- Tira, por favor, os pés do chão. Está frio! - ele pediu sem saber ao certo como começar a falar e ao notar que ela pisava no chão de pedra descalça.
- O que deseja? - perguntou simplesmente enquanto caminhava para cima do tapete, próximo a cama e passando ao seu lado.
- Como você está? -
- Bem! -
- Você está… Está feliz aqui? - questionou quando ela pegou a sua roupa de dormir e se virou de frente para ele, o encarando confusa, devido a pergunta.
- Por que me faz tal pergunta? -
- Porque eu quero saber se você está bem aqui! Se está arrependida por ter decidido manter o casamento e… -
- Eu deixei claro que manteria o casamento para ficar viva. Sabes disso, tanto que disse que não me importaria caso procurasse outra mulher! Mas sim, estou bem e… Não sei, relativamente feliz aqui. Preferia estar em Paris? Provavelmente, mas não posso reclamar. Principalmente depois de tudo o que o senhor e a vossa mãe fizeram por mim. - deu de ombros, e passou por ele de novo, e indo para trás de seu biombo para que pudesse se trocar, e ele simplesmente se virou de costas, para lhe dar privacidade, mesmo que não tivesse como ele ver por trás do mesmo. - Veio aqui apenas por isso? - perguntou ela tirando seu robe e pendurando-o em uma das quinas do biombo.
- O que… O que está planejando fazer? -
- Em relação à? -
- A gravidez! - ela travou um pouco após passar a peça de roupa pela cabeça.
- Nada! O que eu poderia fazer? - respondeu simplesmente e passando os braços pelo tecido também.
- Se… Se quiser tirar a criança, eu não vou me opor! -
- Se eu quisesse tirar, o senhor nem saberia da existência dela. - ele se virou ao ouvir o barulho de um banco ser arrastado no piso de pedra. - Não nego que tenha passado pela minha cabeça essa ideia! Mas eu lhe disse, eu não consigo fazer mal a uma mosca, não será em um bebê indefeso que eu vou conseguir fazer! - deu de ombros pegando a sua escova para desembaraçar o seu cabelo ainda úmido e levemente embaraçado.
- E o que vamos fazer? -
- Ter um filho… - ela deu de ombros e o encarando pelo espelho a sua frente. - Ou filha… E eu já havia deixado claro o que poderia acontecer caso seja uma menina. -
- Eu sei. - ele cruzou os braços de frente para ela. - E eu também já deixei avisado que eu não me importo com o fato de seres uma bruxa, e tampouco me importarei se a nossa filha também for! - ela apenas sorriu de lado.
- Se era isso o que o senhor tinha a me dizer… Ou perguntar. Já tens a vossa resposta. - ele apenas assentiu.
- Tenha um boa noite e qualquer coisa manda me chamar. - ela apenas assentiu. E a contragosto, ele saiu do quarto.
Conversa com ela e peça desculpas, mesmo que seja algo indesculpável, e diz que estais gostando dela! A voz de sua mãe voltou com força a sua cabeça e voltou para dentro do quarto de Isabella.
- Na verdade, eu não vim apenas para isso! Eu vim conversar com você quanto a outro assunto, que de certa forma, engloba a gravidez. -
- Se for o que estou pensando. Eu não quero conversar sobre isso. -
- Eu imagino que não, mas eu preciso. - ele respirou fundo, ele não sabia ao certo o que falar, para ele, ela jamais o perdoaria. - Eu quero pedir perdão pela… Pela aquela noite em questão… - ela começou a balançar a cabeça negando, como se quisesse dizer que não queria falar sobre aquilo. - Eu sei que você não queria dormir comigo, você deixou isso claro no dia seguinte… Eu… Eu estava bêbado, não que isso mude alguma coisa, não que isso me exime da culpa, muito pelo contrário, eu me sinto mal e culpado pelo que eu te fiz, todo santo dia desde aquele. Se eu pudesse esquecer aquilo, apagar aquilo, se eu pudesse apagar aquilo de você, eu já teria feito, mas eu não posso. E no final, o que me resta é esse pedido de perdão, por algo que é imperdoável! -
- Pelo menos o senhor tem noção disso! - ela falou com a voz baixíssima, que ele mal ouviu.
- Eu jamais faria isso com você. - ele se aproximou dela, se agachando ao seu lado. - Eu… Eu jamais faria isso com mulher alguma. Minha… Minha mãe falou diversas vezes, e eu sei que se fosse em outras circunstâncias aquilo jamais teria acontecido e… -
- E eu também sei disso. Se o senhor não estivesse bêbado, aquilo jamais teria acontecido, pelo menos, é o que eu penso. -
- E não teria! Acredite em mim, se eu tivesse sóbrio, aquilo jamais teria acontecido. Eu lhe disse e digo de novo, eu jamais tocaria em uma mulher sem a permissão dela. Sendo minha esposa ou não! - ele passou delicadamente a mão pelos cabelos de Isabella sentindo-os molhados ainda. Edward se levantou e pegou a toalha em cima da cama.
- O que vais fazer? - perguntou ela confusa e ele não respondeu, apenas passou a toalha pelos cabelos da esposa, para seca-los. - Não… Não precisa! -
- Eu estou apenas cuidando de você. Eu não quero que a mãe do meu filho… Ou filha, fique doente. - respondeu simplesmente e ele viu os olhos castanhos de Bella marejando, e ela prontamente passou lá dedos por debaixo de seus olhos. - O que foi? - ele perguntou, se agachando um pouco atrás dela. - Está sentindo algo? -
- Sabe quando foi a última vez que alguém cuidou de mim? - questionou olhando para ele pelo espelho, e sentindo algumas lágrimas escorrendo de seus olhos.
- Eu imagino que tenha sido a muito tempo! - Edward sentiu um aperto na garganta. - Eu… Eu posso te dar um abraço? - ela apenas assentiu. Ele tentou dar um abraço torto, abraçando os seus ombros e ela se levantou, passando os braços pela sua cintura e escondendo o rosto em seu peito.
Edward passou os braços em volta do corpo de Isabella, abraçando-a forte contra o seu corpo, contudo sem machuca-la, e ele sentia o pequeno corpo de Bella, tremendo enquanto ela se debulhava em lágrimas e ele apertou mais ainda o seu abraço e subiu com uma das mãos até os seus cabelos, acariciando o seu couro cabeludo com as pontas dos dedos.
- Me perdoa. - ele pediu de novo, e sem falar nada, ela apenas balançou a cabeça assentindo e Edward beijou o topo da sua cabeça. - Você é maravilhosa! -
- Cala a boca. - mandou ela entre o choro e ele acabou sorrindo. - Desculpa! -
- Não tenho o que desculpar. - ele levantou um pouco a cabeça de Bella, com a mão que acariciava os seus cabelos, e viu seus olhos tomados pelas lágrimas que escorriam por eles, ele passou o polegar pelos olhos de sua esposa, secando as lágrimas e beijou, um beijo demorado e lento, em sua testa. - Vamos comer alguma coisa? - ela negou com a cabeça. - Vamos sim senhora! Estais carregando nosso filho, vai se alimentar muito bem. - ela suspirou, sabia que não podia, e também não queria entrar em uma pequena disputa com ele quando a isso. - E eu também falei para a senhora tirar os pés do chão frio! - ele a pegou no colo, tirando os seus pés do chão. - O verão está chegando, e sabemos que ele pode ser absurdamente quente. Tens que se cuidar em dobro para se proteger do calor e da desidratação. - comentou sentando-a na cama. Ele a deixou em cima da cama e se afastou até a porta. Isabella se levantou um pouco para levantar as cobertas e cobrir as suas pernas com elas. - Peça para trazer o jantar aqui no quarto, por favor. - ele pediu ao valete que estava na porta.
- Sim senhor, com licença. - ele fez uma reverência e Edward voltou a fechar a porta.
- E se eu puder, quero te pedir uma coisa. - ela não falou nada, apenas o encarou, esperando que ele falasse. - Posso? - perguntou apontando para a ponta da cama, ao lado de onde ela estava sentada, e ela apenas assentiu concordando. - Eu não sei se… Se as suas magias e feitiços afetam de alguma forma ao bebê, mas eu queria pedir para evitar o máximo possível fazer algo. -
- Eu… Pelo que eu li, dependendo do feitiço não chega a afetar o bebê. É mais ao contrário. O bebê que afeta a magia e… - ela olhou para ele. - Eu preciso ir até Granada. -
- Nem pensar. É uma viagem longa. -
- Eu preciso ir até a minha casa. -
- Para que Isabella? Seu pai está há dois meses na Inglaterra e… -
- Eu não quero saber de meu pai e tampouco de Jane. - ela o interrompeu. - Meu pai está fora de casa, eu preciso saber se ele deixou o livro de minha mãe para trás. Eu preciso dele! -
- Me fala como é esse livro e eu mando um mensageiro pegar e… -
- É um livro das sombras! - Edward olhou para Isabella, confuso. - É um livro de magia. - ele balançou a cabeça entendendo o que ela tinha dito. - Quer mesmo que alguém pegue aquele livro? -
- Tudo bem. Tem razão. Não quero… Mas também não quero que você enfrente uma viagem de quase dois dias. -
- Vai ser pior se a casa tiver abandonada e alguém invadir e encontrar, ou então os próprios empregados, lembre-se, eu lhe disse que meu pai estava falido, duvido que ele tenha pago os empregados. Eu sei que ir até lá é lembrar que meu pai lhe enganou, só que o senhor também não foi o único, eu também não gosto daquele lugar, mas eu preciso das coisas da minha mãe. -
- Tudo bem. Vou tentar organizar uma viagem rápida antes de o calor forte chegar! Se você não sentir nada. -
- Acredite em mim, essa gravidez vai ocorrer tranquilamente até o bebê nascer… - ela levou as mãos até o ventre e um leve brilho esverdeado surgiu em seus olhos. - Que deve ser por volta de… - ela piscou os olhos, voltando a cor normal deles. - Dezembro! -
- Como sabe disso? - perguntou maravilhado.
- Sou uma bruxa! - ela deu de ombros sorrindo.
- Então… Já sabe se… -
- Ainda não. Estou apenas de dois meses, ele mal aparece ainda. Com o passar do tempo, talvez eu consiga desconfiar do que vai ser. Mas hoje, não, hoje eu não consigo. -
- Então… Como consegue saber que a gravidez vai até dezembro? - ele perguntou se ajeitando na cama e antes que Bella respondesse uma batida soou na porta. - Sim? -
- O jantar, majestade. - a voz soou do lado de fora.
- Entra. - ele mandou e uma criada entrou carregando uma bandeja cheia de comida.
- Onde eu coloco, majestade? -
- Dê-me. - ele pediu e a criada entregou, cuidadosamente e após uma reverência, deixou o quarto.
- Estão planejando alimentar quantas pessoas? - Bella questionou e Edward sorriu enquanto colocava a bandeja na cama, ao lado das pernas de Bella.
- Três! - ela ergueu uma sobrancelha. - Você, o bebê e eu! - respondeu pegando um pedaço do pão já fatiado, e Bella sorriu amplamente. - Então, como sabe que a gravidez vai seguir até dezembro? -
- Todas as pessoas têm energia dentro de si. É o que alimenta a nossa aura. - ela levou uma das mãos, apontando para a própria cabeça. - E eu sinto a energia do bebê, crescendo em mim, e a minha intuição diz que ela vai continuar crescendo até dezembro. E a minha intuição nunca falhou! - deu de ombros de novo, meio que abraçando o seu ventre.
- Até pessoas tipo eu, tem isso? - ela apenas assentiu.
- Todos têm uma aura, mas só bruxas sabem lê-la. -
- E o que é isso? -
- É como se fosse a parte externa da nossa alma, um sopro de ar, por assim dizer. - explicou meio sem jeito e sem usar os termos técnicos, que ela sabia que ele não entenderia. - Ela cobre todo o nosso corpo, mas é mais fácil de ler a parte que fica em volta da nossa cabeça. Ela é composta por cores, e essas cores mudam de acordo com os sentimentos. Os sentimentos dão cores às auras, e as auras expõem esses sentimentos. Mesmo que o senhor não saiba o que sente, o sentimento existe, e ele está representado pela sua aura. E eu consigo lê-la. -
- E o que a minha diz? - perguntou receoso.
- O senhor se sente completamente culpado pelo acontecido… E… - as bochechas de Bella se tornaram rubras.
- E? - instigou ele.
- E o senhor gosta de mim! - respondeu ela, olhando para as suas mãos. - A sua aura… Quase que me cega quando o senhor está perto de mim ou me olhando, de tão forte que ela brilha. - ela acabou soltando um riso fraco.
- Minha mãe falou mais cedo, que eu gostava de você. -
- Sua mãe é filha e irmã de uma bruxa. Ela pode não ter magia, mas ela tem intuição. E a intuição dela não está errada. Pelo visto. - ele colocou o pedaço de pão, que tinha em mãos na bandeja de novo, e se aproximou mais um pouco de Isabella.
- Eu gosto de você. Eu já te disse, você é maravilhosa, não tem como alguém em sã consciência não gostar de você! - ela abaixou a cabeça e ele levou o dedo até o seu queixo fazendo-a levantar a cabeça novamente. - Mas de qualquer forma, eu não vou fazer nada com você, até que você queira e peça! - ele aproximou o rosto do dela, e roçou a ponta do nariz ao dela, antes de beijar a sua testa.
- Já que não vais fazer nada sem que eu peça… Quero pedir uma coisa. - falou sem jeito e com o nariz roçando no dele.
- O que quiser. -
- Dorme aqui comigo essa noite? Eu não quero ficar sozinha! -
- Durmo. - ele respondeu baixo e beijou de novo a sua testa. - Agora, trate de alimentar o nosso bebê. -
Ela não falou mais nada, apenas se pôs a comer, pelo menos um pouco. Não demorou e ela se deu por satisfeita e Edward deixou-a sozinha um pouco apenas para que ele pudesse se trocar. Ele deixou o quarto, levando a bandeja consigo, e prontamente um valete pegou e levou até a cozinha.
Em seu quarto, Edward tomou um banho e ao se vestir de novo, voltou ao quarto de Isabella. Ela continuava deitada na cama, olhando para o teto enquanto distraidamente acariciava a sua barriga por cima da camisola. Ao ouvir a porta se fechar, ela virou minimamente a cabeça, ao ver Edward ali, e um sorriso brincou nos lábios dos dois, enquanto ele se aproximava da cama.
Ele se livrou de suas botas e subiu na cama, deitando de lado e aproximou a cabeça do ventre da esposa, que tirou as mãos dali, sendo substituída pela mão de Edward, que acariciou o seu ventre, antes de beijar o mesmo, duas vezes, antes de deitar a cabeça no travesseiro ao lado da cabeça de Isabella, que também se virou de lado.
Os dois conversaram mais um pouco durante a noite, enquanto Edward fazia um cafuné no couro cabeludo de Isabella, até que ela adormeceu. Ele se aproximou um pouco, beijou a sua testa e aninhou a cabeça próxima a dela, antes de fechar os olhos também.
Os dias foram passando e sem ser Edward e Isabella, apenas Esme sabia da gravidez, ninguém tinha contado nada a ninguém. Por mais que Isabella tivesse a convicção de que o bebê nasceria em dezembro e muito bem, Esme continuava a dizer que uma rainha só anunciava a gravidez quando ela já era evidente, e Bella apenas acatou a fala da sogra.
Edward conseguiu marcar uns dias para ir com Isabella até Granada, até a casa que Bella havia nascido, mesmo sobre protestos de sua mãe, que pensava que a visita iria fazer mal à menina, mas ela insistia em ir. Ela precisava das coisas da mãe. Ele não se sentiu bem ali, era impossível se esquecer das vezes que havia sido feito de idiota por Charlie durante um ano, mas ele sabia que os sentimentos de Isabella dentro daquela casa eram piores.
A casa estava vazia e completamente depredada. Ambos já esperavam por isso, Charlie havia fugido sem pagar os empregados, e eles pegaram tudo o que pudesse ser vendido e foram embora. Contudo, Bella esperava que os livros não tivessem sido levados, e o suspiro ao ver a biblioteca com os livros intactos, foi um grande suspiro de alívio. De qualquer forma foi difícil procurar pelo livro de sua mãe, a biblioteca estava tão empoeirada, que a cada livro mexido era uma espirrada que Isabella dava, e mesmo sem saber ao certo o que procurar, Edward ajudou a esposa a procurar pelo tal livro.
Ele foi encontrado em um fundo falso na lareira, que estava coberta por teias de aranha. Bella sabia que ele estava escondido na biblioteca, mas nunca soube exatamente de onde. Até porque era a única prova concreta que Charlie tinha contra ela e com a sua mãe, ele não iria deixar a vista de todos os criados.
Com tudo o que Bella havia encontrado de sua mãe, eles foram embora de casa no mesmo dia. Era melhor passar a noite em uma hospedaria do que aquela casa coberta por teias de aranha e poeira. Era ruim para Edward pensar que o seu filho um dia herdaria o título de duque de Granada, já que ele tinha revogado o título de Charlie, depois do que ele havia feito e até o momento não tinha nenhum outro duque a vista, pelo menos não tinha até Isabella aparecer grávida.
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