Pov. Bella.
Toronto – Canadá.
Oito meses depois.
Eu não conseguia
acreditar que já havia se passado oito meses desde a viagem para a Disney.
Finalmente abril chegou e com ela duas coisas importantes para mim: Aniversário
de um ano dos meus bebês fofos e eu finalmente podia voltar ao trabalho. A
verdade é que eu estava mais animada para voltar a trabalhar do que para outra
coisa.
A verdade é que hoje
era o aniversário dos meus bebês. E como o dia estava bem chuvoso, a festa
seria na casa de Esme e era ela quem estava organizando tudo e no fundo isso me
assustava. Eu tinha medo de quando Esme ficava incumbida de organizar as festas
dessas crianças. Sophia e Valentina tinham dormido na casa da avó para ajuda-la
com a festa, mesmo todos nós sabendo que ela não precisava de ajuda, e as
trigêmeas dormiram na casa de minha mãe, os únicos que ficaram em casa eram os
gêmeos, Harry e Olivia.
As crianças já estavam
prontas, Edward também e estava encerrando uma ligação de trabalho enquanto eu
terminava de me vestir. Coloquei um vestido azul claro, com listras azuis, que
acabava na altura de meus joelhos e de mangas compridas. Ele fechava na frente
com botões brancos. Eu estava em frente ao espelho do quarto fechando os botões
do vestido quando Edward entrou no quarto, desligando o telefone e colocando-o
em cima da cômoda e vindo para perto de mim.
- Resolveu? –
questionei quando ele parou atrás de mim, enlançando minha cintura com seus
braços enquanto encostava a cabeça em meu ombro enquanto eu ajeitava a gola do
vestido.
- Resolvi. – e ele
cheirou o meu pescoço. – E eu tenho uma proposta para te fazer... –
- Não dá tempo para
uma rapidinha. – apontei.
- Não é isso... –
respondeu sorrindo. – É que segunda você volta a trabalhar... –
- Graças a Deus. – brinquei
e ele sorriu. – Não vai me pedir para ficar em casa, vai? –
- Claro que não. – se
apressou em responder. – É que você ficou quase dois anos fora do escritório,
devido à licença e a gestação dos gêmeos. E a minha proposta é que você volte
aos poucos. – ele falava e eu o encarava pelo espelho esperando pelo que ele
tinha para dizer. – E bom, nós estamos começando com um grupo novo de estágio e
eu queria saber se você quer assumi-lo? –
- Quantas pessoas? –
- Acho que são uns
cinco ou seis. – respondeu dando de ombros e eu balancei a cabeça sorrindo. –
Qual é a graça? –
- Nós conhecemos
comigo procurando um estágio. – lembrei-o e ele sorriu também. – Não tem medo
que eu arrume outro homem dessa forma? –
- Não. Porque eu vou
me certificar que tenha apenas mulheres em seu grupo. – e eu balancei a cabeça
rindo e me virei de frente para ele, abraçando seu pescoço meus braços.
- E sim eu aceito
assumir. Aceito assumir até cinquenta estagiários se isso fizer com que eu
volte a trabalhar... – e ele roçou o nariz ao meu e antes que pudesse me beijar
Olivia entrou no quarto.
- Mamãe... Papai... –
ela entrou no quarto completamente fofa e linda com a sua roupinha para a
festa. Uma blusa branca com alguns bichinhos coloridos espalhados por ela, uma
saia jeans escura, com elástico na cintura e alguns botões, apenas de enfeite,
na frente, e sandálias coloridas e dois laços dourados no cabelo ruivo.
- Oi princesa. – me
afastei de Edward, me aproximando dela e a pegando no colo.
- Vovó ligou,
perguntou quando vamos chegar, porque todo mundo já está chegando. – respondeu
quando eu ajeitei no colo.
- Nós já estávamos
saindo meu amor. – respondi dando um beijo em sua bochecha. – Vai descendo, que
vamos apenas pegar seus irmãos e já vamos. – e eu a pus no chão.
- Tá mamãe. – e ela
saiu do quarto.
- Vamos lá e a noite
nós conversamos mais sobre isso. – comentei pegando a mão de Edward e ele
apenas pegou seu celular, colocando no bolso da calça e nós saímos do quarto.
Nós saímos do quarto
caminhando até o quarto dos gêmeos. Meus bebês estavam tão fofinhos vestidos
com a mesma roupa. Uma camisa social colorida e bermuda e tênis. Tão fofos. Nós
os pegamos e descemos as escadas. Olivia e Harry ainda estavam assistindo ao
canal da Disney e a algum desenho bobo. Nós os chamamos e eles desligaram a
televisão e vieram correndo para fora de casa. Após ajeitarmos os bebês em suas
cadeirinhas, Edward foi trancar a casa enquanto eu colocava Harry e Olivia para
dentro e os prendia bem com o cinto.
Ele voltou e após
entrarmos no carro seguimos viagem para a casa de minha sogra. Devido à chuva,
Edward dirigia devagar, e para distrair as crianças colocamos aquelas musicas
chatas que toda criança adora e os quatro começaram a cantar, mesmo que os gêmeos
balbuciassem mais do que cantassem. Não demorou muito e chegamos à rua da casa
de meus sogros e já podíamos ver a rua tomada por carros para aquela casa, eu e
Edward apenas nos encaramos... Ela havia feito uma festa enorme. Já esperávamos
por isso, mas tínhamos esperança que não fosse algo tão grande assim, e pelo
visto nos enganamos.
Edward parou o carro
em frente a casa e saímos com as crianças e Harry e Olivia saíram correndo para
dentro da casa enquanto levávamos os gêmeos para dentro.
- Finalmente vocês
chegaram... – Esme se aproximou de nós e já foi logo estendendo os braços para
os bebês. – Meus netinhos lindos... – e ela aninhou os dois bebês em seus
braços. – Todos já chegaram. –
- Notamos mãe. –
Edward ironizou. – Acho que toda Toronto está aqui... -
- Não toda, tolinho...
– rebateu ela. – Apenas alguns amigos meus e de seu pai. Amigos de vocês, das
crianças e família. – e ela girou em seus calcanhares e seguiu para o salão
improvisado dela. – Os aniversariantes chegaram... –
- Venha... Vamos... –
eu o peguei pela mão e a segui para lá.
Até que no quesito
decoração Esme não exagerou muito. E para não haver briga – entre Edward e eu –
já que ela fez a decoração sobre super heróis – ela usou tanto os heróis da DC
quanto da Marvel. Na parede principal tinha faixas escrito Parabéns e os nomes de Anthony e Adam. O bolo tinha camada do
Batman, Superman e Homem aranha. E pela mesa tinha saquinhos de doce, cupcakes
e pirulitos com emblemas ou algo que ligassem aos heróis. Capitão America,
Homem de Ferro, Hulk e Thor. Fora os vários bonecos espalhados por toda a mesa.
Tudo estava enfeitado
com logos, máscaras e tudo mais de todos os heróis da DC e Marvel. As bolas
eram das cores dos personagens, os saquinhos com lembranças da festa, as mesas.
Tudo.
Em uma das mesas
estavam Valentina, Jacob, Sophia, Noah e Robert conversando. Jacob e Valentina
ainda não haviam oficializado nenhum relacionamento, mas continuavam grudados. Maddie,
Mia e Kenzie estavam com as gêmeas dos Black, e Harry e Olivia estavam
brincando com os gêmeos em um canto do ‘salão’.
A festa seguiu até o
meio da noite. Por volta das dez nós seguimos para casa, com mais da metade,
das crianças já dormindo. Após todas irem para a cama, nós seguimos para a
cama. Amanhã eu iria aproveitar para colocar tudo em ordem para poder voltar ao
trabalho.
(...)
Segunda chegou e eu
adorei acordar cedo para ir para o trabalho, o clima ainda não havia melhorado.
Após acordar eu fui direto para o banheiro atrás de um banho morno. Coloquei
uma blusa de mangas compridas e punhos largos, na cor mostarda, uma saia que
acabava um pouco abaixo de meus joelhos, ela era branca com diversas linhas,
tanto na horizontal como na vertical, finas e por toda a saia, preta,
deixando-a quadriculada.
Deixei meu cabelo
preso e calcei meus chinelos e sai do quarto. Passei pelo quarto das crianças e
vendo que as crianças já estavam quase prontas para irem para a escola. Cuidei
dos bebês, que ficariam em casa com Marie, a babá, e desci as escadas para a
cozinha onde Edward terminava de preparar o café da manhã.
- Bom dia meu amor. –
ele disse colocando um prato com panquecas no meio da mesa.
- Bom dia amor. – me
aproximei dele, com os bebês em meus braços, e lhe dei um beijo. Ele abaixou o
pouco o rosto e deu um beijo no rosto dos bebês e eu os sentei em suas
cadeirinhas altas.
As crianças chegaram
logo em seguida e tomamos o café. Após todos terminarem de se aprontar, o
ônibus da escola chegou para buscar as crianças e Marie chegou e eu e Edward
pudermos seguir para o trabalho. Enquanto íamos para o escritório, ele ia me
colocando a par de tudo que eu precisava saber antes de finalmente voltar a
trabalhar.
Nós chegamos ao
escritório e ele parou o carro no estacionamento e pegamos o elevador para o
vigésimo andar. Eu estava tão feliz por voltar ao trabalho que estava parecendo
uma criança de cinco anos animada e ele ficava rindo. As portas do elevador se
abriram e Ângela se aproximou de nós.
- Bella... – e ela
também veio saltitando para perto de mim. – Eu senti a sua falta. – ela me
abraçou e eu a abracei também.
- Não sei se vocês sabem...
Mas vocês se viram no sábado. – Edward apontou atrás de mim.
- Sábado eu matei a
saudades da minha amiga e madrinha de casamento. Hoje estou matando a saudades
da minha chefe. – rebateu e eu balancei a cabeça rindo.
- Mulheres... – ele
disse baixo e nós duas gargalhamos. – Antes que você deixe de ser oficialmente
minha secretária... Chegou os estagiários? –
- Apenas uma. As
outras ainda não chegaram... – respondeu. – Mas também faltam dez minutos para
as 8h. – apontou. – E a senhora Cooper já chegou. –
- Obrigado... Vejo
você depois meu amor... – ele me deu um beijo. – Vamos almoçar juntos? –
- Vamos. Mas lembre-se
que eu vou buscar as crianças. –
- Eu sei. – ele me deu
outro beijo e seguiu para a sua sala e eu segui para a minha com Ângela.
Edward havia me
explicado que eram em torno de cinco estagiários que ficariam com os advogados
da empresa, mas que eu seria a responsável geral por eles, e que iria me
aprofundando em casos novos aos poucos. E por enquanto trabalharia apenas meio
expediente, e aos poucos iria ficando o dia inteiro.
Ângela foi me
colocando a par de tudo enquanto os estagiários não chegavam, e as 8:05h todos
já estavam ali e eles entraram. Eram dois homens e três mulheres, novos e bem
bonitos e arrumados. Dois deles, um homem e uma mulher tinham o nariz muito
empinado e sabia, no fundo, que aquilo ali iria me causar problemas. O outro
garoto tinha um jeitinho meio lerdo, e as outras duas ainda eram difíceis de
ler.
Eles já estavam em um
nível de estágio onde já podiam pegar casos e defende-los. E eu entreguei um
caso para cada e eles seguiram para a sua sala e qualquer coisa me procurariam.
Eram casos fáceis e tranquilos de se vencer.
Na hora do almoço eu e
Edward fomos almoçar e por volta das 14h eu acabei meu expediente e peguei o
carro de Edward para ir buscar as crianças e depois eu o buscaria. Não demorou
muito e eu parei no meio fio em meio a escola e fiquei esperando do lado de
fora, as crianças já estavam saindo, eu só tinha que esperar as minhas crianças
saírem.
- Isabella? – ouvi
alguém me chamando. Eu levantei a cabeça, desviando o olhar do processo que eu
lia. Eu não conseguia acreditar em quem estava ali em minha frente.
- Mi... Mike? – questionei.
- Nossa Isabella. Você está linda e... –
ele viu minha mão. – Casada... –
- Muito bem casada. –
respondi entre os dentes. – O que faz aqui? –
- Eu sou o novo
professor de matemática. Comecei no inicio do mês. – respondeu. – E você o que
faz aqui? –
- Mãe... – Sophia foi
a primeira a sair e eu senti meu coração parando. – Mamãe... – e ela me
abraçou.
- Oi meu amor. –
desviei os olhos de Mike e dei um beijo na testa de Sophia.
- Mãe? – ele perguntou
e Sophia o ouviu.
- Professor Mike... –
e agora que metade do meu coração estava parado, agora todo ele estava. Ele era
professor dela. – Essa é a minha mãe... – respondeu. –
- Estou vendo
Sophia... A propósito... Você tem quantos anos mesmo? –
- 13. – respondeu.
- 13?! – e ele pensou
um pouco.
- Filha, vá chamar
suas irmãs, nós temos que ir para casa. –respondi e a empurrei para dentro da
escola de novo.
- Ela é a minha filha?
– ele perguntou com um sorriso diabólico.
- Ela é MINHA filha. –
rebati. – Você me largou lembra? Disse que não queria saber dela. Muito
obrigada, arrumei um homem que preste. –
- E ele sabe que
Sophia não é filha dele? –
- Sabe. – respondi
entre dentes. – Sabe que biologicamente ela não é filha dele, e ninguém se
importa... –
- Nem ela? Ela sabe? –
- Se você abrir a
boca... Eu juro que você vai se arrepender de ter nascido. –
- Pronto mãe... – e
Sophia voltou com Olivia no colo e os outros vieram logo atrás.
- Todo mundo para
dentro. – disse abrindo a porta do banco traseiro.
- Tanto filho para
prender marido? – debochou.
- Está com raiva
porque arrumei um homem que fode melhor do que você? – questionei e ele me
encarou feio. – Repito. Fala algo para a minha filha. – frisei bem o minha. – E
eu acabo com você. – dei a volta no carro e entrei nele, começando a dirigir.
Eu arranquei com o
carro, saindo dali o mais rápido possível e quando tive que parar em um sinal
vermelho eu mandei uma mensagem para Edward. Eu conhecia Mike muito bem e se
nós não tomássemos uma providencia logo, ele iria abrir a boca para Sophia e
ela não pode saber que tem aquele merda como pai biológico.
‘Dê: Bella.
Para: Edward.
Mike Newton é o novo professor de matemática de Sophia. Ele
vai contar a ela.’
Enviei e joguei o
celular em cima do painel e arranquei com o carro quando o sinal ficou verde
novamente. Eu tentava me acalmar enquanto dirigia sem conseguir, Tina já havia
notado que algo estava errado, mas não falou nada e sempre que podia eu olhava
pelo retrovisor para ver Sophia no banco de trás com os irmãos. Eu não podia
imaginar sua reação caso Mike abrisse a boca, mas sabia que não seria nada bom.
Quando nós chegamos a
nossa casa, cada um seguiu para seu quarto para fazer seus deveres do dia e eu
simplesmente arranquei meus saltos colocando aos pés da escada enquanto ia até
a cozinha. Meu estômago estava embrulhado e eu sentia que iria vomitar a
qualquer momento, porque depois de treze anos o infeliz resolveu aparecer e
ainda por cima dar aula para a filha que ele rejeitou. Eu peguei uma garrafa de
água na cozinha e bebi um gole para tentar me acalmar e acalmar o meu estômago revirado
sem nenhum sucesso.
- Isabella... – E
Edward apareceu na cozinha. – Que história é essa? – perguntou e eu dei de
ombros mordendo meu lábio superior sem saber como eu iria explicar isso. – É
brincadeira? – neguei com a cabeça sentindo meus olhos arderem e marejarem.
- Ele vai contar para
ela. E ela vai me odiar... –
- Te odiar? Isabella,
por Cristo, ela tem que agradecer por você ter livrado-a de um merda como pai.
–
- Eu sei, mas... –
- Mas nada... Eu sou o
pai de Sophia e não o babaca do Mike Newton. – ele quase gritou.
- O que? – e a voz de
Sophia vindo da porta da cozinha fez meu corpo gelar. – O... O senhor não é meu
pai? – e Edward fechou a mão em punho, ele ainda estava de costas para ela e
bloqueando a minha visão. Eu não queria olha-la eu tinha medo do que veria em
seus olhos. – Mãe, que história é essa? –
- Eu não consigo... –
eu disse simplesmente e baixo para que apenas que Edward ouvisse.
- Alguém pode me
explicar o que está acontecendo? –
- Filha... – ele disse
engolindo em seco e respirando fundo. – Eu sou seu pai... – disse
simplesmente. – E isso é a única coisa
que importa. – e ele se virou para ela.
- Então por que o
senhor disse que o senhor é meu pai e não o professor Newton... E mãe a senhora
conhece o meu professor? – ela tentou me contornar e eu fiquei com os olhos
fechados sem conseguir encara-la e respirei fundo.
- Sophia... –
- Edward, conta logo a
verdade antes que ela saiba por ele. – pedi e eu o ouvi suspirar.
- Biologicamente Mike
Newton é seu pai. – ele disparou sem pensar duas vezes. – Só que a questão
biológica nunca importou nessa família... Você sabe que Valentina não é filha
biológica de sua mãe e nem que Harry é nosso filho e... –
- E vocês esconderam
isso de mim por treze anos. – ela gritou e eu ouvi o choro em sua voz e aquilo
partiu meu coração. – Por que não me contaram? Eu tinha o direito de saber... –
- Nós... Nós
esperávamos que ele não fosse aparecer. – ele admitiu.
- Ele aparecendo ou
não eu tinha o direito de saber... – e ela soluçou.
- Filha isso realmente
não importa... – e eu vi com o canto dos olhos ele tentar se aproximar e ela se
afastar. – Fui eu quem esteve do lado da sua mãe basicamente do momento em que
ela descobriu a gravidez até agora... – ele explicou. – Foi você quem nos uniu.
–
- Bom saber que vocês
só estão juntos por minha causa. –
- Não... Não foi isso
o que eu quis dizer... – e ela não ouviu e simplesmente saiu correndo para o
andar de cima.
- Ela não podia saber
dessa forma... – e eu disse com a garganta fechada enquanto ouvia a porta de
seu quarto batendo com força. – Realmente não podia... – e Edward se aproximou
de mim e me segurou pelo rosto fazendo-me encara-lo.
- Acalme-se. – pediu
me obrigando a olhar em seus olhos. – Acalme-se... Nós sempre... Sempre
soubemos que esse dia tinha grandes chances de chegar... –
- Mas não assim. Não
desse jeito. Não ela nos ouvindo, nós tínhamos que ter sentado e conversado com
ela, tínhamos que tê-la preparado e... –
- Isabella, não tem
como prepara-la para algo desse tipo... Tínhamos era que ter falado mais cedo
ou evitar que ela soubesse pelo resto da vida dela, uma coisa que sabíamos que
não iria acontecer. –
- Ela é nova demais,
tem apenas treze anos, queria contar para ela quando? –
- Mesmo ela sendo nova
demais, ela é esperta, bastante para a idade dela até... – e ele soltou meu
rosto. – Com Valentina foi mais fácil... –
- Com Valentina foi
mais fácil? – e eu repeti. – Nós não mentimos para ela. – rebati. – Ela viveu
quatro anos da vida dela sem saber da existência da mãe, até que eu apareci.
Foi completamente diferente... –
- Nós nunca contamos
que Tanya é mãe da Valentina. – ele disse baixíssimo para não corrermos o risco
de ela ouvir também.
- Ela nunca perguntou
pela mãe biológica... E Sophia nunca soube que era adotada por parte de
pai. Porque se ela soubesse e nós
contássemos outra coisa, ai sim nós estaríamos mentindo para ela. Mas não.
Tanya nunca perguntou da mãe, então a situação é completamente diferente... – e
ele bateu a mão em punho de leve na mesa algumas vezes inconscientemente
enquanto encarava a porta da cozinha pela qual Sophia acabou de passar.
- Eu vou subir e
tentar conversar com ela... Você fica aqui e se acalma... – e eu assenti
enquanto ele deixava a cozinha.
Meu coração ainda
estava agitado e minhas mãos ainda tremiam um pouco, e em uma busca inútil de
tentar me acalmar, peguei outra garrafa de água na geladeira, mas nem assim me
acalmava. Eu andei por cinco minutos pela cozinha com a garrafa em mãos, sem
conseguir ouvir nada no andar de cima, e logo Edward apareceu na cozinha.
- E ai? – perguntei e
ele negou.
- Está trancada no
quarto, se recusa abrir a porta. Vamos dar um tempo para ela digerir essa meia
informação, se acalmar e depois tentamos de novo. – e ele se aproximou de mim,
me abraçando pela cintura. – Fique calma, vai ficar tudo bem, você vai ver... –
e eu deitei a cabeça em seu peito e ele me deu um beijo no topo da cabeça. –
Acredite que quando ela souber o tipo de homem que nós livramos da vida dela...
– e ele deixou a frase morrer.
Eu não falei nada, não
sabia o que falar no momento o que eu mais queria era matar Mike por ele ter
resolvido surgir depois de quase quatorze anos. Eu me afastei de Edward e segui
até meu quarto, parando por alguns segundos em frente à porta do quarto de
Sophia, com uma vontade quase insana de bater a porta, e sabendo que ela não
iria abrir para mim.
Eu fiquei até tarde da
noite andando de um lado para o outro no quarto tentando me acalmar e tomando
coragem para ir falar com Sophia, sem o menor sucesso, eu era covarde demais
para enfrentar o meu passado. Se já não bastasse o fato de pensar que Sophia
iria me odiar pelo resto da vida pelo que ela soube hoje, um medo repentino de
Mike tentar pegar a guarda de Sophia me tomou por completo. Ele não recorreria
a isso por gostar da menina, se arrepender do que fez ou algo do tipo, ele
poderia simplesmente fazer isso com o único intuito de me atormentar, e ele
conseguiria isso, ele já estava me atormentando apenas comigo pensar nessa
possibilidade, imagine se isso realmente se concretizar.
Eram por volta das
oito da noite quando Edward veio me chamar para comer alguma coisa, ninguém
tinha cabeça nenhuma para fazer nada, portanto ele simplesmente pediu uma
pizza. Mas meu estomago estava embrulhado demais para comer algo e ele não
reclamou ou insistiu, ele estava na mesma situação que eu, tanto que os únicos que
jantaram foram as crianças, com exceção de Sophia, que continuava sem
destrancar a porta do quarto.
O dia seguinte chegou,
e do mesmo jeito que não havia conseguido comer, eu tampouco consegui dormir.
Sophia finalmente havia saído do quarto, porém apenas na hora de ir para a
escola e saiu sem falar nada. Para mim ela nem olhou, e ignorou completamente
quando o pai pediu para conversar com ela, algo que não passou despercebido de
suas irmãs e irmãos. Eles foram para a escola com o ônibus e nem eu e nem
Edward fomos trabalhar, não havia cabeça para nada, ele tinha o mesmo receio
que eu. Que Mike pedisse a guarda de Sophia, e exagerado como sempre, ele já
havia reunido tudo o que era necessário para evitar isso, e mesmo assim nenhum
de nós dois conseguiríamos nos acalmar.
Durante todo o dia nós
ficamos em casa em completo silêncio, não um silêncio constrangedor, mas um
agonizador, como se estivéssemos ao aguardo de alguma catástrofe e não
conseguíamos fazer nada para evitar que ela chegasse. Transformando-nos em
completos incompetentes. E o único momento em que levantávamos do sofá da sala
era quando os gêmeos acordavam no andar de cima.
Quando ouvimos o
barulho do ônibus que trouxeram as crianças de volta da escola, tudo parou, eu
não ouvia mais nada e meu coração martelava em meus ouvidos enquanto batia
descompassadamente em meu peito, minhas mãos suavam e tremiam visivelmente. Tão
visivelmente que Edward colocou a mão sobre a minha, a apertando dentro da
dele, em um aperto de conforto.
As crianças entraram,
deixando Sophia por último, todas elas nos deram um beijo e subiram para o
quarto para fazer seus exercícios. Sophia que havia jogado a mochila aos pés da
escada após os irmãos subirem, parou ao lado do sofá onde estávamos com os
braços cruzados.
- Mais calma? – Edward
perguntou quando eu não consegui dizer nada.
- Eu procurei pelo
professor Newton na hora do almoço. – disse seca e indiferente. – Ele disse que
a senhora, mãe, sumiu sem falar com ele sobre mim. – e eu a encarei
completamente confusa.
- O que? – perguntei
em um fio de voz.
- Ele disse que a
senhora mentiu para ele sobre mim, e que o largou para ficar com o papai porque
o papai tem dinheiro. –
- Isso é o maior
absurdo que eu já ouvi na minha vida. – reclamei.
- Sophia... – Edward
se afastou de mim e segurou a filha pelos braços e a fazendo se sentar a
mesinha de centro a nossa frente. – Escuta. Ele mentiu para você. Nada do que
ele disse é verdade. Principalmente o fato de sua mãe estar comigo por
causa do meu dinheiro. –
- E que a senhora só
teve os outros filhos para segurá-lo... – disse ignorando o pai.
- Sophia pare de
repetir isso. – e Edward disse firme, como ele nunca falava com os filhos,
enquanto eu simplesmente levava as mãos à cabeça e puxava de leve meus cabelos
com uma tremenda vontade de ir atrás de Mike e lhe dar uma surra como ele nunca
havia levado na vida. – Eu vou repetir mais uma vez. Sua mãe não se aproximou
de mim por causa do meu dinheiro. Mike Newton mentiu descaradamente para você.
Como pôde acreditar nele? –
- Vocês mentiram para
mim. – rebateu irritada e com os olhos marejados. – Mentiram para mim por treze
anos, como podem querer que eu acredite em vocês? –
- Porque somos os seus
pais. – eu disse finalmente encontrando a minha voz. – Edward pode não ser seu
pai biológico, mas esteve do meu lado e do seu desde que eu descobri que
esperava você. –
- Sophia. Eu sempre
fui apaixonado pela sua mãe, e enquanto ela esperava você, nós nos unimos mais
ainda, principalmente fora do ambiente profissional. Nós realmente estamos
juntos por sua causa, não pelo modo que você acha, como se fosse algo obrigado,
e sim porque você nos uniu mais ainda. – ele falava com calma enquanto eu
sentia a raiva crescendo dentro de mim e eu tentava me manter em silêncio para
não explodir. – E... –
- E Mike Newton disse
com todas as letras que não queria saber de você quando eu contei a ele que
estava grávida. – falei simplesmente o interrompendo. – Ao contrário. Ele
estava simplesmente transando com a ex-namorada dele quando soube. E você é
inteligente o bastante para saber que isso significa traição. –
- As pessoas mudam. –
ela disse simplesmente.
- Não seja tola por
achar que ele quer se aproximar de você. – falei e me arrependi no minuto
seguinte. – Homens iguais a Mike Newton não mudam. Ele mentiu para mim. Ele
mentiu para você. E mente para qualquer um que cruzar o caminho dele. – e eu
encarei Edward. – Eu não quero que ele dê aulas para ela. – disse firme e ele
assentiu.
- O que? – e ela se
levantou da mesa. – Vai me afastar dele
de novo? –
- Ele se afastou da
primeira vez, Sophia, não fui eu. – respondi. – E sim, eu vou afastar você
dele, porque eu não quero que ele te machuque do mesmo jeito que me machucou. –
- Vocês não podem
decidir quem vai ser o meu professor ou não. E nem se eu posso continuar a
vê-lo ou não. Ele é meu pai. –
- Sophia. – e Edward a
repreendeu. – Eu sou seu pai. Eu estive ao lado da sua mãe durante todo o
processo. Participei de tudo, eu registrei você. Eu amei você do minuto que
soube da sua existência até hoje. Você falar que aquele homem, depois de tudo o
que ele fez para a sua mãe, é seu pai... Isso me magoa. –
- Vocês me magoaram
primeiro. –
- E você nos magoar
agora não irá resolver essa situação. – rebateu. – E se nós falarmos que você
não vai vê-lo, você simplesmente não vai. Tem apenas treze anos, é menor de
idade, e nós somos seus responsáveis legais. E nem que tenhamos que sair de
Toronto, mas ele não vai ficar perto de você. E quando você se acalmar,
assimilar e digerir isso, vai ver que estamos fazendo o melhor para você. –
- Para mim ou para
vocês? –
- Sophia já chega. –
eu falei. – Você não pode falar assim com o seu pai, principalmente depois de
tudo. –
- Ele não é meu pai! –
ela gritou e saiu correndo para o andar de cima chorando.
- Isabella deixe-a. –
Edward me segurou no lugar quando eu me levantei para ir atrás dela. – Deixe-a
se acalmar. – e eu notei que sua voz estava embargada. Eu o encarei e notei
seus olhos marejados.
- Meu amor... – e eu
me aproximei dele e o puxei pelos ombros e ele deitou a cabeça no vão de meu
pescoço, abraçando minha cintura, e como eu nunca havia visto antes, ele
chorou. E eu respirei fundo para não acabar chorando junto.
Eu me esforçava e
muito para não chorar, e se a pessoa mais forte da casa estava se acabando de
chorar em meu peito, imagine se eu começasse a chorar agora também. Demorou até
que Edward se acalmasse, Sophia o havia magoado demais falando que ele não era
seu pai, principalmente depois de tudo o que ele fez por mal. Se ela soubesse
que ele praticamente evitou que eu a abortasse, não o trataria dessa forma.
Mesmo depois de ter
parado de chorar ele continuou com a cabeça deitada em meu peito e eu mexia em
seus cabelos e dava beijos pelo topo de sua cabeça na vã tentativa de
acalma-lo. Edward só se acalmou quando Harry desceu para pedir ajuda do pai, e
antes mesmo que eu fosse ajudar Harry para deixar Edward um pouco em paz, ele
engoliu o choro, fungou, limpou os olhos com as mãos e pegou o filho no colo
com um sorriso fraco nos lábios e aquilo partiu por completo meu coração. Eu
detestava ver esse homem magoado.
Eu fiquei um tempinho
ali até que ele se envolvesse por completo com a lição de casa do filho e segui
até o pequeno escritório que Edward tinha. Dentro de uma das gavetas de sua
mesa tinha uma caixa com cópias de todas as chaves da casa, toda com um
chaveiro identificando de onde ela era, e eu peguei a cópia da chave do quarto
de Sophia e subi as escadas em silêncio e ainda vendo Edward sentado no chão
com Harry.
Em silêncio eu
destranquei a porta de Sophia e entrei no seu quarto fechando a porta atrás de
mim. Ela estava deitada de bruços na cama, com o rosto escondido no travesseiro
no total silêncio. Ela não me ouviu entrando ou simplesmente ignorou a minha
entrada, e eu respirei fundo.
- Sophia olha para
mim. – falei firme.
- Eu não quero falar
com você. – disse com a voz abafada pelo travesseiro.
- Eu mandei você olhar
para mim. – repeti e contrariada ela se sentou na cama, encostando as costas na
cama e cruzando os braços.
- O que é? –
- Primeiro fale
direito porque eu sou sua mãe. E segundo, eu quero que você levante essa bunda
magra e vá até o seu pai e peça perdão pelo que disse a ele. – mandei. –
Você não pode trata-lo do jeito que tratou depois de tudo o que ele fez por
você... –
- Ele mentiu para mim
por anos, vocês dois mentiram... – e eu levei as mãos até os cabelos puxando-os.
- Sophia, entenda que
o fato de você estar viva foi por causa dele. – e ela me encarou confusa e eu
passei a mão pelo rosto. – Depois que eu peguei o Mike na cama com a
ex-namorada dele, eu sinceramente pensei em abortar você. – e ela me encarou em
choque. – Eu só não segui adiante porque ele me convenceu do contrário, falando
que eu iria me arrepender disso no futuro e sinceramente, pensando bem, eu
realmente iria me arrepender. Eu sei que você está chateada, mas fique comigo,
não com ele. Ele é a última pessoa que merece ser tratada mal, principalmente
por você. E principalmente do jeito que você o tratou. Ele fez tudo por você,
cuidou de você desde que você era do tamanho de uma ervilha dentro de mim. Foi
a todas as consultas, participou de tudo, ele é mais seu pai do que qualquer
outra pessoa no mundo. Mike pode ser seu pai biológico, mas conhecendo-o do
jeito que eu conheço, ele não faria um terço do que Edward fez por você. E a
prova disso é a minha vida com Edward. – ela me ouvia sem falar uma única
palavra. – Fique chateada comigo, pode ficar, eu já deveria ter conversado isso
com você há muito tempo, mas eu sempre adiava, Edward já havia falado mil vezes
para eu contar a você, mas eu não queria, eu não queria que você soubesse daquele
homem. E você pode ficar mais chateada ainda, porque você não vai voltar para aquela
escola enquanto homem estiver lá. Eu não quero você perto dele e fim da
história. – e eu passei os dedos por debaixo dos olhos e notei que algumas
lágrimas escorriam por meus olhos e respirei fundo. – Você tem uma hora para
descer e pedir perdão ao seu pai pelo que você disse. Ele é seu pai. – disse
firme e saí do quarto.
Eu desci as escadas
sem falar nada e guardei a chave no lugar dela, dentro da caixa na gaveta da
mesa do escritório de Edward e voltei para a sala. Mal eu sentei no sofá e
Harry fechou o caderno dizendo que tinha acabado de fazer a lição de casa com a
ajuda do pai, e antes de ele subir as escadas deu um beijo no pai e em mim e
Edward se sentou mais calmo ao meu lado, mas ainda era perceptível e palpável a
tristeza em seus olhos, e eu dei um beijo em seu ombro antes de deitar a cabeça
no mesmo e ele apoiar a dele na minha.
- Mãe... Pai... – e
Valentina apareceu na sala. – Está tudo bem? – e Edward suspirou.
- Sim, filha... O que
foi? –
- O que vamos comer?
Eu estou com fome... – e Edward olhou a hora no celular, já era perto da hora
do jantar e mais uma vez ninguém estava com animo para preparar alguma coisa.
- Chama seus irmãos e
vamos ver o que eles querem: pizza ou algo do tipo, nós não estamos com cabeça
para fazer nada. – e ela assentiu.
Valentina subiu para
chamar os irmãos e mais uma vez eu e Edward ficamos em silêncio e eu realmente
esperava por Sophia descer para pedir desculpas sinceras ao pai. Aos poucos as
crianças foram descendo e se sentando nos sofás e o silêncio da sala sumiu com
os barulhos muito bem vindos das crianças. Só faltava Sophia e Valentina
aparecerem, mas a única quem apareceu foi Valentina que apertava os dedos uns
nos outros.
- O que foi? –
perguntei ao vê-la nervosa.
- Vocês podem ir
comigo rapidinho ali em cima. – e ela subiu as escadas quando nós ficamos de
pé. Nós subimos as escadas atrás de Valentina que parou em frente ao quarto de
Sophia com a porta fechada.
- Tina... A Sophia
está passando por uns momentos complicados, deixe-a trancada, não precisava
avisar que ela está trancada no quarto. – Edward disse cruzando os braços.
- Não é isso, papai...
Abre a porta. – e ele abriu e nós entramos no quarto. O quarto estava
completamente vazio.
- Sophia? – chamei
para o quarto vazio.
- Ela não está em
outro canto da casa? – Edward perguntou a Valentina.
- Edward a janela está
aberta. – comentei não deixando Valentina responder o pai e eu corri para lá e
notei um nó de lençol vindo de cama. – Edward. – e eu o chamei baixo em estado
letárgico e vendo o lençol caindo no escuro e balançando levemente com a brisa
do lado de fora.
- Valentina, liga para
algum lugar, pede o jantar de vocês e vai com as crianças para a sala de brinquedos
e não saiam de lá até eu ou a sua mãe chamar. –
- Sim senhor. – e ela
foi deixando-nos sozinhos e Edward pegou o celular no bolso de trás da calça.
- 190. Qual é a sua emergência? – e eu ouvi a voz feminina vinda do
outro lado da linha.
- Eu preciso da
polícia na Forest Hill South 35. –
- O que aconteceu, senhor? –
- Minha filha de treze anos fugiu de casa.
-
Vi continuar a historia?
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