quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Capítulo 002 - 2018


Roma - Italia.
9 luglio 2018

Pov. Bella

Doze anos haviam se passado desde a última vez que a Itália havia vencido o mundial. Nós estávamos nos aproximando da final da copa do mundo de 2018 e dessa vez a Itália não havia se classificado para a copa na Rússia, tanto que eu e Edward pouco nos importávamos com os jogos. Sim, eu e Edward ainda estávamos juntos, firmes e fortes. Doze anos morando juntos, havíamos saído do seu apartamento e nos mudado para uma casa um pouco mais afastada do centro de Roma. Eu havia terminado minha faculdade de química e trabalhava em uma empresa de agroquímica e Edward era um cantor, que ao mesmo tempo em que procurava emplacar um hit ou conseguir um bom contrato, cantava em bares noturnos.

Não era uma vida luxuosa, mas não nos faltava nada. E tendo um ao outro era o que realmente importava. Mas algo estava faltando, eu sentia isso. Doze anos juntos namorando, eu nunca havia visto um namoro durar tanto tempo. Eu tinha um plano de vida, e eu não estava seguindo-o. O plano era: Entrar na faculdade de química, Me formar. Mestrado. Emprego fixo. Casamento e filhos. Eu já tinha 35 anos, já tinha me formado tanto na graduação quanto no mestrado, estava começando o meu doutorado, já tinha emprego fixo, mas o casamento nada.

Edward sempre soube do meu plano, sempre soube que eu era louca para me casar e construir uma família, mas ele não se mexia. Se ele viesse conversar comigo e explicasse que ele agora não está pronto para se casar, ou entenderia. Mas ele simplesmente não fala absolutamente nada. Nem uma única palavra, e quando eu jogava o assunto no ar, eu era completamente ignorada por ele, que fingia não me ouvir. Era algo frustrante.

Eu era apaixonada por ele, e queria dar o próximo passo com ele, para mim não fazia sentido avançar uma etapa sem ele, mas pelo visto ele não pensava o mesmo. E estava feliz do jeito estagnado que estávamos. Mas eu não.

Eu estava parada na cama, eram por volta das três da manhã e eu simplesmente não conseguia dormir. Minhas mãos estavam enlaçadas em cima de minha barriga enquanto Edward dormia calma e profundamente ao meu lado. Eu não conseguia fechar os olhos e simplesmente ficava contando os anos que faltavam até que meu útero se tornasse inútil e gerar uma criança se tornasse algo completamente impossível. Antes que eu conseguisse sair da cama, Edward se virou na mesma e passou um braço por cima de meu corpo, se aninhando próximo a mim e deitando a cabeça no vão do meu pescoço. Eu simplesmente separei minhas mãos e levei uma delas até a sua cabeça e acariciei seus cabelos enquanto ele dormia profundamente.

O resto da madrugada passou e eu não havia conseguido pregar os olhos nem por meio segundo. O despertador deveria tocar às seis da manhã para anunciar o horário de me levantar, mas antes mesmo de o relógio virar para seis em ponto, eu já estava de pé, de banho tomado, pronta para o trabalho e preparando o café da manhã na cozinha.

- Bom dia... – Edward disse sonolento depois de entrar na cozinha e enlaçar minha cintura com as suas mãos e dar um beijo em minha nuca descoberta, já que meu cabelo estava preso em um coque mal feito e alto.

- Bom dia. – respondi levando a xícara com café fresco aos lábios.

- Ainda está cedo para ir para o trabalho... – respondeu colocando a mão debaixo da minha saia e subindo com ela até o meio de minhas pernas.

- Não Edward... – e eu tirei a mão dele dali e me afastei, indo para o outro lado da ilha no meio da cozinha. – Eu estou cansada... – resmunguei bebendo mais um gole do café, e ele bufou.

- Eu vou tomar um banho. Tenho uma reunião com uma gravadora daqui a pouco. – e ele voltou para o andar de cima da pequena casa.

Recentemente as coisas têm sido assim. Quase não havia mais sexo, pelo menos não com a frequência que havia no inicio do relacionamento, e não era por falta de desejo... Era por cansaço mental, principalmente por minha parte. Eu terminei meu café e após lavar minha xícara eu voltei para o quarto para terminar de me vestir e às 7:30h, dei um beijo na bochecha de Edward e saí de casa indo para o trabalho.

(...)

O final do expediente demorou muito para chegar. O dia havia sido absurdamente longo e cansativo, e eu estava louca para ir para casa, tomar um bom banho morno, quem sabe um remédio para dormir, e só acordar no dia seguinte, nem esperaria Edward chegar em casa. Eu não queria discutir com ele hoje, estava cansada demais para isso.

- Isabella... – e meu chefe me chamou quando eu comecei a arrumar minha bolsa para ir embora.

- Sim, senhor Crowley? –

- Minha sala, por favor. – pediu e entrou em sua sala novamente e eu me levantei da cadeira e fui até ele. – Sente-se. – pediu quando eu fechei a porta atrás de mim. – Eu tenho uma novidade para lhe contar. –

- O que? – questionei ao me sentar.

- O governo norte coreano resolveu abrir uma filial de nossa empresa em Pyongyang. –

- Isso é muito bom senhor... Mas o que eu tenho haver com isso? –

- Você é a nossa melhor química, Isabella. Eu quero lhe dar uma promoção... – e eu engoli em seco provavelmente já sabendo qual era a promoção. – Chefe da equipe e meus olhos e ouvidos em Pyongyang... –

- Mas ai eu teria que me mudar para a Coreia do Norte. – rebatei com o obvio.

- Exatamente... Por isso resolvi falar com você no final do expediente... Você está em um relacionamento estável de doze anos, mas para empresa você está solteira... – assenti. Para empresas só havia dois status de relacionamento – solteira e casada –. – E eu queria saber o que você acha sobre isso... –

- Senhor eu estaria mentindo se falasse que não é uma boa oportunidade, porque é... É uma ótima oportunidade. Mas eu também não posso ignorar que são doze anos de uma relação estável, para a justiça é quase que casamento... Eu preciso conversar com o Edward sobre isso. –

- Vai perder essa oportunidade por causa de um homem? – rebateu.

- Não é um homem... É o homem... – pelo menos assim eu esperava.

- Achei que fosse mais esperta... – comentou baixo.

- Como disse? –

- Nada... – e ele me encarou por alguns segundos. – Se aceitar a promoção... – e ele pegou um envelope na gaveta ao seu lado. – O voo sai às 22h. –

- Espera... – falei vendo a data e o horário do voo. – O senhor me promove hoje para ir hoje? –

- Sim. Quanto mais rápido a pessoa for, melhor... Preciso que me fale até ás... – e ele olhou seu relógio. – São 17h... Quero a resposta até às 19h. – respondeu firme. – Se você não aceitar, eu tenho certeza que Jéssica aceita... Ela não vai perder uma oportunidade dessas por causa de um homem... –

- É porque ninguém consegue atura-la por mais de dois meses... – rebati tão baixo que ele nem ouviu. – Eu vou pensar e conversar com ele e antes das 19h, o senhor terá a sua resposta... –

- Espero... Pode ir... – e eu assenti e me levantei da cadeira de sua sala e voltei para o meu pequeno escritório.

Eu peguei minha bolsa e saí da empresa. Eu tinha que concordar com meu chefe de que a promoção era ótima e incrível. Tanto pelo fato de que uma promoção sempre vinha com benefícios, como aumento de salário e tudo mais, e também pelo fato de que a Coreia do Norte estava abrindo uma filial de uma empresa estrangeira, algo que, creio eu, nunca vi acontecendo antes.

Eu perdi meia hora apenas indo para a casa, geralmente eu gastava apenas dez minutos, mas dessa vez, antes de ir direto para a casa, eu gastei cerca de vinte minutos sentada no banco de um parque em frente a empresa pensando. Com toda a certeza do mundo eu não iria ser cogitada para ser promovida se eu estivesse casada com o Edward, eu tinha a total certeza disso, havia mulheres e homens mais competentes que eu, que com certeza não foram chamados por serem casados e com filhos. De solteiros na empresa, apenas Jessica e eu.

Quando eu finalmente cheguei a casa, Edward estava sentado em seu piano, dedilhando uma melodia calma que eu não conhecia, mas de ouvir apenas cinco segundos dela, e lembrando-me das outras que ele escreveu antes, eu já sabia que era linda e que eu a amaria. Eu apoiei as mãos em seus ombros e dei um beijo em sua bochecha para avisar que eu já estava em casa.

- Oi... – e eu me sentei ao seu lado no banco do piano, de costas para o mesmo. – Como foi seu dia? – perguntou.

- Tranquilo... – suspirei. – E a reunião com a gravadora? –

- Talvez eu tenha uma chance... Ele pediu três musicas minhas, novas... – respondeu animado. – Disse que se ele gostasse delas chamaria alguns compositores para tentarmos gravar um CD. –

- Isso é muito bom... Muito bom mesmo... – admiti. – Você está tentando gravar um com uma boa gravadora a um bom tempo... –

- Eu sei... – e ele parou de dedilhar a sua musica. – Estava quase desistindo quando essa reunião apareceu... A verdade é que quem a arrumou foi Emmett... –

- Como assim? – perguntei.

- Ele disse que viu o diretor da gravadora no restaurante dele e falou de mim... Ele disse para eu aparecer lá com uma fita demo... E ele gostou... – respondeu me encarando.

- Eu fico muito feliz por você. – fui sincera. – Fico feliz que esteja conseguindo realizar seu sonho. – e ele me deu um beijo rápido nos lábios.

- Agora me fala o que está lhe atormentando. – e eu suspirei colocando algumas mechas atrás de minhas orelhas.

- Eu quero saber como será agora? –

- Como assim? –

- Estamos a doze anos juntos e com nossos sonhos quase que realizados... – e ele suspirou.

- E você vai começar de novo... –

- Eu quero saber qual será nosso próximo passo. O seu próximo passo... – reclamei quando ele se levantou. – Para de fugir de mim sempre que eu toco nesse assunto. – gritei com ele quando o mesmo tentou sair de perto de mim. – Você sempre soube que eu sempre quis me casar e ter filhos. Se não é o que você quer, então me libera para que eu possa encontrar alguém que comparta dos meus sonhos. Se não é o que quer, termina comigo. – já era a terceira vez que eu falava isso para ele, e todas as vezes que isso foi dito, eu senti um medo absurdo de ele realmente terminar comigo. – Eu amo você. Eu quero dar o próximo passo com você, mas se você não quer... –

- Eu amo você, Isabella. –

- Então se posicione... Doze anos de namoro Edward... Até Emmett já se casou e tem filhos... – reclamei.

- Isabella... –

- Crowley me promoveu hoje... – disse o interrompendo e ele me encarou confuso com a súbita mudança de assunto. – Chefe de uma equipe e olhos e ouvidos dele... Na Coreia do Norte. – respondi e vi seus olhos se esbugalharem. – Disse que como eu sou solteira eu posso muito bem aceitar essa promoção. –

- Você não é solteira. Temos uma união estável, a justiça já reconhece isso... –

- Mas a empresa não. Você sabe que só há dois status de relacionamento ali. Solteira e casada. E enquanto não tiver a porra de um papel, ou uma aliança em meu dedo, ou o seu sobrenome depois do meu, eu não estou casada e você sabe disso. –

- E o que você vai fazer? – perguntou cruzando os braços rentes ao peito.

- Não sei. – admiti. – Crowley me encarou como se eu fosse louca por abrir mão dessa promoção por causa de um homem... Mas você nunca foi um homem e sabe disso. Sempre foi o homem. – e ele sorriu torto. – Mas sinceramente... Eu não sei se vou querer manter esse relacionamento se continuarmos desse jeito. E eu não estou fazendo pressão... –

- Claro que não... Imagine... – ironizou. – Você está basicamente me dando um ultimato. Ou eu me caso com você ou acabou. –

- Sim, você pode chamar de ultimato. Eu tenho 35 anos Edward... Você não tem um útero não sabe como isso funciona. Conforme os anos vão se passando e eu vou ficando mais velha, o meu útero não vai continuar funcionando direito. Se você não sabe, é quase impossível ter filho depois dos 40. E se eu conseguir depois dos 40 há diversos riscos tanto para mim e quanto para o bebê. Então sim. Eu estou lhe dando um ultimato. Não precisa me pedir em casamento aqui e agora, até porque eu acredito que agora não é o lugar e nem o momento certo para isso. Eu só preciso que diga que você quer dar o próximo passo comigo logo. Eu quero que você diga que quer se casar comigo. Que quer construir uma família comigo e logo. É só o que eu preciso. –

- Caso contrário? –

- Eu vou aceitar essa promoção. –

- Eu preciso pensar... –

- É assim que você me ama? Ama-me apenas a ponto de querer namorar comigo e nada mais? – perguntei. – Se é assim porque manteve esse relacionamento por doze anos, sabendo que eu queria um marido e filhos? –

- Eu sempre quis me casar e ter filhos com você. Mas eu não sei se está na hora... –

- E quando vai ser essa sua hora? A minha já chegou e está quase indo embora... –

- Você já se realizou profissionalmente e eu não... –

- Você quer realmente esperar lançar um CD e conseguir fazer sucesso para dar esse próximo passo? Já pensou que isso pode demorar anos ou que simplesmente pode não acontecer? E iria ficar me enrolando por tanto tempo assim? Eu quando conseguisse o sucesso que quer, me trocaria por outra, principalmente depois de eu ter ficado do seu lado desde que resolveu largar a faculdade de medicina para seguir seu sonho? –

- Pare de falar besteira, Isabella. Por favor. Eu nunca iria trocar você por outra. Mas sim, eu quero ter uma condição melhor para poder dar mais um passo na minha vida. Você sabe que eu detesto o fato de ser basicamente você quem sustenta toda a casa... –

- Primeiro, para de ser machista... –

- Não estou sendo machista. E sim realista. É você quem basicamente sustenta a casa, você tem um emprego fixo, com um salário fixo e eu não. Eu não quero ter um filho e deixar você com todas essas despesas, porque filho dá muita despesa, enquanto eu ganho pouco com as apresentações nos bares noturnos. –

- Eu não quero que pense que estou indo contra seus sonhos. Mas já pensou que mesmo você lançando o CD... –

- Eu não consiga nada? Sim eu já pensei nisso. Penso sempre. E é por isso que esse CD será a última chance antes de eu aceitar o emprego que meu pai vive oferecendo... –

- Mas você precisa entender que isso pode demorar... E eu não tenho tempo. Eu preciso de uma posição... E preciso dela agora. –

- Eu não tenho essa posição agora... –

- É com uma puta dor no coração que eu digo isso... Mas eu acho que preciso de um tempo. De um longo tempo. – e eu passei as mãos pelo rosto e engoli o bolo que se formava em minha garganta. – Eu vou ligar para o Crowley e aceitar essa promoção. Eu vou arrumar as minhas coisas. – e eu me levantei do banquinho de seu piano.

- Quando você vai? –

- O avião parte hoje às 22h. – respondi passando por ele e subindo as escadas para o andar de cima para o meu quarto. Assim que eu entrei no mesmo, eu ouvi a porta de baixo se fechando com força e eu senti meus olhos arderem e lacrimejar, e antes de eu pudesse fazer mais alguma coisa, o meu celular tocou em minha mão. Era meu chefe. – Sim? –

- 19h... Tem uma resposta? Vai ou não? – e eu respirei e inspirei por alguns segundos, engolindo o choro enquanto sentia as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

- Eu vou. Eu aceito essa promoção. -

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