segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Capítulo 19

                                                                   Adhara – Continente de Andrômeda –114 Depois da Conquista.

Pov. Bella.

Mais alguns meses, cerca de uns dois, se passaram, e o aniversário de dois anos do príncipe Henry havia chegado. Eu havia tido mais algumas notícias de Edward, que chegaram através de Calleb, ele não havia respondido o meu pai, e a noticia que eu tinha recebido era que ele estava bem, contudo, ainda não tinha uma previsão para voltar. Os pretendentes que haviam aparecido para Rose, foram recusados um a um, eu sabia que ela precisava se casar, e era uma das que mais apoiava, mas também os que apareciam... Um pior do que o outro, realmente não tinha como defender nenhum deles!

O aniversário do príncipe havia sido planejado para ser uma enorme festa. Dias de banquetes, caçadas e torneios. E mais uma vez, eu era obrigada a ir a uma caçada, na verdade, Rosalie era obrigada a ir, e eu iria apenas para fazer companhia a ela. A rainha estava quase parindo o seu segundo filho, e conforme os dias iam passando, Rosalie ficava cada vez mais agoniada, ela própria já havia ouvido os lordes comentarem que o rei deveria colocar Henry no torno, e ao levar tal traição ao seu pai, a resposta do rei foi apenas uma não importa a vontade do povo, eu te coloquei como herdeira e é isso o que importa! Passe a agir mais como a próxima rainha, e pare de agir como uma adolescente rebelde, que eles vão parar de dizer isso!

O dia de hoje havia começado dentro do salão de jantar com um enorme banquete, enquanto todos ficavam babando no pequeno príncipe, parecia algo inédito ter um príncipe nesse castelo! Eu e Rosalie estávamos sentadas debaixo do represeiro, com um bardo, nós iriamos sair em poucos minutos para a bendita caçada. Perguntei se ela queria comer algo, e ela apenas negou, deixei-a com o bardo e me levantei, indo até o salão para buscar algo para comer.

Meus tios haviam vindo para o aniversário do príncipe, deixando Oldtown com meu irmão e cunhada. Meu tio era um dos que concordavam que Carlisle deveria dar o trono a Henry, e eu conseguia ouvi-lo dizer isso ao meu pai, melhor, querendo que o meu pai convencesse o rei a fazer isso, pois segundo ele era a vontade do reino! Já a minha tia, a qual eu evitava o máximo que conseguia, estava babando na rainha, desejando que viesse mais um príncipe.

- Vossa graça... – eu ouvi um homem se aproximando do rei, enquanto eu pegava uma taça de vinho em cima da mesa. – Trago noticias urgentes de Stepstones. – ao ouvir tal frase, eu virei imediatamente a minha cabeça para os dois, encontrando o símbolo do leão de pé do Masen, estampado em sua túnica. Ao levantar o olhar para onde Jéssica estava, logo a minha frente, eu vi o seu olhar de raiva, pelo lorde ter desviado a atenção que o rei tinha com o príncipe. – O engorda caranguejo atacou Bloodstones, enquanto seus homens sabotavam a frota sob o manto da escuridão. –

- Hoje não, Tyland. – o rei pediu.

- Mas vossa graça, a questão de Stepstones é lamentavelmente urgente! –

- Já se passaram três anos, Tyland, ela pode esperar mais três dias! – o rei saiu andando deixando o seu lorde parado no lugar, e chamando todos para comer, para saírem para a caçada.

- Lorde Masen. – eu me aproximei dele. – E o meu marido? Tem alguma notícia dele? – no fundo eu imaginava que o Edward só me dizia que estava bem para não me preocupar.

- O príncipe Edward está bem, senhora, mas eles precisam urgentemente de ajuda. Eles se encontram em menor número, mesmo com dois dragões. –

- Então convença o rei! – falei baixo só para ele ouvir, e mesmo com todo o barulho da sala, eu não sabia ao certo de se ele tinha me escutado bem, contudo, ele apenas balançou a cabeça e se aproximou do rei.

- Majestade... Com a Triarquia abrigando-se nas cavernas de Bloodstones, a ameaça dos dragões foi amenizada. –

- Eles não têm soldados? – o rei ironizou enquanto continuava andando ao redor da mesa, enchendo o seu prato com comida, e volta e meia vasculhava a sala como se procurasse por algo, ou alguém.

- Mas os mercenários que eles arrumaram recuaram em bando, Vossa Graça. –

- Engraçado! Até os mercenários perceberam que é um esforço perdido! – ele ironizou mais ainda e se ao olhar para trás ele me viu. – Onde está Rosalie? – questionou, e eu engoli a raiva que eu estava sentindo.

- Eu não sei, majestade. – menti simplesmente e Tyland voltou a falar.

- Majestade, as forças Black sofreram um forte atrito, vossa graça. As sementes da discórdia foram plantas entre os homens do exército. – eu notei que o rei fincou os olhos em meu pai, eu sabia que onde o meu pai estava ao lado do meu tio, do outro lado da mesa, ele não ouvia o que era dito, mas não duvidava nada, que ele sentia que o envolvia de algum modo. – Edward foi enérgico com os homens, e eles estão começando a questionar as ordens dele. – do outro lado da mesa, Jéssica seguia o mesmo caminho que eu, para ouvir a conversa, era palpável o quanto ela odiava o fato de o seu filho não estar sendo o centro da atenção do rei. – Se o senhor tiver intensão de intervir, agora é o momento! –

- O príncipe Edward e o Serpente Marinha entraram nessa guerra sem a permissão do rei, lorde Masen. – Larry Strong, pai de Jéssica, falou parado ao lado do rei, que havia parado para pegar uma coxa de peru enorme. – Se ele intervir agora, depois de tanto tempo, a coroa vai parecer fraca. –

- Ele tem razão. Eu falei que não era para eles irem! Eles me desobedeceram, então, eles aturem as consequências! –

- Mas majestade, se a Triarquia tomar Stepstones, não irá demorar e vão tentar invadir Andrômeda. –

- Não seja tolo, Masen, Andrômeda é grande demais para eles pensarem nessa asneira! – o lorde Strong debochou.

- Alguém pode me dizer onde nos sete infernos está a Rosalie? – ele perguntou alto, quase gritando, fazendo com que todos se calassem! – Eu não quero mais falar sobre esse assunto agora, Tyland, Larry tem razão. Eles foram porque quiseram, eles que se virem! Eu não me importo com essa guerra, entendeu? – ao olhar para o outro lado da mesa, eu notei que Jéssica havia sumido. Eu respirei fundo e me afastei do rei.

- Filha... –

- A Mão do rei é o senhor ou Strong? – questionei quando ele tentou me segurar pelo braço, e eu o puxei. – Ainda me pergunta porque eu não quero ficar aqui. –

- Olha o jeito que você fala com o seu pai, garota! –

- E o senhor vai fazer o que? – ele deu um passo na minha direção, e ao mesmo tempo, Calleb se pôs entre nós dois.

- Deseja algo, lorde Hightower? – questionou de forma debochada, e eu não esperei por resposta nenhuma, e me afastei, indo para o lado de fora de novo. O bardo havia ido embora, e Jéssica estava falando com Rosalie.

- Rosalie... – eu a chamei, ignorando completamente a presença de Jéssica. – Vamos! –

- Eu estou falando com ela, Isabella. –

- Com licença, vossa graça. – ironizei e puxei Rosalie para o pátio principal.

Rosalie teve que ir para a floresta do rei na carruagem de seu pai, junto com Jéssica, as duas babás e Henry, e sem falar nada ela simplesmente me puxou para dentro da carruagem para que eu pudesse ir com ela, eu não consegui dizer nada, já que só com o seu puxão, eu quase caí com o rosto contra a carruagem. Eu não queria estar ali, do mesmo jeito que Rose, eu não fazia a menor ideia do que tinha acontecido debaixo daquele represeiro entre as duas, mas não era algo bom. O rei sabia, ele tinha noção de que eu tinha ouvido a sua conversa com o Masen, onde ele deixava bem claro que ele pouco se importava com o próprio irmão! De qualquer forma, ele tentava manter um clima calmo e agradável na carruagem, já que ele sentia que o clima que provinha de mim e de Rosalie não era nem um pouco amigável, e alheia, ou não, a tudo, Jéssica continuava fingindo que era uma boa madrasta para Rose.

- Deveria vir comigo hoje, filha, a caçada. – o rei disse animado. – Caso queira e, obviamente, Charlie não se oponha... Isabella, pode vir junto! –

- Muito obrigada, majestade, mas eu não quero! –

- Eu também dispenso, o barulho que os javalis fazem quando morrem parecem com bebes chorando, me dá agonia! – Rose comentou. – Nós duas não deveríamos ter deixado Dragonstone! – comentou baixo para mim, falando na antiga língua cariana, mesmo sabendo que o seu pai entenderia.

- Eu não deveria ter deixado Walano! – rebati. – E já peço perdão, princesa, mas assim que o meu marido voltar, eu vou para bem longe de Adhara! –

- Me leva com você! – pediu, e eu acabei esboçando um sorriso, mas, ao olhar para ela, com o canto dos olhos, eu via os dois olhos de Carlisle presos em nós de forma acusatória.

- Eu não sabia que a senhora fala a língua da antiga Cária, Isabella, não sabia que tinha descendência Swan. –

- Eu não tenho, majestade, mas eu tenho um dragão e o meu marido me ensinou a língua antiga. – respondi simplesmente sem desviar os olhos do anel, que eu rodava em meu dedo.

- Pelos deuses, Rosalie, é uma caçada. – o rei mudou de assunto. – Por que não quer me acompanhar? –

- Não compreendo o motivo da vossa pergunta, pai. – rebateu ela.

- Porque és a minha filha! A princesa, futura rainha, portanto, tens obrigações... –

- As quais eu sou incessantemente lembrada! – ironizou com a voz baixa.

- Como disse? – eu não sabia ao certo se ela tinha falado muito baixo ou se ele havia se feito de desentendido.

- Eu disse as quais eu sou incessantemente lembrada! – ela repetiu falando mais alto.

- Não precisaria ser lembrada se cumprisse com as suas obrigações. –

- Ninguém se importa comigo! A única nesse castelo que se importa é a Isabella. –

- Isso não é verdade e você sabe disso! Eu me importo com você! –

- Eu vejo, pai, o quanto se importa comigo! – ironizou e se virou de lado, ficando de frente para mim, e de costas para o seu pai. - O que houve dentro daquele salão para você ficar desse jeito? – eu apenas neguei.

- Depois conversamos sobre isso! Eu não quero me estressar mais ainda! – eu não falei mais nada e tampouco ela.

Durante todo o resto do caminho foi em quase silêncio, quase porque Jéssica não se calava, e a cada palavra irritava mais ainda, ela não parava de dizer que era tranquilo estar grávida, e que não entendia o motivo de muitas mulheres reclamarem. Ela só parou quando o rei pediu para que ela se calasse. Nós três entendíamos e sabíamos muito bem o que uma gravidez custou a falecida rainha Esme! Quando Jéssica se calou, foi a vez de Henry começar a chorar incansavelmente a cada chacoalhada que a carruagem dava.

Quando a carruagem parou no acampamento, todos os lordes já estavam ali, e se fecharam em volta da mesma, aplaudindo fortemente o aniversariante. Meu tio era quem puxava o coro, o bebê conquistador, como diziam, e Carlisle mostrava a criança ao povo como um troféu. Aquilo era simplesmente ridículo! Ninguém olhava para nós duas, todos nos ignoravam, eu segurei a mão de Rosalie, para tira-la de dentro da carruagem e sair do meio daquela zona.

Nós entramos na tenda principal, onde as ladies haviam se sentado ao lado de Jéssica bajulando-a pela gravidez de um lado da tenda, e do outro os homens começavam a esvaziar os toneis de vinho. Mesmo que eu e Rosalie estivéssemos juntas, era como se estivéssemos completamente sozinhas ali. No círculo de bajulação as ladies só sabiam fofocar sobre a guerra de Stepstones, e obviamente que liderava as fofocas era a minha tia, eu jamais havia conhecido alguém tão fofoqueira assim como ela.

Tudo o que ela falava começava com um: eu ouvi dizer, sendo que no final, por experiencia própria, eu sabia que era ela mesma quem inventava ou aumentava noventa por cento das coisas que ela contava.

- Talvez a princesa e a minha sobrinha possam nos informar melhor sobre o que está acontecendo em Stepstones. –

- Eu não sei como faria isso, Lady Stone, jamais estive em Stepstones e tenho certeza que Isabella também não! –

- Mas de qualquer forma, é o tio de um e marido de outra quem é a cabeça por trás dessa guerra, após ter sido substituído como herdeiro. –

- Ele não foi substituído, tia, ele renunciou. São duas coisas completamente diferentes! –

- Ele fez uma bagunça e no final é o rei quem tem que resolver isso! –

- Claro! Porque a situação estava muito tranquila, quando as encomendas das senhoras não conseguiam chegar devido as embarcações serem naufragadas pela Triarquia, não é? – perguntei ironicamente.

- Bem que o sei tio falou, você está ficando igual aquele homem! – minha tia ralhou.

- Melhor do que ficar igual a senhora! – eu ouvi Rosalie disfarçar um riso com uma tosse. – Uma mulher amargurada que não tem outra função na vida do que fazer, e pior, inventar fofocas! Está achando ruim que o meu marido ter iniciado essa guerra, diga-me tia, como a senhora serviu ao reino recentemente? – questionei. – Obviamente sem ser fazendo fofocas e se entupindo de bolo o dia inteiro! – ironizei.

- Quer saber Isabella. Já tem três anos que esse homem foi embora, e eu rezo todos os dias para os deuses não o trazerem de volta! Você se tornou uma pessoa horrível desde que se casou com aquele lá... – ela cuspiu, sem se importar com a quantidade de pessoas que tinham ali. – Graças aos deuses o seu pai vai te casar com alguém muito melhor quando esse homem não voltar! O que eu preciso dizer, que todos nós esperamos que ele não volte! Depois de tanto tempo sem notícias é capaz de ele nem estar mais vivo, e isso deveria ser celebrado! Aquele lá só traz problemas por onde ele passa! – ela suspirou. – O garoto Denali é e sempre foi melhor do que esse... – eu não sabia o que tinha atraído a minha atenção, mas ao procurar pelo meu pai pela tenda, eu o encontrei justamente conversando com o lorde Denali e o seu filho.

- Lady Stone, permita-me lembra-la de que a senhora está falando do meu tio, seu príncipe, e por mais que meu pai e meu tio não estejam se dando bem, ele jamais irá permitir que alguém, igual a senhora fale desse jeito do único irmão dele! – Rosalie falou a interrompendo. – Então, peço, gentilmente, que se ponha em seu lugar como senhora de Oldtown. –

- Nunca mais fale que o meu marido não está vivo, de novo! – eu não esperei que ninguém falasse mais nada e apenas segurei a mão de Rosalie e a puxei para fora da tenda ao mesmo tempo em que ouvi a minha tira berrar o nome do meu pai.

- Seu pai vai vir atrás de você! –

- Que venha! Se Tessarion estivesse aqui, eu já teria ido embora! – nós andávamos pelo acampamento, com os braços dados. – Sabe qual é a minha maior vontade, Rose? A minha maior vontade é, já que o seu pai se recusa a ajudar o irmão, é pegar Tessarion chamar a sua prima com Meleys, aproveitando que agora a Jane tem Vhagar, e voar até Stepstones! –

- O pior é que capaz de Gianna e Jane aceitarem. Até porque, eu não sei como ela não teve essa ideia ainda! –

- Princesa. – um homem loiro, com a armadura vermelha, com o símbolo de um leão de pé, chamou a atenção de Rosalie, era Tyland Masen. – O segundo dia do seu nome foi tão grandioso como esse? –

- Como eu irei me lembrar? E tenha certeza de que Henry também não se lembrará! –

- Lorde Tyland, o senhor mandou algum corvo para o meu marido, antes de sairmos da fortaleza? – questionei e ele me encarou confuso.

- Oh princesa, a senhora está me confundido! –

- O senhor não é o lorde Tyland Masen? – Rose perguntou também confusa, como eu.

- Não senhorita. – ele se levantou, bebendo um gole de algo que tinha em sua taça dourada. – Eu sou o irmão gêmeo de Tyland, Jason Masen. – explicou. – E perdoem-me pelo comentário, mas meu irmão é terrivelmente tedioso, por isso que os deuses gostam tanto dele. – ele estalou os dedos e um de seus criados se aproximou com uma bandeja com duas taças, servindo um liquido amarelado nas duas taças, ele pegou uma e nos entregou.

- Não, muito obrigada. – Rosalie recusou e eu também.

- Irão rejeitar o melhor hidromel que irão experimentar? Foi feito em Masenport. –

- Eu não quero beber hoje, milorde, estou aborrecida, e caso eu beba as chances de eu falar o que eu não quero são enormes! – respondi e Rose só recusou com a cabeça mais uma vez.

- Bom... A mata do rei é um ótimo lugar para caçada, não acha? Na minha singela opinião, a melhor é a que fica próxima ao rochedo onde fica o meu castelo. – Rose me encarou com o canto dos olhos. – Alguma das duas já foram lá? –

- Não. – respondi seca e simplesmente.

- Acho que eu já fui sim uma vez com a minha mãe! E sinceramente, eu não me lembro muito bem. –

- Tem seis vezes a altura do castelo dos Hightower em Oldtown, com todo o respeito lady Isabella. – se gabou e eu senti uma vontade absurda de revirar os olhos. – Dizem ser maior ainda do que a muralha do norte. E ainda dizem que se você subir na torre mais alta durante um dia de sol perfeito, é capaz de ver até do outro lado do mar estreito! Infelizmente não temos um fosso dos dragões, mas eu tenho inúmeros recursos para construir um. –

- E para que o senhor deseja um fosso de dragões, lorde Masen? – questionou confusa.

- Para abrigar um dragão. – disse como se fosse óbvio e eu e Rosalie nos encaramos. – Eu faria de tudo pela minha rainha. – eu vi um homem passando por trás de mim com uma jarra em mãos. – Ou pela minha esposa. –

- O que é isso? – perguntei.

- Cerveja, lady Isabella, para os... –

- Me dá... – mandei e ele me encarou com a sobrancelha arqueada. – Me dá! – falei firme e ele derramou cerveja em um cálice e me entregou, e eu virei quase todo de uma vez, fazendo uma careta no final, e ele me encarar assustado, e entreguei para que ele enchesse de novo, e após virar o segundo copo, eu voltei para perto de Rose. – Com licença, lorde Masen, mas o rei está chamando a princesa. – falei simplesmente e não esperei que ele falasse algo, apenas puxei Rose para longe dele.

- Obrigada. –

- Disponha! Esperar o que de um Masen! – comentei e ela pegou a taça de cerveja da minha mão, bebendo o resto do líquido amarelado e amargo.

- Isabella. – meu pai me aguardava na porta da tenda, furioso, minha tia já tinha ido reclamar com ele. – Eu quero falar com você agora! – ele falou entre os dentes.

- E meu pai, lorde Hightower? –

- Lá dentro, princesa! –

- Qualquer coisa, uma grita pela outra! – ela falou para mim na língua antiga e eu apenas assenti e ela entrou.

- O que foi? –

- Que jeito foi aquele que você tratou a sua tia? – perguntou furioso, segurando-me pelo antebraço e me empurrando para longe do povo.

- Eu não vou ficar ouvindo-a inventando merda sobre o meu marido e ficar de boca fechada. – reclamei puxando o meu braço, para que ele soltasse.

- Olha os modos! – sibilou para mim. – Eu te dei educação! –

- Então use os meios que me deu educação e dê a sua cunhada também. Ou então pede para o vosso irmão dar educação a ela! –

- Isabella! – ele rosnou.

- Isabella o que? – rebati. – O senhor é o meu pai, mas não se esqueça que eu sou casada! Meu marido estando aqui ou não, não muda o fato de eu ser casada, para a infelicidade do senhor e de todos! Eu não lhe devo mais satisfação do que eu faço, deixo de fazer ou tampouco do modo que eu falo! Sabe o que é engraçado? Tem poucos meses que eu voltei de Dragonstone e o senhor fica agindo como o melhor pai de Andrômeda, vive mandando corvos para Edward para saber como ela está, por mim, e com isso fica arrumando problemas com rei, mas pelas minhas costas, está planejando o meu casamento com o Denali para o caso de o Edward não voltar! – acusei.

- Do que você está falando? –

- Sua cunhada disse isso, na frente de todas as damas da corte! Além de falar que eu me tornei uma pessoa horrível! – respondi sentindo os meus olhos ardendo, e eu só queria chorar de raiva. – Quer saber... O senhor tem o mesmo pensamento do rei. Foda-se como está a guerra em Stepstones! Eu vejo em seus olhos que caso Edward não volte é melhor para o senhor! Realmente, o que iria te impedir de finalmente me casar com quem o senhor quer e que com isso nunca mais me ver? Pois esse é o único motivo para querer tanto me casar com o nortista, para me querer o mais longe possível do senhor! E se o Edward não voltar, o que lhe impede? Até porque eu não tenho filhos, e eu não duvido nada que o senhor agradeça aos deuses por isso, igual a sua cunhada e o seu irmão fazem! –

- Como pode pensar que ver a minha filha, a minha única filha, triste me faz feliz? –

- Porque é o que eu vejo quando olho nos seus olhos! Você pode ter aceitado o meu casamento, mas não gosta, não concorda e senhor diz isso para qualquer um que pergunte, além do fato de a vossa cunhada fazer o favor de espalhar isso para todos de Oldtown e agora de toda a Andrômeda. – ele abriu a boca e eu continuei falando, depois de limpar a lágrima que havia escorrido dos meus olhos. – Quando eu voltei, o senhor disse que íamos nos dar bem, e realmente nos dávamos, menos quando o nome do meu marido aparece na conversa, menos quando a menção dele e do meu casamento surge na conversa. Só que depois daquele dia em Oldtown nós não estamos nos dando bem e o senhor não tenta se dar bem comigo, o senhor tenta me comprar com os corvos que manda achando que isso iria me comover! Eu nunca fui idiota, pai, todo mundo aqui pode achar que eu sou, mas eu não sou! Eu sei ver as coisas muitíssimo bem, e agradeço, e irei agradecer, ao meu marido pelo resto dos meus dias por ter me ensinado a abrir, completamente, os olhos para a podridão que habita esse castelo! O senhor ama se gabar, desde sempre, que é a Mão do Rei, mas o senhor é o único que ainda não percebeu que nesses últimos tempos, quem está assumindo o seu lugar é o Strong! –

- Se eu estou perdendo o favoritismo do rei é por sua culpa! – ele falou se aproximando mais ainda de mim, quase se grudando a mim. – Que mesmo não me pedindo fica me fazendo enviar toda maldita hora um corvo até Stepstones para saber como o Edward está, mesmo sabendo que o rei não quer notícias de la! Eu descumpri ordens diretas do rei para continuar abastecendo o exército de mercenários, que ele e o serpente marinha arrumaram, por sua causa! Então não venha ser ingrata justo agora, depois de tudo o que eu fiz por você! –

- Ingrata? Eu só soube o que o senhor fazia porque a princesa Gianna me contou! Se queria gratidão da minha parte, me avisasse antes, porque é a sua obrigação enviar mantimentos para o exército que trava uma guerra em nome do reino! E eu nunca pedi para enviar um corvo para o Edward, já disse inúmeras vezes que se eu quisesse entrar em contato com ele, eu tinha os meus meios, que não precisava mais do senhor! Não tem uma mísera pessoa nesse acampamento, lady ou lorde, que não abra a maldita boca para falar mal de Edward e de Jacob, para falar mal dessa guerra, mas quando isso tudo acabar, e se acabar com os dois vitoriosos, quem mais vai se beneficiar são vocês, principalmente o seu precioso rei! Isso sim é ser ingrato! Na verdade, eu corrigiria para hipocrisia! – eu virei o resto da minha cerveja. – Quer saber, o senhor não vai precisar lidar com a minha ingratidão por muito mais tempo. Porque assim que meu marido pisar em Adhara, eu vou embora daqui de novo! E pretendo ficar muito mais do que apenas dois anos fora! – eu me afastei dele e contornei o seu corpo, deixando a minha taça em cima da bandeja de um criado que passava. – Não se preocupe pai, pois quando eu tiver os meus filhos, eu vou privar o senhor de vê-los com os cabelos loiros! –

- Isabella... – ele me chamou quando eu virei as costas para ele, ao mesmo tempo em que eu via Rosalie saindo de dentro da tenda do rei. – Isabella, eu estou falando com você! – seus olhos bateram com os meus e ela apenas apontou com a cabeça para os cavalos, presos, ao lado da tenda que ela acabara de sair. – Você pode ser casada, mas eu ainda sou o seu pai, e você não pode me virar as costas! – ele falava alto, e eu pouco me importava, do mesmo jeito que eu pouco me importava com as pessoas que olhavam para nós, o que incluía meu tio na porta da tenda do rei, que nos olhava com desaprovação! Eu apenas peguei do bolso da minha calça, o meu par de luvas e encurtei o caminho até o cavalo, Rosalie já tinha subido no dela, e só esperava por mim. – Isabella, na falta do seu marido você deve sim obediência a mim! – ele continuava gritando enquanto eu montava no cavalo. – Não se atreva a deixar esse acampamento! – ele falou entre os dentes parado perto de mim, quando Rosalie esporrou o seu cabalo na direção da floresta e eu apenas fiz o mesmo, ignorando-o por completo.

Nós já estávamos no meio da floresta, quando o som de outros galopes apareceu em nossos ouvidos. Alguns guardas haviam vindo atrás de nós, melhor atrás de Rosalie. Ela apenas virou a cabeça para ver quem estava chamando-a, e ao olhar para mim, apenas repetiu um me acompanha. O guarda continuava a berrar para que parássemos, e ao nos aproximar de um grande lago ela não parou, como eu pensei que ela fosse fazer, ela apenas entrou com o cavalo na água, e meio receosa, eu fui logo atrás. O lago era bem fundo, o que deixou os cabelos irritados, já que apenas as suas cabeças ficavam fora da água, que batia na altura de minha cintura, isso sem contar com a fraca correnteza que existia ali.

Com dificuldade, bastante dificuldade, nós conseguimos alcançar a outra margem e consequentemente o outro lado do lago, os guardas ficaram parados na outra margem, alguns tentavam forçar o seu cavalo a entrar, e o mesmo se recusava, alguns ainda acabaram caindo do cavalo, pois o mesmo ficava pinando. Eles imaginavam que a chance de eles conseguirem atravessar o lado, pelo menos naquela altura do lago, seria impossível, os homens eram mais pesados que nós, e com as suas armaduras, eles ficavam mais pesados ainda, eles iriam afundar completamente.

- Venha antes que eles arrumem um jeito de passar. Rose atraiu a minha atenção e nós voltamos a entrar na floresta.

- Você sabe para onde está indo? – perguntei seguindo-a e subindo uma pequena inclinação, que nos tirava da trilha.

- Não! – respondeu como se fosse óbvio.

- Oh... Parabéns. – ironizei e ela riu.

Agora nós andávamos devagar, principalmente para ouvir os barulhos da floresta, caso aparecessem outros guardas, bandidos ou animais. Nós encontramos uma clareira minúscula, que ficava próxima a um pequeno córrego, onde paramos, daqui a pouco a noite começaria a cair, e nós precisávamos nos aquecer imediatamente, já que estávamos completamente encharcadas. Lembrando-me de como Edward fizera uma fogueira enquanto estávamos em Walano, sem Caraxes ou Tessarion por perto, nós juntamos alguns gravetos secos, e batendo uma pedra na outra, com força, dificuldade e cuidado para não machucar as mãos, eu consegui fazer uma fagulha, que ateou fogo nos gravetos e mato seco.

- O que houve com o seu pai naquela tenda? – perguntei enquanto tentávamos nos aquecer e secar o máximo possível.

- Ele tentou me vender para Jason Masen! –

- Eu diria que não tinha como ser pior, mas acho que não tem nada pior do que um Masen. – ela respirou fundo.

– Eu sou a princesa e futura rainha de Andrômeda, por que eu deveria me casar para favorecer um lorde de Serpens? –

- Alimente Syrax com ele? – sugeri.

- Syrax não come porcaria. – rebateu me fazendo rir. – E o que houve com o seu pai? – perguntou e eu suspirei.

- Eu não consigo mais acreditar em nada do que ele fala! Eu escuto a voz dele falando que ele está tranquilo com o meu casamento com o Edward, mas eu sei que ele não está. Eu vejo nos olhos dele outra coisa! Eu vejo que para ele, se Edward não voltar, é melhor! Ele fingiu que não sabia o que eu estava falando quando eu contei do plano dele de me casar com o Denali, caso o meu marido não volte! – suspirei. – O rei se recusa a enviar ajuda, mesmo todo mundo vendo que eles estão perdendo a guerra, mesmo com todos vendo que o maior perdedor será o reino. A guerra está ocorrendo a três anos, ela aguenta esperar mais três dias! – ironizei repetindo as suas palavras, enquanto jogava um pedaço de graveto, que eu havia acabado de quebrar, no fogo. – E eu ainda sou obrigada a ouvir que o vosso pai se importa com o irmão! Eu não aguento mais esse lugar, essas pessoas e a ausência dele! – funguei antes de passar as mãos pelo rosto, subindo-as pelos meus cabelos. – Anote o que eu estou dizendo, Rosalie, o meu pai vai perder o posto dele para o Strong e vai colocar a culpa em mim! –

- O Strong disse que os caçadores viram um cervo branco, após milhares de anos. Que antes de os dragões, o cervo era o animal de Andrômeda, e que um cervo branco aparecer assim em um aniversário, era um claro sinal dos deuses, que tal pessoa deveria ser o rei! E que o fato de, depois de milhares de anos, o bendito cervo branco ter aparecido hoje, justo no aniversário de Henry, é um claro sinal dos céus para que ele ascenda ao trono! –

- Ele falou isso na sua frente? –

- Ele falou isso na frente de todos! E o meu pai não falou merda nenhuma! Ele já tem o que ele quer, o filho homem que ele tanto quis e matou a minha mãe para ter, por que não me substitui logo por ele de uma vez! É o que todos querem, o que todos esperam que ele faça! Às vezes, eu fico pensando, não seria melhor renunciar a essa merda desse trono logo em favor desse moleque e viver, feliz, longe desse lugar? Eu viveria com o maior prazer com você e meu tio em qualquer canto desse mundo, e vocês nem iriam perceber a minha presença. –

- Se for o que você realmente quer, saiba que pela minha parte, será muito bem-vinda! Eu te falei e já avisei ao meu pai, assim que o Edward voltar eu vou embora daqui! Eu não aguento mais ficar perto de tanta gente sórdida! –

- Você ainda conseguiu ficar quase dois anos fora de Adhara, eu nem isso! –

- E estava completamente feliz, tenha certeza... Maldita hora que Jacob apareceu lá! – eu me ajeitei ao seu lado, apoiando a minha cabeça contra o seu ombro, e ela aninhou a cabeça contra a minha. Nós duas estávamos quase completamente abraçadas, em uma vaga tentativa de nos aquecer.

Um relincho fraco dos cavalos fez com que levantássemos a cabeça. Nós não tínhamos ouvido nenhum barulho da floresta completamente escura. Rose se levantou era a única que estava levemente armada, já que ela carregava um pequeno punhal consigo, não que aquela pequena faca tivesse algum efeito em um animal ou pessoa, mal de qualquer forma, era melhor do que nada. Tudo estava em um completo e mórbido silêncio, a não ser pelo crepitar do fogo. De repente, um enorme javali saiu do meio da escuridão e batendo nas pernas de Rose, a derrubou no chão, vindo para cima de mim, furioso e babando.

Ele havia subido em cima de mim rosnando e babando e eu havia conseguido segura-lo pelas orelhas e afastar as suas presas de mim, mas ele estava deveras agitado, a sua cabeça balançava freneticamente de um lado para o outro, tentando se soltar de minhas mãos, enquanto eu virava o rosto para me proteger, mas não antes de sentir a ponta de sua presa rasgando o meu braço. Ele soltou um grunhido alto ao mesmo tempo em que senti algo viscoso e quente caindo em meu rosto e o javali começou a chiar em agonia, e em poucos segundos ele havia tombado com todo o seu peso em cima de mim, me tirando o ar por alguns breves segundos, até eu ter conseguido empurra-lo para o lado. Rose estava de pé, parada a minha frente, com a sua adaga e suas mãos completamente ensanguentadas. Eu mal tive tempo de respirar aliviada ou de ver o ferimento em meu braço, quando o animal moribundo tentou se levantar do chão, e Rose basicamente se jogou em cima dele, o esfaqueando com o seu punhal, matando-o de vez.

- Você está bem? – perguntou e eu vi pequenas lágrimas cintilantes escorrendo de seus olhos cor de violeta.

- Eu disse que era uma péssima ideia vir para cá. – resmunguei e mesmo com as duas chorando e cheias de sangue, principalmente eu, nós duas começamos a gargalhar na floresta escura.

Ela se levantou e me ajudou a sentar, eu me aproximei mais do fogo, para que eu pudesse ver o ferimento em meu braço, não era fundo e também não era tão feio, mas poderia ficar muito ruim se não fosse cuidado logo. Usando a adaga ensanguentada de Rose, eu arranquei um pedaço do tecido da minha blusa e amarrei em cima do ferimento, apertando para tentar estancar o sangue, e para evitar que entrasse sujeiras no mesmo. As mãos de Rose estavam cobertas pelo sangue do animal, e com algumas gotas em seu rosto, e eu sabia que o meu estava tomado por ele eu conseguia sentir o liquido espesso e viscoso secando e grudando cada vez mais em meu rosto.

Quando o dia amanheceu, nós conseguíamos, com bastante dificuldade, colocar o javali morto sobre o lombo do cavalo de Rosalie, e o meu braço latejava de dor, e qualquer tipo de esforço que eu fazia com ele, doía mais ainda. Nós montamos em nossos cavalos e tentamos achar algum mirante para que pudéssemos localizar a clareira onde o acampamento do rei estava. Não foi difícil, as fumaças das fogueiras eram bem altas e dava para ver de longe, onde elas estavam.

Eu estava exausta e faminta, meu braço doía miseravelmente, e eu o tinha grudado ao meu peito para evitar a pressão caso eu o deixasse abaixado. Um barulho de cascos contra o chão de terra e pedra foi se aproximando de nós duas com calma e tranquilidade, o que fez com que as nossas cabeças se virarem para onde vinha o som. Podia ser outro animal ou então algum cavaleiro que havia nos encontrado, e eu não sabia o que era pior! Na entrada da floresta um enorme cervo branco apareceu, mesmo que estivéssemos montadas nos cavalos, o cervo conseguia ser maior do que nós. Ele notou que nós duas não éramos ameaças para ele, e voltou para dentro da floresta com calma.

Eu e Rosalie nos encaramos, mas preferíamos não falar nada. Segundo a lenda dos antigos habitantes de Andrômeda, o cervo branco havia aparecido para Rose, isso significava que os deuses a queriam como a próxima rainha de Andrômeda?

De cima do mirante nós conseguíamos ver a trilha que levava ao acampamento, passando por uma parte do rio, que tinha uma pequena ponte de pedra, por onde poderíamos passar sem nos molharmos. O caminho era rápido, mesmo sem fazermos os nossos cavalos galoparem, era uma trilha rápida e tranquila, e ao adentrarmos no acampamento, nós duas conseguíamos ouvir os cochichos de surpresa quando nós duas entramos sozinhas e com o animal morto no lombo do cavalo de Rose. No meio de todos, em frente a enorme tenda real, meu pai e o rei estavam sentados comendo e bebendo, completamente calmos, como se eu e Rosalie não tivéssemos colocado os pés para fora do acampamento e passado a noite toda na floresta.

Alguns guardas apareceram para segurar os cavalos e nos ajudar a descer, olhei em volta e não via nem Calleb e John em canto nenhum do acampamento, e se eu me lembrava bem, eles tinham vindo comigo no dia anterior. Nós desmontamos dos cavalos e não falamos nada com ninguém, apenas seguimos o caminho que levava até a nossa tenda, comigo apenas pegando uma jarra de cerveja da mão de um dos criados.

Dentro da tenda, eu rasguei um pano limpo, e entregando a jarra para Rosalie, que derramou a cerveja quase toda na ferida descoberta, fazendo-a arder desgraçadamente, me fazendo apertar a minha mão em punho contra a minha boca para evitar o grito.

- Eu posso saber onde as duas se enfiaram a noite toda? – o pano que cobria a minha tenda fora aberto bruscamente com o meu pai e o rei, ambos furiosos, entrando. – Que machucado é esse? – questionou ao ver o corte em meu antebraço, que Rose estava cobrindo-o com o pano limpo.

- Nenhum, vossa graça. – respondi simplesmente respirando fundo pela dor que eu ainda sentia.

- O senhor já vai voltar a fortaleza? – questionou ela dando um nó forte no pano.

- Já! –

- Ótimo, nós duas vamos na frente! – ela disse simplesmente quando eu me levantei. Nós só tínhamos vindo para o acampamento para nos livrarmos do javali e para desinfetar o machucado antes que ficasse pior ainda.

- Isabella... – meu pai quase rosnou para mim, quando eu me levantei e tentei passar por ele.

- Eu não quero falar com o senhor! Com licença... Ah... Desfrutem do javali! Ele foi morto na força do ódio, espero que isso não modifique o gosto! –

- Melhor descontar em um animal no que em uma pessoa. – Rosalie ironizou saindo da tenda atras de mim.

Quando saímos da tenda, John e Calleb tinham aparecido, eles estavam montados em seus respectivos cavalos, perto de nós. Eles não pareciam surpresos aos nos verem cheias de sangue. Nós duas não falamos mais nada, apenas montamos em nossos cavalos e de novo, deixamos o acampamento, com John e Calleb vindo logo atrás.

Ao chegarmos à fortaleza, fomos direto para a torre do meistre, para que ele pudesse dar uma olhada e fizesse um curativo na ferida. Ele limpou e analisou, segundo o meistre, o machucado não precisava de pontos, então, ele apenas passou uma pasta de ervas, que havia feito, e enrolou com um pano limpo, finalizando o curativo. De volta a meu quarto, e sozinha, já que Rosalie havia seguido para o seu, eu havia trancado a porta, não queria ninguém entrando aqui, até porque eu sabia que meu pai apareceria aqui assim que ele chegasse no castelo. Eu fui direto para um banho, a tina havia ficado com a água toda vermelha, o braço machucado, um dos que mais estava sujo de sangue, não pode ser limpo, eu não podia molhar o curativo.

Depois de ter tomado banho e me vestido, eu me aproximei da penteadeira. Derrubei um pouco de água em uma bacia e com um pano limpo eu comecei a limpar o sangue do meu braço e o que havia sobrado do meu rosto. Um punho começou a esmurrar a porta, eu sabia muito bem quem era. Meu pai! Eu simplesmente continuei imóvel e me limpando, e ele continuou esmurrando a porta, enquanto me chamava de forma furiosa.

- Eu sei que você está ai! Ou você abre essa porta agora, ou eu vou coloca-la abaixo! – jogando o pano, que estava mais vermelho do que branco, dentro da bacia com água, eu me aproximei da porta, abrindo-a, mas eu não a deixei aberta o suficiente para que ele entrasse, apenas para que ele me visse. – Qual é o problema? – perguntou rosnando.

- No momento? O senhor! –

- Olha como fala comigo, garota! – ele rosnou. – Você tem noção do que você e a sua amiga fizeram? Tem noção do quanto nos deixaram preocupados? –

- Eu notei! Eu notei o quanto o senhor e o rei estavam preocupados, bebendo vinho e comendo! Eu notei! – respondi sorrindo de forma debochada para ele. – Estamos bem e vivas! Como podem ver. Portanto, o senhor pode ir fazer as suas coisas. Porque eu decidi uma coisa! –

- Ah é mesmo? O que? – eu vi John se aproximando, pronto para interromper e tirar o meu pai dali.

- Eu não vou colocar os meus pés para fora deste quarto enquanto o meu marido não voltar! – eu falei alto para que, tanto o meu pai e John ouvisse. – Essa porta vai ficar trancada e a única pessoa que vai ter permissão de entrar aqui é a Rosalie! E não adianta o senhor ficar berrando e socando a porta, porque ela não será aberta! E lembre-se, que eu ainda sou casada com o Edward, e ele ainda é o príncipe de Andrômeda, então, antes de os guardas obedecerem ao senhor, eles vão obedecer a mim! Portanto, caso queira me ver de novo, o que eu tenho diversas duvidas, reze aos deuses para que o meu marido volte logo! Agora, como eu disse mais cedo, com licença, eu preciso terminar de me limpar! – eu voltei a entrar no quarto e trancar a porta de novo.

Rosalie chegou à noite, e ela havia vindo pela passagem dentro das entranhas da fortaleza. Ela havia sugerido que saíssemos de novo, mesmo com a chuva forte que havia começado a cair, e eu havia aceitado. Ela havia garantido que tinha trancado a sua porta, e após termos trocado de roupa, nós deixamos a fortaleza, e igual fazíamos quando estava chovendo, nós fomos para dentro de um bar, pedindo uma cerveja e alguma coisa para comer. E nós ficamos ali, entre os nossos “conhecidos” bêbados, que achavam que éramos meninos, ouvindo histórias de suas vidas enquanto bebíamos e arremessávamos pequenas facas em pedaços de madeira presos na parede.

Três meses haviam se passado e eu não havia voltado a ver o meu pai de novo, mesmo com o rei tendo vindo, pessoalmente, pedir para que eu fosse falar com ele, e eu havia recusado. A rainha havia dado à luz, poucos dias depois da caçada de aniversário de Henry, e dessa vez havia nascido uma menina, que recebeu o nome de Alice, e eu havia viajado com Rosalie para a fortaleza de Cervus, onde ela iria tentar escolher um de seus pretendentes em meio aos lordes que iriam se reunir na casa do lorde protetor de Cervus, Boros Cullen. No mesmo momento em que eu havia posto os meus pés na fortaleza dos Cullen, eu havia me arrependido, era uma fila enorme de pessoas que tentariam argumentar com Rosalie pelo casamento.

O lorde Cullen havia cedido a sua cadeira para que Rosalie se sentasse, e sentou ao seu lado direito, colocando uma cadeira para mim no lado esquerdo de Rosalie, e conforme os pretendentes, de diversas idades iam falando e sendo rejeitados, eles iam para o lado, dando espaço para o próximo.

- Os muros de Blackhaven são de basalto, impossíveis de escalar. E o castelo está rodeado por um fosse seco e profundo. Está bem defendido contra futuras incursões de Apus. – comentou rindo.

- Você veio encontrar um pretendente ou comprar um castelo? – perguntei baixo e na língua morta, apenas para que ela ouvisse, e ela esboçou um sorriso, se segurando para não rir.

- E embora o meu domínio seja mais modesto, a sua localização é muito agradável. – ele prosseguiu após uma longa pausa para um gole de vinho. – A vista para as Marcas de Apus é simplesmente inspiradora. Tal como disse a Rainha Sulpicia quando nos honrou, a mim e ao meu pai... –

- Diga-me, lorde Johnson, consideravas a minha bisavó tão bela quanto diziam? – Rosalie perguntou sorrindo.

- Isso foi há quase meio século, princesa. –

- Eu sei! – respondeu ela fazendo todos os observadores rirem.

- Isso foi impróprio, princesa. – o lorde Cullen comentou baixo.

- Ele é mais velho que o meu pai. É impróprio para ele apresentar-se como pretendente à minha mão! –

- Próximo! – o lorde Cullen disse, e o lorde Johnson se afastou dando espaço para o próximo, um garoto, que aparentava mal ter completado os seus onze anos.

- E agora uma criança. – ela disse sem jeito, quando menino fez uma reverência a ela, com uma espada maior que ele, presa em sua cintura.

- Os Blackwood são uma casa antiga com um exército poderoso. Em tempos, eram os reis de Dorado. O sangue dos Primeiros Homens ainda corre em suas veias... – Lorde Cullen contou como se estivesse tentando explicar o motivo de o garoto ser um bom pretendente, independentemente da idade.

- Isso tudo não muda o fato de ele ser uma criança, lorde Cullen. Com todo o respeito! – comentei me ajeitando na cadeira. – Mas ele parecer ser fofo! – falei para Rose, que riu para mim

- Pode começar. – o lorde Cullen pediu.

- Princesa. – ele tinha uma voz bem grossa para um garoto de onze anos. – Unem-nos lanços ancestrais desde que Lucas Blackwood, o avô de meu avô, ajudou o Dragão na sua conquista. –

- Sim... Os Blackwood foram decisivos nessa guerra. – um dos pretendentes já rejeitados, e bem idiota, o lorde Bracken, ironizou do canto da sala, fazendo todos que estavam a sua volta rirem, mas isso não intimidou o garoto.

- A nossa história, que ascende aos Primeiros Homens, está profundamente enraizada nesta terra, que a vossa casa tomou como lar. – eu tinha os meus cantos dos olhos presos em Rosalie, e eu a via sorrindo, so não sabia ao certo se era de deboche ou o que. – Se me escolherdes como vosso esposo, os vossos dias serão calmos, e as vossas noites serão seguras sob a minha proteção. –

- Proteção? A princesa tem um dragão, imbecil. – o mesmo lorde rejeitado interrompeu o garoto de novo.

- E é uma pena que Syrax não esteja aqui, não é mesmo, Lorde Bracken? – ironizei. – Ela iria adorar apresentar aos interruptores os seus dentes! – Rosalie sorriu e ele se calou.

- Perdoe-me princesas... –

- Eu podia aprender a gostar dele. – Rose se virou para mim, sorrindo. – O que acha? –

- Ele é fofo! Estou quase escolhendo-o para mim. – brinquei. – Só não conte ao seu tio. – ela balançou a cabeça rindo.

- Obrigada lorde Blackwood, vamos ver o próximo, por favor, para que possamos cear. – pediu e eu notei as bochechas do garoto levemente rubras.

- Covarde! – Bracken provocou de novo, e o garoto Blackwood sacou a espada.

- Melhor irmos embora. – comentei me levantando ao mesmo tempo em que Rosalie também se ergueu. Nós duas nos apressamos a deixar, enquanto os guardas com o símbolo dos Swan estampados no peito nos cercavam.

- Guardem as suas espadas, seus idiotas. – o lorde Cullen bravejou.

- Sor. Félix. – ela o chamou, e ele se aproximou de nós enquanto ouvíamos os tilintar das espadas. – Mande avisar o capitão para preparar o navio. Quero voltar a Adhara hoje! –

- Lembre-se que iriamos estar em Bitterbridge daqui a três dias. – lembrou-a.

- Eu não me importo de remar até Adhara se isso acabasse com este cortejo ridículo. – um gemido alto de dor fez com que parássemos, e no meio do salão, de onde tínhamos acabado de sair, o garoto Blackwood tinha a espada fincada no abdômen do Bracken.

- Ele pode não ser um bom marido, mas com certeza sserá um bom guerreiro um dia. – ironizei, segurando-a pelo antebraço e a guiando para fora do castelo enquanto o corpo de Bracken caia morto no chão.

- Como você acha que o meu pai vai reagir a isto? – questionou quando nos encontramos com Calleb do lado de fora do castelo.

- Depende. – comentei quando ela enlaçou o braço ao meu, e nos apressamos para alcançar o porto.

- De que? –

- Se refere a rejeitar todos os lordes que ele escolheu ou a encerrar a viagem dois meses mais cedo? – ironizei e ela riu. – Pense no que eu lhe disse meses atrás. Alec Black. – comentei baixo para que apenas ela me ouvisse.

- Só que para isso, minha amiga, ele precisa voltar vivo dessa guerra! –

Ela não falou mais nada e nós duas entramos na carruagem que nos levaria ao porto, para que pudéssemos embarcar de volta a Adhara. Rosalie havia me informado, que após a caçada no aniversário de Henry, o rei resolveu enviar dez navios para Stepstones para ajudar na guerra, e no fundo, eu não duvidava nada de que havia sido apenas para receber os louros como “o salvador”, e de qualquer forma, três meses haviam se passado e nenhuma noticia tinha chegado ainda. Demorou quase dois dias até que chegássemos em Adhara, meu pai foi o primeiro que nos viu entrando no castelo e suspirou ao ver que a viagem acabara antes do tempo, contudo, não falou nada, até porque ele sabia que caso falasse comigo eu não iria responder. A noite nós fugimos do castelo mais uma vez, indo para o topo da muralha com jarras de vinho, enquanto víamos uma festa de casamento, que ocorria pelas ruas da baixada das pulgas.

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