Pov. Edward.
Não deu para fugir do bendito encontro,
Alice contou ao meus pais e caso eu me recusasse a ir ele iria me afastar do
trabalho. Oh vontade de cortar a língua de Alice. Ah e se por acaso eu brigasse
com a Alice sobre isso, ele também iria me afastar do trabalho. E nem pude
trocar meu horário de plantão com o outro neurocirurgião, porque meu pai já
desconfiava que fosse fazer isso. Então, sábado seria meu dia de folga, e para
eu não usar as garotas como desculpas, minha mãe as levou para passar o final
de semana na casa dela.
Resolvi que não tinha escolha e o melhor a
se fazer era ir. Tomei um banho morno, vesti uma calça jeans escura, uma camisa
azul escura, com o primeiro botão aberto e um paletó preto, calcei meus
sapatos, dei um jeito em meu cabelo, que apenas ficaria direto se eu passasse a
maquina zero. Peguei minhas chaves e minha carteira e sai. Como eu não iria
sair com as meninas, entrei no meu Audi A4 preto e dirigi para o endereço que
ela havia me dado.
A viagem de quase uma hora foi bem
tranquila, ela morava mais perto do centro de Chicago do que eu. Era melhor
também morar longe do centro, era bem mais tranquilo para criar as meninas.
Parei o carro em frente ao nome do apartamento que ela havia me dando o nome,
respirei fundo e deixei o carro, entrando nele. Peguei o elevador até o quarto
andar e parei em frente à porta de numero 48 e toquei a campainha. Demorou
cerca de dois minutos para a porta se abrir.
- E não é que ele veio mesmo? – disse
rindo e abrindo a porta. – Entra, só preciso de mais uns cinco minutos, se não
se importar. – disse depois que eu entrei no apartamento e ela fechou a porta.
- Sem pressa. – falei, eu nunca apressaria
uma mulher, fui casado por muito tempo com uma, morro com quatro e convivo com
mais duas, então eu sei muito bem que não se pode apressar uma mulher, pelo
menos se você quisesse continuar vivo.
- Fica a vontade. – ela disse e segui para
uma porta e me deixando sozinho na sala.
A sala era tipicamente feminina. Com um
tapete felpudo cinza, um pequeno sofá em forma de l, também cinza com algumas
almofadas, duas rosas, duas brancas com listras pretas e outras duas brancas
com a estampa de uma flor. . Em cima do sofá um espelho retangular e no chão,
em frente ao sofá uma pequena mesa de madeira clara, com um pequeno pratinho em
cima com duas velas apagadas e dois pequenos jarrinhos com flores. E em frente
ao sofá uma televisão pendurada na parede. Típico das mulheres. O que eu não
esperava encontrar ali era um X Box One,
eu realmente não espera encontrar aquilo ali.
- Pronto. – ela saiu da mesma porta que
havia entrado, provavelmente a porta do quarto dela. Ela usava uma blusa
simples branca, de alças curtas e um pequeno decote em V, uma saia que batia no
meio das suas coxas lilás e saltos e os cabelos soltos.
- Está muito bonita. –
- Obrigada. – ela sorriu. – Vamos para
onde? –
- Bom, como a sua amiga deu por entender,
você gosta de comida japonesa. –
- Amo. – disse.
- Que bom, fiz reservas no Umai. –
- O que abriu há pouco tempo? –
- Exatamente. Vamos? –
- Claro. – saímos da casa dela e ela
trancou a porta, guardando a chave na pequena bolsa e descemos.
Entramos no carro e eu comecei a dirigir
para o restaurante. Da casa dela até o restaurante foi mais 20 minutos de
viagem, em um silêncio agradável. Chegando lá, desci do carro e abri a porta
para ela, e entreguei a chave ao manobrista e entramos. O local estava bem
cheio, e a nossa mesa era bem afastada. Uma mesa simples, para duas pessoas,
com um pequeno jarro de flores brancas no meio da mesa. Após pedir um barco
médio a conversa começou.
- Então... Por que escolheu a medicina
veterinária? – perguntei.
- Bom, meus pais eram médicos. Médicos
mesmo, minha mãe era obstetra, ela amava crianças, e meu pai era cardiologista.
–
- Eram? Passado? –
- Eles morreram em um acidente de carro
quando eu tinha 18 anos. Eu tinha acabado de entrar para a faculdade e passei a
morar com a Rosalie. –
- Eu sinto muito. – falei e ela deu de
ombros. – De onde conhece a Rosalie? –
- Crescemos juntas. Ela entrou para a
faculdade de administração, porque ela sempre quis abrir uma boutique e eu
entrei para a veterinária. Sempre gostei de animais e tecnicamente, segui o
caminho dos meus pais. Eles salvavam pessoas e eu os animais. – ela bebeu um
gole de vinho. – E você? –
- Família de médicos. – respondi. – Meu
pai é clinico geral e diretor do Mercy Hospital. Minha mãe é pediatra, também
trabalha no hospital e por ironia do destino, minha irmã Alice também fez
faculdade de medicina e agora é residente no hospital. –
- E qual é a ironia do destino? –
- Ela está no meu grupo de internos. –
falei e ela se engasgou com o vinho e depois começou a rir.
- Tenho pena dela. –
- Por quê? – perguntei depois que o garçom
colocou o barco na mesa.
- Já ouvi falar de você. – ergui uma
sobrancelha. – Jake. A verdade é que eu perguntei mesmo. E ele disse que te
chamam no hospital de Dr. Hitler, e digamos que a primeira impressão que tive
sua foi que você realmente era... –
- O Hitler? –
- Não. Hitler era bem inteligente e não
era tão mal-humorado. Não que você não seja inteligente, mas o Hitler... Cara
ele fez uma nação inteira seguir seus propósitos. O cara era foda, para o lado
do mal, mas era foda. – dessa vez quem começou a rir fui eu.
- Nisso eu tenho que concordar com você. –
- Eu só não consigo entender o motivo de
você ser assim. – ela disse pegando os hashi. – Você tem uma família incrível,
não conheço suas filhas, mas acabei conhecendo sua mãe, seu pai e sua irmã. Sua
irmã me assusta um pouco, ela parece ser meio doida, mas mesmo assim parece ser
uma boa pessoa. Tem quatro cães lindos, e pelo que Jake me disse uma bela
carreira. Por que é tão mal-humorado, Dr. Cullen? – ela perguntou me olhando. –
Você é completamente difícil de decifrar. – falou pegando um sushi.
- Tudo começou quando eu perdi minha
esposa. – confessei.
- Como? –
- Ela morreu no parto da mais nova, da
Maggie. Ela havia caído no quarto, havia escorregado no tapete e eu a levei
correndo para o hospital. Jacob era o obstetra-neonatal que estava de plantão
então foi ele quem realizou o parto. Eu entrei junto e teve uma complicação,
ele me mandou sair e um tempo depois eu soube que ela havia tido uma forte
hemorragia e que havia pedido para salvar o bebê, e Jacob não conseguiu
salva-la. – expliquei. – Eu amava a Tanya, e depois que ela faleceu... –
- Isso não é desculpa. – ela disse. – Eu estava
no carro com meus pais, praticamente os vi morrendo, fiquei quase três meses em
coma e nem por isso fiquei mal-humorada e dando patadas em todos. Ao contrario,
depois que voltei do coma eu resolvi viver a vida como se não houvesse amanhã.
Você ainda tem família. Já eu não, a única que tenho é Rosalie e Jacob. –
- Seus avós? –
- Meus avôs paternos morreram quando eu
era bebê, praticamente nunca os conheci. Meus avôs maternos também não os
conheci, eles não aceitavam o casamento da minha mãe com o meu pai, e falaram
que se ela se casasse com ele era para fingir que eles não existiam. Nem no
enterro dela eles apareceram, foi o que me disseram... Eu nem sei quem eles
são, nem de onde são. E nem minha mãe e nem meu pai tiveram irmãos. – ela me
olhou por um tempo. – Eu tenho motivos para ser mal-humorada, você não. –
- Eu era realmente apaixonado pela Tanya.
–
- Mais um motivo. Você teve sorte que
encontrou o amor da sua vida, e viveu com ela por não sei quantos anos... –
- Oito. –
- Quase uma década. Eu não tive a mesma
sorte. Perdi meus pais, fiquei ligada a tubos por quase três meses, quase
desligaram os aparelhos e até agora não achei nenhum homem que eu realmente
amasse. –
- Você tem 26 anos e uma longa vida pela
frente. –
- E você também. Além da sua vida tem a
vida de quatro crianças. – antes que eu pudesse falar algo ela voltou a falar.
– Agora vamos falar de coisas boas. Me fale um pouco sobre suas filhas. –
- A mais velha é a Madison, tem dez anos,
mas ela gosta que a chamem de Maddie. Ela não é bem uma garota normal. –
- Como assim? –
- Ela não gosta de balé, fez uma aula e
nunca mais quis voltar, para a minha surpresa, ela entrou no time de beisebol
infantil na escola dela. É a rebatedora. E não gosta de bonecas, prefere jogar
basquete e andar de skate. Mackenzie, ou Kenzie, como todo mundo a chama, é a
segunda mais velha, com oito anos, ela é mais parecida comigo do que com a mãe,
não na aparência, mas no jeito. Depois é a Melanie, tem cinco anos e é bem
menina mesmo, enquanto a Maddie e a Kenzie são mais molecas, a Mel é bem
menininha, ama rosa, bonecas, coisas para cabelo e essas coisas, e a mais nova
é a Maggie, é a que mais se parece comigo, na aparência, tem só dois anos e
ainda não sabe muito bem o que quer ou gosta. É praticamente um bebê ainda. –
- Ela dá trabalho? Todo mundo fala da crise dos dois anos. –
- Não. Ela é um amorzinho. Ama desenhos
infantis. –
- Dependendo do desenho até eu. – ela
disse baixo e eu comecei a rir. – É serio, não consigo parar de ver Bob Esponja
e Padrinhos Mágicos de vez em quanto. E sempre que sai ou lança um filme de
animação eu vou ver. – ela disse tão normalmente que eu passei a rir mais alto,
e acabando atraindo alguns pequenos olhares, e eu tratei de me controlar.
- Eu não ria assim há anos. – confessei.
- Eu sou um poço de comedia. – ela falou.
– Às vezes acho que tenho que largar a veterinária e passar a fazer Stand Up. Sempre que tem um show na cidade eu vou, não
perco um. –
- Meu primeiro encontro com Tanya foi a um
show de Stand Up, ela também adorava
comedia. –
- Por que ficou tanto tempo sem sair com
alguma mulher? Acha que está traindo a memoria dela por estar aqui? –
- Não tem nada haver com isso. É que, eu
sofri muito quando a perdi, e sei lá, passei a “prever” o mesmo destino dela
para qualquer pessoa que saísse comigo. –
- Você é o que? A viúva negra versão
masculina? – perguntou e eu comecei a rir. – Se for me avisa para eu meter o
pé. –
- Não, não sou. – falei. – Fiquei apenas
com medo de me apaixonar de novo e acontecer à mesma coisa, acho que não
suportaria passar por isso de novo. –
- Perder pessoas é ruim mesmo. Não sei o
que faria caso perdesse a Rosalie. –
- Você é ela são... –
- Apenas amigas. Não sou lésbica e nem bi.
E nunca tive curiosidade. – depois de termos terminado de comer o barco,
pedimos a sobremesa, Bella pediu o Manju, um biscoito recheado com pasta de
feijão vermelho e eu pedi o Botamochi feito com arroz doce e pasta de feijão
vermelho.
Depois de terminarmos o jantar, e de Bella
ter reclamado porque eu não deixei dividir a conta com ela, saímos do
restaurante e como estava cheio, fomos andar na orla do Monroe Harbor, no
parque Grant. O vento frio vinha do grande Lago Michigan, era frio e Bella
estava apenas com uma blusa, sem casaco. Tirei meu paletó e a fiz vesti, depois
de reclamar com ela, porque a mesma falava que não estava com frio mas eu via
os pequenos arrepios que passavam pelo seu braço.
- Você não queria vir, não é? – ela
perguntou
- Por que acha isso? –
- Estava estampado no seu rosto quando
chegou lá em casa. –
- A verdade é que meu pai me obrigou a
vir. A verdade mesmo é que ele me obrigou a sair com uma mulher. –
- Se não? –
- Se não iria me afastar do trabalho. Ele
diz e é verdade, que desde que Tanya faleceu eu vivi para as meninas e para o
trabalho. Plantão atrás de plantão, de 48h, 72h, e por ai vai. Mesmo quando não
tinha paciente eu estava lá. Eu acabei contando para Alice que você tinha me
chamado pra sair, porque você realmente chamou. – ela riu. – E depois de levar
esporro dos três, eles praticamente me obrigaram a vir. Mas, devo dizer, que
até que eu gostei. Foi bem divertido. –
- Foi mesmo. E levou esporro por quê? –
- Porque é o homem quem tem que chamar a
mulher para sair e não ao contrario. – ela começou a gargalhar.
- Isso é tão ridículo. Estamos no século
21, pelo amor de Deus, se uma mulher quiser chamar um cara para sair ela tem
todo o direito, do mesmo jeito que tem o direito de dividir a conta. –
- Mas que mulher moderna. –
- Fui criada a não depender de homem
nenhum. Para nada, devo ressaltar, se é que me entende. – agora foi a minha vez
de rir com o que ela havia acabo de dizer.
- Eu acho que entendi. –
Ficamos mais um bom tempo andando pela
orla, e era quase meia noite, quando resolvemos voltar para o carro. Dirigi
para a casa dela enquanto ela ia falando besteira e me fazendo gargalhar alto,
pela primeira vez em quase três anos.
Parei o carro em frente a casa dela e as besteiras pararam de sair da
boca dela.
- Foi bom sair com você, Bella. – falei
enquanto ela tirava o meu paletó.
- Digo o mesmo, Edward. Vê se deixa de ser
mal-humorado. – ela abriu a porta. – E caso queira repetir, você sabe onde eu
moro, onde eu trabalho e meu telefone. Me procura. –
- Pode deixar. – ela deu um beijo rápido
na minha bochecha, me surpreendendo e saiu do carro.
- Boa noite, Dr. Cullen. – sorriu do lado
de fora do carro.
- Boa noite, Drª Isabella. – ela se
afastou do carro e entrou no prédio. O prédio dela era de frente para a rua,
esperei a luz da sala dela se acender para poder ir embora.
Cheguei a casa quase uma hora da manhã,
verifiquei se os cachorros tinham comida e água, e se a casa estava trancada e
o alarme ligado. As meninas estavam na casa dos avôs então eu segui direito
para o meu quarto, tomei um banho rápido, vesti uma calça de moletom e uma blusa
simples e deitei na cama, eu ainda não sentia sono e sentia ainda uma leve
quentura no lugar onde ela havia me dado um beijo. Me levantei da cama e peguei
meu paletó em cima da poltrona e o inspirei, sentindo seu cheiro de flores,
voltei para a cama, colocando o paletó no travesseiro ao lado do meu, e pela
primeira vez eu não precisei tomar remédio para dormir e pela primeira vez não
acordei no meio da madrugada devido a mais um pesadelo.
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