Capitulo Um: Mãe.
Pov. Bella.
Toronto – Canadá.
Mãe: sf. 1. Mulher ou qualquer fêmea que deu à luz um ou mais filhos. 2. Fonte, origem.
Afinal, o que é ser mãe? Biologicamente falando ser mãe é uma característica de fêmeas que tem a capacidade de gerar um novo ser-vivo, seja em seu ventre ou através de ovos, no entanto todos nós sabemos que o conceito de Ser Mãe vai muito além do que a biologia pode nos explicar. Minha mãe dizia que Ser mãe é entregar-se, parafraseando um poeta que ela nunca soube o nome, ser mãe é padecer no paraíso. As responsabilidades de uma mãe são muito grandes por isso recebem uma pequena ajuda da natureza através do Instinto Materno.
Seja na raça humana ou entre os animais, ser mãe também significa a sobrevivência de uma espécie, a continuidade da vida. Graças às maravilhas da evolução todas as espécies encontraram maneiras de se adaptarem e evoluírem ao longo de milhares de anos, e continuamos evoluindo. A maternidade é uma maneira da mulher se integrar definitivamente com seu filho gerado a fim de proporcionar a ele condições adequadas para a sobrevivência além de oferecer educação e prepará-lo para a vida. Mas o que é uma mãe?
Segundo um sábio uma mãe é uma fonte doadora de vida, uma mãe é uma floresta em cujo coração escondeu um segredo tão antigo como as montanhas, um segredo de renovação e tal qual a natureza que se renova a cada dia, a mãe resurge mais perfeita, mais bela, mais mãe.
Minha mãe também dizia que ser mãe não é apenas trocar fraldas, aquecer mamadeiras ou lutar com as papinhas. Isso é apenas o começo; é nesse momento que uma mãe se dá conta de que é capaz de fazer qualquer coisa pelo seu filho. Que ser mãe significa mudar a sua vida, seu tempo, seu pensamento, dar todo o seu coração, seu amor para levar seus filhos adiante e ensiná-los a viver. Que ser mãe significa ter uma razão de ser para o resto da vida; querer aproveitar e viver ao máximo cada momento. Ter sentimentos contraditórios ao ver os filhos crescendo, sentindo alegria e saudade à medida que avançam ao longo da vida.
E que se por acaso existe um amor real e sincero é o amor de mãe. É eterno e infinito. Na realidade, ser mãe significa seguir os passos desses pequenos professores, seus filhos, até que se tornem adultos. Mesmo sem saber, eles nos ensinam a amar incondicionalmente. Uma mãe sempre pensa por dois: por ela e pelos seus filhos. Uma mãe se sente afortunada, porque sabe que eles são o seu maior tesouro. Minha mãe me ensinou tudo isso.
E ela também me ensinou que a maternidade não traz só alegrias, mas também muito choro e aflição. Muitas noites sem dormir, preocupações sem fim, correr atrás dos filhos, inventar mil maneiras de camuflar verduras e peixes, suportar e tolerar brigas com toda a paciência do mundo. Ensinou-me também que dói muito para uma mãe dizer não aos seus filhos, desafia-los, vê-los cair, abandonar seus sonhos ou desperdiçar suas capacidades. Mas ela também quer que eles aprendam a importância dos limites. Uma mãe carrega uma carga muito pesada sobre seus ombros. Sente-se culpada e responsável pelos problemas dos filhos. Provavelmente se sacrifica seus objetivos, aspirações ou a sua vida por eles, o que faz das mães as pessoas mais generosas do mundo. Quando seus filhos acordam à noite com febre, quando querem enfrentar o mundo e superar todos os obstáculos, incentivá-los a seguir em frente e, acima de tudo protegê-los, é o que faz das mães o maior exemplo de coragem e amor. E também me ensinou que as mães são as pessoas mais fortes do mundo, pois sua fraqueza é seu ponto forte e isso incendea a cada dia o seu coração e a sua vontade de viver.
Eu respirei fundo, sentada em uma cafeteria no centro, em frente a uma clinica de aborto, tudo o que minha mãe me ensinara passava pela minha cabeça enquanto eu olhava pela janela molhada pela chuva forte que caia e com uma xícara de café quente em mãos e o cartão da clinica, que minha amiga havia me entregado ao meu lado.
Eu estava nervosa e com dor de cabeça de tanto pensar o que eu faria agora da minha vida. Minha mãe nunca me deixou perceber que era difícil me criar sozinha, já que o infeliz de meu pai foi embora quando soube que ela estava grávida e nunca mais voltou, mas mesmo ela fazendo o possível para que eu não notasse eu sabia que era difícil, eu sabia como era difícil e eu não sei se sabia que conseguiria passar por isso ou se ao menos queria.
E eu também sabia que se eu contasse para minha mãe, ela provavelmente iria pensar em me matar, principalmente depois de tudo, depois de tudo que nós conversamos sobre sexo, depois dela me ter feito prometer que me cuidaria com todo o cuidado do mundo.
Eu não era mais nenhuma criança, não tenho a idade que ela tinha quando engravidou de mim. Já tinha vinte e um anos, mas ainda não possuía nenhuma estabilidade financeira, eu ainda morava com minha mãe enquanto cursava a faculdade de direito. Eu estagiava em um escritório, mas sem remuneração até eu completar às seiscentas horas de estagio não remunerado. Obviamente que se eu morasse sozinha eu teria um trabalho que me desse o mínimo de estabilidade financeira, porém minha mãe não me deixava trabalhar, ela queria que eu fizesse o que ela não teve a chance de fazer, se formar em alguma universidade, pelo menos até eu ter quinze anos.
Minha mãe não teve ninguém em se apoiar, já que uma semana antes dela descobrir que estava me esperando, perdeu minha avó devido a um câncer do colo do útero e ela teve que se virar sozinha. Mas eu não sei se eu teria a capacidade de conseguir fazer isso, mesmo eu tendo ainda a minha mãe.
Eu travava uma enorme batalha dentro de minha cabeça e meu coração, eu sabia que aborto era algo errado e algo contra os planos de Deus, mas eu não havia planejado engravidar, eu estava namorando há pouco tempo com o Mike e aquele infeliz me enganara, eu disse varias vezes que ainda não estava pronta para transar sem camisinha e ele sempre me prometera que estava colocando a camisinha, e eu, tonta, acreditava, até porque eu o via pegando e a abrindo, mas ele sempre me distraia enquanto colocava, ou melhor, enquanto fingia que colocava.
E quando os exames ficaram prontos, sim exames, além dos cinco testes de farmácia que eu havia feito eu fiz dois exames de sangue para comprovar, o primeiro para comprovar os testes da farmácia e o segundo para comprovar o primeiro teste de sangue. E sim depois de todos eles comprovaram o meu maior temor eu fui procurar por Mike em seu apartamento, e como se não pudesse ficar pior, eu o encontrei com a ex-namorada montando nele, e eu não sabia se era o enjoo devido à gravidez ou aquela cena, mas eu acabei vomitando no chão de seu quarto.
Esperei que ele se vestisse e contei a ele, até porque eu não havia feito o bebê sozinho, mas quem foi que disse que ele se importou? Eu não fiquei conversando com ele nem por cinco minutos, minha cabeça doía e eu ainda estava enjoada, eu não queria ficar insistindo em um assunto, o qual eu saberia que não daria em nada, eu sabia que ele não iria querer assumir a criança de jeito nenhum, ao contrario de meu pai, esse aqui teve a coragem de falar na minha cara e não fugir da cidade.
Apoiei meus cotovelos na mesa e levei minha cabeça até as minhas mãos, céus o que eu faria? Eu precisava tanto da minha mãe agora, mas a mesma está viajando por Portugal com o namorado, que por ironia do destino era meu professor de biologia no ensino médio. Eu sempre fora ruim em biologia e quando achei que havia me livrado dele, mamãe chega a casa e diz: Minha filha, esse é o meu novo namorado. Foi um pesadelo, ela poderia ter começado a namorar ele antes de eu ter me formado, porque assim eu tentaria pegar as respostas das provas dele.
Tirei as mãos do rosto subindo com elas pelo meu cabelo e o prendendo em um coque bem desleixado e mal feito e deixei as minhas mãos caírem na mesa em volta da xícara de café, levantei-a e bebi mais um gole do café que estava esfriando e voltei a repousa-la na mesa, ainda com minhas mãos a sua volta. As letras vermelhas do cartão da clinica pareciam brilhar como se quisesse atrair a minha atenção para que eu me decidisse logo e volta e meia meus olhos eram atraídos para clinica do outro lado da rua.
Minhas mãos tremiam em volta da xícara e eu a apertei com mais força, Deus o que eu faço, por favor, me dá uma luz. Eu implorava mentalmente desesperada. O barulho do sininho que ficava em cima da porta me tirou de meu transe e eu olhei em volta, a cafeteria estava bem vazia apenas eu que estava ali e mais um casal de idosos mais aos fundos da cafeteria. Olhei para a porta e vi uma garotinha entrando na cafeteria, usando um vestido azul com listras brancas bem fininhas, meia-calça preta quase transparente e galochas amarelas e com uma touca na cabeça que cobria uma boa parte de seus cabelos, porém os cachinhos que ficam para fora se dava para notar que ele era arruivado.
Como que instantaneamente meus olhos foram atraídos mais uma vez para o cartão e para clinica. E inconscientemente eu não pude deixar de pensar, será que o bebê que eu estou esperando seria uma menina ou menino? Será que puxaria mais a mim ou a Mike? Será que... Suspirei. Será que eu vou fazer isso e me arrepender ou que eu não vou fazer e vou me arrepender? É muito “serás” e minha cabeça estava quase explodindo.
— Valentina Cullen. – uma voz masculina, já conhecida por mim, que vinha da porta, eu tirei os olhos do cartão e encarei a porta. Era Edward, um advogado do escritório que eu trabalhava que acabara de entrar. – Já pedi para não soltar a minha mão. - Ele entrou sozinho na cafeteria, colocando o guarda-chuva molhado na lata para guarda chuvas.
— Desculpa papai. – papai? Eu não fazia a mínima ideia que ele tinha uma filha. Ele deu uma olhada pela cafeteria procurando por uma mesa e acabou me vendo, será que se eu desviar os olhos, fingindo que não o tinha visto ele não viria falar comigo? Eu não estava muito a fim de conversar com alguém.
— Oi Bella. – ele disse parando ao meu lado e não, nem fingindo que eu não o tinha visto, ele veio falar comigo.
— Oi Edward. – continuei olhando para a minha xícara de café e apenas mexi com a minha mão. Ele não saiu do meu lado enquanto o encarei, ele estava com parado a minha frente com a menina parada a sua frente e ele estava com as mãos em seus ombros e encarava fixamente a minha mesa, o cartão da clinica para ser mais exata. – Então... – puxei o cartão o guardando dentro do bolso da minha calça. – Quem é essa? – perguntei apontando para a criança.
— Ah, essa é a minha filha. Valentina. – respondeu. – Tina, diga oi para a amiga do papai, a Bella. –
— Oi. – ela balançou a mãozinha pequena e eu a olhei por uns segundos, não dava para negar que a ela era filha de Edward, era a sua copia perfeita. Cabelos arruivados, olhos esverdeados e era bem linda.
— Oi fofinha. –
— Bella se importa em dar uma olhada nela enquanto eu compro o lanche dela? –
— Não, claro que não, tudo bem. –
— Filha, se comporte enquanto o papai já volta tudo bem? – pediu colocando-a na cadeira vazia ao meu lado.
— Tudo bem, papai. –
— Quer o que? –
— Bolo de chocolate e coca cola. –
— Tudo bem, e você Bella, quer alguma coisa? –
— Não Edward, obrigada. – ele assentiu e foi para o balcão.
— De onde conhece o papai? – perguntou me olhando.
— Eu trabalho com ele, fofinha, no escritório de advocacia. – expliquei a olhando também e sentindo o cartão no bolso da minha calça pesar.
Será que o bebê que eu estou esperando é uma menina, uma menina bem fofa igual a esta, que talvez goste de balé e de ursos de pelúcia, ou um menino fofo que vai querer praticar algum esporte e brincar com carrinhos? Inconscientemente levei minhas mãos até o meu ventre.
— Muito bem senhoritas. – Edward se aproximou com uma bandeja em mãos. – Um belo pedaço de bolo de chocolate e uma coca cola para a princesa mais linda do mundo. – ele colocou o prato de bolo e a lata de refrigerante, já aberta com o canudinho dentro na frente da filha. – Aproveita fofinha, você não vai comer tanto doce assim de novo tão cedo. – ele apertou de leve o nariz da filha o fazendo rir. – Um café para a melhor estagiaria que a firma conseguiu arranjar e um café para mim também. – ele colocou um copo de café a minha frente e se sentou na cadeira ao lado da filha com outro copo a sua frente.
— Obrigada, Edward... Mas eu disse que não precisava. –
— O seu já está frio. – deu de ombros. – Isabella, está tudo bem? – perguntou bebendo um gole de seu café.
— Sim, por quê? –
— Não foi trabalhar hoje, ligou para Ângela pedindo para ela te cobrir. –
— Ah isso... Desculpe-me se ela lhe passou alguma informação errada, é que eu precisei resolver um problema pessoal e não deu para avisar antes. – dei de ombros, é Edward era praticamente meu chefe e eu avisei a todos que não iria hoje, menos a ele.
— Está tudo bem... – bebeu outro gole do café. – Resolveu? –
— Parcialmente. – bebi um gole do meu café novo que ele havia trazido e mudei de assunto. – Não sabia que era casado. Você é novo demais para ser casado. –
— Você também disse que eu era novo demais para estar na posição que estou, lembra? – perguntou sorrindo se referindo ao meu erro grotesco do meu primeiro dia de estagio, onde eu o confundi com outro estagiário.
— Lembro. –
— Mas não sou casado. Ela se foi poucas semanas depois que Valentina nasceu. – o encarei, a vários sentidos de ir embora, qual deles ele se referia. – Nós abandonou. – falou rapidamente para a filha não ouvir enquanto levava o copo de café à boca novamente.
— Entendi. – bebi o resto do café. – Edward foi bom reencontrar você, mas já tenho que ir. – falei puxando me pondo de pé e puxando o meu celular de cima da mesa. – Fofinha foi bom conhecer você. – disse falando com a filha do meu chefe que havia acabado de colocar um enorme pedaço de bolo de chocolate na boca.
— Foi bom te conhecer também. – disse depois de mastiga-lo e engoli-lo.
— Tchau Edward. – falei pegando meu café e deixando a cafeteria, puxando o capuz do meu casaco por sobre a minha cabeça, para proteger meu cabelo da chuva e comecei o meu caminho até a estação de trem.
— Isabella. – me virei vendo que Edward estava parado atrás de mim com o guarda chuva aberto, eu mal tinha dado cinco passos. – Não faz isso. –
— Isso o que? –
— Você sabe... Abortar seu bebê. –
— Por que você acha que... –
— Eu vi o tipo de cartão que tinha sobre a mesa, e além de eu ter visto eu sei muito bem que tipo ele é. A mãe de Valentina também tinha um desses quando me disse sobre a gravidez. –
— Edward, isso é algo que não está em meu alcance. O que você quer que eu faça? –
— Comece falando com o pai do bebê. –
— Acha que eu já não falei? Ele não está nem ai, e, além disso, ele ainda me traia com a ex-namorada. Acha mesmo que ele quer saber disso? Não, ele não quer saber, eu estou sozinha nessa. –
— Você tem a sua mãe. –
— Você não entende. – balancei a cabeça. – Eu cresci vendo a minha mãe me criar sozinha e tendo dificuldade devido a isso e ainda engolir os sapos que jogavam nela porque era uma mãe solteira. E quando ela estava perto de mim ela fazia o possível para que eu não percebesse, mas mesmo assim eu percebia. Acha que alguém deveria crescer no meio disso? –
— Você cresceu, está viva, bem e muito bem educada, por que acha que isso não daria certo com o seu bebê. –
— Edward, eu não tenho nada. Eu moro com a minha mãe e o namorado dela, estudo a noite e faço estágio não remunerado o dia inteiro. Como eu posso cuidar de um bebê? –
— Do mesmo jeito que eu crio a Valentina. –
— Edward, sua filha não deve ter mais de três anos, e você já se havia se formado e já trabalhava recebendo e você não precisou engravidar. – disse o obvio.
— Não, mas eu fiquei ao lado dela do dia que eu soube até o dia que ela foi embora e depois disso eu fiquei sozinho. Se eu consegui você também consegue. – ele disse completamente seco dentro debaixo do guarda chuva e eu já me encontrava quase toda ensopada pela chuva. – Pense em tudo que você pode perder fazendo isso. Eu não nego que quando fiquei sabendo da gravidez da Tina, o aborto foi uma opção forte em minha cabeça, mas agora, parando para pensar, eu vejo que fiz a escolha certa, nada mais no mundo me dá tanta alegria quando ela. E quanto à mãe dela, acredite que ela não faz falta, porque eu faço o possível para ela não pensar nisso, você pode fazer a mesma coisa. –
— Acontece que você é mais forte do que eu, Edward. –
— Então conte comigo. – disse se aproximando mais ainda e colocando o guarda chuva sobre a minha cabeça também.
— Como? – o encarei confusa.
— Conta comigo. Ele ou ela não tem culpa por ter um merda como pai, então eu faço o papel dele. –
— Não, Edward... Você não pode fazer isso, você não pode assumir responsabilidade por isso. –
— Eu não vou deixar você abortar esse bebê. –
— E você vai fazer o que? Seguir-me para tudo quanto é canto? –
— Exatamente, se preciso for. Esse bebê não tem culpa. –
— E nem eu, eu achava que aquele infeliz colocava a porra da camisinha. –
— Então, o infeliz não merece ter a felicidade de ter um filho. Pensa que ele está vindo para mudar a sua vida. –
— Para melhor ou para pior? –
— Um filho sempre muda a vida de alguém para a melhor, acredite em mim. – suspirei passando as mãos pelo rosto. – Quando será a sua primeira consulta? –
— Segunda, às 13h. –
— Já fez os exames? –
— A obstetra mandou fazer depois que o resultado do exame de sangue ficou pronto. Vai sair segunda. –
— Ótimo, eu vou com você. –
— Não precisa Edward. –
— Precisa sim... Vou lhe ajudar até o final. – ele me olhava fixamente em meus olhos, e eu desviei os olhos, olhando para o chão. – Que tal começarmos por você sair da chuva e tirar essas roupas molhadas? –
— Tudo bem, eu vou para casa. –
— Vou pegar a Valentina e te levo. –
— Não precisa, estou toda molhada, não vou molhar o banco de seu carro. –
— Bancos se molham e se secam, principalmente se você tem uma menina de três anos no banco de trás. Segure. – ele estendeu o guarda chuva para mim e eu o segurei e ele entrou na cafeteria correndo e voltou com a filha nos braços e veio para debaixo do guarda chuva.
— Nós já vamos papai? – ela perguntou para o pai.
— Sim, bebê, mas antes eu vou deixar a Bella em casa, tudo bem? – ela assentiu fazendo seus cachinhos sacudirem.
Edward enfiou a mão no bolso de sua calça, pegando a chave e apertando para destravar o alarme, e abriu a boca. Ele colocou a filha na cadeirinha e a prendeu bem, fechando a porta e eu entreguei novamente o guarda chuva para ele. Edward praticamente me puxou para dar a volta no carro e abriu a porta do banco do carona e eu entrei, abaixando o capuz, descobrindo meus cabelos, ele deu a volta e entrou no carro, colocando o guarda chuva atrás do banco do carona e me encarou antes de ligar o carro.
— Para onde senhorita? –
— 788 Rayner Court. –
— Milton? – assenti. – Vizinha. –
— Você não mora em Milton. – afirmei.
— Não, moro em Oarkville. – o encarei.
— E desde quando Oarkville é perto de Milton? –
— Meia hora de viagem, é perto, são apenas vinte e oito quilômetros. –
— E isso é perto? – ele me encarou por uns segundos.
— É. – respondeu ligando o carro.
Nós estávamos bem no centro de Toronto, portanto o caminho daqui do centro até a minha casa seria de uma hora e meia, e da minha casa para a de Edward mais meia hora, ou seja, ele ficaria duas horas dirigindo ao invés de ir direto para a sua casa e dirigir meia hora a menos, mas não, ele quer dirigir. O caminho até a minha casa foi quase todo em silencio, apenas com o radio ligado, tocando algumas musicas bem baixinhas, volta e meia meus olhos eram atraídos para o espelho, vendo a menininha no banco de trás que dormia tranquilamente.
E a cada vez que eu a olhava mais inconscientemente meus braços abraçavam a minha barriga. A chuva havia aumentado, estava quase impossível de se enxergar as ruas a nossa frente, mas Edward dirigia com devagar e com calma, parecia que ele não ligava para a chuva que caia.
Edward parou em frente a minha casa, Valentina ainda dormia tranquilamente em sua cadeirinha e desceu do carro, pegando o guarda chuva. Enquanto ele pegava o guarda chuva e dava a volta no quarto, eu dei uma olhada para a casa de minha mãe, eu amava essa casa, eu morava nela desde quando eu me conhecia por gente e mesmo depois de tantos anos ela continua do jeitinho que estava. A fachada de tijolos claros, de dois andares, com varias janelas, minha mãe gostava que a luz do sol entrasse por ela toda. Uma pequena varanda, onde tinha uma pequena mesinha com duas cadeiras de madeira e o jardim com a grama bem aparado, até porque vieram cortar a grama anteontem e o pequeno canteiro de flores mortas dela, porque se tem uma coisa que minha mãe nunca conseguiu fazer foi deixar algo vivo. Ela consegue matar plantas, peixinhos e até o meu porquinho da índia ela conseguiu matar, até hoje eu não sabia como eu estava viva.
Edward abriu a porta e eu sai do carro e ele me acompanhou até a porta, e eu enfiei a mão no bolso da minha calça apanhando a minha chave.
— Obrigada pela carona, mesmo não tendo sido preciso. – agradeci.
— Não se preocupe. E não se esqueça da consulta na segunda. –
— Não vou. Não se preocupe. – destranquei a porta de casa. – Vai lá, não pode deixar uma criança sozinha no carro. –
— Vou logo antes que ela acorde. Até segunda, Bella. –
— Até Edward. –
— Conte a sua mãe. –
— Assim que ela voltar de Portugal. Isso não é algo para se contar por telefone. – ele assentiu e voltou para o seu carro e assim que o ele saiu, eu entrei em casa, voltando a tranca-la.
Eu estava com frio e toda molhada, precisava de um banho quente e algo quente no estomago e uma boa noite de sono, subi as escadas indo para o meu quarto, abri a porta do meu quarto totalmente claro, um perfeito contraste com o clima nublado lá de fora. Suas paredes eram rosa bem clara, quase branca, e carpete da mesma cor, uma cama de casal com a manta um pouco mais escura que as o resto do quarto, uma pequena cômoda branca com uma televisão presa na parede e próxima à janela, duas estantes com livros e porta-retratos e entre elas, embaixo da janela um pequeno sofá e uma pequena cadeira ali perto.
Minha cor favorita nunca fora o rosa, mas minha mãe havia montado esse quarto e eu não quis muda-lo para não chatea-la, era seu maior talento, decoração de interiores, tanto que ela decorou a casa inteira todo de novo depois que Phil veio morar conosco. Ela gostava tanto de decoração que quando eu tinha quinze anos ela começou a faculdade de design de interiores e trabalha mais como freelancer, trabalho mais por indicações de colegas, mas de vez em quando pegava um trabalho maior.
Caminhei até a minha cômoda, pegando uma calça de moletom, uma blusa de alças branca e um par de meias, além de um par de lingeries. Peguei também um casaco seco e minhas pantufas e caminhei para o banheiro, tirei minhas roupas molhadas, deixando-a em um monte perto da porta e entrei no meu banheiro, que não era bem meu, mas como eu era a única que usava, ele era meu, até porque minha mãe tinha o banheiro dela dentro do quarto, porém como quase não recebíamos visitas, eu podia dizer que este banheiro era meu.
Entrei no Box de vidro e liguei o chuveiro, sentindo a água quente cair sobre o meu corpo, e voltei a desliga-lo após estar totalmente molhada. Peguei meu xampu favorito com o aroma de morangos silvestres e lavei meu cabelo. O meu banheiro não era muito grande, mas sendo só para mim já era grande até demais, ao lado do Box de vidro uma banheira mediana de branca e ao lado uma bancada com duas pias e um espelho que cobria uma boa parte da parede, e a privada ficava dentro de um pequeno cubículo, perto da porta. Ao terminar meu banho, tirei o excesso de água de meus cabelos e enrolei em uma toalha neles e me sequei, me vestindo. Precisei sentar na pequena mureta que dividia o Box da banheira, e que até servia de banquinho dentro do Box, para calçar minhas meias e minhas pantufas. Apanhei dentro da gaveta o secador e sequei meu cabelo, se tinha uma coisa que eu odiava era ficar com o cabelo molhado, e após seca-lo bem, o dividi ao meio, fazendo duas tranças laterais e peguei minha roupa do chão e desci com as roupas úmidas em uma mão e o meu casaco seco em outra.
Desci e fui direto para a área de serviço, colocando minhas roupas para lavar e de lá para a cozinha, um dos meus cantos favoritos da casa, isso se não for o melhor. Eu sempre gostei de cozinhar, e sempre fiquei bem feliz por minha mãe e Phil me deixarem testar comidas novas quase todos os dias, e eles sempre eram as minhas cobaias e nunca reclamavam. Parei perto da bancada de mármore preto e coloquei meu casaco, fechando o zíper e erguendo as mangas até o punho. A nossa cozinha era dividida em três áreas, a sala de jantar, a cozinha que ficava no meio e a despensa.
Tinha também uma enorme bancada de mármore perto em formato que L, que ia até a parede da dispensa, com quatro bancos de almofadas verdes embaixo, em frente a pia e na parede da dispensa também tinha uma geladeira de inox. Caminhei até o fogão, pegando a chaleira e enchendo com água e colocando-a para ferver e pegando no armário em perto do fogão a caixinha de chá de erva doce e minha caneca do Mike Wazowski, do filme animado Monstros S.A, por se tinha uma coisa que eu gostava tanto quanto cozinhar, essa coisa era colecionar canecas e essa era a minha favorita. Era grande, redonda, verde tipo guacamole, com um olho gigante, dois chifres pequenos perto da borda e um sorriso. Apanhei um dos saquinhos de chá e coloquei dentro da caneca e enquanto eu esperava a água ferver, meu celular tocou em cima da bancada, caminhei até lá e vi que era uma mensagem de Edward, suspirei ao abri-la.
‘De: Edward Cullen
Para: Bella Swan
Está em casa, não está? Diz que eu deixei você ai e você ficou. E diz também que você mudou de ideia. ’
Suspirei e respondi a mensagem.
‘De: Bella Swan
Para: Edward Cullen
Sim. Eu estou em casa, na minha cozinha para ser mais exata. Não, depois que você me deixou em casa eu não sai, apenas tomei um banho e coloquei uma roupa quente e agora estou fazendo um pouco de chá. Quer? E sim, por enquanto eu mudei de ideia. ’
Enviei e coloquei o telefone na bancada de novo e fui desligar a chaleira. Com cuidado, até porque eu sou bem estabanada, coloquei a água dentro da caneca e voltei a repousar a chaleira no fogão e peguei minha caneca e meu celular e fui para a varanda, sentei-me em uma das cadeiras de madeira que tinham ali, e coloquei os dois em cima da pequena mesa redonda, abaixei as mangas do meu casaco, e puxei também o capuz por sobre a minha cabeça. Foi só eu me acomodar na cadeira, encostadas na parede de casa e apoiar os meus pés na beirada da cadeira, e pegar minha xícara para beber um gole do meu chá, que meu celular voltou a tocar. Outra mensagem de Edward.
‘De: Edward Cullen
Para: Bella Swan
Ótimo. Não obrigado, também estou tomando chá aqui enquanto aturo uma maratona de Bob Esponja. Qualquer coisa pode me ligar, até porque você está ai sozinha, se precisar de alguma coisa, ou sentir alguma coisa me liga, a hora que for. Até segunda. ’
‘De: Edward Cullen
Para: Bella Swan.
Tudo bem pode deixar… Vai lá com o seu Bob Esponja. Até segunda. ‘
Enviei a mensagem e coloquei o telefone de volta na mesa e finalmente pude beber um gole do café enquanto fica encarando a minha rua e a chuva que caia incansavelmente. Algum tempo depois, e depois de duas xícaras de chá, a noite começou a cair e o tempo começou a esfriar mais ainda, eu recolhi as minhas coisas e segui para dentro de casa, trancando a porta e ligando o alarme, até porque eu não tinha mais nada para fazer e iria logo para a cama.
Lavei minha caneca e subi para o meu quarto, ligando o aquecedor e enquanto o quarto esquentava, eu escovava os dentes e tirava o meu casaco, a blusa de alças e meu sutiã, colocando uma blusa de mangas compridas e voltando para o quarto, já bem mais quentinho. Fechei as cortinas e coloquei meu celular para carregar e deitei-me na cama, e dessa vez, ao contrario dos dias anteriores eu dormir mais rápido e sem pesadelos.
O final de semana fora bem tranquilo, Edward mandara milhares de mensagens perguntando se eu estava bem e se eu precisava de alguma coisa, e sim, eu estava muito bem e não precisava de nada. Mamãe também ligou querendo saber como eu estava e dizendo que voltava em uma semana. Por incrível que pareça ela percebeu que tinha algo de errado comigo, mas eu disse que quando ela chegasse nós iríamos conversar com calma e que não queria conversar sobre isso pelo telefone e ela aceitou bem.
Na segunda feira, eu acordei cedo, tinha que estar no escritório às nove horas. Tomei um banho quente e me vesti coloquei uma calça jeans justa, uma blusa de mangas compridas e um pouco grossa, branca e um casaco também um pouco grosso e vesti minhas botas tipo galochas pretas, já que a chuva não passava nem por um milagre. Depois de tomar café e escovar meus dentes, desfiz minhas tranças e penteie meu cabelo e coloquei em volta do meu pescoço um cachecol cor de vinho e peguei minha bolsa amarela, colocando minha agenda, meu estojo pequeno e o caderno que eu usava na faculdade, meu celular e meu carregador também. Peguei meu Vade-mécum, que teria que ser levado na mão mesmo, porque ele era enorme e pesado, e se eu o colocasse dentro da bolsa, ficaria pesado para cacete. Peguei também meu guarda chuva e minhas chaves e sai de casa, tranquei a porta e guardei as chaves na bolsa e abri o guarda chuva e me virei para descer os três degraus para ir para o quintal e seguir para a estação de trem quando vi Edward parado, encostado em seu carro, com o guarda chuva aberto parado no meio fio da minha casa.
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