POV NARRADOR
BELGRAVIA 07:45 AM
"Só mais alguns minutos" pensou Bella. Só mais alguns minutos e ela poderia deixar cair por terra a imagem de esposa burra e inútil. Só mais alguns minutos e ela poder chafurdar na auto depreciação e comiseração." Só mais alguns malditos minutos".
- Espero que você tenha um ótimo dia no trabalho, eu te amo – e ela ainda amava, só não sabia se era o suficiente para conseguir aguentar aquela situação por muito tempo.
- Eu também- ele respondeu no automático aquilo o que ela gostaria de ouvir, mas ela já não tinha certeza se amava mesmo.
Sim, só mais alguns minutos e o marido sairia pela porta da frente da casa colonial branca com um cercado de madeira, que lineava a grama verde e recem cortada, que exibia um pé de primavera tão bem cuidado quanto o sorriso falso que a mulher exibia. Mais alguns minutos e ele estaria nos braços dela. Os braços da mulher que estava tirando tudo aquilo o que ela construiu com tanta luta. Tanya Denali. A amante do seu marido.
Marido que era seu a pouco mais de 2 anos. Sim, eles ainda estavam na fase de lua de mel, não era isso o que todo mundo dizia? Que os primeiros 3 anos eram só flores? Bem, pra variar um pouco a sorte não estava do seu lado. Ou então no caso as flores seriam rosas, eram lindas para somente se observar, mas cheias de espinhos que machucavam qualquer um que chegasse um pouco mais perto.
Eu não venho para o jantar, um cliente que veio direto de Nova York quer fazer uma revisão no contrato e pediu que eu encontrasse com ele para um jantar - disse o homem com toda a sua imponência entrando no seu carro modelo do ano e abaixando o vidro para falar com sua esposa.
Sim, uma meia verdade, pensou ele. Se ela fosse ligar atrás dele na empresa ninguém mentiria, porque ele realmente iria se encontrar com o tal cliente de Nova York, a questão era que seria somente por no máximo duas horas. Dali em diante ele iria para a casa da mulher por quem estava perdidamente apaixonado. A mulher que o fez repensar muitas coisas, inclusive sobre o fracasso de seu casamento.
Balançando a cabeça ligeiramente olhou para sua mulher em pé em frente ao seu carro. Sim, não podia negar que Isabella era linda, com seus um pouco mais de 1,60 com olhos azuis, e o cabelo que era naturalmente castanho estava loiro, por um pedido dele, preso em um coque perfeito sem um único fio fora do lugar. Bella tinha um corpo na medida certa, que ficava incrível no vestido floral que ela estava naquela manhã ensolarada.
- Dirija com cuidado okay? - ela disse com aquele sorriso falso no rosto, sorriso esse que ela sempre treinava em frente ao espelho. Sorriso que estava a um passo de desaparecer e dar vasão as lagrimas que queriam sair a qualquer custo.
"Merda, eu não vou conseguir"
O Marido balançou a cabeça e deu ré no carro saindo da garagem, acenou com a mão e foi embora.
E antes que ela tivesse tempo, levou a mão a boca para abafar os soluços que vieram com força, as lagrimas vinham sem piedade borrando a maquiagem impecável que ela fazia todos os dias de manhã, para mostrar para o marido o quanto ela podia ser linda ainda, o quanto ela poderia talvez ainda o merecer.
Logo vieram os soluços e os espasmos que convulsionavam todo o seu corpo, como se ela estivesse sofrendo uma forte descarga elétrica, e de certa forma parecia que estava, seu coração parecia falhar no peito, ela sentia dor em cada parte do seu corpo minúsculo e frágil.
Tentando sair sem que os vizinhos curiosos tivessem motivos para fazer de sua vida uma pauta para a próxima reunião entre as damas no chá da tarde. A passos trôpegos ela foi para dentro de casa, quase caindo por conta do salto alto.
"Malditas inglesas fofoqueiras"
Ela se sentia tão sozinha ali, tão vulnerável, não deveria ter ido para tão longe da sua familia por causa de um casamento, ainda mais um casamento que estava com data pra acabar, ela sentia.
Mal ela tinha fechado a porta de casa, ela terminou de desabar, os soluços vinham altos e fortes, as mãos em punho proximo ao corpo como se tentando se controlar para não vir mais um ataque, e então ela gritou, gritou tão alto e forte, que provavelmente as vizinhas fofoqueiras escutaram, ela queria colocar para fora aquela dor maldita, aquele aperto no peito que insistia em lembrar que ela era um fracasso como mulher, ela não conseguiu fazer seu casamento durar, não tinham divórcios na sua família, e ela sabia que seria a primeira, não que fosse ela a pedir, isso nunca. Mas cada vez menos seu marido a tocava, não se lembrava a ultima vez que recebeu um simples abraço, sim ele ainda cumpria com a função de homem e a levava para cama, mas eram raros os momentos, como a 1 mês, depois de 2 meses, 2 longos e tortuosos meses ele a tocou de novo com alguma intenção sexual, só que era tudo tão mecânico, tão frio, sem amor por parte dele, até quando ela viveria de sobras?
- O que eu fiz da minha vida? - ela perguntou em voz alta depois de alguns minutos que o choro cedeu um pouco.
Ainda chorando com menos intensidade, porem com a mesma dor, ela se levantou, tirou os saltos, e jogou próximo ao Hall de entrada, a passos lentos seguiu ate a sala, a primeira coisa que viu foi um porta retrato de cristal que sua cunhada tinha dado como um presente de casamento, ali ostentava uma foto aonde ela não reconhecia o casal apaixonado, eles se abraçavam e tinham sorrisos e um olhar apaixonado que só de olhar ela sentia como se agulhas descessem pela sua garganta rasgando tudo por dentro. Com as mãos tremendo ela pegou o porta retrato e passou os dedos pelo rosto do que um dia foi o homem ela conhecia, ou pelo menos ela achava que conhecia, hoje ela não tinha mais certeza de nada, somente que havia sido trocada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário