domingo, 27 de outubro de 2024

Capítulo 03 – Estranhos acontecimentos.

 Transilvânia – Romênia.

Inverno de 1564.

Narrador.

Dois anos se passaram desde aquele dia. Isabella agora já tinha nove anos e não se lembrava de mais nada daquele dia em questão! Seu pai havia saído mais uma vez para caçar e dessa vez tinha a deixado trancada dentro de casa, e dessa vez não era por não confiar nas pessoas, mas sim por acontecimentos estranhos que estariam acontecendo na região.

O sacrifício tinha sido feito, mas mesmo assim pessoas continuavam sumindo e aparecendo mortas logo depois. Crianças viram uma criatura negra andando pela vila a noite, que fizeram os animais se estressarem, os cavalos relincharem e os cães ladrarem. Os anciões queriam fazer outro sacrifício, temendo que a besta não tenha se saciado com a última mulher, não virgem, sacrificada. Mas os aldeões não haviam concordado com outro sacrifico.

Um sacrifício tinha sido feito, a besta que se contentasse com ele.

Certa noite, durante um dia bem frio, Isabella acordou ao ouvir um grito. Ao se levantar da cama e pisando a ponta de seus pés contra o chão de madeira fria, ela se aproximou da janela. A aldeia estava bem escura, a maioria das tochas que tinham sido acessas durante a noite tinham se apagado, mas Isabella pensou ter visto uma garota sendo arrastada pela janela de sua casa na direção da floresta. Bella não sabia o que fazer, ela estava sozinha em casa, seu pai tinha ido caçar pela manhã e não tinha voltado, ela já tinha se acostumado com isso, durante o inverno ele costumava ficar entre uma a duas noites fora de casa.

Ela estava assustada. Ela não sabia se tinha visto coisas ou se tinha visto algo mesmo. E se aquela coisa que arrastava aquela garota para a floresta viesse atrás dela. Ela estava sozinha, seu pai estava longe. Ela definitivamente não sabia o que fazer.

- Volta para a cama. – ela ouviu uma voz aveludada vindo de trás dela, do outro lado do quarto e isso a tinha assustado mais ainda. – Saí da janela e volta para a cama. – a voz disse de novo e se virou para onde vinha a voz, mas não tinha nada ali, o seu quarto estava escuro e vazio. – Ninguém vai te fazer mal, pode voltar a dormir! – ela não sabia o motivo, mas ela tinha voltado para cama apressada e puxou as cobertas grossas, quentes e pesadas para cima, cobrindo até a sua cabeça.

Ela não sabia quem estava ali, mas não a tinha feito mal, mas de qualquer forma, ela se sentiu melhor com todo o seu corpo, incluindo a sua cabeça coberta. Por mais que as cobertas de pelo fossem quentes, grossas e pesadas, isso a esquentava demais e a fazia suar, mas ela preferir passar mal de suar a descobrir a cabeça e ver quem era o dono daquela voz e principalmente, em saber como ele tinha conseguido entrar em sua casa que estava tudo bem trancado.

Isabella não soube ao certo o momento em que tinha dormido, mas ao acordar no dia seguinte as cobertas não cobriam mais a sua cabeça, estava repousada na altura de seus cotovelos e as suas cortinas estavam fechadas, mas ela acordou ouvindo um falatório alto com vozes desesperadas vindo do lado de fora de sua casa.

Com a claridade entrando em seu quarto, ela olhou em volta. O quarto estava vazio e não havia vestígio nenhum de ter tido alguém ali dentro noite passada. Ela se levantou e caminhou até a janela, conferindo primeiro como ela estava, trancada, do jeito que seu pai tinha deixado, não tinha como ninguém tê-la aberto e ela decidiu acreditar que aquela voz doce e estranhamente familiar, tinha sido apenas um sonho e nada mais. Tudo o que ela tinha visto naquela foi tinha sido apenas um sonho.

Ou não!

Ela ouviu as vozes altas e desesperadas vindas do lado de fora da sua casa e ao olhar pela janela ela viu a família de Alexis, uma garota da mesma idade de Isabella, e a família de Cassandra, uma garota três anos mais velha que Isabella, falando alto no meio da praça central da cidade, devido a distância, altura de seu quarto, e pela janela estar fechada e trancada, ela não conseguia ouvir o motivo do desespero das duas famílias, mas ao olhar para a casa a frente da sua, de onde ela tinha sonhado que viu alguém saindo pela janela, ela viu que não tinha sido tudo um sonho. A janela da casa de Alexis estava quebrada e um rastro de sangue saía de seu quarto, e seguia em direção a floresta.

Isabella engoliu em seco! Não havia sido um sonho! Alguém tinha entrado em sua casa noite passada. E pior, tinha entrado em seu quarto. Bella olhou em volta do pequeno quarto, o quarto era pequeno e simples, tinha apenas uma pequena cama de solteiro, um pequeno baú e um armário, não tinha como ninguém se esconder ali, a não ser que se escondesse debaixo de sua cama, mas ela não se atreveu a olhar. Ela apenas pegou uma de suas cobertas de pele e colocou sobre os ombros e abriu a porta do quarto, após conferir que a mesma estava trancada do jeito que ela tinha deixado.

Bella desceu devagar, e em total silencio, ela ainda não tinha decidido se aquilo tinha sido um sonho ou não e também não sabia se tinha gente dentro da sua casa ou não. Mas ela conferiu janela por janela, porta por porta e tudo estava trancado do jeito que seu pai tinha deixado antes de sair. Seus olhos foram atraídos para a lareira apagada, mas a chaminé era pequena, uma criança não passava ali, portanto um adulto não teria passado. Como ela ouviu aquela voz em seu quarto?

Aquilo foi um sonho! O que ela viu saindo da casa de Alexis pode não ter sido um sonho, mas aquela voz foi!

Mas duas noites tinham se passado e Isabella continuava trancada e sozinha, seu pai ainda não tinha voltado e ela estava começando a ficar preocupada com o mesmo que não voltava. Bella dormia profundamente, porém acabou acordando devido a um calor que não deveria existir durante o inverno. Seu quarto estava quente e junto com as cobertas de pelo, ela se sentia mal, sentia calor e seu corpo todo suava. Ela se mexeu na cama e abriu os olhos, a lareira de seu quarto estava acessa e ela não tinha acendido, ela sabia disso. Ela não acendia a lareira quando estava sozinha em casa. Seu pai falava dos perigos que acender a mesma enquanto estivesse com as janelas fechadas e ela preferia se aquecer apenas com os cobertores grossos. Mas a mesma estava acessa e confusa, ela sentou na cama e mais confusa ela ficou ao ver a janela com uma fresta aberta. Como aquela janela estava aberta?

Ela olhou em volta e ela estava sozinha. O quarto estava vazio, do jeito que deveria estar, com exceção da lareira acesa e da janela aberta. Ela começou a se levantar disposta a trancar a janela e apagar a lareira ao ouvir um grito agudo e mais alto do que a noite passada.

- Não saí da cama. – ela ouviu a voz de novo e usando a luz que o fogo proporcionava ela percorreu os olhos pelo quarto, e não viu nada. Não tinha ninguém ali. Debaixo da cama. Ela pensou, mas não se atreveu a olhar. Um grito entrou pela sua janela de novo. – Volta a dormir, eu já falei que ninguém vai fazer nada com você! E não se preocupe, o seu pai está bem, em dois dias ela vai estar de volta. Pode voltar a dormir. – mesmo com o quarto quente, ela puxou as cobertas por sobre a cabeça de novo, se sentindo mais segura assim.

Como a voz havia dito, dois dias depois o seu pai chegou em casa. Ele estava ferido, mas estava bem e o ferimento começava a cicatrizar.

- Pai! – ela se jogou em seus braços e ele chiou devido ao ferimento no braço, mas mesmo assim abraçou a filha. – Eu estava tão preocupada. –

- Me perdoa, minha filha! –

- O que aconteceu? – perguntou quando ele colocou a arma ao lado do armário de madeira da cozinha.

- Eu fui atacado por um lobo, acredito eu, estava bem escuro e eu não vi direito. – ele se sentou na cadeira. – Eu não sei o que fez o lobo se afastar, mas eu acabei encontrando um senhor, dono de um castelo perdido no meio da floresta, nunca o tinha visto, mas ele ofereceu abrigo e o médico dele cuidou do ferimento, não me deixou sair de lá antes que eu me recuperasse completamente, mas está tudo bem agora. – garantiu quando ela se sentou a frente do pai. – Aconteceu algo enquanto eu estive fora.

- Eu não sei ao certo. Há quatro noites os pais de Alexis e Cassandra estavam desesperados na rua e tinha um… um rastro de algo vermelho saindo da janela do quarto de Alexis indo na direção da floresta. E há duas noites a família de Donna também estava desesperada e gritando com os anciões. – ele suspirou.

- Eu soube, eu ouvi essa história quando cheguei. Os pais falam que elas foram arrancadas de suas camas durante as madrugadas! – suspirou. – Graças a Deus eu protegi todas as portas e janelas dessa casa, ninguém consegue invadir. – Bella engoliu em seco sem ter coragem de dizer ao pai que alguém tinha invadido duas vezes, que ela sabia, e que além de ter invadido o seu quarto, tinha invadido a sua casa. – Filha… - ele afagou o braço de Isabella. – Não se preocupe, eu já estou em casa e não vou sair até a primavera chegar, não se preocupe, não vai acontecer nada com você. –

- É que… Eu ouvi os gritos e isso… -

- Te assustou. – ele terminou por ela. – Você viu algo? – ela negou apressada.

- Eu não tive coragem de sair da cama. – mentiu.

- Muito bem! Não se sabe ao certo o que aconteceu é melhor não ver mesmo, mas agora não precisa se preocupar. Eu estou em casa! Espero que não tenha sofrido muito com o frio devido a janela fechada e sem poder acender a lareira. –

- Os cobertores me aqueceram bem. E eu prefiro continuar com a janela fechada, principalmente até descobrir o que aconteceu com a Alexis, Cassandra e a Donna. –

- Se é o que prefere. –

- Eu vou precisar fazer um curativo? –

- Talvez amanhã. Os criados do castelo fizeram um curativo antes de eu sair do castelo hoje pela manhã… -

- Então vai descansar, pai. Imagino que deve ter ficado preocupado, pensando em como eu estava! –

Naquela noite, Isabella não conseguiu dormir, apenas fingiu, ela queria estar desperta para saber se alguém iria entrar no seu quarto. Ela tinha pedido para o pai olhar embaixo da cama antes de ir dormir, alegando que tinha visto um rato correr lá para baixo, e o mesmo alegou que não tinha nada ali, nenhum animal, buraco na parede ou até mesmo um buraco na parede.

- Eu não disse que o seu pai estava bem? – mais uma vez ela ouviu a voz, apenas a voz. Ela se sentou na cama, se sentindo mais segura ao saber que seu pai estava em casa e ao saber que qualquer coisa ela poderia gritar que ele iria chegar bem rápido. Ela olhou para a janela, estava fechada, a porta estava fechada.

- Quem é você? – ela se atreveu a perguntar.

- Você sabe quem eu sou! Pode não estar se lembrando, mas você sabe quem eu sou! -

domingo, 20 de outubro de 2024

Capítulo 02 – O Homem de Negro.

 Transilvânia – Romênia.

Inverno de 1562.

Narrador.

Era mais uma manhã gélida na pequena aldeia ao noroeste da Transilvânia. Esse inverno tinha chegado para ser um dos mais rigorosos vistos nos últimos cem anos. A aldeia passava por dificuldade, os grãos não tinham rendido o suficiente depois de quase um ano inteiro com pouquíssimas chuvas, e isso havia deixado o gado bem magro.

Mesmo que o dia já tivesse raiado a bastante tempo, quase entrando no período vespertino, o céu estava completamente escuro devido a uma forte tempestade de neve que caía. Toda a aldeia e floresta estava coberta por uma grossa camada de neve branca, tão branca que chegava a doer os olhos. A água também havia se tornado um produto bem escasso, os rios e lagos próximos estavam completamente congelados e o poço da vila também, e o gelo que os cobria estava tão grosso que era quase difícil quebra-lo para conseguir um pouco de água.

Isabella agora era uma pequena criança, que havia completado a poucos meses os seus sete anos! Vivia sozinha com o seu pai, em uma pequena cabana as margens da floresta. Seu pai era um dos caçadores da pequena vila e ela tinha perdido a sua mãe ainda bebê, durante o parto, ou pelo menos era isso o que seu pai falava.

Devido ao verdadeiro acontecimento que resultou na morte da esposa, Charlie não confiava nos seus vizinhos e jamais deixava a filha sozinha na aldeia enquanto ia caçar na floresta. Em sua concepção, a aldeia com a besta e os animais selvagens era mais seguro do que a aldeia com os seus moradores.

Na noite anterior ele tinha avisado a menina que ela iria precisar ir com ele para a floresta mais uma vez, e mesmo não gostando muito de ir, ela apenas balançou a cabeça assentindo. Isabella, não se sentia muito bem na floresta, mesmo que só tivesse ela e o seu pai ali, ela sentia como se estivesse sendo observada e ela não gostava disso. Ela sentia medo! Principalmente durante o inverno!

Após conferir que a filha estava bem agasalhada, deixando praticamente apenas os seus olhos de fora, eles partiram para a floresta.

Isabella sabia muito bem das regras, ela não deveria se afastar de seu pai, e quando ele rastreasse algo, ela tinha que ficar em silêncio. Charlie sabia que seria difícil encontrar algo durante o inverno e principalmente com a neve forte caindo, mas ele precisava arriscar, em pouquíssimo tempo eles não teriam mais nada para comer em casa. Depois de um longo e frio tempo, Charlie havia conseguido rastrear um cervo e Bella começou a seguir o pai em silêncio, agarrada ao seu casaco para se proteger do vento frio, que passava por eles entre as árvores nuas e cobertas pela neve de aparência fofa.

Enquanto seu pai ficava agachado no chão, em silencio, apenas esperando pelo momento certo para apertar o gatilho, Isabella teve a sua atenção atraída por algo se mexendo em um arbusto branco e seco. Ela se afastou apenas três passos do pai, apenas para ver o motivo do movimento, afastando os galhos e sentindo-os gelados, mesmo usando as luvas. Ao afastar os galhos, ela viu um pequeno coelho branco, com o nariz bem vermelhinho, fazendo com que a doce menina, primeiro se sobressaltasse e depois sorrisse para o animal.

Desde pequena, Isabella adorava coelhos, e por esse motivo o seu pai evitava caça-los. Ela tentou levar uma das mãos até o pequeno animal, que não parava de mexer com o nariz, para tentar lhe afagar entre as orelhas, porém, antes que ela conseguisse encostar no pequeno coelho, ele lhe cheirou a mão e saiu correndo e saltitando para longe, para dentro da floresta. E desobedecendo o seu pai pela primeira vez, ela foi atrás do animal.

A menina ia desviando dos galhos pontudos e ria enquanto perseguia o coelho, e essa era a primeira vez que ela entrava naquela floresta e ria. Ela perseguiu o animal até chegar a uma clareira, grande e toda coberta pela neve. Aquela clareira!

No meio da mesma, ela se deparou com uma figura negra parada a poucos passos dela, cuja figura, ao ouvir a risada e os passos da garotinha se aproximando, se virou, fazendo-a parar de rir imediatamente e olhar em volta desesperada tentando ver se via o seu pai e ao perceber que havia se afastado demais de onde ele estava.

Ela estava perdida!

- Oi garotinha. – o homem de preto disse com a voz gentil para não assusta-la. A sua voz era calma, aveludada e levemente doce. Seu belo rosto tinha um semblante gentil, mas isso não impediu Isabella de engolir em seco de novo. Era a primeira vez que ela estava sozinha com outro homem desconhecido e longe de seu pai. – Qual é o seu nome? – ela não respondeu, continuou estática no lugar, sentindo seu corpo todo tremer, ela só não sabia se tremia de medo ou de frio. – Está perdida? – perguntou e ela continuou sem responder. A atenção dos dois foi atraída por algo se aproximando dos pés do homem, era o coelho que Isabella seguia a poucos minutos. – É seu? – perguntou ele se referindo ao animal que cheirava os seus pés. Ela continuou sem responder. – Comeram a sua língua? – questionou erguendo a sobrancelha e ficando estressado por ela continuar sem responde-lo, e mesmo de longe, ele a viu tremer. – Está com frio? – questionou vendo-a abraçar o seu corpo e apertar o casaco em volta de si.

Dessa vez, Isabella respondeu, não com palavras, apenas balançando a cabeça assentindo.

Devagar, principalmente para não assusta-la, ele se abaixou e pegou o coelho que continuava em seus pés e caminhou a passos lentos até perto de onde a menina estava, na entrada da campina, e se agachou a sua frente, entregando-lhe o coelho. Bella segurou o pequeno animal com cuidado, e tirando a sua capa, ela colocou sobre os ombros da garota.

- O senhor não vai sentir frio? – pela primeira vez, ela falou e ele sorriu ao ouvir a voz doce da garotinha.

- Não! Não se preocupe comigo. Cadê os seus pais? – questionou.

- A mamãe morreu quando eu nasci e… - ela olhou para trás, para a floresta. – Eu me perdi do papai. – respondeu. – Ele estava caçando. –

- Onde você mora? –

- Na aldeia. Do outro lado da floresta. –

- Venha. – ele se pôs de pé. – Eu te ajudo a voltar para casa! – ele estendeu a mão.

- Eu não devo aceitar a ajuda de estranhos! – disse dando um passo para trás e se afastando de sua mão estendida.

- E também não deveria falar com estranhos! – apontou. – E se eu quisesse te machucar, já tinha te machucado! – apontou e levantou a cabeça para o céu. - - E daqui a pouco vai cair uma tempestade muito forte e você não vai conseguir voltar para casa e nem encontrar o seu pai. – ele não voltou a estender a mão, mas ela apenas assentiu, aceitando a sua ajuda, e ele apontou para que ela fosse para a floresta.

- De onde o senhor é? – perguntou segurando o coelho entre os braços e começando a andar ao seu lado de volta para o lado de dentro da floresta. – Eu não me lembro de tê-lo visto na aldeia. –

- Digamos apenas que… que eu não moro na aldeia. – respondeu ele com a voz calma e andando a passos curtos para que a menina o acompanhasse. – Digamos que eu moro do outro lado da floresta, não muito distante daqui. – disse simplesmente, andando com as mãos para trás.

- Tem outra aldeia do outro lado da floresta? – questionou confusa. Ela não conhecia nada além do lugar onde morava.

- Não. Não tem outra aldeia do outro lado da floresta! –

- E o que senhor estava fazendo nesse tempo ruim no meio da campina? –

- Você pergunta muito! – rebateu ele rindo, mas não se importava com as perguntas dela.

- Desculpa. – pediu com a voz baixa e olhando para o chão branco. Seu pai volta e meia comentava que Isabella perguntava, e falava, demais.

- Não precisa se desculpas! Eu vim dar uma… uma volta! – deu de ombros simplesmente. – E a senhorita, por que veio para a floresta com esse tempo caçar com o seu pai? por não ficou em casa ou brincando com os seus amigos? –

- Eu não tenho amigos! Eles têm medo do papai! E são chatos! – reclamou torcendo o nariz, o fazendo rir, mas seu riso morreu com um pensamento que surgiu em sua cabeça.

- Eles já maltrataram você? – ela apenas balançou a cabeça assentindo.

- Depois que o papai descobriu, ele brigou com eles e ficou pior, então quando o papai saí, ele me leva junto! – contou.

- Isabella? – os dois ouviram Charlie gritando o nome da filha ao longe.

- Oh… Seu nome é Isabella?! – ela torceu o nariz de novo. – Qual é o problema? –

- Eu não gosto de Isabella! – reclamou. – Eu gosto quando o papai me chama de Bella! Só Bella. –

- Isabella? – seu pai gritou de novo

- Pois bem, Bella, só Bella. – o homem se agachou ao seu lado mais uma vez, após eles chegarem no ponto de onde Isabella tinha se afastado de seu pai. – Quando eles forem chatos com você de novo, ou te fazerem mal, e precisar de ajuda, é só me chamar! –

- Chamar o senhor? Eu nem sei o seu nome. – ele sorriu para ela.

- Edward! – respondeu.

- Isabella? –

- Olha lá o seu pai! – ele apontou para o vão entre as duas árvores e ela olhou para lá.

- Cadê? – ao se virar de novo para onde Edward estava agachado ao seu lado, ela notou que ele tinha sumido, junto com a capa que ela tinha sobre os ombros.

- Isabella! – a voz de alivio de Charlie ao ver a filha lhe atraiu a atenção. – Onde você estava? –

- Aqui. – mentiu quando ele se abaixou a sua frente. – Eu só peguei o coelhinho. –

- Achei que eu tinha te perdido! – ele beijou o topo de sua cabeça. – Venha, vamos voltar para casa, a neve está começando a cair mais forte! –

- Posso leva-lo comigo, papai? – perguntou se referindo ao coelho e Charlie apenas assentiu.

- Claro que pode! –

Os dois voltaram para casa, e mal Charlie fechou a porta atrás de si e a tempestade de neve se tornou mais forte e muito mais fria. Os dias foram se passando e os Swan mal colocavam os pés fora de casa devido ao inverno rigoroso. Os dois praticamente só saíram de casa de novo quando a primavera chegou e a neve começou a derreter, e com o passar dos dias, Isabella acabou se esquecendo do que tinha acontecido naquela campina, e consequentemente se esqueceu do homem que a tinha ajudado a encontrar o caminho de volta para o seu pai.

sábado, 12 de outubro de 2024

Capítulo 01 – A Lenda.

 Transilvânia – Romênia.

Narrador.

A nossa história, queridos leitores, começa em uma aldeia que ficava as margens de uma floresta considerada amaldiçoada, pois escondido entre as grandes copas das árvores se erguia um sombrio castelo, onde uma terrível criatura bebedora de sangue e sugadora de almas, vivia. Aos pés deste castelo existia uma grande campina, um circulo quase perfeito a céu aberto com a grama curta e macia. Por mais amaldiçoada que a floresta fosse, ela não deixava de ser bem rica e a principal fonte de alimentação da pequena aldeia, que tirava dela uma grande parte de seu sustento. Animais de diversas espécies moravam ali, diversos arbustos frutíferos eram possíveis encontrar por ela…

Porém havia um preço!

Como uma forma de proteção contra a besta bebedora de sangue, os aldeões faziam, desde os seus primórdios, sacrifícios humanos, para que a besta não viesse atrás de toda a aldeia e a massacrasse de uma única vez. Portanto, todo início de inverno, uma virgem era sacrificada a besta, sendo presa a correntes no meio da campina e com um corte profundo em algum lugar pulsante para que o cheiro atraísse o monstro e ele se saciasse com a jovem virgem e deixassem as outras pessoas em paz.

Alias, o que era uma vida em prol de dezenas?

Contudo, nos últimos anos os sacrifícios se tornaram escassos, os pais passaram a casar as suas filhas assim que a primeira menstruação descesse, justamente para que elas não fossem as escolhidas, e isso enfurecia severamente os anciões, que a cada ano se tornava mais difícil realizar tal sacrifício.

E sem ter por onde recorrer, eles passaram a escolher quaisquer tipos de mulheres jovens e bonitas, mesmo se elas fossem casadas. A besta precisava ser saciada para que a vila sobrevivesse!

E é nesse ponto que a nossa história começa.

Naquele ano o inverno anterior tinha sido rigoroso, algumas pessoas que ousaram se aventurar pela floresta haviam desaparecido e foram encontradas mortas no verão, como a neve e o frio haviam preservado os seus corpos, era possível imaginar a causa da morte. Falta de sangue! Dois pequenos furos no pescoço!

E para evitar que mais pessoas fossem mortas no inverno de 1555, os anciões escolheram uma mulher, jovem, recém casada e que tinha acabado de ter uma filha, para ser o sacrifício perfeito para a besta. Por ela ter acabado de dar a luz, os anciões pensaram que a inocência e o sangue virginal do bebê, uma menina, ainda percorresse o sangue da jovem mãe e isso saciasse mais ainda a fera.

E debaixo do choro de fome e desespero do bebê recém nascido e dos gritos de protestos do marido, que era segurado por homens fortes. A jovem Renée Swan foi arrancada do seio de seu lar e arrastada, quase que pelos cabelos para dentro da floresta. Quanto mais ela se debatia, tentando se livrar, mais ela se feria, ou entre os galhos nus dos arbustos, ou com os homens que a levaram até a campina.

Sete anos depois, Charlie cuidava da filha sozinha, ele só não tinha deixado a aldeia por não ter outro lugar para ir. Ele havia nascido e crescido naquele ambiente e simplesmente não podia sair sem rumo com uma filha pequena. Mas ele se tornou recluso, não interagia mais com os vizinhos, e já havia agredido dois ou três homens que o lembraram do que fizeram com a sua esposa há sete anos. Ele havia reforçado todas as portas e janelas da casa, para que quem tivesse do lado de fora, não conseguisse entrar.

Ele não se preocupava com a besta! Ele se preocupava com os aldeões. E havia prometido que jamais iria deixar que fizessem com a sua filha, o que fizeram com a sua esposa!

Capítulo 37

Adhara – Continente de Andrômeda –126 Depois da Conquista.

Pov. Edward.

 Dois anos tinham se passado desde que tínhamos voltado de Walano, que Jane tinha falecido e Alec fingido um assassinato. Alguns meses depois da morte do mesmo, Emmett se recuperou e foi para Dragonstone e poucas semanas depois, um anuncio chegou do casamento de Rosalie e Emmett, algo que ninguém tinha gostado, além de ser acusada de ter tido filhos bastardos, Rosalie agora era acusada de ter ordenado a morte do marido, e no fundo eles não estavam errados!

Nós tínhamos ficado nem um mês direito em Dragonstone, até eu ter recebido a mensagem de Charlie dizendo que tinha conseguido uma casa em Rosby, perto da praia e a casa já estava pronta para mudança e logo fomos para lá. Era um lugar agradável, chegava a lembrar bem fracamente Walano. Uma praia perto da praia e tendo nos fundos um campo de macieiras.

Alguns meses depois de termos nos estabelecido em Rosby, nós fomos surpreendidos com a visita de Charlie, na verdade, a visita de Charlie não havia sido nenhuma surpresa, ele volta e meia aparecia aqui para ver os netos e a filha, a surpresa tinha sido a vinda de Carlisle junto, e seguindo o pedido de minha esposa, eu sentei, apenas eu e Carlisle, e nós conversamos e mais uma vez ele me convidou a voltar para Adhara, e eu disse apenas que pensaria, sem dar nenhuma garantia, as crianças estavam começando a se adaptar a Rosby para eu leva-las para Adhara.

Nós já tínhamos mandado corvos a Anna, ela continuava querendo vir morar conosco, mas Gianna não permitia. Primeiro, porque ela achava que eu e Isabella estávamos envolvidos na morte de Alec, isso se ela não pensasse que estávamos envolvidos na morte de Jane também, e em segundo lugar, porque Jacob tinha partido para Stepstones e ela não queria ficar sozinha em Driftmark.

Um ano depois de termos chegado, nós voltamos a Adhara, principalmente após Carlisle concordar com as minhas condições.

1º - Eu queria Jéssica longe dos meus filhos e de Isabella.

2º - Eu queria Henry e Jasper longe dos meus filhos e de Isabella, eu não tinha nada contra Alice, e para uma grande surpresa, ela e Arthur tinham se dado bem e passavam muito tempo juntos na biblioteca.

3º - Riley não treinaria os meus filhos! Eles seriam treinados por mim! E isso foi escolhido depois que o vi ensinando a Henry e Jasper a trapacearem.

4º e último – Se Jéssica, Henry ou Jasper fizessem algo com os meninos, eu faria pior com quem tivesse feito e não me importaria se era a rainha ou os príncipes.

Carlisle havia aceitado sem pensar duas vezes, e incluiu a ordem que nenhum dos três deveriam ir para a torre onde ficava o meu quarto e consequentemente os quartos das crianças. E ele me devolveu o comando dos mantos dourados.

Faltando algumas luas para completarmos um ano de volta em Adhara, Bella anunciou a mim que estava gravida, mais uma vez e faltava pouco tempo para nascer. Mas essa gestação estava diferente das outras, a própria Isabella sentia e falava isso, ela não sabia explicar, só dizia ser diferente.

- Alteza. – um guarda me parou quando eu voltei para dentro do castelo.

- O que é? –

- Essa senhorita está procurando o senhor. – disse dando um passo para o lado.

- Anna? – questionei confuso. – O que faz aqui? – a jovem, de agora, doze anos, se aproximou de mim, com o seu dragão pequeno deitado sobre os seus ombros.

- Eu… Eu vim morar com vocês. – respondeu sem jeito.

- Pode ir. – falei ao guarda, que apenas assentiu e se afastou. – Gianna sabe que você está aqui? – ela apenas assentiu. – E ela deixou você vir? –

- Ela deixou, porque segundo ela, eu estava a deixando louca querendo vir! – ela sorriu. – Então, ela deixou vir passar um tempo com vocês! Se eu puder ficar! –

- Vem, eu vou te levar até a Bella, porque eu tenho que voltar a cidade. –

- Como ela está? – perguntou subindo as escadas ao meu lado.

- Sabe que ela está grávida, não sabe? – ela assentiu. – Ela está bem, falta poucas luas para o bebê nascer. – expliquei. – Alias, quero te pedir um favor. Como os meninos ficam a maior parte do tempo ou treinando ou estudando, eu queria que você ficasse com a Bella, para o caso de algo acontecer, você me avisar! – ela balançou a cabeça assentindo mais uma vez.

- Mas eu queria pedir uma coisa. –

- Peça. – ela parou de andar e começou a apertar os dedos um contra os olhos, como se não soubesse exatamente como falar.

- Eu… Eu queria aprender a lutar! –

- Enlouqueceu? –

- Todo mundo falou que eu tenho um bom soco de direita pelo soco que eu dei no Jasper. – disse baixo para que os guardas que passaram por nós não ouvissem. – Eu só quero saber me defender! Eu não quero saber usar uma espada, seria útil, mas eu só quero saber me defender! –

- Aconteceu algo em Driftmark? –

- Não exatamente! Na verdade… o lorde Ephraim está enlouquecendo a minha avó, desde que meu avô partiu para Stepstones. –

- Por que? – ela não respondeu devido aos passos que nós ouvimos, e Jéssica descia as escadas com a filha e com Riley a seguindo, e tanto Jéssica quanto Alice tinham um véu um mãos.

- Lady Anna? O que faz aqui? –

- Venha, eu vou te levar até Isabella. – disse simplesmente e sem deixa-la responder. – Na minha frente. – pedi e ela subiu as escadas e eu fui subindo logo atrás. Agora com Anna aqui eu teria que reforçar as condições com meu irmão, agora Anna teria que entrar na lista de quem eu queria que Jéssica ou os filhos longe.

- Eu já falei que não! – ouvi a voz da Bella ao abrir a porta do quarto.

- Mas mãe, eu já tenho quatorze anos! – Arthur reclamou.

- E dai? Só por que tem quatorze anos acha que já pode fazer o que quiser? –

- O que está havendo? – eu me fiz presente. – Arthur, eu pedi para você e os seus irmãos não estressarem a mãe de vocês! –

- Eu só vim pedir uma coisa e ela disse que não! – se defendeu.

- O que você quer? –

- Eu quero montar em Tyraxes! – disse. – O guardião disse que ele já me aguenta, que já me aguenta a bastante tempo! –

- Depois vemos isso! – pedi simplesmente. – Temos visitas, mais ou menos. –

- Quem? – eu dei um passo para o lado e Anna entrou no quarto. – Anna? O que faz aqui? –

- Eu estava… eu estava perturbando a minha avó querendo vir para cá e ela me deixou vir e passar um tempo, se vocês deixarem! Posso? –

- Claro que pode. – ela caminhou para perto da Bella e abraçou.

- Eu vou avisar ao seu pai para separar um quarto para ela. – avisei a Bella. - Enquanto isso, você fica aqui. – disse a Anna. – Vou colocar você para ter as aulas junto com os meninos. – eu me aproximei de Bella. – Você está bem? – perguntei apoiando a mão em sua barriga e ela assentiu. – Eu vim apenas ver como estava e já vou voltar para a patrulha. – eu afaguei a sua barriga e senti um chute contra a minha mão. – Daqui a pouco eu volto, qualquer coisa manda me chamar. – eu aproximei a minha cabeça da dela. – Manda um corvo para Gianna e confirma essa história! –

- Imaginei! – respondeu simplesmente.

- E pergunte também se ela permite que eu… treine a neta dela. – Isabella piscou os olhos sem entender. – Ela pediu para que eu a ensine a se defender, mas eu só vou fazer isso se Gianna permitir. – ela assentiu e eu lhe dei um beijo nos lábios e me voltei para Arthur. – Você vem comigo, depois eu converso com a sua mãe sobre Tyraxes. – eu parei ao lado de Anna. – A noite você me explica essa história do Ephraim e qualquer coisa, peça ao guarda ou a valete na porta para me avisar ou avisar o lorde Hightower. –

- Sim senhor! – eu saí do quarto e Arthur veio atrás de mim.

- Eu não vim perturbar ou estressar a mamãe. – ele começou a defender quando eu fechei a porta. – Eu só vim pedir para montar em Tyraxes! O senhor montou mais novo do que eu e a tia Rose mais nova ainda que o senhor. –

- O problema, Arthur, é que o fato de você querer montar em Tyraxes, significa que Harry também vai querer montar em Vermax, e Liam vai querer a mesma coisa. E o Liam ainda é novo demais para isso! Eu já estava começando a implantar a ideia na cabeça dela de deixar pelo menos você e Harry montar, se vocês ficarem insistindo, ela não vai deixar. – avisei. – E de qualquer forma, vai ter que esperar, as selas que eu encomendei para Tyraxes e Vermax ainda não chegaram. Quando elas chegarem e forem postas nos dragões, eu mesmo vou levar vocês para montarem! – contei descendo as escadas com ele ao meu lado. – Sua mãe pode negar, mas ela tem um certo trauma. Pelo que soube, Tessarion se jogou de um penhasco com ela na primeira vez que ela voou. –

- Pelos deuses! É um bom motivo. – admitiu rindo quando passamos por Charlie que saía de um dos corredores do castelo.

- Hightower. – o chamei e ele levantou a cabeça.

- Oi garoto. – ele se aproximou e bagunçou os cabelos soltos e curtos, que Arthur tinha cortado a pouco tempo, do neto.

- Oi vô. –

- Algo com a Isabella? – questionou me encarando.

- Não. Pode pedir para arrumarem um quarto para mim e mais dois guardas e um valete? –

- O que houve? –

- Anna! Chegou agora a pouco para passar um tempo aqui comigo e com a Bella. –

- Gianna sabe? –

- Ela disse que sabe, mas Isabella vai enviar um corvo a ela confirmando a história. Sendo filha da Jane, eu não duvido nada que tenha fugido sem falar nada! – ele assentiu concordando. – Tem alguma noticia de Driftmark ou Stepstones? – negou. – Anna disse que Ephraim está enlouquecendo Gianna com algo sobre Stepstones. –

- Não chegou nada para o rei. Todos corvos que chegam para ele, passam por mim primeiro. Na verdade, a única coisa que chegou até o momento foi um corvo vindo pedido provisões e homens, os quais todos já foram enviados, fora isso não temos nenhuma noticias do lorde Black. Quer que um mande um corvo? – neguei.

- A noite eu vou conversar com a Anna e dependendo do que ela falar, eu lhe aviso. –

- Certo. Veio apenas ela ou a irmã veio junto? –

- Só ela! Vou avisar ao rei, suponho eu que ela entre na lista de pessoas que a rainha e os filhos devem ficar longe! –

- É óbvio! –

- Certo! Ah… Já ia me esquecendo. – ele tirou um pergaminho do bolso da jaqueta. – Mike mandou um corvo para mim, mas entregue a irmã, tem noticias para ela e ele quer noticias dela! – eu apontei com a cabeça para Arthur. – Entregue a sua mãe, por favor. –

- Sim senhor. –

- Preciso ir. Depois nos vemos, garoto. – ele bagunçou de novo o cabelo dos netos e seguiu pelo corredor.

- Eu não entendo. Todo mundo fala que o senhor e o vovô não se davam bem! –

- E não nos dávamos! Nem um pouco! Nós praticamente só começamos a nos dar bem, poucas luas antes de você nascer! É uma trégua que já vem perdurando há quatorze anos em prol de você e seus irmãos e principalmente em prol da sua mãe! –

- Só por que a mamãe fugiu com o senhor? –

- Quem te contou isso? –

- As pessoas falam demais aqui em Adhara e a mamãe confirmou, rindo, alias! –

- Um dos motivos para ele não gostar de mim! Vai lá, você tem aula daqui a pouco. Se a Anna estiver disposta, leve-a com vocês para a aula de cariano e não incomode a sua mãe sobre esse assunto de voar de novo e peça para Harry também não a incomodar com isso! –

- Sim senhor! –

- Cadê os seus irmãos? –

- Estavam no quarto! –

- Vai. Eu tenho que voltar para a patrulha. Qualquer coisa mande me chamar! – ele assentiu e voltou a subir as escadas e eu saí da fortaleza.

Eu só voltei ao pisar no castelo depois que o sol começou a se por, e fui direto para o meu quarto. Eu precisava de um banho urgente! Ao adentrar o mesmo, o quarto estava vazio, Bella não estava ali e enquanto eu me livrava da minha armadura, as criadas iam enchendo a tina.

- Oi. – Bella disse entrando no quarto, enquanto eu terminava de me vestir após um banho.

- Onde estava? – perguntei quando ela se aproximou para me dar um beijo.

- Com a Anna, estava conversando com ela e ajudando-a a ajeitar o quarto. –

- E você está bem? – questionei levando as mãos para a sua barriga.

- Está pesada demais, não está normal! – eu abaixei a coluna e lhe dei um beijo no ventre.

- Então descansa! Sossegue um pouco e descansa. Se quiser eu deixo a patrulha com os outros e passo mais um tempo com você. – negou.

- Não precisa! Ainda falta uns bons meses para o bebê nascer, pelas contas, porque pelo tamanho da barriga… - suspirou. – Mandei um corvo a Gianna com as duas perguntas que você pediu para eu fazer… falta apenas saber se vai me responder. E… - ela coçou a testa. – Agora a pouco chegou um corvo da Rosalie. Está grávida de novo! –

- Arthur te enviou o corvo do seu irmão? – perguntei e ela assentiu.

- Sim. Ele quer marcar para vir aqui conhecer os meninos e para que conheçamos os filhos dele e da Ângela. – respondeu se sentando na cama e respirando aliviada ao não precisar mais sustentar o peso da barriga de pé.

- Você está bem mesmo? – perguntei quando ela encostou as costas nos travesseiros apoiados na cabeceira da cama e colocando os pés em cima da cama.

- Estou, Edward, pelo amor dos deuses, eu estou bem! –

- Precisamos conversar! O Arthur já tem quatorze anos. – me sentei ao lado de seu corpo. – Já conversamos, sabe que eu montei em Caraxes aos onze… A própria Rosalie montou em Syrax aos sete… E eu te avisei que iria pedir as selas dos três! –

- Continuo não gostando dessa história… estou parecendo o meu, eu sei disso! – apontou com as mãos apoiadas na barriga. – Só que os quatro são inexperientes. Tanto os meninos quanto os dois dragões, o fato de o primeiro voo com montador do Vermax e do Tyraxes serem justamente com os meninos, me deixa nervosa. –

- Você foi a primeira a montar em Tessarion! – lembrei-a.

- E meu coração quase parou de bater quando ela se jogou naquele penhasco. Eu sei do que eu estou falando! – eu balancei a cabeça rindo. – Quem vai ensina-los a montar? –

- Eu! –

- Eu não os quero montando sozinhos e sem supervisão! –

- Certo. Eu aviso a eles! – eu debrucei o meu corpo contra o dela e lhe beijei a sua barriga ao mesmo tempo em que uma batida soou na porta. – Entra. –

- Com licença. – Anna entrou no quarto e eu me ajeitei na cama. – Quer que eu explique a questão do lorde Ephraim agora ou depois? –

- Pega uma cadeira e senta aí. – ela puxou a cadeira de perto da pequena mesa de jantar próxima a janela e a colocou perto de nós. – O que o Ephraim está fazendo? –

- Bom, desde que o vovô foi para Stepstones, a vovó está tomando conta de Driftmark. – eu apenas assenti, era o mais normal a se fazer. – Ele ficou um pouco mais de um ano sem mandar notícias e os corvos que a vovó mandava, não eram respondidas. Então ele começou a insistir que a minha avó deveria declara-lo logo como o novo senhor de Driftmark. –

- Se ela fizer isso ela declara Lucien como bastardo. – Bella apontou.

- O que a princesa Gianna diz sobre isso? –

- Diz que o marido ainda está vivo e que então não tiver nenhuma confirmação de que o lorde Black não está mais vivo, ela não irá escolher nenhum sucessor ao trono de madeira. E que, de qualquer forma, meu avô já tinha escolhido o Lucien como sucessor depois que o tio Alec faleceu, e que antes do lorde Ephraim tem eu e a Emma, e que ela não pensaria duas vezes antes de dar o trono de madeira para mim ou para a minha irmã. –

- Tem alguma notícia de Jacob? –

- Chegou um corvo um pouco antes de eu vir para cá, ele está bem, está tudo bem na medida do possível, palavras dele e pediu mais mantimentos, apenas isso! A vovó ficou de contar ao marido o que o irmão dele quer, mas eu vim antes de chegar algum outro corvo. Mas a vovó já garantiu que enquanto meu avô estiver vivo, ela vai cuidar de Driftmark e que caso ele parta, ela vai seguir à vontade dele. –

- E não duvido nada de que Ephraim não gostou nem um pouco disso. – ela apenas negou. – Sabe se ele conversa ou manda corvos para alguém daqui da capital? – negou de novo.

- Todos os corvos que chegavam para ele ou que ele mandava, eram das mãos dele para as mãos do meistre e das mãos do meistre para as mãos dele. Ele não deixava ninguém ver as mensagens que recebia ou escrevia, nem mesmo o meistre lia! –

- Acha que ele está se comunicando com os Strong? – Bella questionou.

- Ele está insistindo e muito em pegar o trono de madeira sabendo no que isso resultaria. Então sim, eu tenho quase cem por cento de certeza de que ele está se comunicando com o Strong. – suspirei e me voltei para Anna. – Ela mandou um corvo para a sua avó. – avisei apontando para a Bella. – Se você mentiu e Gianna não sabe que você está aqui, eu mesmo te levo de volta. –

- Ela sabe! –

- Você é filha da sua mãe. Eu sei muito bem como Jane era! – Bella acabou rindo do meu comentário. – E pedi a permissão dela para te ensinar o que você pediu, de te ensinar a se defender. – ela assentiu. – Contudo, com você ficando aqui, já te aviso, quando a Moondancer crescer mais um pouco, ela vai ter que ir para o fosso e isso vai atrasar e muito o crescimento dela. –

- Mas a Vaghar ficava solta. A Meleys fica solta. –

- Eu sei! Mas aqui não pode, a única que fica solta é Vaghar, porque ela não cabe no fosso, mas ela fica longe da cidade, bem longe da cidade. E em Driftmark não tem um fosso. Caraxes, Tessarion e os dragões dos meninos estão todos no fosso. – ela suspirou. – E para evitar que matem pessoas sem querer quando estão com fome. – avisei, mas ela apenas assentiu. – Vai lá jantar com os meninos, nós não vamos sair do quarto, eu quero que ela descanse! -  ouvi Bella bufando.

- Tá bom. – ela se levantou e colocou a cadeira no lugar.

- Qualquer coisa chama. – Bella disse simplesmente e ela assentiu.

- Boa noite. –

- Boa noite. – ela foi embora.

Três dias depois que Anna chegou em Adhara um corvo de resposta de Gianna chegou. Ela sabia e tinha permitido que a neta viesse, que ofereceu para que Emma viesse junto, mas ela queria ficar em Driftmark com a avó e tinha permitido que eu ensinasse a neta a se defender, desde que eu pegasse leve com ela.

Anna estava se dando bem em Adhara, frequentava as aulas com os meninos e se divertia quando ia para os treinamentos, e isso me divertia também, eu nunca sequer tinha treinado uma garota e tampouco lutado contra uma, era algo diferente e eu precisava me cuidar e tomar cuidado para pegar bem leve com ela, mas acabava sendo divertido.

Pouco tempo depois que ela chegou, Jéssica começou a reclamar que Moondancer já era grande o suficiente para ir para o fosso e Carlisle ordenou que ela fosse levada. Quase duas luas depois da chegada de Anna as selas que eu tinha encomendado para os dragões dos meninos chegaram e os guardiões as colocaram nos animais.

Hoje o dia estava bom e tranquilo. O céu estava limpo e com uma brisa fraca e fresca, um bom dia para ensinar os meninos a montarem em seus respectivos dragões. Eu tinha conseguido convencer a Bella a deixar Arthur e Harry, Liam, que tinha sete anos, chiou, mas com apenas um olhar da mãe, ele se aquietou. Bella ficou em Adhara com Liam e com Anna, Charlie ficaria de olho nela, enquanto eu estivesse fora. Prometi, tanto a Liam quanto a Anna, que eu separar um dia para leva-los até uma campina para que soltassem o Arrax e a Moondancer, mas hoje eu iria me preocupar apenas com duas crianças e com dois dragões.

Na noite anterior os guardiões tinham alimentado Tyraxes, Arrax e Caraxes, o que significava que eles, principalmente os dois mais novos estavam satisfeitos e não iriam tentar ir atrás de nenhum gado para comer enquanto estivessem com os meninos sobre o seu dorso.

- Aquietem-se. – mandei na campina com os dragões pousados na grama perto de nós. – Normalmente, principalmente quando é o primeiro montador do dragão, e quando a ligação entre montaria e montador é uma ligação desde a infância, tanto a montador quanto a do dragão, eles costumam sentir o que montador sentem. Então, se vocês ficarem agitados, eles vão ficar agitados e acidentes poderão acontecer, e eu prometi a mãe de vocês que eu iria leva-los vivos e inteiros de volta a fortaleza. – avisei e eles sossegaram. - Vocês sabem montar em um cavalo, sabem controlar um cavalo e usar as rédeas. – eles assentiram. – É a mesma coisa, com exceção de que são maiores, mais pesados, mais temperamentais e principalmente porque estão voando. Vocês vão sobrevoar a baía da água negra, e vão voar baixo. Ouviram? – eles assentiram. – Montem. – mandei. – Um de cada vez. Vai lá Harry, Arrax é menor que o Tyraxes, se apoie na sela e monta como se estivesse montando em um cavalo, e tomem cuidado com os espinhos e cristas. –

Harry se aproximou de seu dragão, que estava deitado debaixo da sombra de uma árvore. Arrax era grande em comparação a maioria dos dragões que viviam no fosso, passou a vida inteira solto e foi preso há menos de um ano, ele era um pouco maior do que um cavalo, era do mesmo tamanho que Vermax, dragão de Liam, já que os dois nasceram com duas semanas de diferença. Harry chegou perto de seu dragão que levantou a cabeça e mostrou os dentes.

- Acalme-o Harry. – mandei.

- Calma, Arrax. – o dragão mostrou mais ainda os dentes.

- Seja firme com ele, Harry. –

- Calma, Arrax. Calma. – mandou. – Calma Arrax. – o dragão voltou a deitar a cabeça no chão, se acalmando.

- Segure firme na sela e monta. –

E igual se fazia com um cavalo, ele se segurou no ponto de apoio de ferro da sela e fazendo impulso para cima ele subiu na sela se sentando, Arrax continuava quieto e deitado no chão.

- Está vendo o tira de couro com corrente presa na parte de trás da sela? –

- Estou? –

- Passe-a pela sua cintura e prenda-a na parte de trás do lado direito da sela. –

- Prendi. –

- Agora faça o mesmo com a sela presa a sua frente, passe por trás do seu corpo e prenda na frente. –

- Pronto. –

- Esses são os cintos da sela, nunca voe se esses cintos não estiverem presos. São eles quem vão te impedir de cair. – avisei. – Já está com as luvas? – ele assentiu. – Segure as rédeas. Um dragão é um pouco mais brusco do que um cavalo, o que significa que sempre que ele se levantar ou pousar, isso vai te sacudir, e dependendo da sacolejada, o cinto pode soltar e você pode cair, portanto, segure firme na rédea, não é forte, é firme, por isso as luvas de couro grossa, para não machucar as mãos e para não suar. Está segurando firme? –

- Estou. –

- Mande-o levantar. –

- Arrax, levanta! – mandou e o dragão se levantou, e como eu já tinha anunciando, de forma brusca, e como eu suspeitava, Harry não se segurava direito e se ele não estivesse preso, ele teria caído de tanto que ele tinha balançado de forma brusca.

- Eu disse para se segurar com firmeza. – lembrei e vi que Harry respirava pela boca, ele estava assustado e nervoso. – Quer descer? – ele apenas balançou a cabeça negando. – Quer descer? –

- Não, senhor. – respondeu.

- Mande-o andar e quando você se sentir firme e confiante, mande-o voar. –

Demorou alguns segundos até que ele respirou fundo de novo e mandou o dragão andar. Arrax, usando as pernas traseiras e as asas, andou para longe da árvore, como estávamos em uma campina plana, para não correr o risco de nenhum dos dois fazerem o mesmo que Tessarion havia feito, Arrax caminhou para uma parte mais aberta, a cada passo que o dragão dava, Harry apertava mais ainda as rédeas contra as palmas de suas mãos. Ele provavelmente tinha mandado o dragão voar, eu não tinha ouvido, mas Arrax se apoiou nas patas traseiras, abrindo as asas cor de laranja claro, em comparação com o restante do corpo que era todo na cor de verde oliva. Batendo as asas, devagar ele foi saindo do chão, com as suas patas se desencostando da grama. Ele era um pouco instável para voar, era a primeira vez que estava voando com um peso extra, no caso Harry, e teve um pouco de dificuldade em subir e começar a planar, mas logo ele estava estável no céu azul e limpo.

Com Harry e Vermax estabilizados no céu, eu apontei para Tyraxes para Arthur. Por seu dragão ser maior do que o do irmão, por ter nascido quase sete anos antes de Vermax, não tinha como ele subir igual montava em um cavalo, ele era maior do que um cavalo, bem maior do que um. Ensinei-o a subir, segurando pela corrente e de sua cela e praticamente escalar a lateral do dragão, já que ao tentar subir pela asa do mesmo, Tyraxes chiou como se não quisesse que ninguém pisasse em suas asas.

Tyraxes foi mais brusco do que Vermax ao se levantar, Arthur chegou a balançar, porém, bem menos do que irmão, e do mesmo jeito que o primeiro dragão teve dificuldade de alçar voo, esse aqui também teve, mas logo estava voando ao lado do irmão.

Eu tinha entendido o principal motivo para Isabella estar preocupada com os meninos montando, do jeito vacilantes que seus dragões voavam, dando umas vaciladas volta e meia, fazia o meu estômago revirar preocupado, quando você via da posição de cima do dragão, era diferente, você não via o dragão errar a batida da asa ou cambalear para algum lado, você apenas sentia a sensação de voar e do vento contra o seu rosto e isso era… incrível. Mas quando você via do solo…

Demorou uns bons minutos até que eles voassem de forma mais estabilizada e isso com isso o meu estômago parou de revirar, e eu sabia que só voltaria a revirar de novo na hora de pousar. Eles estavam estáveis e praticamente voavam em círculos e não tinham subido muito no céu azul. Eu assobiei para Caraxes que levantou do chão e eu me aproximei dele, subindo e ao prender o meu cinto, ele prontamente alçou voo completamente.

Com os dragões no fosso, no final do dia, nós voltamos para a fortaleza. Os dois não se calavam e eu não entendia mais da metade das coisas que eles diziam, na realidade, a única coisa que eu entendia era o fato de eles estarem famintos e não eram os únicos, eu também ficava faminto depois de voar, ainda mais por horas, em Caraxes.

- Alteza? – um criado se aproximou após eu tê-lo chamado.

- Minha esposa? – questionei.

- No bosque sagrado com o lorde Mão. – respondeu e os garotos praticamente saíram correndo na direção do bosque. – Deseja mais algo? –

- Leve água para o quarto dos meninos e para meu e quando o jantar estiver pronto também. –

- Na verdade, alteza, o lorde Hightower tinha pedido para que eu arrumasse a sala de jantar dele para essa noite e tinha pedido para por lugar na mesa para o senhor, a filha, e as crianças. –

- Ele não vai jantar com o meu irmão? –

- Eu apenas sei disso, alteza. –

- Tudo bem. Pode ir. – o dispensei e segui o caminho para o bosque sagrado encontrando Isabella com os pés apoiados na cadeira a sua frente e os dois garotos não paravam de falar. – Fiquem quietos os dois! – mandei. – Falem um por vez! –

- Foi tão legal! – Arthur a boca para falar, mas a voz que tinha saído era a de Harry, que falava animado.

- Se divertiram? – ela perguntou.

- Muito. – responderam juntos.

- Ótimo, mas espero que saiba que eu não quero vocês dois voando sem o seu pai! –

- Sim senhora. –

- Vão tomar um banho, estão fedendo a dragão. –

- Eu estou com fome. – Harry disse.

- O tempo de se limparem é o tempo necessário para o jantar ficar pronto. Então vão logo que vamos jantar com o avô de vocês essa noite. –

- Sim senhora. – eles voltaram para dentro do castelo e eu me aproximei.

- E você também! – avisou quando eu tentei lhe dar um beijo e ela se afastou.

- Você nunca reclamou do cheiro do Caraxes. – apontei.

- Seu filho nunca reclamou do cheiro. – corrigiu apontando para a sua barriga.

Eu beijei a sua cabeça e me afastei. Ao chegar em meu quarto a tina já estava cheia com a água quente que eu tinha pedido. Eu tomei um banho e ao terminar de me arrumar, Bella entrou no quarto, com as mãos na cintura, para segurar a barriga. Depois que as crianças estavam prontas, seguimos a torre da Mão do Rei.

Mais uns dias se passaram e tudo estava ocorrendo de forma tranquila. Eu tinha ido para mais uma reunião do conselho do meu irmão, e eu ainda não tinha me acostumado com o fato de Jéssica estar fazendo parte do conselho e tampouco de ela estar tendo voz ativa ali dentro.

- O próximo assunto a ser discutido… - Charlie foi interrompido pela porta sendo aberta sem alguém ter batido.

- Pai! Pai! – Arthur entrou na sala do pequeno conselho desesperado e ofegante. – A mamãe está sangrando! -