domingo, 23 de dezembro de 2018

Capítulo 30 - Pai


Pov. Bella.


Toronto – Canadá.
Oito meses depois.

Eu não conseguia acreditar que já havia se passado oito meses desde a viagem para a Disney. Finalmente abril chegou e com ela duas coisas importantes para mim: Aniversário de um ano dos meus bebês fofos e eu finalmente podia voltar ao trabalho. A verdade é que eu estava mais animada para voltar a trabalhar do que para outra coisa.

A verdade é que hoje era o aniversário dos meus bebês. E como o dia estava bem chuvoso, a festa seria na casa de Esme e era ela quem estava organizando tudo e no fundo isso me assustava. Eu tinha medo de quando Esme ficava incumbida de organizar as festas dessas crianças. Sophia e Valentina tinham dormido na casa da avó para ajuda-la com a festa, mesmo todos nós sabendo que ela não precisava de ajuda, e as trigêmeas dormiram na casa de minha mãe, os únicos que ficaram em casa eram os gêmeos, Harry e Olivia.

As crianças já estavam prontas, Edward também e estava encerrando uma ligação de trabalho enquanto eu terminava de me vestir. Coloquei um vestido azul claro, com listras azuis, que acabava na altura de meus joelhos e de mangas compridas. Ele fechava na frente com botões brancos. Eu estava em frente ao espelho do quarto fechando os botões do vestido quando Edward entrou no quarto, desligando o telefone e colocando-o em cima da cômoda e vindo para perto de mim.


- Resolveu? – questionei quando ele parou atrás de mim, enlançando minha cintura com seus braços enquanto encostava a cabeça em meu ombro enquanto eu ajeitava a gola do vestido.

- Resolvi. – e ele cheirou o meu pescoço. – E eu tenho uma proposta para te fazer... –

- Não dá tempo para uma rapidinha. – apontei.

- Não é isso... – respondeu sorrindo. – É que segunda você volta a trabalhar... –

- Graças a Deus. – brinquei e ele sorriu. – Não vai me pedir para ficar em casa, vai? –

- Claro que não. – se apressou em responder. – É que você ficou quase dois anos fora do escritório, devido à licença e a gestação dos gêmeos. E a minha proposta é que você volte aos poucos. – ele falava e eu o encarava pelo espelho esperando pelo que ele tinha para dizer. – E bom, nós estamos começando com um grupo novo de estágio e eu queria saber se você quer assumi-lo? –

- Quantas pessoas? –

- Acho que são uns cinco ou seis. – respondeu dando de ombros e eu balancei a cabeça sorrindo. – Qual é a graça? –

- Nós conhecemos comigo procurando um estágio. – lembrei-o e ele sorriu também. – Não tem medo que eu arrume outro homem dessa forma? –

- Não. Porque eu vou me certificar que tenha apenas mulheres em seu grupo. – e eu balancei a cabeça rindo e me virei de frente para ele, abraçando seu pescoço meus braços.

- E sim eu aceito assumir. Aceito assumir até cinquenta estagiários se isso fizer com que eu volte a trabalhar... – e ele roçou o nariz ao meu e antes que pudesse me beijar Olivia entrou no quarto.

- Mamãe... Papai... – ela entrou no quarto completamente fofa e linda com a sua roupinha para a festa. Uma blusa branca com alguns bichinhos coloridos espalhados por ela, uma saia jeans escura, com elástico na cintura e alguns botões, apenas de enfeite, na frente, e sandálias coloridas e dois laços dourados no cabelo ruivo.


- Oi princesa. – me afastei de Edward, me aproximando dela e a pegando no colo.

- Vovó ligou, perguntou quando vamos chegar, porque todo mundo já está chegando. – respondeu quando eu ajeitei no colo.

- Nós já estávamos saindo meu amor. – respondi dando um beijo em sua bochecha. – Vai descendo, que vamos apenas pegar seus irmãos e já vamos. – e eu a pus no chão.

- Tá mamãe. – e ela saiu do quarto.

- Vamos lá e a noite nós conversamos mais sobre isso. – comentei pegando a mão de Edward e ele apenas pegou seu celular, colocando no bolso da calça e nós saímos do quarto.

Nós saímos do quarto caminhando até o quarto dos gêmeos. Meus bebês estavam tão fofinhos vestidos com a mesma roupa. Uma camisa social colorida e bermuda e tênis. Tão fofos. Nós os pegamos e descemos as escadas. Olivia e Harry ainda estavam assistindo ao canal da Disney e a algum desenho bobo. Nós os chamamos e eles desligaram a televisão e vieram correndo para fora de casa. Após ajeitarmos os bebês em suas cadeirinhas, Edward foi trancar a casa enquanto eu colocava Harry e Olivia para dentro e os prendia bem com o cinto.


Ele voltou e após entrarmos no carro seguimos viagem para a casa de minha sogra. Devido à chuva, Edward dirigia devagar, e para distrair as crianças colocamos aquelas musicas chatas que toda criança adora e os quatro começaram a cantar, mesmo que os gêmeos balbuciassem mais do que cantassem. Não demorou muito e chegamos à rua da casa de meus sogros e já podíamos ver a rua tomada por carros para aquela casa, eu e Edward apenas nos encaramos... Ela havia feito uma festa enorme. Já esperávamos por isso, mas tínhamos esperança que não fosse algo tão grande assim, e pelo visto nos enganamos.

Edward parou o carro em frente a casa e saímos com as crianças e Harry e Olivia saíram correndo para dentro da casa enquanto levávamos os gêmeos para dentro.

- Finalmente vocês chegaram... – Esme se aproximou de nós e já foi logo estendendo os braços para os bebês. – Meus netinhos lindos... – e ela aninhou os dois bebês em seus braços. – Todos já chegaram. –

- Notamos mãe. – Edward ironizou. – Acho que toda Toronto está aqui... -  

- Não toda, tolinho... – rebateu ela. – Apenas alguns amigos meus e de seu pai. Amigos de vocês, das crianças e família. – e ela girou em seus calcanhares e seguiu para o salão improvisado dela. – Os aniversariantes chegaram... –

- Venha... Vamos... – eu o peguei pela mão e a segui para lá.

Até que no quesito decoração Esme não exagerou muito. E para não haver briga – entre Edward e eu – já que ela fez a decoração sobre super heróis – ela usou tanto os heróis da DC quanto da Marvel. Na parede principal tinha faixas escrito Parabéns e os nomes de Anthony e Adam. O bolo tinha camada do Batman, Superman e Homem aranha. E pela mesa tinha saquinhos de doce, cupcakes e pirulitos com emblemas ou algo que ligassem aos heróis. Capitão America, Homem de Ferro, Hulk e Thor. Fora os vários bonecos espalhados por toda a mesa.


Tudo estava enfeitado com logos, máscaras e tudo mais de todos os heróis da DC e Marvel. As bolas eram das cores dos personagens, os saquinhos com lembranças da festa, as mesas. Tudo.

Em uma das mesas estavam Valentina, Jacob, Sophia, Noah e Robert conversando. Jacob e Valentina ainda não haviam oficializado nenhum relacionamento, mas continuavam grudados. Maddie, Mia e Kenzie estavam com as gêmeas dos Black, e Harry e Olivia estavam brincando com os gêmeos em um canto do ‘salão’.

A festa seguiu até o meio da noite. Por volta das dez nós seguimos para casa, com mais da metade, das crianças já dormindo. Após todas irem para a cama, nós seguimos para a cama. Amanhã eu iria aproveitar para colocar tudo em ordem para poder voltar ao trabalho.

(...)

Segunda chegou e eu adorei acordar cedo para ir para o trabalho, o clima ainda não havia melhorado. Após acordar eu fui direto para o banheiro atrás de um banho morno. Coloquei uma blusa de mangas compridas e punhos largos, na cor mostarda, uma saia que acabava um pouco abaixo de meus joelhos, ela era branca com diversas linhas, tanto na horizontal como na vertical, finas e por toda a saia, preta, deixando-a quadriculada.


Deixei meu cabelo preso e calcei meus chinelos e sai do quarto. Passei pelo quarto das crianças e vendo que as crianças já estavam quase prontas para irem para a escola. Cuidei dos bebês, que ficariam em casa com Marie, a babá, e desci as escadas para a cozinha onde Edward terminava de preparar o café da manhã.

- Bom dia meu amor. – ele disse colocando um prato com panquecas no meio da mesa.

- Bom dia amor. – me aproximei dele, com os bebês em meus braços, e lhe dei um beijo. Ele abaixou o pouco o rosto e deu um beijo no rosto dos bebês e eu os sentei em suas cadeirinhas altas.

As crianças chegaram logo em seguida e tomamos o café. Após todos terminarem de se aprontar, o ônibus da escola chegou para buscar as crianças e Marie chegou e eu e Edward pudermos seguir para o trabalho. Enquanto íamos para o escritório, ele ia me colocando a par de tudo que eu precisava saber antes de finalmente voltar a trabalhar.

Nós chegamos ao escritório e ele parou o carro no estacionamento e pegamos o elevador para o vigésimo andar. Eu estava tão feliz por voltar ao trabalho que estava parecendo uma criança de cinco anos animada e ele ficava rindo. As portas do elevador se abriram e Ângela se aproximou de nós.

- Bella... – e ela também veio saltitando para perto de mim. – Eu senti a sua falta. – ela me abraçou e eu a abracei também.

- Não sei se vocês sabem... Mas vocês se viram no sábado. – Edward apontou atrás de mim.

- Sábado eu matei a saudades da minha amiga e madrinha de casamento. Hoje estou matando a saudades da minha chefe. – rebateu e eu balancei a cabeça rindo.

- Mulheres... – ele disse baixo e nós duas gargalhamos. – Antes que você deixe de ser oficialmente minha secretária... Chegou os estagiários? –

- Apenas uma. As outras ainda não chegaram... – respondeu. – Mas também faltam dez minutos para as 8h. – apontou. – E a senhora Cooper já chegou. –

- Obrigado... Vejo você depois meu amor... – ele me deu um beijo. – Vamos almoçar juntos? –

- Vamos. Mas lembre-se que eu vou buscar as crianças. –

- Eu sei. – ele me deu outro beijo e seguiu para a sua sala e eu segui para a minha com Ângela.

Edward havia me explicado que eram em torno de cinco estagiários que ficariam com os advogados da empresa, mas que eu seria a responsável geral por eles, e que iria me aprofundando em casos novos aos poucos. E por enquanto trabalharia apenas meio expediente, e aos poucos iria ficando o dia inteiro.

Ângela foi me colocando a par de tudo enquanto os estagiários não chegavam, e as 8:05h todos já estavam ali e eles entraram. Eram dois homens e três mulheres, novos e bem bonitos e arrumados. Dois deles, um homem e uma mulher tinham o nariz muito empinado e sabia, no fundo, que aquilo ali iria me causar problemas. O outro garoto tinha um jeitinho meio lerdo, e as outras duas ainda eram difíceis de ler.

Eles já estavam em um nível de estágio onde já podiam pegar casos e defende-los. E eu entreguei um caso para cada e eles seguiram para a sua sala e qualquer coisa me procurariam. Eram casos fáceis e tranquilos de se vencer.

Na hora do almoço eu e Edward fomos almoçar e por volta das 14h eu acabei meu expediente e peguei o carro de Edward para ir buscar as crianças e depois eu o buscaria. Não demorou muito e eu parei no meio fio em meio a escola e fiquei esperando do lado de fora, as crianças já estavam saindo, eu só tinha que esperar as minhas crianças saírem.

- Isabella? – ouvi alguém me chamando. Eu levantei a cabeça, desviando o olhar do processo que eu lia. Eu não conseguia acreditar em quem estava ali em minha frente.

- Mi... Mike? – questionei.

- Nossa Isabella. Você está linda e... – ele viu minha mão. – Casada... –

- Muito bem casada. – respondi entre os dentes. – O que faz aqui? –

- Eu sou o novo professor de matemática. Comecei no inicio do mês. – respondeu. – E você o que faz aqui? –

- Mãe... – Sophia foi a primeira a sair e eu senti meu coração parando. – Mamãe... – e ela me abraçou.

- Oi meu amor. – desviei os olhos de Mike e dei um beijo na testa de Sophia.

- Mãe? – ele perguntou e Sophia o ouviu.

- Professor Mike... – e agora que metade do meu coração estava parado, agora todo ele estava. Ele era professor dela. – Essa é a minha mãe... – respondeu. –

- Estou vendo Sophia... A propósito... Você tem quantos anos mesmo? –

- 13. – respondeu.

- 13?! – e ele pensou um pouco.

- Filha, vá chamar suas irmãs, nós temos que ir para casa. –respondi e a empurrei para dentro da escola de novo.

- Ela é a minha filha? – ele perguntou com um sorriso diabólico.

- Ela é MINHA filha. – rebati. – Você me largou lembra? Disse que não queria saber dela. Muito obrigada, arrumei um homem que preste. –

- E ele sabe que Sophia não é filha dele? –

- Sabe. – respondi entre dentes. – Sabe que biologicamente ela não é filha dele, e ninguém se importa... –

- Nem ela? Ela sabe? –

- Se você abrir a boca... Eu juro que você vai se arrepender de ter nascido. –

- Pronto mãe... – e Sophia voltou com Olivia no colo e os outros vieram logo atrás. 

- Todo mundo para dentro. – disse abrindo a porta do banco traseiro.

- Tanto filho para prender marido? – debochou.

- Está com raiva porque arrumei um homem que fode melhor do que você? – questionei e ele me encarou feio. – Repito. Fala algo para a minha filha. – frisei bem o minha. – E eu acabo com você. – dei a volta no carro e entrei nele, começando a dirigir.

Eu arranquei com o carro, saindo dali o mais rápido possível e quando tive que parar em um sinal vermelho eu mandei uma mensagem para Edward. Eu conhecia Mike muito bem e se nós não tomássemos uma providencia logo, ele iria abrir a boca para Sophia e ela não pode saber que tem aquele merda como pai biológico.

Dê: Bella.
Para: Edward.
Mike Newton é o novo professor de matemática de Sophia. Ele vai contar a ela.’

Enviei e joguei o celular em cima do painel e arranquei com o carro quando o sinal ficou verde novamente. Eu tentava me acalmar enquanto dirigia sem conseguir, Tina já havia notado que algo estava errado, mas não falou nada e sempre que podia eu olhava pelo retrovisor para ver Sophia no banco de trás com os irmãos. Eu não podia imaginar sua reação caso Mike abrisse a boca, mas sabia que não seria nada bom.

Quando nós chegamos a nossa casa, cada um seguiu para seu quarto para fazer seus deveres do dia e eu simplesmente arranquei meus saltos colocando aos pés da escada enquanto ia até a cozinha. Meu estômago estava embrulhado e eu sentia que iria vomitar a qualquer momento, porque depois de treze anos o infeliz resolveu aparecer e ainda por cima dar aula para a filha que ele rejeitou. Eu peguei uma garrafa de água na cozinha e bebi um gole para tentar me acalmar e acalmar o meu estômago revirado sem nenhum sucesso.

- Isabella... – E Edward apareceu na cozinha. – Que história é essa? – perguntou e eu dei de ombros mordendo meu lábio superior sem saber como eu iria explicar isso. – É brincadeira? – neguei com a cabeça sentindo meus olhos arderem e marejarem.

- Ele vai contar para ela. E ela vai me odiar... –

- Te odiar? Isabella, por Cristo, ela tem que agradecer por você ter livrado-a de um merda como pai. –

- Eu sei, mas... –

- Mas nada... Eu sou o pai de Sophia e não o babaca do Mike Newton. – ele quase gritou.

- O que? – e a voz de Sophia vindo da porta da cozinha fez meu corpo gelar. – O... O senhor não é meu pai? – e Edward fechou a mão em punho, ele ainda estava de costas para ela e bloqueando a minha visão. Eu não queria olha-la eu tinha medo do que veria em seus olhos. – Mãe, que história é essa? –

- Eu não consigo... – eu disse simplesmente e baixo para que apenas que Edward ouvisse.

- Alguém pode me explicar o que está acontecendo? –

- Filha... – ele disse engolindo em seco e respirando fundo. – Eu sou seu pai... – disse simplesmente.  – E isso é a única coisa que importa. – e ele se virou para ela.

- Então por que o senhor disse que o senhor é meu pai e não o professor Newton... E mãe a senhora conhece o meu professor? – ela tentou me contornar e eu fiquei com os olhos fechados sem conseguir encara-la e respirei fundo.

- Sophia... –

- Edward, conta logo a verdade antes que ela saiba por ele. – pedi e eu o ouvi suspirar.

- Biologicamente Mike Newton é seu pai. – ele disparou sem pensar duas vezes. – Só que a questão biológica nunca importou nessa família... Você sabe que Valentina não é filha biológica de sua mãe e nem que Harry é nosso filho e... –

- E vocês esconderam isso de mim por treze anos. – ela gritou e eu ouvi o choro em sua voz e aquilo partiu meu coração. – Por que não me contaram? Eu tinha o direito de saber... –

- Nós... Nós esperávamos que ele não fosse aparecer. – ele admitiu.

- Ele aparecendo ou não eu tinha o direito de saber... – e ela soluçou.

- Filha isso realmente não importa... – e eu vi com o canto dos olhos ele tentar se aproximar e ela se afastar. – Fui eu quem esteve do lado da sua mãe basicamente do momento em que ela descobriu a gravidez até agora... – ele explicou. – Foi você quem nos uniu. –

- Bom saber que vocês só estão juntos por minha causa. –

- Não... Não foi isso o que eu quis dizer... – e ela não ouviu e simplesmente saiu correndo para o andar de cima.

- Ela não podia saber dessa forma... – e eu disse com a garganta fechada enquanto ouvia a porta de seu quarto batendo com força. – Realmente não podia... – e Edward se aproximou de mim e me segurou pelo rosto fazendo-me encara-lo.

- Acalme-se. – pediu me obrigando a olhar em seus olhos. – Acalme-se... Nós sempre... Sempre soubemos que esse dia tinha grandes chances de chegar... –

- Mas não assim. Não desse jeito. Não ela nos ouvindo, nós tínhamos que ter sentado e conversado com ela, tínhamos que tê-la preparado e... –

- Isabella, não tem como prepara-la para algo desse tipo... Tínhamos era que ter falado mais cedo ou evitar que ela soubesse pelo resto da vida dela, uma coisa que sabíamos que não iria acontecer. –

- Ela é nova demais, tem apenas treze anos, queria contar para ela quando? –

- Mesmo ela sendo nova demais, ela é esperta, bastante para a idade dela até... – e ele soltou meu rosto. – Com Valentina foi mais fácil... –

- Com Valentina foi mais fácil? – e eu repeti. – Nós não mentimos para ela. – rebati. – Ela viveu quatro anos da vida dela sem saber da existência da mãe, até que eu apareci. Foi completamente diferente... –

- Nós nunca contamos que Tanya é mãe da Valentina. – ele disse baixíssimo para não corrermos o risco de ela ouvir também.

- Ela nunca perguntou pela mãe biológica... E Sophia nunca soube que era adotada por parte de pai.  Porque se ela soubesse e nós contássemos outra coisa, ai sim nós estaríamos mentindo para ela. Mas não. Tanya nunca perguntou da mãe, então a situação é completamente diferente... – e ele bateu a mão em punho de leve na mesa algumas vezes inconscientemente enquanto encarava a porta da cozinha pela qual Sophia acabou de passar.

- Eu vou subir e tentar conversar com ela... Você fica aqui e se acalma... – e eu assenti enquanto ele deixava a cozinha.

Meu coração ainda estava agitado e minhas mãos ainda tremiam um pouco, e em uma busca inútil de tentar me acalmar, peguei outra garrafa de água na geladeira, mas nem assim me acalmava. Eu andei por cinco minutos pela cozinha com a garrafa em mãos, sem conseguir ouvir nada no andar de cima, e logo Edward apareceu na cozinha.

- E ai? – perguntei e ele negou.

- Está trancada no quarto, se recusa abrir a porta. Vamos dar um tempo para ela digerir essa meia informação, se acalmar e depois tentamos de novo. – e ele se aproximou de mim, me abraçando pela cintura. – Fique calma, vai ficar tudo bem, você vai ver... – e eu deitei a cabeça em seu peito e ele me deu um beijo no topo da cabeça. – Acredite que quando ela souber o tipo de homem que nós livramos da vida dela... – e ele deixou a frase morrer.

Eu não falei nada, não sabia o que falar no momento o que eu mais queria era matar Mike por ele ter resolvido surgir depois de quase quatorze anos. Eu me afastei de Edward e segui até meu quarto, parando por alguns segundos em frente à porta do quarto de Sophia, com uma vontade quase insana de bater a porta, e sabendo que ela não iria abrir para mim.

Eu fiquei até tarde da noite andando de um lado para o outro no quarto tentando me acalmar e tomando coragem para ir falar com Sophia, sem o menor sucesso, eu era covarde demais para enfrentar o meu passado. Se já não bastasse o fato de pensar que Sophia iria me odiar pelo resto da vida pelo que ela soube hoje, um medo repentino de Mike tentar pegar a guarda de Sophia me tomou por completo. Ele não recorreria a isso por gostar da menina, se arrepender do que fez ou algo do tipo, ele poderia simplesmente fazer isso com o único intuito de me atormentar, e ele conseguiria isso, ele já estava me atormentando apenas comigo pensar nessa possibilidade, imagine se isso realmente se concretizar.

Eram por volta das oito da noite quando Edward veio me chamar para comer alguma coisa, ninguém tinha cabeça nenhuma para fazer nada, portanto ele simplesmente pediu uma pizza. Mas meu estomago estava embrulhado demais para comer algo e ele não reclamou ou insistiu, ele estava na mesma situação que eu, tanto que os únicos que jantaram foram as crianças, com exceção de Sophia, que continuava sem destrancar a porta do quarto.

O dia seguinte chegou, e do mesmo jeito que não havia conseguido comer, eu tampouco consegui dormir. Sophia finalmente havia saído do quarto, porém apenas na hora de ir para a escola e saiu sem falar nada. Para mim ela nem olhou, e ignorou completamente quando o pai pediu para conversar com ela, algo que não passou despercebido de suas irmãs e irmãos. Eles foram para a escola com o ônibus e nem eu e nem Edward fomos trabalhar, não havia cabeça para nada, ele tinha o mesmo receio que eu. Que Mike pedisse a guarda de Sophia, e exagerado como sempre, ele já havia reunido tudo o que era necessário para evitar isso, e mesmo assim nenhum de nós dois conseguiríamos nos acalmar.

Durante todo o dia nós ficamos em casa em completo silêncio, não um silêncio constrangedor, mas um agonizador, como se estivéssemos ao aguardo de alguma catástrofe e não conseguíamos fazer nada para evitar que ela chegasse. Transformando-nos em completos incompetentes. E o único momento em que levantávamos do sofá da sala era quando os gêmeos acordavam no andar de cima.

Quando ouvimos o barulho do ônibus que trouxeram as crianças de volta da escola, tudo parou, eu não ouvia mais nada e meu coração martelava em meus ouvidos enquanto batia descompassadamente em meu peito, minhas mãos suavam e tremiam visivelmente. Tão visivelmente que Edward colocou a mão sobre a minha, a apertando dentro da dele, em um aperto de conforto.

As crianças entraram, deixando Sophia por último, todas elas nos deram um beijo e subiram para o quarto para fazer seus exercícios. Sophia que havia jogado a mochila aos pés da escada após os irmãos subirem, parou ao lado do sofá onde estávamos com os braços cruzados.

- Mais calma? – Edward perguntou quando eu não consegui dizer nada.

- Eu procurei pelo professor Newton na hora do almoço. – disse seca e indiferente. – Ele disse que a senhora, mãe, sumiu sem falar com ele sobre mim. – e eu a encarei completamente confusa.

- O que? – perguntei em um fio de voz.

- Ele disse que a senhora mentiu para ele sobre mim, e que o largou para ficar com o papai porque o papai tem dinheiro. –

- Isso é o maior absurdo que eu já ouvi na minha vida. – reclamei.

- Sophia... – Edward se afastou de mim e segurou a filha pelos braços e a fazendo se sentar a mesinha de centro a nossa frente. – Escuta. Ele mentiu para você. Nada do que ele disse é verdade. Principalmente o fato de sua mãe estar comigo por causa do meu dinheiro. –

- E que a senhora só teve os outros filhos para segurá-lo... – disse ignorando o pai.

- Sophia pare de repetir isso. – e Edward disse firme, como ele nunca falava com os filhos, enquanto eu simplesmente levava as mãos à cabeça e puxava de leve meus cabelos com uma tremenda vontade de ir atrás de Mike e lhe dar uma surra como ele nunca havia levado na vida. – Eu vou repetir mais uma vez. Sua mãe não se aproximou de mim por causa do meu dinheiro. Mike Newton mentiu descaradamente para você. Como pôde acreditar nele? –

- Vocês mentiram para mim. – rebateu irritada e com os olhos marejados. – Mentiram para mim por treze anos, como podem querer que eu acredite em vocês? –

- Porque somos os seus pais. – eu disse finalmente encontrando a minha voz. – Edward pode não ser seu pai biológico, mas esteve do meu lado e do seu desde que eu descobri que esperava você. –

- Sophia. Eu sempre fui apaixonado pela sua mãe, e enquanto ela esperava você, nós nos unimos mais ainda, principalmente fora do ambiente profissional. Nós realmente estamos juntos por sua causa, não pelo modo que você acha, como se fosse algo obrigado, e sim porque você nos uniu mais ainda. – ele falava com calma enquanto eu sentia a raiva crescendo dentro de mim e eu tentava me manter em silêncio para não explodir. – E... –

- E Mike Newton disse com todas as letras que não queria saber de você quando eu contei a ele que estava grávida. – falei simplesmente o interrompendo. – Ao contrário. Ele estava simplesmente transando com a ex-namorada dele quando soube. E você é inteligente o bastante para saber que isso significa traição. –

- As pessoas mudam. – ela disse simplesmente.

- Não seja tola por achar que ele quer se aproximar de você. – falei e me arrependi no minuto seguinte. – Homens iguais a Mike Newton não mudam. Ele mentiu para mim. Ele mentiu para você. E mente para qualquer um que cruzar o caminho dele. – e eu encarei Edward. – Eu não quero que ele dê aulas para ela. – disse firme e ele assentiu.

- O que? – e ela se levantou da mesa.  – Vai me afastar dele de novo? –

- Ele se afastou da primeira vez, Sophia, não fui eu. – respondi. – E sim, eu vou afastar você dele, porque eu não quero que ele te machuque do mesmo jeito que me machucou. –

- Vocês não podem decidir quem vai ser o meu professor ou não. E nem se eu posso continuar a vê-lo ou não. Ele é meu pai. –

- Sophia. – e Edward a repreendeu. – Eu sou seu pai. Eu estive ao lado da sua mãe durante todo o processo. Participei de tudo, eu registrei você. Eu amei você do minuto que soube da sua existência até hoje. Você falar que aquele homem, depois de tudo o que ele fez para a sua mãe, é seu pai... Isso me magoa. –

- Vocês me magoaram primeiro. –

- E você nos magoar agora não irá resolver essa situação. – rebateu. – E se nós falarmos que você não vai vê-lo, você simplesmente não vai. Tem apenas treze anos, é menor de idade, e nós somos seus responsáveis legais. E nem que tenhamos que sair de Toronto, mas ele não vai ficar perto de você. E quando você se acalmar, assimilar e digerir isso, vai ver que estamos fazendo o melhor para você. –

- Para mim ou para vocês? –

- Sophia já chega. – eu falei. – Você não pode falar assim com o seu pai, principalmente depois de tudo. –

- Ele não é meu pai! – ela gritou e saiu correndo para o andar de cima chorando.

- Isabella deixe-a. – Edward me segurou no lugar quando eu me levantei para ir atrás dela. – Deixe-a se acalmar. – e eu notei que sua voz estava embargada. Eu o encarei e notei seus olhos marejados.

- Meu amor... – e eu me aproximei dele e o puxei pelos ombros e ele deitou a cabeça no vão de meu pescoço, abraçando minha cintura, e como eu nunca havia visto antes, ele chorou. E eu respirei fundo para não acabar chorando junto.

Eu me esforçava e muito para não chorar, e se a pessoa mais forte da casa estava se acabando de chorar em meu peito, imagine se eu começasse a chorar agora também. Demorou até que Edward se acalmasse, Sophia o havia magoado demais falando que ele não era seu pai, principalmente depois de tudo o que ele fez por mal. Se ela soubesse que ele praticamente evitou que eu a abortasse, não o trataria dessa forma.

Mesmo depois de ter parado de chorar ele continuou com a cabeça deitada em meu peito e eu mexia em seus cabelos e dava beijos pelo topo de sua cabeça na vã tentativa de acalma-lo. Edward só se acalmou quando Harry desceu para pedir ajuda do pai, e antes mesmo que eu fosse ajudar Harry para deixar Edward um pouco em paz, ele engoliu o choro, fungou, limpou os olhos com as mãos e pegou o filho no colo com um sorriso fraco nos lábios e aquilo partiu por completo meu coração. Eu detestava ver esse homem magoado.

Eu fiquei um tempinho ali até que ele se envolvesse por completo com a lição de casa do filho e segui até o pequeno escritório que Edward tinha. Dentro de uma das gavetas de sua mesa tinha uma caixa com cópias de todas as chaves da casa, toda com um chaveiro identificando de onde ela era, e eu peguei a cópia da chave do quarto de Sophia e subi as escadas em silêncio e ainda vendo Edward sentado no chão com Harry.

Em silêncio eu destranquei a porta de Sophia e entrei no seu quarto fechando a porta atrás de mim. Ela estava deitada de bruços na cama, com o rosto escondido no travesseiro no total silêncio. Ela não me ouviu entrando ou simplesmente ignorou a minha entrada, e eu respirei fundo.

- Sophia olha para mim. – falei firme.

- Eu não quero falar com você. – disse com a voz abafada pelo travesseiro.

- Eu mandei você olhar para mim. – repeti e contrariada ela se sentou na cama, encostando as costas na cama e cruzando os braços.

- O que é? –

- Primeiro fale direito porque eu sou sua mãe. E segundo, eu quero que você levante essa bunda magra e vá até o seu pai e peça perdão pelo que disse a ele. – mandei. – Você não pode trata-lo do jeito que tratou depois de tudo o que ele fez por você... –

- Ele mentiu para mim por anos, vocês dois mentiram... – e eu levei as mãos até os cabelos puxando-os.

- Sophia, entenda que o fato de você estar viva foi por causa dele. – e ela me encarou confusa e eu passei a mão pelo rosto. – Depois que eu peguei o Mike na cama com a ex-namorada dele, eu sinceramente pensei em abortar você. – e ela me encarou em choque. – Eu só não segui adiante porque ele me convenceu do contrário, falando que eu iria me arrepender disso no futuro e sinceramente, pensando bem, eu realmente iria me arrepender. Eu sei que você está chateada, mas fique comigo, não com ele. Ele é a última pessoa que merece ser tratada mal, principalmente por você. E principalmente do jeito que você o tratou. Ele fez tudo por você, cuidou de você desde que você era do tamanho de uma ervilha dentro de mim. Foi a todas as consultas, participou de tudo, ele é mais seu pai do que qualquer outra pessoa no mundo. Mike pode ser seu pai biológico, mas conhecendo-o do jeito que eu conheço, ele não faria um terço do que Edward fez por você. E a prova disso é a minha vida com Edward. – ela me ouvia sem falar uma única palavra. – Fique chateada comigo, pode ficar, eu já deveria ter conversado isso com você há muito tempo, mas eu sempre adiava, Edward já havia falado mil vezes para eu contar a você, mas eu não queria, eu não queria que você soubesse daquele homem. E você pode ficar mais chateada ainda, porque você não vai voltar para aquela escola enquanto homem estiver lá. Eu não quero você perto dele e fim da história. – e eu passei os dedos por debaixo dos olhos e notei que algumas lágrimas escorriam por meus olhos e respirei fundo. – Você tem uma hora para descer e pedir perdão ao seu pai pelo que você disse. Ele é seu pai. – disse firme e saí do quarto.

Eu desci as escadas sem falar nada e guardei a chave no lugar dela, dentro da caixa na gaveta da mesa do escritório de Edward e voltei para a sala. Mal eu sentei no sofá e Harry fechou o caderno dizendo que tinha acabado de fazer a lição de casa com a ajuda do pai, e antes de ele subir as escadas deu um beijo no pai e em mim e Edward se sentou mais calmo ao meu lado, mas ainda era perceptível e palpável a tristeza em seus olhos, e eu dei um beijo em seu ombro antes de deitar a cabeça no mesmo e ele apoiar a dele na minha.

- Mãe... Pai... – e Valentina apareceu na sala. – Está tudo bem? – e Edward suspirou.

- Sim, filha... O que foi? –

- O que vamos comer? Eu estou com fome... – e Edward olhou a hora no celular, já era perto da hora do jantar e mais uma vez ninguém estava com animo para preparar alguma coisa.

- Chama seus irmãos e vamos ver o que eles querem: pizza ou algo do tipo, nós não estamos com cabeça para fazer nada. – e ela assentiu.

Valentina subiu para chamar os irmãos e mais uma vez eu e Edward ficamos em silêncio e eu realmente esperava por Sophia descer para pedir desculpas sinceras ao pai. Aos poucos as crianças foram descendo e se sentando nos sofás e o silêncio da sala sumiu com os barulhos muito bem vindos das crianças. Só faltava Sophia e Valentina aparecerem, mas a única quem apareceu foi Valentina que apertava os dedos uns nos outros.

- O que foi? – perguntei ao vê-la nervosa.

- Vocês podem ir comigo rapidinho ali em cima. – e ela subiu as escadas quando nós ficamos de pé. Nós subimos as escadas atrás de Valentina que parou em frente ao quarto de Sophia com a porta fechada.

- Tina... A Sophia está passando por uns momentos complicados, deixe-a trancada, não precisava avisar que ela está trancada no quarto. – Edward disse cruzando os braços.

- Não é isso, papai... Abre a porta. – e ele abriu e nós entramos no quarto. O quarto estava completamente vazio.

- Sophia? – chamei para o quarto vazio.

- Ela não está em outro canto da casa? – Edward perguntou a Valentina.

- Edward a janela está aberta. – comentei não deixando Valentina responder o pai e eu corri para lá e notei um nó de lençol vindo de cama. – Edward. – e eu o chamei baixo em estado letárgico e vendo o lençol caindo no escuro e balançando levemente com a brisa do lado de fora.

- Valentina, liga para algum lugar, pede o jantar de vocês e vai com as crianças para a sala de brinquedos e não saiam de lá até eu ou a sua mãe chamar. –

- Sim senhor. – e ela foi deixando-nos sozinhos e Edward pegou o celular no bolso de trás da calça.

- 190. Qual é a sua emergência? – e eu ouvi a voz feminina vinda do outro lado da linha.

- Eu preciso da polícia na Forest Hill South 35. –

- O que aconteceu, senhor? –

- Minha filha de treze anos fugiu de casa. -

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