A rainha mãe esperou a noite do dia seguinte para chamar Isabella até o escritório mais uma vez. Ela queria tempo para absorver o que tinha acontecido, principalmente após confirmar que Charlie havia deixado o reino com a filha mais nova para Edimburgo, lugar que devido a animosidade entre os dois reinos, Esme e nem Edward poderiam buscá-lo. A rainha e Edward já estavam no escritório quando a jovem chegou.
- Per… Perdoem-me pela demora. - pediu limpando a garganta. - Eu me perdi. - comentou sentindo-se boba e os dois sorriam para ela, era fácil mesmo se perder naquele castelo, principalmente para quem estava ali pela primeira vez.
- Não precisa se preocupar com isso, querida. Sente-se, por favor, precisamos resolver isso de uma vez por todas. - comentou a rainha dando dois tapinhas de leve no assento do sofá ao seu lado.
- Então os senhores possuem alguma novidade para mim? -
- Sim. - Esme respondeu enquanto seu filho puxava a cadeira para perto das duas para que pudesse se sentar. - Em primeiro lugar… - suspirou. - Charlie embarcou em um navio para Edimburgo com a Jane… É Jane? - Isabella confirmou balançando a cabeça. - O que eu mais queria era arrastá-lo para cá e… - ela respirou fundo para não continuar com a frase. - Infelizmente temos muitos problemas com a Escócia, então não podemos fazer nada enquanto ele estiver lá. Mas isso não importa agora. Edward me contou o que disse a ele. - Isabella olhou confusa para a sogra. - Dos seus olhos… Que és uma bruxa! - falou baixo. - Eu não vou fazer nada com você e tampouco meu filho. E tenha certeza que ninguém nesse castelo vai se atrever a pôr um dedo em você, porque eu não vou deixar. É… É uma dúvida que eu tenho comigo mesma. Minha irmã era igual a você… - suspirou acariciando de leve a bochecha de Isabella. - E infelizmente meu pai entregou-a a inquisição, e eu não pude fazer nada. E agora que eu posso fazer algo, eu vou te proteger do jeito que deveria ter protegido ela. - comentou com os olhos lacrimejando e os de Bella também se encheram de lágrimas.
- Então, a senhora sabe, que caso eu tenha um filho… -
- Vou torcer para vir uma menina. - respondeu sorrindo e fez Bella rir. - Então, eu vou te dar uns dias para se adaptar a essa nova vida e depois eu te ensino no que vai ter que fazer! E qualquer coisa venha falar comigo, a qualquer horário. Tudo bem? - Isabella assentiu com a cabeça, temendo abrir a boca e começar a chorar, e agindo por impulso, abraçou a rainha mãe que estava sentada ao seu lado. - Pode ficar tranquila, que aqui você vai estar bem protegida e vai poder fazer o que quiser. - responder tentando não chorar e beijou o topo da cabeça de Isabella. - Bom. - voltou a falar após um tempo e notar que a jovem tinha se recomposto e desfeito o abraço. - Agora vocês dois vão decidir como levarão esse casamento a frente. Deixarei vocês a sós para conversarem. - ela se levantou do sofá e deixou a sala.
Isabella não tinha postura nenhuma no momento, os braços apoiados nos joelhos enquanto tentava impedir que mais lágrimas saíssem pelos seus olhos. Seus cabelos soltos estavam quase todos jogados para frente, lhes cobrindo o rosto. Edward levantou-se da cadeira, pegando um lenço, que sempre carregava consigo em seu bolso, e sentou-se ao lado da jovem no sofá, estendendo o pano a ela.
- Obrigada. - disse simplesmente ao pegar o pano e passar o tecido fino por debaixo de seus olhos.
- Quando perdeu sua mãe? -
- Um pouco depois de Jane nascer. - respondeu fungando e limpando o nariz que tinha ficado avermelhado. - Ela havia perdido muito sangue na gravidez e poucas semanas depois ela faleceu. - Edward levou a mão delicadamente aos cabelos da jovem, prendendo-os atrás de sua orelha.
- Sinto muito… Penso que caso Charlie tivesse me apresentado a verdadeira Isabella o plano teria saído muito melhor. - Isabella o encarou sem entender o que o rei quis dizer, e ele apenas limpou a garganta. - Isabella, eu não vou te obrigar a absolutamente nada, no que inclui nossos papéis como marido e mulher dentro do quarto… -
- Ou seja, não quer ter filhos? -
- O que eu não quero é te obrigar a dormir comigo de novo. - respondeu. - Caso prefira iremos dormir em quartos separados e eu só vou deitar-me com você de novo caso você queira. - ela assentiu.
- Pode ficar tranquilo, não irei me importar caso arrume uma amante. - respondeu ela se levantando do sofá.
- Minha mãe me educou para ser fiel a quem quer que fosse a minha esposa. - ela parou próxima a porta para olhá-lo.
- São casos diferentes, sabermos que caso fosse em outras circunstâncias esse casamento seria cancelado hoje mesmo. - respondeu. - Não pense que estou sendo ingrata, pois muito pelo contrário, serei grata a vossa mãe e ao senhor pelo resto da minha vida… Mas é a verdade! -
- Alguns casamentos já começaram de um jeito pior do que o nosso… - Isabella arqueou a sobrancelha. - Tudo bem. Acho que não. - ela sorriu. - De qualquer forma, se eles aprenderam a se dar bem e desenvolveram algum tipo de afinidade, nós também podemos tentar. Nada vai apagar o que eu fiz e… -
- Vamos apenas nos esquecer daquela noite. - pediu. - O senhor mal lembra e eu quero esquecer! Bom… vou me retirar. Com licença. - ela saiu fazendo uma meia reverência e saiu da sala.
Esme esperou um tempo até que pudesse começar a preparar Isabella para assumir o trono, ninguém no castelo ficou sabendo de alguma coisa, os três foram bem discretos quanto aquilo, e como ninguém tinha conhecido Jane, ninguém desconfiou de nada. Talvez da lua de mel ter acabado tão cedo, sendo que ela nem tinha começado, mas como Edward era o rei e ele não podia se afastar por muito tempo do castelo, burburinhos não foram criados sobre isso.
Isabella e Edward se viam bem pouco, praticamente apenas os almoços que sua mãe dava e exigia a presença dos dois. Esme sabia do acordo entre eles, mas mesmo assim não podia permitir que levantassem rumores, principalmente após poucos dias de casamento. Durante as festas, reuniões e banquetes que eram oferecidos a noite, os dois também se esbarravam e ninguém percebia um abismo entre eles. Contudo, Esme começa a perceber os olhares que seu filho lançava a Isabella, principalmente quando a menina se encontrava absorta em outras coisas.
Edward sempre elogiava a esposa quando tinha a oportunidade ou quando alguém fazia algum comentário sobre a mesma. E Esme não podia estar mais feliz. Isabella era educada, refinada, tinha excelentes maneiras, ela era totalmente o oposto de sua irmã. A rainha mãe só conseguia pensar que caso Charlie tivesse apresentado a verdadeira Isabella, ela com toda a certeza teria escolhido a menina, e pelo visto seu filho também.
Quase dois meses já tinham se passado desde o casamento e Edward e Isabella não tinham dormido juntos novamente, ela já havia sido coroada, mesmo se sentindo um pouco mal por aquilo, e o povo gostava dela, eles poderiam não saber mais, Isabella estava ajudando-os mais do que qualquer outra pessoa havia conseguido.
Devido a enorme quantidade de chuva no início do verão, o solo estava completamente encharcado e com isso nenhuma plantação conseguia vingar. Ela não esperou por um pedido real e havia conseguido afastar a chuva por um tempo, trazendo um sol forte para que a terra pudesse secar e os fazendeiros pudessem plantar de novo.
- Você está aqui. - Isabella se assustou ao ouvir a voz de Edward entrando no quarto da torre, que Esme havia lhe dado para que pudesse continuar praticando suas magias e ordenando que ninguém subisse em hipótese alguma. - Os criados vão começar a desconfiar do motivo da rainha deles não deixar esse quarto velho. - brincou fazendo a rir enquanto ela observava um pequeno caldeirão preto. - Pensei que já tinha resolvido os problemas das plantações. -
- Já resolvi. - respondeu simplesmente vendo o líquido começar a esquentar.
- Então o que está fazendo? -
- Digamos que é um teste. - explicou estalando os dedos deixando o fundo do caldeirão mais quente.
- De que? O que tem aí? – perguntou espiando dentro do caldeirão e tentando entender o que tinha ali dentro, ao mesmo tempo em que o líquido ferveu igual leite.
- Urina. - respondeu suspirando. Ela pegou um pano e jogou o líquido em um balde para que pudesse descartar depois.
- De quem? - perguntou de novo confuso.
- A minha. - respondeu lavando as mãos e se aproximando dele, que olhava para ela confuso. - Eu estou grávida! - contou.
Edward ficou em silêncio por um tempo, como se não soubesse o que dizer quanto aquilo, na verdade, ele realmente não sabia. Ele havia dormido com Isabella apenas uma única vez, e ele estava bêbado, havia sido o suficiente para ela engravidar?! Bom, pelo jeito sim, já que ela acabara de confirmar isso a ele. Bella ficou parada, encarando-o e tentando entender o que se passava pela cabeça do homem à sua frente. Haviam se passado poucos segundos em que ele estava em silêncio, mas para ela, parecia que eras haviam se passado.
- Fala alguma coisa! - pediu com a voz baixa, e no fundo temendo a reação de seu esposo.
- Eu… Eu já volto! -
De tudo o que ele podia fazer, isso era a última coisa que Bella havia pensado que iria acontecer. Ele simplesmente se virou e deixou-a sozinha no quarto, na torre, enquanto descia as escadas apressado em busca da sua mãe.
Edward percorreu todo o castelo em busca da mulher que havia lhe dado a luz, mas não a encontrava em lugar nenhum. Havia sido informado pelos criados que a rainha havia deixado o castelo e ido até a igreja, mas que não tardaria a voltar. Ele estava nervoso, não sabia o que fazer ou o que falar com a sua esposa, então simplesmente se escondeu no quarto de sua mãe enquanto esperava que ela voltasse.
Bella sentiu um aperto forte na garganta enquanto via ele indo embora. Mil e uma coisas se passavam pela sua cabeça e nenhuma delas eram boas. Ele podia ter entendido, finalmente, o que significava ter um filho de uma bruxa, quer dizer, ter uma filha, e talvez não quisesse isso para ele. Ele podia estar pensando que o bebê não era dele. Eles só haviam dormido juntos uma vez, mas ela jamais havia dividido a cama com outra pessoa, o bebê não tinha outro pai sem ser o Edward.
Ela saiu da sala, trancando a porta atrás de si e desceu as escadas de volta ao quarto. Ela não tinha muito o que fazer a não ser esperar pela resposta de Edward. Quando a rainha mãe voltou ao castelo, a noite já estava caindo, e seu filho continuava dentro de seu quarto a esperando, o que acabou lhe causando um espanto ao vê-lo andando de um lado para o outro.
- O que houve? - perguntou fechando a porta antes que as suas damas de companhia entrassem no quarto.
- Isabella está grávida. - respondeu de uma única vez e sem parar de andar.
- Achei que… Não tinham dividido a cama de novo. -
- E não dividimos! -
- Estais pensando que ela possa ter te traído? -
- Não, claro que não! Isso jamais me passou pela cabeça. -
- Então? - ela perguntou calmamente enquanto entrelaçava os dedos à frente de seu corpo.
- Eu não sei o que falar para ela. Eu estou em… Estado de letargia! -
- Edward. -
- Eu estava bêbado na consumação do casamento, e ela não queria dormir comigo. Tem noção de que essa criança foi gerada em um estupro? - Esme suspirou. - Mesmo que não tenha sido intencional da minha parte! - ele falava desesperado. - Ela pode não querer ficar com o bebê e ela estará mais do que certa, mesmo que seja o herdeiro do trono. - Esme apenas se limitou a balançar a cabeça sorrindo. - Não tem graça mãe. -
- Edward, se ela não quisesse ficar com o bebê. Ela não teria te contado. - Edward parou de andar e encarou a mãe.
- Teria. Por que ela estava… Lá em cima fazendo as coisas dela, e eu perguntei o que ela estava fazendo e ela me contou e… -
- E se ela não quisesse que você soubesse dessa gravidez ela teria mentido! Você não sabia o que ela estava fazendo, e para ela estar fazendo, o que eu suponho que tenha feito, é porque ela já desconfiava há tempos. Ela podia simplesmente ter abortado e ninguém jamais saberia! – ele parou de andar e encarou a mãe.
- O que isso significa? -
- Ela sabe que essa criança não tem culpa do jeito que ela foi gerada. Ela sabe que se fosse em diversas outras circunstâncias aquilo não teria acontecido. Você mesmo disse, você estava bêbado, não lhe tiro a culpa, obviamente, mas de certa forma você tem melhorado bastante desde este dia em questão. Não lhe vi mais bebendo e isso é um grande avanço e você tem ajudado a menina em tudo que pode, tem cuidado dela… Diria até que está gostando dela! - Edward apenas passou as mãos pelo rosto, subindo até os cabelos bagunçados, bagunçando-os mais ainda, e os puxando. - Você está gostando dela! - Esme sorriu amplamente.
- Não sei ao certo se é isso! Mas é um sentimento muito parecido com o que eu sentia por Kate, com um toque mais forte de proteção. -
- Você está gostando dela! - Esme afirmou. - Fala isso para ela. -
- Eu não posso. Não consigo esquecer o que eu fiz! E com certeza ela também não! -
- Filho, vocês dois foram enganados e… -
- Ela mandou eu parar e eu não parei! -
- Eu não sei o que te falar, porque tudo o que eu falar, você vai ficar lembrando disso. -
- Não tem como eu esquecer o que eu fiz, mãe. -
- Já pediu desculpas? Eu sei que isso não muda nada. Mas ela sabe o que o pai dela fez, ela sabe que o maior culpado disso tudo foi o pai dela! Por mais que ela tenha mandado parar, você estava bêbado, e foi embebedado pelo pai dela. Ela sabe que se fosse em outras circunstâncias você não teria feito o que fez. Ela sabe! E você também sabe! Vocês decidiram manter esse casamento para salvar a vida dela. E ela acabou engravidando dessa noite em questão, o que pretende fazer se ela resolver manter a gravidez? Agir com a criança lembrando tanto a mãe quando a criança, que ela foi fruto de um estupro? -
- Claro que não! -
- Então pronto! O que aconteceu, aconteceu. Não pode ser desfeito. Você não pode mudar o que aconteceu. Então esqueça de uma vez essa noite. Vocês decidiram continuar casados. Vai até onde ela está, conversa com ela, pergunta o que ela quer fazer com essa gravidez, pede desculpas sinceras e siga em frente. Você não pode mudar o que fez e ela não pode mudar o que o pai fez. Para que ficar vivendo no passado, se isso só vai fazer mal a vocês dois e a essa criança? - ele apenas suspirou. - Edward, pelo menos você se arrepende, sabe que outro homem sequer se arrependeria! -
- Eu sei. Eu sei… -
- Então pronto! Não tem mais o que ser dito, não por mim e nem para mim! - ela se aproximou e segurou o rosto de Edward entre as mãos. - Vai até a Isabella e conversa com ela! Provavelmente o que você está sentindo, ela está se sentindo mil vezes pior. - ele balançou a cabeça negando. - Edward, ela é uma bruxa, se for uma menina, as chances desse bebê ser uma bruxa é enorme. Então sim, ela está se sentindo mil vezes pior! - ela puxou a cabeça de Edward um pouco para baixo e lhe beijou a testa. - Agora vai! - ela soltou o rosto do filho e ele apenas assentiu.
Edward deixou o quarto da mãe. Ele não sabia se estava mais calmo ou mais nervoso após a conversa com a sua mãe. Ele ia conversar com ela, mesmo que já fosse tão tarde e provavelmente o jantar já estivesse prestes a ser servido. Isabella só podia estar em dois lugares, ou na torre ou em seu quarto, ela raramente era vista em outro lugar durante a noite. Primeiro ele passaria em seu quarto, e caso ela não estivesse lá, a procuraria na torre. Ele parou em frente a grande e grossa porta de madeira escura e deu duas batidas na mesma.
- Sim? - uma criada abriu a porta. - Majestade. - ela fez uma reverência.
- Onde está a rainha? -
- No banho. -
- Peça para todas saírem, eu preciso falar a sós com a minha esposa. -
- Claro senhor. - ela se virou para dentro do quarto e chamou as outras criadas com a mão. Edward notou, que das três que estavam no quarto, nenhuma saiu de dentro do cômodo onde ficava a tina, o que provavelmente significava que Isabella estava sozinha lá dentro.
Ele entrou no quarto e fechou a porta atrás de si. Ele ficou andando de um lado para outro, apertando seus dedos entre si, enquanto decidia se esperava ou se batia na porta para que ela soubesse que ele estava ali. Contudo, ele não teve muito tempo para decidir o que faria, já que não demorou nem dois segundos e ela saiu do banho, coberta por um robe, um pouco fino demais, e que marcava um pouco as suas curvas, já que seu corpo ainda se encontrava um pouco molhado, e com uma toalha em mãos, secando os seus cabelos castanhos. Ela se sobressaltou ao vê-lo ali e ficou encarando-o parada no lugar, estática, enquanto o encarava.
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