domingo, 24 de fevereiro de 2019

Capítulo 4: Aspen

Pov. Edward.


Eu não conseguia acreditar que Emmett havia sugerido que eu dormisse junto com a Bella. Eu adoraria saber o que ele tinha na cabeça. Não, espera, eu sabia o que ele tinha na cabeça. Nada! Depois que eu ter chamado a atenção deles, cada um se trocou e deitou nas camas. Alice com Bella, que já dormia tranquilamente, Rosalie no andar de cima da beliche, Jasper na cama de solteiro e eu e Emmett dividimos o sofá cama. Não era confortável, mas era quente.

Acordei no meio da noite com Emmett me dando uma tapa na cara. Ele se mexia muito quando dormia e eu me esqueci disso. Era melhor eu ter ido dormir no chão. Eu estava me ajeitando na cama quando vi uma leve e fraca luz iluminando um canto do quarto. Peguei meu telefone e olhei a hora, eram quatro da manhã. Sentei-me na cama e vi que era Bella, sentada na cama mexendo em seu celular. Será que ela está sentindo algo?

Devagar saí do sofá e caminhei para até a cama, Bella estava encostada a uma pilastra de madeira grossa aos pés da prima, o cobertor cobria apenas de sua cintura para baixo e ela estava com fones de ouvido. Coloquei a mão sobre seu ombro levemente e ela deu um pulo da cama tirando o fone.

- Você está bem? - perguntei baixo me sentando na ponta do colchão.

- Sì. - respondeu em um fio de voz. - Estou apenas sem sono. - sorri de lado.

- Dormiu a viagem inteira, quer o que?! - brinquei e ela sorriu timidamente e eu vi algo se mexendo na tela de seu celular. - Está vendo o que? -

- Sob o Sol de Toscana. - respondeu. - Conhece? -

- Só de nome. - expliquei.

- Sono innamorata por esse filme.  - confessou encarando a tela que agora estava no pause. - Se passa em Cortona… Arezzo. -

- Pertinho de Siena. - assentiu sorrindo.

É um jeitinho de matar a saudade de casa... – deu de ombros suspirando. - Pode ir dormir. Quando o filme acabar mia madrina já terá acordado. -

- Tem certeza? - assentiu. - Então tudo bem. - dei, inconscientemente, um beijo em sua testa e segui de volta para o sofá, empurrei Emmett para o lado do sofá e deitei nele, antes que pudesse deitar a cabeça no travesseiro, olhei mais uma vez para Isabella e conferi que ela já havia colocando os fones.


Quando acordei novamente todos ainda estavam no quarto, menos Isabella, todos ainda estavam dormindo. Levantei-me da cama olhando a hora, já eram por volta das 8h, fiz minhas necessidades e coloquei um casaco grosso e deixei o mesmo. Mal abri a porta e o cheiro de café fresco invadiu minhas narinas.

Desci as escadas, a casa era pequena, ofereceram uma coisa para o meu pai e entregaram outra. Típico, principalmente nessa época do ano. O andar de baixo era todo aberto, a cozinha, sala e sala de jantar eram todas juntas e as paredes da casa, pelo menos do primeiro andar eram todas feitas de vidro, o que deixava a parte debaixo da casa bem iluminada. A sala de estar era separada pela cozinha pela grande mesa de jantar de madeira.


- Bom dia. - disse encontrando todo mundo, menos Bella na cozinha.

- Bom dia. -

- Café? - minha mãe perguntou estendendo uma xícara fumegante.

- Obrigado. - peguei.

- E os outros? -

- Dormindo… Menos a Bella… - disse bebendo um gole do café.

- Ela está na varanda. - Renata disse simplesmente. - Como dormiu? -

- Acho que vou dormir na sala de agora em diante. -

- Por quê? -

- Levei uns cinco socos de Emmett durante a noite. - os quatro riram. - Tão rindo porque não foram vocês que levaram um soco na cara às quatro da manhã. - reclamei e eles riram mais ainda enquanto eu saí da de casa indo para a varanda. Bella ainda estava com o pijama, uma calça cinza com bolinhas roxas, um casaco roxo com cachecol grosso e botas claras acolchoadas. - Bom dia. - chamei sua atenção.


- Buongiorno. - disse sorrindo e segurando a xícara no meio das mãos para aquecê-la.

- Então… O que pretende fazer já que não pode esquiar? -

- Ficar aqui. - disse simplesmente sentada na cadeira com os pés em cima da mesma. - Quer dizer. É mais provável que io fique lá dentro, mas mesmo assim, ficar aqui. - explicou levando a xícara aos lábios rosados.

- Fazendo? -

- Niente. A mesma coisa que io faria em casa. Assolutamente niente. - disse bebendo outro gole do café. - Talvez ler um livro. Mas fora isso. Niente. - ri. - E quanto ao senhor? -

- Se você me chamar de senhor de novo, eu juro que uso você como alvo na guerra de bolas de neve. - ameacei brincando e ela riu. - Já falei que me sinto velho. -

- É respeito. -

- Eu sei que é respeito. Mas prefiro ser chamado de você ou algo do tipo. -

- Tio? – perguntou rindo.

- E mais uma vez você me chama de velho… - ela sorriu de lado.

- Perdono. -

- Bella, Edward, venham tomar café. - Renata gritou lá de dentro. Nós nos levantamos da cadeira e entramos em casa, nós seguimos direto para a mesa de jantar e todo mundo já estava acordado e a postos na mesa e a única cadeira vaga era ao lado de Bella.

Nós tomamos café falando sobre o que cada um pretendia fazer durante esses dias de folga e é claro que a maioria iria esquiar, todo mundo vinha para Aspen para esquiar, menos Bella, ela ainda não estava liberada para fazer exercícios ou algo do tipo.

Após o café e ajudarmos a limpar a bagunça, nós trocamos, colocando roupas bem quentes e rumamos para a estação de esqui, menos Renata e Isabella. Renata não queria deixar a afilhada sozinha e Isabella queria que ela viesse conosco. E as duas ficaram em casa.


- Mas mãe. - ouvi Alice reclamar. Já estava anoitecendo e eu havia acabado de tomar banho bem quente e estava seguindo para o andar de baixo quando ouvi Renata e Alice conversando no quarto.

- Eu já disse que não Alice. - essa era nova, Renata deixava Alice fazer 95% das coisas que queria. - Você não vai levar a sua prima para lá. – lá onde?

- Mas mãe. A senhora sabe que a Bella e eu sempre tivemos esse sonho. - qual sonho?

- Eu sei, Alice, eu sei, mas não. Deixa para outra vez. -

- Nós duas sempre ouvimos isso: Deixa para outra vez. - reclamou. - Antes ela não podia ir ao Coachella comigo porque estava longe e tinha aulas e agora ela está aqui. -

- Alice. A sua prima sofreu um acidente de carro. -

- Há um mês e ainda faltam dois meses para o Coachella. -

- Alice. - vi pela fresta da porta Renata segurar a filha pelos ombros. - Isabella perdeu os pais recentemente, ela sofreu um acidente sério recentemente. Os sintomas da concussão demoram de seis meses a um ano para sumir por completo. Eu não vou deixar a menina ir para o meio do nada e acabar passando mal ou entrar em pânico. - disse firme, mas gentilmente. - É recente e daqui a dois meses vai continuar sendo recente. Ela já deu um passo enorme se mudando para cá. Ela já deu meio passo aceitando vir para Aspen. Vai devagar. Deixa a Bella ir curando as cicatrizes no próprio tempo. Ela não está em clima para sair de férias. Ela não está em clima para ir à festivais de música. Deixa a menina se soltar ao próprio ritmo. - ela segurou o queixo da filha para Alice olhá-la. - Eu sei que vocês planejam ir ao Coachella juntas há anos e sempre ocorreram imprevistos, mas Alice, a Bella irá morar conosco por dois anos. Dois anos Alice. Vocês não vão esse ano, mas se ela quiser, vocês podem ir ano que vem. Mas agora não. -

- Mas mãe… -

- Alice, para. Você só está fazendo isso porque conhece a sua prima. Você sabe que ela sempre cede quando a perturbam com um assunto. Deixa-a. Você sabe que ela aceitaria ir até o inferno, mas no fundo ela não quer ir. Por Deus, você acha que eu não sei que ela não queria ter vindo para Aspen? Alice, ela não queria ter vindo para Forks! Ela sempre agrada os outros, mas eu não vou deixa-la fazer isso agora. -

- Então por que estamos aqui? - retrucou Alice. - Como a senhora disse ela não queria ter vindo, mas aceitou apenas para agradar à senhora. Por que não disse para ficarmos em casa? -

- Porque ela não pode viver dentro do quarto, Alice! Desde quando ela chegou os únicos lugares que ela foi foram a escola e o hospital. Eu quero que a minha afilhada volte a viver e não é deixando-a trancada dentro de um quarto que isso vai acontecer. E proibia-la de ir a esse festival também não, mas ela não tem cabeça e clima para isso Alice. Você quer que ela vá para que? Para ficar dentro da barraca, fazendo nada enquanto você e Jasper se divertem? Se você quer saber o que vai acontecer se você insistir em levar Bella em Abril para o festival, é só você olhar o que aconteceu hoje. É só você ver o que a sua prima fez hoje. O que ela fez hoje Alice? Nada! Absolutamente nada! E você foi esquiar com todo mundo. E sim, ela não foi esquiar por ordens médicas, mas ela não quis colocar os pés para fora de casa. Do momento em que vocês saíram até o momento que vocês chegaram, ela só saiu do sofá para ir ao banheiro e comer alguma coisa. - Renata respirou fundo. - E eu sou obrigada a dizer que você está sendo muito egoísta. -

- Egoísta? Eu? – questionou incrédula.

- Sim Alice, você. Seus padrinhos, minha irmã, morreram há um mês e você continua agindo como se nada tivesse acontecido. Se esse é o seu jeito de lidar com o luto, fico feliz por você, mas esse não é o jeito da Bella. Não é o meu. Sabe que se eu pudesse eu estaria em casa. Sabe que se eu pudesse eu estaria em Siena. Sabe que seu pudesse eu teria ido ao maldito enterro da minha irmã. E eu não fui. Então, filha, por favor, para de achar que o mundo gira a sua volta. Eu sei que por anos eu e o seu pai fizemos você pensar assim, mas agora, tem outra menina precisando de atenção, e ela está precisando de mais atenção do que qualquer pessoa nessa casa. E essa menina é a sua prima. E se você a ama tanto do jeito que fala, deixe-a lidar com o luto da própria maneira. Você não quer que ela fique trancada 24h dentro de casa? Ótimo. Eu também não. Chame-a para sair. Mas não para ir a festas, festivais, shoppings ou algo do tipo. Chame-a para ir à sorveteria… Parque… Biblioteca, essas coisas Alice. E principalmente, se ela não quiser ir, não insista. - ela suspirou. - Você reclamava que não via a Bella há quase três anos, e desde que ela chegou você só tem ficado com Jasper. Você dorme no quarto com ela e vai com ela para a escola, mas no resto do dia você a ignora. -

- Ela não fica perto porque não quer. -

- Não são os amigos dela. Você é a única amiga dela, Alice. Você empurrou os Cullen e os Hale pela goela da menina. É como se você tivesse dado a ela um ultimato: se quiser ficar comigo, aceite que eles vêm junto ou fica sozinha… Eles se dão bem? Dão! Mas a Bella nunca foi de ter muitos amigos e de repente você joga quatro em cima dela. Calma, Alice, calma. Eles podem se tornar amigos? Podem... Porque tem conversa, tem amizade e não porque você obriga a eles ficarem juntos. É fofo você e Jasper juntos? É. Mas ele é só um garoto e ela é a sua família, ela tem o seu sangue e eu sempre te ensinei a não deixar a sua família e o seu sangue de lado. Acredite que se você falar com eles: Pessoal, não vou com vocês hoje, vou ficar com a Bella. Eles vão entender. -

- Mas mãe, eu a chamo para ir a algum lugar, fazer algo e ela disse que não quer. Que quer ficar sozinha. -

- Ela pede para ficar sozinha, mas por dentro ela grita para você não ir embora. Você insiste em leva-la a certos lugares, passa a insistir em fazer com que ela aceite a sua companhia. -

- Mãe… -

- Quantas vezes você reclamou durante esses três últimos anos que nós não íamos a Siena? Muitas, não é?! Alice, o tempo voa, já tem um pouco mais de um mês que eu perdi minha irmã e que a Bella perdeu os pais. E tem um mês que a Bella está aqui. Quando você piscar, já terão se passado dois anos e a Bella vai embora. Porque eu não vou segurá-la aqui. Se eu não tivesse a clínica e seu pai o escritório nós já teríamos ido para lá há tempos. Então quando ela completar dezoito anos e falar: Madrina eu quero ir para a casa. Eu vou deixar. E você Alice? Vai esperar ela voltar para se dar conta que a deixou de lado por causa de um namoro que pode acabar amanhã?  -

- Eu dou atenção a ela. -

- Edward dá mais atenção a ela do que você! - disse firme. - Edward, não é nada dela. Ninguém para ela a não ser um professor. Sabia que ele acordou de madrugada e ao ver que ela estava acordada quis fazer companhia a ela? Sabia que no dia do baile, ela teve um pesadelo e ele ficou no quarto com ela até ela dormir? Sabia que ele está passando todos os deveres e trabalhos para ela em italiano? Que eles só conversam em italiano um com o outro? - como é que diabos Renata sabia disso tudo? - Não Alice, você não sabe! Porque fica o dia inteiro com Jasper! Você sabe que o pastor Webber falou merda para a Bella?! Não você não sabe, porque você insistiu em ir aquela maldita quermesse e ficou agarrada a Jasper o dia todo. - Renata passou a mão pelos cabelos. - Não espere ela ir embora para querer fazer algo com ela… E eu proíbo você de falar, mencionar ou qualquer coisa sobre o Coachella. E se, frisando bem o se. Se ela comentar algo sobre o Coachella, você inventa qualquer desculpa para não ir. - Renata disse por fim e caminhou para a porta e eu segui pelo corredor descendo as escadas, elas não podiam saber que eu estava ouvindo a conversa.

Ao chegar ao primeiro andar vi que meu irmão e os Hale estavam na sala, no sofá, assistindo TV, e eu encontrei Bella na cozinha, sozinha e debruçada na bancada ao lado de uma xícara fumegante enquanto lia uma caixinha, abaixei o rosto e ela lia uma caixa de chá.

- Está lendo isso mesmo? - perguntei chamando a atenção dela.

- Só quero saber o que tem aqui. -

- E você lê isso depois que coloca o saquinho na água quente? - perguntei apontando para a xícara.

- Essa já é a décima vez que tô lendo isso. - ela riu largando a caixinha.

- Cadê meus pais? -

- Saíram. Falaram que iam comprar alguma coisa. - explicou.

- Entendi. E o que vai fazer amanhã? -

- A mesma coisa de hoje? - retrucou perguntando.

- Bella? - Renata a chamou.

- Qui!. - disse simplesmente e Renata entrou na cozinha.

- Oi meninos. - disse ao nos ver na cozinha. - Tomou seu remédio? -

- . -

- Ótimo… Quando Carlisle e Esme voltarem nós vamos jantar. -

- Então io vou tomar um banho rápido. -

- Tudo bem. Vai lá. - Bella pegou a xícara, tirando o saquinho e o jogando fora e subiu as escadas.

- Está tudo bem? - perguntei antes que Renata tivesse a chance de sair da cozinha.

- Claro. - disse simplesmente.

- Quais são os planos para amanhã? -

- Vou tentar levar a Bella para dar uma volta pela cidade. -

- Se quiser vai com os outros a uma estação de esqui. -

- E quanto a Bella? -

- Eu fico de olho nela. Levo-a para dar uma volta na cidade. Não estou muito afim de esquiar amanhã. -

- Não precisa querido, a Bella é a minha responsabilidade. -

- Eu estou falando sério, pode ir, eu fico de olho nela. -

- Vou pensar. -

Não demorou muito e meus pais chegaram e a Bella desceu, nós jantamos e após um tempo na sala, cada um com uma xícara de chocolate quente com marshmallow. Aos poucos um a um foram para os quartos para dormir. Eu fui um dos últimos a ir dormir e quando entrei no quarto em silêncio notei que as coisas estavam bem diferentes de ontem.

Alice dormia com Jasper na beliche de cima, Bella sozinha na beliche de baixo e Rosalie e Emmett no sofá cama e para mim sobrou apenas a pequena cama de solteiro embaixo da janela. Pelo visto a conversa de Renata com Alice de mais cedo não resultou em nada. Deitei na cama e tratei de ir dormir.


E na manhã seguinte eu tive a total certeza de que a conversa entre Renata e Alice não adiantara de nada. Entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Já que ela foi com todo mundo para a estação de esqui e deixou a prima em casa sozinha. Renata também não foi, mesmo eu dizendo que ela podia ir que eu cuidaria de Bella e ela mesmo assim se recusou, e minha mãe também. Principalmente depois que soube que Renata queria dar uma volta pelo centro.

- Buongiorno. - Bella disse entrando na cozinha e se espreguiçando. - Cadê todo mundo? -

- Bom dia. - entreguei uma xícara de café quente para ela.

- Grazie. -

- Foram esquiar. -

- E não foi por quê? -

- Nunca fui fã de esquiar. Uma ou duas vezes até vai, mas todo dia? - bebi um gole do café da minha xícara. - E a minha mãe e a sua tia estão ali na varanda. -

- Por que ninguém me acordou para tomar café com todo mundo? -

- Simples. Porque o povo que saiu tomou café e saiu antes de nós acordarmos. - expliquei e ela sorriu.

- Bom dia flor do dia. - Renata disse chegando à cozinha e dando um beijo na cabeça da afilhada. - Vamos tomar café e dar uma volta? -

- Madrina eu não quero… Eu não quero entrar em um carro. -

- Eu sei amor. Você teve aquele pesadelo madrugada passada de novo. - as encarei. Ela não acordou porque perdeu o sono. Ela acordou por causa de um pesadelo. - Mas não se preocupe. Nós vamos andando é aqui pertinho. Ou se quiser, vamos de ônibus. Mas não está tão frio. -

- E o que tem para fazer lá fora? A única coisa que eu sei de Aspen são as montanhas de esqui. -

- Tem lojas, museu de arte, e você como uma verdadeira italiana, ama arte. - Bella sorriu. - Cafeterias e um lugar que eu sei que vai adorar. -

- Tudo bem. - Bella concordou.

- Então vamos comer. -

Nós nos sentamos à mesa e tomamos café basicamente em silêncio, com apenas minha mãe e Renata conversando. Depois de comermos e limparmos tudo fomos nos vestir para sair. Não demorou muito e Bella desceu pronta, calça legging preta e grossa, uma camisa grossa e botas marrons claras. Antes de sairmos de casa, ela vestiu o casaco grosso e felpudo no capuz e o fechou bem e colocou a touca cinza com um pompom na ponta.


Nós saímos de casa, minha mãe e Renata iam à frente olhando as vitrines e eu e Bella a alguns passos atrás. Quando chegamos ao museu de arte a primeira parada, antes de entrarmos, Bella se afastou um pouco para atender ao telefone, e antes que ela se afastasse eu vi uma foto da Bella com uma mulher alguns anos mais velha do que eu e com longos e cacheados cabelos loiros.


- Lena. - Bella cantarolou ao atender ao celular. - Mi manchi, mia cara! - disse sorrindo e parecia que essa havia sido a primeira vez que eu a vi sorrindo verdadeiramente, e ela possuía um sorriso lindo e de tirar o fôlego. E ela se virou, lembrando que eu estava parado ao seu lado. - Mi scusi, per favore. - assenti e ela se afastou.

Bella se afastou alguns passos de nós falando no telefone e para ter um pouco mais de privacidade. Todavia a conversa não demorou muito e ela logo desligou o telefone e se aproximou de mim com os olhos marejados. Quando eu abri a boca para falar algo ela simplesmente mexeu a cabeça negando, não era para eu falar nada.

Ela guardou o telefone no bolso e nós entramos no museu. Não era de se estranhar que ele estivesse vazio, eu apostaria tudo o que tenho, que esse museu raramente tinha visitas. A visita foi rápida, até porque como ele estava vazio, nós andávamos rápido e também não tinha muita coisa para ver.

Ao deixarmos o museu, caminhamos menos de cinco minutos até a Victoria's Expresso, uma pequena, quente e acolhedora cafeteira. Uma vitrine que transbordava de doces, Donuts, Cupcakes, Torta de Abóbora, Cheesecake, Brownie, Cookies, Bolos e muitos outros é um aroma delicioso de café. Minha mãe e Esme pediram cappuccino e dois pedaços de bolo, ganhando um olhar reprovador de Bella, principalmente a tia e foram deixando eu e Bella sozinhos olhando a vitrine.

- Qual seu problema com cappuccino? -

- Nenhum. - respondeu olhando para a vitrine de doces. - É que na Itália tomasse cappuccino apenas no café da manhã.- explicou e encarou a atendente. - Io vou querer un Latte Macchiato e due cupcake red velvet. - ela pediu e a atendente ficou encarando-a sem entender.

- Um caffè Latte e dois cupcakes red velvet. - expliquei e ela assentiu. - E eu vou querer um Espresso e donuts, pode ser de sabores variados. - ela assentiu e foi preparar os cafés.

- Esses donuts são os dos Simpsons? - perguntou me encarando enquanto apoiava as mãos na vitrine e se balançava lentamente nos saltos curtos da bota.

- Sim. - respondi. - Já comeu? - negou.

- Nunca achei na Itália. Io acho. Quer dizer, apenas na versão sem o furinho no meio. - explicou e eu ri. A atendente colocou as duas xícaras de café em cima da bancada, junto com dois pratos com seis donuts e outro com dois cupcakes.

- Abre a boca. - disse pegando um donut do prato.

- Non vai para a mesa? -

- Elas provavelmente estão falando do que elas mais falam. Compras, e eu não estou afim. -

- E nemmeno io! - disse apressadamente e se sentando em um dos bancos da bancada e eu me sentei ao banco ao lado do dela.

- Vamos. Abra a boca. - meio receosa ela abriu a boca e eu levei o donut com cobertura de chocolate e confeitos até seus lábios rosados e ela mordeu um pedaço do donut. Quando ela mordeu um pouco de doce de leite escorreu pelo canto de seus lábios rosados e eu engoli em seco quando ela levou o polegar, passando pelos lábios, limpando o pouco do doce que escorreu e chupou a ponta do dedo e eu cruzei as pernas tentando aquietar meu amiguinho, que se animou ao ver a cena que Bella proporcionou inocente e inconscientemente. - O que achou? - perguntei enquanto ela mastigava. Bella apenas ergueu um dedo pedindo para eu esperar e continuei esperando. Ela mastigava devagar, sentindo todos os gostos possíveis.

- É bom. Adoro doce de leite. - respondeu. E eu mordi um pedaço do meu donut. - Mas ainda prefiro meus cupcakes. - disse pegando um e abaixando o papel e me oferecendo.

- Não, obrigado. - deu de ombros mordendo o bolinho vermelho. - Então. - lentamente comecei a tocar no assunto delicadamente. - Essa moça que ligou… - perguntei pegando um donut.

- A Lena?! -

- É. Ela…? -

- É de Siena e minha amiga. - respondeu segurando a xícara quente entre as mãos.

- Sim. Está tudo bem? -

- Com? -

- Ela? Siena? Você? - ela sorriu de lado olhando para o prato com um bolinho inteiro e outro pela metade.

- Ela está bem. Siena está bem. E io sto bene. - disse simplesmente.

- É que… Quando você desligou o telefone… - sorriu de lado. - Você não queria vir para cá, não é? - perguntei lembrando-me do que Renata havia dito a Alice ontem.

- Non. -

- Por quê? -

- Prima… Perché ninguém quer abitare in culo al mondo. - disse simplesmente tragando um gole do café e eu sorri.

- Esse é um bom motivo. -

- Então porque não deixou Forks ainda? -

- Ainda não encontrei nada que me prendesse fora,e eu tenho algo me prendendo dentro. - dei de ombros. - E eu já me acostumei. -

- Você morou em Milão durante a faculdade e diz que não encontrou nada que te prendesse fora? -

- Nada que superasse o que me prendia dentro. - ela me encarou.

- Está falando da sua família non? -

- Estou! - assenti sorrindo.

- Io nunca morei fora. Pelo menos não até agora. -

- Essa é a primeira vez que deixa a Itália? -

- Non. - disse balançando a cabeça negando. - Ogni volta che tínhamos a chance viajávamos. Quase todo final de semana era pela Itália, tanto que io me orgulho muito por em 15 anos de vida e já conhecer todos os pequenos cantos da Itália, principalmente se for comparar com Alice que em quase 16 anos de vida não conhece um terço do país em que mora. -

- Alice é a mais velha?  -

- Seis meses. Ela completa 16 em 27 de Março e io 13 de setembro. - explicou. - Mas sempre que tinha feriados prolongados ou férias nós viajávamos. Pela Europa. Às vezes Ásia, poucas vezes norte da África… E já fui a New York, acho que duas ou três vezes nos últimos due anni. - abri a boca para falar algo. Se ela veio para cá durante esses dois anos porque ela e Alice não se viam. - Claro que por causa do trabalho do mio babbo e ficávamos muito pouco tempo na cidade e Alice estava em época de provas ou viajando. - deu de ombros. - Mas mesmo assim io nunca fiquei tanto tempo longe de casa. -

- Sente falta! - não foi uma pergunta, mas ela respondeu do mesmo jeito.

- Muita. - suspirou. - Io nasci ali. Cresci ali é difícil de repente ser arrancada de lá e jogada em um lugar estranho, onde não se tem os mesmo costumes, língua e todo mundo te olha torto e pelas costas te denominam como: A órfã que foi obrigada a vir para cá por não ter mais ninguém. - ela falava olhando pra xícara. - Figurati quando descobrirem quem era o meu pai. - reclamou pegando a xícara e bebendo um trago do café.

- Vão puxar o seu saco até conseguirem o que querem. -

- Lo so. Era assim em Siena. -

- Sente falta dos amigos que deixou na escola? -

- Io non tinha amigos, io te disse, io consegui afastar todos. Menos Alice, Malena e Jacob. Alice provavelmente por ser minha prima. Lena porque retruca e é pior que io e Jacob porque adora me dar lição de moral. - resmungou e eu sorri. - Da escola em si, io só sinto falta da Julie e de Lorenzo. -

- Não disse que não tinha amigos? -

- Non são bem amigos. E sim a irmã Julie, ela é uma das inspetoras do colégio e o Padre Lorenzo, o diretor. -

- Se dava bem com o diretor? -

- Io matava aula de biologia ajudando ele a organizar a igreja para a missa do 12h. Detesto biologia. - disse simplesmente e eu ergui a sobrancelha, demorou cerca de dois segundos até que ela se tocasse do que havia dito. - Per favore, diga-me que io non falei isso em voz alta. -

- Muita gente não gosta de biologia. Não se preocupe. - suas bochechas ficaram levemente coradas. - E por que não gosta de biologia? -

- É nojento. Principalmente a parte de genética e da anatomia humana. E… E era estranho ver um padre explicando sobre esses temas. Io recordo que no primeiro dia de aula, depois das férias, era sobre anatomia humana e ele disse: Vamos abrir os livros na página 167 e Dio Santo! Ele gritou e quando os alunos abriram a página tinha a figura de um… - ela ficou corada. - É só um por panda e só os meninos têm. - disse e ficou olhando para a xícara já vazia e com o rosto completamente vermelho.

- É só um por panda… E só os meninos têm? - repeti pensando. - Ah um pênis. - disse e ela escondeu o rosto nas mãos. - Não acredito que fique constrangida com isso. É normal. -

- A partir do momento em que io não tenho um, não é normal. - ralhou comigo completamente vermelha e eu joguei a cabeça para trás rindo. - Idiota. - disse e cobriu a boca. - Ah Dio Mio! Foi sem querer! -

- Bella, menos. - pedi rindo. - Já fui chamado de coisa muito pior do que idiota. -

- Você é meu professor. -

- É. Dentro da sala de aula. E bom, aqui não parece ser uma escola, então aqui eu não sou seu professor. Sou seu amigo, se assim desejar. E amigos chamam os outros amigos de idiota. - expliquei.

- Crianças. - minha mãe apareceu atrás de nós. - Nós já vamos, querem ficar mais um pouco? - perguntou olhando para a Bella e mexendo em seu cabelo. Mamãe havia gostado dela.

- Qual é a próxima parada? - ela perguntou.

- Não sei. Sua tia disse que depende de vocês. Se vocês não quiserem ficar, ela vai levar você em um lugar que você iria amar. -

- Io sempre tive medo quando ela falava isso. - Bella confessou. - A última vez que ela falou isso io… Noi eravamo visitando uma gruta, solo noi quattro. Io, mia mamma, ela e Alice. - Bella estremeceu ao lembrar. - Ela fez com que nos perdêssemos do guia, saíssemos da trilha e ficássemos andando sem rumo por quase três horas até a equipe de resgate nos encontrar, em um lugar onde corria risco de desabamento e ninguém deveria entrar… Aquilo foi traumatizante. -

- Culpa de sua mãe. - Renata entrou na conversa. - A ideia de entrar ali foi dela. -

- Non madrina, foi da senhora. - Renata pensou um pouco. - Mamma disse que era uma má ideia. -

- Ah é. Verdade. E eu já me desculpei por ter quase matado vocês. - minha mãe riu. - Vamos? - Bella assentiu e se levantou.

Após a conta ser paga, deixamos a cafeteira, com o possível intuito de voltar nela antes de seguir para casa. Até porque era caminho. E caminhamos até a Explore Booksellers, uma pequena e simpática casinha de madeira da era vitoriana e toda coberta de madeira. Eu não entendia o motivo de Renata ter trazido a menina até aqui, porém eu descobri depois que entramos e eu ouvi a Bella soltar um gritinho animado e se enfiar em um dos diversos corredores apertados.

Era um pequeno sebo de livros. Com livros novos e velhos. Bella era uma menina nova que adorava ler. Pelo visto ela não iria sair tão cedo, e provavelmente ela iria sair daqui com a mesma quantidade, ou até mesmo mais, de sacolas que Alice e Rosalie saiam quando iam ao shopping. Até porque os livros eram bem baratos.

- Esme, sente-se. - Renata disse se sentando em uma cadeira próxima a janela. - Ela não sai daqui tão cedo. -

- Eu vejo isso com garotas e shoppings e não com garotas e livrarias ou sebos. -

- Ela ama livros. Os pais dela fizeram uma biblioteca para ela em casa. Está quase que cheia de livros do teto ao chão. -

- Se quiserem dar uma volta podem ir. Eu fico de olho nela. -

- Não precisa querido. - Renata disse.

- É sério. Não terá outro tempo de fazer compras. -

- Iremos a Denver amanhã. Passar o dia todo lá. -

- São quase quatro horas de viagem. Vão levar a Bella? -

- Se ela quiser ir. - deu de ombros e eu a encarei. - Provavelmente não, mas aí eu peço para Alice ficar com ela. -

- Ele tem razão. - minha mãe disse. - Podemos deixar os dois aqui sozinhos por alguns minutos e ir até ao mercado rapidinho ver algo de interessante para se fazer hoje a noite. Tipo uma noite de pizza ou algo do tipo… Você pode ficar de olho nela por uma hora? -

- Claro que posso. - disse. - Eu fico de olho no Emmett. Ela nunca iria conseguir ser pior que ele. - brinquei e as duas riram.

- Qualquer coisa me liga. - Renata pediu e eu assenti. Elas se levantaram e saíram e eu fui procurar por Bella pelos corredores apertados.

Ela estava perdida no meio daqueles livros e já segurava um debaixo do braço e lia a contra capa de outro. Aproximei-me em silêncio e delicadamente dela e puxei o livro que estava sob o seu braço, a assustando.

- Desculpa. - pedi sorrindo e ela ficou corada e eu simplesmente levantei a capa do livro que ela segurava e lia a contra capa. - Você não está com esse livro na mão! -

- Sempre tive a curiosidade. - deu de ombros.

- É sério? Lolita? - deu de ombros constrangida. - Você sabe que esse livro tem cenas de sexo, não sabe? -

- Fiquei sabendo. - meio receoso olhei para o livro em minhas mãos.

- O Amante de Lady Chatterley! - engoli em seco, eu me lembrava de quando havia lido esse livro. Era um livro bom, com diversos palavrões e cenas de sexo explicito. - Menina eu tô com medo que o próximo que você pegue, seja um do Kama Sutra. - comentei sem pensar e seu rosto atingiu um rosto de vermelho que eu nem sabia que era possível chegar e seus olhos se esbugalharam.

- Da licença?! - pediu constrangida e arrancando o livro de minhas mãos.

- Estou te esperando lá na frente. - disse e me afastei.

Cerca de uma hora e meia depois, minha mãe e Renata chegaram com algumas sacolas e Bella continuava andando por entre as estantes. Renata foi apressar a sobrinha que saiu da loja com quinze livros novos, que eram velhos, já que ela só pegou livros antigos. Era o recorde de livros que eu vi alguém, principalmente uma garota de quinze anos, comprar. E ainda reclamou que só não comprou mais porque a tia não deixou. Era bonito ver que ela preferia gastar dinheiro com livros a gastar dinheiro com roupas ou maquiagem, era uma coisa quase que impossível de se ver em alguém, principalmente em alguém jovem.

Nós seguimos de volta para casa e minha mãe e Renata decidiram fazer algo simples e terminar a noite com torta de abóbora e Cheesecake, comprado na Victoria's Expresso. Ela expulsou todo mundo, no caso, Bella e eu da cozinha, já que os outros ainda não haviam chegado e eu resolvi tomar um banho. Após terminar meu banho bem quente, eu segui para o quarto e encontrei Bella sentada na cama, com as costas na cabeceira, sem a touca, casaco e as botas, óculos grossos de grau no rosto e com um livro enorme e grosso nas mãos.

- Deus, eu tenho medo de ver qual é esse livro. - comentei ajeitando minha blusa e ela simplesmente me encarou por sobre as lentes dos óculos levantou a capa. Os Miseráveis de Victor Hugo. - Os Miseráveis? Sério? -

- Algo contra ele? -

- Não. É um excelente livro. Mas é um pouco chocante uma garota como você ler um livro desses. - respondi e caminhei até suas sacolas de livro. Tirando Lolita e O Amante de Lady Chatterley, tinha livros muito interessantes que eu tinha certeza que mais da metade das pessoas na idade dela desconheciam: Guerra e Paz, Anna Karenina, de Liev Tolstói. O Nome da Rosa de Umberto Eco. O Conde de Monte Cristo, A Rainha Margot, Os Três Mosqueteiros de Alexandre Dumas. O Fantasma da Ópera de Gaston Leroux. Orgulho e Preconceito, Razão e Sensibilidade de Jane Austen. O Morro dos Ventos Uivantes de Emily Brontë. Moby Dick de Herman Melville e Oliver Twist de Charles Dickens.

- Uma garota como io? - perguntou tirando os óculos e me encarando confusa.

- É uma garota como você. -

- Io non entendi. Perché uma garota como io non pode ler esses livros? E o que diavolo é uma garota como io? -

- Uma garota bonita. A maioria das garotas bonitas da sua idade se preocupa mais em achar um namorado e abarrotar o guarda roupa com roupas, sapatos e maquiagem. Mas você não, você lê. Elas enriquecem o guarda roupa e você o cérebro. -

- E os homens não gostam de mulheres que enriquecem o cérebro? - perguntou repousando os óculos sobre o livro e cruzando os braços.

- Eu não posso dizer pelos outros homens. Posso dizer por mim. Eu acho algo puta sexy uma mulher intelectual. Acredito que uma mulher que lê, que entenda de assuntos diversos e não falam apenas de compras e outros homens, é a coisa mais sexy do mundo. Como diz Lisa Kleypas: Uma mulher que lê muito é uma criatura perigosa. - disse simplesmente. - Sabe, minha mãe costuma dizer que: Deus dá beleza ou cérebro, mas nunca os dois. Mas pelo visto há exceção a essa regra. - ela parou um pouco pensando no que eu havia dito.

- Isso quer dizer que você me acha una bella ragazza? - perguntou com a sobrancelha arqueada.

- Acho. - respondi sinceramente. - Muito. -

- Me acha bella e sexy? - perguntou inocentemente se referindo ao que eu acabara de dizer.

- Acho. Muito. - respirei fundo e mandei. - Não apenas no quesito intelectual. - ela abriu a boca para comentar algo mas a porta fora aberta por um Emmett coberto de neve. Salvo pelo bisonho.

- Vocês assaltaram uma biblioteca? - perguntou vendo os livros em cima da cama de Bella.

Eu não respondi e apenas saí do quarto. Eu me distanciei de Bella pelo resto da noite, eu não tinha que ter dito aquilo, eu nem tinha que ter pensado aquilo. Ela era minha aluna, mesmo eu tendo dito mais cedo que fora da escola eu era amigo dela, eu não devia ter dito aquilo.


Na manhã seguinte quando eu acordei minha mãe e Esme já tinham saído, as duas haviam ido para Denver com Alice e Rosalie, obviamente as duas nunca se recusariam a ir a um shopping fazer compras. Jasper e Emmett foram mais uma vez para a estação de esqui e depois que eu garanti a Caius que eu poderia ficar de olho em sua sobrinha, até porque não queria ir esquiar.

Não demorou muito, por volta das nove horas a Bella acordou e desceu de pijamas, uma calça cinza com estrelas brancas e uma blusa de mangas brancas e vestindo um suéter fino e andava pela casa de meias grossas.


- Bom dia, menina. - disse apoiando meus braços na bancada da cozinha enquanto ela se espreguiçava.

- Buongiorno. - disse passando as mãos pelos fios castanhos e o prendendo em um coque bem mal feito e frouxo. - Cadê todo mundo? -

- Minha mãe e sua tia foram para Denver. - virei expliquei.

- Lo so. E Alice? -

- Alice foi com elas e Rosalie foi junto. - expliquei. - E Jasper, Emmett, meu pai e seu tio foram mais uma vez para a estação de esqui. E sinceramente eu não entendo como eles podem gostar tanto disso. -

- E você não foi por quê? -

- Já expliquei que não sou fã de esquiar. Não tenho paciência para compras, e alguém tinha que ficar de olho em você. -

- Madrina disse que Alice iria ficar. -

- Eu sei. Mas eu disse a Alice que ela podia ir, porque caso contrário eu teria que ir ou para o shopping ou para a estação de esqui. -

- Então preferiu ficar de olho em mim? -

- Como disse a sua tia ontem. Eu fico de olho em Emmett a minha vida toda e pior do que ele você não é? -

- Sei sicuro? - perguntou provocantemente apoiando as mãos do outro lado da bancada e me encarando com a sobrancelha arqueada.

- Absoluta. - eu mantinha contato visual com ela e não iria desviar os olhos. - Ninguém supera o demônio do Emmett. -

- Você nem me conhece! -

- Eu sei. Você me contou algumas coisas que andou aprontando, porém acredite em mim, ele era e é um bilhão de vezes pior do que você. Uma vez, ele inventou de ir brincar de super herói e queria que eu brincasse junto, ele tinha uns 8 anos e eu 17, e estava estudando porque iria começar as provas para faculdade e deixei ele brincar sozinho e fui estudar. De repente só escuto minha mãe berrando meu nome e quando vou ver o que havia acontecido, tava Emmett com uma cueca em cima da calça e um pano preto amarrado no pescoço. Minha mãe levou ele ao hospital e quando chegou lá, descobrimos que ele havia quebrado o braço e uma concussão na cabeça. Ele havia se jogado da varanda do quarto achando que ia voar. E depois disse: Eu estava brincando de Batman e só lembrei que ele não voava depois que pulei. - Bella ficou me encarando como se tivesse esperando que eu falasse que era mentira.

- Grazie a Dio, lo so filha única. - disse simplesmente e eu sorri. - Mia mamma disse que uma vez, io tinha uns due anni e estávamos no shopping, io soltei la mano de mia mamma e meti a cabeça na parede de concreto. -

- Aí! - disse simplesmente. - Emmett estava com uns três ou quatro anos e estava muito, muito, muito quieto e de repente um barulho de algo caindo e quebrando soou da cozinha e quando fomos ver, ele tinha escalado a geladeira e derrubou as prateleiras quebrando potes e sujando a cozinha toda. -

- Babbo tinha uma foto no escritório do meu aniversário de uno anno, onde io estava toda só de fralda e uma tiara de EVA e coberta de torta. -

- Que fofo. -

- E a Madrina diz que ninguém sabe como, mas tinha torta dentro da minha fralda. - ela fez uma expressão de confusão. - Ninguém sabe como foi parar lá. - disse normalmente e eu comecei a rir.

- Emmett passou massa corrida na TV. -

- Io entrei em um aquário e fiz xixi lá dentro e bebi. Non necessariamente nessa ordem. -

- Emmett entrou no vaso e deu descarga. Ele alagou o banheiro. -

- Pintei meu antigo cachorro. Ele era branquinho, branquinho e do nada ficou roxo. -

- Emmett enfiou uma garrafa de refrigerante na bunda. - ela me encarou sem acreditar. - E eu tenho o raio x guardado. -

- Perché? - dei de ombros.

- Agora imagina, eu levando um moleque de onze anos ao hospital com uma garrafa de vidro na bunda. -

- Tuo fratello me superou. Se você sobreviveu a lui, sobrevive a mim. -

- Exatamente. - cruzei os braços sobre a bancada. - E o que quer comer no café? -

- Noi bem que poderíamos ir ao Victoria's Expresso. - sugeriu. - O que me diz? -

- Que você tem que se trocar a menos que queira ir de pijama. -

- Em dez minutos estou pronta. - respondeu se afastando animada da bancada e subindo as escadas.

Eu já estava vestido, tinha apenas que colocar meu casaco e touca. Subi as escadas e enquanto caminhava para o quarto eu ouvi o barulho de água caindo e eu segui para o quarto antes que a minha mente perturbada pensasse em algo. Vesti meu casaco, pegando meu cachecol, luvas e gorro e desci para esperá-la antes que ela acabasse entrando aqui de toalha.

Em mais ou menos dez minutos depois que eu desci, ela desceu pronta, com uma blusa grossa, branca, de mangas compridas e crochê, calça legging grossa e botas felpudas brancas, uma touca grande de crochê branco e um colete de pele branca, acinzentadas e meio amarronzados. O qual ela me garantiu que era falsa.


E andando nós seguimos para a cafeteria, a cafeteria estava cheia, muita gente passava aqui antes de ir para estação de esqui, ou muitos simplesmente vieram tomar café aqui com preguiça de fazer algo em casa. Nós tomamos café conversando sobre baboseiras. O motivo de eu ter trocado a medicina pela biologia, porque não decidi lecionar na Itália e essas coisas.

- Bella. - a chamei enquanto caminhávamos pela rua coberta de neve e que caia ainda alguns poucos flocos de neve.

- Che? - perguntou me encarando e eu apenas apontei para o lago completamente congelado ao meu lado e com algumas pessoas patinando em cima. - Che? - perguntou de novo sem entender.

- Deus menina, você é lerda. -

- Molto. - admitiu e eu a encarei confuso. - Sono sincera. - disse e eu joguei a cabeça para trás rindo. Em um ponto do lago, tinha uma pequena bancada para quem quisesse alugar patins. - Quanto você calça? -

- Depende. -

- Do que? -

- Na Itália é 36 aqui io non so. - deu de ombros cobrindo as mãos com os punhos largos da camisa.

- É 6. - o homem que ficava atrás do balcão respondeu virando a língua dos patins onde tinha o tamanho: USA 6; Mex 5; Eur: 36.

- Edward. Io non tenho certeza, mas… O que você pensa que está fazendo? -

- Alugando patins. -

- Para que? -

- Patinar. -

- Io non posso. -

- Por que não? - ela não respondeu apenas apontou para a cabeça.

- Tuo padre proibiu exercícios e atividades físicas por no mínimo seis meses. - explicou. - E do jeito que io sono, é capaz de io abrir mia testa batendo no gelo. -

- Eu te seguro.

- Melhor non. -

- Bella. Você está aqui há três dias e nós vamos embora amanhã. E a única coisa que você fez foi ficar trancada no quarto. -

- Bugia. - a encarei com a sobrancelha arqueada. - Io fui a aquele sebo e ao museu e a cafeteria. Duas vezes na cafeteria. -

- E fora isso não fez mais nada. -

- Io non posso. -

- Eu não vou deixar você se machucar. - garanti e ela olhou para as pessoas no ringue.

- O problema não é io me machucar, o problema é io machucá-los. - comentou apontando para as pessoas.

- Eu não vou deixar você se machucar e nem você machucar ninguém. - garanti de novo. - Mas você não pode ficar trancada no quarto o dia inteiro sem fazer nada. Você tem que viver. -

- Io estou vivendo. -

- Certeza? -

- Não do mesmo jeito que em Siena, mas estou. - deu de ombros. - Depois de tudo, não tem como ser igual. -

- Não precisa ser igual. Só precisa ser. - disse pegando os patins para ela. - Ainda tem seus padrinhos. -

- E o que quer que eu faça? - perguntou quando eu entreguei os patins a ela e nos sentamos no banco. - Viaje com eles pelo país todo final de semana? - ela tirou as botas. - Não dá. Eles têm trabalhos diferentes do dos meus pais, eles trabalham de segunda a sábado, isso quando trabalham aos domingos. Simplesmente não dá. - ela colocou os patins e me encarou.

- Não precisa viajar pelo país para viver. -

- E como pretende que eu viva em Forks? – e eu me calei por alguns segundos.

- Boa pergunta. - respondi me sentando ao lado dela.

- Não tem nada em Forks e se io quiser fazer qualquer coisa eu tenho que entrar em um carro. E se não percebeu, mia madrina me dopa para entrar no carro. -

- Enquanto o acidente for recente é melhor assim mesmo é ir diminuindo a dosagem aos poucos. - respondi tirando meus tênis.

- E se… E se depois do acidente deixar de ser recente é o pavor continuar?  - perguntou olhando receosa para os patins brancos.

- Nada de algumas boas sessões de terapia não resolvam. - garanti. - E até porque, você tem uma empresa enorme de carros para herdar. Seria bem estranho você herdar uma empresa de carros e ter pavor de carros. - ironizei brincando e ela sorriu torto.

- Idiota. - reclamou e eu ri amarrando meus patins. - Você não gosta de esquiar, mas gosta de patinar? - perguntou a me ver de pé e equilibrado nos patins.

- Sempre gostei de patinar. Principalmente quando o lago em Forks congela. -

- Tem lago em Forks? -

- Tem. E uma pequena queda d’água. -

- Sério? - assenti.

- Gosta da natureza? -

- Lá em casa tem um jardim enorme que a mia mamma cuidava. - explicou.

- Entendi… Vamos? - estendi a mão e ela segurou e eu a ajudei a ficar de pé e segurando-a firme. - Sabe andar de patins não é? -

- Engraçado tu me perguntar isso só depois de me fazer calçar isso! -

- Desculpa. -

- Sì. Io sei andar de patins, porém já tem mais de um ano que não faço isso. - devagar e de costas fui puxando-a para o meio do ringue.

...

- Entendeu? - já havia se passado algumas horas desde que havíamos voltado da volta pela cidade. Estamos no sofá da sala, cobertos com cobertores grossos, devido ao frio do lado de fora, com a lareira acessa e assistindo a um jogo de beisebol pela TV.

- Non! -

- Sério? - eu já havia explicado três vezes.

- Tipo. Io já entendi que o jeito de marcar ponto é ocupando esses losangos brancos. -

- Bases!  -

- Que seja. - deu de ombros. - Ou marcando esse home sei lá das quantas… -

- Home Run. -

- Isso. Mas de resto… -

- Não tem mais resto. É isso. -

- Non! - ela balançou os cabelos que estavam ficando cacheados conforme eles iam secando, já que quando saímos do lago congelado, ela acertou-me com uma bola de neve na cabeça e ainda teve a cara de pau de disfarçar. E eu obviamente revidei, não acertando sua cabeça, obviamente, e nem jogando com a força que eu jogaria em Emmett. - Perché nem sempre que vai para fora é um Home Run? Perché às vezes mesmo o cara acertando a bola não vale? Por que você está perdendo tempo me explicando isso, se io daqui a dois segundos vou esquecer de novo? - perguntou e eu comecei a rir.

- Primeiro: Porque tem que atingir certo lugar do estádio e uma determinada altura e não pode voltar. Segundo: Porque tem que atingir um ângulo entre os joelhos e chão. Terceiro: Você que perguntou. -

- Io sempre pergunto, mas isso não significa que io vá entender! - resmungou e eu joguei a cabeça para trás gargalhando.

Nao demorou muito e ela desistiu de entender o jogo e pegou Os Miseráveis novamente e se pôs a ler enquanto eu assistia ao jogo. Um tempo depois todo mundo chegou a casa, parecia até que eles haviam combinado de voltar junto, e voltaram trazendo comida de fast food.

Por ter morado na Itália eu sabia que os italianos não eram muito adeptos a comidas de fast food porque para eles comer era uma arte de deveria ser apreciada e lenta. Eles comiam com calma e sempre terminavam com uma xícara de café. Renata entregou uma caixinha de frango xadrez para sobrinha e ela era a única que conseguia comer com os hashi. Emmett vendo que era “fácil” resolveu tentar e se sujou todo e voltou ao bom e velho garfo.

Após todos comerem e tudo ser jogado fora, fomos dormir, amanhã seria um longo e frio dia de viagem de volta para Forks.

Vocabulário.

* Sono innamorata - Sou apaixonada. 
* Buongiorno – Bom dia.
* Niente – Nada.
* Assolutamente niente – Absolutamente nada.
* Qui – Aqui.
* Grazie – Obrigada.
* Mi manchi, mia cara – Eu sinto sua falta, minha querida. –
­* Mi scusi, per favore – Com licença, por favor.
* Un – Um.
* Due – Dois.
* E nemmeno io – E nem eu.
* Io sto bene – Eu estou bem.
* Prima – Primeiro.
* Perché ninguém quer abitare in culo al mondo – Porque ninguém quer habitar o cu do mundo.
* Ogni volta che – Toda vez que...
* Mio babbo – meu pai.
* Figurati – Imagina.
* Lo so – Eu sei.
* Per favore – Por favor.
* Dio Mio – Meu Deus.
* Noi eravamo – Nós estávamos...
* Solo noi quattro – Só nós quatro.
* Diavolo – Diabo.
* Una bella ragazza -  Uma garota bonita.
* Sei sicuro -  Tem certeza.
* Grazie a Dio – Graças a Deus.
* Torta – Bolo.
* Tuo fratello – Seu irmão.
* Lui – ele.
* Che? - Que?
* Molto – Muito.
* Tuo padre – Teu pai.
* Io sono – Eu sou.
* Mia testa - minha cabeça.
* Bugia - Mentira.

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