Bom dia, meistre. –

- O senhor está ocupado? Preciso falar com o senhor. –

- Um segundo. – pediu enrolando o pergaminho e derramando a cera liquida, para poder fechar a carta com o seu selo. – Envie isso, imediatamente, para o príncipe Edward, em Stepstones. – ele entregou o pergaminho ao meistre. Que desviou o olhar para me encarar antes de voltar-se ao meu pai e falando baixo, em uma vaga tentativa de não querer que eu escutasse.

- Lorde Hightower, sabes que o rei proibiu expressamente o envio de corvos a Stepstones, principalmente os escritos pelo senhor, depois do que aconteceu e... –

- Eu apenas quero notícias para a minha filha, caso desconfie pode abrir e ler. E deixe que depois eu me entendo com o rei. – ele não disse mais nada, apenas assentiu e saiu. – O que deseja a essa hora? Está sentindo alguma coisa? – questionou quando o meistre saiu do quarto.

- Em primeiro lugar, já disse que eu tenho os meus meios de ter notícias do meu marido, não precisa se indispor mais ainda o vosso rei. – ironizei e ele me encarou feio. – Em segundo lugar, não, eu não estou sentindo nada, contudo, se eu me lembro bem, eu prometi ao rei de que sempre que eu fosse sair do castelo com a princesa. – lembrei-o. – E ao contrário de muita gente dessa fortaleza, eu cumpro as minhas promessas! De qualquer modo, eu tenho certeza de que o rei está dormindo, e como eu sei que o senhor acorda cedo! – dei de ombros simplesmente.

- Está muito cedo para você sair com ela, não acha? –

- Eu quero conversar com ela, longe dos ouvidos das paredes deste castelo! E não vamos sozinhas, sabe muito bem, mesmo que Calleb e John cheguem hoje de Dragonstone, a princesa tem diversos guardas para segui-la por cima e para baixo desse castelo e suas adjacências. – lembrei-o.

- Espere, pelo menos o sol nascer e pode ir! – eu assenti e caminhei para a porta. – O corvo deve chegar a Stepstones até o final do dia, assim que eu receber a resposta de volta, eu mando te avisar! –

- Não se preocupe. –

Dei-lhe as costas e voltei para o meu quarto, onde um valete e o escudo juramentado de Rosalie estavam a postos. Avisei ao escudo juramentado que assim que o sol nascesse e que comêssemos algo, eu e Rose sairíamos do castelo, e era para ele estar pronto, já que Calleb e John ainda não tinham chegado, pedi também que o valete fosse até a cozinha, pedindo para trazer água para um banho e algo para comer, e que avisasse nos estábulos que era para deixar os cavalos a postos. Com os pedidos feitos, eu voltei para dentro do quarto.

- Rose. – eu a chamei baixo subindo em minha cama. - Lembra do que você me pede todas as vezes quando vamos até a baixada das pulgas? – falei baixíssimo e ela levantou a cabeça, me encarando desconfiada. – Digamos que eu estou disposta a te levar para ver, contanto que levante agora! –

- O sol nem nasceu direito! – apontou.

- Eu sei. – ouvi uma batida na porta. – Entra. – eu vi a criada entrando com o que eu havia pedido. – Eu preciso conversar com você sobre algo que o meu pai falou comigo ontem, mas não pode ser aqui dentro. Eu não quero correr o risco de alguém ouvir e falar para quem não deve. – eu falei em quase um murmúrio. – Algo que envolve o seu trono e o seu irmão! –

- Entendi. –

- Senhora a tina já está cheia. – a criada atraiu a minha atenção. – E o dejejum já está chegando. –

- Muito obrigada. Podem ir. – elas apenas assentiram com a cabeça, e saíram fechando a porta atrás de si. – Tome um banho, que assim que o sol nascer, nós vamos sair. Eu não confio nas paredes desse castelo! – resmunguei.

Rosalie tomou um banho, e chamou por a criada, que havia trazido o nosso dejejum para que pegasse uma roupa para a princesa, que após vesti-la, sentou-se ao meu lado para comemos, e mal o sol terminou de nascer, e nós saímos do castelo, indo na direção do estábulo. Hoje nós não montaríamos em nossos dragões, e sim nos cavalos, os guardas da princesa iriam junto, nós não iriamos nos afastar do castelo, e ficaríamos pelos arredores da campina, e mesmo que os guardas estivessem perto, eles não ficariam grudados em nós.

- O que o seu pai falou? – mesmo com os guardas longe, nós conversávamos baixo. Nós tínhamos desmontado do cavalo, deixando-o perto de um pequeno lago com sombra e nos afastamos o máximo possível, para que pudéssemos conversar sem os guardas ficarem de olho, mas perto o suficiente para que eles conseguissem ficar de olho em nós.

- Ele me falou, melhor, deu a entender, que o lorde Strong está tentando fazer a cabeça da rainha, para que ela convença o teu pai a dar o trono ao Henry. – comentei e ela parou, me encarando assombrada.

- Isso configura traição! –

- Meu pai sabe, mas segundo ele, ele não tem provas para contar ao rei. – dei de ombros. – Segundo ele, todos os lordes estão dizendo ao vosso pai que você não está se comportando como uma futura rainha, porque ficou dois anos longe da corte... Além do fato de acharem um completo desrespeito você não ter comparecido para o aniversário de um ano do príncipe. – respondi e olhei para trás, vendo que os seus guardas não tinham se aproximado de nós. – Eu não sei se entendi errado, mas parece que o lorde Strong colocou, ou vai colocar gente te vigiando e qualquer merda que você fizer, vai contar ao seu pai, como em formas de provar ao seu pai que você não está apta para assumir o trono. –

- Filho de uma... –

- Ou no caso já colocou... Lembra do comentário que o vosso pai fez há quase dois anos? – questionei encarando o “novo” escudo juramentado de Rosalie. O primeiro havia sido Félix, que era o seu primeiro escudo desde antes de eu me casar com o Edward, contudo, esse novo, o que estava aqui presente, e eu não sabia o nome dele ao certo, eu não fazia ideia de quem era. – Que eu sou uma mulher casada e você não, e o certo seria não ficarmos muito tempo juntas como antes?! – ela se virou seguindo o meu olhar para o seu novo escudo juramentado.

- Desconfia do Riley? – questionou.

- Não acha estranho, mal ele chegou na corte e já pediu permissão ao rei para lhe servir como escudo? E não acha mais estranho ainda o fato de o seu pai ter permitido, mesmo sem conhecer direito o homem em questão? – questionei. – Sendo ele ou não, devemos tomar cuidado com o que fazemos, insinuamos ou falamos na frente deles. Os únicos em que eu confio completamente é em Calleb e John, e isso porque eles têm mais medo de Edward do que do próprio rei! – ela apenas assentiu. – Mas... Eu sei que você não quer no momento, mas você precisa se casar! E segundo o meu pai, o rei está disposto a permitir que você escolha o seu marido. –

- Eu sei disso tudo. Mas não é certo eu ter que me casar para assumir o trono... –

- Rosalie. Você é uma mulher! – apontei. – Nós vivemos em um mundo onde a nossa opinião não é levada a sério, e ninguém se importa com o que pensamos. Todo mundo daquele conselho fica me condenando por Edward ter renunciado ao seu favor, e eu jamais pedi que ele fizesse isso, mas a errada da história sou eu e sempre será eu! Porque segundo eles, eu fiz a cabeça do meu marido a favor da minha amiga! – ela suspirou. – Você precisa se casar! Talvez casada os lordes não implicam tanto com a sua ascensão ao trono. Você não quer esse trono? Pois então jogue o seu jogo para assumi-lo, você já está em uma enorme desvantagem por ser uma mulher, e Henry está em completa vantagem porque é um homem, e quase toda a população de Andrômeda ficara do lado dele! –

- Eu sei. Eu sei disso tudo, sempre soube. Mas ao mesmo tempo... Eu não deveria ascender ao trono por ser uma mulher casada, eu deveria ascender ao trono por ser a primogênita. –

- Pensando desse jeito, Rosalie, era para a Gianna ser a atual rainha. –

- Tenho noção disso! – ela passou as mãos pelo rosto. – Eu vou falar com o meu pai no horário do almoço, que eu vou procurar por um pretendente para me casar logo. Não pode ser tão ruim assim, não é? –

- O meu era simplesmente maravilhoso até ele ir embora! – respondi. – E espero que quando ele voltar continue sendo maravilhoso! – ela sorriu para mim. – Sabe quem, talvez, seria um bom pretendente? – ela me encarou. – Seu primo! –

- Alec? – questionou confusa. – Eu não sei se sabe dos boatos que o cercam. – a encarei confusa. – Digamos apenas, minha amiga, que algumas pessoas preferem patos a gansos. E bom, digamos que eu e você gostamos de patos... Meu pai, meu tio, seu pai gostam de gansos, e, bom, Alec... Gosta de patos também! – eu a encarei mais confusa ainda sem saber direito se eu havia entendido o que ela havia dito. – Ele gosta de homem! – ela falou em um fio de voz.

- Entendi... Isso, se parar para pensar, não é ruim! –

- Isabella... –

- Se essa história é verdade, vocês dois vivem de aparência, como a maioria dos casamentos, ele com os gostos dele e você com os seus gostos, e no final, você é casada com alguém de uma casa tão poderosa quanto a sua! Ele tem o disfarce perfeito que precisa e você tem o homem, ao seu lado, que precisa! – ela parou e pensou um pouco no que eu havia acabado de dizer.

- Isso é algo que possa ser levado em consideração. Mas primeiro, quero ver se eu encontro alguém que me interesse. –

- Quando for atrás de pretendentes, me avise! Quero opinar! – ela riu, mas balançou a cabeça concordando.

Nós demos mais algumas voltas pela região, tanto a pé quanto a cavalo, e perto do horário do almoço nós voltamos para o castelo. Rosalie tinha ido almoçar com o seu pai e lhe contar a “novidade”, que ela iria procurar por um pretendente, e fui, praticamente, obrigada, almoçar com o meu pai, a única coisa que eu disse era que tinha conversado com a Rosalie, e que iria ajuda-la a procurar por um marido, fora isso eu não voltei a abrir a boca para falar mais nada.

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